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GLÓRIA REGI

TOM JULGA-SE
UM· GRANDE HOMEM

3 11 Edição

EDIÇÕES PAULINAS
NIHIL OBSTAT
Sancti Pauli, XJI, - 7 - 1941
P. L. Esteves
Censor

NIHIL OBSTAT
Sancti Pauli, die 15 Junii 1939
D. Afonso Niessel O. S. B.
, Censor ad hõc.

IMPRIMATUR
Mons. Ernesto de Paula
Vig. Geral

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PREFACIO

Dedicando-se ao difícil ram


o da 1iteratura inlantíl deu
Gloria Regi - pse u d" -no.s
. om m � que encobre os apelidos da /a-
, .
m1ha da novelista de grande
destaque em nossas letras
deu-�os Gloria Regi CARLOTINHA ENT
RE OS SEUS AMI­
GUINHOS narrativa vivaz repassada da mais
agradável sin­
géleza piedosa.

Oferece-nos agora, já em terceira edição: TOM JULGA­


SE UM GRANDE HOMEM e pede-me qué lhe aponha umas
tantas palavras prefaciadoras. Tarefa sobremodo honrosa mas
também inçada de dificuldades, pois� me é dado a percorrer
trilha inteiramen_te diversa da que me é costumeira.

Bem sei quanto d� um escritor se requer inato pendor


quando se abalança a versar gênero exigente de especial vo­
cação quanto êste que tanto por exerpplo no:fabilizou, univer­
salmente, a Condes-sa de Ségur, Andersen, os Irmãos Grima,
Edmundo de Amicis.

Colocar-se alguém ao nível da mentalidade de seu públ
eguem
co juvenil é tour de force de plasticidade que s6 cons
realizar os que para tanto possuem foatas aptidões.
em os poetas, afirma esta­
Fazem-se os oradores, mas nasc
plemonto . . . o os escri-
fado brocardo que bem merece um com
tores para cria_nças.
os a tal gônoro - qu€:' se
Aos analistas _ totalmonto alhoi
. cabo boa parco la de
· risco:
arnsquem a Jh es er1·t 1·car as obras
o conquistador
o de se arro1 arem na Jogl.a.. 0 a quo oncaboçou

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Macedônio de quem se ria o moço preparador das tintas de
Apéles.
Assim, aceitando a honrosa missão de que me incumbiu
Gloria Regi quero alegar como único título justificador de
tal afoiteza a qualid�de de examinador da obra sob o. prisma
do leitor cônscio da e:xação do famoso aforismo que admite
a bondade de todos os gêneros literários, exceção feita do
maçador.
Com a maior naturalidade e vivacidade. conta-nos Glória
Regi o que /oi a vidazinha do candidato aos. clássicos: " gala­
rins da peregrina fama " ·desde o berço até a descoberta de
sua vocação: a de missionário das brenhas da nossa pátria
e portador aos noss,os sel�ícolas da luz do Evangelho.

Dentro dêste curto ,'lapso de dez anos descreve-nos o nos­


so autor uma ..série de particularfdades da vida de seu peque­
no biografado. Conta-nos de s�u desejo de vir a ser soldado
da pátria, narra uma . seqüência de . traquinagens das quais se
exclui a maldade, dá-nos impressões da estada na Europa, fa-
la-nos da ingênua pretenção do menininho em acompanhar o
pai, representante do Brasil, a um cor.tejo real e a· uma recep­
ção do Presidente da República Francesa e assim por diante .

Bons apanhados psícológic.os do pequeno herói do livro
são os que se referem às suas modestíssimas aspirações de
futuro, à cena da festa do· Natal em Paris, aos episódios de
viagem da volta ao Brasil, aos contatos com os priminhos que
aqui esperavam e seus companheiros de brinquedos etc.
Enquanto isto, vai o leitor acompanhando o desabrochar
e a progresnão do sentimento de piedada católica do futuro
mission6río do nos:sa selva, numa sério do quadros repassa­
dos da cincotidado do quom os redigiu sob a instigação' de
intensa fé. Assim são ôstos om quo so doscrove o progressivo
atrasamento das cronça:1 do 7'om o da. sua obodiência aos di­
tames da consciôncia. Ditamos quo nos doz anos já se faziam
cada vez mais tortos, esclarecidos o retos.

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Em suma, ê?te: Tom julga-se um grande homem, é um
livrinho .encantador a que auguro a mais brilhante carreira
entre as milhares de obras de seu gênero constantes de nos­
anto natural c�mo essa hist6ria de crian a rescid e evo­
� _ _ _ � � �
sa bibl iografia 1nfantll. Muzto pouco havera tao chezo de re­
luída entre gente temente a Deus e possuída do espírito da
nossa velha e sadia formação brasileira.

Afonso de E. Taunay

da Academia Brasileira de letras.

São. Paulo, 30 ·· de maio de 1949.

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ONDE NASCERA O TOM?

Estando na Europa, assistem os país


a um casamento real. Pode-1:;e esperar que
Tom venha ao mundo no mesmo dia em
que o primogênito do rei e veja ·destarte
seu nascimento saudado por vinte um tiros
de canhão?
Sim. . . mas, Tom será brasileiro!
Arrumem, pois, as malas; escolham vapor
·e sigam os pais do nosso herói para a
terra de Santa Cruz!

TOM NARRA SEU NASCIMENTO

Tio Antônio, de cinco anos de idade, an-


sioso esperava um sobrinho.
Semanalmen­te, escrevia à mamãe: « não se
esqueça de mandar dizer se já tem filhos ou
filhas ». Não era menor o desejo das jovens
tias Maria e Heloisa, as quais com viva
impaciência a­guardavam minha chegada.
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- Estou ouvindo chôro de ,criança. De
certo o Tom nasceu, exclama Mariazinha cor­
rendo do fundo do jardim em direção à casa.
- Maria, Maria, eu quero vê-lo gritava
Heloísa seguindo a amiguinha em sua cor­
rida.

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Tio Antônio, não podendo alcancar as
meninas, esperneava dizendo:
Maria! Heloísa! Isso não vale. Eu sou 0
tio. Preciso ver o Tom antes de vocês.
O « corre-cqrre », provocado pelas notí­
cias falsas de Mariazinha, que se regosíja­
va em enganar a todos, repetia-se com fre-
.. .
quenc1a.
,'\

Cheguei, afinal, quando Maria estava


ausente de cqsa e Heloísa interna no colé­
gio; assim, titio. Antônio satisfez sua vontade:
viu-me antes das duas ...
Nasci no d.ia 8 de novembro, às sete ho­
ras da noite. Grande alvorôço! Vinha perpe­
tuar o nome ilustre 'dos meus antepassados.
Principiava a terceira geração; era o primo-
gênito, o primeiro sobrinho.
pa
Puseram-me bem junto de uma lâm -
da para me admirarem os traços. Que d�-
cepçao! - · . t e mãos franz! ·
Feio, vermelho, tesa
das, eu - sem tirar nem por - le1nbrava
I',
ª
caricatura do meu bisavô.
. . · i·1 occbi o no·
No Batismo e registro civ
- �..i ad,.,lt)-
' roo' ocl
pr
rn. e. de TOMAS. Parecen do co ui
11 1 ó ctda ao
c dade de ser hordoiro d O e . . u O

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l1
brasileiro, comecei a sorrir. Pouco a pouco,
meus traços se aformosearam e aos· doze me­
ses era eu um lindo garôto. Deitado num car-
. 1

rinho, à sombra de frondosa mangueira, qual


pássaro a gorjear, soltava gritinhos estriden­
tes, querendo exprimi� a alegria de viver.
Batia convulsivamente coro as pernas e bra­
ços na idéia de que, em breve, poderia cor­
rer através dos verdes campos e .brincar com
a areia brilhante das nossas maravilhosas
praias.
Fiquei criança, . entretanto, pouco tem­
po. . . Aos 30 de dezembro nascia Hercula­
no; depois, vieram outros primos: José -Carlos
(apelidado Zequinha), Ari e Heitorzin-ho. Pas�
. .
sei, pois, a ser o neto mais velho.

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SOLDADO DA PÁTRIA

Continuo a narrar a infância do nosso in­


teressante patrício ·Tomàsinho.
Apaixonando-se pela farda do seu tio te­
nente, Tom entra para a carreira militar. Pa­
Pa-Pa-Pa-à-a-a. · .. Inventando músicas mar­
ciais, de pau no ombro e quepe de papel, êle
cambaleia hóras seguidas em marcha sem
igual.
Marcha soldado
Cabeça de papel
Se· não marchar direito
Vai prêso pr'o quartel.
Na ocasião do seu segundo aniversário,
Tomás recebe de presente um tambor. Êste
pobre coitado, depois de rufar horas intei­
ras, serve de trono ao Tomàsinho que não he­
sita em fazê-lo agüentar seu pêso de. dezes­
seis quilos. Afinal, o tambor é tão maltrata­
do por êlc que, arrebentando a pelica, per­
de o !3om.

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- Oh! meu amigo, diz-lhe o Tom, se es­
ta" rouco e cansado, poderá prestar-me ou-
tros serviços.

