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Kalinda, a princesa que
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perdeu os cabelos, e
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outras histórias africanas
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Celso Sisto
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2a edição
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Para Thanira Pillar e Jô Remião,
minhas parceiras no desejo de erigir
um Labirinto de Papel...
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C. S.
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Todos os direitos reservados.
Nenhuma parte desta obra, protegida por copyright, pode ser
reproduzida, armazenada ou transmitida de alguma forma ou por
algum meio, seja eletrônico ou mecânico, inclusive fotocópia e
gravação, ou por qualquer outro sistema de informação, sem prévia
P
autorização por escrito da editora.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
S636k
2. ed.
Sisto, Celso
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Inclui DVD
“Suplementado pelo manual do professor”
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Algumas palavras sobre essas histórias……………… 4
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Kalinda, a princesa que perdeu os cabelos……………
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Rafik, o menino do grão de ouro……………………… 31
O autor e ilustrador…………………………………… 63
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Algumas palavras sobre
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essas histórias...
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D iz um ditado africano, em língua fon, que
“cada um guarda para si seu acaçá”. Podemos
entender isso de muitas formas: cada um guarda para
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si o seu próprio pão (alimento); ou cada um sabe do
que precisa; ou cada um tem o que merece; ou cada
um quer as coisas só para si (o que, neste caso, remete
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a uma visão muito egoísta). Seja como for, a verdade é
que as histórias africanas me fascinam! Para mim são as
histórias populares mais bonitas que existem. Elas são
fortes, têm uma musicalidade, um ritmo, uma visua-
lidade, uma teatralidade que me fazem considerá-las
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mas fazem parte da vida, e precisamos aprender a
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lidar com elas.
As histórias africanas não ignoram isso, afinal, con-
tar também é uma maneira de chamar a atenção, de de-
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nunciar, de colocar todo mundo para pensar (e, quem
sabe, debater?). Por isso, gosto ainda mais dessas histó-
rias, que não são como todas as outras.
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“Kalinda, a princesa que perdeu os cabelos” é um
caso de amor à primeira leitura! Desde que li esse con-
to, ainda em inglês, publicado numa coletânea de con-
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tos chamada African Folktales, não parei mais de pensar
na beleza dele.
Durante muito tempo a história me perseguiu,
até que resolvi contá-la do meu jeito. Claro, para
isso empreendi uma grande pesquisa e ouvi e li ou-
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bastante poético.
Esse escritor tem uma vasta obra de contos popula-
res publicados para crianças e uma reconhecida traje-
tória como autor, ator e dramaturgo tanto em seu país
como também no Canadá, na Alemanha e na Suécia.
O que me encantou desde sempre nessa história
foi especialmente a imagem de uma princesa careca e
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a valentia de Muoma, que por amor vai até o fim do
mundo. É claro, essa é uma história de amor, mas não
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é melosa, e tem imagens lindas e um universo de fan-
tasia que me agrada totalmente. As histórias africanas
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quase sempre valorizam as forças da natureza, o respei-
to à tradição e aos antepassados, e trazem experiências
marcantes. Tomara que o leitor goste tanto quanto eu!
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Mas cada escritor tem um modo de contar, de subli-
nhar os episódios, de valorizar as palavras, de construir
os personagens e colocar em sua boca falas que acabam
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por diferenciar um trabalho do outro.
Quando se reconta uma história, existe a questão
do respeito à tradição oral e da liberdade de conduzir
a narrativa de um jeito próprio, sem, contudo, estragar a
essência da história. Mas há também a gratidão aos que
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encanto e magia (que também vamos encontrar nos
contos maravilhosos que conhecemos há tanto tempo).
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As outras histórias que compõem este livro têm
como fonte principal a obra Los cuentos pasan… le-
yendas e imágenes de la Costa de los Esclavos, de René
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Trautmann, além de pesquisas pessoais.
Tanto “Alizué e a árvore do esquecimento” como
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“Messan, o camponês que ouvia a voz da natureza” são
contos popó, da antiga Costa dos Escravos, atual Benin.
Alizué me encanta porque me lembra a história da
Gata Borralheira e outras tantas que premiam aque-
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les que estão dispostos a se doar e a ajudar os menos
favorecidos. Gosto do nome Alizué, pois tem uma do-
çura e uma bondade que se contrapõem à maldade e
à ganância de Breni e sua mãe; a história tem objetos
mágicos, o famoso calulu (que você vai ficar conhe-
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a berinjela e o inhame.
Já a história do homem que entendia a lingua-
gem dos animais, “Messan, o camponês que ouvia a
voz da natureza”, é ao mesmo tempo familiar e nova.
Tem um toque de fábula, em que os animais falam e se
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comportam como os homens, mas tem também a força
inexorável do destino e a força de Messan para recome-
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çar sempre. A amizade do cão e a simbologia do número
sete fazem parte da história. Por ali também desfilam
animais tipicamente africanos.
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“Rafik, o menino do grão de ouro” é um conto po-
pular da Argélia. Nessa história me encanta a esperteza
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do menino para sair da enrascada.
