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Contents

Apresentação
1. Evangélicos brasileiros e o compromisso social
2. A ascensão da direita religiosa no Brasil contemporâneo
3. Representação religiosa na política e os conflitos de uma relação
complexa: o caso da senadora El
4. A partidarização de líderes da Convenção Batista Brasileira:
5. Percepções de jovens pentecostais sobre participação e mobilização
política
Sobre os autores e as autoras
Apresentação
O protagonismo da religião e de religiosos em várias esferas da
sociedade brasileira tem sido registrado por pesquisadores de diferentes áreas.
A bricolagem religiosa, o individualismo, as múltiplas facetas da(s)
espiritualidade(s) demonstram uma rica plataforma para se discutir o Brasil
de hoje.
Em 2016 deu-se início a um projeto que se estende com vários
desdobramentos. O processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff e
os ecos religiosos na política ganharam um tom bem perceptível. As redes
sociais ajudaram a alastrar reflexões, discussões, intolerâncias, resistências. O
objetivo, portanto, além de escrever ensaios no “calor do momento”, era
historicizar eventos que apontam constantemente para possíveis
ressignificações na relação entre religião e política.
Durante a produção dos livros desta série, as análises críticas foram
remetidas por diferentes áreas do conhecimento: ciências sociais, ciências da
religião, antropologia, teologia, filosofia, educação, psicologia. Isso, aos
nossos olhos, enriquece o trabalho, uma vez que as lentes plurais ajudam a
captar e a interpretar com maior amplitude os fenômenos sociais que, como
dissemos, encontram-se em constante movimento.
A Edições Terceira Via publicou os dois primeiros volumes desta série. O
primeiro foi organizado por Nelson Lellis, idealizador da coleção: “Religião e
Política à Brasileira: ensaios sobre trajetórias políticas de uma sociedade
bravamente religiosa” (2017). O segundo volume foi organizado em parceria
com Fábio Py (UENF), modificando apenas o subtítulo: “Ensaios,
interpretações e resistência no país da política e da religião” (2018).
A editora Recriar assumiu o terceiro volume, onde, à convite, Hiran Pinel
(UFES) também esteve como organizador; e ao título foi acrescentado o tema
educação: “Religião, educação e política: ensaios sobre os
(des)comportamentos da sociedade brasileira”.
Este é quarto volume. Retomamos o título inicial (Religião e Política à
Brasileira) como forma de melhor identificar a coleção. O livro amplia o foco
da discussão entre religião e política substituindo as reflexões ensaísticas dos
volumes anteriores e trazendo apontamentos a partir de documentos, survey,
materiais empíricos e aprofundamento teórico-metodológico.
No capítulo Evangélicos brasileiros e o compromisso social, Cláudio de
Oliveira Ribeiro discute quadros da participação política em sentido mais
amplo de evangélicos no país. O texto enfatiza o crescimento de
conservadores, mas também aponta novos setores que ganham cada vez mais
espaço de engajamento sociopolítico, como a “Frente de Evangélicos pelo
Estado de Direito”, “Evangélicas pela Igualdade de Gênero”, “Rede FALE”,
dentre outros.
O texto A ascensão da direita religiosa no Brasil contemporâneo, escrito
por Magali do Nascimento Cunha, analisa como o ex-capitão do exército, Jair
Messias Bolsonaro, ajudou a fortalecer grupos conservadores tendo como
referência inicial as eleições de 2018. A relação de Bolsonaro com outros
segmentos religiosos, como os evangélicos, traz à baila o aspecto neo-
conservador, onde tais lideranças se apresentam como “pertencentes aos
novos tempos, em que a religião tem como aliados o mercado, as mídias e as
tecnologias mas que se revelam defensoras de um conservadorismo explícito
e discursos de rigidez moral, visando a conquista de poder na esfera pública”.
Nelson Lellis e Roberto Dutra assinam o terceiro capítulo: Representação
religiosa na política e os conflitos de uma relação complexa: o caso da
senadora Eliziane Gama. Discute-se a complexidade da representação
política a partir da relação de Eliziane Gama com sua denominação religiosa
(Assembleia de Deus) por seu posicionamento nas eleições de 2018. No texto
é possível observar que “a contingência e abertura de sentido resultam do fato
de que a construção de coletividades politicamente relevantes com base na
religião, ou seja, da representação política de uma vontade coletiva associada
ao pertencimento religioso, não está dada pelo vínculo religioso do candidato
ou do partido”.
Alonso Gonçalves escreve o quarto texto desta coletânea: A
partidarização de líderes da Convenção Batista Brasileira: uma análise
político-teológica. Com uma análise histórico-documental, apresenta a
relação da igreja batista com a política brasileira, onde a referida
denominação carrega como princípio a separação entre Igreja-Estado. Como
forma de complexificar tal princípio, traz à tona personagens como o
procurador Deltan Dallagnol e o pastor Josué Valandro Jr. – ambos batistas –
e que demonstra(ra)m a ambiguidade do discurso acerca da referida
separação.
O último capítulo, Percepções de jovens pentecostais sobre participação
e mobilização política foi escrito a seis mãos: Wania Amélia Belchior
Mesquita, Leonardo Gonçalves de Alvarenga e Vanessa da S. Palagar
Ribeiro. O objetivo é entender como os jovens pentecostais da cidade de São
João da Barra (norte fluminense) assumem, e em que nível, sua participação
cívica, bem como responder a maneira em que estabelecem seus vínculos
entre religião e política.
Ainda que não tenhamos condições de concluir ou pontuar (novos)
conceitos numa época de mudanças tão ligeiras, nossa contribuição não se
dispõe a um espírito conciliador entre religião e política, mas sobretudo,
continuar afirmando que sobre esta interface é impossível não dizer: “assunto
é que não falta”.
Os organizadores / Verão de 2019
1. Evangélicos brasileiros e o compromisso
social
Claudio de Oliveira Ribeiro

Introdução
Os grupos evangélicos ganharam muita visibilidade na sociedade
brasileira nas últimas décadas. Os motivos para isso são muitos e bem
variados. O fato é que eles estão (estamos!) por toda a parte. Nas escolas e
nas universidades, por exemplo, em cada turma há sempre muitos estudantes
evangélicos, diferentemente do tempo em que eu era criança quando em cada
sala havia apenas um ou dois evangélicos; o que inclusive nos causava certa
vergonha ou constrangimento por sermos minoria. Se vamos a um
consultório médico, é bastante comum na sala de espera encontramos pessoas
conversando e, pelo tom da conversa, são evangélicos falando de suas igrejas,
experiências e partilhando opiniões sobre os mais variados assuntos. Nos
ambientes de trabalho (empresas, fábricas, lojas etc) as pessoas evangélicas
são ativas, se identificam como tais, contam as histórias de suas igrejas e
exercem formal ou informalmente a liderança em vários processos. Nas
torcidas de futebol e de outros esportes, dentro dos campos e das quadras e
também nas arquibancadas, lá estamos, mostrando slogans religiosos,
palavras de ordem e atitudes que são próprias do mundo evangélico. Nas
famílias, sempre há um tio, tia, primo ou cunhado que pertence à uma igreja
evangélica; e nos almoços ou festas de aniversários o assunto “religião”
sempre aparece. Nos programas de TV, inclusive de entretenimento, os
evangélicos estão lá com força. Na política partidária, incluindo câmaras de
vereadores, assembleias legislativas e congresso nacional e espaços dos
poderes executivos em diferentes níveis, a presença evangélica tem sido cada
vez maior e tem suscitado pesquisas acadêmicas e intenso debate. No passado
não era assim...