--- ____ E segurando o tambor - com elegân-


cia militar - coloca-o sôbre a cabeça e fa­
la: De hoje em diante, será meu capacete de
aço.
O tambor, porém, não sossega. . . cai pa­
, ra frente, vira para trás. Tom segura o_ tam­
bor COII?, as duas mãos e num gesto impa­
ciente, desastroso enfia-o até a bôca.
- Acudam-me! Estou dentro de um tam­
bor, afogando ... _ Ai, ai! Morro sufocado, ela- .,.
ma ainda.
Fôra demáis. Sem poder respirar, com�---·
ça sentir-se mal. As· narinas incham, os olhos
lacrimejam e a bôca aberta não encontra' ar.
Tomàsinho quase fica -asfixiado. . . Prenden­
do-o, entre os joelhos, o pai num .movimen­
to enérgico, arrebitando-lhe o nariz, arra­
nhando-lhe o rosto,- arranca à fôrça o ... tam­
bor.
Tom, aborrecido e desanimado; abando­
na o exército. Não quer ser mais general!

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O PALHAÇO

José Carlos é terrível! Desde que nasceu,


só pensa em fazer travessuras.
Zequinha não perde tempo. Quer ser pa­
lhaço. Pinta o rosto com tinta de várias cô­
res, colocando um grande nariz de papelão.
'

Deixa o quarto de brinquedos em completa


j

desordem: talco pelo chão, latas de tinta es­


palhadas, livros rasgados e jogos quebrados.
_ Enfia as botas do « papai » · arrastando-as
CQm dificuldade pelas salas, tropeça e, na
q;�da, assusto Tifon, bonito cão, que tran­
qµilamente·dormia. Tifon não gostdu de ser a­
cordado e rosnando desaparece.
Hoje, Zequinha deixa as vestes de palha­
ço; em traje de passeio, não se importa de
estragar o terno novo. Chama o Tom· e diz-­
lhe:
- Ajude-me a colocar a cadeira em ci­
ma da mesa. Vou brincar de circo.
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Tom, porém, possui certa dose de juízo.
Foge e escapa, assim, à tirania do primo.
- Ari, ordena José Carlos, dirigindo-se
a outra criança: ponha a cadeira em cima
da mesa.
Ari hesita. . . não se sente com fôrça e
não quer tomar parte na travessura.
Mas ... não se contraria José Carlos, a­
pelidado Zequinha, sem se levar meia duzia
de tapas. Chorando, o Ari, para não levar
mais pancadas; arrasta a cadeira, equilibra­
ª com cuidado e consegue, auxiliado pelo
terrível primo, colocá-la sôbre a mesa da sa­
la de jantar.
Zequinha, radiante, faz mil diabruras.
Trepa na cadeira. Levanta os pezinhos. Dá
gritos de triunfo. Viva! Viva!
Tom, que se afastara, volta a ver o espe­
táculo. Fica escandalizado. Não ousa falar. Sa­
code a cabecinha, puxa os punhos da man­
ga, endireita· a gola, a gravata e passa a
mão na blusa em sinal de reprovação.
Pensa o pequeno: uma criança dêsse ta­
manho a fazer tolices ... É o cúmulo!!! Papai
do céu não gosta de menino travêsso e de.so-

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bediente. José Carlos
pode quebrar uma per­
na. Tomàsinho já foi e
ainda é b ebê, mas,
nunca fêz semelhante co
isa. O raciocínio de
Tom considera criminoso o
pro�edimento do
companhe iro. . . Acha que êle me
rece casti­
go. Imagina que pode aparecer um solda
­
do. . . Teme a polícia. Receia que zeQuinha
seja prêso como desordeiro e Tomàsínho,
cúmplice. Que .escândalol Tom, o grande
Tom, Tom conhecidíssimo, ser prêso por um
soldado e ir passar a noite no « xadr_ez » ! De
longe esprei1a a cena ...
- Viva! Viva! - exclama· José Carlos.
· --Desce depressa, Zéca, aconselha o
Tom. Você pode ser prêso. Desce depressa!
Você não tem' mêdo do soldado?
O palhaço improvisado, dando garg<=:l�a­
das e divertíndo-se imenso no seu trapez10,
nem sequer ouve a voz do primo.
A porta da rua, tocam campainha.
_ É O guarda! _ pensa Tomàsinho e a­
so pela
fasta-se correndo para não ser prê
polícia.

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José Carlos se assusta. Perde o equilíbrio.
Despenca da cadeira e virando inesperada
cambalhota, voa pelos ares.
Levantando-se do chão, machucado, fe­
rido, lamenta:
- Ai, ài! Estava tão bom lá em cima!
Quis ser palhaço, mas tornei-me aviador ...

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O TRANSATLANTICO

Na vigia de uma «cabine» de grande


transatlântico, aparece a cabeça do Tomà.si­
nho, que contempla com os seus olhos negros
o movimento do cais, a entrada dos passa­
geiros e o emb·arque das mercadorias.
O pequenino solta de repente grande
gargalhada. Tem razão de rir, no meio da
carga está um burro. Êste, pobre
. coitado,
'
não
imagina que vão fazê-lo entrar no vapor. De
súbito, é enfaixado e arrebatado no espaço
por formidável guindaste. Espantado, múscu­
los contraídos, pêlo arrepiado, compadre.
burro zurra espavorido, circµlando no ar até
o tombadilho de terceira classe. É assim que
esta espécie de animal costuma entar a bôr­
do. T o�, que· nunca vira tal coisa, dá expan-
são ao bom humor.
Tio Antônio, grita o menino lá de ci­
ma do navio. Você viu o burro voando? Êle

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sabe voar melhor que o Zéca. . . Que está
pensando o burro? Teve mêdo ou gosta de
andar de aeroplano?
Um grupo estacionado no cais fixa aten­
ção na linda criança. Como está engraçadi­
nho o Tom! A vasta cabeleira agita-se ao
vento. O rosto meigo e risonho, circundado
pelo óculo da « cabine », está encantador. O
menino na sua veste de marinheiro parece
um cromo!
Tomàsinho sentindo que o navio se afas­
ta, atira um beijo para o querido tio Antônio
e lança afetuoso olhar ,ao grupo farmado pe­
los vovôs e tit.ios. Seu córaçãozinho se aper­
ta. Num gesto gracioso e delicado, Tom es­
tende o braço e agita o lenço em sinal de
despedida: Até a volta! Dêem lembranças
. também a « Tifon».
O Cap Arcona! Que navio colosso . . . É
um palácio flutuante.
Conduzido pelo papai, Tomás percorre
as dependências do vapor: o « Bar », o salão
de luxo, o restaurante, o to�badilho, a sala
de ginástica, o barbeiro, a piscina e a cozi­
nha com sua enorme criadagem. Tudo pas-

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sa como em tela cinematográfica aos olhos
maravilhados do pequeno, que sonha ·achar­
se no país encantado, transformado em gran­
de e importantíssimo passageiro.
A transatlântico desliza pelo oceano ...
Tom, sentado no tombadilho, admira a imen­
sidão do mar. Cabeça erguida, mão�inha es­
querda na cintura e na direita o binóculo,
pernas cruz.adas, assiste ao anoitecer e vê a
lua pela primeira vez.
- Eu quero a lua, diz o Tom. Quero brin­
car com aquela bola de luz. Papai do céu,
dê-me a lua!
Como o navio segue veloz, êle julga po­
der alcançá-la. Corre para a proa, porém, a
lua, zombando de Tomà.sinho, afasta-se ca­
da vez mais. . . Não podendo pegar a lua,
Tom esquece�se de que é «um.grande ho­
mem » e põe-se a chorar ...

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NO HOTEL

.Está dormindo o Tomàsinho. Chegou de


viagem. É grande o cansaço. Muito interes­
sante, porém, é o seu acordar. Não cochila.
Não se· espreguiça. D·e olhos ainda fechados,
senta-se na cam-a como se movesse uma mo­
la automática, tão rápido é o levantar do me-
. ,

nino. Abrindo então os olhinh·os, junta as


mãos e entrega, tôdas as manhãs, o coração
ao querido Papai do céu.
- Marta, Tom está só. Venha buscá-lo,
diz com meiguicee à boa g-overnante. Mas
quando esta se aproxima do leito,· -exclama:
Não me toque. Eu sou homem. Desço sozi­
nho da cama.
Em seguida, tirando o_ gancho do telefo­
ne, pede ao cria do o café completo.
- Café completo. Entendeu bem « gar­
ção? >> Café completo. . . e pão.