“Natula, a mulher dos beiços compridos” é um con-
to popular banto do sudoeste de Angola. Há nele uma
grande carga de brincadeira e humor, mas também um
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toque de terror, que sempre fascina os leitores. E a mim
também! E o Papão que aparece na história tem muitas
semelhanças com o nosso Bicho-Papão.
Os contos populares africanos me devolvem as raí-
zes do mundo. E trazem (imaginariamente) as vozes an-
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experimentar também? Então, mãos à obra, ou melhor,
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olhos e tudo o mais na história! Boa viagem! Boa colhei-
ta! Boa safra! Bom apetite! Bom e feliz retorno! Afinal,
precisamos retornar das histórias para a vida sempre, e
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com alegria para espalhá-las pelo mundo!
Celso Sisto
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Kalinda,
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a princesa
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que perdeu
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os cabelos
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A conteceu há muito, muito tempo. O rei tinha
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uma filha chamada Kalinda. E ninguém duvi-
dava que ela fosse a moça mais bonita do mundo. Seu
rosto reluzia como a superfície de um lago banhado
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pela lua. Os olhos faiscavam como o céu estrelado. Mas
eram os seus cabelos que encantavam as pessoas, pois,
além de terem uma cor especial, ainda eram adornados
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com pérolas e diamantes. E tocavam o chão, iluminan-
do o caminho por onde ela passava e espalhando um
suave perfume de madeira.
Além dos presentes que a moça recebia do rei para
enfeitar os cabelos, como flores, cristais, joias e turban-
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Tudo era feito na maior alegria. Depois, a princesa
saía a passear pelo reino, só para ser admirada pelos
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súditos, que por vezes diziam: “Kalinda jamais poderia
viver sem esses seus lindos cabelos”.
Numa manhã em que a moça estava na fonte do jar-
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dim, um pássaro surgiu de repente. Era um pássaro de
grande cauda, com a cabeça coroada por uma crista de cor
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esverdeada e com olhos e bico vermelhos, que lhe davam
um aspecto sinistro. Pousou na árvore mais próxima e
disse com toda a suavidade:
— Linda menina, seus cabelos são os mais bonitos
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que já vi. Falam deles em tantos lugares que eu queria
vê-los com os próprios olhos.
Kalinda abriu um sorriso tão lindo quanto as flores
que trazia nas mãos. E respondeu cheia de satisfação:
— Fico contente em ter o mais adorável cabelo de
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— Como se atreve a me fazer um pedido como esse?
Meu cabelo maravilhoso para ser usado num ninho de
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pássaro? Amo os meus cabelos mais do que qualquer
outra coisa nesta vida! Vá embora ou chamarei os sol-
dados de meu pai para prenderem você!
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— Eu posso pagar por seus cabelos, princesa! — in-
sistiu o pássaro.
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A moça ficou ainda mais furiosa.
— Não lhe darei um fio sequer do meu inigualável
cabelo. Fora daqui!
O pássaro sorriu e declarou:
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— Você vai se arrepender, adorável princesa — e
cantou majestosamente a enigmática canção, que mais
parecia um aviso:
Não se esqueça,
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O vento começou a soprar mais vezes, de todos os
lados, dia e noite, trazendo sons estarrecedores e dei-
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xando rastros de desordem. Do lado de fora dos apo-
sentos da princesa, as árvores logo ficaram nuas e em
pouco tempo as folhas mortas cobriram o chão até se
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perderem de vista.
Com a princesa Kalinda não foi diferente. Seus ca-
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belos começaram a cair e de um dia para o outro não
sobrou um fio sequer no alto da cabeça. Mais do que
nunca ela ia precisar dos seus turbantes coloridos.
Primeiro veio a raiva. Depois a revolta. Por fim, a
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tristeza tomou conta de Kalinda. E por mais que suas
acompanhantes afirmassem: “Não se preocupe, prince-
sa. Eles vão crescer novamente”, ela já não podia acre-
ditar nisso com tanta força.
Durante dias, Kalinda não quis sair dos aposentos
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— Fique tranquila! Em breve você terá seus cabelos
e sua beleza de volta, minha filha.
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O rei convocou todos os sábios e magos do reino e
prometeu muitas peças de ouro para quem conseguisse
recuperar os cabelos da princesa. Poções foram enco-
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mendadas, feitiços foram executados, banhos, rituais,
oferendas, tudo foi tentado. Mas nada deu o resultado
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esperado. E a princesa continuava sem cabelos. E cada
vez mais chorosa. E cada vez mais desesperada.
Numa noite de imensa tristeza, Kalinda teve um so-
nho. Viu um jovem dançando e cantando ao redor de
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uma árvore que produzia cabelos. Acordou afoita, agi-
tada, mas com uma pontada de esperança.
O sonho se repetiu uma vez mais. Na noite seguinte,
ela viu novamente em sonho a árvore dos cabelos, o jo-
vem rapaz e as sementes que ele lançava ao chão e que
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Mais uma vez o rei convocou seus sábios e magos.
