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Universidade Federal do Pampa

curso de Letras
História da Literatura Brasileira

 Unipampa Bagé
 Professora Drª Vera L. Cardoso Medeiros
 Graduanda Jucelaine R. Viegas

 Bagé-junho 2010
João Simões Lopes Net0,
o capitão da Guarda nacional


Biografia

João Simões Lopes Neto

1865-1916

Neto paterno de João Simões Lopes Filho,o “ Visconde da Graça


JSLN era Filho de Capitão Bonifácio Lopes
e Teresa de Freitas Ramos.
Nasceu na estância da Graça, em 9 de março de 1865
no interior do Pelotas- RS-Brasil
Aos treze anos, matricula-se no
colégio Abílio no Rio de Janeiro,
onde estudou até o terceiro ano de
medicina.

Em 5 de maio de 1892, com 27 anos


de idade, casa-se com Francisca de
Paula Meireles Leite, de 19 anos de
idade, na cidade de Pelotas-RS.
Faleceu em 1916, aos 51 anos de idade.
Obras:
Cancioneiro Guasca-( 1910) coletânea de
cantigas de roda e versos poéticos.
Contos Gauchescos ( 1912)
Lendas do Sul ( 1913) – principais lendas
da região
Casos do Romualdo-(1952) 23 contos
Terra Gaúcha- ( 1955) Ensaio Histórico
Atuação:
Pelotas, a terra natal é cidade avançada em sua época,
graças à prosperidade econômica assegurada pela
exploração do charque e por uma indústria nascente.

Simões Trabalha como redator nos jornais locais da província:

Entre 1895-1913 mantém a coluna Balas d'Estalo


no Diário Popular;
em 1913-1914, sob o pseudônimo João do Sul, assina as crônicas
de Inquéritos em Contraste nas páginas de A Opinião Pública;
de 1914 a 1915 ocupa a direção do Correio Mercantil;
em 1916, ano de sua morte,
volta para A Opinião Pública com a coluna Temas Gastos.
Contexto Histórico
O avanço científico e tecnológico no início do século XX traz novas
perspectivas à humanidade. As invenções contribuem para um clima
de conforto e praticidade. Afinal, o telefone, a lâmpada elétrica, o
automóvel e o telégrafo começam a influenciar, definitivamente, a
vida das pessoas.
Além dessas, a arte mostrou um inovado meio de comunicação,
diversão e entretenimento: o cinema.
 O Pré-Modernismo ( 1900-1920)
É a época do nacionalismo temático, crítico e contestador. Os tipos
humanos marginalizados ganharam espaços nas obras literárias.
Alguns autores optaram pela poetização da linguagem científica,
outros preferiram o uso de regionalismos.
Para Bosi, é o princípio do descontentamento com a República.
Principais autores: Euclides da Cunha, Lima Barreto Monteiro Lobato,
Simões Lopes Neto, Graça Aranha
Na Poesia: Augusto dos Anjos, Raul de Leoni
Características da Obra Simoniana
Regionalista: manteve no universo imaginário de sua ficção,
o protótipo do gaúcho tradicional expressando claramente uma
ideologia regionalista. e um dialeto próprio.
Histórica e Cultural: Apresenta uma crônica da história
sul-rio-grandense e o registro de seus episódios cruciais;
a Revolução Farroupilha e a Guerra do Paraguai,
( conto Duelo de farrapos e Chasque do Imperador);

Apresenta uma linguagem típica do protótipo gauderio.


Ergue uma barreira intransponível entre o território privilegiado
do pampa e tudo aquilo que fica além de suas fronteiras.
A importância da obra simoniana
Sua literatura ultrapassou as fronteiras do Rio Grande do Sul e do
Brasil e hoje pertence à literatura universal, tendo sido traduzido para
diversas línguas.
Seu valor cultural transcende à categoria em que a história literária
tende a inseri-lo. O livro Lendas do Sul foi a primeira obra literária no
idioma português a ser publicada na rede mundial de computadores
pelo aclamado Projeto Guttemberg.
A força irradiadora da obra ultrapassa o destino absolutamente opaco
do autor que a produziu.
no âmbito da ideologia francamente regionalista, inclui a inscrição de um
código ético particularizado e inconfundível, principalmente nos artigos
de fé do gaúcho:
"Fala ao teu cavalo como se fosse gente";
"Mulher, arma e cavalo do andar, nada de emprestar";
"Na guerra não há esse que nunca ouviu as esporas cantarem de grilo...";
Ele foi um homem da cidade, urbano e polido;
A estância e seus habitantes pertenciam tão-
só à memória de sua infância e talvez por isso
mesmo transformaram-se logo adiante na
matéria prima da criação imaginária..