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O copeiro que atendera o te 1
. o fon0- pre-
p ara a ba ndeJa de acôrdo com O p
,, cd'1do: ca-
.
f,,e, 1 e11 e, açucar, pao, manteiga, gelé'1a, qu
H

ei-
jo e frutas . So be o café completo • Bat e a por-
ta do quarto. Ninguém responde. . . Onde es-
tá o menino?
Pais e governante se assustam. A vizinha
do apartamento defronte acorda sobressalta­
da. Não encontra o cãozinho lulu, seu fiei
companheiro. Reclama-o. Em reboliço o ho-
tet emp�egados não sabem se procuram a
criança ou aquêle cãozito.
A mamãe de Tomás, aflita, censura o in­
diferentismo da velha dama inglês a, inteira­
mente preocupada com a fuga do cão.
O garôto escapara à vigilância. Saindo
do apartamento em companhia do lulu, seu
amigo desde a véspera, descera as escadas ...
Encontra a porta do hotel entreaberta.
Atravessa a rua e pára diant� da vitrina de
uma exposição canina. Tomàsinho entra no
estabelecimento e fica deslumbrado! Que bo­
nitos cães! Como estão bem tratados! Enche­
se de entusiasmo perante a linda cacho�ra
dinamarquesa co m sete filhotes. Com a maior
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naturalidade pega nos braços o lulu, ofere­
cendo-o ao gerente a fim de figurar, também·
. ,.,
na expos1çao.
Afinal, lembrando-se do café completo,
retira-se e volta ao hotel. Quando Tomàsinho
aparece à porta de entrada, que alegria! Por-

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te '- .11ajestoso, terno de sarja azul-ma�-.
rinhol uoeç� loura ergui�a, rosto meigo, a
: :
simp( atica criança tem altivo e profundo o-
lhar./ Satisfeito pelo que fizera, parecia di­
zer: . L'\.OU GRANDE! Com muito respeito ad-
mirem. r.. EU SOU O TOM!
!"'

Perc�\ls�ndo, porém,· que a dama, inglê-


sa, estaf,-a d9sco�tente, aproxima-se: Dona ·
J ne, i.__ão fique ner�osa. Deixei o 1 luzinho
� _ 1:
tao feliz com os outros cachorros! ... Ele está
tão cofntente, Dona Ja�e!

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O DIPLOMATA·

Tomàsinho julga ser diplomatg,/como seu


papai. E.stá, pois, no estrangeir:;, pa�"Cª cuidar
1

dos interêsses do seu pa�:_ /


_, \
Entusiasmado pela/simpática e nCi·bre fi­
gura de Alberto I, qu.'�r conhecer o �·ei dos
belgas. O palácio real, a guarda de s�.�ntine­
las, os soldados com seus botões de :rr1etal e
os capacetes brilhando, fascinam-a faptasia
do Tomàsinho que, quase em êxtase,( .faz di-
versas perguntas de uma so/ vez. \·.
Os soldado�, papai, de q�e são feb_
soldados? Éles nunca dormem? Não comem?
Éles têm vida?
Na entrada do inverno, há uma recep­
ção no palácio. Ajudando o pai a vestir a lin­
da farda verde-garrafa com bordados de ou­
ro, Tomàsinho delira. . . tão grande é sua
alegria. Coloca na cabeleira loura o chapéu
enfeitado de pluma e admira-se no espelho.

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Como está bonito! O seu corpo pe
. quenino
cre sce e adq uire a seus olhos p rop
orcoes co-
loss ais. Tom se julga quase da alturd do
pa-
pai! De repente, um pensamento lhe atrave

sa o c ére b ro e o menino resol v� ir também
à
recepção do palácio real. Não há dúvida, êle
vai cumprimentar o rei!
O pai, em situaç ão crítica, não pode ex­
plicar ao filho . que êle é criança; iria magoar
mais o coração infantil, convencido do con­
trário, pois, Tom julga-se um grande homem.
Para acalmar a excitação do pequeno diz:
- Meu filho, você não tem farda, o guar­
da não o deix-ará ·entrar.
Tom reflete:
As sentinelas, os soldados com a espa-
da resplandecente ao, sol, não o deixarão
passar.
To­
Que lástima! Diante do irremediável,
se,
màsinho -· menino ajuizado - resigna-
esperando outra ocas1ao .. •
• ,-1

Êss·es soldados, To m ás , es tã o à s ºrde�s


M as, sold. a d o s exis-
do rei. Cumprem o dever. . . v1. no.
tem que servem dia e no1·te ao R e i d1
a o e s ã o s enhne-
Gua rdam a Jesus no coraç
,-1

29
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las de sua própria alma. Quando o inimigo
vem e quer derrotá-los, fazendo-os cair no pe­
cado. . . baioneta em punho, êles lhe decla­
ram guerra.
Soldadinhos da santa Igreja, cruzados e
pajens da Eucaristia, tomarão parte no ban­
quete celestial que lhes prepara o Rei da gló­
ria. Se a riqueza de um palácio f ascína uma
criança, que será n·o reino eterno onde tudo
brilha, tudo é puro e infinitamente belo!
Tomàsinho, olhe bem para os guarda�,
sentinelas do ·palácio. Querem dar a vida pe­
lo rei Alberto. Você é cristão, é soldado de
Cristo. Deve estar pronto a derramar o san­
gue pelo �ei Jesus.

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O MAR

Verão. Tomàsinho acha-se numa das


grandes praias da Europa. Como as pessoas
elegantes, êle deixa a capital nos meses
quentes. Vai passar as férias em OSTENDE,
-finda praia dos b-elgas.
_Tom, o grande Tom, o senhor Tomàsi­
_,nho, tem receio do mar. Tremendo, assusta-
.
1

do, sem coragem, não ousa entrar dentro da


agua.
Psiu!
- . Essas coisas se falam baixinho e

qpenas na intimidad�.
Tom, _enrugando a testa e franzindo a so­
brancelha� sabe disfarçar o mêdo quando se
aproxima de alguém.
Enfia na água o pezinho e retird-o. Es­
pera que as espumas. das vagas cessem e o
mar - parecendo engolir o Tomàsinho -
não faça tanto l?arulho.
Agora, no colo do banhista, Tomás é um
pontinho prêto na imensa praia.
31
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:t:le pensa pela primeira vez:
- Só Deus é grande e eu sou tão pe-
quen1no.
Sentindo necessidade do apoio divino,
seus lábios pronunciam uma prece ao Deus_
Altíssimo e Onipotente.
- Papai do céu, eu tenho mêdo das on-
das. Tenho mêdo do mar! V•enha em meu so­
corro, Papai do céu!
Fazendo o sinal da cruz, dá corajosa­
mente a mão· ao banhista e entra no mar�
Leva no braço o Zuca, boneco-soldado. Es­
quecendo-se de. tirar-lhe a farda ensopa.da,)
Zuca apanha formidável resfriado. Durante
três dias ·fica pendurado junto ao fogão pa­
ra recuperar a saúd�.
- Zuca, você está melhor?

Quer tomar
xarope e caldo quente·, pergunta Tomàsinho
com saudades do brinquedo preferiq.o.
Zuca, porém, ficou para sempre pálido,
desbotado. Finalmente, foi substituído ...
- Zuca, meu Zuca! Como você está bo-
nito! Onde arranjou farda nova? indaga To­
màsinho abr�çando e cobrindo de beijos o
querido boneco todo renovado.
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NA LOJA

Quem é êste lindo garôto, de faces rosa­


das que, acompanhado por distinta senhora,
desce de um �arro e entra numa grande lo­
ja da avenida parisiense?
É Tom, o brasileirinho, de passo firme e
decidido, de porte nobre, que se acha em
Paris desde o princípio da semana.
O menino compra um par de perneiras,
enfia um- sobretudo novo e dirige-se à seção
de chapéus, onde o modista lh� mostra às
últimos modêlos.
- Venha, bebê, venha ver no espelho
como está bonitinho.
Descontente,· Tom permanece imóvel.
- Venha, bebê, insiste a moça france­
sa sem. compreender a razão dêsse ·capricho
infantil.
Taciturno, Tomàsinho mostra na fisiono­
mia grande contrariedade.

33
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A mamãe, conhecendo o caráter do pe­
queno explica baixinho ao ouvido da cai-
xe1ra:
- Não o chame de bebê. Meu filho es­
tá convencido de que é um homem e não gos­
ta de ser tratado como criança.
- Oh! Sim, compree:r,i.do ... compreendo,
· diz a moça sorrindo. Em seguida, dirige-se
ao Tomàsinho com veneração e respeito:
- Penso que êste chapéu de pelúcia fi­
cará bem na cabeça da mocinho. O senhor
não quer experimentá-lo?
- Pois não,· pois não, senhorita, respon­
de Tomás com visível satisfação. Prestando­
se de boa vontade às amabilidades da fran­
cesa, escolhe o último modêlo que lhe vai ad­
miràvelmente.
- Até logo, senhorita. Até outra vez, diz
o pequeno inclinando-se. até o chão.
A caixeira achando a criança muito in­
teressante e original, pergunta ao brasilei­
rinho:
- Que língua estava há pouco falando
o senhor?

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- Português.
- Português? Mas vejo que o rapaz se
exprime muito bem em francês.
- Sim, senhorita, também em • inglês,
responde com pretensão única Tomàsinho,
que apenas aprendera três palavras dêsse
idioma.
Sai contente, resolvido a continuar fre­
guês da loja, pois, trataram-no com tanta con­
sideração!