Ordenou que descobrissem onde ficava a árvore dos ca-
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belos. Prometeu muito mais ouro que da primeira vez. E
naquele reino não se falava noutra coisa. Mas ninguém
de fato tinha visto nem ouvido falar da tal árvore. Os
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sábios foram os primeiros a desistir da busca; os magos
tentaram toda sorte de magia durante meses a fio; os
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soldados, que costumavam cruzar outras terras em suas
batalhas, não trouxeram nenhuma informação segura.
Nem os contadores de histórias, em seus delírios criati-
vos, puderam imaginar onde estaria enraizada tal árvore.
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Porém, naquele reino havia um jovem rapaz pobre e
solitário, chamado Muoma, que vivia no meio da flores-
ta e conhecia bem a língua dos pássaros, dos animais e
das coisas que brotavam da terra. Quando ficou saben-
do que o rei tinha convocado todos os súditos para pro-
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poderia perder.
Foi à presença do rei e lhe prometeu que encontra-
ria a árvore dos cabelos, mas, como era muito pobre,
precisava de provisões para a viagem, que ele não sabia
quanto tempo poderia durar. O rei deu-lhe comida e
água o bastante para uma longa jornada, e ele partiu,
carregando ainda seu arco e suas flechas.
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Muoma andou muito pelo mundo. Esteve nos luga-
res mais distantes, viu árvores de todos os jeitos. Árvores
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que tinham dedos, árvores que tinham olhos, árvores que
corriam atrás daqueles que se aproximavam, árvores que
cantavam, árvores grandes e fortes que serviam de casa
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para elefantes, árvores com asas, até árvores que engo-
liam todos os pássaros que pousavam em seus galhos.
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Durante muitos meses, Muoma conversou com os ani-
mais, falou com os pássaros, perguntou às plantas sobre a
árvore dos cabelos, tudo sem sucesso. Quando finalmente
achou que a tal árvore poderia estar escondida do outro
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lado do vasto mar, fez um barco e partiu pelas águas.
Depois de muitos dias, com o vento soprando para
leste, ele chegou a uma pequena ilha deserta. Nela havia
apenas três árvores, uma de diamante, uma de ouro e
outra de prata. Ele prendeu o bote na margem da ilha,
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o conduzisse adiante. Não demorou muito e um raio
excessivamente luminoso cruzou o céu. Num instante
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um pássaro de grande cauda, com a cabeça coroada por
uma crista de cor esverdeada e com olhos e bico verme-
lhos despencou no barco e olhou Muoma diretamente
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nos olhos, antes de pedir quase sussurrando:
— Aqueles feijões vermelhos que você pegou na
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ilha... abra uma vagem... e me dê, depressa!
O pássaro comeu e recobrou as forças. Então, disse
mais alto:
— O que você faz aqui tão longe de tudo e de todos?
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Nunca ninguém conseguiu chegar até aqui.
Muoma contou ao pássaro a história da filha do rei,
a perda dos cabelos, o sonho com a árvore mágica que
produzia uma infinidade de cabelos e seu desejo de aju-
dar a moça infeliz.
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forças iam e vinham, e a cada vez Muoma tinha de lhe
dar mais e mais feijões vermelhos. Por fim, quando ha-
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via apenas um, o pássaro revelou:
— Ainda bem que você trouxe consigo essas vagens.
Do contrário, eu o teria devorado. Agora volte para casa
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e diga à princesa para plantar esse último feijão em seu
jardim. Só ela pode fazer isso. Só ela pode regar a se-
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mente com suas lágrimas em noite de lua cheia...
Depois dessas instruções, o pássaro voou e, como
num passe de mágica, desapareceu no céu. Mas não
pense que foi fácil voltar para casa. Muoma teve de an-
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dar por muito mais tempo para encontrar o caminho de
volta. Teve de enfrentar as maiores secas e as mais lon-
gas chuvas. Foi obrigado a transpor montanhas e rios.
Teve de fugir de animais ferozes e grandes pássaros fa-
mintos e por várias vezes quase perdeu o último feijão
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Tudo aconteceu mais ou menos como no sonho da
princesa. A semente foi colocada na terra. E, quando
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recebeu a primeira lágrima do arrependimento, imedia-
tamente se transformou numa árvore tão alta que quase
tocava o céu. A árvore, por sua vez, se encheu de flores
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vermelhas que, depressa, se transformaram em frutos,
que logo se abriram derramando música no ar e de onde
saíam fios de cabelos que desciam até o chão.
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Mas foi Muoma quem primeiro se aproximou da ár-
vore, colheu os primeiros fios e os colocou de volta na
princesa Kalinda. E, como se nunca tivesse sido dife-
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rente, os cabelos voltaram a fixar-se na cabeça da moça
e logo, logo estariam brilhando e perfumando aquela
maravilhosa noite.
Em seguida, houve música e dança. Risos e alegria.
O rei e todo o reino festejaram os cabelos da princesa
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Alizué e
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a árvore do
esquecimento
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M eu conto corre, corre, zuiiin!, até chegar à
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casa de Alizué, a menina doce.
