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CONSTRUÇÃO DE NARRATIVAS
SOBRE DITADURAS: O MUSEU DO
ALJUBE EM LISBOA E O MEMORIAL
DA RESISTÊNCIA DE SÃO PAULO 1
Maria Paula Nascimento Araujo
1. Este texto faz parte de um projeto que conta com o apoio de uma bolsa de produtividade do CNPq. A pes-
quisa realizada em Portugal contou com uma bolsa de estágio sênior concedida pela CAPES.
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Erigir un monumento con los nombres de las víctimas del terrorismo de Estado
en la Argentina y emplazarlo en las orillas del Río de la Plata, guarda un signifi-
cado profundo. Ese es el lugar en el que fueron arrojados los cuerpos de cientos
de detenidos desaparecidos. (VALDEZ, 2002, p.98)
2. Organização civil dedicada à luta pela memória, verdade e justiça no processo transicional argentino. É
uma reunião de diversos grupos de direitos humanos e de familiares de mortos e desaparecidos.
3. V. http://www.apartheidmuseum.org/ Acesso em: 14/02/2017.
4. V. www.sitesofconscience.org Acesso em 14/02/2017.
5. V. http://www.nucleomemoria.org/rede-latino-americana-de-sitios Acesso em 14/02/2017.
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MUSEU DO ALJUBE
O Museu do Aljube – Resistência e Liberdade, situado na antiga cadeia do Al-
jube, em frente à Sé de Lisboa, foi inaugurado em 25 de abril de 2015 como
parte de um projeto de memória dos anos da ditadura salazarista. Foi um
projeto realizado em conjunto pelo Ministério da Justiça de Portugal e pela
Câmara Municipal de Lisboa e agregou diversas instituições da sociedade
civil, como a Fundação Mário Soares, o Instituto de História Contemporâ-
nea da Universidade Nova de Lisboa e o Movimento Cívico Não Apaguem
a Memória! O Museu foi concebido com um sentido político, histórico e
pedagógico e contou com a assessoria de renomados professores universi-
tários de História e ativistas que participaram da resistência e das lutas con-
tra a ditadura. Sua organização espacial configura uma narrativa temática e
cronológica da história contemporânea de Portugal da ditadura à Revolu-
ção dos Cravos, passando pelas formas de repressão, pelas formas de resis-
tência, pela tortura, pelo colonialismo e pela guerra anti-colonial e culmi-
na no 25 de abril. É um prédio de cinco andares – o térreo (que é chamado
de piso zero) e mais 4 andares (4 pisos). Ao longo destes quatros pisos o
museu exibe quadros com textos de análise, cartazes, documentos de épo-
ca, como jornais, revistas, fotografias, livros, caricaturas e panfletos; exibe
também mapas e organogramas e reproduz lugares e ambientes com figu-
ras de cera e material cenográfico. O catálogo do museu expressa inteira-
mente o seu sentido político, histórico e didático. A autoria do catálogo é
de pesquisadores, ativistas e historiadores importantes e vinculados ao pro-
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7. Mocidade Portuguesa era a principal organização juvenil do Estado Novo, criada em 1936.
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MEMORIAL DA RESISTÊNCIA
O Memorial da Resistência de São Paulo ocupa o antigo espaço prisional
que havia no prédio do Departamento Estadual de Ordem Política e Social
do Estado de São Paulo (DEOPS/SP). O prédio não era exatamente uma ca-
deia, como o Aljube, mas sim um Departamento de Polícia, uma delegacia,
com celas destinadas a pessoas que estavam sendo investigadas e interroga-
das. Na verdade o DEOPS era, mais do que tudo, um centro de tortura por
onde passaram inúmeros presos políticos durante o Estado Novo de Ge-
túlio Vargas e a ditadura militar. Foi exatamente esta parte do prédio, que
continha as celas e as salas de “interrogatório” (onde se realizavam as tor-
turas), que foi transformada num lugar de memória. a partir de reivindica-
ções de coletivos de ex- presos políticos, organizações de direitos humanos
e grupos de familiares de mortos e desaparecidos.