De minoria à grupo numeroso e participativo


As igrejas evangélicas no Brasil começaram os seus trabalhos há mais
de cento e cinquenta anos atrás. Quem deu início a esse processo foram
pessoas muito dedicadas, homens e mulheres, em geral muito jovens, a
maioria recém-formada, que vieram dos Estados Unidos para formar
comunidades evangélicas no Brasil. Eram missionárias e missionários com
um padrão muito rígido de moralidade e que tinham dificuldades para aceitar
as expressões culturais brasileiras. Até os anos de 1950, além de ser um
grupo minoritário (porque o crescimento numérico até aquela época se dava
em ritmo muito lento por conta da força do Catolicismo) e, em certo sentido
“fechado” (devido à moralidade restritiva), as pessoas evangélicas eram
vistas como conservadoras e com pouquíssima participação no conjunto da
sociedade, o que chamávamos de “ficar preso nas quatro paredes dos
templos”.
Muita coisa mudou de lá para cá! E isso não é de agora, pois as
primeiras mudanças ocorreram muitas décadas atrás. Na década de 1960,
quando o mundo experimentava muitas mudanças, vários grupos no interior
das igrejas evangélicas, especialmente pastores e setores da juventude, se
sentiram incomodados com o perfil conservador que prevalecia nas
comunidades evangélicas. O “homem” estava prestes a pisar na lua, os meios
de comunicação avançavam com novas tecnologias, as mulheres debatiam as
questões da dominação cultural que sofriam, os negros denunciavam as
formas de racismos e anunciavam o black power, as culturas do mundo rural
começavam a perder força e começam a prevalecer as culturas do mundo
urbano e industrializado. A pobreza, que sempre existiu no Brasil, devido à
exploração colonial, passava a ser mais visível nas grandes cidades. Os
pobres, dormindo nas escadas e nas portas das igrejas, traziam o incômodo
para os fiéis que precisavam encarar esta situação. Um grupo procurava
“fechar os olhos” e se dedicava ainda mais às orações e aos cultos sem
grandes conexões com a realidade social. Outro grupo, mantinha uma visão
fechada, atribuía a culpa deste sofrimento aos próprios pobres e procurava se
“livrar” destas pessoas. Mas, começou a crescer um terceiro grupo. Eram
pessoas que estavam antenadas com o que ocorria no Brasil. Muita gente
jovem, mas também lideranças maduras, que estavam acompanhando as
críticas ao sistema econômico que circulavam em vários setores da sociedade
especialmente nas universidades e movimentos sociais. Elas entendiam que o
sistema econômico era o gerador da pobreza e dos males sociais que se
tornavam mais visíveis no País naquela época. Compreendiam também que
as igrejas precisavam dar uma resposta prática a esse quadro de sofrimento e
de males sociais.
Esse terceiro grupo estava presente em várias igrejas evangélicas
“tradicionais”, como eram e até hoje são chamadas. Presbiterianos, batistas,
metodistas, luteranos e congregacionais vivenciavam novas práticas
religiosas, sempre marcadas por tensões internas, debates calorosos e
testemunhos belíssimos de amor ao próximo, desprendimento e serviço
cristão.
Nesta mesma época cresciam também as igrejas evangélicas
pentecostais, especialmente as Assembleias de Deus, a Igreja ‘Deus é Amor’
e a Igreja ‘O Brasil para Cristo’, que até hoje são fortes e atuantes. Essas
igrejas já existiam no Brasil desde o início do Século 20, sendo mais
intensamente presentes nas áreas rurais. Neste período, elas começaram a ter
maior presença nas grandes cidades, multiplicando comunidades, templos e
tendo maior visibilidade na sociedade. No entanto, elas continuaram
mantendo um perfil mais fechado em termos de participação social,
enfatizando a vivência da fé nos elementos mais internos das igrejas como os
cultos, o estudo da Bíblia e manutenção de costumes próprios do mundo
rural, especialmente na forma de se vestir, de estabelecer laços familiares e
comportamentos. Nas décadas seguintes – e isso se dá até os dias de hoje -, a
forma de agir e de pensar dos grupos pentecostais se alterou bastante.
Surgiram igrejas novas como a ‘Universal do Reino de Deus’, “Renascer” e
muitas outras. Hoje, há grupos pentecostais que atuam na política e na
sociedade com muita intensidade. Uma parcela deles tem demonstrado
sensibilidade com o sofrimento humano, valorização dos movimentos de
busca de direitos e de cidadania e boa abertura para debater os temas sociais.
No entanto, é fato que a maior parte dos grupos pentecostais organizados na
política parece não ter esta sensibilidade e tem atuado na defesa de pautas
consideradas conservadoras e que colocam obstáculos para a busca de
direitos.