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o BONECO DE NEVE

Tom precisa conhecer Paris. Como um


grande homem, percorre vários lugares da
cidade. Visita jardins e museus. Admíra-ze
diante dos espelhos convexos do museu Gre­
vin. Vendo-se, porém, achatado, pequeno e
gordo, fica contrariado.
- Isso não sou eu exclama virando cs
costas à própria imagem desfavorecida pelo
espelho enganador.
Mas ... que alegria quando Tom se vê
diferente: alto, comprido e fino - maior do
que um homem - quase um gigante!
Dá gostosas gargalhadas no João Minho­
ca (1) dos Campos Elísios, a ponto de não se
saber o melhor divertimento: as mímicas dos
bonecos do teatro infantil ou as sonoras ri-

( 1) Guignol.

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sadas do Tomàsinho, que se curva de tanto
rir.
Ei-lo agora encantado com a neve, a lin­
da e cândida neve, o brinquedo invernal das
crianças européias.
- Papai do céu fêz um· boneco de bar­
ro e soprando-o deu-lhe vida e o nome de
Adão. Eu também vou criar um homem.
Juntando, pois, a neve branca e trans­
parente, Tomás faz um bóneco estupendo.
- Está pronto, diz êle. Para melhor con­
templar sua obra-prima, afasta-se orgulhoso
e desabotoa o sobretudo.
- Fale, meu filho, ordena o Tom. Zico,
fale.
Mas Zico, o homem branco, não fala. Tem
olhos, porém, não vê as coisas; ouvidos, mas
não percebe o som. Com as p·ernas, não an­
da e os braços não têm movimento.
- Que falta ao Ziquito? Diga, meu filho,
insiste carinhosamente o Tom. Zico, boneco
de neve, nada responde. Não tem vida.
Jndignadd, Torriàsinho arremessa-lhe a
bengala e o homem branco cai, misturando­
se à neve do caminho. Tom desapontado p()r

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não saber criar, apanha um pouco de neve,
última relíquia de seu filho Zico, colocando-a
ingenuamente nos bolsos.
• A

No hotel, a neve se derrete ao calor da


lareira. E de cada lado da poltrona, onde es­
tá sentado o garotinho, formam-se dois ria­
chos.
Tom, pen.sativo, pousa os olhos no chão.
- Que fêz Deus para criar? Colocando
a mãozinha na testa, reflete ...
Deus, Tomàsinho, criou .o mundo do na-
da. Êle é o Onipotente, isto é, possui o poder
de fazer tôdas as · coisas. Só Êle tem o poder
de criar. O Zico era apenas a figura de um
homem. Deus, entretanto, criou o Tomàsinho
à sua imagem e semelhança. Deu-lhe uma
alrria imortal. Concedeu-lhe vida e inteligên­
cia para ser um gr<:Inde homem.
Na alegria de ser homem, está sorriden­
te o Tomás.

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39
BAILE INFANTIL

Natal! Paris se enfeita e anima-se. Nas


ruas e avenidas são instalados bazares de
brinquedos. O pinheiro, tradicional árvore de
Natal, ornamenta os centros das lojas, as vi­
trinas das casas, comerciais.
Tom, com quatro anos, goza ainda dos
privilégios da infância e coin alegria vê che­
gar a noite da vinda do M-enino Jesus.
Não lhe bastam os pares de sapatos na
chaminé. Perneiras e chinelos também alies­
tão a espera da passagem do Deus-Me_nino.
O Menino Jesus trouxe a seu amiguinho
caixa de bombons, livros de figuras, jogos de
pac1enc1a e muitas outras coisas.
• A •

A tarde dêsse belo dia Tom foi ao baile.


Estava muito bem vestido, não de casaca e
cartola conforme seu desejo, porém, de ter­
n� novo, gola e punhos de renda, meias de
seda e sap atos de verniz.

40
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O baile f�i animadíssimo. Além das dan­
ças, não faltaram doces e representações. As
drianças, ensaiadas e engraçadinhas, honra­
ram às professôras. Mas. . . o nosso amigo
como pouco conhecido da família, não f ôra
convidado para dançar o �inuete do mar­
quesinho e da gentil marquesa. Não tomou
parte na comédia, nem cantou o estribilho
com os camponesinhos.
Tomás não se conteve.
- Eu sei representar, disse à dona da
casa. Canto muito. bem e se a senhora qui­
ser, estou as suds ordens.
Que espanto da mamãe ao ver a « do­
na da festa » colocar Tom sôbre uma cadei­
ra do salão e êste,. afina.ndo as cordas vo­
cais, entoar �elodiosamente linda cançone-
ta francesa.
Que triunfo! O futuro tenor fêz sucesso!
, Passou de colo em colo, recebendo cumpri­
mentos e palmas a não mais acabar ...
ito
As crianças • 9-evem festejar com mu
amor e alegria o' nascimento de Jesus. Algu­
mas i::ião dispensam a linda e ornamentada
pre-
árvore de Natal. Outras preparam um
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sépio com o boi, o burrinho e a manjedoura
de palha, onde reclinàrá,: o Senhor Menino.
Há certas crianças que preparam ainda me­
lhor a vinda do Salvador: querem abrigar
Jesus den-tro do coração. Chamam-no por ar­
dentes desejos. Preparam-lhe um· bercinho
praticando atos de virtudes. Cobrem-no de
flores com atos de amor. Quando chega o
dia de Natal, elas não vêem, mas o celeste
Menino desce do céu e pela santa Comunhão
nasce no coração ·dessas criancinhas como
outrora nasceu na gruta de Belém!

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0 REI DA GLóRIA

Em Paris, Tomàsinho ao lado do pai as­


siste ao desfile do cortejo presidencial. Entu--
siasmado bate palmas à passagem do che-
fe da Nação Francesa que passa de carrua­
gem pelos Campos Elísios. _ Vai tomar posse
• 1

do cargo de Presidente da República.


Desde êsse dia o Presidente não teve
amigo mais sincéro ,do que o pequenino bra­
sileiro. É admirador do homem qµe foi conde­
corado com a faixa tricolor e julga-se seu par­
ticular amigo.
Logo depois dêsse acontecimento, Tornà­
sinho recebe de presente linda farda militar.
Muito bonita, toma aos olhos do menino des­
lumbrante aspeto. Pouco faltou para que
Tom ficasse careca, pois, o dia inteiro não re­
tirava o quepe da cabeça. Fascinado, trans­
bordando de alegria, beijava o abraçava a

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linda v�ste vermelha e azul cheia de galões,
franjas douradas.
No dia de Ano , Bom, o Presidente fran-
cês recebe no palácio dos Campos Elísios as
felicitações do corpo diplomático pela entra­
da do novo ano.
Como sempre, Tomàsinho ajuda o papai
a retirar a farda do armário, mas ... desta vez
o entusiasmo não parece tão grande. A far­
da paterna não lhe é mais inacessível ob­
jeto. :t:le também possui uma farda, talvez
mais bela do que. a de papai; provàvelmen­
te, causará admiràção aos guardas do pa­
lácio.
O menino· está convencido de que per­
tence à. embaixada brasileira, portanto, re­
vestindo-se do traje de gala diz sem a menor
hesitação:
- Papai, eu já estou pronto. Vou cum­
primentar o Presidente da República.
Que fazer? Como explicar a Tom que o
Presidente · naquele dia não recebe os pe­
queninos?
Tomós não aceita raciocínio. A sua má­
goa mqnifesta-se por sentidas e copiosas lá-

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grimas. Os meigos olhinhos estão vermelhos
a ponto de fazer dó ...
Levam-no a passear, mas nada lhe agra­
da. João Minhoca não consegue fazê-lo sorrir.
Silencioso, caminha pela calçada. Er­
guendo, porém, o simpático rosto, contempla
o céu. Seus olhos atravessando• as nuvens,

procuram o reino celeste, onde num tronq de


glória está o nosso Pai,. o Rei dos séculos, Je­
sus que na te�ra abraçando os pequeninos
disse: « Deixai vir a mim as criancinhas por­
que delas é, o reino dos céus! »
Suave brisa sacode a cabeleira loura do
Tomàsinho, parecendo· enxugar as lágrimas
do menino e levar para longe suas tristezas.
Tom, com a fisio�omia calma, esquece os so­
frimentos da terra para lembrar-se que Jesus,
o Rei da glória, no lindo paraíso espera as
suas homenagens e abre os braços aos pe­
queninos!

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COCHEIRO!

