Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Apresentação
1. Evangélicos brasileiros e o compromisso social
2. A ascensão da direita religiosa no Brasil contemporâneo
3. Representação religiosa na política e os conflitos de uma relação
complexa: o caso da senadora El
4. A partidarização de líderes da Convenção Batista Brasileira:
5. Percepções de jovens pentecostais sobre participação e mobilização
política
Sobre os autores e as autoras
Apresentação
O protagonismo da religião e de religiosos em várias esferas da
sociedade brasileira tem sido registrado por pesquisadores de diferentes áreas.
A bricolagem religiosa, o individualismo, as múltiplas facetas da(s)
espiritualidade(s) demonstram uma rica plataforma para se discutir o Brasil
de hoje.
Em 2016 deu-se início a um projeto que se estende com vários
desdobramentos. O processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff e
os ecos religiosos na política ganharam um tom bem perceptível. As redes
sociais ajudaram a alastrar reflexões, discussões, intolerâncias, resistências. O
objetivo, portanto, além de escrever ensaios no “calor do momento”, era
historicizar eventos que apontam constantemente para possíveis
ressignificações na relação entre religião e política.
Durante a produção dos livros desta série, as análises críticas foram
remetidas por diferentes áreas do conhecimento: ciências sociais, ciências da
religião, antropologia, teologia, filosofia, educação, psicologia. Isso, aos
nossos olhos, enriquece o trabalho, uma vez que as lentes plurais ajudam a
captar e a interpretar com maior amplitude os fenômenos sociais que, como
dissemos, encontram-se em constante movimento.
A Edições Terceira Via publicou os dois primeiros volumes desta série. O
primeiro foi organizado por Nelson Lellis, idealizador da coleção: “Religião e
Política à Brasileira: ensaios sobre trajetórias políticas de uma sociedade
bravamente religiosa” (2017). O segundo volume foi organizado em parceria
com Fábio Py (UENF), modificando apenas o subtítulo: “Ensaios,
interpretações e resistência no país da política e da religião” (2018).
A editora Recriar assumiu o terceiro volume, onde, à convite, Hiran Pinel
(UFES) também esteve como organizador; e ao título foi acrescentado o tema
educação: “Religião, educação e política: ensaios sobre os
(des)comportamentos da sociedade brasileira”.
Este é quarto volume. Retomamos o título inicial (Religião e Política à
Brasileira) como forma de melhor identificar a coleção. O livro amplia o foco
da discussão entre religião e política substituindo as reflexões ensaísticas dos
volumes anteriores e trazendo apontamentos a partir de documentos, survey,
materiais empíricos e aprofundamento teórico-metodológico.
No capítulo Evangélicos brasileiros e o compromisso social, Cláudio de
Oliveira Ribeiro discute quadros da participação política em sentido mais
amplo de evangélicos no país. O texto enfatiza o crescimento de
conservadores, mas também aponta novos setores que ganham cada vez mais
espaço de engajamento sociopolítico, como a “Frente de Evangélicos pelo
Estado de Direito”, “Evangélicas pela Igualdade de Gênero”, “Rede FALE”,
dentre outros.
O texto A ascensão da direita religiosa no Brasil contemporâneo, escrito
por Magali do Nascimento Cunha, analisa como o ex-capitão do exército, Jair
Messias Bolsonaro, ajudou a fortalecer grupos conservadores tendo como
referência inicial as eleições de 2018. A relação de Bolsonaro com outros
segmentos religiosos, como os evangélicos, traz à baila o aspecto neo-
conservador, onde tais lideranças se apresentam como “pertencentes aos
novos tempos, em que a religião tem como aliados o mercado, as mídias e as
tecnologias mas que se revelam defensoras de um conservadorismo explícito
e discursos de rigidez moral, visando a conquista de poder na esfera pública”.
Nelson Lellis e Roberto Dutra assinam o terceiro capítulo: Representação
religiosa na política e os conflitos de uma relação complexa: o caso da
senadora Eliziane Gama. Discute-se a complexidade da representação
política a partir da relação de Eliziane Gama com sua denominação religiosa
(Assembleia de Deus) por seu posicionamento nas eleições de 2018. No texto
é possível observar que “a contingência e abertura de sentido resultam do fato
de que a construção de coletividades politicamente relevantes com base na
religião, ou seja, da representação política de uma vontade coletiva associada
ao pertencimento religioso, não está dada pelo vínculo religioso do candidato
ou do partido”.
Alonso Gonçalves escreve o quarto texto desta coletânea: A
partidarização de líderes da Convenção Batista Brasileira: uma análise
político-teológica. Com uma análise histórico-documental, apresenta a
relação da igreja batista com a política brasileira, onde a referida
denominação carrega como princípio a separação entre Igreja-Estado. Como
forma de complexificar tal princípio, traz à tona personagens como o
procurador Deltan Dallagnol e o pastor Josué Valandro Jr. – ambos batistas –
e que demonstra(ra)m a ambiguidade do discurso acerca da referida
separação.
O último capítulo, Percepções de jovens pentecostais sobre participação
e mobilização política foi escrito a seis mãos: Wania Amélia Belchior
Mesquita, Leonardo Gonçalves de Alvarenga e Vanessa da S. Palagar
Ribeiro. O objetivo é entender como os jovens pentecostais da cidade de São
João da Barra (norte fluminense) assumem, e em que nível, sua participação
cívica, bem como responder a maneira em que estabelecem seus vínculos
entre religião e política.
Ainda que não tenhamos condições de concluir ou pontuar (novos)
conceitos numa época de mudanças tão ligeiras, nossa contribuição não se
dispõe a um espírito conciliador entre religião e política, mas sobretudo,
continuar afirmando que sobre esta interface é impossível não dizer: “assunto
é que não falta”.
Os organizadores / Verão de 2019
1. Evangélicos brasileiros e o compromisso
social
Claudio de Oliveira Ribeiro
Introdução
Os grupos evangélicos ganharam muita visibilidade na sociedade
brasileira nas últimas décadas. Os motivos para isso são muitos e bem
variados. O fato é que eles estão (estamos!) por toda a parte. Nas escolas e
nas universidades, por exemplo, em cada turma há sempre muitos estudantes
evangélicos, diferentemente do tempo em que eu era criança quando em cada
sala havia apenas um ou dois evangélicos; o que inclusive nos causava certa
vergonha ou constrangimento por sermos minoria. Se vamos a um
consultório médico, é bastante comum na sala de espera encontramos pessoas
conversando e, pelo tom da conversa, são evangélicos falando de suas igrejas,
experiências e partilhando opiniões sobre os mais variados assuntos. Nos
ambientes de trabalho (empresas, fábricas, lojas etc) as pessoas evangélicas
são ativas, se identificam como tais, contam as histórias de suas igrejas e
exercem formal ou informalmente a liderança em vários processos. Nas
torcidas de futebol e de outros esportes, dentro dos campos e das quadras e
também nas arquibancadas, lá estamos, mostrando slogans religiosos,
palavras de ordem e atitudes que são próprias do mundo evangélico. Nas
famílias, sempre há um tio, tia, primo ou cunhado que pertence à uma igreja
evangélica; e nos almoços ou festas de aniversários o assunto “religião”
sempre aparece. Nos programas de TV, inclusive de entretenimento, os
evangélicos estão lá com força. Na política partidária, incluindo câmaras de
vereadores, assembleias legislativas e congresso nacional e espaços dos
poderes executivos em diferentes níveis, a presença evangélica tem sido cada
vez maior e tem suscitado pesquisas acadêmicas e intenso debate. No passado
não era assim...
Referências
CEBI. Disponível em: https://cebi.org.br/areas-de-atuacao/ Acesso em 25/9/2019.
CUNHA, Magali do Nascimento. “Jesus cura a Homofobia”. Carta Capital, 20 de fevereiro de 2019. Disponível
em: https://www.cartacapital.com.br/blogs/dialogos-da-fe/jesus-cura-a-homofobia/ Acesso em 25/9/2019.
KOINONIA Presença Ecumênica e Serviço. Disponível em: <http://koinonia.org.br/>. Acesso em: 10/9/2019.
Introdução
Muito ainda será pesquisado e analisado sobre as situações que
envolveram a eleição do capitão reformado do Exército Jair Bolsonaro à
Presidência da República do Brasil em 2018. A questão do apoio religioso ao
presidente eleito, especialmente cristão (de católicos e evangélicos), se
destaca no que merece ser refletido por conta de Bolsonaro ser o primeiro
presidente a enfatizar em campanha e depois da vitória um discurso
explicitamente cristão, conservador, de tendência evangélica.
No primeiro pronunciamento após os resultados eleitorais, em 28 de
outubro de 2018, Bolsonaro citou o nome de Deus várias vezes e disse: “O
nosso slogan eu fui buscar naquilo que muitos chamam de caixa de
ferramenta para consertar o homem e a mulher, que é a Bíblia Sagrada.
Fomos em João 8:32: ‘E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará’”[1].