Relacionar a fé e a vida concreta


Voltemos aos anos de 1960. A percepção que começava a crescer era
que os cristãos (aqui, no caso os chamados evangélicos tradicionais)
deveriam se preocupar com os males sociais, compreendê-los mais
profundamente, e agir no sentido de combatê-los, visando um mundo de
justiça e de paz. O estudo da Bíblia deveria ser outro, não mais de forma
meramente piedosa e individual, mas relacionando a fé e a vida, a igreja e a
sociedade, a vida cristã e o compromisso social. Muitos grupos se
entusiasmaram com essa ideia. Até hoje, como desdobramento destas
iniciativas, encontramos em várias cidades do Brasil os grupos de estudos
bíblicos com essa postura de ter os olhos bem abertos para a realidade do
mundo, como o CEBI (Centro de Estudos Bíblicos), por exemplo, que
embora seja majoritariamente formado por grupos católicos possui também
participação de evangélicos. Em nível local, o CEBI desenvolve uma série de
atividades com lideranças e grupos populares. São encontros para estudos e
escolas bíblicas. Nessas atividades, destaca-se um número infindo de grupos
de base que se reúnem para refletir sobre a Bíblia em uma metodologia
popular inovadora, com conteúdos que realçam a cidadania, a justiça nas
relações de gênero, o ecumenismo e a ecologia (CEBI, 2019).
As décadas em questão também trouxeram novas preocupações e
ênfases em relação aos cultos, dentro de uma linha teológica que articulava
criticamente a fé e os aspectos concretos da vida. Nesta direção, também os
hinos e as canções deveriam ser outras. Os cânticos tradicionais das igrejas
evangélicas, sempre muito bonitos e emotivos, falavam em sua grande
maioria da salvação pessoal e eterna, sobretudo com ênfase numa vida futura
no céu. Para trazer o Evangelho para a terra, alguns grupos começaram a
compor novos hinos. Estas novas canções não têm marcado o cenário das
igrejas hoje, pois tem prevalecido as músicas comerciais e de cunho
individualista. Todavia, há um considerável acervo de canções produzidas
nas décadas de 1970 e 80 dentro de uma teologia inculturada e libertadora.
As mudanças no enfoque das práticas e da teologia se davam também
fortemente na Igreja Católica. Quem é dessa época deve se lembrar que
houve transformações muito intensas no catolicismo. Até nas vestimentas dos
padres houve alterações. As batinas foram pouco a pouco abandonadas, as
missas deixaram de ser em latim, o trabalho comunitário se fortaleceu muito,
sobretudo com operários do campo e da cidade, e com a juventude, tanto
universitária como secundarista. Círculos bíblicos foram incentivados. A
preocupação social passou a ter forte ênfase, o que culminou com trabalhos
pastorais dentro da orientação de se ter uma opção preferencial pelos pobres,
pela juventude e pelas comunidades eclesiais de base.
Tais mudanças reforçaram bastante a visão dos grupos evangélicos
que não viam os católicos como inimigos e que defendiam a visão de que as
igrejas deveriam ter práticas que as incentivassem a se relacionarem mais
estreitamente com a sociedade, tendo em vista uma busca de paz e justiça
social. Era outra forma de ver a fé e a missão da Igreja.
Esse novo quadro possibilitou novas práticas, não mais voltadas “para
dentro’, mas com a preocupação voltada para a sociedade e para os grupos
que estavam tendo preocupações semelhantes. Neste sentido, a Igreja
Católica, outrora vista como inimiga e concorrente, passou a ser grande
aliada e parceira dos trabalhos sociais. Assim, se fortalecia o ecumenismo – a
aproximação de pessoas e grupos de diferentes igrejas ou religiões e, mais do
que isso, indo além das igrejas e religiões, com “todos os homens de boa
vontade”, como se falava naquela época. Várias organizações ecumênicas
surgiram. Muitas delas estão em atividade até os dias de hoje. Elas procuram
atuar em atividades de formação crítica, tanto em relação à sociedade quanto
a práticas das igrejas. Outras apoiam e assessoram trabalhos sociais com
crianças, com mulheres, com grupos de juventude e outras frentes. Deste
contexto surgiu, por exemplo, o trabalho do teólogo evangélico Rubem
Alves, já falecido, que é muito conhecido nas escolas pelos seus escritos
sobre educação. Há também muitas outras contribuições similares.
Sobre as organizações, é fundamental que listemos o CEDI (Centro
Ecumênico de Documentação e Informação), hoje chamado de Koinonia –
Presença Ecumênica e Serviço e o Ceseep (Centro Ecumênico de Serviço a
Educação e a Evangelização Popular) São entidades ecumênicas de serviço
composta por pessoas de diferentes tradições religiosas, tendo a participação
de um grupo expressivo de evangélicos, especialmente jovens e mulheres.
Elas integram o movimento ecumênico e prestam serviços aos movimentos
sociais. Os participantes evangélicos, assim como os demais, dão, em geral,
um testemunho significativo de participação social e de luta contra as formas
de racismos, machismos e homofobia. Embora reduzidos em número, são
cristãos de mente aberta e coração grande para vivenciar as marcas sociais do
Evangelho e com isso reforçam um testemunho significativo do Evangelho
Koinonia, fundada em 1994, e sediada no Rio de Janeiro (RJ), possui
atuação nacional e internacional. Trata-se de uma entidade ecumênica de
serviço composta por pessoas de diferentes tradições religiosas, reunidas em
associação civil sem fins lucrativos. Integra o movimento ecumênico e presta
serviços ao movimento social. A missão de Koinonia é mobilizar a
solidariedade ecumênica e prestar serviços a grupos histórica e culturalmente
vulneráveis e em processo de emancipação social e política. Também
promove o movimento ecumênico e seus valores libertários. Koinonia
desenvolve o trabalho ecumênico com base na prestação de serviços
concretos a comunidades. Tais atividades educativas, em especial, com a
juventude, têm identificado meios para a superação de violações de direitos e
das intolerâncias. “Neste sentido, destaca-se o trabalho de estímulo a
interações entre as comunidades religiosas jovens do Candomblé, da Bahia, e
comunidades religiosas cristãs, em todo Brasil, em especial por meio de
Jornadas Ecumênicas” (KOINONIA, 2019).
O CESEEP foi fundado em 1982 com o objetivo de prestar serviços
às lideranças de movimentos sociais e comunidades das diferentes igrejas
cristãs em seus trabalhos pastorais e de promoção humana. A sede é em São
Paulo, mas seu âmbito de atuação se estende a toda a América Latina e
Caribe. Esta organização ecumênica foi idealizada por um grupo de bispos,
pastores/as, padres, biblistas e cientistas sociais. Inspirado na proposta de
educação popular desenvolvida pelo educador Paulo Freire, colocou-se,
desde a sua origem, a serviço dos movimentos populares, das pastorais
sociais e das comunidades e igrejas no acompanhamento de seus trabalhos.
Os cursos desenvolvem-se sempre num clima de diálogo ecumênico,
intracristão e inter-religioso, entre as diferentes experiências políticas,
sociais, religiosas e culturais (CESEEP, 2019).
Outra organização ecumênica que desenvolve um trabalho social efetivo e
com a participação de vários grupos evangélicos é a Cese (Coordenadoria
Ecumênica de Serviço). Fundada em 1973, ela atua com diferentes projetos
na promoção, defesa e garantia de direitos no Brasil. Criada por Igrejas
Cristãs, a CESE tem a missão de fortalecer organizações da sociedade civil,
especialmente as populares, empenhadas nas lutas por transformações
políticas, econômicas e sociais que conduzam a estruturas em que prevaleça
democracia com justiça. Em sua estruturação, a CESE é composta pela Igreja
Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Igreja Presbiteriana
Independente do Brasil, Igreja Presbiteriana Unida do Brasil, Igreja Episcopal
Anglicana do Brasil, Igreja Católica Apostólica Romana – CNBB e a Aliança
de Batistas do Brasil. Ela tem como princípios éticos de suas atividades a
justiça, a democracia, transparência na gestão de recursos, participação
popular na gestão pública, equidade, sem discriminação de raça, etnia,
gênero, orientação sexual e credo religioso, desenvolvimento socialmente
justo e ambientalmente sustentável e respeito à diversidade religiosa. Sua
missão é “fortalecer organizações da sociedade civil, especialmente as
populares, empenhadas nas lutas por transformações políticas, econômicas e
sociais que conduzam a estruturas em que prevaleça democracia com justiça”
(CESE, 2019).
Em uma linha de trabalho próxima está a organização evangélica
chamada Visão Mundial, com muitas atividades sociais espalhadas pelo
Brasil afora. Trata-se de uma organização cristã evangélica de
desenvolvimento e de resposta às situações de emergência. Está no Brasil
desde 1975 atuando através de programas e projetos nas áreas de proteção,
educação, empoderamento de grupos e emergência, priorizando crianças e
adolescentes que vivem em situação de vulnerabilidades diversas. As
atividades visão fortalecer as capacidades de adolescentes, jovens e
comunidades, além de mobilizar diversos segmentos da sociedade para que
todos possam se engajar em favor dos Direitos Humanos de crianças e
adolescentes (VISÃO MUNDIAL, 2019).
O fato é que, não obstante os perfis conservadores e fundamentalistas
que se sobressaem no contexto das igrejas evangélicas no Brasil, é muito
comum encontrarmos evangélicos cooperando com atividades de apoio a
moradores de rua, ou participando de campanhas comunitárias e de
solidariedade, cooperando com projetos sociais como creches, espaços de
formação cidadã para crianças e juventude, grupos de mulheres e outras
atividades afins. Nem todos têm uma visão política aguçada e crítica,
especialmente em relação às causas dos males sociais. Nos acampamentos do
MST e também em movimentos de ocupações urbanas há sempre um número
expressivo de pessoas evangélicas, especialmente pentecostais. Por vezes,
esse número chega a ser de um terço dos acampados. A forma como fazem
suas orações, seus cultos e suas pregações nem sempre são ordenadas com o
pensamento político desses movimentos. Em geral, essas expressões
religiosas têm um jeito e uma linguagem mais intimista, individual, sem tanta
conexão explícita com a realidade social. Mas, as experiências concretamente
vividas são diferentes. Boa parte delas tem um caráter humanizador e que
leva os evangélicos a não aceitarem acriticamente as propostas
conservadoras, seja nas pregações dos pastores feitas nos púlpitos seja as que
circulam nas mídias.