..
Que é isto? Uma cartola preta ... luzi-
dia, em cima da mesa?
Que linda!
Para pegá-la, Tom, ágil como um gati­
nho, trepa na cadeira,. estica o corpo e o bra­
cinho roliço. Sem, entretanto, alcançar a prê­
sa, o dedinho do menino· arripia o pêlo do
maravilhoso chapéu.
Ouvem-se passos...
- É papai!
Tornàsinho se assusta. Larga a cartola,
desce depressa da cadeira e, encostado à
parede, fecha os olhos para não ser visto. In­
genuidade de criança: pensa que se os olhos
permanecerem fechados, ficará nas trevas -
invisível aos outros.
O papa i passa distraído. Acende um ci­
garro e entra na biblioteca. Não vê os trejei-

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tos qu !
� Omàsinho faz para disfarçar o ato
de mahc1osa (?Uriosidad
e.
Afastando-se o Pai, Tbm tre
pa de novo
na_ cadeira· com a· intenção de
apoderar-se
do belo chapéu e experimentar
se êste lhe
serve. ·Mas não alcança o objeto cob
·, içado e
pede o auxílio p·qterno. \_ ·

�' Papai, papai, venha cá. De quem é


esta cartola?
- É minha, seu ·mestre Brás, responde o
pai voHando�se para o menino.
É sua? .·então, p'onha-a nà cabeça.
' 1 •

. O pai.obedece. Quem ..não se submeteria


a tão graciosa ordein? Tomás· com as mãos
nos quadris, adhüia o seu progenitor. Os
olhos do garôto crescem . . . Ficam enormes.
Parecem sair das órbitas.
- ó papai, exclama êle com orgulho,
você até. . . até parece um cocheiro!
Entusiasmado ·continua:
- Quando eu. fôr grande; hei · de ser di­
.plomata, médico de moléstias. graves ou en­
r-
tão. . . cocheiro! Sim, mas cocheiro de ca
.

tola branca.
1

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O menino tem predileção por alguns co-
cheiros parisienses que usam cartola· branca.
· E com muita seriedade imita-lhes as manei­
ras e fisionomias características.
Fica engraçadinho quando, tendo arru­
mado algumas cadeiras em feitio de carro,
sobe nas almofadas- à guisa de boléia. Incli­
nando o corpo para trás, franze a testa, pu­
xa o beicinho inferior e faz-se queixudo. Sa­
code no ar as rédeas e o chicote. Eia! Eia!
estalàndo a líng_ua entre os dentes, anima ao
trote e galope os seus cavalos imaginários.
- Ondé de�ejá ir, senhorita? pergunta
Tomás ao passageiro, boneco ou pessoa que
aceita entrar no carro.
Que� lhe aprecia as caretas e o jôgo
de fisionomia, não contém o riso. Garboso e
feliz, pensa ter alcànçado o mais alto grau
de glóría .... é o coch_eiro! Uma cartola bran­
ca nimba-lhe a fronte qual coroa de louros.
Larga capa cobre-lhe os ombros � enfeita o
herói. Conduz um carro luxuoso com almo­
fadas de veludo, dominando os cavalos. com
as rédeas. Poderá ambicionar coisa melhor?

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JOANINHA

- Mamãe, mamãe, está aí a sobrinha


da cozinheira!
Dizendo ·esta frase, Tom arrasta pela
. mão uma criança de três anos de idade. A-
. . '

brindo a porta, a introduz no _.salão de visitas


e, ·qual fino diplomatai fb:z a pequenina sen­
tar no ·centro'do sofá de damasco
, . vermelho.
.

É preciso prestar-lhe
..
.as honras da casa. Tô-
.

da gentileza é pouca par·a urna sobrinha de


Malyina, a soberana do fogão!
Com _maneiras fidalgas, Tom anda pela
sala à procura de distrações e desfaz-se em
amabilidades.
- Joaninha, você gostq de chocolate?
Tomás abre o armário, tira a caixa
d�
bombons e oferecendo bala�, torn·
a-se sócio
da visita.
- Você quer brincar?

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E seu filho predileto, Zuca, o boneco-sol­
dado, num instante está instalado no colo
da menina.
- Mamãe, ela gostou muito do balde
com a pàzinha e ancinho; ela pode levá-:- los
para casa, não é?
E se não fôsse a mamãe, que disfarça­
damente esconde os divertimentos do filho,
em pouco terppo, os lin.dos brinquedos do·
Tomás - um após outro - passariam a ser
propriedade· dq Jo?ninha.
A. menina está -encantada!
. Ah! se os seus
bracinhos pudessem abarcar todos êsses te-
tesouros ... ela aproveitaria .as pernas e an-
.
·' ,
tes que o 'senhor Tomás se arrependesse,
voaria para casa a fim de escondê-los debai-
xo da cama.
Querendo carregá-los de uma só vez, a
menina tropeça e cai, esparramando-os no
1
1

tapête. Esquecendo os planos de fuga, abre


uma bôca muito ºgrande_ e começa a chorar.
'Tom atrapalhadíssimo quer cons9lá-la. Tira
um lenço perfumado e enxuga-lhe as lágri­
mas. Mas, Jóaninha tem dor no joelho. Quei­
xa-se que o pezinho está machucado. É ma-

51
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nhosa, chora, e quer chorar. Tom, aflito, sai à
procura de auxílio. Onde está a mamãe? Pa­
ra onde foi a gorda e imponente Malvína? O
menino não encontra pessoa alguma no cor­
redor e nas salas vizinhas. Volta desconcerta­
do, meneando a cabeça ...
Finalmente, tein uma idéia. Vai brincar
de fera. Enrola-se num cobertor e aparece à
porta da sala bravo, ameaçador:
- Sou onça do mato, se você não se ca­
la ... eu lhe devoro! Nhau! Nhau! Rooo ...
Joaninha assustada· grita, 'berra.
Então, deixando cair no chão a pele de
bicho, Tomás debruça-se carinhosamente sô­
bre a pequenina e diz: •,
- Não chote, Joana, Malvina já vem. O
Menino Jesus não gosta de criança manho­
sa. Você conhece o Papai do céu? Foi Êle que
fêz o sol, a lua, ª? estrêlas. Sabe, eu vou to­
mar o vapor. Vou para o Brasil! Quer ouvir
a carta de vovó?
Tom vai ao escritório. . . Traz um papel
e os óculos do pap�i para ler o que lhe con­
tou a mamãe: « Os pequenos estão cada vez
mais travessos. José Carlos (Zequinha) conti-

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nua a ser palhaço. Trepa em tudo; não sei
como ainda não quebrou pernas e cabeca!
Faz do TIFON seu cavalo de corrida. Tio An-
tônio fundou um clube de futebol. A Carlotí­
nha é um encanto. . . parece princesinha ( 1).
O bando está aumentando. Já são nove ne­
tos. Quando voltará o meu Tomàsinho?
- Eu vou já, exclama o Tom resoluto e
comovido.

(1) Primeira Comunhão de Carlotinha por Glória Regi.

53
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SUBAM A·s. MALAS

O menino sente saudaçles do, Brasil. À


noite quando os olhinhos se fecham e João
Pestana lhe cerra as pálpebras, abaixando
as fra�jas das duas janelinhas, a criança vê
aquela praia maravilhosa onde passou diàs
alegres em companhia dos primos. Vê, cor­
rendo a beira-mar, o bando infantil chefia­
do pelo tio Antônio. A lembrança do passado
é tão v�va na memória de Tomàsinho que,
em sonho, tendo na cama uma bô�sa de água
quente, sente o ·calor da areia ardente - de
outrora ·- queimando-lhe os pés.
· E o sol? Onde se encontra? Há muito não
. aparece. Por quê? No inverno sombrio deixa
a terra coberta de neve ..
O sol- acha-se no Brasil, responde no so­
nho, virando o·travesseiro como quem faz gi­
rar• um mapa-mundi. E\ sua imaginação se
transporta ao torrão · natal. Conte�pla, no

54 https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
raiar da aurora, a bola de fogo saindo de
dentro do mar. Quanta coisa bonita!
O garôto ouve os passarinhos alegran­
do a alvorada com suas melodias. O sabiá.
trepado num galho de árvore, parece convi­
dá-lo a regressar à pátria.
De repente, Tom acorda e sentando-se
na cama resmunga:
- Hoje mesmo partirei.
- Esfrega os olhos, mas não enxerga ...
ainda é noite. Papai e mamãe dormem. Tom
deita-se novamente para esperar o amanhe­
cer. Dorme outra·vez. No « País dos Sonhos»,
abraça com ternura a patativa, o sabiá e até
o interessante bem-te.:vi. De rrianhã cedinho,
êle está de pé.
- As malas, subam as malas, ordena
Tomás debruçado no corrimão da escada, de­
cidido a voltar ao Brasil.
Pensa que tudo ficará pronto num quar­
to de hora. Jogando na mala os brinquedos
em desordem senta-se sôbre a bagagem e,
I

de sobretudo, bengala, luvas e chapéu, es-


pera a hora da partida!

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BRASIL!

