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O

burrinho
pedrês
Sagarana
(1946)
Contextualizando
a obra
Sobre
o autor
Nascido em 1908
Guimarães Rosa foi
médico, diplomata e

João
escritor. Filho de
comerciante, nasceu em
uma pequena cidade do

Guimarães sertão mineiro chamada


Cordisburgo, mas

Rosa
posteriormente se mudou
para Belo Horizonte para
estudar. Desde novo já
demonstrava grande
interesse em aprender
idiomas.
Sobre o autor
Foi bem novo, também, que o autor começou a produzir seus contos e a
receber premiações pelos mesmos. Em 1938 inscreveu a primeira versão de
Saganara, que até então se chamava Contos, em um concurso. Em 1946
publica o livro sob o título definitivo.

Sagarana é um hibridismo entre A obra é uma coletânea de nove


as palavras saga (de origem contos (incialmente seriam 12),
germânica), que significa lenda, ou novelas. No livro é possível
e rana (de origem Tupi), que perceber o estilo marcante de
significa “semelhante à”. Possui Guimarães: linguagem
contos modernistas de inovadora, temas atrelados ao
ambientação regionalista e sertão mineiro, sem marcação
temática universalista. de tempo e a mistura entre real e
imaginário.
▫ Forte presença do regionalismo;
▫ Visão mística e religiosa: “descortina largo sopro
metafísico, costeando o sobrenatural, em demanda
da transcendência”;
▫ Regionalismo universal: aborda temas de caráter
universal (o bem e o mal);
▫ A linguagem como documento: representação as
características linguísticas do interior de Minas
PRINCIPAIS Gerais como os arcaísmos, criação de neologismos,
CARACTERÍSTICAS onomatopeias, etc.
NOS
contos ▫ Prosa poética, a utilização de recursos da poesia
como, ritmo, aliterações, metáforas, etc.
universal
Regionalismo
Mesmo tendo seus contos ambientados no sertão de Minas
Gerais, Guimarães Rosa aborda temas de caráter
universais, sendo assim, mesmo fora daquele contexto de
interior o leitor é capaz de se identificar e intender a moral
da história (característica sempre presente nos contos).
Temas como o bem e o mal, Deus e o diabo, traição, amor,
violência, morte, aprendizado, transcendência, valores
morais e a psicologia. O sertão representa um lugar sem
fronteiras, místico, onde o real e o imaginário de

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misturam.
Análise do conto
O burrinho pedrê
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Era um burrinho pedrês, miúdo e
resignado, vindo de Passa-
Tempo, Conceição do Serro, ou
não sei onde no sertão.
Chamava-se Sete-de-Ouros, e já
fora tão bom, como outro não
existiu e nem pode haver igual.

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Análise do conto
O burrinho pedrês
O burrinho pedrês é narrado em Antes de partirem, Francolim, capataz de
terceira pessoa e conta a história sobre a Major Saulo, o alerta sobre a intenção de
travessia de boiadeiros da fazenda da Silvino em matar Badu, por ter roubado a moça
Tampa para a venda de gado em outra que Silvino estaria interessado.
cidade. Por conta de alguns cavalos terem A jornada continua mesmo assim e ao
fugido na noite anterior, Sete-de-ouros
decorrer desta, os
(nome atual do burrinho) que descansava na
homens passam a
varanda da casa, foi visto por Major Saulo e
relatar histórias
levado na viagem. Era um dia chuvoso do
passadas
mês de janeiro e a história ocorre em um dia

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Análise do conto
O burrinho pedrês
Por causa do dia chuvoso, os vaqueiros encontram dificuldades em atravessar o
córrego da Fome, que havia enchido, e era local de outros acidentes fatais. Major
Saulo pede que passem com cautela, e assim é feito, os vaqueiros fazem a travessia
sem perda nenhuma. O Major começa a suspeitar que Silvino irá matar Badu de
fato e pede a Francolim que fique de olho nos dois na volta. Ao chegarem ao
povoado, foram recebidos com festas e deixaram os animais descansando. Na
hora de ir embora, deixam Badu ir montado em Sete-de-ouros por ser o último
a chegar e estar bêbado.