“Nele o regionalismo nada mais foi


senão
uma força ideal de expressão
artística dentro da literatura”

(Carlos Reverbel-”Um capitão da


guarda nacional”1985)
Cancioneiro Guasca
transcrição e codificação do acervo poético de origem
popular.
Acumulado, ao longo do tempo, pela tradição
coletiva,
transmitido quase sempre pela oralidade anônima .

Organizam-se:
Antigas danças, Quadras, Poemetos, Poesias,
Trovas cantadas ao som do Hino Farrapo, Poesias
históricas,
Desafios, Dizeres, Diversas e Modernas.
Danças antigas:
-tirana, anu, tatu, cará, feliz-amor,, xará, chimarrita,
-chico, ribada, cerra-baile, galinha morta, quero-mana, serrana,
-dandão, sabão, bambaquerê, pinheiro, pagará,
- pega-fogo, balaio recortada, retorcida e outras.

O tatu
Eu vim p'ra contar a história
Dum - tatu - que já morreu,
Passando muitos trabalhos
Por este mundo de Deus.
Ora pois, todos escutem
Do tatu a narração,
E se houver quem saiba mais,
Entre também na função.
Ande a roda,
o tatu é teu;
voltinha no meio,
o tatu é meu! -
CASOS DO ROMUALDO ( 22 CONTOS)

A narrativa em 1ª p. apresenta situações vividas pelo


autor que se intitula Romualdo . O personagem era na
Verdade era o engenheiro Romualdo de Abreu e Silva.
Simões apenas dá forma literária com o estilo
marcadamente seu.
Sou eu o
A Figueira
homem

Meu rosilho A enfiada


piolho de macados

Tatu Quinta de São


rosqueira Romualdo

O
cobertorzinho
O
de mostardas papagaio
“Lendas do Sul”,
apresentam seres mitológicos que se misturam à
realidade do cotidiano guasca. São sonhos, visões,
ou interpretações supersticiosas vivenciadas em um
cenário majestoso que é o nosso pampa.

Cerro do Jarau 1,
Cerros Bravos,
M bororé,
O negrinho do pastoreio O Caipora.
O saci-
Meu Boi Tatá O juripari-
Curupira A oiara
A Salamanca do Jarau, de origem ibérica chega ao Rio Grande do Sul por
importação cultural; e Simões a reescreveu, terminando por criar um texto
inteiramente novo. O autor obteve esta nova versão não só por via da
linguagem literária e da sua inserção no cenário gaúcho mas, sobretudo,
porque transformou Blau Nunes em seu protagonista.
a lenda apresenta um ser mitológico manifesto em figura feminina. A
narrativa alcança seu ponto nobre quando a princesa encantada relaciona-
se com o vaqueano, ao ponto de mudar seu destino.

Assim, na Salamanca do Jarau, enquanto se relê um motivo mítico já


incrustado na tradição (o homem arrastado à perdição pela mulher
metamorfoseada em animal demoníaco), há uma criação original que,
paralelamente, revela-se no tema do gaúcho pobre que anda em busca da
própria identidade perdida.
 
A narrativa principia com a apresentação do personagem, delimitando a
situação em que se encontra no momento presente:
“um dia, um gaúcho pobre, Blau, de nome, guasca de bom porte,
mas que só tinha de seu um cavalo gordo, o facão afiado
e as estradas reais, estava conchavado de posteiro,
ali na entrada dorincão; e nesse dia andava campeando
um boi barroso”( Salamanca do Jarau).

A Salamanca e o vaqueiro:
“Tu, não; tu não me procuraste ganoso... e eu subi ao teu encontro; e
me bem trataste pondo água na guampa e trazendo mel fino para o
meu sustento. Se quiseres, tu, todas as riquezas que eu sei, entrarei
de novo na guampa e irás andando e me
levarás onde eu te encaminhar, e serás senhor do muito, do mais, do
tudo!...
A teiniaguá que sabe dos tesouros sou eu, mas sou também princesa
moura...
Sou jovem... sou formosa…, o meu corpo é rijo e não tocado!…...
( lendas do Sul pág 8)
Contos Gauchescos