Jair Bolsonaro declara-se católico[2], mas tem alianças muito estreitas
com políticos evangélicos e lideranças deste segmento religioso que fazem
política partidária. Isto passou a ser evidenciado nas eleições de 2010, quando
houve intensa oposição de líderes evangélicos contra a candidatura de Dilma
Rousseff, muito por conta das pautas progressistas que ela defendia,
relacionadas às causas feministas e LGBTX. Em 2016, com a oposição a
Dilma Rousseff potencializada e o processo de impeachment instaurado, Jair
Bolsonaro deixa o Partido Progressista (PP), onde havia atuado por sete anos,
e se filia ao Partido Social Cristão (PSC). A transferência foi simbolizada
com um ritual religioso: o capitão reformado foi batizado em Israel, nas
águas do rio Jordão, em cerimônia realizada pelo Pastor Everaldo, presidente
do partido. O episódio fez com que muitos membros de igrejas acreditassem
que o então deputado havia se convertido à fé evangélica (CUNHA, 2019).
A candidatura de Bolsonaro à Presidência encontrou apoio deste grupo
religioso e também de católicos identificados com o discurso
ultraconservador, de extrema-direita, com propostas imediatistas e vingativas
para pôr fim à violência urbana e para salvar a família contra uma suposta
ditadura gay e feminista.
Jair Bolsonaro foi muito bem instruído no discurso que alimentou a pauta
de costumes de sua campanha afetando fortemente o imaginário evangélico
conservador calcado na proteção da família tradicional, na
heteronormatividade e no controle dos corpos das mulheres. Foi muito caro a
muitos evangélicos imaginar ter no poder maior do país alguém defensor de
suas pautas, como “homem simples, do povo, que fala o que pensa” e isto
parece ter sido um propulsor do voto que descarregaram no ex-Capitão. Aqui,
o desafio é pensar no alcance do imaginário como um elemento determinante
ao apoio evangélico e católico conservador (CUNHA, 2013).
A vitória do Capitão nas eleições presidenciais tem neste grupo
religioso uma referência importante, mas é também parte de um contexto de
fortalecimento de posturas conservadoras na arena pública brasileira em
geral. Pesquisa eleitoral realizada pelo Datafolha, em outubro de 2013, já
revelava que a maior parte dos brasileiros se identifica com valores de direita.
A separação foi feita com base nas respostas dos entrevistados a perguntas
sobre questões sociais, culturais e políticas, como a pena de morte e o papel
dos sindicatos na sociedade. Dos entrevistados, 38% foram classificados
como de centro-direita, 26% de centro-esquerda, 22% de centro, 11% de
direita e 4% de esquerda[3]. A eleição do Congresso Nacional mais
conservador em cinco décadas, em 2014 (DIAP, 2014), corrobora estes
dados, o que se confirmou nas eleições de 2018.
Em pesquisa realizada em dezembro de 2016 (WELLE, 2017), o
Instituto Ibope mostrou que 54% dos brasileiros atingiram alto grau de
conservadorismo em questões sociais como a legalização do aborto,
casamento entre pessoas do mesmo sexo, pena de morte, prisão perpétua e
redução da maioridade penal. O instituto de pesquisas fez perguntas à
população sobre esses assuntos em 2010 e em 2016 e descobriu que, em seis
anos, houve aumento de conservadorismo entre todas as faixas etárias e todos
os graus de renda, em ambos os sexos, em todos os níveis educacionais e em
todas as religiões. O Ibope levantou ainda que os mais conservadores são os
evangélicos, os homens e os menos escolarizados. Os mais liberais, de acordo
com a pesquisa, são as pessoas com escolaridade superior e os que não são
cristãos.
Observa-se, portanto, um contexto em que tem se fortalecido a articulação
entre políticos conservadores e lideranças religiosas, compondo um quadro
de reverberação de pautas conservadoras.
No entanto, o Brasil não é um caso isolado, de acordo com estudos sobre
o fortalecimento de grupos conservadores nos Estados Unidos e na Europa.
Michael Löwy afirma sobre o caso europeu:
As eleições europeias confirmaram uma tendência observada já há alguns anos na maior
parte dos países do continente: o crescimento espetacular da extrema direita. (...) Essa extrema
direita é muito diversa, podendo-se observar uma vasta gama que vai desde os partidos
abertamente neonazistas - como o Aurora Dourada grego - até as forças burguesas perfeitamente
integradas no jogo político institucional, como a suíça UDC (União Democrática de Centro). O
que eles têm em comum é o nacionalismo excessivo, a xenofobia, o racismo, o ódio contra
imigrantes - principalmente "extraeuropeus"- e contra ciganos (o mais velho povo do
continente), a islamofobia e o anticomunismo. A isso pode-se acrescentar, em muitos casos, o
antissemitismo, a homofobia, a misoginia, o autoritarismo, o desprezo pela democracia e a
eurofobia. Quanto a outras questões - por exemplo, ser a favor ou contra o neoliberalismo ou a
laicidade - a corrente se mostra mais dividida. Seria um erro acreditar que o fascismo e o
antifascismo são fenômenos do passado (LÖWY, 2014).
Referências
ALVES, José Eustáquio Diniz. O voto evangélico garantiu a eleição de Jair Bolsonaro. Ecodebate, 31 out 2018.
Disponível em https://www.ecodebate.com.br/2018/10/31/o-voto-evangelico-garantiu-a-eleicao-de-jair-bolsonaro-
artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/. Acesso em 1 out 2019.
BURITY, Joanildo. Religião, cultura e espaço público: onde estamos na presente conjuntura? In: MEZZOMO,
Frank Antonio, PÁTARO, Cristina Satiê de Oliveira, HAHN, Fábio André (Orgs.). Religião, Cultura e Espaço Público.
São Paulo/Campo Mourão: Olho D’Água/Fecilcam, p. 13-50, 2016
COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE (CNV). Relatório: textos temáticos. Vol. 2. Brasília: CNV, 2014.
CUNHA, Magali do Nascimento. Do púlpito às mídias sociais. Evangélicos na Política e ativismo digital.
Curitiba: Appris, 2019.
CUNHA, Magali do Nascimento. O lugar das mídias no processo de construção imaginária do "inimigo" no Caso
Marco Feliciano. Comunicação, Mídia e Consumo, v. 10, n. 29, p. 51-74, set-dez 2013.
DIP, Andrea, VIANA, Natalia. Os pastores de Trump chegam à Brasília de Bolsonaro. Agência Pública, 12 ago
2019. Disponível em: https://apublica.org/2019/08/os-pastores-de-trump-chegam-a-brasilia-de-bolsonaro/ Acesso em 1
out 2019.
FERRAZ, Lucas. Eleições 2018: Como conservadorismo 'órfão' encontrou em Bolsonaro seu representante. BBC
News Brasil, 21 out 2018. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45837308. Acesso em 1 out 2019.
FRESTON, Paul. Religião e política, sim; Igreja e Estado, não: os evangélicos e a participação política. Viçosa:
Ultimato, 2006.
GOMES, Wilson. Internet e participação política em sociedades democráticas. Famecos, n. 27, p. 51-78, ago
2005. Disponível em: <http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistafamecos/article/viewFile/3323/2581>.
Acesso em 5 mai 2018.
LÖWY, Michel. Dez teses sobre a ascensão da extrema direita europeia. Folha de S. Paulo (Ilustríssima), 15 jun
2014. Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrissima/171148-dez-teses-sobre-a-ascensao-da-extrema-
direita-europeia.shtml. Acesso em 1 out 2019.
LIMA, Venício. Revisitando as sete teses sobre mídia e política no Brasil. Comunicação & Sociedade, n. 51, p.
13-37, jan-jun 2009. Disponível em: https://www.metodista.br/revistas/revistas-ims/index.php/CSO/article/view/853.
Acesso em 1 out 2019.
SOUZA, Sandra Duarte “Não à ideologia de gênero!”. A produção religiosa da violência de gênero na política
brasileira. Estudos de Religião, v. 28, n. 2, p. 188-204, jul.-dez. 2014. Disponível em:
https://www.metodista.br/revistas/revistas-ims/index.php/ER/article/view/5454. Acesso em 1 out 2019.
TRABUCO, Zózimo. À Direita de Deus, à esquerda do povo. Protestantismos, esquerdas e minorias (1974-1994).
Salvador: Sagga, 2016.
VITAL DA CUNHA, Christina, LOPES, Paulo Victor Leite, LUI, Janayna. Religião e Política: medos sociais,
extremismo religioso e as eleições 2014. Rio de Janeiro: ISER, 2017.
WELLE, Deutsche. A nova onda conservadora no Brasil. Carta Capital, 7 dez 2017. Disponível em
https://www.cartacapital.com.br/politica/a-nova-onda-conservadora-no-brasil. Acesso em 1 out 2019.
3. Representação religiosa na política e os
conflitos de uma relação complexa: o caso da
senadora Eliziane Gama
Nelson Lellis
Roberto Dutra
Introdução
[…] em geral, imagens de coisas, especialmente imagens de objetos simples, não (se diz
que) os “representam”. Nós não apontamos para a imagen de uma árvore ou de uma casa ou de
uma mesa e dizemos: “Isso representa uma árvore (uma casa, uma mesa)”. É provável que
digamos: “Isso é uma árvore”. […] “Isso representa uma árvore” é o que podemos dizer sobre
uma mancha colorida ou um rabisco que tenta indicar uma árvore, mas não se parece com uma.
