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TOM JULGA-SE
UM· GRANDE HOMEM
3 11 Edição
EDIÇÕES PAULINAS
NIHIL OBSTAT
Sancti Pauli, XJI, - 7 - 1941
P. L. Esteves
Censor
NIHIL OBSTAT
Sancti Pauli, die 15 Junii 1939
D. Afonso Niessel O. S. B.
, Censor ad hõc.
IMPRIMATUR
Mons. Ernesto de Paula
Vig. Geral
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PREFACIO
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Macedônio de quem se ria o moço preparador das tintas de
Apéles.
Assim, aceitando a honrosa missão de que me incumbiu
Gloria Regi quero alegar como único título justificador de
tal afoiteza a qualid�de de examinador da obra sob o. prisma
do leitor cônscio da e:xação do famoso aforismo que admite
a bondade de todos os gêneros literários, exceção feita do
maçador.
Com a maior naturalidade e vivacidade. conta-nos Glória
Regi o que /oi a vidazinha do candidato aos. clássicos: " gala
rins da peregrina fama " ·desde o berço até a descoberta de
sua vocação: a de missionário das brenhas da nossa pátria
e portador aos noss,os sel�ícolas da luz do Evangelho.
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Em suma, ê?te: Tom julga-se um grande homem, é um
livrinho .encantador a que auguro a mais brilhante carreira
entre as milhares de obras de seu gênero constantes de nos
anto natural c�mo essa hist6ria de crian a rescid e evo
� _ _ _ � � �
sa bibl iografia 1nfantll. Muzto pouco havera tao chezo de re
luída entre gente temente a Deus e possuída do espírito da
nossa velha e sadia formação brasileira.
Afonso de E. Taunay
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ONDE NASCERA O TOM?
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Tio Antônio, não podendo alcancar as
meninas, esperneava dizendo:
Maria! Heloísa! Isso não vale. Eu sou 0
tio. Preciso ver o Tom antes de vocês.
O « corre-cqrre », provocado pelas notí
cias falsas de Mariazinha, que se regosíja
va em enganar a todos, repetia-se com fre-
.. .
quenc1a.
,'\
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l1
brasileiro, comecei a sorrir. Pouco a pouco,
meus traços se aformosearam e aos· doze me
ses era eu um lindo garôto. Deitado num car-
. 1
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SOLDADO DA PÁTRIA
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- Oh! meu amigo, diz-lhe o Tom, se es
ta" rouco e cansado, poderá prestar-me ou-
tros serviços.
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O PALHAÇO
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bediente. José Carlos
pode quebrar uma per
na. Tomàsinho já foi e
ainda é b ebê, mas,
nunca fêz semelhante co
isa. O raciocínio de
Tom considera criminoso o
pro�edimento do
companhe iro. . . Acha que êle me
rece casti
go. Imagina que pode aparecer um solda
do. . . Teme a polícia. Receia que zeQuinha
seja prêso como desordeiro e Tomàsínho,
cúmplice. Que .escândalol Tom, o grande
Tom, Tom conhecidíssimo, ser prêso por um
soldado e ir passar a noite no « xadr_ez » ! De
longe esprei1a a cena ...
- Viva! Viva! - exclama· José Carlos.
· --Desce depressa, Zéca, aconselha o
Tom. Você pode ser prêso. Desce depressa!
Você não tem' mêdo do soldado?
O palhaço improvisado, dando garg<=:l�a
das e divertíndo-se imenso no seu trapez10,
nem sequer ouve a voz do primo.
A porta da rua, tocam campainha.
_ É O guarda! _ pensa Tomàsinho e a
so pela
fasta-se correndo para não ser prê
polícia.
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José Carlos se assusta. Perde o equilíbrio.
Despenca da cadeira e virando inesperada
cambalhota, voa pelos ares.
Levantando-se do chão, machucado, fe
rido, lamenta:
- Ai, ài! Estava tão bom lá em cima!
Quis ser palhaço, mas tornei-me aviador ...
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O TRANSATLANTICO
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sabe voar melhor que o Zéca. . . Que está
pensando o burro? Teve mêdo ou gosta de
andar de aeroplano?
Um grupo estacionado no cais fixa aten
ção na linda criança. Como está engraçadi
nho o Tom! A vasta cabeleira agita-se ao
vento. O rosto meigo e risonho, circundado
pelo óculo da « cabine », está encantador. O
menino na sua veste de marinheiro parece
um cromo!
Tomàsinho sentindo que o navio se afas
ta, atira um beijo para o querido tio Antônio
e lança afetuoso olhar ,ao grupo farmado pe
los vovôs e tit.ios. Seu córaçãozinho se aper
ta. Num gesto gracioso e delicado, Tom es
tende o braço e agita o lenço em sinal de
despedida: Até a volta! Dêem lembranças
. também a « Tifon».
O Cap Arcona! Que navio colosso . . . É
um palácio flutuante.
Conduzido pelo papai, Tomás percorre
as dependências do vapor: o « Bar », o salão
de luxo, o restaurante, o to�badilho, a sala
de ginástica, o barbeiro, a piscina e a cozi
nha com sua enorme criadagem. Tudo pas-
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sa como em tela cinematográfica aos olhos
maravilhados do pequeno, que sonha ·achar
se no país encantado, transformado em gran
de e importantíssimo passageiro.
