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PRIMEIRAS ESTÓRIAS falsamente, parecer difícil e a linguagem soar erudita e

ininteligível, mas essa é uma avaliação precipitada. Na


Guimarães Rosa
verdade, o autor busca recuperar na escrita, a fala das
“O tamanho não é o que mal a este gênero de histórias, é personagens do sertão mineiro; a poesia presente nas
naturalmente a qualidade; mas há sempre uma qualidade nos
contos, que os torna superiores aos grandes romances, se uns e
imagens, sons e estruturas de uma linguagem que está à
outros são medíocres: é serem curtos”.       margem da norma estabelecida pelos padrões urbanos.
Quanto ao emprego dos tempos verbais, nota-se que, na
Gênero: Narrativo (CONTOS) maior parte das estórias, o relato se faz através de uma
Estilo: Modernismo de 45 mistura do pretérito perfeito com o pretérito imperfeito
do indicativo.
AUTOR: Foi um grande estudioso, principalmente de línguas. A obra aborda as diferentes faces do gênero: a psicológica,
Alguns estudiosos de sua obra afirmam que ele aprendeu a fantástica, a autobiográfica, a anedótica, a satírica,
sozinho o russo e o alemão. Essa paixão por línguas se vazadas em diferentes tons: o cômico, o trágico, o patético, o
reflete em quase todos os seus textos. Ele faleceu três dias lírico, o sarcástico, o erudito, o popular.
depois de ter tomado posse na Academia Brasileira de As personagens embora variem muito quanto à faixa etária
Letras. Assim como outros autores, Guimarães utiliza a e experiência de vida, elas se ligam por um aspecto comum:
relação do homem com a paisagem árida do sertão suas reações psicossociais extrapolam o limite da
mineiro como matéria-prima de seus textos. Entretanto seu normalidade. São crianças e adolescentes superdotados,
regionalismo apresenta um novo significado extrapola os santos, bandidos, gurus sertanejos e, principalmente,
limites da realidade brasileira, atingindo o plano universal. loucos: sete estórias apresentam personagens com este
Como dizia o próprio autor, “o sertão é o mundo”. Tanto que traço.
podemos interpretá-lo de várias maneiras: como realidade A relação com a morte e com o desejo de imortalidade
geográfica, social, política e até mesmo numa dimensão está presente em toda a obra de Guimarães Rosa, mas
metafísica. As principais características de sua obra: talvez com mais intensidade em "Primeiras Estórias".
* REGIONALISMO Em cada um dos contos deste livro o narrador configura sua
* UNIVERSALISMO experiência de forma diferente, atravessando estágios
* CRIAÇÃO LINGUÍSTICA emocionais distintos, conforme o ponto do percurso em que
se encontra. Tanto em As Margens da Alegria, quanto em Os
Outra característica fundamental de Guimarães Rosa é o seu
Cimos, contos extremos do livro, ele se identifica
poder inovador, sua habilidade em trabalhar e inventar
profundamente com o protagonista, como se ele espelhasse
palavras. Seus textos são repletos de neologismos (neo=
sua própria trajetória, sua infância, como se assim
novo, logismo vem de logos que significa palavra), ou seja,
universalizasse, de certa forma, essa travessia. Ou seja, ele
neologismos são palavras novas. Dizem que Guimarães
tenta perceber o que há de comum na infância de cada
sempre andava com um caderninho no bolso anotando
menino, nessas delicadas passagens, em seus estados de
palavras e expressões características do falar do povo
alma, nos dolorosos conflitos, nas fascinantes descobertas.
brasileiro e a partir delas criava outras tantas.
“desafogaréu” – “cigarrando” – “justinhamente” TEMAS: Sentido oculto da existência, crescimento espiritual
“êssezinho” – “ossoso” – “retrovão” por meio de experiências amorosas, vida como aprendizado,
“agarrante” – “bisbrisa” – “desfalar” sensibilidade extraordinária manifestando-se pela loucura e
Outra característica é o seu poder de fusão dos gêneros pela ingenuidade infantil, vida como predestinação, limites
literários. Guimarães Rosa não ficou preso a um único entre bem e mal.
gênero. Segundo a crítica literária, ele e Clarice Lispector
conseguiram desromancizar o romance, aproximando-o da RESUMO:
poesia.
1. As margens da alegria: O conto tem como protagonista
Veja o que o próprio autor diz sobre a sua obra: um menino que viaja com os tios para o local onde estava
“ Não, não sou romancista; sou um contista de contos sendo construída uma grande cidade. Inicialmente, conta-se
críticos. Meus romances e ciclos de romances são na o deslumbramento do menino diante da viagem de avião, da
realidade contos nos quais se unem a ficção poética e a chegada, da natureza, das "novas tantas coisas" inéditas que
realidade. Sei que daí pode facilmente nascer um filho se apresentam a ele. Contudo, o alvo de sua maior
ilegítimo, mas justamente o autor deve ter um aparelho de admiração fora um peru, que encontrara no terreiro da
controle: sua cabeça. Escrevo, e creio que este é o meu pequena casa onde ele e os tios estavam. Tudo na ave o
aparelho de controle: o idioma português, tal como usamos impressiona: sua imponência, suas cores, sua beleza, seu
no Brasil; entretanto, no fundo, enquanto vou escrevendo, "gluglu". O menino sai para outro passeio, vê outros animais
extraio de muitos outros idiomas. Disso resultam meus livros, e outros lugares, porém a simples lembrança do majestoso
escritos em um idioma próprio, meu, e pode-se deduzir daí peru o deixa extasiado. Na volta, procura o animal, mas
que não me submeto à tirania da gramática e dos dicionários descobre que ele havia sido morto para comemorar o
dos outros. A gramática e a chamada filologia, ciência aniversário de seu tio. Com o desaparecimento do animal, o
linguística, foram inventadas pelos inimigos da poesia”. menino experimenta sensações desconhecidas: o
"desgosto", e "desengano", a "circuntristeza". A curiosidade e
a expectativa com relação a tudo o que ainda estava por ser
OS CONTOS: O livro Primeiras estórias faz parte do terceiro
visto o abandonam. Passeia novamente com os tios por
tempo do Modernismo brasileiro e foi publicado em 1962. As
onde a nova cidade se erguia. De volta, descobre a presença
21 estórias, portanto, são narrativas preocupadas em
de outro peru. Este não possuía o "recacho", o "englobo", a
tematizar, simbolicamente, os segredos da existência
"elegância" do primeiro, mas atenua sua tristeza. Já
humana. Trata-se do primeiro conjunto de histórias
anoitecia, quando menino descobre outro animal que o
compactas a seguir a linha do conto tradicional, daí o
surpreende: era o primeiro vaga-lume daquela noite. A visão
"Primeiras" do título. Na obra há a intenção de apresentar
do animalzinho deixa-o novamente feliz. Finalmente, "era
fábulas para as crianças do futuro.