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Análise do conto
O burrinho pedrês
Aproximando-se ao córrego da Fome novamente os
cavalos empacam e os cavaleiros notam que este
transbordou, fazendo com a travessia se torne

12 ainda mais perigosa. Mandam o burrinho


primeiro, pois ele não entraria se não soubesse sair,
Sete-de-ouros entra nas águas e é seguido pela
comitiva, entretanto, a força das águas acaba
levando e matando oito boiadeiros. O burrinho
pedrês consegue se salvar junto com Badu e
Francolim, que agarrou em sua cauda.
Os personagens
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 Sete-de-outros: protagonista, burrinho idoso,
franzino, resignado;
 Major Saulo: dono da fazenda, obeso, senso
de humor, analfabeto, temido;
 Francolim: subordinado do Major, cumpre
sempre suas ordens e lhe conta das
novidades.
 Badu: vaqueiro que chegou há dois meses e
roubou a namorada de Silvino
 Silvino: deseja matar Badu por ter perdido a  Raymundão: vaqueiro de confiança e
namorada conta a história do Calundu
 João Manico: idoso que conhece o Major há  Zé grande: vaqueiro que ficou à frente
anos e vai montado no burrinho da boiada tocando o berrante

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ASPECTOS
TÉCNICOS EM
O burrinho
pedrês
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“E, ao meu macho rosado,
carregado de algodão ,

preguntei: p’ra donde ia?


P’ra rodar no mutirão.”
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ASPECTOS NARRATIVOS E
LINGUÍTICOS
Sobre a epígrafe O autor
sempre costumava atribuir uma A palavra “macho” está
moral em seus contos. Através a designada ao protagonista da
epígrafe do conto, é possível história, que carrega algodão,
notar o costume do autor em simbolizando o fardo levado
utilizar travessias como forma pelo ser humano na trajetória de
de engrandecimento e sua vida. A pergunta feita
crescimento pessoal, além disso, significa a indagação comum
o burrinho se demonstra sobre sua existência. A resposta
claramente uma metáfora sobre seria uma metáfora ao coletivo,
o ser humano. solidariedade humana

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A espiritualidade em
O burrinho pedrês
A ESPIRITUALIDADE EM
O burrinho pedrês
A espiritualidade está presente na maioria dos
contos rosianos, no caso de O burrinho pedrês
há uma série de reflexões que podem ser
atribuídas à história de modo que o lado mais
mítico e místico sejam evidenciados. Segundo o
próprio autor, o conto seria uma “peça não-
profana, sugerida por um acontecimento real.
Sendo assim, Rosa atribui elementos religiosos,
pressupondo hermeneuticamente o
afastamento de coisas não consideradas
sagradas

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A ESPIRITUALIDADE EM
O burrinho pedrês
No artigo de Bezerra (2015), a autora faz uma
analise mais profunda sobre as relações que o
conto possui com temas espirituais. Segundo a
autora, o burrinho pedrês representa um
arquétipo de aprendiz, a travessia (tema
frequente nos contos de Rosa) significaria uma
transgressão, um aprendizado, sendo assim,
Sete-de-ouros, estaria passando por novas
aprovações, como um rito de passagem.

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A ESPIRITUALIDADE EM
O burrinho pedrês
👉 O protagonista representa também a velhice, a
sabedoria adquirida pelas experiências de vida,
e como todos tem sua vez de serem
importantes, mesmo que à primeira vista, sejam
considerados fracos ou sem importância, acima
de tudo, a sabedoria se mostra uma valiosa
ferramenta para vida. Ainda sobre o burrinho
pedrês, nos é apresentado que este já possuiu
vários nomes, assim como vários donos, uma
analogia a cada fase da vida do burrinho.

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A ESPIRITUALIDADE EM
O burrinho pedrês
Ele já fora roubado por ciganos Sendo assim, segunda a autora,
e como consequência adquiriu uma pela leitura metafísica religiosa,
tatuagem em forma de coração. Tal isso significaria a elevação do
símbolo é novamente repetido no fraco ao forte. Além disso, o metal
atual nome do burrinho: sete de ouro é extremamente interligado
ouros. Segundo o artigo de Bezerra com a alquimia: um metal valioso e
(2015), o nome pode ser avaliado maleável, não corrosivo, derivado
através de vários tipos de baralhos, da pedra filosofal. Entre os
como por exemplo, o truco. No alquimistas, esse metal teria forte
truco esta carta seria o pica-fumo, ligação com a imortalidade.
ou seja, uma carta de baixo valor.

