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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO

GRANDE
INSTITUTO DE LETRAS E ARTES
PROFª. DRª LUCIANA PAIVA CORONEL
LITERATURA BRASILEIRA I

MEMORIAL ACADÊMICO

ROSIELE FERNANDA MENEZES Nº


154427
RIO GRANDE
2023
Apresentado à professora da disciplina de
Literatura Brasileira I para demonstrar o
conhecimento obtido a partir da experiência de
leituras ao longo do segundo bimestre.

“Os filhos do sertão,

Os guerreiros tupis,

Vão combater no Ipiranga

Contra os filhos de Paris!” – Gonçalves Dias


1. A herança deixada pelo Arcadismo

Neste bimestre, começamos estudando sobre o arcadismo, que, na linha


do tempo, foi um movimento literário posterior ao barroco e anterior ao
romantismo. Embora esse movimento tenha surgido em uma época de grande
divisão intelectual e política, os escritores desse movimento escreviam poesias
suaves e contemplativas, o que contrastava com o caos do barroco. Como a
professora Luciana disse: "O arcadismo é uma poesia que bebe no bucolismo".
Através de elementos da natureza (uma natureza bem idealizada), havia uma
busca pela simplicidade e um cunho pastoril na formação das poesias desse
movimento. Esse estilo de escrita era uma convenção; ficou acordado que, para
um poema ser considerado bom, deveria ter essa estrutura e conter esses
elementos.
Nas aulas, lemos sonetos do poeta Cláudio Manoel da Costa. Nos
sonetos, era possível notar nitidamente os elementos da natureza e do mundo
pastoril. É importante considerar que essa natureza era idealizada, pois nas
poesias tudo parecia lindo, calmo e tranquilo, com ovelhinhas e pastorzinhos.
No entanto, a realidade do Brasil era diferente; a natureza brasileira era algo
mais selvagem. Mas, como eu disse anteriormente, o estilo de escrita era uma
convenção, e dentro de convenção, essa natureza idealizada era a natureza
aceitável. Essa vida na natureza, que busca fugir da vida urbana para viver nos
campos é o que aprendemos ser o tal do bucolismo.
Gosto muito das aulas de literatura, porque parece uma colcha de
retalhos que vai se juntando e constrói um sentido na cabeça... Não entendia o
porquê de a professora dizer que para passarmos para o Romantismo
precisaríamos dar uma pincelada sobre o Arcadismo, mas agora entendo. O
Arcadismo deixou uma herança: a figura do indígena.
Alguns poetas árcades, como Basílio da Gama, mencionaram e
utilizaram os elementos indígenas em suas obras, apesar de em suas menções
a figura indígena ter sido estereotipada e vista de uma maneira eurocêntrica da
época, é notável que que Basílio se preocupou em dar um espaço mais
substancial aos indígenas na literatura, em comparação com outros escritores
árcades. Em sua obra, “O Uraguai”, Basílio exalta a natureza e cenário
brasileiro, destacando as belezas naturais do país (diferente dos demais, não ?!)
e apresentando Lindóia, um líder indígena que é corajoso, idealista e que luta
pela liberdade buscando preservar sua cultura e suas tradições. Lindóia se
apaixona por Isabel, uma moça indígena, e enfrenta rivalidade entre as tribos e
as forças coloniais. Apesar de ser uma obra árcade, “O Uraguai” é uma exceção
no sentido de não se concentrar em temas idealizados e bucólicos e apresentar
certos elementos que dialogam com a primeira geração do Romantismo, a
geração Indianista ou Nacionalista, sobre a qual falarei agora...