outra vez em quando, a Alegria". Através de seu principal
À primeira vista, a leitura de Primeiras Estórias pode,
personagem - seus pensamentos e emoções, o conto prontamente atendidos. Quer ver um sapo e, como por
tematiza o primeiro confronto da criança com a morte e a encanto, uma bela rã brejeira aparece. Quer comer
sensação da perda e desolação trazida por ela. pamonhinha de goiaba e surge uma dona, de longe, com os
O narrador, em 3ª pessoa, assume a perspectiva do tais pãezinhos. Seus feitos vão-se tornando mais
menino, descrevendo sempre seus sentimentos de alegria e significativos: sua mãe que havia adoecido cura-se com um
de tristeza. afago da filha: desejou ver o arco-íris, e choveu na região,
que estava sendo castigada pela seca. "O que ela queria,
2. Famigerado: Famigerado constitui-se num episódio que falava, súbito acontecia." Mas Nhinhinha,
cômico cuja trama é a seguinte: um médico do interior repentinamente, adoece e morre. Todos ficam desolados e
[narrador da história] recebe a visita de quatro cavaleiros começam os preparativos para os funerais. Então Tiantônia
rudes do sertão. Seu líder, Damásio, conhecido assassino da revela que a menina, no dia da chuva, havia dito "que queria
região, quer que o doutor o esclareça a respeito do um caixãozinho cor-de-rosa, com enfeites verdes brilhante".
significado da palavra "famigerado". Veja como a pergunta é O pai não admite realizar o desejo da filha, pois entende que
feita: "-Vosmecê agora me faça a boa obra de querer me isso seria ajudá-la a morrer. A mãe pensa o contrário.
ensinar o que é mesmo que é: famisgerado...faz-me- Discutem. Ela, por fim, tranquiliza-se: se essa fora a vontade
gerado...falmisgeraldo...famílias-gerado?" O médico, de sua filha, havia de concretizar-se "....pois havia de sair
temeroso de revelar o verdadeiro sentido da palavra, mente, bem assim, do jeito, cor-de-rosa com verdes funebrilhos,
pois teme a violência de Damásio contra o "moço do porque era, tinha de ser! - pelo milagre, o de sua filhinha em
Governo" que assim o havia chamado. Ele explica que glória, Santa Nhinhinha."O narrador de "A menina de lá" é
"famigerado" quer dizer "célebre", "notório", "notável". O testemunha parcial dos fatos. Os demais acontecimentos são
assassino0 depois de tranquilizado com a resposta do narrados a partir do relato de outros, o que nos permite
médico, agradece e vai embora. Antes, porém, considera compreender que a história da menina já é bem conhecida
que: "Não há como as grandezas machas de uma pessoa na região: "Sei, porém, que foi por aí que ela começou a
instruída." fazer milagre. E, vai, Nhinhinha adoeceu e morreu. Diz-se
Nesse conto, podemos opor o poder da força, Damásio, ao que da má água desses ares." O narrador não questiona a
poder da instrução, do conhecimento médico. Caso o médico veracidade dos acontecimentos, reproduzindo a visão de
tivesse revelado o sentido dicionarizado do termo mundo do homem do sertão, a partir de seus mitos e
"famigerado", estaria, por certo, infligindo uma sentença de crenças.
morte ao moço. Guimarães Rosa tematiza, no conto, a
importância da linguagem. Seu conhecimento ou não 5. Os irmãos Dagobé: É noite e a cena inicial do conto é a
determina as posições sociais. do velório de Damastor Dagobé, o mais velho dentre quatro
irmãos. Estes são conhecidos como os "demos" da região,
3. Sorôco, sua mãe, sua filha: O conto narra a estória de gente extremamente violenta, descritas como facínoras pelo
Sorôco, viúvo que está para mandar sua mãe e sua filha narrador. É também através do narrador que ficamos
dementes para um hospício em Barbacena. As pessoas do sabendo que ele fora morto por um "lagalhé" [ um joão-
povoado ajuntam-se, silenciosas e solenes, em volta do ninguém, pessoa sem importância] pacífico e honesto,
vagão do trem em que elas viajarão. Sorôco, sua mãe e sua chamado Liojorge. Este matara Damastor em legítima
filha surgem, provenientes da rua onde moram, e dirigem-se defesa, pois ele o atacara sem nenhuma razão.
ao vagão. A moça principia a canta "que nem os santos e os A tensão da narrativa aumenta à medida que as pessoas que
espantos". Logo depois, a velha acompanha a neta em seu velam Damastor ponderam a respeito da atitude que os
canto sem sentido. O trem chega e as duas partem para não Dagobé tomariam contra Liojorge. Este se oferece para
mais voltar. Sorôco mantém-se calado, experimentando um carregar o caixão, num gesto de humildade e numa última
profundo sofrimento. As pessoas, por sua vez, mostram-se tentativa de inverter seu destino, que, ao que tudo indicava,
solidárias: "Todos no arregalado respeito, tinham as vistas já estava traçado. Ao amanhecer, o enterro deixa a casa a
neblinadas. De repente, todos gostavam demais de Sorôco." caminho do cemitério. Liojorge segura uma das alças do
Ele parece mover-se em direção à casa, contudo é tomado caixão, cercado pelos Dagobé. As expectativas intensificam-
por arrebatamento momentâneo e começa a entoar a mesma se: todos pensam que, logo após o enterro, eles se vingarão.
cantiga das loucas. A comunidade, "de dó do Sorôco", Porém os Dagobé agem surpreendentemente, absolvendo o
acompanha-o no canto, e todos o conduzem para casa. O assassino do irmão: "-Moço, o senhor vá, se recolha. Sucede
protagonista, desorientado em seus sentimentos com a que o meu saudoso irmão é que era um diabo de danado..."
partida da filha e da mãe, e sem meios de verbalizar suas Dito isso, os irmãos agradecem a atenção dos presentes e
emoções, expressa-se de maneira semelhante à utilizada por comunicam que deixariam o povoado: "-A gente, vamos
elas. O conto fixa esse momento de exaltação, quando, num embora, morar em cidade grande..." A lei do mais forte e o
comportamento inusitado, Sorôco termina por envolver a poder da força são novamente tematizados nesse conto,
todos. acentuada ainda pela ausência de qualquer autoridade
instituída que possa controlar a ação dos Dagobé. Também
4. A menina de lá: O conto tem protagonista uma é enfocada a imagem criada pelo povo em torno de seus
menininha, de nem quatro anos, chamada Nhinhinha. Ela mitos. Os irmãos criminosos são respeitados e temidos por
nos é apresentada como um indivíduo de características sua crueldade e invencibilidade. Contudo a narrativa
muito especiais: fala pouco, brinca pouco, inventa palavras e desmitifica essa visão, uma vez que eles revelam seu lado
estórias "absurdas, vagas, tudo muito curto". Até o narrador pacífico. O mito que permanece é o de Damastor Dagobé.