A doce Alizué canta, suave, como os galos depois que
anunciam o amanhecer. A doce Alizué se move com a le-
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veza do vento quando sopra por entre as folhas das laran-
jeiras. A doce Alizué olha tudo com o mesmo carinho da
pantera, que abraça seus filhotes enquanto os amamen-
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ta. E, assim, por onde passa, Alizué ouve: “Aí vai a doce
Alizué, graças!”. É o que sussurram a natureza, as pedras do
caminho, as árvores da floresta, os raios do sol, as águas
do rio. Só para arrancarem de Alizué um pequeno sorriso.
A mãe da moça havia morrido e desde então ela vivia
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sistia a tia.
— Tenho fome! Vá moer a farinha, sua preguiçosa!
— mandava a prima.
— Depressa, Alizué! Quero agora os pães de acaçá1 —
ordenava a tia.
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Farinha de milho branco, preparada em forma de bolinho cozido, que se vende enrola-
do em folhas de bananeira.
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— Alizuééééé, traga meu calulu!2 — gritava a pe-
quena Breni.
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A pobre órfã vivia cansada e envolta em panos es-
farrapados. E ainda por cima tinha sempre as mãos ma-
chucadas de tanto pilar, moer, esfregar e amassar.
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Um dia Alizué deixou cair um prato, que se quebrou
em muitos pedaços. A tia ficou furiosa:
— Fora daqui, anda! E só volte quando me trouxer
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outro prato, igualzinho!
A menina foi posta para fora de casa debaixo de pau-
ladas. E Breni ainda aproveitou para ajudar a mãe com
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uns empurrões e uns beliscões.
Desesperada, Alizué primeiro correu para bem lon-
ge dali, sem ver para onde ia; depois caminhou um pou-
co mais devagar, mesmo sem rumo. Por fim, cansada de
tanto chorar, cheia de arranhões e feridas nos pés, sen-
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Guisado primitivo composto por carnes, legumes, frutos e raízes.
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Alizué não sabia mais quanto tempo havia passado.
Mais de um dia, certamente, se não mais... Tinha sono,
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fome, medo, frio, mas o perfume doce daquela árvore
encheu-a de esperança.
O vento, então, soprou mais forte, espalhou o chei-
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ro no ar. A menina sentiu um aroma bem familiar, viu
uma sombra e, quando levantou os olhos, estava na pre-
sença de sua mãezinha, que lhe perguntou:
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— Por que chora, minha filha?
— Mamãe! Deixei o prato cair. Ele se quebrou e agora
não posso mais voltar para casa, até que consiga outro igual!
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A mãe levantou carinhosamente o rosto da filha e
lhe disse:
— Tome, minha filha, tome este pedaço de pau e
bata na terra sempre que precisar! Assim. Dáradára!3
Da terra, apareceu um prato. Igualzinho ao que
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Muito bom; tudo certo.
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— Bastão, me dá dois pratos de berinjela e uma ca-
baça de milho e inhame.
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Só depois de saciar a fome e dormir um pouco é
que Alizué percebeu que já não vestia mais aqueles tra-
pos e que estava coberta de ornamentos de ouro.
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Correu de volta para casa. Quando a tia e sua filha
Breni a viram de volta, trazendo na mão um bastão, o
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prato devido e, ainda por cima, vestida com panos novos
e enfeitada como uma princesa, ficaram impressionadas.
— Quem te deu tudo isso? — perguntou a tia.
— Como foi que conseguiu? — quis saber a peque-
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na Breni.
— Deve ter roubado de alguém! — concluiu a tia.
— Quero saber! Quero saber! — insistiu a prima
invejosa.
A menina não disse nada. A raiva da tia chegou ao
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Alguns dias depois, Breni deixou cair um prato, que
se quebrou em pequenos cacos. A mãe logo disse:
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— Agora é a sua vez, minha filha. Alizué já te disse
como fazer. Vá! E faça a mesma coisa que ela fez. Igual-
zinho! Vá!
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Breni saiu correndo, parou na árvore indicada, respi-
rou fundo, sentiu o perfume e viu finalmente uma som-
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bra aparecer. Mas não era uma mulher. Era um homem.
Um bruxo. Mas isso ela não sabia. Ele sorriu para ela,
abraçou-a e lhe ofereceu uma noz mágica, dizendo:
— Quebre-a na presença de sua mãe.
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A pequena Breni não quis esperar mais nada. Voltou
correndo para casa. Estava convencida de que dali bro-
tariam mais riquezas do que as que Alizué tinha conse-
guido. Já se imaginava com um rico vestido, mais cola-
res, mais pulseiras, mais anéis.
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E lá se vão o conto e a serpente!
Não levante muito os olhos!
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Não queira mais do que pode açambarcar.
As consequências são grandes!
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Rafik, o
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menino do
grão de ouro
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R afik era um menino bem pequeno. Era doce,
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era educado, mas tinha um apetite de leão! En-
quanto um garoto do seu tamanho era capaz de comer
apenas uns poucos grãos de bico e algumas ameixas se-
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cas, ele devorava um cordeiro inteiro. O estômago de
Rafik era, bem se sabia, um saco sem fundo. Mas nem
por isso o menino era pesado ou molenga. Ao contrário,
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era leve, prestativo, amável, ágil.