- Tomàsinho atravessa o Oceano. Chega


à pátria bem-amada, onde recebe bombons,
carícias, abraços,--.manifestações. Voltou cheio
de saudades, com seis primaveras de exis­
tência, vinte dois quilos de pêso, um metro e
. 1

nove centímetros de altura, . além ,.dos encan-


tos infantis e uma forte dose · de sabedoria.
. Tio Antônio, prestdenté. do « Clube In­
fantil », em magnífico - discurs'o exalta o pa­
triotismo do sobrinho mais velho. A presença
dos jovens sócios e da alta· criadagem, con­
vida o senhor Tom· a fazer parte da diretoria ..
Heitorzinho, para solenizar a chegada do
·primo, aplica-se na « toilette >>; engraxa os
sapatos. Areando os dentes, - lambuza o ros­
to com pasta dentifrício. Corta os cabelos e
mete também a tesoura nas sobrancelhas.
Bonitinho não ficou, porém, contente toma

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parte nos festejos organiz.ados pelo tio An­
tônio.
Carlotinha, a impagável Carlotinha, dan­
ça, ri, chora, engatinha, exibindo tôdas as
gracinhas de um bebê esperto e travêsso.
Finalmente, deita-se a fim de tirar uma so­
neca em pleno dia, pois, está exci�adíssima.
As manifestações continuam durante o
almôço: um peru à brasileira, enfeitado com
farofa e rodelas· de limão, aparece rios bra­
ços do copeiro. Tornàsinho, sentado no lugar
de honra entre o vovô e a vovó, recebe de­
zenas de telegramas: Felicitações dà Presi­
dente da República Francesa - Parabéns do
Rei dos Belgas - Congratulações da Alema­
nha - A velha Inglaterra num brinde se faz
representar - Saudações dos 'Escoteiros -·
Cordial abraço do Sacristão.
-
- Como é que êles me conhecem? Co-
mo sabem que· eu cheguei, pergunta o Tom
jubiloso, quase em. êxtase, deixando transpa­
recer nos olhos, nos lábios, na face o exces­
so de felicidade.
Correio, telégrafo, telefone e jornais se
alegram pela chegada do brasileirinho.

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- Como é que todos 1110 conhecem? rc-
pete o menino, sem perceber o sorriso mali-
cioso de um dos titios, autor da brincadeira.
Quantas crianças experimentam a ale­
gria, que enche o coração, quando inicia o
ten1po de férias ou voltam à casa paterna
após longa viagem ...
Como deve ser imensa a felicidade do
cristão ao, chegar no céu, em casa do Pai ce­
leste, depois dos anos passados na terra em
vida santa e virtuosa.

Se à nossa pátr_ia terrestre


Regr�ssar causa alegria
C�mo será·. ao chegarmos
· A pátria celeste um dia?!

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HERól DO DIA

A campainha da rua faz-se ouvir nova­


mente.
- Mais um telegrama, exclama Tomes­
tupefato, esfregando as mãozinhas com viva
satisfação.
O empregado, entrando na sala de jan­
tar, anuncia a chegaaa de um caminhão tra-·
zendo a b�g_agem. Num abrir e fechar· de
olhos, a criançada corre ao portão. Tomás,
sempre cortês, recua da porta para deixar
passar à frente as meninas.
- Tom, Tom, gritam· os priminhos. Ve­
nha depressa dizer onde estão os presentes.
- Que nos trás o Tomás, repete o excel­
so poeta José Carlos. Encantado com a arte
de fazer verso, prossegue: « Venha Tomás·,
venha rapaz! »
- Chofer, ordena Ari, faça subir em �n ­
meiro lugar as malas dos presentes e brin-
quedos.

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59
-- O cnrrcgodnr �-�ocodo Ofj ombro:::, vira
as costas e 1nunnurn corn or de de�;prézo:
- Cáspilc! Gci lá, no rnoio de tr1nta ba­
gage1n, onde estão oB presentes e brínque­
dos? Levo-a tôda parcJ o segundo andar e o
1nenino que se arranje!
� '

As malas sobem, seguindo-a� pelas es-


cadas os pequenos.
- Meus brinquedos, mamãe, onde es­
tão meus brinquedos? indaga Tomàsinho per­
seguido pela curiosi_dade infantil, pois, cada
qual deseja receber seu presente.
- Seus brinquedos? Ei-los aqui, respon­
de José Carlos, que sem ter sido convidado
inspeciona a bagagem, levantando as tam­
pas. Depois de bisbilhotar o conteúdo das
mesmas, joga aos quatro cantos os brinque­
dos do Tomás.
Entre admirável miscelânia, v1a1aram
pobres e ricos, . velhos e moços, vivos e mor­
tos. �o lado de bonitos automóveis, rnetra-
, lhadoras reluzentes, ricos jogos de constru­
ção, animais de fina pelúcia, bolas, realejos,
vieram misturados - sem briga nem discus­
são - palhaços desbotados, quebrados e

60 https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
bem assim soldados mutilados, sem perna
nem cabeça ...
Ninguém ficou· na Europa. Todos, todos
vieram à pátria do ilustre e digníssimo Tom!
À medida que os brinquedos saem da
mala, a velha cobiça aparece e os bracinhos
das crianças se estendem:
- Deixe-me ver. . . Ah! que lindo .. Que
maravilha! Ah! se êsse brinquedo fôsse meu ...
- Tom, eu quero êste. Você me dá? pe­
de o Herculano, mostrando um lindo auto-
� móveL
- Tom, eu ·sou seu amigo, seu grande
amigo. Voc_ê quer me dcw êste cavalo? insis-
te Heitorzinho.
- Pode, pode levar, ·diz o recém-chega­
do num bondoso gesto .. ·
Carlotinha, que ainda· não distingue o
que é meu e o que é seu (par� ela tudo é
nosso) ., entra por u�a porta e sai por outra.
Carregando um urso peludo, um balde, ar­
rasta pelo chão o borieco-soldado, o Zuca,
que radiante por sair da mala, depois .de tão
longa viagem no porão do navio, ri m0stran-

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do os dcn tcs ô u1ãc carinhosa que lhe vai
prodigalizar beijos e abraços.
Os petizes fican1 1naravilhados com êsse
abundante bazar.
Ton1àsinho, andando de um lado para
outro, assiste à cena· com ar de superiorida­
de. Ensina, a um, o mecanismo do trem; pa­
ra outro, abre uma caixa ou dá corda no ca­
minhão; para um terceiro, . arruma um ba­
talhão.
Na realidade, é êle o herói do dia, mas
não se deixa cativar• pelos brinquedos, seus
velhos conhecidos. Alegra-se sobremaneira
� .
com o prazer que esses proporcionam aos
priminhos. Goza a verdadeira felicidade de
estar cercado pelos carinhos da famíl.ia e de
ter, enfim, regressado ao ·· seu querido Brasil.

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MESTRE-ESCOLA

As criancinhas gozam do privilégio con­


cedido às flores e aos passarinhos. Não se
preocupam com o sustento de cada diÇI. Tom,
1
porém, julgando se um grande homem, pen­
..:

sa que deve - trabalhar e _ quer comer o pão


com o suor da fronte.
óculos escuros, pas'ta debaixo do braço,
sai à procura de matrículas para .sua escola,
pois, resolvera ganhar a vida sendo professor.
Há meses que freqüenta afamado colé­
gio e com sete anos de idade não é mais um
bebê, podendo ensinar a outros, mesmo sem
possuir diploma de bacharel. Encontra-se com
a velha Babá vigiando a jovem Carlotinha.
- Olá! A sorte está comigo, diz êle.
Duas alunas de urna só vez! Babá, indaga
mestre Tom dirigindo-�e à ama, você quer
vir coin Carlotinha para minha escola? Eu
ensino a ler, escrever e contar.

64 https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
E o ilustre professor abrindo a pasta, re­
gistra: Carl otinha da Silva com ano e meio
de idade e Babá com ... (no mínimo noven­
ta e nove pensa o Tom. E para maior preci­
são interroga a Babá:
- Qual é seu ·nome, minha senhora?
- Cloudina Coelho.
- Quelho se escreve com Q ou K?
- Não sei lá muito direito, mas parece
que minha letra é a mesma que a da Car­
lotinha.
- Muito bem. Sua idade, faz favor?
- Em janeiro vindouro vou fazer sessen-
ta e dois.
- Como? Sessenta e dois? Não é possí­
vel (Tom suspende a pena). Minha senhora, .

permita-me falar. . . Disse-me que tem .ses-


. .

senta e dois anos, porém, parece cem!


- Gentes, Sinhô, eu- não sou tão veia
assim! Eu só fui dos tempos passados, dos
tempos de sinhá moça criança.
Tomàsinho não se perturba. Passa a mao
no futuro cavanhaque, dá uma viravolta, ins­
Peciona a zona e logo encontra outro aluno.

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Venha cá, senhor lviário, quer apren-
- !

der a ler? Que idade você tem?


- Quatro anos e vou fazer três.
Quando você nasceu?
-- Em morço o também 0.111 abril.