[personagem que testemunha parcialmente os fatos]
desconfia de suas atitudes: "seria mesmo seu tanto 6. A terceira margem do rio: "A terceira margem do rio"
tolinha?" Os pais e a tia, parentes com quem mora, conta-nos a história de um homem que evade de toda e
acostumaram-se com seu jeito quieto, introspectivo, mas qualquer convivência com a família e com a sociedade,
destemido. preferindo a completa solidão do rio, lugar em que, dentro de
Contudo Nhinhinha começa a surpreender realmente, uma canoa, rema "rio abaixo, rio a fora, rio a dentro".
quando realiza seus primeiros "milagres". Primeiramente, Por contradizer os padrões normais de comportamento, ele é
seus desejos são simples e despretensiosos, mas tido como um desequilibrado. O narrador-personagem é seu
filho e relata todas as tentativa da família, parentes, vizinhos que isso teria de ter um fim. Então resolve dar uma
e conhecidos de estabelecer algum tipo de comunicação cambalhota, para cair, de propósito. Perde os sentido e a
com o solitário remador. Contudo o pai recusa qualquer peça é interrompida. Em "Pirlimpsiquice", o protagonista é o
contato. A família, inicialmente aturdida com a atitude próprio narrador que, já adulto, narra um episódio ocorrido no
inusitada do pai, vai-se acostumando com seu abandono. passado. O período a que o autor nos remete é o tempo
Com o tempo, mudam-se da fazenda onde residiam; a irmã prazeroso da infância, repleto de aventuras e de
casa-se e vai embora, levando a mãe; o irmão também experiências inéditas, como a da arte de representar.
muda-se para outra cidade. Somente o narrador permanece.
Sua vida torna-se reclusa e sem sentido, a não ser pelo 8. Nenhum, nenhuma: O conto tem como acontecimento
desejo obstinado de entender os motivos da ausência do pai: principal a lembrança do narrador sobre um fato ocorrido na
"Sou homem de tristes palavras. De que era que eu tinha sua infância. Ele narra com dificuldade, conforme a memória
tanta culpa? Se o meu pai, sempre fazendo ausência: e o rio- permite, os fatos que ocorreram durante sua estada em uma
rio-rio, o rio-pondo perpétuo." Um dia, dirige-se ao rio, grita casa de fazenda, quando menino. Os acontecimentos
pelo pai e propõe tomar o seu lugar na canoa. Mediante a envolvem um homem, uma moça, seu namorado, o menino e
concordância dele, o filho foge, apavorado, desistindo da uma velha. Durante a narrativa, ficamos sabendo que o
ideia: "E estou pedindo, pedindo, pedindo um perdão. [....] homem tem uma doença incurável e pode falecer a qualquer
Sei que ninguém soube mais dele. Sou homem depois desse momento; que a velha, Nenha, de tão antiga, já não possui
falimento? Sou o que não foi, o que vai ficar calado." história pessoal conhecida; o moço e a moça rompem o
O narrador-personagem nos dá a conhecer um ser humano namoro; o menino sente ciúmes do namorado da moça.
cujos ideais de vida divergem dos padrões aceitos como Depois da briga do casal, o moço parte, levando o menino
normais. Trata-se do pai do narrador, o qual com sua atitude consigo, de volta para casa, o que nos permite supor que ele
obstinada, ao mesmo tempo, afronta e perturba seus estivesse encarregado disso. Tanto o moço quanto o menino
familiares e conhecidos, que se veem obrigados a questionar sentem profundamente a separação da moço e, durante a
as razões de seu isolamento e alienação. O único a persistir viagem, ambos choram. Ao chegar, o menino é recebido
na busca de entendimento da opção do pai é o narrador, que pelos pais, os quais fazem perguntas que o menino
não descuida dele e chega a desejar substituí-lo. A escolha considera fúteis, diante das sérias emoções vivenciadas na
do isolamento no rio instiga permanentemente o filho. Este é fazenda. Por isso, ele os repreende: "-Vocês não sabem de
levado a questionar o próprio existir humano. nada, de nada, ouviram?! Vocês já se esqueceram de tudo o
que, algum dia, sabiam!..." "Nenhum, nenhuma" é uma
7. Pirlimpsiquice: Em "Pirlimpsiquice", o narrador- estória construída na incerteza e na falta de exatidão com
personagem, já adulto, narra um episódio transcorrido em que os fatos são narrados. Estas são provocadas pela
sua infância, quando estudava interno em um colégio. impossibilidade de a memória reter todo o passado na
A trama é a seguinte: um grupo de alunos é convocado para intensidade em que ele é sentido e no ordem em que
encenar uma peça teatral [Os filhos do doutor Famoso]. acontece. O que se notas, portanto, é a intenção de
Entusiasmados, os meninos ouvem o resumo do drama, lido privilegiar o mundo infantil, que aflora, ainda que impreciso,
pelo Dr. Perdigão "lente de corografia e história-pátria",. O tentando vencer todas as deficiências de memória do
narrador é escalado para ser apenas o ponto. Passam a narrador.
ensaiar todo o final de tarde, depois do jantar, enquanto os
outros cumprem horas obrigatórias de estudo e prometem 9. Fatalidade: A história gira em torno de um delegado de
badernas e vaias durante a apresentação e sovas depois. polícia de uma cidadezinha do sertão e de um caipira, Zé
No dia da apresentação, Ataualpa, o menino que Centeralfe. Este, tendo sua mulher perseguida por um rufião,
representaria o papel mais importante - o Dr. Famoso - tem recorre ao delegado para que ele resolva o caso. A solução
de viajar às pressas, pois seu pai está à morte. O ponto, por passa pelo assassínio do perseguidor. O conto contrapõe o
conhecer todas as falas das personagens, é escalado para poder da autoridade ao poder do homem comum, submetido
substituí-lo. Quando já está frente ao público, o menino se dá às leis e tematiza, em última instância, a violência arbitrária
conta de que deveria iniciar com a declamação de um poema existente no sertão. Esta, por sua vez, justifica o título, pois
que falava na "Virgem Padroeira e na Pátria!, mas este era assume um caráter de fatalidade.
conhecido somente por Ataualpa. Diante da hesitação e do
silêncio do menino em cena, o público ri. 10. Sequência: Narra a história da perseguição de uma vaca
Este, por fim, diz trêmulo: "-Viva a Virgem e viva a Pátria". fujona por um rapaz, que julga ser o animal de propriedade
Porém a confusão não para aí. Mandam abaixar as cortinas de sua família. À perseguição do animal segue-se o encontro
do palco, mas elas não descem. Entram as crianças para a inesperado do rapaz com uma moça, e ambos apaixonam-se
próxima cena, mas "apalermados" não proferem palavra. ao primeiro olhar. A vaca havia conduzido o maço à fazenda
Como consequência: "-A vaia, que ninguém imaginava. O de seus proprietários, lugar onde a moça morava, pois era
que era um mar - patuléia, todos em mios, zurros, urros, filha do dono da fazenda. Através da perseguição ininterrupta
assobios: pateada. A gente, nada". No meio da confusão, Zé da vaca pelo rapaz, a qual termina com o encontro
Boné, um que "regulava de papalvo [indivíduo simplório, surpreendente dele com a moça, e com a imediata paixão
pateta] começa a representar; só que não a história prevista, sentida por eles, o conto tematiza a sucessão dos
mas uma outra, inventada por um colega - Gamboa - com acontecimentos imprevisíveis que constituem a própria vida.
quem os atores tinham rixas. A partir daí, os meninos
passam a improvisar e conquistam o respeito da plateia que 11. Espelho: O conto constitui-se em um relato, em 1ª
os aplaude. A história vai se tornando tão envolvente que pessoa, das experiências de um homem diante do espelho.