Um novo rosto das organizações e movimentos


evangélicos
Muito se tem falado e refletido sobre o aumento do número de
evangélicos nas últimas décadas (as projeções para 2020 se dão em termos de
um terço da população brasileira). Este aumento possibilitou certa
heterogeneidade desse grupo religioso, envolvendo pessoas de visões e
experiências anteriores muito variadas. Há muitas pessoas pobres, que
conhecem o sofrimento e opressão de perto. Muita gente que participara
anteriormente de movimentos sociais e que agora se tornando evangélica
trazem essas experiências para dentro de suas vivências nas igrejas. No caso
do crescimento pentecostal isso se dá fortemente. Mesmo porque os grupos,
as igrejas e os movimentos pentecostais são bem variados. Hoje, por
exemplo, há um crescimento de seminários e faculdades de teologia e pessoas
com pós-graduação, tanto entre evangélicos pentecostais quanto entre os
evangélicos tradicionais. O mesmo se dá em outras atuações sociais.
Outro ponto importante, e que nem sempre prestamos atenção, é que o
povo das igrejas não segue necessariamente a pregação política e religiosa
conservadora dos pastores. Há pesquisas que mostram esses dados. Por outro
lado, é bom saber que as experiências evangélicas são um fator de
humanização, como “religião do coração”, que pode apresentar
explicitamente perfis conservadores estampados na pregação, nos cultos, na
linguagem religiosa usada, mas que no cotidiano as pessoas agem com
misericórdia, generosidade e amor. E que sabem onde “o calo aperta nos pés”
quando as propostas políticas são apresentadas.
No entanto, a força conservadora e os interesses políticos que estão
por detrás são enormes. Até a violência, que sempre foi criticada pelas igrejas
evangélicas, passa a ser assimilada devido à força de campanhas políticas e
de propagandas enganosas de “combate ao inimigo”. Todavia, surgem novas
forças e organizações para o bem e para a justiça. Elas se somam a outras
organizações que no passado já tinham esse compromisso.
São muitos os novos movimentos e organizações evangélicas que buscam
a justiça e paz, reagindo ao quadro de conservadorismo que o setor
evangélico tem reforçado nos últimos anos. Entre elas podemos citar: a
“Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito”, com grupos de base que
acompanham ocupações urbanas, debatem temas da política e dos direitos
humanos e realizam atividades em diferentes cidades do Brasil. Para Nilza
Valéria Zacarias Nascimento, coordenadora, a Frente é ...
... uma tentativa de dizer que os evangélicos brasileiros não são representados por um único
segmento, que nem todo crente é de direita, ou cooptado pelas estruturas de poder. Junto com
isso, mostrar que a Bancada Evangélica não representa os evangélicos, além daqueles que
votaram em tais candidatos. A Frente surge dessa inquietação, naquele que foi um momento de
angústia, em que se consolidou o golpe contra a democracia brasileira. A Frente surge
denunciando esse golpe, em defesa da democracia e do estado de direito – condições necessárias
para que se promova justiça e equidade.
Os núcleos são encontros voluntários dos crentes que fizeram adesão à Frente, seja
preenchendo um formulário virtual, seja por afinidade de ideias. Os núcleos desenvolvem
atividades diversas, como análises de conjunturas, audiências públicas e populares, cultos. Tudo
visando a formação do povo evangélico em temas de promoção de direitos e justiça. Outra ação
ligada aos núcleos e a sensibilização de outros crentes para esses temas, através de uma
abordagem bíblica. Os participantes têm perfil diversificado: são das mais diversas
denominações e igrejas, e com idade entre 18 e 70 anos. Em comum, a vontade de fazer alguma
coisa, tendo a fé como motivador (NASCIMENTO, 2018).

Também o movimento “Evangélicas pela Igualdade de Gênero”


(EIG), que atua na busca de direitos dentro de uma teologia feminista. Trata-
se de uma articulação que surgiu em 2015, durante a reunião do Fórum
Pentecostal Latino-Caribenho (FPLC), com o objetivo de propor formas de
ação de mulheres evangélicas, em especial, pentecostais e neopentecostais,
somando esforços e sendo um espaço de compartilhamento de vivências e
experiências com demais grupos evangélicos que há mais tempo possuem
frentes de ação nas questões e situações de gênero. Segundo o grupo:
Nosso eixo norteador é a “Violência ou as Violências contra as mulheres” tanto no espaço
doméstico, de trabalho, quanto nas igrejas, em favor de sua voz e participação mais justa e
igualitária. Este projeto é fruto do profundo desejo de discutir gênero a partir de nossas raízes
culturais-religiosas e dizer NÃO a qualquer concessão à violência.

Outra articulação de certo destaque é a “Rede FALE”, que reúne


pessoas para cultivo da espiritualidade evangélica e para ações concretas
contra a injustiça no Brasil país e no mundo, com especial atenção para os
aspectos econômicos e seus efeitos na desigualdade e na ampliação da
miséria. Na visão do grupo
Ao clamar por mudanças, queremos compartilhar nossa fé num Deus criador, poderoso e
amoroso. Nossa proposta é produzir informações regulares para a ação e oração em campanhas
de pressão pública através de envio de cartões postais (Ore & Envie). São promovidas
atividades, debates e eventos públicos em diferentes cidades para a disseminação das campanhas
anuais. (...)

Os temas com os quais trabalhamos são: Água e Saneamento Ambiental, Políticas de


Juventude, Justiça no Comércio Internacional, Pobreza e Desigualdade e Construção da Paz
(REDE FALE, 2019).

Há ainda os movimentos que buscam combater o preconceito contra


gays entre os evangélicos. Ao analisá-los, Magali Cunha nos mostra a
necessidade de se
reconhecer a homofobia e todas as formas de intolerância que geram violência como uma
afronta aos preceitos da fé cristã, baseados na misericórdia, na paz, no amor incondicional, na
inclusão.
A equação é simples: a) a homofobia é um pecado pois viola os preceitos cristãos; b) quem
defende os preceitos cristãos condena a homofobia; c) quem não é homofóbico não precisa se
preocupar com a criminalização da homofobia.
Por isso é crescente o número de lideranças, denominações e organizações cristãs que
acompanham os avanços sociais e reconhecem LGBTs como integrantes com plenos direitos.
Movimentos como o “Jesus Cura a Homofobia”, nascido com o pedido de perdão pelos erros que
as igrejas cometem contra LGBTX, liderado pelo pastor José Barbosa Jr., e “Evangélicxs pela
diversidade”, se espalham pelo País.
Ainda neste contexto emergem as chamadas “igrejas inclusivas”, voltadas para acolher a
população LGBTX e suas famílias, quase todas lideradas por pastores e pastoras homoafetivas.
Entre elas estão algumas comunidades das igrejas Anglicana e Batista, as Igrejas Cristã
Metropolitana, em diversas cidades do Brasil, Chamados da Última Hora, em São Luís/MA,
Igreja Cidade de Refúgio, em Londrina/PR.
O mundo vive transformações permanentes. Nem o ser humano e nem a família estão sob
ameaça, estão sob mudança. O que está em jogo é a cidadania, a igualdade de direitos e, acima
de tudo, o direito “à vida e à vida em abundância” (CUNHA, 2019).

Outro grupo evangélico que merece menção é a agência “Novos


Diálogos”, que atua no campo da informação, na área editorial e na
organização de eventos para a juventude evangélica, como o “Reimaginar”,
com destaque para os direitos humanos e a diversidade, e que se conecta com
outros grupos e movimentos.
A Novos Diálogos é uma agência de conteúdo e informação a serviço da qualificação e
ampliação das conversas sobre fé cristã e justiça, espiritualidade evangélica e engajamento
social, práticas religiosas e políticas, teologia e espaço público desde uma perspectiva
transformadora.
Nasceu em 2008 como um portal de conteúdo e opinião, reunindo autores e autoras
evangélicos do Brasil e América Latina, e tornou-se logo em seguida uma editora com enfoque
em Teologia, Ciências da Religião e Espiritualidade.
Dez anos depois a Novos Diálogos se reinventa, transformando-se em uma agência de
conteúdo e informação a fim de reconfigurar o debate sobre a participação dos evangélicos na
sociedade brasileira.
Reconhecendo que “evangélico” é uma categoria atualmente em disputa, frequentemente
atravessada por enfrentamentos e discussões polarizantes, a proposta da Agência Novos
Diálogos é informar com maior clareza o debate sobre a presença evangélica na esfera pública e
tornar mais transparente a narrativa que orienta seus segmentos mais progressistas (NOVOS
DIÁLOGOS, 2019).