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Mestre Tom dá gostosa gargalhada e
matricula imediatamente êste aluno de gran­
des esperanças ... Que vai fazer o Mário?· O
menino, que na realidade conta dois anos e
n1eio, está armado de tesoura, pente, escôva
e de uma lata de grude. Exercita êle a profis­
são 1e cabeleireiro? Para que esta lata de fa­
rinha de trigo? Tom segue o futuro discípulo
e muito interessado indaga:
- Mário, o que você está fazendo?
- Êle é meu a:r;nigo. Gosto de brincar
com o Manduca, mas . . . o cabelo . dêlE3 me
arrepia. Fico todo arrepiado, di� o Mário
apontando um negrinho de cócoras no gra­
mado. Eu tiro fios do meu cabelo e planto­
os na cabeça do Manduca; depois prendo os
fios com grude para nascer cacho louro, igual
ao meu!
Tom reprime o riso. Não convém ao pro­
fessor dar tantas gargalhadas diante dos alu­
nos. É certo que os cabelos de ouro do Man­
duca nunca nasceram. O negrinho também
foi aprender a ler na escola do professor To1n.
lvfário prometeu que o pai pagaria as duas
matrículas.
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· C o_m mais três ou quatro discípulos o
colégio está completo. Sacudindo pesada
campainha, o «mestre» começa as_ aulas.
- Antes· de tudo, diz êle, vamos ao ca­
tecismo. Mamãe me ensinou que Deus deve
estar sempre acima de tôdas as coisas. Co- .
mecemos pela aula de religião. Deus fêz um
boneco de barro para criar o primeiro ho­
mem. Em seguida soprou, dando ao boneco
o nome de Adão. Que aconteceu?
Heitorzinho prontamente responde:
- Papai do céu soprou e. . . Adão caiu
para trás�

, 68
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DESASTRE

Ari não espera o fim da aula. Sem pedir


licença ao senhor professor, levanta-se. De­
vagarinho, beirando à parede, chega perto
da porta e escapa da sala. Vai fazer traves­
suras. . . Tifon, que g uarda a entrada, ladra
visando a fuga do menino�
Tom, distraído, continua no seu papel de
mestre-escola.
� Vamos aprender aritmética, meus alu­
nos.· Faz favor, Manducá, cànte até cem.
- Um, três, nove, cinco, setenta e-e-e­
cem!
to.
- Sente-se .. Levou bomba, seu garô
Está errado.
o
Tomàsinho e;direita a pasta, sac de
ª
cabeça e retoma a lição.·
em nos
- A semana tem sete dias. Cont
dedos: domingo, segunda ...

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Bem-berem, bem! Plem-pem! Um estron­
do medonho se faz ouvir na rua. Tifon late
tristemente e corre para 6 portão. Mestre e a­
lunos chegam à janela. O auto, onde estão tio
Antônio e Ari, levou forte trombada. Farói�
e faroletes quebraram-se; o pára-brisa ficou
em pedaços, a «baratinha » amassada, tortos
os pára-lamas e portas.
- Capotou! Derrapou! Ari está ferido.
Tem sangue!
Morreu. . . gritam ds crianças assusta­
. díssimas.
O professor fecha· a escola e os alunos
disparam em debandada pelo jardim a fora.
Aproximam-se do portão, local' do desastre.

.
'

As crianças, muito excitadas, continuam


� . .
os comentar10s:
- Tio Antônio sabe guiar. . . êle é gran­
de. Tio Antônio quis desviar, mas Ari o atra­
palhou; a « baratinha » derrapou e· foi con­
tra o poste .. t:le brecou e o auto capotou. O
carro virou! Subiu pela calçada!
- Coitado do automovinho! Você não
viu que êle vinha? Seu foioso, malvado, sen1
coração!

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E o Mário balo corn Iôrça no por;to cul­
pado.
Graças a Deus, não íoi grande o clofXJB•
tre. Tio Antônio empalideceu, por6rn, não fi­
cou ferido. E o Ari sai do carro, maír.; morto
do que vivo de susto, apenas com um galo
na testa, arranhões nos braços, roupa man­
chadà de graxa e gazolina.
- Tom, Herculano, levem éste pequeno
para o porão. Não deixem titia ver o filho an­
tes que a Babá lhe troque a roupa, ordena
tio Antônio.
Ao ouvir o barulho, acodem mamães e
titias.
- Ari, onde está o Ari? pergunta allita
a mãe do pequeno.
- Espere, titia, o Ari está escondido pa­
ra você· não se assustar. !:le ficou feio, co:n
sangue e ferida, conta Heitorzinho fazendo
careta de nojo e tristeza.
- Meu filho, onde se encontra? indaga
ª mãe nervosim:;ima. O menino podia ter h­
cr1do . . .
--- EGmignlh rJ clo!, con1plcta o l·lcdor:.inho
�J<:rn Pon�inr no quo diz. Ficou oHllliqnlhndo.
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-. Migaiado, repete Mário. Sabe, titia, o
farolzinho também ficou migaiado. Não acen­
de mais! Ari e o farolzinho estão migaiado!
- Não digam tolices, meninos, repreen­
de a tia cada vez mais apreensiva. Onde es­
tá o Ari?
- Não sei, responde Heitor. Puseram-me
para fora e esconderam seu filho no. quarto
do porão para você não ver. . . Êle está mui­
to feio, prêto e cheio de sangue. Tio Antônio
proibiu a gente ir lá. Que horror! Êle vai mor­
rer, não é, titia? · O automóvel ficou esmiga­
lhado! Que desastre! ,
A pobre mãe sai à procura do filho, en­
contrando-o rodeado pela criançada deve­
ras atarefada. . . Quer deixar o companhei­
ro lavado, penteadinhb e bem tratado.
A fim de não assustar a mamãe do Ari,
tio Antônio, o ajuizado tio Antônio, achara
melhor esconder o sobrinho para que ela não
o visse todo sujo, embora pouco ferido.
Pobre mãe, assustou-se ainda mais!

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A FRUTA DE CONDE

Sentado sàzinho à mesa, com um guar­


danapo amarrado ao pescoço, garfo e faca
nas mão·s, Tom contempla a metade de uma
fruta. Não come. Esquece estar próxima a
hora de partir para o colégio.
- Isto não está direito. É pouco caso,
diz o menino de si para si, batendo fortemen­
te com o punho na mesa. Fui à feira com vo­
vô; êle me deu uma magnífica fruta de con­
de. No almôço, para sobremesa, tia Heloísa
me dá só metade e guarda a outra na gela­
deira! Acaso pensa que nasci ontem e sou
um bebê? Não como metade de uma fruta.
Não tenho estômago �e anão. Onde se acha
a fita métrica para medir os apetites? Teria
sido melhor que - em vez de fruta - o vovô
tivesse comprado' um berço ou uma chupeta!
A testa se enruga; o sangue sobe-lhe à
1
face e o Tomás, furioso, ultrajado na sua alta
dignidade, empurra o prato para 101:1-ge.

73
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Cruza os braços, franze o sobrolho e con­
tinua o monólogo:
- Ora essa, vou perder a pinha por cau­
sa de um capricho' de Heloísa? Isto é que não!
A fruta é minha. Se o vovô estivesse aqui,
dar-me-ia a fruta inteira!. ..
Abrindo a geladeira, saboreia a outra
metade da pinha. Está deliciosa. . . fresqui­
nha, bem amadurecida e em ponto de ser co­
mida. ótima! porém, mal o Tomàsinho aca­
ba de projetar no prato o último caroço que...
ai! que dor! que dor de con.sciê:p.cia! Por que
tirou ·a fruta? Por que não se contentou com
aquela metade que lhe havia dado Heloísa?
.
.

O menino · quer se convencer de que a


razão está do seu lado.
- A fruta era minha. . . tia Heloísa pen­
sa sempre que sou criança. Com nove anos,
não tenho estômago de passarinho recém-
nascido.
Tom, por, mais que raciocine, não fica
tranqüilo. Não se sente feliz.
- Vócê foi orgulhoso, impaciente, teimo­
so, tirando a fruta sem licença.· .. · diz-lhe a
voz da consciência. Tomás lava as mãos com

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água e sabão. Retira da pele as nódoas da
fruta, mas não consegue lavar as manchas
de sua culpa. A falta cresce na imaginação:
de pequenina se faz grande . . . e toma pro-.
-
porçoes enormes.
De um pedregulho formou-se uma mon­
tanha pronta a esmagar a consciência do
Tomás.
A gotinha de água virou mar!!!
O pobre Tom triste e acabrunhado ima­
gina a futura cena: H�loísa procura a pi­
nha. . . não a encontra. Que vergonha! A
fruta inteira se acha no estômago do Tom.
Que remorso, que dor de consciência. Êle
tanto cuidado tem com a limpeza da alma,
caiu fàcilmente no ·pecado.
Deixando aberta ·a torn�ira da pia, o sa­
bão mergulha na água como a representar
o aflito estado de sua alma, corre, corre o
Tomàsinho à procura de salvação.
Correndo sempre,. desce as escadas, a­
bre o portão e_ rua a fora, cabeleira e grava­
ta ao vento, lá se vai o nosso Tom.
Apressa o passo sem olhar para trás. Pa­
rece-lhe que um animal prêto o persegue ...

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tem asas de morcego, chifres pontudos e pa­
tas de bode. É o diabrete mentiroso do amor­
próprio que lhe aconselha silêncio de sua
falta, acusa-o de roubo e gula. Quer puxá­
lo pelo casaco, para mostrar-lhe aumentada
de pêso e tamanho.... a outra metade da
fruta!
Tom portou-se como um grande homem.
Foi decidido e corajoso ao compreender o êr­
ro. Assim que sentiu a perturbação invadir-
1he a alma, correu ao confessionário a pedir
ao ·padre absolvição de sua culpa.
O sacerdote de· Deus, bondosamente o
recebe e em nome de Jes:us tranqüiliza-lhe a
consciência aflita.·
A criança recebe uma grande bênção,
a absolvição sacramental que apagando tô- .
da falta, restitui a paz e tranqüilidade à sua
alma.
Se algum dia o pecado
A sua alma deslustrar
Um padre procure logo,
Para sua falta acusgr.