eles não percebem que têm de concluí-la: "Entendi. Cada um A personagem dirige-se a um ouvinte que não chega a ter
de nós se esquecera de seu mesmo, e estávamos voz na narrativa. "Espelho" tematiza o desejo intemporal e
transvivendo, sobrecrentes disto: que era o verdadeiro viver? inerente ao homem de conhecer-se, de enxergar, além da
E era bom demais, bonito - milmaravilhoso - a gente voava, máscara, a "vera forma" , a essência mesma do ser humano
num amor, nas palavras: no que se ouvia dos outros e no em um mundo desordenado onde "algo ou alguém de tudo
nosso próprio falar. E como terminar?" O narrador é o único faz frincha para rir-se da gente". Em "Espelho", há a
a perceber que a ilusão havia tomado o lugar da realidade e presença do fantástico, ou seja, ocorrência de situações
insólitas e inexplicáveis que desafiam a razão. Observe a ocasião em que comprou a chácara na qual morava. Da
seguinte passagem: "Simplesmente lhe digo que me olhei casa, vigiava, atento e armado de uma espingarda, quem
num espelho e não me vi. Não vi nada." quer que se aproximassem. Reivalino, a princípio, tinha
aversão a Giovânio: "...nesse tempo não sendo ainda tão
12. Nada e a nossa condição: O conto possui como gordo de fazer nojo. [...] Tudo nele me dava raiva. Não
protagonista Tio Man’Antônio, grande fazendeiro, homem aprendia a referir meu nome direito. Desfeita ou ofensa, não
bondoso, reservado e simples. Vivia com a mulher Liduína, e sou o de perdoar - a nenhum, de nenhuma." Além disso,
com suas três filhas numa espaçosa casa "assobradada", e Reivalino estranhava certos procedimentos do estrangeiro,
cercado de agregados: "...diversidade de servos, gente como o de manter a casa sempre fechada, e o de
indígena que por alhures e além estanciavam". Era amado encomendar cerveja, dizendo que era para seu cavalo.
pela família e respeitado pelos que o conheciam por sua Numa de suas idas à cidade, o subdelegado, Seo Priscílio
sabedoria, previdência e resignação. Respeitavam-no, interpelou-o, juntamente com dois homens da capital. Eles
sobretudo por sua quietude, razão pela qual pouco estavam interessados na identificação do estrangeiro e
compreendiam suas atitudes: "Isto, porém, que o encoberto instruíram Reivalino para que verificasse se o homem vivia
dele a todos se impunha, separativo". Com a morte súbita de realmente sozinho e se possuía um sinal velho de coleira,
tia Liduína e, posteriormente, o casamento de suas três argolão de ferro, de criminoso fugido da prisão.
filhas, tio Man’Antônio passa a viver sozinho, a não ser pela Curioso, Reivalino faz sua investigação e, por duas vezes,
companhia dos empregados da fazenda. Mas, para ele, por informa o subdelegado das atitudes suspeitas de Giovânio.
detrás da "movida e muda matéria", havia "uma mor justiça; Numa das vezes, os policiais vão até a chácara com a
mister seria. Se o paiol limpo se deve de, para as grandes desculpa de saberem que histórias seriam aquelas, de um
colheitas: como a de pede o todo e o vazio chama o cheio". cavalo beber cerveja? Giovânio, em resposta, pede a
E, dentro dessa concepção de justiça, ele distribui suas Reivalino que lhe traga o cavalo alazão, canela clara, bela
terras, aos poucos e sem alarde, a todos os que o cercavam. face. Enquanto isso, despeja várias garrafas da bebida numa
Conservou somente as casa e nela morava. Mas, apesar de gamela. O animal, ao lhe oferecerem a cerveja, "já avançou,
seu natural recolhimento, seus beneficiados sentiam-se avispado, de atreitas orelhas, arredondando as ventas, se
atingidos com sua presença: "Faziam de conta que eram lambendo: e grosso bebeu o rumor daquilo, gostado, até o
donos, esses outros, se acostumavam. Não o fundo; a gente vendo que ele já era manhudo, cevado
compreendiam. Não o amavam, seguramente, já que sempre naquilo" Os policiais dão-se por satisfeitos e vão embora.
teriam de temer sua oculta pessoa e respeitar seu valimento, Reivalino desconfiava de que algo misterioso se passasse na
ele em paço acastelado, sempre majestade. Por que, então, casa, mas comoveu-se com Giovânio: "- Irivalini, eco, a vida
não ia embora então, de toda vez, o caduco, maluco, é bruta, os homens são cativos...". Depois disso, o
estafermo, espantalho? Sábio, sedentariado, queria que empregado avisou ao policial que não mais colaboraria com
progredissem e não se perdessem, vigiava-os, de graça ele. Pouco tempo depois, o mistério é desfeito. Giovânio
ainda administrava-os, deles gestor, capataz, rendeiro. chama Reivalino para o interior da casa, onde jazia um
Serviam-no, ainda e mesmo assim. Mas, decerto, milenar e cadáver coberto com um lençol: "- Josepe, meu irmão...",
animalmente, o odiavam". Quando tio Man’Antônio morre explicou o estrangeiro, mostrando o irmão morto.
injustiçado e sozinho de amigo ou amor, seus beneficiados Os policiais ainda vieram com "Seo Priscílio" para examinar
são tomados pelo remorso e pelo medo: "Ai-me, ao horror de o corpo. "Que esta é a guerra... - seu Giovânio explicou -
tanto, atontavam-se e calaram-se, todos, no amedronto de boca de bobo, que se esqueceu de fechar, toda doçura".
que um homem desses, serafim, no aleixamento pudesse Depois disso, Reivalino decide ir embora. Antes de partir
finar-se; e temessem, com sagrado espanto e quase de não bebe com Giovânio as cervejas que, segundo tudo indica,
de seu cliente ódio, que, por via de tal falecer, enormidade seriam destinadas a seu irmão. Já não sentia nojo pelo
de males e absurdos castigos vingassem a se desencadear, italiano. Confessa que só não o abraçou por vergonha, pois
recairiam desabados sobre eles e seus filhos". Sentem, por sentiu que choraria. Quando Giovânio morre, deixa a
isso, necessidade de reverenciá-lo, através de um ritual, chácara para Reivalino, de herança. Com esse conto,
como a um santo. O ritual consistiu-se d queima da casa e Guimarães Rosa enfoca os horrores e a desagregação
do corpo de Tio Man’Antônio, enquanto as mulheres e trazidos pela guerra, mostrando que o sertão se torna
homens "de cara no chão se prostravam, pedindo algo e também lugar de homens refugiados, perseguidos e sós.
nada, precisados de paz". Neste conto, temos, de um lado
Tio Man’Antônio, indivíduo superior, que se distingue dos 14. Um moço muito branco: O conto fala de um moço que
demais por sua concepção elevada acerca da existência, apareceu, não se sabe de onde, na Fazenda do Casco, de
bem como por suas atitudes, invariavelmente nobres. De Hilário Cordeiro, homem justo e bom que o acolheu.