Não estamos citando os nomes que lideram esses movimentos e


organizações evangélicas, pois são muitos e não queremos cometer injustiças.
De forma crescente, várias revistas têm publicado matérias descrevendo a
atuação de pastores e pastoras, de diferentes cantos do Brasil, que lutam pela
justiça, em uma visão evangélica de teor crítico e progressista, inclusive
lidando com questões sensíveis como a sexualidade humana.

Como são os evangélicos, afinal?


Em todos esses trabalhos sociais e experiências que envolvem pessoas
e grupos evangélicos há uma riqueza enorme em termos de se ter uma visão
mais humana no mundo, um pensamento mais aberto e mais crítico e uma
postura mais sensível ao sofrimento humano, com a devida atenção às suas
causas no contexto da sociedade brasileira.
Tais grupos não têm muito espaço nas mídias, não são lembrados na
grande maioria das reportagens, ou nas avaliações que em geral são feitas
sobre os evangélicos. Assim, a imagem que prevalece é a daquelas pessoas e
grupos que são intolerantes, que falam da fé com arrogância e sequer ouvem
as outras pessoas, que são conservadores na política ou facilmente
enganados. Não tenho clareza se, de fato, a maioria dos evangélicos seja
assim. Talvez, seja a imagem que fica ou que é reproduzida pelos encontros
desagradáveis que eles proporcionam, seja pela mídia seja nas inter-relações
pessoais e vivências do cotidiano ou ainda no impacto que as pesquisas sobre
os grupos evangélicos na política causam, sobretudo nos setores mais críticos
da população. No entanto, os evangélicos que possuem mente aberta, bom
coração e abertura e ação propositiva para atuar criticamente na sociedade
estão aí presentes ... É importante que haja uma concentração de esforços em
diferentes níveis para torná-los mais visíveis para a sociedade brasileira.

Referências
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CESEEP – Centro Ecumênico de Serviço à Evangelização e à Educação Popular. Disponível em:


<http://ceseep.org.br/novo/>. Acesso em: 10/9/2019.

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EIG. Disponível em: https://mulhereseig.wordpress.com/ Acesso em 20/9/2019.

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VISÃO MUNDIAL. Disponível em: https://visaomundial.org/ Acesso em 20/9/2019.


2. A ascensão da direita religiosa no Brasil
contemporâneo
Magali do Nascimento Cunha

Introdução
Muito ainda será pesquisado e analisado sobre as situações que
envolveram a eleição do capitão reformado do Exército Jair Bolsonaro à
Presidência da República do Brasil em 2018. A questão do apoio religioso ao
presidente eleito, especialmente cristão (de católicos e evangélicos), se
destaca no que merece ser refletido por conta de Bolsonaro ser o primeiro
presidente a enfatizar em campanha e depois da vitória um discurso
explicitamente cristão, conservador, de tendência evangélica.
No primeiro pronunciamento após os resultados eleitorais, em 28 de
outubro de 2018, Bolsonaro citou o nome de Deus várias vezes e disse: “O
nosso slogan eu fui buscar naquilo que muitos chamam de caixa de
ferramenta para consertar o homem e a mulher, que é a Bíblia Sagrada.
Fomos em João 8:32: ‘E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará’”[1].
Jair Bolsonaro declara-se católico[2], mas tem alianças muito estreitas
com políticos evangélicos e lideranças deste segmento religioso que fazem
política partidária. Isto passou a ser evidenciado nas eleições de 2010, quando
houve intensa oposição de líderes evangélicos contra a candidatura de Dilma
Rousseff, muito por conta das pautas progressistas que ela defendia,
relacionadas às causas feministas e LGBTX. Em 2016, com a oposição a
Dilma Rousseff potencializada e o processo de impeachment instaurado, Jair
Bolsonaro deixa o Partido Progressista (PP), onde havia atuado por sete anos,
e se filia ao Partido Social Cristão (PSC). A transferência foi simbolizada
com um ritual religioso: o capitão reformado foi batizado em Israel, nas
águas do rio Jordão, em cerimônia realizada pelo Pastor Everaldo, presidente
do partido. O episódio fez com que muitos membros de igrejas acreditassem
que o então deputado havia se convertido à fé evangélica (CUNHA, 2019).
A candidatura de Bolsonaro à Presidência encontrou apoio deste grupo
religioso e também de católicos identificados com o discurso
ultraconservador, de extrema-direita, com propostas imediatistas e vingativas
para pôr fim à violência urbana e para salvar a família contra uma suposta
ditadura gay e feminista.
Jair Bolsonaro foi muito bem instruído no discurso que alimentou a pauta
de costumes de sua campanha afetando fortemente o imaginário evangélico
conservador calcado na proteção da família tradicional, na
heteronormatividade e no controle dos corpos das mulheres. Foi muito caro a
muitos evangélicos imaginar ter no poder maior do país alguém defensor de
suas pautas, como “homem simples, do povo, que fala o que pensa” e isto
parece ter sido um propulsor do voto que descarregaram no ex-Capitão. Aqui,
o desafio é pensar no alcance do imaginário como um elemento determinante
ao apoio evangélico e católico conservador (CUNHA, 2013).
A vitória do Capitão nas eleições presidenciais tem neste grupo
religioso uma referência importante, mas é também parte de um contexto de
fortalecimento de posturas conservadoras na arena pública brasileira em
geral. Pesquisa eleitoral realizada pelo Datafolha, em outubro de 2013, já
revelava que a maior parte dos brasileiros se identifica com valores de direita.
A separação foi feita com base nas respostas dos entrevistados a perguntas
sobre questões sociais, culturais e políticas, como a pena de morte e o papel
dos sindicatos na sociedade. Dos entrevistados, 38% foram classificados
como de centro-direita, 26% de centro-esquerda, 22% de centro, 11% de
direita e 4% de esquerda[3]. A eleição do Congresso Nacional mais
conservador em cinco décadas, em 2014 (DIAP, 2014), corrobora estes
dados, o que se confirmou nas eleições de 2018.
Em pesquisa realizada em dezembro de 2016 (WELLE, 2017), o
Instituto Ibope mostrou que 54% dos brasileiros atingiram alto grau de
conservadorismo em questões sociais como a legalização do aborto,
casamento entre pessoas do mesmo sexo, pena de morte, prisão perpétua e
redução da maioridade penal. O instituto de pesquisas fez perguntas à
população sobre esses assuntos em 2010 e em 2016 e descobriu que, em seis
anos, houve aumento de conservadorismo entre todas as faixas etárias e todos
os graus de renda, em ambos os sexos, em todos os níveis educacionais e em
todas as religiões. O Ibope levantou ainda que os mais conservadores são os
evangélicos, os homens e os menos escolarizados. Os mais liberais, de acordo
com a pesquisa, são as pessoas com escolaridade superior e os que não são
cristãos.
Observa-se, portanto, um contexto em que tem se fortalecido a articulação
entre políticos conservadores e lideranças religiosas, compondo um quadro
de reverberação de pautas conservadoras.
No entanto, o Brasil não é um caso isolado, de acordo com estudos sobre
o fortalecimento de grupos conservadores nos Estados Unidos e na Europa.
Michael Löwy afirma sobre o caso europeu:
As eleições europeias confirmaram uma tendência observada já há alguns anos na maior
parte dos países do continente: o crescimento espetacular da extrema direita. (...) Essa extrema
direita é muito diversa, podendo-se observar uma vasta gama que vai desde os partidos
abertamente neonazistas - como o Aurora Dourada grego - até as forças burguesas perfeitamente
integradas no jogo político institucional, como a suíça UDC (União Democrática de Centro). O
que eles têm em comum é o nacionalismo excessivo, a xenofobia, o racismo, o ódio contra
imigrantes - principalmente "extraeuropeus"- e contra ciganos (o mais velho povo do
continente), a islamofobia e o anticomunismo. A isso pode-se acrescentar, em muitos casos, o
antissemitismo, a homofobia, a misoginia, o autoritarismo, o desprezo pela democracia e a
eurofobia. Quanto a outras questões - por exemplo, ser a favor ou contra o neoliberalismo ou a
laicidade - a corrente se mostra mais dividida. Seria um erro acreditar que o fascismo e o
antifascismo são fenômenos do passado (LÖWY, 2014).