(PITKIN, 1967, p. 68)
Considerações finais
Na combinação entre os quatro níveis de relações entre religião e
política que elencamos acima, o apoio da organização parece ser o recurso
político mais importante que Eliziane Gama conseguiu em razão de sua
vinculação religiosa. Eleição depende de dinheiro, sobretudo porque depende
de organização. Por isso, o apoio de uma denominação religiosa com grande
capilaridade garante quase sempre uma máquina eleitoral difícil e custosa de
ser construída por outros meios. Portanto, a decisão de desobedecer a AD e
apoiar Haddad deve ser entendida a partir da seguinte questão: que outros
recursos a senadora eleita tem em mãos e no seu horizonte de atuação que lhe
permitiram assumir o risco de perder, pelo menos durante um período, o
apoio político oficial de uma denominação religiosa de tanta relevância
política como a AD? Como já pontuamos, a consolidação de sua relação
política com o grupo do governador reeleito Flávio Dino, a identidade
pessoal vinculada à agenda da política social, o horizonte temporal de um
mandato de oito anos e a perspectiva de reconquistar ou manter o apoio dos
eleitores evangélicos pobres são os recursos que viabilizaram uma decisão
arriscada como essa.
Nesta combinação de recursos e níveis de relações entre religião e
política, há um primado: o primado da lógica política de busca e manutenção
do poder, ainda que se possa admitir que motivos morais também expliquem
as ações individuais. Mas a racionalidade estratégica em torno da busca e
manutenção do poder, em um contexto de democracia de massas em que o
voto de eleitores evangélicos pode ser conquistado e fidelizado com o uso de
estratégias distintas, é a única que pode garantir cursos de ação exitosos no
campo político. Eliziane parece ter apostado na estratégia de combinar sua
imagem ligada à política social com perspectivas de poder geradas pelo
sucesso político-eleitoral de Flávio Dino e da agenda de centro-esquerda no
Nordeste e no Maranhão. Os riscos que assumiu ao apoiar Haddad podem lhe
garantir uma base política suficiente para não deixar à AD melhores
alternativas que a reaproximação.
Neste contexto, a variedade de estratégias de mobilização da religião
na política depende tanto do primado da lógica política na carreira de
políticos religiosos quanto das possibilidades de instrumentalização da
religião oferecidas pela estrutura do campo religioso. No caso da senadora do
Maranhão, a estrutura descentralizada da AD acaba favorecendo a uma boa
perspectiva de poder no sentido de reconquistar o apoio não apenas de
eleitores evangélicos, mas também de lideranças e organizações, já que estas
possuem um grau de autonomia estadual e local que facilita desalinhamentos
com orientações centralizadoras. A perspectiva de reconquista de apoio das
organizações religiosas é importante porque a carreira política de Eliziane
parece ter sido bastante impulsionada pelo poder político destas
organizações. Seu grande desafio parece ser a necessidade de reconstruir uma
base eleitoral que não pode prescindir de eleitores evangélicos, sem poder
contar com a narrativa religiosa mais poderosa atualmente. Trata-se de um
momento de reconstrução da identidade e da vontade coletiva, as quais um
político pretende representar política e eleitoralmente. O caso de Eliziane
mostra como o poder político das organizações religiosas não se constrói e se
afirma no campo religioso, e sim, no campo político e de acordo com o
primado da lógica de busca e manutenção do poder. No contexto deste
primado da disputa pelo poder, o uso de recursos políticos (organizações,
redes, identidades e semânticas) oriundos da religião pode ter maior ou
menor proeminência, de acordo com a importância de outros recursos
políticos ligados aos partidos ou a grupos políticos informais, suas redes,
identidades e semânticas.
Referências
ARISTÓTELES. Política. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
BRANDÃO, André Augusto Pereira & JORGE, Amanda Lacerda. “A recente fragmentação do campo religioso
no Brasil: em busca de explicações”. Revista de Estudios Sociales 69: 79-90, 2019. Disponível em:
<https://doi.org/10.7440/res69.2019.07>.
DUTRA, Roberto. A Universalidade da Condição Secular. Religião & Sociedade, 36(1), 151–174, 2016.
FRESTON, Paul. Evangélicos na política brasileira: história ambígua e desafio ético. Curitiba-PR: Encontrão
Editora, 1994.
LELLIS, Nelson. “Representação política, educação e religião: um Brasil que ainda visita o confessionário”. Belo
Horizonte: Revista Senso, 1º de mar. de 2019, disponível em: <https://revistasenso.com.br/2019/03/01/representacao-
politica-educacao-e-religiao-um-brasil-que-ainda-visita-o-confessionario/>.
LUHMANN, Niklas. Die Politik der Gesellschaft. Frankfurt a. M.: Suhrkamp, 2008.
LUHMANN, Niklas. Die Religion der Gesellschaft. Frankfurt a.M.: Suhrkamp, 2002.
LUHMANN, Niklas. Soziale systeme Grundriß einer allgemeiner zur sozialstruktur und sozialen ungleichheit.
Wiesdaben: theorie. Frankfurt a.M.: Suhrkamp, 1984.
LUHMANN, Niklas. Machtkreislauf und Recht in Demokratien. Zeitschrift für Rechtssoziologie, n. 2, p. 158-167,
1981.
MANIN, Bernard; PRZEWORSKI, Adam; STOKES, Susan C. Eleições e representação. Lua Nova, nº 67, p. 105-
138, 2006.
MEZZOMO, Frank Antonio; PÁTARO, Cristina Satiê de Oliveira. Religião católica, evangélica e afro-brasileira
em disputa eleitoral: acionamento de elementos religiosos na campanha à Assembleia Legislativa do Paraná. Tempo e
Argumento, Florianópolis, v. 11, n. 26, p. 456 - 485, jan./abr. 2019
MIGUEL, Luis Felipe. Democracia e representação: territórios em disputa. São Paulo: Ed. Unesp, 2014.
NASSEHI, Armin. “Der Begriff des Politischen und die doppelte Normativität
der, soziologischen Moderne”. In: A. Nassehi & M. Schroer (orgs.). Der Begriff des
Politischen, Baden-Baden, nomos, 2003.
NEVES, Marcelo. Verfassung und Öffentlichkeit. Zwischen system Differenzierung, Inklusion und
Anerkennung. Der Staat. Zeitschrift für Staatslehre und Verfassungsgeschichte deutsches und europäischesöffentliches
Rechts, n. 4, p. 477-509, 2008.
PITKIN, Hanna Fenichel. The Cocept of Representation. Berkley: University of California Press, 1967.
PRZEWORSKI, Adam. Democracia e Mercado no Leste Europeu e na América Latina. Rio de Janeiro: Relume-
Dumará, 1994.
PRZEWORSKI, Adam. “Deliberation and Ideological Domination”. In: ELSTER, Jon (org). Deliberative
Democracy. Cambridge: Cambridge University Press, 1998.
ROSANVALLON, Pierre. La légitimité démocratique: impartialité, réflexivité, proximité. Paris: Seuil, 2008.
SCHUMPETER, Joseph A. Capitalism, Socialism and Democracy. New York: Harper Perennial, 1976.
Páginas eletrônicas:
https://ceadema.com.br/
http://diegoemir.com/2016/01/eliziane-economiza-e-segunda-parlamentar-com-menor-gasto-na-camara-dos-
deputados/
http://linhares.info/dois-anos-apos-votar-pelo-impeachment-eliziane-gama-quer-pt-de-volta/
https://luiscardoso.com.br/politica/2018/10/eliziane-gama-anuncia-voto-em-haddad-e-lider-das-assembleias-de-
deus-reprova/
https://noticias.gospelmais.com.br/senadora-assembleia-de-deus-apoiar-haddad-103216.html
https://oglobo.globo.com/brasil/haddad-usa-encontro-com-evangelicos-para-rebater-fake-news-23162606
https://oimparcial.com.br/politica/2018/10/eliziane-declara-apoio-a-haddad-e-igreja-repudia/
https://pleno.news/brasil/eleicoes-2018/cgadb-declara-apoio-ao-candidato-jair-bolsonaro.html
https://www.blogsoestado.com/zecasoares/2018/11/28/mical-diz-que-e-fruto-da-assembleia-de-deus/
https://www.eleicoes2014.com.br/eliziane-gama/
http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/jose-de-oliveira-fernandes
http://www.ma.gov.br/agenciadenoticias/gestao/relacoes-institucionais/em-chapadinha-governador-flavio-dino-
participa-de-convencao-anual-das-assembleias-de-deus
https://www.marcoaureliodeca.com.br/2018/06/13/evangelicos-lancam-sabado-pre-candidatura-de-eliziane-gama-
ao-senado/
https://www.marcoaureliodeca.com.br/2018/06/26/pastor-da-assembleia-de-deus-repudia-apoio-da-lideranca-da-
igreja-a-flavio-dino/
https://www.youtube.com/watch?v=m5mmqzG_MXI
4. A partidarização de líderes da Convenção
Batista Brasileira:
uma análise político-teológica
Alonso Gonçalves
O Ministro não deve fazer carreira política nem pertencer a uma facção política. Jesus nos
últimos dias do seu ministério disse: ‘o meu reino
não é deste mundo’
(O Jornal Batista, 27 de novembro de 1917)
Os batistas brasileiros são fruto do trabalho missionário de batistas do
sul dos EUA.[38] Um grupo que viu no Brasil a oportunidade de continuar o
seu modo de vida, tendo no trabalho escravo as condições para a manutenção
do seu status quo.[39] A partir desse fato, é possível perceber o
comportamento conservador desse grupo que se instala no Brasil e que,
depois, irão solicitar missionários para evangelizar o país.