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íNDIOS GUERREIROS

Já contamos que o tio Antônio fundou


um clube de futebol; por vêzes os sócios, dei­
xando de lado a bola, transformam-se em
valentes soldados. Intrépidos cavaleiros, mon­
tados em pau de vassoura e esporeando a
cavalgadura, percorrem as alamêdas do jar-
dim.
Famosos detetives, obedecendo às or­
dens do tio Antônio, escalam altos · muros.
Prendem perigosos ladroes, que não são ou­
tros senão os camarada� e amiguinhos da vi­
zinhança.
Nesta tarde, cingidos de ·tangas verme­
lhas, ornados de penas _multicores, braços,
pernas e rostos pintados, os « sociozinhos » se
metamorfosearam em terríveis índios guerrei­
ros das florestas do Alto Amazonas.
Nãc há como tio Antônio para inventar
divertimentos cativantes e chefiar um bando

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de crianças. Sabe 1nantcr a disciplina, qual
bravo general.
Instala-se a peqt1cna tribo à beira de um
igarapé, na chácara de São Francisco. Se­
guido pelo Tifon, cão de guarda, Heitorzinho
traz feixes de taquara para armação da ten­
da ou 1naloca. José Carlos, ajudado pelo Ari,
cobre a barraca com fôlhas de palmeira bu­
riti, enquanto Herculano amarra os cipós. Em
grupo afastado, as priminhas Rosita, Maria
Elisa e Nini atiçam o fogo. Abanando as bra­
sas, preparam delicioso « cozinhado » para os
selvícolas da tribo dos terríveis Macuxi�.
Tomàsinho, com a seriedade que costu­
ma empreender tôdas as coisas, está conven­
cido que é índio e índio bravia. Com extrema
repugnância, deixou-se lambuzar o rosto e
estoicamente tolerou que o pintasse com pa­
pel vermelho, rôlha queimada para imitar a
tintura do urucu ou genipapo usada pelos
índios.
Descalço, esbelto e elegante com a co­
roa de penas em volta da cabeleira crêspa
e dourada, Tom, destaca-se do grupo, colo-

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ca um joelho na relva e maneja graciosamen­
te o arco e a flecha.
O sol declina. Perfume agreste invade a
atmosfera. São quatro horas da tarde, mas
os selvagenzinhos querem que para êles se­
ja a hora do crepúsculo. Tio Antônio, ou an­
tes o capitão Arpó, rifle em punho, faz aos
ouvintes estendidos no chão a sua arenga.
- Vamos exterminá-los.· Prometi a meu
pai, velho Cacique, que a morte de Pitá e
Paqui seriam vingados. Prometi! Eu, filho do
Cacique. Morrerei na �recha, envenenado
por uma fle�a, porém, n?ro defxarei · passar
mais um só dia sem atacar a tribo Uapia·na
que vive à margem esquerda do rio Urari­
coera.
Assobios estridentes e continuados ma-
l

nífestam o assentim�nto dos súditos do ca-


pitão Arpó.
/

Os indiozinhos compenetrados do seu pa­


pel, retiram-se para dormir no rancho à es-:
pera da madrugada e do sinal de partida. Es­
condidos atrás das moitas ou dos arbustos
da chácara, as caçecinhas das crianças apa­
recem ao soar o apito do chefe dos bravqs ·

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{ t/ ', . �I!

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Macuxis. Em algaraviada· de atordoar
par­
tem os pequenos ao encalço da tribo Ua
pí-
xana.
- Eis o inimigo, diz o Zeca ao avistar a
tribo selvagem.
- Que r:ienhum seja desertor, troveja o
tio Antônio. Lembrem-se que a vingança é
a alma do tapuia! Que nenhum fique fora
de combate ou eu lhe darei a rriorte.
Assim falou Arpó, o filho da floresta, o
capitão dos Macuxis, apontando uma peque­
na espingarda e, altivo, faz valer a superio­
ridade dos seus treze anos.
Os meninos se atiram uns contra os ou­
tros; travam rude combate. Três, quatro, caem
feridos ou· fingem, de mortos.
Ao longe, cruz na mão, desce a colina 0
pregoeiro da boa nova, um missionário em
miniatura. Não receia a flecha envenenada.
o ar
l\Jão teme a morte. Não tem mêdo do lh
flamejante qu lhe lança Arpó enfurecido e
e
que lhe proíbe de aproximar-se. O i· n t re'pido
_
�crvo de Deus, o anjo da paz vem s a!var al­
_
rna s. D csprcz v1d a.I A v 1 r1 1 n h a -s e
a a pr6pria. ' ·· � de
da t 'bo
n guerreira e ensina- li P c· rdao
°
. . 10

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Cristo. Mostra-lhe na cruz o Salvador, que
derramou o Sang ue divino a fim de pedir a
Deus misericórdia para seus inimigo s.
O chefe Arpó estremece... o .sangue fer­
ve-lhe nas veias. Grossas gotas de suor cor­
rem-lhe pela face bronzeada, coberta de ta­
tuagem.
A vingança é a alma do tapuia, mas a
caridade é a invencível arma do soldado de
Deus. E tão fortes· são as palavras do missio­
nário que o ó�io se· derrete no coração do
filho do Cacique. O jovem Arpó prostra-se
em terra e beija .a cruz do Salvador!

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MISSIONARIO

Tomàsinho fôra vqlente no combate. Um


herói! Está contente com . a sua ilustre pes-
soa porque pensa, com certa razão, que- brin-
car bem é saber viver. Natureza fàcilmente
impressionávet o menino ficara sugestiona­
do com a brincadeira indígena. Idéia fixa nos
selvagens, sente-se atraído pela vida ao ar
livre, pela liberdade dos campos. Tom, crian-
ça civilizada, _educada com mil cuidados, faz­
se através da imaginação habitante das sel­
vas, um filho da floresta.
- Quero ser índio, diz resoluto. Dese­
jo viver nas matas, numa cabana à beira
rio. Durante o dia irei pescar e à ,.noite debai­
xo de uma árvore estenderei a rêde,. tendo
a meu lado uma carabina.
Mas. . . se aparecer . um selvagem trai­
çoeiro?

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Corajosamente, em legítima defesa, Tom
pega na carabina - uma carabina Winches­
ter, igualziriha a que êle viu na loja - e
apontando-a para o bugre, mata o s�lvícola.
- Pobre índio! Para onde irá você de­
pois da morte, reflete· Tomás. Para onde irá
sua alma?
Nunca o selvagem _ouviu falar de Jesus,
nem mesmo da bondade do
Pai celeste que
alimenta o passarinho, veste o lírio do cam­
po e faz descer a chuva sôbre os bons e•maus.
Vi_ngativo e feroz, se durante a vida o bugre
segue perversos inst�ntos, como irá depois
da morte na sociedade dos· anjos e dos san­
tos? Pobre índio!. Nunca foi lavado pelas á­
guas do Batismo. Êle sofre e não tem quem
o ampare. Triste, ninguém o consola. Pessoa
alguma lhe fala de Deus, que o ama ta nto.
Ah! como Tomàsinho tem pena do índio, tem
compaixão. do infeliz selvícola. . . Mãos nos
bolsos, pensativo, cabecinh a erguida, Tomás
volta para casa. Trepando em alto galho, uin
sabiá gorgeia· maviosamente. Parece ser
aquêle passarinho q
ue o Tom viu no sonho,
quancio ainda estava na Europa. O sabiá·

84 https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
convida agora Tomàsinho· a ir civilizar os sel­
vagens n·as matas virgens do Brasil.
- Ah! sabiá, eu quisera ser grande, mas
dizem que sou pequenino, que sou criança.
Mamãe não me deixa ir ... Tenho só dez anos!
Após certo momento de reflexão, o me-
nino exclama:
- Sabiá, você não percebeu a· nossa
brincadeira? Não viu como o missionàriozi­
nho apaziguou os Índios do Amazonas?
Pois, são os missionários que amansam
os selvagens, continua o Tom. . . Mamãe
contou que pregando os santos Evangelhos,
os padres, ensin•am ao índio amar a Deus e
praticar o bem.
Colocando o, dedinho na testa, .diz:
- Tenho uma idéia! Espere, sabiàzinho,
mais tarde serei missionário. Quero salvar os
pobres índios. Vou civilizá-los, falando-lhes
do Papai do· céu. Do norte ao sul, serei a­
póstolo nesta querida terra de Santa Cruz.
Avante Tomàsinho trabalhe para Deus,
. I I

Para a pátria e será um grande homem!

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INDICE

Onde nascerá o Tom? pag. 9


Tom narra o seu nascimento 9
li

" 13
Soldado da Pátria
O palhaço 16
li

O transatlântico 21
li

No hotel 24
li

O diplomata
li
28
O mar 31
" 33
Na loja
O boneco de .neve
li
36
" 40
Baile infantil
O rei da glória
ti
43
Cocheiro 46
ti

·· foaninha 50
Subam as malas
li
54
Brasil 56
li

Herói d� dia 59
li

Mestre-escola
li
64
Desastre li
69
A fruta de Conde 73
f ndios guerreiros 77
Missionóri� 83
li

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