Em relação ao campo religioso, chama a atenção que, em especial na


virada da primeira década do século XXI, tem sido alcançada visibilidade
mais intensa de lideranças defensoras de ideias e posturas explicitamente
conservadoras e que se apresentam como modernas, pertencentes aos novos
tempos, em que a religião tem como aliados o mercado e as tecnologias.
Podemos identificar neste contexto uma nova face do conservadorismo
religioso, um neoconservadorismo, que emerge como reação a
transformações socioculturais que o Brasil experimentou, em especial a partir
dos anos 2002, com a abertura e a potencialização de políticas públicas
voltadas para direitos humanos e gênero (VITAL DA CUNHA et all, 2017).
Este artigo busca compreender como se dá a ascensão do
conservadorismo evangélico no contexto político do Brasil que contribui na
ocupação do poder público pela extrema direita. Para isso, são tomados por
base três elementos que emergem da observação do fenômeno: a
reconfiguração do lugar dos evangélicos na política; a emergência do
neoconservadorismo evangélico; o lugar das mídias na ascensão evangélica
conservadora. O processo interpretativo está ancorado nos estudos em mídia,
religião e política, realizados pela autora do trabalho, e também nos aportes
de teóricos em comunicação e política, e em sociologia da religião.

A reconfiguração do lugar dos evangélicos na política


A despeito de todas a tipologias que buscam categorizar a miríade de
grupos relacionados ao segmento evangélico no Brasil, este texto se refere a
“evangélicos" para abordar todos os cristãos não-católicos ou ortodoxos que
atuam no campo religioso brasileiro. Sem desconsiderar as peculiaridades
dos distintos grupos que formam o segmento, os evangélicos brasileiros são,
historicamente, identificados, nos estudos de religião, por: (1) uma
predominante leitura fundamentalista (literalista) do texto sagrado cristão, a
Bíblia[4]; (2) ênfase na piedade pessoal na busca da salvação da alma
(influência do puritanismo e do pietismo dos pioneiros missionários que
vieram do sul dos EUA do século XIX ao Brasil); (3) frequentes posturas de
rejeição das manifestações culturais não cristãs do país (fruto da mesma ação
de missionários); (4) um isolamento das demandas sociais (resultante da
espiritualização das questões da existência individual e social), entre elas a
participação política.
Entretanto, a passagem do século XX para o XXI trouxe
transformações para a cultura evangélica no Brasil que têm provocado
alterações deste quadro, mas essa configuração identitária, conservadora e
fundamentalista, deixou suas marcas na dinâmica que dá forma a esse
segmento religioso.
Uma das transformações contemporâneas diz respeito à presença no
espaço público. Nos anos 1980 já era possível observar o sepultamento da
máxima isolacionista "crente não se mete em política", especialmente a partir
do Congresso Constituinte de 1986, quando foi formada a primeira bancada
evangélica. A partir dali, pode-se dizer que a postura de isolamento deste
segmento com relação à participação política – até então interpretada como
algo “do mundo”, identificado a paixões terrenas – passou a conviver com
outros ideais, referentes à participação e visibilidade na vida pública, que
podem ser resumidos na formulação “irmão vota em irmão” (FRESTON,
2016).
A partir dali, mesmo com os casos de corrupção e fisiologismo, a
bancada evangélica se consolidou como força, resultando na criação da
Frente Parlamentar Evangélica (FPE) em 2003. Durante a primeira década do
século XXI, esses parlamentares não eram identificados como conservadores
do ponto de vista sociopolítico e econômico. Seus projetos eram mais
voltados para as questões da moralidade sexual e pouco interferiam na ordem
social: se revertiam em “praças da Bíblia”, criação de feriados para concorrer
com os católicos, benefícios para igrejas e seus templos. O perfil dos partidos
aos quais a maioria desses políticos manteve-se afiliada reflete isto, bem
como recorrentes casos de fisiologismo (CUNHA, 2019).
A partir de 2010, um forte conservadorismo moral passou a marcar a
atuação da FPE, contra a candidatura de Dilma Rousseff (Partido dos
Trabalhadores, PT) à Presidência da República. A FPE trouxe para si o
mandato da defesa da família e da moral cristã contra a plataforma dos
movimentos feministas e de LGBTI+, valendo-se de alianças até mesmo com
parlamentares católicos, diálogo historicamente impensável no campo
eclesiástico.
Maior poder foi alcançado por este segmento religioso, avançando para
além de cadeiras no parlamento, incluindo ministérios e presidências de
comissões importantes na Câmara dos Deputados. Os números do Censo
2010 são fonte para a demanda de legitimidade social entre os evangélicos e
de conquista de mais espaço de influência[5].