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A ESPIRITUALIDADE EM
O burrinho pedrês
O ouro também representaria a mudança que o burrinho irá sofrer em sua travessia. Assim como poderia
indicar certos poderes e qualidades ocultas pertencentes ao burrinho. De uma forma mais profunda, o
burrinho seria uma carta apenas esperando a hora certa de ser posta para virar o jogo, assim como
ocorre com o protagonista: de última hora é escolhido por Major Saulo para entrar na comitiva.

A autora ainda relaciona a travessia e a transgressão de sete de ouros à questões


bíblicas e mitológicas. A travessia do burrinho se assimilaria aos contos bíblicos de
Moisés e Noé, no primeiro, o burrinho, assim como Moisés atravessou o córrego da
fome (mar vermelho) e estaria renascido após a passagem. Já o segundo, se
assemelharia a Noé, pois foi desacreditado e sobreviveu ao dilúvio, graças ao fato de
escutar seus instintos.

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A ESPIRITUALIDADE EM
O burrinho pedrês
Os contos dentro do contos se mostraram importante para trama, pois além
de representarem o comportamento comum dos boiadeiros em travessias,
servem como uma rede de narrativas: minicontos dentro de um conto, "são
eles que dão a investiduras para o universo ficcional de travessia, veredas e
sertões [...]" (BEZERRA, 2015, p. 103). Todos esses detalhes influenciam na
criação da atmosfera do ambiente místico do conto. A importância da
sabedoria e escutar os instintos são novamente reforçados quando João
Manico escuta o canto do passar o João, corta pau e o interpreta como sinal
para não fazer a travessia do córrego.

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A
LINGUAGEM EM
O burrinho ?

pedrês
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A LINGUAGEM EM
O burrinho pedrês
Guimarães Rosa foi um autor de destaque na
terceira geração do modernismo no Brasil. Uma
característica pertinente em suas obras que lhe
atribuíram sua singularidade foi a linguagem
utilizada para contar as histórias. O conto é
iniciado com “era um burrinho pedrês”, narrativa
comum em fábulas e lendas, é atemporal. Além
disso, não há precisão local de onde a história
possa ter se passado, passado e presente são
constantemente misturados.

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A LINGUAGEM EM
O burrinho pedrês


Guimarães Rosa trabalha com jogo de palavras, trocadilhos e
associações inesperadas de imagens, trabalha os aspectos sonoros e
dá um caráter nitidamente poético à sua prosa utiliza também em sua
obra vários processos estilísticos, que dão singularidade aos seus
textos, ele explora o linguajar regionalista e com o ritmo, apela para
os aspectos auditivos.
(Sousa e Nobre, 2013 p.3)

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A LINGUAGEM EM
O burrinho pedr
Oralidade;
Neologismos;
Regionalismos;

28 Provérbios;
Arcaísmos
Reduplicação
Pluralização inusual
Adjetivos poéticos
Quadras poéticas
Musicalidade: ritmo, aliteração,
onomatopeia

EXEMPLO DE QUADRA:

O Curvelo vale um conto,


Cordisburgo um conto e cem. Mas
as Lages não têm preço, Porque lá
mora o meu bem...

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EXEMPLOS DE ONOMATOPEIA:

— Eh, boi lá!... Eh-ê-ê-eh,


boi!... Tou! Tou! Tou...
— Lhó... lhó... lhó... — vão, devagar,
as braçadas de Sete-de-Ouros.
— Cou! Cou! Tou! Tou!...

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EXEMPLO DE RIMAS:

Chove, chuva, choverá, Santa Clara


a clarear Santa Justa há-de justar
Santo Antônio manda o sol P’ra
enxugar o meu lençol...

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EXEMPLO DE ORALIDADE:

Que óte! Que ú!... Você acredita que


ela não teve coragem?! Naquela
hora, nem o capeta não era gente de
chegar no guzerá velho-de-guerra

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Apresentação -
O burrinho pedrês (1946)

Ficção Brasileira 2019.01

Alunos
Isadora Miranda, Leticia Blanco,
Ariadne Iasmim, Jéssica Ataides,
Pedro Cordeiro e Lucas Santos.

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