A transatlântico desliza pelo oceano ...
Tom, sentado no tombadilho, admira a imen
sidão do mar. Cabeça erguida, mão�inha es
querda na cintura e na direita o binóculo,
pernas cruz.adas, assiste ao anoitecer e vê a
lua pela primeira vez.
- Eu quero a lua, diz o Tom. Quero brin
car com aquela bola de luz. Papai do céu,
dê-me a lua!
Como o navio segue veloz, êle julga po
der alcançá-la. Corre para a proa, porém, a
lua, zombando de Tomà.sinho, afasta-se ca
da vez mais. . . Não podendo pegar a lua,
Tom esquece�se de que é «um.grande ho
mem » e põe-se a chorar ...
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NO HOTEL
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O copeiro que atendera o te 1
. o fon0- pre-
p ara a ba ndeJa de acôrdo com O p
,, cd'1do: ca-
.
f,,e, 1 e11 e, açucar, pao, manteiga, gelé'1a, qu
H
ei-
jo e frutas . So be o café completo • Bat e a por-
ta do quarto. Ninguém responde. . . Onde es-
tá o menino?
Pais e governante se assustam. A vizinha
do apartamento defronte acorda sobressalta
da. Não encontra o cãozinho lulu, seu fiei
companheiro. Reclama-o. Em reboliço o ho-
tet emp�egados não sabem se procuram a
criança ou aquêle cãozito.
A mamãe de Tomás, aflita, censura o in
diferentismo da velha dama inglês a, inteira
mente preocupada com a fuga do cão.
O garôto escapara à vigilância. Saindo
do apartamento em companhia do lulu, seu
amigo desde a véspera, descera as escadas ...
Encontra a porta do hotel entreaberta.
Atravessa a rua e pára diant� da vitrina de
uma exposição canina. Tomàsinho entra no
estabelecimento e fica deslumbrado! Que bo
nitos cães! Como estão bem tratados! Enche
se de entusiasmo perante a linda cacho�ra
dinamarquesa co m sete filhotes. Com a maior
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naturalidade pega nos braços o lulu, ofere
cendo-o ao gerente a fim de figurar, também·
. ,.,
na expos1çao.
Afinal, lembrando-se do café completo,
retira-se e volta ao hotel. Quando Tomàsinho
aparece à porta de entrada, que alegria! Por-
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te '- .11ajestoso, terno de sarja azul-ma�-.
rinhol uoeç� loura ergui�a, rosto meigo, a
: :
simp( atica criança tem altivo e profundo o-
lhar./ Satisfeito pelo que fizera, parecia di
zer: . L'\.OU GRANDE! Com muito respeito ad-
mirem. r.. EU SOU O TOM!
!"'
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O DIPLOMATA·
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Como está bonito! O seu corpo pe
. quenino
cre sce e adq uire a seus olhos p rop
orcoes co-
loss ais. Tom se julga quase da alturd do
pa-
pai! De repente, um pensamento lhe atrave
s
sa o c ére b ro e o menino resol v� ir também
à
recepção do palácio real. Não há dúvida, êle
vai cumprimentar o rei!
O pai, em situaç ão crítica, não pode ex
plicar ao filho . que êle é criança; iria magoar
mais o coração infantil, convencido do con
trário, pois, Tom julga-se um grande homem.
Para acalmar a excitação do pequeno diz:
- Meu filho, você não tem farda, o guar
da não o deix-ará ·entrar.
Tom reflete:
As sentinelas, os soldados com a espa-
da resplandecente ao, sol, não o deixarão
passar.
To
Que lástima! Diante do irremediável,
se,
màsinho -· menino ajuizado - resigna-
esperando outra ocas1ao .. •
• ,-1
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las de sua própria alma. Quando o inimigo
vem e quer derrotá-los, fazendo-os cair no pe
cado. . . baioneta em punho, êles lhe decla
ram guerra.
Soldadinhos da santa Igreja, cruzados e
pajens da Eucaristia, tomarão parte no ban
quete celestial que lhes prepara o Rei da gló
ria. Se a riqueza de um palácio f ascína uma
criança, que será n·o reino eterno onde tudo
brilha, tudo é puro e infinitamente belo!
Tomàsinho, olhe bem para os guarda�,
sentinelas do ·palácio. Querem dar a vida pe
lo rei Alberto. Você é cristão, é soldado de
Cristo. Deve estar pronto a derramar o san
gue pelo �ei Jesus.
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O MAR
qpenas na intimidad�.
Tom, _enrugando a testa e franzindo a so
brancelha� sabe disfarçar o mêdo quando se
aproxima de alguém.
Enfia na água o pezinho e retird-o. Es
pera que as espumas. das vagas cessem e o
mar - parecendo engolir o Tomàsinho -
não faça tanto l?arulho.
Agora, no colo do banhista, Tomás é um
pontinho prêto na imensa praia.
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:t:le pensa pela primeira vez:
- Só Deus é grande e eu sou tão pe-
quen1no.
Sentindo necessidade do apoio divino,
seus lábios pronunciam uma prece ao Deus_
Altíssimo e Onipotente.
- Papai do céu, eu tenho mêdo das on-
das. Tenho mêdo do mar! V•enha em meu so
corro, Papai do céu!