2. Toque Bethooven...Vou falar de Romantismo...

Me emocionei quando ouvi a nona sinfonia de Bethooven na aula, a


professora fez toda uma preparação e preparou um clima para adentrarmos
nesse universo romântico, entramos com o pé direito.
Primeiramente, eu não entendi o porquê das três gerações no
Romantismo, sendo que a época era praticamente a mesma, mas aos poucos
fui compreendendo que essas divisões permitem perceber a evolução do
Romantismo, a preocupação dos escritores e as mudanças das perspectivas.
A primeira geração, que aprendemos ser a geração nacionalista ou
indianista, foi uma geração os escritores buscaram dar valor as raízes
nacionais, tiveram um grande interesse pela figura indígena, visto que eles eram
o símbolo do Brasil pré-colonial. Nessa geração buscava-se uma busca pela
identidade nacional (vou explorar mais disso no próximo item).
A segunda geração, deixou esse lado da nacionalidade e se voltou para
um contexto mais urbano. O crescimento das cidades, o capitalismo, a
industrialização... A urbanização trouxe novos problemas sociais, como a
desigualdade e a alienação, tudo isso criou uma nova realidade para os
escritores românticos, mudando as suas perspectivas sobre o mundo ao seu
redor e influenciando seus textos.
A terceira geração, a geração condoreira, foi a que me deixou mais
confusa, confesso. Nessa geração, o foco era pensar em uma crítica social,
pensar no desenvolvimento da liberdade e da igualdade. Me questionei o
porquê de ser chamada “condoreira”. Pesquisando sobre isso, aprendi que o
nome faz referência a Castro Alves e sua poesia que era engajada na causa
abolicionista, os condores são aves que habitam nos andes e simbolizam a
liberdade e a luta contra a opressão.

3. Construção da nacionalidade a partir do romance indianista


“Iracema”, de José de Alencar.

O romance indianista que consegui ler foi "Iracema". Lembro de tê-lo lido
quando era mais nova, mas não me recordava de muita coisa; se me
lembrasse, talvez não o tivesse lido novamente (risos). Incomoda-me o fato de a
personagem morrer de amor e tristeza, considerando que na primeira parte do
livro ela é um exemplo de força, uma guerreira da mata que, inclusive, atira uma
flecha no homem branco que aparece na floresta. No entanto, após uma
reflexão mais profunda, compreendo a morte dela. Na minha concepção, a
morte de Iracema representa o sacrifício indígena ao "parir" uma nova nação.
Quantos e quantos indígenas foram sacrificados em prol do sonho estrangeiro
de estabelecer um novo mundo, um novo reino por aqui.
No início do livro parece que vai nascer um amor lindo e forte, mas é
triste pensar que Iracema ama intensamente e de modo profundo e pelos dois.
Pois, me parece que Martin é ligado a ela de modo superficial, talvez pela
beleza, por ser exótica, por ser diferente, eu não consigo sentir uma ligação
profunda dele em relação a ela. Martin representa o colonizador europeu, que
tem valores e interesses diferentes de Iracema e seu povo, e por essas
diferenças Martin não corresponde ao amor de Iracema. Iracema abre mão de
muitas coisas para estar do lado de Martin, renuncia sua posição de guerreira,
abandona sua tribo e sua cultura...No bimestre passado, vimos sobre a chegada
dos portugueses no Brasil, vimos sobre a catequização forçada dos indígenas,
os povos que aqui viviam sendo forçados a abrir mão da sua cultura e se
colocar abaixo do homem branco, é triste ler Iracema sabendo que não foi pela
espada, não foi à força, mas foi por amor e por um amor não correspondido
ainda.
A história de Iracema e Martin representa bem os sacrifícios envolvidos
no processo de formação da identidade brasileira, que foi marcada pelo conflito
cultural e pela mistura dos povos indígenas e dos povos colonizadores.
José de Alencar escreveu outro livro, que eu não li ainda, mas vou ler,
que é “O Guarani”, onde também ocorre um romance entre um indígena e uma
mulher branca, Ceci. Segundo Alencar, essa miscigenação que ocorre entre os
casais dos dois livros, é de onde nasce o brasileiro, de fato. Somos fruto dessas
relações.