O chato disso tudo é que Rafik não tinha pais. Fora
criado pelos tios, que viviam reclamando que a colher de
Rafik era mais rápida que a dos outros, que a boca
de Rafik era maior do que podia ser, que a barriga de
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— Claro! Um cuscuz bem gostoso, com fina polen-
ta, legumes frescos e grandes pedaços de frango macio,
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acompanhados de um molho bem picante! Ai, que delícia!
Puseram-se, então, a trabalhar o tio e a tia. E corta
daqui e mói dali e bate e descasca ligeiro. E põe no pra-
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to e, pronto, começa a refeição! De repente, ouviram a
voz de Rafik, batendo bem alto na porta.
— Toc! Toc! Toc! Abram logo! Depressa! Venham ver!
para casa.
A tia concordou imediatamente:
— Claro! Uns bolinhos de sêmola bem grandes e
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e mistura e enrola e frita. Põe no prato e, pronto, mas-
tigando! Huummmmm! O mel escorrendo, o açúcar bri-
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lhando e, de repente, a voz de Rafik chamando na porta:
— Depressa! Abram logo! Venham ver as pegadas
dos camelos na areia, são tão grandes quanto o que vo-
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cês estão mastigando!
Imaginem o susto! E a correria? A tia quase deixou
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cair o bolinho que estava segurando. O tio pulou para
abrir a porta, não sem antes esconder tudo. Rafik entrou
fungando e, ao ver o filete de mel que escorria no canto
da boca do tio, não teve dúvida do que havia para comer.
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— Onde estão os bolinhos que vocês estavam co-
mendo? Estou com tanta fome!
O tio olhou, furioso, para o menino. Ficava intriga-
do com essa história de Rafik adivinhar sempre tudo o
que se queria esconder dele.
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grão de ouro. Que sorte! Olhou de todas as maneiras
possíveis, de perto, de longe, com um olho aberto e ou-
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tro fechado, com os dois olhos abertos, e, convencido
de que era ouro de fato, guardou-o consigo, num saqui-
nho que levava no bolso. Um dia ele seria útil! Ah, seria,
N
sim! E continuava a brincadeira de imaginar-se o chefe
de uma grande expedição, quando o tio o chamou:
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— Venha, Rafik, venha comigo! Preciso da sua aju-
da para pegar o balde que se soltou e caiu no fundo do
poço. Sem ele, não poderemos mais tirar água.
Rafik sabia que a tia não armazenava água. Cada vez
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que era preciso, tiravam o necessário do poço. Portan-
to, devia estar faltando mesmo. E, como a situação era
de urgência, o menino largou tudo que estava fazendo
e seguiu o tio. Mas com eles seguiram também as más
intenções que povoavam a cabeça do homem.
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toda para deixá-lo ali, sozinho, abandonado, no fundo
daquele poço!
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O tio já ia se afastando, pronto a cumprir o que tinha
imaginado, quando o pequeno Rafik gritou mais forte, em
direção ao alto. Sabia que aquela era sua última chance:
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— Tio! Tio! Encontrei um tesouro aqui no fundo do
poço! Uma arca cheia de ouro. Precisamos de um saco
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para levá-la para cima.
O tio, que não estava muito confiante naquela notí-
cia, resolveu testar o sobrinho:
— Então, me deixe ver se é verdade mesmo! Mande um
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pouco desse tesouro aqui para cima, para eu ter certeza!
Rafik mandou, amarrado na corda, o saquinho com
aquele grão de ouro que tinha achado e guardado no
bolso da roupa enquanto brincava.
O tio convenceu-se logo. E não só isso! Começou
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arca. Estava muito afobado. Retirou o saco o mais rá-
pido possível, jogou-o nas costas e se afastou correndo,
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rindo de satisfação, enquanto dizia:
— Agora estou livre daquele traste! Agora teremos
comida de sobra! E, melhor, ainda ganhei um tesouro!
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Não sabia se caminhava ou se corria. Tinha pressa
de chegar em casa. Queria mostrar à mulher o tesouro,
abri-lo na sua presença, observar sua reação! Dizer a ela
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que, com tanto ouro, poderiam comprar o que quises-
sem! Comer o que quisessem! Vestir o que quisessem!
De repente, uma voz, saindo do saco do tesouro,
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disse, em alto e bom som:
— Querido tio! Meu paizinho! Se estiver cansado,
aproveite e descanse debaixo daquela palmeira! — e,
com isso, ouviu-se também uma gargalhada cavernosa:
— Hahahahaha!
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Messan, o
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camponês que
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ouvia a voz
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da natureza
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M essan tinha um bom pedaço de terra. Um
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grande campo de milho. Ao lado de um cam-
po de inhame, que também ficava ao lado de um campo
de batata-doce.