Fazendo o sinal da cruz, dá corajosa
mente a mão· ao banhista e entra no mar�
Leva no braço o Zuca, boneco-soldado. Es
quecendo-se de. tirar-lhe a farda ensopa.da,)
Zuca apanha formidável resfriado. Durante
três dias ·fica pendurado junto ao fogão pa
ra recuperar a saúd�.
- Zuca, você está melhor?
•
Quer tomar
xarope e caldo quente·, pergunta Tomàsinho
com saudades do brinquedo preferiq.o.
Zuca, porém, ficou para sempre pálido,
desbotado. Finalmente, foi substituído ...
- Zuca, meu Zuca! Como você está bo-
nito! Onde arranjou farda nova? indaga To
màsinho abr�çando e cobrindo de beijos o
querido boneco todo renovado.
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NA LOJA
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A mamãe, conhecendo o caráter do pe
queno explica baixinho ao ouvido da cai-
xe1ra:
- Não o chame de bebê. Meu filho es
tá convencido de que é um homem e não gos
ta de ser tratado como criança.
- Oh! Sim, compree:r,i.do ... compreendo,
· diz a moça sorrindo. Em seguida, dirige-se
ao Tomàsinho com veneração e respeito:
- Penso que êste chapéu de pelúcia fi
cará bem na cabeça da mocinho. O senhor
não quer experimentá-lo?
- Pois não,· pois não, senhorita, respon
de Tomás com visível satisfação. Prestando
se de boa vontade às amabilidades da fran
cesa, escolhe o último modêlo que lhe vai ad
miràvelmente.
- Até logo, senhorita. Até outra vez, diz
o pequeno inclinando-se. até o chão.
A caixeira achando a criança muito in
teressante e original, pergunta ao brasilei
rinho:
- Que língua estava há pouco falando
o senhor?
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- Português.
- Português? Mas vejo que o rapaz se
exprime muito bem em francês.
- Sim, senhorita, também em • inglês,
responde com pretensão única Tomàsinho,
que apenas aprendera três palavras dêsse
idioma.
Sai contente, resolvido a continuar fre
guês da loja, pois, trataram-no com tanta con
sideração!
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o BONECO DE NEVE
( 1) Guignol.
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sadas do Tomàsinho, que se curva de tanto
rir.
Ei-lo agora encantado com a neve, a lin
da e cândida neve, o brinquedo invernal das
crianças européias.
- Papai do céu fêz um· boneco de bar
ro e soprando-o deu-lhe vida e o nome de
Adão. Eu também vou criar um homem.
Juntando, pois, a neve branca e trans
parente, Tomás faz um bóneco estupendo.
- Está pronto, diz êle. Para melhor con
templar sua obra-prima, afasta-se orgulhoso
e desabotoa o sobretudo.
- Fale, meu filho, ordena o Tom. Zico,
fale.
Mas Zico, o homem branco, não fala. Tem
olhos, porém, não vê as coisas; ouvidos, mas
não percebe o som. Com as p·ernas, não an
da e os braços não têm movimento.
- Que falta ao Ziquito? Diga, meu filho,
insiste carinhosamente o Tom. Zico, boneco
de neve, nada responde. Não tem vida.
Jndignadd, Torriàsinho arremessa-lhe a
bengala e o homem branco cai, misturando
se à neve do caminho. Tom desapontado p()r
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não saber criar, apanha um pouco de neve,
última relíquia de seu filho Zico, colocando-a
ingenuamente nos bolsos.
• A
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BAILE INFANTIL
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O baile f�i animadíssimo. Além das dan
ças, não faltaram doces e representações. As
drianças, ensaiadas e engraçadinhas, honra
ram às professôras. Mas. . . o nosso amigo
como pouco conhecido da família, não f ôra
convidado para dançar o �inuete do mar
quesinho e da gentil marquesa. Não tomou
parte na comédia, nem cantou o estribilho
com os camponesinhos.
Tomás não se conteve.
- Eu sei representar, disse à dona da
casa. Canto muito. bem e se a senhora qui
ser, estou as suds ordens.
Que espanto da mamãe ao ver a « do
na da festa » colocar Tom sôbre uma cadei
ra do salão e êste,. afina.ndo as cordas vo
cais, entoar �elodiosamente linda cançone-
ta francesa.
Que triunfo! O futuro tenor fêz sucesso!
, Passou de colo em colo, recebendo cumpri
mentos e palmas a não mais acabar ...
ito
As crianças • 9-evem festejar com mu
amor e alegria o' nascimento de Jesus. Algu
mas i::ião dispensam a linda e ornamentada
pre-
árvore de Natal. Outras preparam um
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sépio com o boi, o burrinho e a manjedoura
de palha, onde reclinàrá,: o Senhor Menino.
Há certas crianças que preparam ainda me
lhor a vinda do Salvador: querem abrigar
Jesus den-tro do coração. Chamam-no por ar
dentes desejos. Preparam-lhe um· bercinho
praticando atos de virtudes. Cobrem-no de
flores com atos de amor. Quando chega o
dia de Natal, elas não vêem, mas o celeste
Menino desce do céu e pela santa Comunhão
nasce no coração ·dessas criancinhas como
outrora nasceu na gruta de Belém!
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0 REI DA GLóRIA
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linda v�ste vermelha e azul cheia de galões,
franjas douradas.