4. Amor, dinheiro e romance em “Senhora”, de José de Alencar.

Esse livro foi o que eu escolhi para comentar um trecho em aula,


amei a história, o trecho que escolhi para falar foi sobre o resgate de
Fernando Seixas, que para mim é o ponto de virada. Valeu muito a leitura,
achei um romance inteligente.
Aurélia Camargo era uma moça simples, de origem humilde, que
tinha perdido o seu pai e que aos olhos da sociedade estava vulnerável por
essas condições. Foi criada por uma tia que não lhe dava carinho, e que era
rígida, o que aprofundava ainda mais o sentimento de solidão, pensava em
se casar com um homem que a valorizasse e a cuidasse. A vida de Aurélia
antes de Fernando era assim, e foi nesse período difícil que ela o conheceu
e se apaixonou.
Fernando, era o homem da sua família, por isso era responsável pelo
dote de sua irmã Adelaide, então preferiu abrir mão de Aurélia, para ter um
casamento mais vantajoso e com isso usar o dinheiro para pagar o dote de
sua irmã. Ou seja, ia se casar por puro interesse em manter a aparência de
bom filho, bom irmão e bom moço, ao meu ver, mesmo que isso lhe
custasse partir o coração de quem ele havia despertado amor, no caso,
Aurélia.
A reviravolta da história é a bendita (será que é bendita?) herança
que Aurélia recebe de um parente distante, que a torna uma das mulheres
mais ricas daquela época. Não vou negar, eu senti o gostinho da vitória...
Aurélia decide usar parte desse dinheiro para “comprar” Fernando, através
de um casamento onde ela pretende se vingar do desprezo que sofreu
causado pelo rapaz.
Fernando se vende, claro. E ela o trata como uma mercadoria, para
lhe causar dano emocional e fazê-lo sentir pelo modo como ele a tratou.
Aurélia é osso duro de roer, não dá chances para Fernando ao longo
da narrativa, deixa sempre bem claro o lugar dele, que é um lugar inferior
por ser ganancioso. Mexe com o ego de qualquer um, ser desvalorizado
enquanto pessoa, imagino que isso tenha levado Fernando a reflexão da
posição dele enquanto ser humano e de ser um homem. Então, no trecho
que escolhi para comentar em aula, Fernando com o dinheiro que juntou
devido a investimentos anteriores ao casamento, negocia seu resgate com
Aurélia, ele quer se comprar de novo, e eu prefiro acreditar que essa atitude
tenha sido resultado de um amadurecimento do personagem. Aurélia, por
sua vez se ajoelha e se declara para Fernando (essa parte me deu uma
vergonha alheia, confesso que deu vontade de agarrá-la pelo braço e
levantar ela, mas ao mesmo tempo, não posso negar que é romântico
demais...), com emoção e verdade, dizendo:
“Aquela que te humilhou, aqui a tens abatida, no mesmo lugar
onde ultrajou-te, nas iras de sua paixão. Aqui a tens implorando seu
perdão e feliz porque te adora, como o senhor de sua alma”. Alencar
(1959, pg.133)

Aurélia se humilha diante do seu amor, e ela a “senhora” da história, diz


que na verdade ele é o senhor da sua alma. Ele a levanta, a beija e diz que não
podem ficar juntos, ela diz que ele está no testamento dela e eles se entregam
um para o outro. Intrigante, no fim, foi amor ou interesse? Ele se redimiu, mas o
dinheiro ainda lhe movia o coração? Perguntas que ficam no ar, e assim se faz
um bom romance, uma história que continua sendo falada através dos anos,
com lacunas para tentarmos preencher e teorias para criarmos a respeito.
Adorei o livro!
5. O “jeitinho brasileiro” sendo formado em “Memórias de
um sargento de milícias”, de Manoel Antônio de Almeida.