outro, seus agregados, que não chegam a identificar outra Seu aparecimento ocorreu uma semana depois que
relação a não ser a de subserviência. A morte de Tio estranhos fenômenos sucederam na comarca de Serro Frio,
Man’Antônio provoca uma mudança de atitude por parte dos em Minas Gerais, no ano de 1872: "Dito que um fenômeno
agregados, pois esses são tomados pelo medo. Se antes o luminoso se projetou no espaço, seguido de estrondos e a
desprezavam, depois de sua morte passam a envolvê-lo terra se abalou, num terremoto que sacudiu os altos,
numa aura de santidade. Isso ocorre porque temem a justiça quebrou e entulhou casas, remexeu vales, matou gente sem
divina quer, para castigá-los por seu ódio infundado, poderia conta [...]". O moço chegou pela manhã, maltrapilho, e dele o
alterar sues destinos, fazendo com que desgraças se que mais chamou a atenção de todos foi a cor da pele: "Tão
abatessem sobre eles. A execução do ritual de adoração tem branco; mas não branquicela, senão que de um branco leve,
duplo objetivo: obter o perdão divino e restituir-lhes a paz de semidourado de luz: figurando ter por dentro uma Segunda
espírito. claridade". O moço - "filho de nenhum homem" - não falava ,
não ouvia e tinha perdido a memória. Todos se
13. O cavalo que bebia cerveja: O conto é narrado em compadeceram e gostaram dele. Especialmente José
primeira pessoa por Reivalino, um homem do meio rural. Ele Kakende, negro "de ideia conturbada" que dizia ter
nos conta sobre seu envolvimento com Giovânio, um italiano testemunhado uma aparição, nas margens do Rio do Peixe,
para quem fora trabalhar. Do estrangeiro, conta-se que na véspera das catástrofes. Só quem, de início, não
mudou para o interior do sertão no ano da gripe espanhola simpatizou com o moço foi Duarte Dias, "homem de gênio
forte, além de maligno e injusto, sobre prepotência [...]". Seotaziano viria "à frente de cem homens: dar a retaguarda".
Levaram o moço à missa e todos repararam nele. A tudo À noite, todos esperavam qualquer sinal dos Dioclécios.
assistia calado "como se conseguisse, em si, mais saudade Já era madrugada quando os noivos se recolheram. Da parte
que as demais pessoas, saudade inteirada, a salvo do dos Dioclécios, ninguém; Joaquim Norberto e Sá Maria
entendimento. Na saída da missa, surgiu Duarte Dias, com Andreza também foram, felizes, para seu quarto. Norberto
alguns companheiros, requerendo a custódia do moço, pois ainda segredou: "-Vamos dormir abraçados. As coisas que
julgava que ele era da família dos Rezendes, seus parentes. estão para a aurora, são antes à noite confiadas".
Mas Hilário Cordeiro não concordou, mantendo o moço No outro dia, chegou o irmão da noiva com um serviçal.
consigo. Hilário Cordeiro parecia ter sido recompensado por Amistoso, avisou que o pai mudara de ideia e esperava os
seu zelo, pois sua vida melhorou: "eis que tudo lhe passou a recém-casados com uma festa. Eles agradeceram a
dar sorte, quer na saúde e paz, em sua casa, seja no assaz hospedagem e foram embora. Neste conto são valorizados
prosperar dos negócios, cabedais e haveres". O moço os princípios do homem do sertão, tais como, a amizade e a
também encantou a filha de Duarte, Viviana, moça muito lealdade aos amigos. Importante é notar que Seo Seotaziano
bonita, mas triste. Ele colocou a palma da mão no seio de e esposa contagiam-se com a aventura do jovem casal,
Viviana e ela "a partir dessa hora, despertou em si um enfim revivendo momentos de paixão e envolvimento. Eis por que
de alegria, para todo o restante de sua vida, donde um as luas-de-mel.
Dom". Mas foi por ocasião "da missa da Dedicação de Nossa
Senhora das Neves e vigília da Transfiguração", que Duarte 16. Partida do audaz navegante: Os acontecimentos,
surpreendeu seus conhecidos. Chorando, implorava a narrados em 3ª pessoa, giram em torno de quatro crianças:
custódia do moço, alegando que por ele sentia uma três meninas - Pele, Ciganinha e Brejeirinha, irmãs - e um
"fortíssima afeição". Vendo isso, o moço, "claro como o sol", menino - Zito. É de manhã e a mãe das meninas está às
o pegou pela mão e saiu com ele. Diz-se que o moço o voltas com as lides da casa. Nurka, a cachorrinha, dorme. As
conduziu a uma "grupiara de diamantes ou um panelão de crianças ainda estão em casa, porque, lá fora, chove.
dinheiro". O certo é que Duarte Dias nunca mais foi o O narrador nos informa a respeito das crianças: Pele, meiga
mesmo. Transformou-se num homem "sucinto, virtuoso e e prestativa; Ciganinha, linda, o retrato da mãe; Zito,
bondoso". O moço desapareceu no dia de Santa Brígida. imaginativo, "sonhava ir-se embora, teatral"; Brejeirinha, a
Conta-se que José Kakende o ajudou, acendendo nove menor e mais arteira. Brejeirinha, como se pressentisse os
fogueiras, como o moço determinou. "Com a primeira luz do sonhos de Zito, diz "-Zito, você podia ser o pirata, inglório
sol, o moço se fora, tidas asas. A história acontece num marujo, num navio intacto, para longe, longe no mar,
passado já distante. O narrador preocupa-se em fornecer navegante que o nunca-mais, de todos?",. Empolgada, a
datas e lugares precisos para dar mais exatidão à insólita menina começa a contar sua história: narra a partida de um
história do moço. Elke mesmo admite que: " da maneira "Aldaz Navegante" que deixa a todos que ama para
ainda hoje se conta, mas transtornado incerto, pelo decorrer descobrir os lugares, que nós não vamos nunca descobrir. A
do tempo, porquanto narrado por filhos ou netos dos que história termina com todos chorando por causa da partida do
eram rapazes, quer ver que meninos, quando em boa hora o Aldaz. A história é interrompida por Pele: "-Você é uma
conheceram". A chegada do moço, cuja procedência analfabetinha "aldaz", referindo a pronúncia inadequada da
permanece desconhecida até o final do conto, coincide com menina. Ciganinha não gostou da história: "Por que você
a ocorrência de uma série de fenômenos naturais. Isso, inventou essa história de tolice, boba, boba?"
somado ao inusitado de seus traços individuais, a seu Brejeirinha responde: "- Porque depois pode ficar bonito, ué!"
estranho desaparecimento e ao fato de que todos se Mas o tempo melhorou, a mãe ia visitar uma doente e as
transformam diante de sua presença, aproxima sua imagem crianças pediram para ir riacho.
à de um ser especial, enviando de outro planeta ou do plano "Mamãe deixava, elas não eram mais meninas de agarra-a-
divino. O conto pode ser classificado como fantástico. saia. Zito devia acompanhá-las, pois já era um ‘meiozinho’ -
homem, leal de responsabilidades".