No dia de Ano , Bom, o Presidente fran-
cês recebe no palácio dos Campos Elísios as
felicitações do corpo diplomático pela entra
da do novo ano.
Como sempre, Tomàsinho ajuda o papai
a retirar a farda do armário, mas ... desta vez
o entusiasmo não parece tão grande. A far
da paterna não lhe é mais inacessível ob
jeto. :t:le também possui uma farda, talvez
mais bela do que. a de papai; provàvelmen
te, causará admiràção aos guardas do pa
lácio.
O menino· está convencido de que per
tence à. embaixada brasileira, portanto, re
vestindo-se do traje de gala diz sem a menor
hesitação:
- Papai, eu já estou pronto. Vou cum
primentar o Presidente da República.
Que fazer? Como explicar a Tom que o
Presidente · naquele dia não recebe os pe
queninos?
Tomós não aceita raciocínio. A sua má
goa mqnifesta-se por sentidas e copiosas lá-
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grimas. Os meigos olhinhos estão vermelhos
a ponto de fazer dó ...
Levam-no a passear, mas nada lhe agra
da. João Minhoca não consegue fazê-lo sorrir.
Silencioso, caminha pela calçada. Er
guendo, porém, o simpático rosto, contempla
o céu. Seus olhos atravessando• as nuvens,
•
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COCHEIRO!
..
Que é isto? Uma cartola preta ... luzi-
dia, em cima da mesa?
Que linda!
Para pegá-la, Tom, ágil como um gati
nho, trepa na cadeira,. estica o corpo e o bra
cinho roliço. Sem, entretanto, alcançar a prê
sa, o dedinho do menino· arripia o pêlo do
maravilhoso chapéu.
Ouvem-se passos...
- É papai!
Tornàsinho se assusta. Larga a cartola,
desce depressa da cadeira e, encostado à
parede, fecha os olhos para não ser visto. In
genuidade de criança: pensa que se os olhos
permanecerem fechados, ficará nas trevas -
invisível aos outros.
O papa i passa distraído. Acende um ci
garro e entra na biblioteca. Não vê os trejei-
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tos qu !
� Omàsinho faz para disfarçar o ato
de mahc1osa (?Uriosidad
e.
Afastando-se o Pai, Tbm tre
pa de novo
na_ cadeira· com a· intenção de
apoderar-se
do belo chapéu e experimentar
se êste lhe
serve. ·Mas não alcança o objeto cob
·, içado e
pede o auxílio p·qterno. \_ ·
tola branca.
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O menino tem predileção por alguns co-
cheiros parisienses que usam cartola· branca.
· E com muita seriedade imita-lhes as manei
ras e fisionomias características.
Fica engraçadinho quando, tendo arru
mado algumas cadeiras em feitio de carro,
sobe nas almofadas- à guisa de boléia. Incli
nando o corpo para trás, franze a testa, pu
xa o beicinho inferior e faz-se queixudo. Sa
code no ar as rédeas e o chicote. Eia! Eia!
estalàndo a líng_ua entre os dentes, anima ao
trote e galope os seus cavalos imaginários.
- Ondé de�ejá ir, senhorita? pergunta
Tomás ao passageiro, boneco ou pessoa que
aceita entrar no carro.
Que� lhe aprecia as caretas e o jôgo
de fisionomia, não contém o riso. Garboso e
feliz, pensa ter alcànçado o mais alto grau
de glóría .... é o coch_eiro! Uma cartola bran
ca nimba-lhe a fronte qual coroa de louros.
Larga capa cobre-lhe os ombros � enfeita o
herói. Conduz um carro luxuoso com almo
fadas de veludo, dominando os cavalos. com
as rédeas. Poderá ambicionar coisa melhor?
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JOANINHA
É preciso prestar-lhe
..
.as honras da casa. Tô-
.
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E seu filho predileto, Zuca, o boneco-sol
dado, num instante está instalado no colo
da menina.
- Mamãe, ela gostou muito do balde
com a pàzinha e ancinho; ela pode levá-:- los
para casa, não é?
E se não fôsse a mamãe, que disfarça
damente esconde os divertimentos do filho,
em pouco terppo, os lin.dos brinquedos do·
Tomás - um após outro - passariam a ser
propriedade· dq Jo?ninha.
A. menina está -encantada!
. Ah! se os seus
bracinhos pudessem abarcar todos êsses te-
tesouros ... ela aproveitaria .as pernas e an-
.
·' ,
tes que o 'senhor Tomás se arrependesse,
voaria para casa a fim de escondê-los debai-
xo da cama.
Querendo carregá-los de uma só vez, a
menina tropeça e cai, esparramando-os no
1
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nhosa, chora, e quer chorar. Tom, aflito, sai à
procura de auxílio. Onde está a mamãe? Pa
ra onde foi a gorda e imponente Malvína? O
menino não encontra pessoa alguma no cor
redor e nas salas vizinhas. Volta desconcerta
do, meneando a cabeça ...
Finalmente, tein uma idéia. Vai brincar
de fera. Enrola-se num cobertor e aparece à
porta da sala bravo, ameaçador:
- Sou onça do mato, se você não se ca
la ... eu lhe devoro! Nhau! Nhau! Rooo ...
Joaninha assustada· grita, 'berra.
