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Athis12/01/2022

A complexidade no sertão

O romance “Vidas Secas”, do escritor brasileiro Graciliano Ramos, foi publicado


em 1938 e faz parte da segunda fase do modernismo (geração de 30). Ele é
considerado, por parte da crítica literária, como sua obra-prima.
A obra narra à vida de Fabiano e sua família que abandonaram o lugar que viviam
para fugir da seca. Sem condições físicas de continuar sua viagem, optam por se
instalar numa fazenda desabrigada que eles tiveram a sorte de encontrar, após
muito tempo de caminhada sem rumo. A história continua com a descrição dos
personagens, de seu cotidiano, da sua adaptação no novo lar e os seus
problemas enfrentados.
Em relação à narração, os capítulos são diferentes dos livros comuns, pois eles
não seguem uma linearidade de união. O livro é semelhante à junção de vários
contos que relatam situações do dia a dia e revelam problemas sociais que um
mesmo grupo de personagens enfrenta com a utilização de marcações discretas
no tempo. Contudo, essa maneira incomum pode gerar um sentimento de falta de
informações, em outras palavras, a sensação de que o leitor pulou partes
importantes da narração.
O autor aborda, de maneira clara e explicativa, a pobreza, a dependência da
natureza e as dificuldades dos moradores do sertão nordestino. Além disso, ele
denuncia a miséria, as injustiças e, principalmente, a exploração do trabalhador,
por meio de uma linguagem coloquial e expressões regionais.
Outra característica da obra é a simplicidade dos personagens. Eles são
retratados como brutos não escolarizados e dois deles não possuem um nome
próprio, são denominados de “o menino mais novo” e “menino mais velho”.
Contudo, o autor, por meio do aprofundamento do psicológico dos personagens,
transforma-os em complexos.
A história consegue retratar, verdadeiramente, temas sociais e os pensamentos
dos personagens transmitem o posicionamento do autor. Entretanto, a sua escrita
e narração poderiam ter sido mais bem desenvolvidos.

Murruga 03/03/2013

Que livro...
Graciliano me impressionou com este livro. Seu modo seco de descrever a vida
árida desses nordestinos, abusando de "expressões sertanejas" para mim, é o que
torna este livro realmente brasileiro.

O livro nos conta a estória, fictícia não sei até que ponto, de uma família nuclear
formada por personagens singulares que vive fugindo da seca do sertão e
sonhando com uma vida melhor, uma vida grande. Fabiano é um pai rude, que
passa a vida consertando cercas e domando animais; sinhá Vitória é a mãe dona
de casa que cuida dos filhos, faz contas com sementes e sonha com uma cama
de couro igual a do seu Tomás da boladeira; o menino mais novo admira o pai e
as vezes tenta ser como ele; o menino mais velho admira a cachorra, que muitas
vezes age como gente, diferentemente de seu pai; Baleia, a cachorra, é, para
mim, o personagem mais emblemático da estória. O autor confere a ela
características psicológicas e afetivas mais humanas que as dos outros
personagens, basta ver que ela tem nome, os filhos não.

A leitura desta obra não foi para mim apenas parte de um hobbie. Em algumas
páginas me sentia como um sertanejo de "alpercatas" ao lado de Fabiano,
lamentando pela vida seca e me perguntando juntamente com ele: Por que não
haveríamos de ser gente?

Como muitos já disseram antes, "não há como ler este livro sem sentir sede". Eu
concordo. Me ví sedento muitas e muitas vezes durante estas páginas. Mas aí eu
pergunto: Sedento de quê? De vida, com certeza.

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