Trezentas Onças
O Anjo da Vitória
O Negro Bonifácio
Contrabandista
No Manantial
Jogo do Osso
O Mate do João Cardoso
Duelo de Farrapos
Deve um Queijo
Penar de Velhos
O Boi Velho
Juca Guerra
Correr Eguada
Artigos de fé do Gaúcho
Chasque do Imperador
Batendo Orelha
Os Cabelos da china
O Menininho do Presépio
Melância-Coco Verde
O narrador dos Contos Gauchescos
Blau Nunes, velho peão e guerreiro, protagonista dos
Contos Gauchescos (1912),
é o vaqueano que conduz o viajante através dos pagos.
Trata-se aqui do portador de um conjunto
de valores que expressa a imagem do gaúcho gerada pela
tradição coletiva: a grandeza, a hospitalidade, a amizade,
a confiança, a audácia e a perspicácia.
Contos gauchescos:
Contos gauchescos mostra o espaço social do gaúcho e apresenta
suas característica marcantes: grandeza, uberdade e hospitalidade.
O mundo natural opõe-se ao mundo histórico; o passado contrasta o presente

Ex.: “ as estâncias pegavam umas nas outras sem cerca nem tapumes;
as divisas de cada uma estavam escritas nos papéis das sesmarias"...
Vancê vê que desse jeito ninguém sabia bem o que era seu, de animalada.
Marcava-se, assinalava-se o que se podia, de gado, mas mesmo assim, pouco;
agora, o que tocava à bagualada, isso era quase reiúno... pertencia
ao campo onde estava pastando.( “ Correr Eguada”-Contos Gauchescos,pág 54)

Estabelece uma oposição entre o gaúcho (monarca das coxilhas)


e o imperador( homem da corte).
Ex.: trecho do conto “ Chasque do Imperador”

— Que vossa majestade está pensando?...


Tudo isto é indiada coronilha, criada a apojo, churrasco e mate
amargo...
Não é como essa cuscada lá da Corte, que só bebe água e lambe a... barriga!...
situações históricas em contos Gauchescos
As cousas da peleia não sei, porque era menino e não guardava
as conversas dos grandes; o que eu queria era haraganear; mas, se
bem me lembro, o meu padrinho dizia que nós estávamos mal
acampado
e estransilhados, pensando culatrear o inimigo, mas que este é
que nos estava nos garrões; não havia bombeiros nem ordem, e
que o exército vinha num berzabum.
( “ O anjo da vitória”, Contos Gauchescos,pag 46)

Tenho que contar pelo miúdo, pra se entender bem. Em agosto de


42, o general, que era o presidente da República Rio-Grandense
— vancê desculpe… estou velho, mas inté hoje, quando falo na
República dos Farrapos, tiro o meu chapéu!... — o general fez
um papel, que chamavam-lhe — decreto — mandando ordens
pr’uma eleição grande, para deputados; estes tais é que iam
combinar as leis novas e cuidar de outras cousas que andavam
meio à matroca, por causa da guerra.(Duelo dos FarraposContos
Gauchescos, pág 54).
A inspiração para os Contos Gauchescos e Lendas do
Sul, Segundo Loureiro Chaves:
“a compilação do Cancioneiro guasca deixa de ser apenas
uma valiosa contribuição para a história cultural;
passou a ser, também, a matriz do protótipo que Simões Lopes
irá privilegiar em sua ficção e constitui sua legitimidade,
isto é, o fundamento de sua origem popular e coletiva.

Sou gaúcho forte, campeando vivo


Livre das iras da ambição funesta;
Tenho por teto do meu rancho a palha
Por leito o pala, ao dormir a sesta.
Monto a cavalo, na garupa a mala,
Facão na cinta, lá vou eu mui concho;
E nas carreiras, quem me faz mau jogo?
Quem, atrevido, me pisou no poncho?
Cancionero Guasca
“ó galego pé de chumbo, Ó galego, talão grosso,
Calcanhar de frigideira, Capa dura, unha de gancho,
Quem te deu a confiança Hei de correr-te a rebenque,
De casar com brasileira? Se pisares no meu rancho
Cancioneiro Guasca
O galego torna-se sinônimo de homem da corte, sendo identificado principalmente
a partir da Rev. de 35, aos imperiais, absolutistas.

Simões faz uma alusão a este galego em seu conto Melância-Côco Verde,
Onde a situação narrada é justamente as peripécias dum amor contrariado .

O processo regionalista que se introduz na narrativa através de Blau nunes ,


realça as virtudes do gaúcho, e estabelece uma oposição entre os dois tipos:
Até a sinomínia é idêntica a utilizada no cancioneiro.

“Era mesmo uma pena, lhe digo, casar uma brasileira mimosa com um
pé-de chumbo como aquele desgraçado daquele ilhéu, só porque ele tinha um boliche em
Ponto grande” ( Contos Gauchescos, pág 83)
Antecedentes do
regionalismo gaúcho
Caldre e Fião
“ “O Corsário( 1851) traça o perfil do tipo regional,
incorporando também o vocabulário local e os termos dialetais
na descrição de usos e costumes
José de Alencar
O Gaúcho ( 1870)
Apolinário Porto-Alegre
O vaqueano( 1872)
LAF-
Recordações Gaúchas( 1905) Compõe uma fotografia
exata da paisagem, anota objetivamente os fatos
históricos, registra o linguajar e os hábitos dos tropeiros,
transcreve o folclore.
A influencia de autores anteriores a Simões:

De acordo com Loureiro Chaves, o texto Recordações Gaúchas de


LAF( 1905) serviram de fonte importantíssima a Simões LN.

