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A GENTE X NÓS
UMA LEITURA DO MEMORIAL DE MARIA MOURA
Rio de Janeiro
2015
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INTRODUÇÃO
A autora
O Memorial
O recorte adotado
Dos vários recortes a serem adotados, se optou pela análise da fala de três
personagens, cada um provindo de um diferente nível sociocultural: Beato
Romano (alto), Maria Moura (médio) e Marialva (baixo). O trabalho busca
descrever a primeira pessoal do plural, enquanto ao uso de “nós” ou “a gente” e
a correspondente conjugação do verbo (concordância ou não concordância). Para
isso, foram escolhidos os capítulos em que cada um dos três aparece pela
primeira vez narrando a história.
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JUSTIFICATIVA
O homem feliz é o que não tem passado. O maior dos castigos, para o qual só há
pior no inferno, é a gente recordar. Lembrança que vem de repente e ataca como
uma pontada debaixo das costelas, ali onde se diz que fica o coração. Alguém
pode ter tudo, mocidade, dinheiro no bolso, um bom cavalo debaixo das pernas,
o mundo todo ao seu dispor. Mas não pode usufruir nada disso, por quê? Porque
tem as lembranças perturbando. O passado te persegue, como um cão perverso
nos teus calcanhares. Não há dia claro, nem céu azul, nem esperança de futuro,
que resista ao assalto das lembranças1.
Maria Moura ficou órfã desde jovem. Abusada pelo padrasto e em briga
de herança com os primos, lança-se a uma aventura sem precedentes em busca
de riqueza, poder e respeito. Busca ser temida, e de fato o é. Na infância,
aprendeu a ler com o seu pai. Dali saiu sua formação mediana. Era raro que
mulheres daquele tempo (e naquela região) tivessem alguma instrução. Maria
Moura foi uma exceção. Era uma pessoa que sabia ler e escrever razoavelmente
bem, como se pode subentender na obra.
1
QUEIROZ, R. Memorial de Maria Moura, pg. 188.
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Entenda-se por “alto nível sociocultural” a formação acadêmica. Na época, os padres eram, junto
com a alta sociedade, praticamente os únicos a ter acesso a uma boa educação acadêmica. Isso se
subentende também pelas diversas frases em latim, pronunciadas pelo padre. O latim, naquele
tempo, era característico de uma pessoa considerada “culta” (bem instruída).
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concreto a variação entre “nós” (ainda que oculto) e “a gente”. Além disso, será
analisado se há concordância verbal na fala das três personagens ao conjugar os
verbos.
Tal visão será posta em análise nesta obra de Rachel de Queiroz, para
verificar se a autora teve presente (ou se deixou levar) por essa tendência
comum percebida nos brasileiros. Assim, se espera que o uso de “nós” seja
decrescente, ao ir do Beato Romano, passando por Maria Moura, até chegar em
Marialva. Espera-se logicamente, que o mesmo ocorra na proporção inversa,
quanto ao uso de “a gente”.
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Alto
1 (50%) 1 (50%) 2 (100%)
(Beato Romano)
NÍVEIS
Médio
(Maria Moura) 9 (60%) 6 (40%) 15 (100%)
Baixo
8 (88,9%) 1 (11,1%) 9 (100%)
(Marialva)
Total por exposição 18 (69,3%) 8 (30,7%) 26 (100%)
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(Não concorda)
(Não concorda)
Exposição à Total Concordância (C)
(Concorda)
(Concorda)
A gente
A gente
primeira pessoa X
Nós
Nós
CONCORDÂNCIA VERBAL
Alto
1 (50%) 1 (50%) 0 0 1 (100%) C X 0 NC
(Beato Romano)
Médio
(Maria Moura) 9 (60%) 6 (40%) 0 0 15 (100%) C X 0 NC
Baixo 8 1
0 0 9 (100%) C X 0 NC
(Marialva) (88,9%) (11,1%)
CONCLUSÃO
Do ponto de vista do nível sociocultural alto (Beato Romano), vemos que não há
o propósito por parte da autora de marcar todas as falas do Beato com a variação “nós”.
Em dois inteiros capítulos, ele se referiu apenas duas vezes para expressar a primeira
pessoa do plural. Em geral, prefere falar na primeira do singular ou utiliza a terceira do
plural, dando a entender que não se imiscui nos problemas alheios. Tal avaliação,
porém, foge ao recorte adotado para a elaboração deste trabalho, mas constitui, sem
dúvida, uma oportunidade de análise para uma ulterior pesquisa.
Como último dado digno de consideração é o fato de que não houve por parte de
nenhum dos narradores, nos seis capítulos coletados, nem sequer uma falta de
concordância, como se pode ver na segunda tabela. Em todos os casos a variação “nós”
sempre era seguida de verbo na primeira pessoal do plural e “a gente” sempre na
terceira do singular. Conclui-se, portanto, que Rachel de Queiroz, na variação escolhida
para o trabalho, não utilizou a falta de concordância para caracterizar um nível
sociocultural e tampouco o uso isolado de “nós”. Optou, como se pode ver na tabela, no
uso gradativo das duas variações “nós” e “a gente”. Quanto maior o uso desta, mais
baixo o nível sociocultural e vice-versa.
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BIBLIOGRAFIA
QUEIROZ, Raquel de, Memorial de Maria Moura. São Paulo: Siciliano, 1992
ÍNDICE
INTRODUÇÃO...............................................................................................................02
A autora..........................................................................................................02
O Memorial....................................................................................................02
O recorte adotado...........................................................................................03
JUSTIFICATIVA............................................................................................................04
A escolha das personagens e o recorte enquanto nível sociocultural............04
O recorte da primeira pessoal do plural (nós e a gente)................................05
A GENTE X NÓS E OS NÍVEIS SOCIOCULTURAIS..................................................07
CONCLUSÃO.................................................................................................................09
BIBLIOGRAFIA.............................................................................................................10