Então, deixando cair no chão a pele de
bicho, Tomás debruça-se carinhosamente sô
bre a pequenina e diz: •,
- Não chote, Joana, Malvina já vem. O
Menino Jesus não gosta de criança manho
sa. Você conhece o Papai do céu? Foi Êle que
fêz o sol, a lua, ª? estrêlas. Sabe, eu vou to
mar o vapor. Vou para o Brasil! Quer ouvir
a carta de vovó?
Tom vai ao escritório. . . Traz um papel
e os óculos do pap�i para ler o que lhe con
tou a mamãe: « Os pequenos estão cada vez
mais travessos. José Carlos (Zequinha) conti-
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nua a ser palhaço. Trepa em tudo; não sei
como ainda não quebrou pernas e cabeca!
Faz do TIFON seu cavalo de corrida. Tio An-
tônio fundou um clube de futebol. A Carlotí
nha é um encanto. . . parece princesinha ( 1).
O bando está aumentando. Já são nove ne
tos. Quando voltará o meu Tomàsinho?
- Eu vou já, exclama o Tom resoluto e
comovido.
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SUBAM A·s. MALAS
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raiar da aurora, a bola de fogo saindo de
dentro do mar. Quanta coisa bonita!
O garôto ouve os passarinhos alegran
do a alvorada com suas melodias. O sabiá.
trepado num galho de árvore, parece convi
dá-lo a regressar à pátria.
De repente, Tom acorda e sentando-se
na cama resmunga:
- Hoje mesmo partirei.
- Esfrega os olhos, mas não enxerga ...
ainda é noite. Papai e mamãe dormem. Tom
deita-se novamente para esperar o amanhe
cer. Dorme outra·vez. No « País dos Sonhos»,
abraça com ternura a patativa, o sabiá e até
o interessante bem-te.:vi. De rrianhã cedinho,
êle está de pé.
- As malas, subam as malas, ordena
Tomás debruçado no corrimão da escada, de
cidido a voltar ao Brasil.
Pensa que tudo ficará pronto num quar
to de hora. Jogando na mala os brinquedos
em desordem senta-se sôbre a bagagem e,
I
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BRASIL!
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parte nos festejos organiz.ados pelo tio An
tônio.
Carlotinha, a impagável Carlotinha, dan
ça, ri, chora, engatinha, exibindo tôdas as
gracinhas de um bebê esperto e travêsso.
Finalmente, deita-se a fim de tirar uma so
neca em pleno dia, pois, está exci�adíssima.
As manifestações continuam durante o
almôço: um peru à brasileira, enfeitado com
farofa e rodelas· de limão, aparece rios bra
ços do copeiro. Tornàsinho, sentado no lugar
de honra entre o vovô e a vovó, recebe de
zenas de telegramas: Felicitações dà Presi
dente da República Francesa - Parabéns do
Rei dos Belgas - Congratulações da Alema
nha - A velha Inglaterra num brinde se faz
representar - Saudações dos 'Escoteiros -·
Cordial abraço do Sacristão.
-
- Como é que êles me conhecem? Co-
mo sabem que· eu cheguei, pergunta o Tom
jubiloso, quase em. êxtase, deixando transpa
recer nos olhos, nos lábios, na face o exces
so de felicidade.
Correio, telégrafo, telefone e jornais se
alegram pela chegada do brasileirinho.
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- Como é que todos 1110 conhecem? rc-
pete o menino, sem perceber o sorriso mali-
cioso de um dos titios, autor da brincadeira.
Quantas crianças experimentam a ale
gria, que enche o coração, quando inicia o
ten1po de férias ou voltam à casa paterna
após longa viagem ...
Como deve ser imensa a felicidade do
cristão ao, chegar no céu, em casa do Pai ce
leste, depois dos anos passados na terra em
vida santa e virtuosa.
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HERól DO DIA
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-- O cnrrcgodnr �-�ocodo Ofj ombro:::, vira
as costas e 1nunnurn corn or de de�;prézo:
- Cáspilc! Gci lá, no rnoio de tr1nta ba
gage1n, onde estão oB presentes e brínque
dos? Levo-a tôda parcJ o segundo andar e o
1nenino que se arranje!
� '
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bem assim soldados mutilados, sem perna
nem cabeça ...
Ninguém ficou· na Europa. Todos, todos
vieram à pátria do ilustre e digníssimo Tom!
À medida que os brinquedos saem da
mala, a velha cobiça aparece e os bracinhos
das crianças se estendem:
- Deixe-me ver. . . Ah! que lindo .. Que
maravilha! Ah! se êsse brinquedo fôsse meu ...
- Tom, eu quero êste. Você me dá? pe
de o Herculano, mostrando um lindo auto-
� móveL
- Tom, eu ·sou seu amigo, seu grande
amigo. Voc_ê quer me dcw êste cavalo? insis-
te Heitorzinho.
- Pode, pode levar, ·diz o recém-chega
do num bondoso gesto .. ·
Carlotinha, que ainda· não distingue o
que é meu e o que é seu (par� ela tudo é
nosso) ., entra por u�a porta e sai por outra.
Carregando um urso peludo, um balde, ar
rasta pelo chão o borieco-soldado, o Zuca,
que radiante por sair da mala, depois .de tão
longa viagem no porão do navio, ri m0stran-
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do os dcn tcs ô u1ãc carinhosa que lhe vai
prodigalizar beijos e abraços.
Os petizes fican1 1naravilhados com êsse
abundante bazar.