Ex.: “ Naquele tempo o tropeiro cercava-se de uma certa aura de probidade


Ilibada e confiança quase sem limites. Quantias, não em papel como hoje,
Mas em ouro, capazes de proporcionar uma regular fortuna,
eram facilitadas a homens que outra cousa não tin ham para dar em garantia,
Senão a sua palavra e esta era aceita e desempenhada.

A imagem do gaúcho leal ao patrão está demonstrado em trezentas onças


( Contos Gauchescos)
Então, senti frio dentro da alma…, o meu patrão ia dizer que eu o havia roubado!...
roubado!... Pois então eu ia lá perder as onças!... Qual! Ladrão, ladrão, é que era!...
E logo uma tenção ruim entrou-me nos miolos: eu devia matar-me,
para não sofrer a vergonha daquela suposição.
É; era o que eu devia fazer: matar-me... e já, aqui mesmo!
A violência também é uma característica marcante nos contos gauchescos.
Em grande parte dos textos que compõem a literatura gauchesca
em geral, e não apenas na obra de Simões Lopes Neto,
O enredo se move através da explicitação de alguma forma de
violência.

.. Em quatro paletadas, desmunhecando uns, cortando outros, esgaravatando


outros, enquanto o diabo esfrega
o olho, o chão ficou estivado de gente estropiada, espirrando a sangueira
naquele reduto.
( “ O negro Bonifácio”-contos gauchescos, pág 8)

Os elementos básicos de violência incontida, e devastadora , indispensável a


este conto aparece também no conflito entre Chico Pedro e Juca Ruivo, ao qual
LAF dedica várias págs do seu livro.

A perseguição do gado alçado também se encontra nas páginas de recordações


gaúchas. Simões também discorre sobre o assunto de maneira semelhante no
conto “ correr eguada”
Conclusões de Flávio Loureiro Chaves
Sobre a obra simoniana:

Encontra-se em Simões Lopes Neto, uma confluência cultural e, por isso,


sua obra representa, dialeticamente , o resultado e a mudança duma tradição,
a tradição do regionalismo gaúcho. Na gênese dessa obra as influências de
Origem popular pesam tanto quanto as literárias; aí atuaram ambas as fontes
e ele se apropriou ora dos elementos de uma ora de outra.

Identificadas as fontes e as influências preponderantes, é fácil deduzir que as


Personagens, os tipos, o substrato histórico e até mesmo os temas de Simões
Não são propriamente novos. Encontram-se em várias áreas na subliteratura
Regionalista que o antecedeu, no Cancioneiro Guasca, no acervo lendário
do folclore gaúcho e brasileiro, e no folheto de LAF.
Considero nova sua expressão porque de todos
estes elementos se apropriou para Dimensioná-los
numa visão do mundo e numa linguagem simbólica,
estas sim originais e únicas , inexistentes em todos
os autores que o precederam.

( “Simões lopes Neto “ Flávio Loureiro Chaves,2001)


"Eu tive campos, vendi-os;
freqüentei uma academia, não me formei;
mas sem terras e sem diploma,
continuo a ser... Capitão da Guarda Nacional”
( João Simões Lopes Neto).
Referências:

 http://comunidade.portaldogaucho.com.br/viewtopic.php?f=29&t=168
 http://vintage69.blogspot.com/2008/05/salamanda-do-jarau.html
 http://www.ihuonline.unisinos.br/uploads/edicoes/1161285483.66pdf.pdf
 http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Sim%C3%B5es_Lopes_Neto
 http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/joao-simoes-lopes-neto/joao-simoes-lopes-net
o.
php
 http://pelotascultural.blogspot.com/2009/10/o-cerro-do-jarau-e-as-torres-de.html
 http://www.revistadigital.com.br/adagio.asp?NumEdicao=217&CodMateria
=1691
 http://www.google.com.br/imgres?imgurl
=http://ctg20.blogspot.com/2010/03/o-anu.html&usg=
 http://www.ufpel.tche.br/pelotas/ebooks/contosgauchescos.pdf
 http://oarquivo.com.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id
=503:joao-simoes-lopes-neto&catid=49:nacionais&Itemid=77
 http://nasentrelinhasdaliteratura.blogspot.com/2010_03_01_archive.html

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