Ressonâncias do neoconservadorismo evangélico


O termo conservadorismo aqui é o referido na ciência política, no que
concerne a posições que visam à "manutenção do sistema político existente e
dos seus modos de funcionamento, apresentando-se como contraparte das
forças inovadoras" (BOBBIO et al, p. 242). Houve transformações nestas
bases ao longo do século XX no Brasil no que se refere aos evangélicos:
emergiram grupos abertos à atuação social e ao ecumenismo (TRABUCO,
2016). No entanto, o conservadorismo tem sido predominante entre os
evangélicos, característica que se verifica historicamente na omissão das
igrejas frente à implantação da ditadura militar no Brasil (1964-1985),
postura associada ao isolamento de demandas sociais e de participação
política, como mencionado do item deste texto, e também tornou possível o
alinhamento de parte das lideranças evangélicas com o governo de exceção
(CNV, 2014).
O que é denominado aqui neoconservadorismo emerge, no Brasil,
como reação a transformações socioculturais que o país experimentou, em
especial a partir dos anos 2002, com a abertura e a potencialização de
políticas voltadas para direitos humanos e gênero. O prefixo "neo" se deve à
forma como as lideranças evangélicas se apresentam: como pertencentes aos
novos tempos, em que a religião tem como aliados o mercado, as mídias e as
tecnologias – mas que se revelam defensoras de um conservadorismo
explícito e discursos de rigidez moral, visando a conquista de poder na esfera
pública (CUNHA, 2019).
O neoconservadorismo evangélico não é, no entanto, um dado
isolado, é parte de um contexto de fortalecimento de posturas conservadoras
na esfera pública brasileira em geral. Nele, como já mencionado, se observa o
fortalecimento da articulação entre políticos não vinculados às igrejas
evangélicas, de lideranças políticas evangélicas e de lideranças evangélicas
midiáticas, compondo um quadro de articulação conservadora, com amplo
apoio do eleitorado nacional, como se verificou nas eleições de 2018
(FERRAZ, 2018).
Essas personagens têm captado apoios para além do círculo religioso,
por meio do apelo a discursos relacionados ao ideário da moral cristã (contra
o aborto e o controle da natalidade, e a favor da assistência psicológica a
LGBTI+, que carregam uma doença a ser tratada) aliados a princípios caros
ao liberalismo na política e na economia (Estado mínimo e elogios ao livre
mercado). Para estas lideranças, a família tradicional (formada por pai, mãe e
filhos) está sob a ameaça dos movimentos por justiça de gênero e
enfrentamento da violência sexual, que ganharam força pela abertura a estas
demandas no campo político, muito intensamente a partir de 2003, com o
governo de Luiz Inácio Lula da Silva (Partido dos Trabalhadores, PT).
Alguns apelos ainda tomam como ingrediente a ameaça do comunismo tomar
conta do Brasil, o que, segundo esses discursos, teria sido o verdadeiro
propósito dos governos PT (2002 a 2016)[6].
Políticos religiosos neoconservadores brasileiros têm alcançado
sucesso na criação de barreiras para avanços nas políticas por direitos
sexuais. É o caso da ocupação das comissões que tratam destes temas no
Parlamento e no recente impedimento de que o Plano Nacional de Educação
incluísse a categoria “gênero” como temática transversal para os currículos
escolares (SOUZA, 2014).
Todo este processo é corroborado pelas tradicionais empresas de
mídia brasileiras que, pelo menos na última década, em especial na cobertura
noticiosa, tem dado amplo espaço para analistas e comentaristas defenderem
abertamente perspectivas e valores conservadores bem como a religiosos
alinhados com esta tendência política[7].
A eleição de Jair Bolsonaro e de um Parlamento majoritariamente
conservador, em 2018, denota o quanto avança o espaço e a legitimidade da
direita política, que tem buscado mais qualificação, articulação política e
influência e menos improviso. Em 2019 foi criado no Brasil o braço da
Capitol Ministries (Ministério do Capitólio), uma organização estadunidense,
fundada por pelo ex-jogador de basquete Ralph Drollinger na Califórnia, em
1996, para “criar discípulos de Jesus Cristo na arena política pelo mundo
todo” (DIP, VIANA, 2019). É financiada pelo vice-presidente dos Estados
Unidos Mike Pence e pelo secretário de Estado Mike Pompeo e também se
vale da influência do governo americano para se expandir pelo mundo. Em
2018 e 2019, a Capitol Ministries abriu seções em oito países latino-
americanos – México, Honduras, Paraguai, Costa Rica, Uruguai, Nicarágua,
Panamá e Brasil.
No Brasil, o lançamento foi realizado no Senado Federal, em agosto
de 2018, sob a responsabilidade do pastor da Igreja Batista Vida Nova, Raul
José Ferreira Jr. Segundo Ferreira Jr, o ministério pretende realizar estudos
bíblicos semanais com lideranças do Senado e da Câmara e reuniões
individuais com parlamentares, especialmente os não convertidos.
Nas duas últimas legislaturas, podemos perceber o movimento cada
vez mais intenso de ampliação da influência da Bancada Evangélica sobre
temas sociais para além das pautas da moralidade sexual e dos benefícios
“domésticos”. A articulação da Bancada Evangélica com as bancadas da
segurança pública e ruralista, popularmente denominada Bancada BBB (Boi,
Bala e Bíblia) tem mostrado a busca de influência e até mesmo o
protagonismo de líderes da Bancada Evangélica em temas como a diminuição
da maioridade penal e fim da demarcação de terras indígenas. O recente
investimento no projeto Escola Sem Partido (relacionado às pautas da
moralidade sexual mas também à imposição de censura à atuação de
educadores nas escolas) demonstra que a Bancada Evangélica também quer
atuar em encaminhamentos referentes às políticas de educação.
Exemplo forte foi a reunião realizada setembro de 2019, com
dirigentes da Fundação Lemann. A agenda foi organizada pelo Ministro da
Educação do governo Michel Temer, Mendonça Filho, consultor sênior da
Fundação e pelo próprio presidente do grupo, o empresário Jorge Lemann.
Na divulgação oficial, “o encontro teve como objetivo ouvir as diversas
propostas da instituição para a educação no Brasil”[8]. Vale recordar que a
Fundação Lemann tem o projeto “Todos pela Educação”, alinhado com as
propostas do governo federal de enfraquecimento da educação pública e
privatização dos processos de educação, e financiou a eleição de vários
deputados federais.
Ainda em 2019, a Bancada Evangélica também pressionou
intensamente o governo federal pela mudança da Embaixada do Brasil em
Israel de Tel Aviv para Jerusalém, seguindo o encaminhamento feito pelos
Estados Unidos. Não foi bem sucedida por conta das graves consequências
para a diplomacia brasileira mas sinaliza que a pauta permanece. E segue
buscando influenciar a política externa até mesmo com a inserção de temas
da moralidade sexual, como, por exemplo, as instruções oficiais do comando
do Itamaraty para diplomatas brasileiros para que, em negociações em foros
multilaterais, reiterem “o entendimento do governo brasileiro de que a
palavra gênero significa o sexo biológico: feminino ou masculino”[9].
Outro tema em que a Bancada busca influenciar é a questão relativa à
perseguição de cristãos por muçulmanos. Tema que povoa fortemente o
imaginário de evangélicos brasileiros atiçado por páginas da internet que o
alimentam com histórias de perseguição e discriminação nem sempre
devidamente narradas. Vale registrar que muitas igrejas evangélicas
brasileiras têm atividades missionárias em países islâmicos. A Bancada
reuniu-se com o ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo e solicitou
uma posição mais dura do Brasil em fóruns internacionais contra a morte de
cristãos em países muçulmanos. Em agosto, um dos oficiais da embaixada
brasileira em Washington Nestor Forster afirmou em evento da ONU: “O
ministro Ernesto Araújo tem defendido incansavelmente a liberdade religiosa
e dado voz à preocupação de cristãos brasileiros, católicos e evangélicos, com
a perseguição e a discriminação”[10]. No discurso que fez na abertura da
Assembleia Geral da ONU, em setembro de 2019, o presidente Jair
Bolsonaro destacou este tema[11].