Ton1àsinho, andando de um lado para
outro, assiste à cena· com ar de superiorida
de. Ensina, a um, o mecanismo do trem; pa
ra outro, abre uma caixa ou dá corda no ca
minhão; para um terceiro, . arruma um ba
talhão.
Na realidade, é êle o herói do dia, mas
não se deixa cativar• pelos brinquedos, seus
velhos conhecidos. Alegra-se sobremaneira
� .
com o prazer que esses proporcionam aos
priminhos. Goza a verdadeira felicidade de
estar cercado pelos carinhos da famíl.ia e de
ter, enfim, regressado ao ·· seu querido Brasil.
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MESTRE-ESCOLA
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E o ilustre professor abrindo a pasta, re
gistra: Carl otinha da Silva com ano e meio
de idade e Babá com ... (no mínimo noven
ta e nove pensa o Tom. E para maior preci
são interroga a Babá:
- Qual é seu ·nome, minha senhora?
- Cloudina Coelho.
- Quelho se escreve com Q ou K?
- Não sei lá muito direito, mas parece
que minha letra é a mesma que a da Car
lotinha.
- Muito bem. Sua idade, faz favor?
- Em janeiro vindouro vou fazer sessen-
ta e dois.
- Como? Sessenta e dois? Não é possí
vel (Tom suspende a pena). Minha senhora, .
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Venha cá, senhor lviário, quer apren-
- !
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Mestre Tom dá gostosa gargalhada e
matricula imediatamente êste aluno de gran
des esperanças ... Que vai fazer o Mário?· O
menino, que na realidade conta dois anos e
n1eio, está armado de tesoura, pente, escôva
e de uma lata de grude. Exercita êle a profis
são 1e cabeleireiro? Para que esta lata de fa
rinha de trigo? Tom segue o futuro discípulo
e muito interessado indaga:
- Mário, o que você está fazendo?
- Êle é meu a:r;nigo. Gosto de brincar
com o Manduca, mas . . . o cabelo . dêlE3 me
arrepia. Fico todo arrepiado, di� o Mário
apontando um negrinho de cócoras no gra
mado. Eu tiro fios do meu cabelo e planto
os na cabeça do Manduca; depois prendo os
fios com grude para nascer cacho louro, igual
ao meu!
Tom reprime o riso. Não convém ao pro
fessor dar tantas gargalhadas diante dos alu
nos. É certo que os cabelos de ouro do Man
duca nunca nasceram. O negrinho também
foi aprender a ler na escola do professor To1n.
lvfário prometeu que o pai pagaria as duas
matrículas.
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· C o_m mais três ou quatro discípulos o
colégio está completo. Sacudindo pesada
campainha, o «mestre» começa as_ aulas.
- Antes· de tudo, diz êle, vamos ao ca
tecismo. Mamãe me ensinou que Deus deve
estar sempre acima de tôdas as coisas. Co- .
mecemos pela aula de religião. Deus fêz um
boneco de barro para criar o primeiro ho
mem. Em seguida soprou, dando ao boneco
o nome de Adão. Que aconteceu?
Heitorzinho prontamente responde:
- Papai do céu soprou e. . . Adão caiu
para trás�
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DESASTRE
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Bem-berem, bem! Plem-pem! Um estron
do medonho se faz ouvir na rua. Tifon late
tristemente e corre para 6 portão. Mestre e a
lunos chegam à janela. O auto, onde estão tio
Antônio e Ari, levou forte trombada. Farói�
e faroletes quebraram-se; o pára-brisa ficou
em pedaços, a «baratinha » amassada, tortos
os pára-lamas e portas.
- Capotou! Derrapou! Ari está ferido.
Tem sangue!
Morreu. . . gritam ds crianças assusta
. díssimas.
O professor fecha· a escola e os alunos
disparam em debandada pelo jardim a fora.
Aproximam-se do portão, local' do desastre.
.
'
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E o Mário balo corn Iôrça no por;to cul
pado.
Graças a Deus, não íoi grande o clofXJB•
tre. Tio Antônio empalideceu, por6rn, não fi
cou ferido. E o Ari sai do carro, maír.; morto
do que vivo de susto, apenas com um galo
na testa, arranhões nos braços, roupa man
chadà de graxa e gazolina.
- Tom, Herculano, levem éste pequeno
para o porão. Não deixem titia ver o filho an
tes que a Babá lhe troque a roupa, ordena
tio Antônio.
Ao ouvir o barulho, acodem mamães e
titias.
- Ari, onde está o Ari? pergunta allita
a mãe do pequeno.
- Espere, titia, o Ari está escondido pa
ra você· não se assustar. !:le ficou feio, co:n
sangue e ferida, conta Heitorzinho fazendo
careta de nojo e tristeza.
- Meu filho, onde se encontra? indaga
ª mãe nervosim:;ima. O menino podia ter h
cr1do . . .
--- EGmignlh rJ clo!, con1plcta o l·lcdor:.inho
�J<:rn Pon�inr no quo diz. Ficou oHllliqnlhndo.
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-. Migaiado, repete Mário. Sabe, titia, o
farolzinho também ficou migaiado. Não acen
de mais! Ari e o farolzinho estão migaiado!
- Não digam tolices, meninos, repreen
de a tia cada vez mais apreensiva. Onde es
tá o Ari?