O imponente prédio onde funcionou o DEOPS/SP por muitas décadas
é uma construção do início do século XX, projetado para ser o escritório
central da Estrada de Ferro Sorocabana, que funcionou ali de 1914 a 1940. A
partir desta data passou a abrigar o Departamento de Ordem Política e So-
cial de São Paulo até o seu fechamento em 1983, nos últimos anos da dita-
dura militar. Desta data até 1997 o prédio sediou a Delegacia de Defesa do
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9. Informações contidas no Catálogo do Memorial da Resistência de São Paulo, Pinacoteca de Estado de São
Paulo 2009.
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(...) um grupo de ex-presos foi convidado para realizar essa intervenção expo-
gráfica na cela com base em um exercício de memorização individual e coleti-
va. Em um dia, previamente agendado, os convidados foram sensibilizados para
a recomposição daquilo que escreveram nas paredes, que viram escrito, ou qual-
quer outra menção que as suas lembranças permitissem acessar e, ao mesmo
tempo, colaborasse para a recuperação da memória do conjunto prisional10.
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“Nossa cela tinha uns 16 colchonetes porque havia período que tinha 16, 18 pre-
sos e depois saiam alguns e eles não tiravam os colchonetes”;
11. Frases presentes nas paredes dos corredores e das celas do Memorial da Resistência. Estas são frases de ex -
presos do DEOPS/SP.
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12. Publicado em 1985 no final da ditadura o livro Brasil: nunca mais era o resultado condensado do Projeto Bra-
sil Nunca Mais realizado de forma clandestina desde 1979 que reuniu uma enorme lista de nomes de pes-
soas vitimadas pela ditadura. O projeto foi coordenado por D. Paulo Evaristo Arns, arcebispo de São Pau-
lo. O livro Brasil: nunca mais é um documento e um monumento da luta contra o regime militar no Brasil
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ALGUMAS CONCLUSÕES
Museus, monumentos e memoriais não são instituições neutras. Elas es-
pelham os debates, as disputas, as questões que são consideradas centrais
numa determinada conjuntura, pela sociedade, pelo Estado e, principal-
mente pelos “empreendedores de memória”. Os museus, memoriais e mo-
numentos são construídos para responder a questões candentes de seu tem-
po e de sua sociedade. Eles (melhor dizendo, os agentes de memória que
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FONTES:
Catálogo do Museu do Aljube. Câmara Municipal de Lisboa, 2015
Catálogo do Memorial da Resistência de São Paulo. Governo de São Paulo, 2009
DOCUMENTOS ELETRÔNICOS:
Coalizão Internacional de Sítios de Consciência: têm por objetivo promover ini-
ciativas de memória. Disponivel em < www.sitesofconscience.org>. Acesso em:
17 nov. 2016
Museu do Aphartheid: tem por objetivo promover iniciativas de memória. Dispo-
nível em < http://www.apartheidmuseum.org/>. Acesso em: 17 nov. 2016
Rede Latino-Americana de Sítios de Memória: têm por objetivo promover iniciati-
vas de memória. Disponível em < http://www.nucleomemoria.org/rede-latino-
-americana-de-sitios> Acesso em 17 nov. 2016
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REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BARAHONA DE BRITO, Alessandra; AGUILAR, Paloma & GONZALEZ, Car-
men. Las políticas hacia el pasado: juicios, depuraciones, perdón y olvido en las
nuevas democracias. Madrid. Ediciones Istmo, 2002.
BRASIL: NUNCA MAIS, Coordenação de D. Paulo Evaristo Arns, Versão digital
no site do Ministério Público Federal.
GIESEN, Bernhard, La construcción pública del mal y del bien. Sobre héroes, vícti-
mas y perpetradores. In: Puentes, número 5, octubre de 2001.
JELIN, Elizabeth & LANGLAND, Victoria (comps.). Monumentos, memoriales y
marcas territoriales. Siglo XXI de España, Madrid, 2002.
LACERDA, Gislene Edwiges de. O Movimento Estudantil e a memória da transição
democrática brasileira. Tese de doutoramento, PPGHIS/UFRJ, 2015.
NORA, Pierre. Entre a história e a memória. A problemática dos lugares. PROJETO
HISTÓRIA Revista do Programa de Estudos Pós- Graduados em História e do
Departamento de História da PC-SP, 1981.
VALDEZ, Patricia. El parque de la memoria en Buenos Aires. IN: Jelin & Langland
(orgs.) Monumentos, memoriales y marcas territoriales. Siglo XXI de España, Ma-
drid, 2002.
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