Na perspectiva teológica, os batistas norte-americanos estão dentro da
matriz dos diversos grupos protestantes presentes nos EUA, ou seja, a raiz
teológica dos batistas vêm do puritanismo – que tem sua ênfase no biblicismo
e na inclinação para uma ética perfeccionista; do fundamentalismo que
advoga a interpretação literal da Bíblia e a dogmatização legalista das
doutrinas; do landmarkismo,[40] que afirma que os batistas são os únicos
herdeiros das doutrinas apostólicas (SANTOS, 2012, p. 35). No Brasil o
movimento batista ganhou contornos de seu ancestral imediato, ou seja, a
versão norte-americana, trazendo consequências para a eclesiologia, a
teologia e a ideia de missão.
No campo político, os batistas brasileiros, desde o início,
demonstraram uma certa ambiguidade com o princípio de separação entre
Igreja-Estado. Num primeiro momento, os batistas brasileiros, ainda sob forte
influência dos pastores-missionários, cultivaram uma postura definida quanto
à participação na política nacional, o absenteísmo político. Este funcionou
como elemento de unidade e certa identidade para os batistas da CBB. A
eclesiologia batista tem como marca a democracia participativa, a autonomia
da igreja local e a separação entre Igreja-Estado. Todos esses elementos
conjugados, com uma certa tensão política, deram aos batistas, a partir de
suas igrejas locais, a percepção de que os batistas brasileiros não se
envolviam com a política nacional. Cabia ao grupo, em termos de
participação política no cenário nacional, a “submissão à autoridade e da
oração pelos que estão investidos de poder. Do ponto de vista batista a oração
era um instrumento eficaz, tratava-se de pedir a intervenção espiritual de
Deus para abençoar os governantes e tocar nos seus corações o sentimento de
justiça” (SILVA, 2011, p. 305). Elizete da Silva (2011, p. 305), discutindo a
participação dos batistas na recém República, observa que, assim como os
demais protestantes no país, os batistas brasileiros participaram de um “Dia
de Comum Oração”, por temer que a nova República cedesse à hegemonia
católica. Como ferrenhos defensores da liberdade religiosa e da separação
entre Igreja-Estado, os batistas nunca esconderam o desejo de ver o Brasil
uma república. O Jornal Batista de 1902, traz uma oração dos batistas
brasileiros em relação à política e suas turbulências na época: “Pedir a Deus
pelo presidente e governadores; para que Elle lhes infunda um espírito de
justiça e de fidelidade às leis, para que não se deixem levar pelas manhas do
jesuitismo e governem com cuidado” (SILVA, 2011, p. 305). Imbuídos pelo
princípio da liberdade religiosa e da separação entre Igreja-Estado, os
batistas, ainda que com claros anseios por verem confirmados na política
nacional dois dos seus mais caros princípios, estão comprometidos com seus
princípios fundamentais e, mesmo com uma linguagem religiosa de cunho
pietista, imprimem seus princípios politicamente quando usam o jornal da
denominação para tornar evidente suas bandeiras políticas. Quando esses
temas mais caros aos batistas não estão em pauta, Elizete da Silva (2011, p.
306) observa que “a prática recorrente entre os batistas foi a omissão frente às
questões gerais da política nacional”. Antônio Gouvêa Mendonça (1990, p.
45), tratando sobre os batistas e sua relação com a política, é taxativo: “Não
se nota representatividade de algum ideal político protestante nem
pronunciamentos a respeito dos problemas estruturais da sociedade
brasileira”. Nesse sentido, os batistas, como um dos herdeiros do Pietismo,[41]
quando diante de temas da política nacional, mantinham uma postura de
“neutralidade”. O recurso era a oração pelos governantes e pelos problemas
da Nação, mas não havia um discurso político-teológico que confrontasse a
realidade da sociedade brasileira. Ainda que “os problemas políticos foram
[eram] reconhecidos, mas enquanto dificuldades decorrentes da falta do
Evangelho, da ausência dos princípios cristãos ou batistas no coração dos
governantes e dos governos” (SILVA, 2011, p. 306). Para Mendonça (1990,
p. 45), há na gênese dos batistas brasileiros pelos menos dois elementos
impeditivos quanto à participação dos batistas enquanto denominação no
cenário político nacional: (i) o “receio de escandalizar o conservadorismo das
bases”; (ii) “no antigo componente da teologia missionária norte-americana
da ‘Igreja espiritual’, que buscava afastar a Igreja dos conflitos sociais”.
Assim, a ênfase recai no discurso religioso que tenta imprimir uma postura
camuflada de não envolvimento com a política, mas ao mesmo tempo
reivindica a conversão e a teologia salvacionista, como parte de uma
pregação batista que é fruto do Pietismo,[42] como a principal plataforma de
comunicação política com a sociedade brasileira. Por adotarem essa postura
de pretensa abstenção política, os batistas, num primeiro momento, não
incentivavam a participação político-partidária, desestimulando a reflexão e a
práxis política. Elizete da Silva (2011, p. 308), pesquisando esse aspecto dos
batistas brasileiros, ressalta que havia toda “uma argumentação contrária ao
envolvimento dos batistas em coletivos políticos”. Até então, segundo Silva
(2011, p. 308), “a política era considerada como um componente do reino do
mundo [...], era uma atividade mundana por excelência, e não era incentivada
a participação”. E mesmo que houvesse uma disposição para colocar o crente
batista como uma confiável opção na tentativa de mudar o cenário político,
ainda assim a sua participação era rejeitada pelo grupo, “mesmo com a
perspectiva do fiel ser luz, portador dos princípios evangélicos” (SILVA,
2011, p. 308).
As conclusões quanto ao início, consolidação e pensamento dos
batistas como denominação no Brasil, podem ser assim aventadas: “O
pensamento batista brasileiro, expresso em órgãos como O Jornal Batista,
não traduziu apenas o liberalismo inglês do século XVII. Ao receber uma
influência direta dos batistas do sul dos EUA, miscigenou-se e gerou o que
chamamos de pensamento liberal-conservador” (PINHEIRO, 2012, p. 241).
Dessa forma, a percepção política dos batistas brasileiros, não obstante a sua
gênese inglesa conter contornos político-filosóficos e, com menor
intensidade, teológico, ficou aquém das raízes inglesas, absorvendo, como
herança dos pastores-missionários, a matriz norte-americana do modo de ser
batista. Israel Belo de Azevedo (2004, p. 225), sintetiza o que ficou como
formação do pensamento batista no Brasil: “o pensamento batista no Brasil é
o pensamento batista norte-americano reproduzido nas linhas gerais. Assim, o
anticatolicismo e o laicismo do Estado foram reforçados e o landmarkismo
resultou presente mas mitigado”.
Considerações finais
Os batistas são um povo que tem a coragem das suas convicções. Creem num indivíduo livre,
numa igreja livre, num estado livre; creem na competência de cada alma tratar diretamente com Deus
da sua própria salvação; creem nos direitos iguais para todos e privilégios especiais para ninguém;
creem numa democracia política, religiosa, social, econômica e educativa
(A. B. Langston)
Referências
ALONSO, Leandro Seawright. Entre Deus, Diabo e Dilma: messianismo evangélico nas eleições 2010. São
Paulo: Fonte Editorial, 2012.
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. 2. ed.
São Paulo: Moderna, 1993.
AZEVEDO, Israel Belo de. A celebração do indivíduo: a formação do pensamento batista brasileiro. 2. ed. São
Paulo: Vida Nova, 2004.
CAVALCANTE, Ronaldo. A cidade e o gueto: introdução a uma teologia pública protestante e o desafio do
neofundamentalismo evangélico no Brasil. São Paulo: Fonte Editorial, 2010.
HARRISON, Helen Bagby. Os Bagby do Brasil: uma contribuição para o estudo dos primórdios batistas em
terras brasileiras. Rio de Janeiro: JUERP, 1987.
JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. 3. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
1996.
MENDONÇA, Antônio Gouvêa. “Evolução histórica e configuração atual do protestantismo no Brasil”. In:
MENDONÇA, Antônio Gouvêa; VELASQUES FILHO, Prócoro. Introdução ao protestantismo no Brasil. São Paulo:
Loyola, 1990, p. 11-59.
OLIVEIRA, Zaqueu Moreira de. Um povo chamado batista: história e princípios. Recife: Kairós Editora, 2010.
PINHEIRO, Jorge. “Política e protestantismo ocupam as ruas: reflexões sobre as mobilizações populares de junho
de 2013”. Estudos de Religião, vol. 27, n. 1, 2013, p. 219-236.