- Não sei, responde Heitor. Puseram-me
para fora e esconderam seu filho no. quarto
do porão para você não ver. . . Êle está mui
to feio, prêto e cheio de sangue. Tio Antônio
proibiu a gente ir lá. Que horror! Êle vai mor
rer, não é, titia? · O automóvel ficou esmiga
lhado! Que desastre! ,
A pobre mãe sai à procura do filho, en
contrando-o rodeado pela criançada deve
ras atarefada. . . Quer deixar o companhei
ro lavado, penteadinhb e bem tratado.
A fim de não assustar a mamãe do Ari,
tio Antônio, o ajuizado tio Antônio, achara
melhor esconder o sobrinho para que ela não
o visse todo sujo, embora pouco ferido.
Pobre mãe, assustou-se ainda mais!
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A FRUTA DE CONDE
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Cruza os braços, franze o sobrolho e con
tinua o monólogo:
- Ora essa, vou perder a pinha por cau
sa de um capricho' de Heloísa? Isto é que não!
A fruta é minha. Se o vovô estivesse aqui,
dar-me-ia a fruta inteira!. ..
Abrindo a geladeira, saboreia a outra
metade da pinha. Está deliciosa. . . fresqui
nha, bem amadurecida e em ponto de ser co
mida. ótima! porém, mal o Tomàsinho aca
ba de projetar no prato o último caroço que...
ai! que dor! que dor de con.sciê:p.cia! Por que
tirou ·a fruta? Por que não se contentou com
aquela metade que lhe havia dado Heloísa?
.
.
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água e sabão. Retira da pele as nódoas da
fruta, mas não consegue lavar as manchas
de sua culpa. A falta cresce na imaginação:
de pequenina se faz grande . . . e toma pro-.
-
porçoes enormes.
De um pedregulho formou-se uma mon
tanha pronta a esmagar a consciência do
Tomás.
A gotinha de água virou mar!!!
O pobre Tom triste e acabrunhado ima
gina a futura cena: H�loísa procura a pi
nha. . . não a encontra. Que vergonha! A
fruta inteira se acha no estômago do Tom.
Que remorso, que dor de consciência. Êle
tanto cuidado tem com a limpeza da alma,
caiu fàcilmente no ·pecado.
Deixando aberta ·a torn�ira da pia, o sa
bão mergulha na água como a representar
o aflito estado de sua alma, corre, corre o
Tomàsinho à procura de salvação.
Correndo sempre,. desce as escadas, a
bre o portão e_ rua a fora, cabeleira e grava
ta ao vento, lá se vai o nosso Tom.
Apressa o passo sem olhar para trás. Pa
rece-lhe que um animal prêto o persegue ...
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tem asas de morcego, chifres pontudos e pa
tas de bode. É o diabrete mentiroso do amor
próprio que lhe aconselha silêncio de sua
falta, acusa-o de roubo e gula. Quer puxá
lo pelo casaco, para mostrar-lhe aumentada
de pêso e tamanho.... a outra metade da
fruta!
Tom portou-se como um grande homem.
Foi decidido e corajoso ao compreender o êr
ro. Assim que sentiu a perturbação invadir-
1he a alma, correu ao confessionário a pedir
ao ·padre absolvição de sua culpa.
O sacerdote de· Deus, bondosamente o
recebe e em nome de Jes:us tranqüiliza-lhe a
consciência aflita.·
A criança recebe uma grande bênção,
a absolvição sacramental que apagando tô- .
da falta, restitui a paz e tranqüilidade à sua
alma.
Se algum dia o pecado
A sua alma deslustrar
Um padre procure logo,
Para sua falta acusgr.
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íNDIOS GUERREIROS
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de crianças. Sabe 1nantcr a disciplina, qual
bravo general.
Instala-se a peqt1cna tribo à beira de um
igarapé, na chácara de São Francisco. Se
guido pelo Tifon, cão de guarda, Heitorzinho
traz feixes de taquara para armação da ten
da ou 1naloca. José Carlos, ajudado pelo Ari,
cobre a barraca com fôlhas de palmeira bu
riti, enquanto Herculano amarra os cipós. Em
grupo afastado, as priminhas Rosita, Maria
Elisa e Nini atiçam o fogo. Abanando as bra
sas, preparam delicioso « cozinhado » para os
selvícolas da tribo dos terríveis Macuxi�.
Tomàsinho, com a seriedade que costu
ma empreender tôdas as coisas, está conven
cido que é índio e índio bravia. Com extrema
repugnância, deixou-se lambuzar o rosto e
estoicamente tolerou que o pintasse com pa
pel vermelho, rôlha queimada para imitar a
tintura do urucu ou genipapo usada pelos
índios.
Descalço, esbelto e elegante com a co
roa de penas em volta da cabeleira crêspa
e dourada, Tom, destaca-se do grupo, colo-
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ca um joelho na relva e maneja graciosamen
te o arco e a flecha.
O sol declina. Perfume agreste invade a
atmosfera. São quatro horas da tarde, mas
os selvagenzinhos querem que para êles se
ja a hora do crepúsculo. Tio Antônio, ou an
tes o capitão Arpó, rifle em punho, faz aos
ouvintes estendidos no chão a sua arenga.