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O camponês cuidava bem de tudo o que era seu. E
sabia como ninguém ouvir a voz da natureza. Conhecia
a língua dos peixes e dos pássaros, a língua das serpen-
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tes e dos leões, a língua dos bois e das hienas.
Também costumava ouvir seu coração batendo
como um tantã, chamando-o para a luta, para a festa
ou para as cerimônias de paz.
E com frequência também era capaz de entender o
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— Ande, venha beber o vento da noite! Não vê como
ele sopra? — dizia o cão forasteiro. — E como ele can-
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ta? Não ouviremos de novo esta melodia até que ele
volte por aqui... Mas aí já será outra canção... Venha!
O fiel Kovi apressou-se em dizer:
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— Não posso nem pensar em me afastar daqui!
Nesta noite a casa de meu dono arderá em chamas e eu
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preciso estar por perto para ajudá-lo.
Messan levantou-se imediatamente. Tinha ouvido
tudo! Não podia perder um segundo sequer! Correu da-
qui para lá, de lá para cá. Enquanto teve tempo, levou
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para o galpão das ferramentas tudo o que conseguiu:
móveis, objetos, comidas, roupas. No momento em que
parou para recuperar as forças, veio a tempestade! Os
trovões rugiram no céu, o vento brigou com as árvores
do caminho, arrastou pedras, e os raios que riscavam
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mais resistente. Toda a vizinhança ajudou e durante
muitas semanas não faltou trabalho para quem quises-
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se. Nem melodia para alegrar os ouvidos:
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Mais forte é Messan,
que sabe construir outra casa...
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Mais forte somos nós
que temos a casa de Messan...
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Messan ouviu tudo. Imediatamente correu até o
cercado dos animais. Retirou todos o mais rápido que
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pôde. Deixou apenas um cordeiro para aplacar a fú-
ria das hienas, que certamente ficariam loucas por
serem tantas e terem de se contentar com tão pouca
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carne!
Não demorou muito e as risadas assustadoras das
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hienas encheram as dobras da noite e sobraram na es-
curidão. De sua esteira, Messan acompanhou o movi-
mento, o bater dos dentes, os sons da mastigação, até
que seus olhos se fecharam com o peso do medo.
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No dia seguinte, mal amanheceu, Messan foi ver
o que tinha acontecido. O cordeiro estava morto e os
ossos espalhados pelo cercado. Ele não podia mais du-
vidar das predições de seu cão. Cercou a casa, levan-
tou uma barreira para proteger o cercado dos bichos
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— Anda, essa coleira está ferindo o seu pescoço —
disse outro gnu.
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— Vem, poderá comer na hora em que quiser! E
quanto quiser!
Mas Kovi, que amava o seu dono mais do que qual-
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quer outra coisa, disse:
— Agora é que não posso mesmo! Meu dono só tem
sete dias de vida. Não posso abandoná-lo.
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Os gnus partiram. Messan, que escutou tudo, saiu
de sua choça e foi conversar com o cão. Estava assusta-
do, precisava saber mais.
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— Que posso fazer para evitar o destino que você vê
para mim?
— Nada pode ser feito. Já passou o tempo do sa-
crifício!
— Que sacrifício é esse?
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Natula,
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a mulher
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dos beiços
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compridos
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A s moças saíram em bando para colher frutos na
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floresta. Provaram do caju e da goiaba e esta-
vam tão eufóricas com as saborosas risadas e brincadei-
ras que nem notaram a mudança do tempo: escureceu
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de uma hora para outra, e a chuva estava prestes a se
derramar.
Rápido, se abrigaram na cavidade de um embondei-
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ro que encontraram no caminho. E lá dentro as brinca-
deiras continuaram.
— Está proibido soltar ventosidades aqui, ouviram
bem? — disse Dziko, a mais animada de todas as moças.
— Se alguém o fizer, estamos todas perdidas —
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Quando se viraram para procurar de onde tinha vin-
do, a árvore já tinha se fechado.
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— Eu não disse?! — exclamou Kianga.
E o medo tomou conta das moças. Sem poder acre-
ditar naquilo que estava de fato acontecendo, elas pri-
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meiro gritaram até não poder mais. Pediram socorro,
culparam umas às outras, até que, tomadas pelo cansa-
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ço, fizeram silêncio.
Um viajante que acabava de se acomodar debaixo da-
quela árvore para proteger-se da chuva ouviu as vozes que
vinham de dentro. Imediatamente quis correr dali, pensan-
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do ser algum espírito, mas encheu-se de coragem e ficou...
As moças tinham voltado a clamar por socorro. E
Kianga, que sempre sabia das coisas, disse:
— Esperem, acho que tem alguém aí fora nos escu-
tando.
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Como não havia mais o que fazer e uma rolinha es-
tava pousada nos galhos do embondeiro, a mãe de Na-
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tula implorou:
— Tire as nossas meninas do oco da árvore, meu
pequeno pássaro!
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— Não posso, não! — cantou a rolinha.
Então, a mãe se dirigiu ao siripipi, que também es-
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tava pousado ali.