15. Luas de mel: O conto tem como narrador Joaquim As crianças dirigem-se alegres para o riacho: "Zito dando o
Norberto, proprietário da fazenda Santa-Cruz-da-Onça, braço a Ciganinha, por vezes, muito, as mãos se
espaço em que acontecem as ações do conto. Ele se define encontravam. Pele se crescia, elegante. E ágil ia Brejeirinha
assim: "sou quase de paz, o quanto posso. [...] Sou com seu casaquinho coleóptero. Ela andava pés-para-
remediado lavrador, isto é - de pobre não me sujo, de rico dentro, feito periquitinho, impávido."
não me emporcalho". Joaquim Norberto preparava-se para a Já no riacho e em meio a brincadeiras, Brejeirinha pede a
sesta, quando chegou um tal Baluardo com uma carta de atenção de Zito e Ciganinha. Queria continuar sua história.
Seo Seotaziano, seu ‘compadre-mor’, pedindo que ele Dessa vez, o "Aldaz" é pego de surpresa pelo mar, que leva
hospedasse e protegesse um casal de noivos fugitivos. seu navio. Mas a menina perde o fio da história, e Pele,
Joaquim Norberto prontamente aceitou a incumbência: pediu impaciente, aponta um estrume seco de vaca, dizendo "e-
a Sá-Maria Andreza, sua mulher, para preparar os quartos, e olha o seu aldaz navegante, ali. É aquele..." Em cima do
pediu reforços aos conhecidos que, prontamente, enviaram estrume ressequido - chamado por Brejeirinha de "bovino",
homens e armas para colaboras na segurança do casal. crescera um cogumelo.
Naquela mesma noite, os noivos chegaram. Ela, "das lindas A menina enfeita o "bovino" com florezinhas. Todos riem e
[...] só meio assombradinha, sorrisos desabafados. O moço- batem palmas: "-Pronto. É o Aldaz Navegante..."
rapaz! - dos bons. Vi, com olho imediato". Depois disso, Brejeirinha ainda continua a história. Conta
Essa noite e ainda outras duas, os noivos permaneceram em que o Aldaz sozinho e temeroso "deu um pulo
casa de Joaquim Norberto, resguardados por ele e por seus onipotente...Agarrou, de longe a moça, em seus
auxiliares. No segundo dia em que o casal estava lá, chegou braços...Então, pronto [...] Agora, acabou-se, mesmo: eu
o padre, para casá-los. "Sá-Maria Andreza, minha mulher, escrevi - ‘Fim"". A chuva recomeçava e cercava o "bovino". O
com gosto dispôs o altar. Moço e Moça impavam. Amor é só "Aldaz" logo partiria, levado pelas águas. As crianças
amor. Airosos. Iam os dois, braço pelo braço. Vejam como decidem mandar recados por ele: "-Zito põe um moeda.
são as paixões". Enquanto ceavam, após o casamento, Ciganinha, um grampo. Pele, um chicle. Brejeirinha - um
chegou João Norberto, irmão do narrador, avisando do que cuspinho, é o seu estilo. E a estória? Haverá, ainda tempo
se o Major Dioclécio - pai da noiva - atacasse. Seo para recontar a verdadeira estória? Brejeirinha ainda inventa
outro final. Dessa vez, o Aldaz e sua amada partem juntos,
desde o início. A chuva aumentava e Brejeirinha, assustada, Estava lá também o professor Dartanhã que diagnosticava:
tranquiliza-se quando vê a mãe, "fada, inesperada, surgia, ali "psicose paranóide hebefrêmica". Ao saber que o louco
de contraflor" Juntos observam a partida do "bovino": "Olha! poderia ser o Secretário, completou: "..mas transitória
Lá se vai o ‘Aldaz Navegante’". perturbação, a qual, a capacidade civil, em nada lhe deixará
No conto, há duas histórias justapostas: a que nos conta o afetada...." Sem meios de retirar o homem do alto da
narrador, envolvendo as crianças; e a que Brejeirinha inventa palmeira com os recursos de que dispunham, decidem
sobre o "Aldaz Navegante". A intenção é privilegiar a chamar os bombeiros. Por duas vezes, o louco, percebendo
linguagem e o universo infantil, seus jogos e brincadeiras. a intenção dos bombeiros, ameaçou atirar-se: "- Só morto
me arriam, me apeiam! Se vierem, me vou, eu...Eu vomito
17. Benfazeja: A personagem principal é Mula-Marmela, daqui!" A multidão já se manifestava a favor do louco:
uma indigente que vagueia pelas ruas do lugarejo, "Porque o povo o sentia e aplaudia, danado de redobrado: "-
acompanhada pelo cego Retrupé, seu enteado. O narrador Viva, Viva". Na Segunda tentativa dos bombeiros, ele já
dirige-se ao povo do lugar, condenando-lhes por seu estava completamente nu, no alto da palmeira, e as
completo descaso pela mulher. Para conscientizá-los, ele autoridades quiseram tomar uma atitude mais enérgica. Mas
conta o passado da Mula-Marmela, explicando os motivos de os bombeiros nada conseguiram. Outra tentativa foi a do
sua atual condição: ela fora casada com Munbungo, célebre diálogo: "O Dr. Diretor, mestre do urso e da dança,
cruel e iníquo, muito criminoso, homem de gostar do sabor empunhava o preto cornetão, embocava-o [...] -
de sangue, monstro de perversias. {A Mula-//marmela, Excelência!...,começou, sutil, persuasivo; mal. "-
Mumbungo amava e temia, como se pressentisse que Excelência..." [...] Infundado o povo o apupou: "-Vergonha,
somente ela poderia pôr fim a sua criminosa existência. E velho".
assim aconteceu, Mula-Marmela o matou. A partir daí, viveu Apesar de tentar ser persuasivo, o doutor não obteve
abandonada pelas ruas, na companhia do cego. Sobre sucesso nem com o louco, nem com a multidão, que o vaiou.
Retrupé, aliás, o narrador indica que também teria sido ela a O homem só desceu do alto da palmeira quando, por algum
responsável por sua cegueira. Ela teria percebido nele a tempo, retomou a consciência e, completamente
mesma estirpe demoníaca do pai e, por isso, o teria cegado, envergonhado, gritou por socorro: "Penava - de vexame e
com alguma planta venenosa, para que ele não pudesse acrofobia. Lá, ínfima, a louca, em mar, a multidão: infernal,
cometer as mesmas atrocidades. "O Retrupé cegou, de ululava." A multidão, agora, recriminava-o, pronta a linchá-lo,
ambos aqueles olhos. Souberam vocês como foi? porque perseveram que ele havia recobrado a razão.