PINHEIRO, Jorge. “Salvacionismo ou evangelho social?” (p. 235-256). In: PINHEIRO, Jorge; SANTOS,
Marcelo (Orgs.). Os batistas: controvérsias e vocação para a intolerância. São Paulo: Fonte Editorial, 2012.
PY, Fábio. “Curitiba: capital do ultraconservadorismo religioso batista”. In: LELLIS, Nelson; PY, Fábio (Orgs.).
Religião e política à brasileira: ensaios, interpretações e resistência no país da política e da religião. São Paulo:
Terceira Via, 2018, p. 125-132.
REILY, Ducan Alexander. História documental do protestantismo no Brasil. 3. ed. São Paulo: ASTE, 2003.
RIKER, D. B. “Os batistas, seus 400 anos e sua contribuição teológica para o mundo” (p. 74-108). In: ROCHA,
Alessandro; FERREIRA, Ebenézer Soares (Orgs.). A teologia e os desafios contemporâneos. São Paulo: Reflexão,
2010.
SANTOS, Marcelo. “Raízes históricas e teológicas dos batistas: de onde viemos?” (p. 13-50). In: PINHEIRO,
Jorge; SANTOS, Marcelo (Orgs.). Os batistas: controvérsias e vocação para a intolerância. São Paulo: Fonte Editorial,
2012.
SILVA, Elizete da. “Os batistas no Brasil” (p. 283-332). In: SILVA, Elizete da; SANTOS, Lyndon de Araújo;
ALMEIDA, Vasni de (Orgs.). “Fiel é a palavra”: leituras históricas dos evangélicos protestantes no Brasil. Feira de
Santana: UEFS, 2011.
YAMABUCHI, Alberto Kenji. O debate sobre a história das origens do trabalho batista no Brasil: uma análise
das relações e dos conflitos de gênero e poder na Convenção Batista Brasileira dos anos 1960-1980. (Tese de
Doutorado – Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo). São
Bernardo do Campo: UMESP, 2009.
Páginas eletrônicas:
CONVENÇÃO BATISTA BRASILEIRA. “Jejum e oração em favor do Brasil – L. Roberto Silvado”. Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=moFA3YSHD10>.
EL PAÍS. “Em novo diálogo vazado, Moro orienta força-tarefa da Lava Jato a contestar na imprensa depoimento
de Lula”. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2019/06/15/politica/1560562972_929834.html>.
VALANDRO JR., Josué. “Bolsonaro e esposa recebem oração de seu pastor”. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=yRK3KlhmAY0>.
VALANDRO JR., Josué. “Orar por candidatos a cargos políticos”. Disponível em:
<https://pleno.news/opiniao/josue-valandro-jr/orar-por-candidatos-a-cargos-politicos.html>.
VALANDRO JR., Josué. “Voto cristão e seu futuro. Você está preocupado?”. Disponível em:
<https://pleno.news/opiniao/josue-valandro-jr/voto-cristao-e-o-seu-futuro-voce-esta-preocupado.html>.
5. Percepções de jovens pentecostais sobre
participação e mobilização política
Wania Amélia Belchior Mesquita
Leonardo Gonçalves de Alvarenga
Vanessa da S. Palagar Ribeiro
Introdução
O que pensam jovens pentecostais sobre participação cívica? Como
estabelecem vínculos entre religião e política? Como se assumem diante de
questões sociais e ambientais? A religião faz diferença no cotidiano desses
jovens? Este artigo resulta da pesquisa “Juventude e expansionismo
pentecostal no norte fluminense”[55] que buscou conhecer o perfil de jovens a
partir de alguns aspectos relacionados a religião e as dinâmicas socioespaciais
da cidade de São João da Barra, localizada no norte fluminense do estado de
Rio de Janeiro e que passou por algumas transformações decorrentes da
implementação do Complexo Logístico Industrial e Portuário do Açu
(CLIPA)[56]. Portanto, partiu-se do entendimento das transformações no
cenário religioso tanto em relação ao contexto local, considerando-se as
transformações socioeconômicas, quanto em relação a um contexto nacional
de reordenamento das religiões na contemporaneidade (SWATOWISKI,
2009). Conforme indicam algumas pesquisas as “microrregiões geográficas
representam um excelente nível de análise para pesquisas que considerem o
país como um todo” (JACOB et al, 2003; ALVARENGA, 2017).
A base empírica da pesquisa realizada com os jovens em São João da
Barra englobou a abordagem quanti-qualitativa, baseada em um survey
realizado no período de novembro de 2014 a janeiro de 2015, em etnografia e
na realização de grupos focais por meio do trabalho de identificação das
ações dos jovens pentecostais, possibilitando e ampliando a compreensão
sobre os processos sociais em curso. No entanto, neste texto focaremos na
pesquisa quantitativa, tendo como parâmetro a participação e mobilização
política dos jovens que frequentam as igrejas pentecostais e moram em São
João da Barra, correlacionando com as suas atitudes a partir temática de
religião e política.
O universo da pesquisa refere-se aos jovens de 15 a 24 anos[57] que
frequentam as igrejas pentecostais e moram na região norte fluminense. A
construção social e histórica da juventude (ARIES, 1981), considera a
existência de perfis muito peculiares em diferentes contextos sociais e
culturais, a heterogeneidade da categoria reflete não apenas diferentes
percepções da noção de indivíduo e sua relação com o todo social
(BOURDIEU, 1983). Conforme já destacado por Novaes (2006, p.105), “(...)
qualquer que seja a faixa etária estabelecida, jovens com idades iguais vivem
juventudes desiguais”. Neste sentido, Fernandes (2011, p. 102) na sua
abordagem sobre a relação entre juventude, religião e política entre os jovens
que participavam de paróquias católicas e Igrejas pentecostais na Baixada
Fluminense – Rio de Janeiro, destaca que é fundamental considerar as
“relações sociais estabelecidas, pelo modo como elaboram as diversas
representações da sociedade e pelas formas cada vez mais novas de inserção
nos grupos sociais”.
A construção do questionário[58] utilizado para o levantamento de dados
foi baseada na divisão em cinco eixos temáticos, a fim de contemplar a
problemática da pesquisa. O primeiro eixo temático está direcionado para a
"identificação e perfil" dos jovens pesquisados; o segundo contempla a
"Religião" dos jovens; no terceiro abordamos a "participação cívica, religião
e política"; o quarto eixo abordamos o tema "percepções e valores"; e o
quinto, e último eixo, buscou contemplar questões relativas a "sexualidade"
dos jovens. No entanto, esse conjunto de questões não foi abordado devida a
restrições colocadas por pastores das igrejas onde foram aplicados
questionários da pesquisa.
A concepção inicial do survey era abordagem domiciliar junto aos jovens
residentes na cidade de São João da Barra, contudo não tivemos acesso aos
microdados do IBGE (Censo 2010) necessário a definição amostral do
universo da pesquisa. Mediante este fato, foi feito um reconhecimento do
quantitativo e especificação das igrejas pentecostais na cidade junto ao
Cartório de Registro de São João da Barra, tal ação não foi exitosa, mediante
a resposta da inexistência desses registros. Outra tentativa de levantamento
dessas igrejas foi através da lista telefônica, onde foram localizadas menos
que cinco igrejas com telefone e endereço.
Posterior a esta fase, a partir de uma incursão exploratória presencial de
pesquisadores na localidade, foi realizado levantamento e identificação prévia
das igrejas localizadas na área central, primeiro distrito de São João da Barra.
Sendo identificadas as seguintes denominações Primeira Igreja Batista,
Assembleia de Deus, Assembleia de Deus Ministério Madureira, Assembleia
de Deus Casa de Sibitião para os povos, Igreja Internacional da Graça de
Deus e Igreja Universal do Reino de Deus.
Durante a pesquisa realizamos várias visitas as respectivas igrejas, onde
os jovens foram contatados em momentos que antecederam atividades como
cultos e reunião de jovens. Nessas ocasiões os pesquisadores de campo se
apresentaram e informaram o objetivo da pesquisa. Como mencionado
anteriormente, a aplicação do questionário teve restrições por parte dos
pastores, dessa forma, os jovens não chegaram a ter conhecimento das
questões relativas a sexualidade.
Gráfico 1 - Jovens segundo sua posição em relação a ocupação de terras improdutivas para a reforma
agrária (%)
Gráfico 2 - Jovens segundo sua posição em relação a greves por melhores condições de trabalho e por
salário (%)
Gráfico 4 - Jovens segundo sua posição em relação a abaixo assinado para melhorias no bairro ou cidade
(%)
Gráfico 6 - Jovens segundo sua posição em relação a manifestações pela ética na política (%)
Gráfico 21 - Jovens segundo participação como agente de educação (trabalho voluntário em escolas) (%)
Gráfico 22 - Jovens segundo a possibilidade de participar como agente de educação (trabalho voluntário
em escolas) (%)
Gráfico 27 - Jovens segundo participação em visitas a instituições caritativas (asilos, orfanatos, etc.) (%)
Gráfico 31 - Os jovens sem religião preferem ser voluntários em ONGS, participam de movimentos sociais
ou associações da sociedade civil (%)
Gráfico 40 – Jovens segundo sua confiança em um futuro melhor para sua cidade em relação a qualidade
da educação (%)
Gráfico 41 - Jovens segundo sua confiança em um futuro melhor para sua cidade em relação a qualidade
da saúde (%)
Os dados relativos ao grau de confiança dos jovens em um futuro melhor
para sua cidade em relação a qualidade de transporte pode ser observado no
Gráfico 42, em que 39,2% do jovens assinalaram confiar neste aspecto,
35,3% confiam pouco, 15,7% confiam plenamente, 7,8% não confia e apenas
2,0% não souberam ou não responderam a questão. De modo geral, um pouco
mais da metade dos jovens confiam em algum grau em um futuro melhor
para sua cidade em relação a qualidade de transporte.