O livro “Memórias de um sargento de milícias” é um típico livro que eu


julgaria pela capa, ou pelo título. Mas, que bom que ele era uma das opções
de leitura, porque o livro é divertido e vale a pena a leitura. Confesso que
sinto uma grande dificuldade em falar sobre esse livro, porque tem muita
coisa para explorar, mas nesse memorial quero explorar o “jeitinho
brasileiro” sendo formado, essa malandragem que seduz...
O livro conta a história de Leonardo, um menino criado pelo padrinho
e pela madrinha após o abandono de seus pais. O padrinho acreditava que
Leonardo poderia se tornar um doutor ou um padre, mas Leonardo não se
encaixava em nenhuma dessas profissões, porque era um aluno muito
faltoso e um coroinha peste na igreja.
Apesar de ser uma criança peste, o leitor acaba se apegando ao
personagem. Uma parte engraçada é que Leonardo vendia tudo que tinha
valor em suas mãos, mesmo que não fosse dele, o que fazia com que ele
não tivesse material escolar e além disso, o menino gastava o dinheiro de
forma questionável. O livro me fez refletir como temas e comportamentos
retratados em uma obra tão antiga ainda podem ser relevantes nos dias de
hoje, nos conectando com a vida de pessoas que conhecemos, eu mesma já
conheci vários tipos de “Leonardos” na minha vida.
Leonardo e seu padrinho formam uma relação essencial na história.
Apesar de ser um pouco malandro e irresponsável em suas próprias ações,
o padrinho se importava muito com Leonardo e o protegia em situações
difíceis. Então essa malandragem de Leonardo também foi algo construído
ao longo da convivência com seu padrinho, o personagem principal cresceu
e era conhecido por ser da vadiagem e da malandragem.

Outro ponto importante é a similaridade com a realidade. No ensaio


“Ordem e desordem”, de Antônio Cândido, o autor explora como a ordem e a
desordem estão presentes tanto na literatura quanto na sociedade. No livro
“Memórias de um Sargento de Milícias”, esses elementos se entrelaçam o
tempo todo: o padre se envolve com uma cigana, o delegado persegue
pessoas da religião do candomblé (ai de quem jogasse capoeira), mas
quando sua esposa o deixa, ele recorre a práticas religiosas para tentar
reconquistá-la, isso é tão Brasil que não sei explicar, só me resta rir.
O autor do livro, Manuel Antônio de Almeida, destaca os costumes de
uma classe social desfavorecida, no Rio de Janeiro. Ele cria um romance de
costumes, diferente do estilo romântico, que faz a obra ser única.
O romance se dá pela história de amor de Leonardo e Luisinha. A
moça de sardas no rosto não está no padrão de beleza idealizado da época,
mas não sai do coração de Leonardo apesar do tempo que ficam separados.
Eu gostei muito da leitura por conta da conta da linguagem utilizada e
da familiaridade presente na narrativa. Esse romance deixa claro o que se
trata o tal do “lado B”, o livro não idealiza o amor romântico como os
romances tradicionais. Em vez disso, retrata relacionamentos de forma
realista, com personagens complexos e desafios, mostrando que o amor
pode ser imperfeito e complicado.

9. Considerações finais

Agradeço a professora da disciplina pelo conhecimento que obtive ao


longo do semestre. A literatura conta a história do nosso país, e é importante
que nós, professores em formação, conheçamos nossa história, obrigada por
me ajudar a olhar as questões sociais de um ângulo diferente e amplo, já pude
colocar alguns conhecimentos obtidos através dessas disciplinas em conversas
do cotidiano e pude perceber o quanto minha visão mudou, então só posso
dizer: gratidão.
REFERÊNCIAS

Alencar, José de. “Iracema”. In ALENCAR, José de. Obra Completa. Rio
de Janeiro: Editora José Aguilar, 1959a, vol. III.

Alencar, José de. “Senhora”. In ALENCAR, José de. Obra Completa. Rio
de Janeiro: Editora José Aguilar, 1959a, vol. I.

Almeida, Manuel Antônio de. Memórias de um sargento de milícias.


Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1963.

Freitas, Mardelene de Carvalho. “Memórias de um sargento de milícias”:


peculiaridades e controvérsias de uma fortuna crítica. Mafuá, Florianópolis,
Santa Catarina, Brasil, n. 3, 2005.

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