— Tire as nossas meninas do oco da árvore, mestre
siripipi!
O pássaro respondeu, cantando mais alto:
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— Não posso, não! Só sei comer frutinhas e fugir
do gavião. Chamem o pica-pau, que sempre sabe o
que fazer.
As mulheres se espalharam pela floresta. Procura-
ram daqui e dali o pica-pau. Chamaram em todas as ár-
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casca se soltava. Por fim, o tronco se abriu novamente.
E logo se pôde ouvir as vozes cristalinas das moças, de
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assustadas a envergonhadas, de agradecidas a assanha-
das e, por fim, festivas, saindo uma a uma pela abertura
feita pelo pica-pau.
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E qual não foi a surpresa de todos quando saiu Na-
tula, aquela que havia duvidado dos poderes do embon-
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deiro e não fizera caso da recomendação de Kianga...
Seus lábios estavam enormes, arrastando no chão.
Quando a mãe, o pai e todos os outros viram a moça
naquele estado, fugiram para o mato. Ninguém queria
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estar perto dela, ninguém mais queria recebê-la. De-
pois de vagar por muito tempo, sem sossego, Natula
meteu-se pelas estradinhas e capoeiras para ver se en-
contrava alguém que pudesse cortar-lhe o tal beiço.
Em cada aldeia que cruzava, por cada palhota que
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Sai pra lá, Balanga-beiço! Sai pra lá, Balanga-beiço.
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E a moça foi ficando sem solução para o seu proble-
ma, vagando, escondida, pelas matas. Até que um dia,
ao chegar a uma aldeia muito distante, nos confins do
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mundo, e ao passar por uma habitação completamente
encoberta pelo matagal, ela cantou, como de costume,
sem saber que havia ali uma casa:
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Quem pode curar a do mau beiço?
Quem pode curar seu lábio roliço?
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Só quem não teme esse rebuliço!
Só quem não teme esse rebuliço!
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A moça aceitou. Não tinha outro jeito. Para se
livrar daquele enorme beiço tornou-se a mulher do
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Papão. Casou-se e viveu muito tempo assim, confor-
mada, sem a boca grande, mas com um buraco de
saudade no peito.
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Um dia quis visitar a antiga família. Quis ver o pai.
Quis abraçar a mãe. Quis olhar mais uma vez seus ir-
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mãos, que agora já deviam estar crescidos. Mas como
não podia se afastar dali, porque sabia que o enorme
beiço nasceria novamente em sua face, primeiro foi
consultar a Mulher do Mato, que conhecia os encanta-
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mentos certos para cada coisa deste e dos outros mun-
dos. A mulher ensinou:
— Para que o beiço não apareça mais, descubra onde
o Papão o guardou, cozinhe-o com temperos e ervas e
sirva-o no jantar. Ele vai adorar, mas nunca saberá.
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O Papão esboçou um grunhido e foi deitar-se. No
dia seguinte, saiu bem cedo para devorar todo o gado
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que tinha acumulado no curral, fruto de suas andanças
pelas estradas nos dias anteriores.
E, já que ele demorou muito a retornar, a mulher
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aproveitou para juntar seus pertences e fugir em dire-
ção à casa dos parentes. Quando o Papão chegou à casa,
a mulher já estava longe. E, mal deu pela falta dela, ele
pôs-se a correr e a gritar:
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— Mulher, não se vá! Volta primeiro para o teu bei-
ço levar!
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A mulher, embora já estivesse longe, ouviu a fúria
do Papão e pôs-se a correr, enquanto dizia:
— Não volto, não vou voltar, o beiço, bem gostoso,
você comeu ontem no jantar!
E por mais que o Papão corresse e gritasse, a mu-
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enorme proporção.
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O lugar das histórias
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lenda akamba
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grupo étnico banto e localiza-se no leste da África,
principalmente no Quênia, onde representa 11% da
população. A região onde estão situados seus núcleos
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populacionais é semiárida, tem planaltos e está perto
da Linha do Equador. Tais núcleos são mais voltados
para a agricultura e produzem café, chá e sisal. Mas
convivem com zebras, gnus, elefantes, girafas, búfalos,
antílopes, leões, leopardos e hienas. Ora precisam lidar
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aspecto do povo akamba, e há regras próprias para sa-
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tisfazer tanto o lado paterno quanto o materno.
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“Alizué e a árvore do esquecimento” e “Messan,
o camponês que ouvia a voz da natureza”: contos
popó da antiga Costa dos Escravos, hoje Benin
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A Costa dos Escravos fica na região litorânea da baía
de Benin, na África Ocidental, que engloba o Togo, Be-
nin e parte da Nigéria. Essa região foi bastante populosa
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no período pré-colonial e um importante centro de ex-
portação e comércio de escravos no oceano Atlântico, do
século XVI ao XIX. E claro, por isso, também partiram
dali muitas histórias. Como a região era muito povoada,
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O inhame é a base da alimentação de muitos po-
vos africanos, inclusive na região onde essas histórias
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são contadas. Um dos motivos do grande consumo do
inhame é que sempre se acreditou que esse tubérculo
favorece a fertilidade, por tornar as mulheres fortes e
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saudáveis para a maternidade. E tem também as joias
e os enfeites que elas usam, que são sempre signos de
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poder, riqueza e distinção social. Imagine como isso é
importante, um detalhe, mas importante, sobretudo
para as mulheres africanas, que nem sempre são va-
lorizadas em muitos lugares da África.