No Gráfico 43 podemos observar as respostas dos jovens sobre sua
confiança em um futuro melhor para sua cidade em relação a oferta de
emprego, 41,2% afirmaram confiar em um futuro melhor em relação a oferta
de emprego, 29,4% confiam pouco, 15,7% confiam plenamente, 11,8% não
confiam e apenas 2,0% não souberam ou não responderam a questão. Neste
aspecto, mais da metade dos jovens também apresentaram expectativas
positivas em um futuro melhor para sua cidade em relação a oferta de
emprego.
Gráfico 42 - Jovens segundo sua confiança em um futuro melhor para sua cidade em relação a qualidade
de transporte (%)
Gráfico 43 – Jovens segundo sua confiança em um futuro melhor para sua cidade em relação a oferta de
emprego (%)
Gráfico 44 – Jovens segundo sua confiança em um futuro melhor para sua cidade em relação a diminuição
da violência (%)
Gráfico 45 – Jovens segundo sua confiança em um futuro melhor para sua cidade em relação a preservação
do meio ambiente (%)
Gráfico 46 – Jovens segundo sua confiança em um futuro melhor para sua cidade em relação a expansão de
sua minha igreja/religião (%)
Considerações finais
Pesquisas já têm sido feitas no sentido de mostrar que entre evangélicos,
pentecostais ou não, a questão identitária é uma questão de heterogeneidade.
No geral e no particular, os evangélicos não são um bloco monolítico
(ALENCAR, 2013; ALVARENGA, 2017). A juventude, como categoria não
homogênea (BOURDIEU, 1983), encontra eco nessa realidade difusa e
permeável que é a religião no Brasil. Fernandes (2011, p. 104) indica que
“tanto a situação de moradia quanto a vinculação religiosa podem ser
variáveis importantes para a análise das expectativas e representações
juvenis”. Nestas perspectivas, os dados coletados trazem um indicativo
curioso e ao mesmo tempo repleto de questões que precisam ser
aprofundadas, como por exemplo, o local de habitação dos jovens, as
transformações sociais e econômicas, além da religiosa.
Mas o que se pode observar, ainda que de forma fugaz e dinâmica, é que
entre os jovens entrevistados há uma tensão entre o que pensam e o que
fazem. Em um primeiro momento pode suscitar questionamentos sobre a
forma que os referenciais religiosos orientam as práticas juvenis no que se
refere ao modo de vida. Se concordam e não praticam ou até mesmo tem
interesse em participar, mas não colocam em prática, dá a entender que a
religião não trata dos assuntos mencionados e muito menos estimula esses
tipos de ações. Ou então, que existem certos entraves no contexto religioso
que não foram enfrentados, como a suposta impermeabilização das ordens
religiosas e políticas.
A participação cívica dos jovens mostrou-se menor do que o grau de
concordância. Existem diferentes maneiras de interpretar esses dados. Uma
delas pode ser analisada a partir do questionamento sobre o incentivo ou não
do jovem no envolvimento na política. Quase a metade discordou. Será que
para esses jovens a religião teria outro papel? Somente 5,9% concordaram
com esse tipo de estímulo, ou seja, há muitas outras coisas importantes que a
religião deveria dar conta e que não tem nada a ver com a política. Todavia,
não é o caso de considerar esse aspecto um indício de alienação. Ao falar de
política, pode-se pensar no seu paradoxo, isto é, como algo que só beneficia
uma classe em detrimento de outra ou então um meio de aproveitamento
ilícito e práticas corruptas (CHAUÍ, 2000). Além disso, existe a possibilidade
de pensar que a política é uma atividade própria de certas pessoas
encarregadas de fazê-la.
Os dados oferecem margem para outras interpretações que requerem
maior densidade e aprofundamento analíticos. Todavia, deve-se considerar
que o perfil dos jovens entrevistados oscila entre crenças, costumes e
práticas. Um quadro comparativo com jovens não religiosos serviria como
base para chegar a outras conclusões. Na sociedade moderna, consolidada ou
não, a crença religiosa e a participação religiosa ou mesmo cívica são
“assunto de opção pessoal”: são assuntos particulares, que dependem de uma
consciência individual e que nenhuma instituição religiosa ou política pode
impor a quem quer que seja. O fato de serem jovens pentecostais não indica
uma uniformidade do pensamento. Suas respostas aos questionamentos têm
variantes que confirmam a hipótese de que ocorre, sim, uma “perda de
regulamentação” e que esta aparece principalmente na liberdade com que
estes indivíduos constroem seu sistema de fé, fora de qualquer referência a
um corpo de crenças institucionalmente validado (HERVIEU-LÉGER, 2008).
Com isso, pode-se também observar que a crença desses jovens, ainda que
fluidas, não desaparece, ela se desdobra e se diversifica, tornando-se
maleáveis e de acordo com o espaço-tempo, além dos dispositivos de seu
enquadramento institucional. As crenças se expressam de um modo
probalístico (“podem bem ser, mas não estou certo disso”, ou então, “não
concordo plenamente, mas parcialmente”, “não participo, mas tenho
interesse”). Tais variações se dão na medida em que a abordagem
considerada nesta pesquisa teve como perspectiva analítica as percepções de
jovens pentecostais nos contextos de suas relações sociais.
Referências
ALENCAR, Gedeon Freire de. Matriz Pentecostal Brasileira: Assembleias de Deus 1911-2011. Rio de Janeiro:
Editora Novos Diálogos, 2013.
ALVARENGA, L.G. Os batistas em movimento: um estudo da dinâmica sócio religiosa de batistas no Brasil: o
exemplo de Macaé-RJ. São Paulo, 2017. 260 f. Tese (Doutorado em Ciência da Religião) - Programa de Pós-Graduação
em Ciência da Religião, PUC-SP, 2017.
ARIÈS, Phillipe. História social da criança e da família. 2 ed. Rio de Janeiro: LTC, 1981.
BOURDIEU, Pierre (1930–2002). A “juventude” é apenas uma palavra. In: BOURDIEU, Pierre. Questões de
Sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983.
FERNANDES, Sílvia Regina Alves (2011). (2011). Marcos definidores da condição juvenil para católicos e
pentecostais na baixada fluminense - algumas proposições a partir de um survey. Relig. soc., Rio de Janeiro, v. 31, n.
1, p. 96-125.
JOCOB, Cesar Romero; HESS, Dora Rodrigues; WANIEZ, Philippe; BRUSTLEIN, Violette. Atlas da filiação
religiosa e indicadores sociais no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio, 2003.
NOVAES, Regina. Os jovens de hoje: contextos, diferenças e trajetórias. In: ALMEIDA, Maria Isabel Mendes;
EUGENIO, Fernanda (orgs.). Culturas jovens: novos mapas do afeto. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., p.105-120,
2006.
QUINTO JÚNIOR, Luiz de Pinedo; FARIA, Teresa de Jesus P.; CARVALHO, Lívia Silva de. Implantação de
um Complexo Industrial Portuário: o Caso do Porto do Açu. Agenda Social. V.5, nº2, p. 84- 103, mai/ ago / 2011.
SWATOWISKI, Claudia. Dinâmicas espaciais em Macaé: Lugares públicos e ambientes religiosos. In:
ALMEIDA, Ronaldo; MAFRA, Clara. (Orgs.). Religiões e cidades: Rio de Janeiro e São Paulo. São Paulo: Terceiro
Nome, 2009.
Sobre os autores e as autoras
Alonso Gonçalves - Doutorando em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São
Paulo. Pastor da Igreja Batista Central em Pariquera-Açu/SP. E-mail: alonso3134@hotmail.com
[1] BOLSONARO afirma em seu primeiro discurso que terá governabilidade; leia íntegra. Folha
de S. Paulo, 28 out 2018. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/10/bolsonaro-
afirma-em-seu-primeiro-discurso-que-tera-governabilidade-leia-integra.shtml>. Acesso em: 1 out 2019.
[2] BOLSONARO, Jair. Jair Bolsonaro, presidente de Brasil: “No quiero que Argentina siga la
línea de Venezuela, por eso apoyo la reelección de Macri”. Entrevista Exclusiva a Guido Nejamkis.
Clarín, 14 jul 2019. Disponível em: <https://www.clarin.com/mundo/jair-bolsonaro-presidente-brasil-
quiero-argentina-siga-linea-venezuela-apoyo-reeleccion-macri_0_r0JjNpoAE.html>. Acesso em: 1 out
2019
[3] MENDONÇA, Ricardo. Ideologia interfere pouco na decisão de voto, diz Datafolha. Folha de
S. Paulo, 14 out 2013. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/133801-ideologia-
interfere-pouco-na-decisao-de-voto-diz-datafolha.shtml>. Acesso em: 1 out 2019.
