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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS

CENTRO DE ESTUDOS SUPERIORES DE PARINTINS


LICENCIATURA EM HISTÓRIA

DISCIPLINA: HISTÓRIA PUBLICA


DOCENTE: DIEGO OMAR
DISCENTES: Alice Reis, Giovanna Muniz, Jhuly
Gomes, Tamires e Willian Bentes.

SÍNTESE “CABRA MARCADO PARA MORRER”

Mais do que um documento histórico, ou uma obra cujo valor se avalia


apenas pela complexa estrutura formal, podemos dizer que a relação dialética entre
forma e conteúdo do filme organiza esteticamente o depoimento mais vigoroso sobre
nossa tragédia como país que não se efetivou como nação. Com o intuito de
evidenciar como o filme descortina progressivamente da violência maior para as
seguintes, não menores em termos de juízo de valor, mas em termos de causalidade
histórica o percurso regressivo de nosso último ciclo de modernização conservadora,
apontamos alguns elementos do filme que corroboram esse argumento. O filme foi
produzido por meio de parceria firmada entre o Movimento de Cultura Popular de
Pernambuco (MCP) e o Centro Popular de Cultura (CPC) da União Nacional dos
Estudantes (UNE). Portanto, movimentos construídos para fazer formação política
de massa e agitação das classes trabalhadoras percebiam o potencial da linguagem
cinematográfica para seus propósitos.

O filme seria uma resposta política ao assassinato de João Pedro Teixeira, o


documentário foi a resposta formal encontrada por Eduardo Coutinho para
evidenciar as consequências brutais da interrupção da experiência de classe que se
articulava. Segundo o autor, a metamemória é a representação que cada indivíduo
ou coletivo faz de sua própria memória (2016 p.23.)  é a memória pública
reivindicada, ostensiva e explícita é com esta dimensão que o historiador público
negocia com as representações e enunciados que os grupos reivindicam para
compartilhar suas histórias e ser reconhecidos. Por meio desse procedimento ético
de levar a arena pública Saber e Fazer e sentimentos que geram visões de mundo e
noções de pertencimento, combate-se uma história unidimensional retificada e
cristalizada.
O documentário evidencia a consequência da modernização conservadora
para a capacidade de organização da classe trabalhadora, por meio da investigação
do que ocorreu e para onde foram Elizabeth Teixeira, a viúva de João Pedro, e cada
um de seus filhos. É a narrativa de uma diáspora: os filhos das lideranças tornaram
se anônimos trabalhadores subempregados nas metrópoles, habitantes miseráveis
das periferias, ou trabalhadores rurais estancados nas cidades interioranas do
Nordeste, com exceção do filho que foi para Cuba estudar medicina sugestão de
uma possibilidade remota de continuidade de engajamento, ainda que fora do país,
e desarticulada de um projeto coletivo. A história pública não deveria ter medo de
abraçar controvérsia e o verdadeiro Desafio dos historiadores públicos é ensinar ao
público como conviver com ela de maneira confortável, tanto com concepções
históricas divergentes quanto com narrativas complexas. Lidar com controvérsias,
manifestações controvertidas e projetos relacionados deveria ser uma parte
importante de todos os programas de educação e história pública. (Zahavi,2011,
p.57).

“Cabra Marcado Para Morrer” lança um novo olhar sobre a história do Brasil e
sobre o estudo do cinema documental brasileiro e contemporâneo. Coutinho
consegue criar pontes que ligam momentos históricos e faz com que um filme de
ficção possa se ligar a um filme que retrata o real, um documentário. A obra de
Eduardo Coutinho foi uma das mais importantes do cinema nacional, sobretudo na
forma de fazer o filme e em técnicas utilizadas para conseguir extrair dos
entrevistados os fatos mais importante para o filme autoral por parte do diretor. A
obra do autor sempre foi pautada em mostrar os pequenos em relação a sociedade,
trazer à tona, através do seu olhar de autor e da câmera que capta o real no
momento exato, a visão de mundo do povo do qual fala, diversas vezes
desfavorecido e que não possui uma voz ativa na sociedade.

Como a filmagem é retomada através de entrevistas e diálogos, e não de


encenação, os camponeses-personagens ganham voz própria e o documentário
passa a discorrer sobre o enfrentamento dos mesmos com as forças da repressão
golpista de 1964 e a transformação das suas vidas a partir de então. A observação
mais atenta de “Cabra Marcado para Morrer” permite perceber a importância de
outras questões relevantes. Uma dela diz respeito há três elementos centrais na
constituição de uma unidade básica de produção agrícola naquela região e que
compõem de uma forma geral o que pode ser chamado de “campesinidade”.

Os relatos mostraram como muitos haviam fugido de seus locais de origem,


mudando de nome, de atividade laboral ou mesmo desistindo das solicitações, pelo
medo da repressão, bem como pelo início da modernização conservadora do
campo, que ali já apresentava aspectos mais técnicos e maquinários
sofisticados, mas mantinham o status quo dos latifundiários, que agora não
dependiam tanto mais uma grande massa trabalhadora nos canaviais e em
outras produções, podendo expulsa-los para outros espaços e utilizando um labor
temporário, assim, gerando uma descampesinização. É muito claro, nos relatos
dos que foram inquiridos pelos entrevistadores, como aqueles que, nos idos
da década de 60, os agentes repressores utilizaram do aparato estatal para manter
seus privilégios, bem como os perseguidos foram até mesmo torturados em busca
de provas que poderiam incriminar e ligar os associados às ligas camponesas e aos
cineastas a uma luta armada que nunca havia acontecido naquele lugar,
além de desligamentos de familiares gerados pelas fugas ocasionadas pelo
amedrontamento pelos fatos

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