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Os gnus e as hienas também estão na região da
Costa dos Escravos. As hienas são da savana africa-
na. Acho curioso o que dizem os cientistas: por terem
coração grande, o vigor das hienas é notável. Também
acho curioso que as hienas-malhadas se organizem
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O coice é o que têm de mais poderoso. Eles vivem na
África do Sul, em Angola, Zâmbia, Moçambique, Bot-
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suana, Zimbábue e Namíbia. Você sabia que há um gnu
chamado de gnu-azul? A palavra “gnu” vem da língua
khoikhoi e se refere ao som que os machos fazem ao
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grunhir, mas em palavras do africano holandês “gnu”
significa “besta selvagem”. Embora sejam mais comuns
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no sul, centro e leste da África, em época de seca eles
migram à procura de água. E essa migração em grupos
numerosíssimos é algo bonito de se ver.
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“Rafik, o menino do grão de ouro”: conto po-
pular da Argélia
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conto. Sou comilão, sou guloso, adoro doces e esses
doces árabes são de babar! Embora o cuscuz seja o
prato fundamental da culinária argelina, a influên-
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cia dos berberes, árabes, turcos, romanos, franceses
e espanhóis garante à cozinha do país uma mistu-
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ra de sabores, aromas e texturas muito agradável ao
paladar. E, curiosamente, o cominho, a manjerona,
o coentro e a erva-doce são muito utilizados. Ficou
com água na boca? Então, que tal provar um ghribia,
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um bolinho de açúcar? Ou um baclavá, um pastel
com pasta de nozes, banhado em mel? Hummmmm!
Que delícia!
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conflito. A árvore é tida como uma das mais grossas
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do mundo em função de seu diâmetro, que pode che-
gar a 10 metros. Também pode alcançar altura ma-
jestosa (excepcionalmente, 30 metros), mas o mais
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intrigante é a sua capacidade de armazenar água den-
tro do tronco, que pode alcançar a marca de 120 mil
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litros. O seu fruto é seco, adocicado e ligeiramente
ácido, e se desfaz na boca como um suspiro.
Dos pássaros da região, conhecemos aqui no Bra-
sil a rolinha, o gavião, o pica-pau, mas não o siripipi,
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que pode ser chamado também de siripipi-de-benguela,
rabo-de-junco-de-rabadilha-vermelha ou rabo-de-junco-
-de-dorso-vermelho. Ele é típico de Angola, mas também
pode ser encontrado no Congo. Alimenta-se de frutas e,
em geral, tem 35 centímetros e pesa de 45 a 60 gramas.
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é usado, em Angola, para fazer o funje, que tem como
principal ingrediente a farinha do milho branco. O fun-
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je é uma espécie de mingau que se come com carne
estufada, calulu de peixe, feijão ou peixe grelhado com
molho de tomates e couves.
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Golungo é um pequeno antílope de pelagem malha-
da. Seu peso pode chegar a 80 quilos. Suas manchas
são brancas e situam-se acima dos cascos, nas orelhas,
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na face e sob a cauda. Também aparecem no flanco al-
gumas listras brancas. Os chifres, nos machos, podem
chegar a 50 centímetros. Esses animais costumam viver
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em matas de vegetação densa e se alimentam de arbus-
tos, folhagens e frutos. Geralmente são solitários.
O Papão é uma variação do Tutu, que é um monstro
devorador de grande voracidade, imensa feiura e bru-
talidade. Suas histórias sempre têm versos para can-
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O autor e ilustrador
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Nasci no Rio de Janeiro e adoro essa
diversidade cultural e oral revelada pelos
contos. Os contos africanos são os que
mais me atraem. Gosto de tudo: do nome
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dos personagens, do respeito às tradições,
das tramas, dos elementos distintos, en-
fim, de todas as coisas que fazem a África
ser um continente fascinante.
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Neste livro sou também o ilustrador.
E confesso: gostei demais de dar mate-
rialidade para esses personagens que estavam, para mim, apenas
no plano do imaginário! Usei basicamente tinta acrílica na cria-
ção das ilustrações. Mas não resisto às canetas com gel, aos lá-
pis aquareláveis, ao giz pastel e à tinta nanquim, que eu também
adoro! O uso dos pincéis (de verdade) é insubstituível. Por isso
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“Os contos populares africanos me
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devolvem as raízes do mundo. E trazem
(imaginariamente) as vozes ancestrais
para sussurrarem nos meus ouvidos.”
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Neste surpreendente livro, o renomado autor
e ilustrador Celso Sisto traz diversos contos
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do continente africano, por meio dos quais o
leitor poderá explorar a riqueza da cultura dos
diferentes povos que lá vivem.
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