[4] O fundamentalismo é um movimento religioso e conservador, nascido entre os protestantes dos
EUA no início do século XX, que tem como princípio os “Fundamentals” – elementos elencados como
fundamentos da fé e da doutrina cristãs, baseados na interpretação literal de narrativas e ensinamentos
da Bíblia. Sobre o Fundamentalismo, suas origens e ênfases, ver DREHER, Martin N. Para entender o
fundamentalismo. São Leopoldo: Editora UNISINOS, 2002.
[5] De acordo com o Censo de 2010 (IBGE), os cristãos representam 86.8% da população - quase
nove em cada 10 brasileiros se declaram cristãos, segundo o Censo de 2010. Dentro deste agrupamento
religioso encontram-se fundamentalmente dois segmentos: os católico-romanos, 64,6% (queda de 9,27
em relação ao Censo de 2000), e os evangélicos, 22,2% (crescimento de 6,4 em relação ao censo
anterior).
[6] Sobre isto ver CASADO, José. A direta avança. O Globo, 8 jul 2104. Disponível em:
<http://oglobo.globo.com/opiniao/a-direita-avanca-13171346#ixzz376hEcRGH>. Acesso em: 1 de out
2019.
[7] Sobre isto ver COUTO, Aluízio. Preferências ideológicas e jornalismo tribal. Observatório da
Imprensa, n.753, 2 jul 2013. Disponível em:
<http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed753_preferencias_ideologicas_e_jornalismo_tribal>.
Acesso em: 1 de out 2019.
[8] EDUCAÇÃO como prioridade é tema de encontro em Brasília. Fundação Lemann, 18 set
2019. Disponível em: <https://fundacaolemann.org.br/noticias/educacao-como-prioridade-e-tema-de-
encontro-em-brasilia>. Acesso em: 1 out 2019.
[9] MELO, Patrícia Campos. Itamaraty orienta diplomatas a frisar que gênero é apenas sexo
biológico. Folha de S. Paulo, 26 jun 2019. Disponível em:
<https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/06/itamaraty-orienta-diplomatas-a-frisar-que-genero-e-
apenas-sexo-biologico.shtml>. Acesso em: 1 out 2019.
[10] FRAZÃO, Felipe, MOURA, Rafael Moraes, FORMENTI, Ligia. Evangélicos influenciam
atos da gestão Bolsonaro. Estadão, 15 set 2019. Disponível em:
<https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,evangelicos-influenciam-atos-da-gestao-
bolsonaro,70003011076>. Acesso em: 1 out 2019
[11] Sobre isto ver: CUNHA, Magali do Nascimento. Ao criticar perseguição religiosa na ONU,
Bolsonaro só olha para fora. Diálogos da Fé (Carta Capital), 25 set 2019. Disponível em:
<https://www.cartacapital.com.br/blogs/dialogos-da-fe/ao-criticar-perseguicao-religiosa-na-onu-
bolsonaro-so-olha-para-fora/>. Acesso em: 1 out 2019
[12] A votação da Reforma da Previdência, ocorrido em jul/2019 na Câmara dos Deputados,
ilustra bem este ponto. O PDT havia orientado a todos os seus membros a votarem contra a Reforma. A
deputada federal Tabata Amaral e mais 7 deputados contrariaram a orientação de seu partido. O PDT
abriu um processo disciplinar contra estes.
[13] A sigla PPS foi modificada em março/2019. O partido passou a se chamar Cidadania.
[14] Comunicações do ISER, 3, dezembro de 1982, p. 16-17.
[15] Disponível em: <http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/jose-de-
oliveira-fernandes>. Acesso em: 10 de set. de 2018.
[16] No ano de 2014, dos 27 estados nacionais, 9 não elegeram deputados federais ligados à AD:
Acre, Alagoas, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Piauí, Sergipe e Tocantins.
Mas tiveram eleitos para outros cargos para a Câmara em outros estados, exceto em Alagoas, Paraíba,
Piauí e Tocantins. No Acre, foram eleitos deputados estaduais.
[17] Disponível em: <https://www.eleicoes2014.com.br/eliziane-gama/>. Acesso em: 28 de jul. de
2018.
[18] Disponível em: <http://diegoemir.com/2016/01/eliziane-economiza-e-segunda-parlamentar-
com-menor-gasto-na-camara-dos-deputados/>. Acesso em: 28 de jul. de 2019.
[19] Em: 09/06/2015; sessão 142.1.55.O; fase: homenagem.
[20] Em: 13/06/2017; sessão 157.3.55.O; fase: breves comunicações.
[21] Segundo o CEADEMA, há 7.890 igrejas assembleianas com 8.450 obreiros e 1.350.000
membros. Disponível em: <https://ceadema.com.br/>. Acesso em: 28 de jul. de 2018.
[22] Disponível em: <https://www.marcoaureliodeca.com.br/2018/06/13/evangelicos-lancam-
sabado-pre-candidatura-de-eliziane-gama-ao-senado/>. Acesso em: 28 de jul. de 2018.
[23] Disponível em: < https://luiscardoso.com.br/politica/2018/10/eliziane-gama-anuncia-voto-
em-haddad-e-lider-das-assembleias-de-deus-reprova/>. Acesso em: 15 de out. de 2018. Nada ocorreu
em relação ao plebiscito, mas Eliziane, após eleita ao senado, votou contra tais Reformas.
[24] Disponível em: <http://www.ma.gov.br/agenciadenoticias/gestao/relacoes-institucionais/em-
chapadinha-governador-flavio-dino-participa-de-convencao-anual-das-assembleias-de-deus>. Acesso
em: 22 de jun. de 2019.
[25] Disponível em: <https://www.blogsoestado.com/zecasoares/2018/11/28/mical-diz-que-e-
fruto-da-assembleia-de-deus/>. Acesso em: 17 de jun. de 2019.
[26] Disponível em: <https://pleno.news/brasil/eleicoes-2018/cgadb-declara-apoio-ao-candidato-
jair-bolsonaro.html>. Acesso em: 20 de dez. de 2018.
[27] Disponível em: <https://www.marcoaureliodeca.com.br/2018/06/26/pastor-da-assembleia-de-
deus-repudia-apoio-da-lideranca-da-igreja-a-flavio-dino/>. Acesso em: 17 de jun. de 2019.
[28] Disponível em: <https://oimparcial.com.br/politica/2018/10/eliziane-declara-apoio-a-haddad-
e-igreja-repudia/>. Acesso em: 02 de dez. de 2018.
[29] Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=m5mmqzG_MXI>. Acesso em: 15 de
jan. de 2019.
[30] Idem.
[31] Disponível em: <https://noticias.gospelmais.com.br/senadora-assembleia-de-deus-apoiar-
haddad-103216.html>. Acesso em: 18 de jun. de 2019.
[32] Disponível em: <http://linhares.info/dois-anos-apos-votar-pelo-impeachment-eliziane-gama-
quer-pt-de-volta/>. Acesso em: 17 de jun. de 2019.
[33] Liberalismo “considera a vontade individual como fundamento das relações sociais, portanto,
as liberdades de pensamento e opinião, como de culto, em relação ao poder do Estado” (JAPIASSÚ;
MARCONDES, 1996, p. 163).
[34] “Se os evangelhos e os apóstolos podem ser acreditados, nenhum homem pode ser cristão
sem caridade e sem aquela fé que opera não pela força, mas pelo amor. Agora apelo para a consciência
daqueles que perseguem, torturam, destroem e matam outros homens sob a pretensão da religião, seja
por amizade e gentileza para com eles ou não” (LOCKE, 2011, p. 32).
[35] “Pois Deus, ao conferir ao homem um entendimento para governar suas ações, concedeu-lhe
uma liberdade de vontade e de ação como a estas pertinente, dentro dos limites da lei à qual está
submetido” (LOCKE apud CAVALCANTE, 2010, p. 114).
[36] “O grande grito de liberdade, não só para cristãos, mas para todos, foi dado em 1612 por
Thomas Helwys. Escrevendo ao rei Tiago I (1567-1625), Helwys afirma que ‘se o povo for obediente e
verdadeiramente sujeito [ao rei], obedecendo todas as leis humanas erigidas pelo rei, nosso senhor o rei
não pode requerer mais [que isto]: porque a religião dos homens em relação a Deus é entre Deus e os
homens. O rei não responderá por isso, nem pode o rei ser juiz entre Deus e o homem’. Continua
Helwys, ‘o rei é um homem mortal, e não Deus, portanto, ele não tem poder sobre a alma mortal dos
seus cidadãos para fazer leis e ordenanças e instaurar autoridades espirituais [bispos, cortes
eclesiásticas, etc.] sobre eles’. Portanto, as pessoas devem ser livres para crer ou deixar de crer no [quê]
quer que seja, sem que o Estado se interponha nesta questão” (RIKER, 2010, p. 82).
