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A Multiplicidade da Cultura
Revisão Textual:
Aline Gonçalves
A Multiplicidade da Cultura
• Introdução;
• Os Primeiros Passos;
• A Concepção Simbólica da Cultura;
• Cultura como Estrutura;
• Cultura, Hegemonia e Progresso.
OBJETIVOS
DE APRENDIZADO
• Apresentar o conceito de cultura em sua dimensão múltipla;
• Conhecer as relações contextuais das formulações conceituais e seus respectivos desdobramentos;
• Analisar as perspectivas históricas das definições dos fenômenos culturais;
• Refletir sobre os processos político-culturais.
UNIDADE A Multiplicidade da Cultura
Introdução
Como já visto anteriormente, o conceito de cultura se caracteriza pela multiplicidade
e pela variação de sua acepção no transcorrer da história. Essa diversidade exige que o
estudo a leve em consideração, tentando ser o mais abrangente possível, contudo, ao
mesmo tempo, o próprio estudo precisa entender os seus limites. Nesse sentido, esse
preâmbulo tem a intenção de demarcar os limites para esta unidade. Esses limites se
fazem necessários pela condição do trabalho, todavia eles podem servir como estímulo
para que as lacunas deixadas sejam preenchidas em pesquisas futuras.
O terceiro e último ponto é que a genealogia dos estudos culturais nos leva, diante
da perspectiva ocidental moderna, até a antropologia. E esta será nossa base para
o início dos estudos, mas não nos restringiremos a ela, e avançaremos para outras
áreas do conhecimento, passando, nesta unidade, por análises históricas, sociológi-
cas e filosóficas sobre o conceito de cultura. Posteriormente estudaremos os atraves-
samentos das noções de arte e cultura, dois elementos tão íntimos e complexos em
si e entre si.
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Figura 1 –Vanessa Bell, Abstract Painting
Fonte: artuk.org
Os Primeiros Passos
Como ressaltado na introdução, a noção de cultura não surge inequivocamen-
te na modernidade, contudo é nesse período que suas definições se estabelecem
de modo contundente. E do ponto de vista antropológico, é ao britânico Edward
Burnett Tylor (1832-1917) que se costuma atribuir o ponto de partida. Atravessada
pelo impacto da teoria de Charles Darwin, a então nascente antropologia se envere-
dava pelos caminhos de um evolucionismo unilinear.
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Figura 2 – Sue Coe, Triunfo
Fonte: wikiart.org
Outro autor importante para esses primeiros passos dos estudos da cultura é
o antropólogo americano Alfred Kroeber (1876-1960). Kroeber preocupa-se fun-
damentalmente em como a cultura age nos seres humanos, e tem o interesse em
diferenciar o orgânico do cultural. Para o antropólogo americano, os seres humanos
compartilham atividades e funções vitais comuns, contudo, a forma como esses seres
desempenham essas atividades e funções difere de um sistema cultural para outro.
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da cultura na composição das ações humanas também foi capaz, segundo esse an-
tropólogo, de frear alguns instintos humanos ao longo dos séculos, de modo que a
convivência social se desse com ênfase nos aspectos culturais em relação aos orgâni-
cos. Além dessa engrenagem de frenagem moral, a cultura, para Kroeber, é o meio
pelo qual os seres humanos se adaptam aos mais diversos e até mesmo inóspitos
ambientes ecológicos, conferindo à cultura a capacidade de espraiar a humanidade
pela quase totalidade terrestre.
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Figura 3 – Małgorzata Serwatka, War: Scrap
Fonte: wikiart.org
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Como destacado, para Thompson, as formas simbólicas são produzidas, trans-
mitidas e recebidas em contextos estruturados sócio-históricos específicos, e a tarefa
teórica é interpretar essas relações de modo a elucidar os fenômenos culturais.
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Em contato com as ideias de Williams, e influenciador de Eagleton, o historiador
inglês E. P. Thompson (1924-1993) dedicou parte de seus trabalhos ao estudo das
classes operárias e investigou como a cultura é um elemento fundamental e indisso-
ciável da formação dessas classes.
Pois as pessoas não experimentam sua própria existência apenas como
ideias, no âmbito do pensamento e de seus procedimentos, ou (como
supõem alguns praticantes teóricos) como instinto proletário etc. Elas
também experimentam sua experiência como sentimento e lidam com
esses sentimentos na cultura, como normas, obrigações familiares e de
parentesco, e reciprocidades, como valores ou (através de formas mais
elaboradas) na arte ou nas convicções religiosas. Essa metade da cultura
(e é uma metade completa) pode ser descrita como consciência afetiva e
moral. (THOMPSON, 1981, p. 189)
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tapete, um silenciamento diante das inúmeras ruínas que têm a barbárie como o
fundamento mais grave de sua expressão.
Para Benjamin, a cultura não é um elemento positivo em si, que carrega em seu
bojo uma qualidade apriorística e transcendental. A cultura, na perspectiva benja-
miniana, deve ser encarada em seu contexto, e a cultura progressista, no contexto
da sociedade ocidental capitalista, esta que se formou na modernidade e ao mesmo
tempo a formou, em um jogo dialético incessante de afirmação de seus valores e
modos de produção da vida social. E como ela é transmitida e assimilada, constitui-
-se como um elo de propagação da barbárie.
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Apesar desse processo de tentativa de padronização, a circulação das pessoas, o
intercâmbio dos saberes, as trocas intelectuais, as relações múltiplas, as lutas sociais
possibilitaram, nos últimos anos, fortes embates à tentativa de hegemonização cul-
tural, e talvez nos apontem outros possíveis caminhos para nossa existência, como
destaca o escritor, líder indígena e ambientalista Ailton Krenak (1953):
Quando despersonalizamos o rio, a montanha, quando tiramos deles os
seus sentidos, considerando que isso é atributo exclusivo dos humanos,
nós liberamos esses lugares para que se tornem resíduos da atividade
industrial e extrativista. Do nosso divórcio das integrações e interações
com a nossa mãe, a Terra, resulta que ela está nos deixando órfãos, não
só aos que em diferente graduação são chamados de índios, indígenas ou
povos indígenas, mas a todos. Tomara que estes encontros criativos que
ainda estamos tendo a oportunidade de manter animem a nossa prática,
a nossa ação, e nos deem coragem para sair de uma atitude de negação
da vida para um compromisso com a vida, em qualquer lugar, superando
as nossas incapacidades de estender a visão a lugares para além daqueles
a que estamos apegados e onde vivemos, assim como às formas de so-
ciabilidade e de organização de que uma grande parte dessa comunidade
humana está excluída, que em última instância gastam toda a força da
Terra para suprir a sua demanda de mercadorias, segurança e consumo.
(KRENAK, 2019, p. 49-50)
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Leituras
Ailton Krenak: o tradutor do pensamento mágico
https://bit.ly/3j1FtI2
Raça e História – Claude Lévi-Strauss
https://bit.ly/3510e1x
Vídeos
Palestra Cultura e Sociedade, por Maria Elisa Cevasco
https://youtu.be/bGpVwhtLsZg
Conferência de Eduardo Viveiros de Castro intitulada “Os involuntários da Pátria”
https://youtu.be/l98nNx5S6HQ
Alfredo Bosi: Cultura ou Culturas Brasileiras?
https://youtu.be/2FprGNQaQ90
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Referências
BAUMAN, Z. Ensaios sobre o conceito de cultura. Trad. Carlos Alberto Medeiros.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2012.
________. O anjo da história. Org. e trad. João Barrento. Belo Horizonte: Autên-
tica Editora, 2016.
KRENAK. A. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das
Letras, 2019.
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