Procuraram achar? Sabem, contudo, que há leites e pós , de Quando descia, finalmente aceitando a ajuda dos bombeiros,
plantas, venenos que ocultamente retiram, retomam a visão, proclamou, novamente desarrazoado: "-Viva a luta! Viva a
de olhos que não devem ver". Também teria sido ela a liberdade! A multidão, imediatamente, voltou a consagrá-lo:
sufocá-lo, quando ele estava à morte, padecendo de dores "Fez-se um monumental desfecho. Pegaram-no, a ombros,
terríveis, pois encontraram marcas de unhas em seu em esplêndido, levaram-no carregado. Ninguém poderia
pescoço. Mas não quiseram acusá-la, pois, se o fizessem, deter ninguém, naquela desordem do povo pelo povo."
teriam de aguentar sua indesejada presença na prisão da No estudo introdutório de Primeiras Estórias, Paulo Rónai faz
cidade. Mula-Marmela partiu sozinha e sem o o seguinte comentário a respeito de Dar5andina: "O
reconhecimento do povoado, apesar de tê-los livrado de dois espetáculo tragicômico do demente encarapitado no alto de
desequilibrados. E diz o narrador: "Vocês, de seus uma palmeira enseja um estudo de patologia individual, e
decretantes corações, a expulsavam. Agora, não vão sair a outro, de patologia coletiva".
procurar-lhe o corpo morto, para, contritos, enterrá-lo, em O crítico refere-se às mudanças de comportamento da
festa e pranto, em preito?". O narrador ainda conta que multidão a partir das reações do louco. Esta reage
último gesto da Benfazeja, ao sair da cidade, foi carregar positivamente à demência do desconhecido, contagiando-se
consigo um cachorra morto, já em estado de putrefação, e vibrando com ela.
como se ainda quisesse livrar o povoado de uma última
chaga. "E nunca se esqueçam, tomem na lembrança, narrem 19. Substância: "Substância" narra, em 3ª pessoa, a história
aos seus filhos, havidos ou vindouros, o que vocês viram de amor entre Maria Exita e Sionésio. Ele a trouxera para a
com esses olhos terrivorosos, e não souberam impedir, nem fazenda Samburá, quando ela era ainda uma menina, por
compreender, nem agraciar". O narrador do conto é um pena: a mãe havia abandonado a casa, seus dois irmãos
morador do lugar, que fala, dirigindo-se ao povo, eram criminosos e seu pai, leproso, também havia partido.
recriminando-os por seu egoísmo. Seu discurso é Na fazenda, aceitaram-na porque a velha Nhatiaga,
argumentativo, ele faz a defesa da indigente injustiçada. O peneirinha de polvilho, compadecera-se dela. À Maria Exita
narrador do conto é revelador dos sentimentos deram porém "ingrato serviço, de todos o pior: o de quebrar,
inconfessados de uma comunidade. à mão, o polvilho, nas lajes". A fazenda mantinha-se do
plantio da mandioca e da produção de farinha e polvilho.
18. Darandina: O narrador-personagem, médico plantonista Sionésio herdou-a. "Prazer era ver, aberto, sob o fim do sol,
de um hospital, conta-nos a história de um homem, distinto o mandiocal de verdes mãos. Amava o que era seu - o que
"sujeito de trato, tão trajado....", que, ao afanar seus fortes olhos aprisionavam". Não reparou nela enquanto,
inesperadamente a carteira de um chofer, viu-se perseguido quieta e imperturbável, crescia, transformando-se numa linda
e acabou refugiando-se no alto de uma palmeira, na praça moça" - ela, flor. Sionésio vai-se apaixonando por Maria
pública da cidade. Logo os curiosos ajuntavam-se em volta Exita. "Todo esse tempo. Sua beleza, donde vinha? Sua
da praça para ver o que se passava. Primeiramente, as própria, tão firme pessoa? A imensidão do olhar - doçuras.
pessoas julgaram que ele havia fugido do hospital; depois Se um sorriso, artes como de um descer de anjos. Sionésio
confundiram-no com o Secretário Municipal das Fianças nem entendia. Somente era bom, a saber feliz, apesar dos
Públicas. Nem um, nem outro. Lá de cima, o homem gritava: ásperos".
"-Eu nunca me entendi por gente!.....Vocês me sabem é de Ele preocupa-se com o fato de que alguém pudesse afastar
mentira" A praça, a essa altura, já estava repleta. Chegaram sua quente presença para longe dele. Traquilizou-se, porém,
médicos, enfermeiros, padioleiros, alguns da polícia e muitos quando soube que a evitavam, pois temiam seus irmãos
outros. criminosos ou que ela fosse como a mãe, leviana, ou ainda,
que se tornasse leprosa como o pai. Sionésio resolve, por coisa nenhuma, senão ficar perto, de não se separar nem
fim, manifestar seus sentimentos: "-Você, Maria, quererá, a para um fôlego, sem carecer de que acontecesse o nada".
gente, nós dois, nunca precisar de se separar? Você, No dia que se seguiu ao de sua chegada, desde cedo, o
comigo, vem e vai?" Maria aceitou o pedido: "Vou, demais". menino já estava desperto no alpendre da casa, quando,
E desatou um sorriso. Ele nem viu. Estavam lado a lado, olhando os cimos das árvores, avistou um tucano. A ave,
olhavam para frente. "Substância" tem como personagem contra a luz do sol, no topo da árvore, encantou-a. Desde
principal Sionésio, homem simples, trabalhador e calado. O então, todas as manhãs, procurava o animal, "esperava; pelo
vocabulário reduzido limita-lhe a expressão, não a belo. Havia o tucano - sem jaça - em vôo e pouso e vôo". A
sensibilidade. O narrador, em 3ª pessoa, onisciente, fala por excelência do pássaro o contagiou e, mesmo quando
ele, transformando seus sentimentos em linguagem. chegaram más notícias sobre a saúde da mãe, o menino,
imperturbável, "disse, redisse: que a Mãe nem nunca tinha
20. Tarantão, meu patrão: O conto é narrado em primeira estado doente, nascera sempre sã e salva! O vôo do pássaro
pessoa, por vagalume, empregado de uma fazenda, cuja habitava-o mais". Depois de quatro dias, chegou a notícia de
função é tomar conta do velho Iô João-de-Barros-Dinis- que a mãe do menino estava curada. O menino e o tio então
Robertes, homem "sem escasso juízo". O velho já tinha feito voltaram. O narrador em 3ª pessoa, onisciente, é quem
vários escândalos, constrangendo sua família, tradicional na verbaliza os pensamento do menino, em confronto com a dor
região. Naquele dia, o velho acordara especialmente mal e ameaça de perda da mãe. Em "O Cimos", último conto de
intencionado. Afobado, dirigira-se ao curral a fim de aprontar Primeiras Estórias, as vivências infantis são novamente
o cavalo e ir à cidade: "-Ei, vamos, direto, pegar o tematizadas.
Magerinho, com ele hoje eu acabo!" Magrinho, seu sobrinho- TESTES:
neto, era médico e lhe havia prescrito injeções e lavagem 1 - Graciliano Ramos, Clarice Lispector e Guimarães Rosa
intestinal da última vez que o tratara. Enquanto cavalgavam produziram nos mesmos gêneros textuais narrativos; são
em direção à cidade, o velho, alterado, prometia vinganças: romancistas e contistas, cujas produções são referenciadas
"- Mato sujos e safado!" "Mato mortos e enterrados", "Mato o nacional e internacionalmente.