[37] “Os batistas fazem parte da gênese do pensamento liberal inglês. Não se pode dizer que sejam
tributários do liberalismo, porque é mais verdadeiro dizer que integram o mesmo movimento que se
consolidou no liberalismo primitivo [...]. De qualquer modo, com certeza, a ênfase na liberdade
individual e no princípio da separação entre igreja e estado são uma evolução do puritanismo ou uma
apropriação do liberalismo. Quando alguns batistas emigraram para as Treze Colônias americanas, o
ideário permaneceu e esteve onipresente na sua relação com o novo mundo. O modo de pensar se
transformou, mas conservou e consolidou o espírito inglês” (AZEVEDO, 2004, p. 12).
[38] “A cisão que mais repercute até nossos dias, e que foi fundamental para a história dos batistas
brasileiros, foi a causada pela controvérsia escravagista. Desde a organização da convenção trienal em
1814, o problema da escravatura era algo real. O ponto máximo da questão aconteceu em 1845, quando
os irmãos do sul se sentiram compelidos a separarem-se da convenção trienal, estabelecendo uma
convenção separada a qual deram o nome de Convenção Batista do Sul” (SANTOS, 2012, p. 30).
[39] “O trabalho batista no Brasil foi, indiretamente, produto da Guerra Civil dos Estados Unidos.
Desanimados com a perda de terra e escravos, como resultado da guerra, algumas centenas de famílias
americanas resolveram procurar novos lares no Brasil, aproveitando o convite do Imperador liberal, D.
Pedro II. Estabeleceram-se no Estado de São Paulo, numa Vila chamada Santa Bárbara” (HARRISON,
1987, p. 14).
[40] Vem do termo landmark, que significa “marco de terra”. Tem a ver com Dt 19,14, que fala
para não remover os marcos “que os antigos fixaram”. As ideias landmarkistas foram espalhadas, a
partir de 1846, através do jornal “The Tennessee Baptist” (OLIVEIRA, 2010, p. 91).
[41] Segundo Alberto Kenji Yamabuchi (2009, p. 105), do Pietismo veio o desejo de proclamar o
evangelho ao mundo, o que acabou desenvolvendo nos batistas norte-americanos um messianismo com
forte teor salvacionista. Uma vez no Brasil, os missionários trouxeram essa teologia salvacionista
influenciando profundamente o pensamento batista brasileiro.
[42] “A tradição fundamentalista e pietista do protestantismo missionário, defendiam que as
reformas políticas e sociais se dariam através da regeneração dos indivíduos. A leitura e a prática dos
ensinos bíblicos eram aconselhadas como medida profilática e saneadora dos males sociais e políticos”
(SILVA, 2011, p. 309).
[43] “Realizada de 22 a 29 de julho de 1962, em Recife, nas dependências do Colégio Agnes
Erskine (vinculado à Igreja Presbiteriana do Brasil, IPB), a Conferência do Nordeste – como ficou
chamada desde então – foi a 4ª Reunião de Estudos promovida pelo Setor de Responsabilidade Social
da Igreja da Confederação Evangélica do Brasil [...]. Cento e sessenta e sete participantes estiveram
presentes, representando 14 diferentes denominações protestantes (entre as quais batistas,
congregacionais, presbiterianos, episcopais, luteranos, pentecostais, reformados, metodistas livres) e
delegados de cinco igrejas dos Estados Unidos, México e Uruguai, como observadores” (BURITY,
2011, p. 171-172).
[44] “Grande parte da história da mentalidade protestante brasileira está baseada no ‘sonho
americano’ como lapidar para a construção do Reino de Deus por meio da salvação do espírito humano
– tão somente. Episódio semelhante aconteceu no ambiente da Ditadura Militar no Brasil em que
pastores iluminados propuseram uma salvação como renovação espiritual, pois uma das características
redentoras, dos movimentos messiânicos, é se desprender do campo vago da salvação meramente
espiritual para ocasionar processos complexos de renovação política” (ALONSO, 2012, p. 132).
[45] Ainda que a denominação batista seja, na sua configuração, plural, as pessoas aqui
mencionadas como “lideranças da CBB” recebem essa identificação por serem líderes que estão
envolvidos com a política denominacional, participando, assim, dos rumos da denominação no seu
aspecto institucional a nível de CBB, concorrendo, em nas assembleias anuais da denominação à cargos
eletivos, principalmente para presidente da CBB.
[46] Por ethos histórico-político-teológico dos batistas compreendemos as principais
características desse grupo que começou na Inglaterra do século XVI-XVII, passou pelos EUA e
chegou no Brasil, três fases com peculiaridades, mas todas partindo da mesma concepção fundamental
do grupo. Assim, podemos resumir esse ethos da seguinte maneira: “Do princípio da responsabilidade
individual da criatura humana diante de Deus derivam os demais princípios que balizam a vida do
crente batista: o livre exame da Palavra de Deus; a liberdade de consciência; a responsabilidade pessoal
para com a igreja local e outras coirmãs; a responsabilidade civil para com o Estado; a separação entre
Igreja e o Estado; e o amor, que gera conduta e respeito para com o próximo, testemunho e ação no
mundo” (AZEVEDO, 2004, p. 258).
[47] Vídeo disponível: <https://www.youtube.com/watch?v=NaGBrs7J6O8>.
[48] “Cabe considerarmos que a narrativa de Piragine Jr. foi exceção do pensamento batista
brasileiro por diferentes razões. Em primeiro lugar Piragine Jr. amenizou os discursos tocantes à
‘exacerbação da experiência de conversão’ em substituição da salvação da Pátria por meios messiânicos
milenaristas, com voto religioso. Em segundo lugar, sua narrativa alojou qualquer ênfase no exercício
do individualismo protestante batista e do transcendentalismo, para exigir um posicionamento
veemente, histórico, contra o Império malévolo da Iniquidade petista. [...] Mesmo tendendo para uma
preferência elitista, Piragine Jr. abandonou os fundamentos do pensamento liberal batista da defesa
suprema da liberdade individual, econômica, política, intelectual e religiosa, na tentativa de moralizar
religiosamente o Estado, laico, Democrático de Direito, o Brasil” (ALONSO, 2012, p. 166).
[49] “Na apresentação do processo da Lava-Jato, baforou frases pouco isentas contra Lula, como
‘comandante máximo’, ‘grande general’ da ‘propinocracia’ – sem provas diretas” (PY, 2018, p. 128).
[50] Vídeo disponível: <https://www.youtube.com/watch?v=moFA3YSHD10>.
[51] Texto disponível:
<https://brasil.elpais.com/brasil/2019/06/15/politica/1560562972_929834.html>.
[52] Texto disponível: <https://www.youtube.com/watch?v=yRK3KlhmAY0>.
[53] No primeiro texto, escrito no dia 24 de agosto de 2018, Valandro Jr. procura justificar sua
atitude em permitir um candidato à presidência da República subir ao púlpito da igreja. Com o texto
“Orar por candidatos a cargos políticos” - Disponível: <https://pleno.news/opiniao/josue-valandro-
jr/orar-por-candidatos-a-cargos-politicos.html>. Valandro Jr. procurou acentuar que a principal razão
de tal atitude foi porque a esposa do candidato, Michelle Bolsonaro, é membro da igreja. No segundo
texto, escrito no dia 14 de setembro de 2018, o pastor justifica mais uma vez o seu comportamento com
o texto “Voto cristão e seu futuro. Você está preocupado?” - Disponível:
<https://pleno.news/opiniao/josue-valandro-jr/voto-cristao-e-o-seu-futuro-voce-esta-preocupado.html>.
Valandro Jr. procurou desqualificar partidos de esquerda e assumiu uma postura à direita de maneira
ainda mais clara e contundente.
[54] Um desses momentos, por exemplo, se deu quando a Convenção Batista Brasileira emitiu um
Pronunciamento Oficial sobre a reforma da Previdência no governo de Michel Temer (PMDB). O
documento está disponível: <http://www.convencaobatista.com.br/siteNovo/pagina.php?DOD_ID=2>.
[55] Com apoio da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de
Janeiro (FAPERJ). A pesquisa quantitativa contou com a participação de 4 estudantes de mestrado e
um pós-doutorando do Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da UENF.
[56] Para mais informações sobre o CLIPA verificar os seguintes estudos: Pires e Pedlowski
(2009); Quinto Junior, Faria e Carvalho (2011) e Quintslr (2014).
[57] Esta faixa etária corresponde a definição de jovens da Organização das Nações Unidas.
[58] O instrumento da pesquisa foi elaborado e ampliado a partir do questionário do projeto de
pesquisa “Juventude, religião e política na Baixada Fluminense - ações e representações”, FAPERJ.
Coordenado por Silvia Regina Alves Fernandes, 2014.
[59] Em relação ao cartão cidadão, um benefício oferecido pela Prefeitura de São João da Barra,
que em junho de 2015, era destinado a 4.905 famílias em situação de vulnerabilidade social, com um
valor mensal de R$ 230,00 para aquisição de gêneros alimentícios no comércio local, foi suspenso.
Atualmente, o benefício de transferência de renda municipal, chama-se "Cartão Viver Melhor" (na
verdade é praticamente o mesmo formato do cartão cidadão). No entanto, atende apenas a 2.000
beneficiários, com um valor mensal de R$250,00 para aquisição de gêneros alimentícios, no comércio
local. É gerido pela Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos (Secretaria
Municipal de Assistência Social, Trabalho e Direitos Humanos).