- Vamos exterminá-los.· Prometi a meu
pai, velho Cacique, que a morte de Pitá e
Paqui seriam vingados. Prometi! Eu, filho do
Cacique. Morrerei na �recha, envenenado
por uma fle�a, porém, n?ro defxarei · passar
mais um só dia sem atacar a tribo Uapia·na
que vive à margem esquerda do rio Urari
coera.
Assobios estridentes e continuados ma-
l
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{ t/ ', . �I!
/""
� : � � li
V: .\ Yj
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Macuxis. Em algaraviada· de atordoar
par
tem os pequenos ao encalço da tribo Ua
pí-
xana.
- Eis o inimigo, diz o Zeca ao avistar a
tribo selvagem.
- Que r:ienhum seja desertor, troveja o
tio Antônio. Lembrem-se que a vingança é
a alma do tapuia! Que nenhum fique fora
de combate ou eu lhe darei a rriorte.
Assim falou Arpó, o filho da floresta, o
capitão dos Macuxis, apontando uma peque
na espingarda e, altivo, faz valer a superio
ridade dos seus treze anos.
Os meninos se atiram uns contra os ou
tros; travam rude combate. Três, quatro, caem
feridos ou· fingem, de mortos.
Ao longe, cruz na mão, desce a colina 0
pregoeiro da boa nova, um missionário em
miniatura. Não receia a flecha envenenada.
o ar
l\Jão teme a morte. Não tem mêdo do lh
flamejante qu lhe lança Arpó enfurecido e
e
que lhe proíbe de aproximar-se. O i· n t re'pido
_
�crvo de Deus, o anjo da paz vem s a!var al
_
rna s. D csprcz v1d a.I A v 1 r1 1 n h a -s e
a a pr6pria. ' ·· � de
da t 'bo
n guerreira e ensina- li P c· rdao
°
. . 10
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Cristo. Mostra-lhe na cruz o Salvador, que
derramou o Sang ue divino a fim de pedir a
Deus misericórdia para seus inimigo s.
O chefe Arpó estremece... o .sangue fer
ve-lhe nas veias. Grossas gotas de suor cor
rem-lhe pela face bronzeada, coberta de ta
tuagem.
A vingança é a alma do tapuia, mas a
caridade é a invencível arma do soldado de
Deus. E tão fortes· são as palavras do missio
nário que o ó�io se· derrete no coração do
filho do Cacique. O jovem Arpó prostra-se
em terra e beija .a cruz do Salvador!
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MISSIONARIO
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Corajosamente, em legítima defesa, Tom
pega na carabina - uma carabina Winches
ter, igualziriha a que êle viu na loja - e
apontando-a para o bugre, mata o s�lvícola.
- Pobre índio! Para onde irá você de
pois da morte, reflete· Tomás. Para onde irá
sua alma?
Nunca o selvagem _ouviu falar de Jesus,
nem mesmo da bondade do
Pai celeste que
alimenta o passarinho, veste o lírio do cam
po e faz descer a chuva sôbre os bons e•maus.
Vi_ngativo e feroz, se durante a vida o bugre
segue perversos inst�ntos, como irá depois
da morte na sociedade dos· anjos e dos san
tos? Pobre índio!. Nunca foi lavado pelas á
guas do Batismo. Êle sofre e não tem quem
o ampare. Triste, ninguém o consola. Pessoa
alguma lhe fala de Deus, que o ama ta nto.
Ah! como Tomàsinho tem pena do índio, tem
compaixão. do infeliz selvícola. . . Mãos nos
bolsos, pensativo, cabecinh a erguida, Tomás
volta para casa. Trepando em alto galho, uin
sabiá gorgeia· maviosamente. Parece ser
aquêle passarinho q
ue o Tom viu no sonho,
quancio ainda estava na Europa. O sabiá·
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convida agora Tomàsinho· a ir civilizar os sel
vagens n·as matas virgens do Brasil.
- Ah! sabiá, eu quisera ser grande, mas
dizem que sou pequenino, que sou criança.
Mamãe não me deixa ir ... Tenho só dez anos!
Após certo momento de reflexão, o me-
nino exclama:
- Sabiá, você não percebeu a· nossa
brincadeira? Não viu como o missionàriozi
nho apaziguou os Índios do Amazonas?
Pois, são os missionários que amansam
os selvagens, continua o Tom. . . Mamãe
contou que pregando os santos Evangelhos,
os padres, ensin•am ao índio amar a Deus e
praticar o bem.
Colocando o, dedinho na testa, .diz:
- Tenho uma idéia! Espere, sabiàzinho,
mais tarde serei missionário. Quero salvar os
pobres índios. Vou civilizá-los, falando-lhes
do Papai do· céu. Do norte ao sul, serei a
póstolo nesta querida terra de Santa Cruz.
Avante Tomàsinho trabalhe para Deus,
. I I
85
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INDICE
" 13
Soldado da Pátria
O palhaço 16
li
O transatlântico 21
li
No hotel 24
li
O diplomata
li
28
O mar 31
" 33
Na loja
O boneco de .neve
li
36
" 40
Baile infantil
O rei da glória
ti
43
Cocheiro 46
ti
·· foaninha 50
Subam as malas
li
54
Brasil 56
li
Herói d� dia 59
li
Mestre-escola
li
64
Desastre li
69
A fruta de Conde 73
f ndios guerreiros 77
Missionóri� 83
li
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