1. O ANTIGO REGIME NA HISTORIOGRAFIA E SEUS CRÍTICOS.
Burke inicia seu livro resgatando os objetos da história, começando
por Heródoto e Tucídides, cujos objetos eram a política e a guerra, sublinhando que no século XVIII, escritores e intelectuais começaram a preocupar-se com a “história da sociedade”. Torna-se necessário examinar a história da historiografia na sua longa duração. A história tem sido escrita sob uma variada forma de gêneros: crônica monástica, memória política. Tem sido a narrativa dos acontecimentos políticos e militares, apresentada como a história dos grandes feitos de grandes homens.
Acerca do século XIX, o autor destaca que o domínio da história
política foi muito contestado: na Alemanha, Karl Lamprecht acreditava que a história política era a história dos indivíduos, enquanto que a história cultural e econômica era a história do povo. Um certo número de escritores e intelectuais preocupar-se com o que denominava a “história da sociedade”. Uma história que não se limitava a guerras e à política, mas preocupava-se com as leis e o comércio, a moral e os “costumes”. Alguns deles dedicaram-se à reconstrução de comportamentos e valores do passado, outros à história da arte, da literatura e da música. Por volta do final do século, esse grupo internacional de estudiosos havia produzido um conjunto de obras extremamente importante.
Na História ligada ao nome de Leopold von Ranke, foi marginalizar, ou
re-marginalizar, a história sociocultural. Os interesses pessoais de Ranke não se limitavam à história política. Escreveu sobre a Reforma e a Contra Reforma e não rejeitou a história da sociedade, da arte, da literatura ou da ciência. Apesar disso, o movimento por ele liderado e o novo paradigma histórico elaborado arruinaram a “nova história” do século XVIII.
Burckhardt interpretava a história como um campo em que interagiam
três forças – o Estado, a Religião e a Cultura –, enquanto Michelet defendia o que hoje poderíamos descrever como uma “história da perspectiva das classes subalternas”, em suas próprias palavras “a história daqueles que sofreram, trabalharam, definharam e morreram sem ter a possibilidade de descrever seus sofrimentos”, as causas fundamentais da mudança histórica deveriam ser encontradas nas tensões existentes no interior das estruturas socioeconômicas. Os historiadores econômicos foram, talvez, os opositores mais bem organizados da história política.
Por volta de 1900, as críticas à história política eram particularmente
agudas, e as sugestões para sua substituição bastante férteis. A história cultural ou econômica, considerada como a história do povo. Posteriormente, definiu a história “primordialmente como Uma ciência sociopsicológica. Nos Estados Unidos, através dos estudos de Frederick Jackson, surge uma clara ruptura com a história dos acontecimentos políticos, ao passo que, no início do novo século, um movimento foi lançado por James Harvey Robinson sob a bandeira da “Nova História”. Nessa mesma época, na França, a natureza da história tornou-se o objeto de um intenso debate.
É inexato pensar que os historiadores profissionais desse período
estivessem exclusivamente envolvidos com a narrativa dos acontecimentos políticos. De qualquer forma, os historiadores eram vistos dessa maneira pelos cientistas sociais. Para François Simiand, havia três ídolos a serem derrubados: o ídolo político, a eterna preocupação com a história política, os fatos políticos, as guerras; o ídolo individual, a ênfase nos grandes personagens e o ídolo cronológico, ou seja, o hábito de perder-se nas origens. Henri Berr, por sua vez, encorajava os historiadores a colaborarem com outras disciplinas, tais como a psicologia e a sociologia.
2. OS FUNDADORES: LUCIEN FEBVRE E MARC BLOCH
Primeira Geração dos Annales Lucien Febvre e Marc Bloch são os
grandes fundadores dos Annales. Na primeira fase da geração dos Annales os dois fundadores buscam novas maneiras de estudar a História. Febvre busca mostrar um crasso erro de anacronismo, onde busca falar do passado com termos do presente, sequer possuíam a “utensilhagem mental” para o terno utilizado, então ela busca um caminho em direção á perspectiva das mentalidades. Bloch tem uma contribuição muito importante para Annales ele questiona o conceito fechado de região em áreas administrativas pré-estabelecidas, argumentando que o que deveria definir o recorte da região em estudo era o problema examinado. Bloch ainda trás colaboração para a política, mas uma nova história política, onde a descrição dos eventos era o que menos importava e como principal aspecto os modos como se estabelecia o poder a partir de práticas e representações coletivas. Nesse aspecto a história incorporou as ciências sócias, agora a história não era vista apenas por datas, fatos em si, e sim levar o individuo a analisar o mundo ter um olhar critico, e a parti da história poderia levar o individuo a pensar.
Burke afirma que Febvre foi influenciado por Paul Vidal de la
Blanche, geógrafo; Lucien Lévy-Bruhl, filósofo e antropólogo; Émile Mâle, historiador da arte e Antoine Meillet, interessado nos aspectos sociais da língua. Febvre reconheceu também seu débito para com inúmeros historiadores anteriores. Durante toda a vida expressou sua admiração pela obra de Michelet. Reconheceu Burckhardt como um de seus “mestres”, juntamente com o historiador da arte Louis Courajod. Sua tese de doutoramento, Philippe II et la Franche-Comté é contribuição tanto a história cultural quanto à história política, com um esquema interpretativo semelhante ao marxista e com uma introdução geográfica. Outra característica marcante e poderosa do estudo de Febvre era a introdução geográfica, que traçava um nítido perfil dos contornos da região. A introdução geográfica, pode ter sido modelada pelo famoso Mediterrâneo de Braudel, mas não tem nele suas origens. O interesse de Febvre pela geografia histórica era suficientemente grande para publicar, sob o incentivo de Henri Berr, um estudo geral sobre o assunto com o título de La terre et l’évolution humaine.
Mais tarde, Febvre volta seus interesses para o estudo das
atitudes coletivas ou psicologia histórica. Quando escreveu sobre o Renascimento, ofereceu uma explicação social da revolução.
Marc Bloch também foi influenciado por autores como Meillet e
Lévy-Bruhl, embora sua maior influência tenha sido do sociólogo Émile Durkheim. Sua maior influência foi a do sociólogo Émile Durkheim, que iniciou sua carreira de professor na École mais ou menos na época de seu ingresso. Ele mesmo um egresso da École, aprendeu a levar a história com seriedade. Bloch reconheceu sua profunda dívida com a revista de Durkheim, Année Sociologique, lida entusiasticamente por um grande número de historiadores de sua geração. Apesar de seu interesse pela política contemporânea, Bloch optou por especializar-se em história medieval. Como Febvre, interessava-se pela geografia histórica, sobre a qual publicou um estudo em 1913. Esse estudo revela que, como Febvre, Bloch pensava no tema sob a perspectiva de uma história-problema.
Sua obra intitulada Os Reis Taumaturgos, cujo tema é a crença de
que os reis tinham o poder de cura através do toque real, contribuiu à história política, já que analisa a idéia de monarquia, onde o toque real era a expressão de uma concepção do poder político. Seu trabalho foi importante também em outros aspectos: não se limitava a um período convencional, a Idade Média. Bloch escolheu o período para localizar o problema, o que significava que tinha que escrever a história da longa duração; contribuiu à psicologia religiosa, pioneira para a história das mentalidades e a utilização da história comparativa.