Magrinho, é hoje, mato e mato, mato, mato!" No caminho, Sobre isso, analise as afirmativas a seguir:
arrebanham mais seguidores. Estava em cinco, quando I. Graciliano Ramos, em seu romance Vidas Secas, retoma
chegam ao arraial do Breberê, em meio a uma procissão. Lá, um dos problemas vivenciados pelo homem nordestino, que,
o velho distribui dinheiro, toma a bênção do padre e apesar de remontar ao início do século passado, haja vista a
consegue mais um ajudante. Na continuação da viagem, alusão a ele realizada no título do romance de Raquel de
outros. Ao chegar à cidade, destino do velho Tarantão, estão Queiroz, O Quinze, ainda persiste na atualidade. Do mesmo
em quinze, o grupo já se sentia orgulhoso de sua condição, modo, Patativa de Assaré também tratou da seca em seus
contagiados pela valentia de seu líder. Na casa, acontecia a poemas populares, e a televisão não se cansa de transmitir
festa de batizado d filha do Magrinho. O velho Tarantão e as consequências desse fenômeno.
sua escolta entraram sem pedir licença, surpreendendo a II. Clarice Lispector, em A Hora da Estrela, parece dar
todos a todos os presentes. Ele pediu a palavra, maldiz-se sequência à temática de Vidas Secas, quando trata
que o que falou eram baboseiras, nada, ideias já da trajetória de Macabéa, imigrante nordestina no Rio de
dissolvidas". Interrompeu seu discurso sem sentido quando Janeiro. Por sua vez, Fabiano e sua família, no
quis e só aceitou para ficar se seus homens também o último capítulo de Vidas Secas, deixam a fazenda. O
acompanhassem. romance termina em aberto; dentre outras
Ele e seus cavaleiros comeram e beberam. O velho, alegre, possibilidades, sugere o início de uma nova vida na cidade,
"sorria definido para a gente. Não houve demo. Não houve onde os meninos poderiam até ir à escola.
mortes". Entende-se no final, que Vagalume se afeiçoara ao III. Há pontos comuns entre a produção dos três autores,
velho e muito lamenta sua morte, quando esta ocorre. pois os textos por eles criados demonstram,
No decorrer do conto, Vagalume apelida seu patrão de dentre outros aspectos, preocupação com a linguagem, a
Tarantão, onomatopeia que reproduz o barulho dos cavalos interioridade e a condição humana, além de as
durante a heróica viagem. Observe a passagem em que isso narrativas se desenrolarem no campo, tendo a cidade
acontece: "Num galopar, ventos, flores. Me passei para o apenas como plano de fundo. Essas afirmações
lado do velho, junto - ...tapatrão, tapatrão... tarantão... se confirmam nos romances Vidas Secas e A Hora da
tarantão... - e ele me disse: nada [...] Tarantão, então em Estrela e no conto A Menina de Lá, integrante da
nome em honra, que se assumiu, já se vê. Bravos!" O coletânea Primeiras histórias, de João Guimarães Rosa.
narrador também confere ao termo uma conotação de IV. Em A Hora da Estrela, há dois discursos narrativos
bravura e grandeza, intensificada pelo sufixo aumentativo ão: que se intercruzam, assim como ocorre em Vidas
"Dei um soluço, cortado. Tarantão - Secas e Famigerado, pois o narrador onisciente e intruso
então....Tarantão....Aquilo é que era." analisa cada uma das personagens dos três
romances, revelando minuciosamente suas interioridades.
21. Os Cimos: O conto retoma o mesmo personagem de "As Isso interfere na continuidade da narrativa que
margens da Alegria". Em "Os Cimos", o menino retorna à sofre rupturas constantes, as quais resultam dos
grande cidade que estava sendo construída; desta vez, só na comentários do narrador intruso.
companhia do tio. Mandaram-no para lá porque sua mãe V. Os contos dos três autores, Clarice Lispector, Graciliano
estava seriamente doente, e queriam afastá-lo do problema. Ramos e Guimarães Rosa são psicológicos, tal
Contudo, já durante a viagem de avião, o menino percebe as como Amor, pertencente à coletânea Laços de Família, de
atenções exageradas que são dirigidas a ele e entende os Clarice Lispector; O Relógio do Hospital, de
motivos pelos quais ele fora afastado de casa: "O menino Graciliano Ramos, integrante de Insônia e O Espelho, de
cobrava maior medo, à medida que os outros mais bondosos Primeiras Histórias, de Guimarães Rosa.
para com ele se mostravam". Quando chegaram, não sentia Acresce-se, ainda, que todos eles, com exceção de Amor,
vontade de brincar, nem de passear. À noite, não conseguia são narrados em primeira pessoa, imprimindo-lhes um tom
dormir. Nada o motivava, lembrava-se da mãe: "Soubesse emotivo e confessional.
que um dia a Mãe tinha de adoecer, então teria ficado Está CORRETO, apenas, o que se afirma em:
sempre junto dela[...] Nem teria brincado, nunca, nem outra a) I, II e III. b) I, III e IV.
c) II, IV e V. d) I, II, III e IV. c) F – F – F – V – V
e) I, II e V. d) F – F – F – F – V
e) V – V – V – V – F
2 - As imagens I e II representam personagens que deixam
suas casas e vão para as grandes cidades
em busca de melhor qualidade de vida, enquanto as III, IV e
V são seres ficcionais, que podem ser associados a diversos
textos do Modernismo Brasileiro.

Relacione as imagens aos trechos a seguir, identificando-


lhes as narrativas das quais são personagens.
1. ― “A casa ficava para trás da Serra do Mim, quase no
meio de um brejo de água limpa, lugar chamado Temor de
Deus.”
2. ―”Os meninos eram uns brutos como o pai. Quando
crescessem, guardariam as reses de um patrão invisível,
seriam pisados, maltratados, machucados por um soldado
amarelo.”
3. ― “Como a nordestina, há milhares de moças espalhadas
por cortiços, vagas num quarto atrás de balcões trabalhando
até a estafa”
4. ― “Sem alegria nem cuidado, nosso pai encalcou o
chapéu e decidiu um adeus para a gente”
5. ― “Essa cova em que estás
com palmos medida
é a conta menor
que tiraste em vida.”
Sobre essa relação, analise as afirmativas seguintes e
coloque V nas verdadeiras e F nas falsas.
( ) O trecho 1 relaciona-se a Macabeia, personagem de A
hora da estrela, cuja foto foi retirada do filme de mesmo
título. A narrativa resgata a saudade que a personagem
sente do sítio onde nascera
( ) A imagem II está relacionada à segunda citação, pois
os meninos são filhos de Fabiano, personagem da narrativa
Vidas secas, criada por José Lins do Rego, autor da geração
regionalista de 30.
( ) O trecho 4 tem por personagem o pai que decidiu morar
na balsa, conforme imagem III. Trata-se de A terceira
margem do rio, conto que integra a coletânea Primeiras
histórias, de Guimarães Rosa.
( ) A imagem IV representa a personagem Nhinhinha,
pertencente ao conto A menina de lá,
cuja primeira citação refere-se ao lugar onde a personagem
nasceu. Encontra-se em Primeiras Histórias e se caracteriza
por ser uma narrativa fantástica.
( ) A imagem V resgata o texto de Ariano Suassuna, A
Farsa da boa preguiça, que se refere a acontecimentos reais,
cujas personagens são: Chicó, João Grilo e Major Antônio
Moraes.
Sobre isso, assinale a alternativa CORRETA.
a) F – F – V – V – F
b) F – V – F – V – F

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