O lugar das mídias na ascensão evangélica


conservadora
As mídias são mediadoras de todo este processo até aqui descrito,
potencializando a visibilidade evangélica no espaço público, promovendo
interações entre evangélicos e deles com outros grupos, religiosos ou não. É
preciso compreender não apenas a intensa ocupação das mídias tradicionais
(rádio e TV) por evangélicos a partir dos anos 80, mas também, considerar,
nesta discussão, o papel das grandes mídias não religiosas, e seus espaços
noticiosos e de entretenimento, que popularizaram a presença pública dos
evangélicos, como parte do fenômeno “cultura gospel” nos anos 2000. É
também importante avaliar o lugar das mídias na relação do (novo) ativismo
político evangélico com a forte presença de indivíduos, instituições e
vinculados a este segmento religioso nas mídias digitais com inúmeros sites,
blogs e perfis em mídias sociais (CUNHA, 2019).
Venício Lima contribui na compreensão deste fenômeno, quando trata
do lugar das mídias nas dinâmicas sociopolíticas: o papel e o poder
duradouro que elas têm na construção da realidade. As mídias estão no
cotidiano da população e representam diferentes aspectos da vida
socioeconômica, política e cultural, representam os políticos e a política. As
mídias constroem a política simbolicamente, e é pelas mídias que a política
ganha significado (LIMA, 2009). A relação entre evangélicos e política no
tempo presente, no Brasil, é uma relação midiatizada, estruturada pela
mediação das mídias. As mídias tornam-se uma “arena de visibilidade” e
colocam os evangélicos brasileiros numa “esfera de visibilidade pública”
(GOMES, 2005).
É nesse sentido que podemos afirmar com Joanildo Burity (2016) que
os evangélicos deixam de ser “os crentes” ou os grupos fechados de outrora.
A separação social, “do mundo”, deixa de ser um valor evangélico da
tradição fundamentalista-puritana trazida pelos missionários estadunidenses:
é um grupo que quer viver uma “vida normal”, ou seja, que combina sua
religiosidade com presença nas mídias, com moda própria, com inserção no
mundo do mercado e do entretenimento, que cria seus próprios artistas e
celebridades. Os evangélicos revelam ter suas próprias reivindicações e sua
capacidade de eleger seus próprios representantes para exercerem poder
público.
São elementos paradigmáticos na história de mais de 30 anos entre
evangélicos-política no Brasil, aos quais se soma um outro, muito
significativo e transformador desta relação: o ativismo político evangélico. A
atividade de evangélicos na política nos anos 2010 deixa de ser restrita a
campanhas nos pleitos periódicos, com a atividade de cabos eleitorais dos
candidatos em suas respectivas igrejas. Este ativismo ganha corpo
especialmente por meio das mídias digitais (blogs e mídias sociais), com o
envolvimento de lideranças religiosas e fiéis, tanto em campanhas de apoio
como de oposição (para que se vote ou não se vote em candidatos), quanto
em torno de pautas da política nacional, como ocorreu com o processo de
impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016.
É possível identificar que é no espaço das mídias digitais que a
discussão política se tem desenvolvido com mais intensidade e paixão entre
evangélicos, com construção e re-construção das visões de mundo
(imaginários), com discursos tornados públicos e chamamento a ações
coletivas.
Pesquisa realizada pela autora deste estudo indicou um predomínio da
corrente conservadora evangélica no Brasil nos espaços midiáticos religiosos
e não-religiosos tradicionais e digitais (CUNHA, 2019). É o reflexo do
predomínio que alcançam no espaço político partidário. Nesse contexto, a
ação midiática promove a invisibilidade de outros grupos religiosos e de
evangélicos mesmos, de vertente progressista.
Os grupos evangélicos em maior evidência nas mídias tradicionais no
Brasil são pentecostais na totalidade, veiculadores das novas expressões
fundamentalistas descritas acima, e dispõem de recursos financeiros,
alcançados pelas práticas religiosas baseadas na Teologia da Prosperidade.
Isto tornou possível a profissionalização de sua presença nas mídias e o
estabelecimento de um padrão de visibilidade midiática. Nesse rastro, criou-
se uma cultura midiática evangélica que possibilitou que estes grupos e os
indivíduos e segmentos evangélicos que neles se inspiram se pusessem
inteiramente à vontade no mundo das mídias digitais. Portanto, os ativistas
evangélicos conservadores têm noção do lugar das mídias na conquista de
espaço e de visibilidade no espaço público e dominam as técnicas e métodos
de alcance das mídias sociais. Estes grupos também têm discursos com
teologia e linguagem que respondem ao imaginário fortemente
fundamentalista dos evangélicos brasileiros. Recorrem à Bíblia como regra
literal de fé e como respaldo às ideias que propagam.
O espaço privilegiado a grupos evangélicos conservadores na
programação das grandes mídias tradicionais, pode ser compreendido pelo
fato de estas serem historicamente alinhadas a valores e políticas
conservadoras, dado o perfil dos seus proprietários, como mencionado acima.
O ativismo progressista evangélico não tem o mesmo nível de alcance
dos conservadores: não há celebridades midiáticas neste grupo; sua teologia e
linguagem são conflitantes com o imaginário religioso conservador que
caracteriza os evangélicos brasileiros; não têm a simpatia das grandes mídias.
Como minoria, os evangélicos progressistas ocupam as mídias digitais e têm
este espaço midiático como sua maior possibilidade de expressão no presente.
As mídias digitais são o seu ambiente de ação contra-hegemônica tanto na
esfera política como também no cenário evangélico brasileiro, e têm
possibilidade alcance e visibilidade nunca antes alcançada.
Notas finais
A ascensão da extrema direita no Brasil potencializada com a eleição
de Jair Bolsonaro à Presidência da República se dá em um contexto de uma
expansão do conservadorismo político em diversas partes do mundo. É uma
reação aos avanços sociais alcançados especialmente no campo das políticas
públicas de inclusão social dos mais pobres e de justiça de gênero.
Segundo pesquisas eleitorais no Brasil, 69% de evangélicos e 51% de
católicos depositaram votos em Jair Bolsonaro nas eleições 2018 (ALVES,
2018). Uma campanha que não escondeu ser baseada no armamentismo, na
valorização da tortura, no combate a um comunismo imaginário, na
segregação de pessoas negras e indígenas, no controle pelo Estado de
questões privadas como sexualidade, na retirada de crianças da convivência
da escola para “preservá-las do apelo à sensualidade”, entre outros projetos
que conflitam com os princípios e valores do Cristianismo, o que desafia
reflexões sociológicas e teológicas.
O conservadorismo destes grupos religiosos encontra guarida na onda
extremista e torna possível a ascensão de uma direita religiosa com atuação
política sem precedentes no contexto brasileiro. São movimentos da dinâmica
sociopolítica e religiosa midiatizada que marcam novas tendências no quadro
sociopolítico e carecem de reflexões que levem a ações religiosas, políticas e
culturais. O fato é que não se pode mais ignorar ou negar a visibilidade que
as religiões alcançaram no espaço público no tempo presente em diversas
dimensões.

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3. Representação religiosa na política e os
conflitos de uma relação complexa: o caso da
senadora Eliziane Gama
Nelson Lellis
Roberto Dutra

Introdução

[…] em geral, imagens de coisas, especialmente imagens de objetos simples, não (se diz
que) os “representam”. Nós não apontamos para a imagen de uma árvore ou de uma casa ou de
uma mesa e dizemos: “Isso representa uma árvore (uma casa, uma mesa)”. É provável que
digamos: “Isso é uma árvore”. […] “Isso representa uma árvore” é o que podemos dizer sobre
uma mancha colorida ou um rabisco que tenta indicar uma árvore, mas não se parece com uma.
(PITKIN, 1967, p. 68)

O que é representar alguém na política? E o que deve fazer um


representante? O representante é o povo ausente? E quem é o povo? Antes de
mais nada, é preciso reconhecer que “povo” não é uma categoria econômica,
mas política. São pessoas submetidas a um governo. Desta forma, “povo se
opõe exatamente a governo: povo e governo são antípodas na relação de
dominação política própria das mais diversas sociedades humanas”
(MIGUEL, 2014, p. 20). E o que conecta esse povo à democracia
representativa são as eleições (PRZEWORSKI, 1994; MANIN e STOKES,
2006).
Pensando no povo eleitor, analisamos abaixo como o aspecto da
representação por mandato tem se mostrado cada vez mais complexo com a
participação de denominação religiosa e de religiosos. Przeworski (1994) dirá
que na representação por mandato são analisadas duas questões: a) os
programas de governo e; b) os candidatos que realmente podem cumprir suas
promessas. Todavia, não se pode afirmar que o indivíduo eleito cumprirá o
papel estabelecido pelo partido[12] e nem as promessas feitas aos seus
eleitores. Na concepção de Przeworski, deveria haver, no mínimo, uma
obrigatoriedade a fim de que o eleitor tenha certeza de que sua escolha será
respeitada.
A representação por prestação de contas (accountability) acontece
quando os eleitores votam e quando o representante age de acordo com os
interesses de quem lá os colocou. Mas esta maneira não é de toda eficaz, uma
vez que os eleitores não possuem informações completas na prestação de
contas. Daí, um outro aspecto ajuda a compreender essa forma de
representação: o uso do voto (que também será associado com “pedras de
papel”, conceito popularizado por Przeworski [1998, p. 49]). Não apenas
para a simples eleição, mas também para que o cidadão demonstre, através
das informações que colheu sobre as atividades passadas dos candidatos, uma
forma de punir ou premiar os representantes. Neste aspecto, a racionalidade
do “não-voto” como forma punitiva provocaria nos políticos uma atenção
maior para manterem-se virtuosos.
No campo das instituições, eleições e representações, Przeworski (1994)
e outros autores como Joseph Schumpeter (1976) e Hanna Pitkin (1967)
identificam as diferentes democracias e seus níveis de representatividade
popular. Przeworski, em especial, alerta para o fato de que os eleitores devem
ser capazes de imputarem responsabilidade sobre o governo e de votarem
(nas eleições – “pedras de papel”) para retirarem partidos com desempenho
insatisfatório.
Seguindo a categoria da representação, a teoria pluralista de Robert Dahl
ajuda a compreender como indivíduos religiosos ou organizações, por meio
de suas lideranças, passam a demonstrar interesse nas eleições. Para este
cientista político, os cidadãos são guiados por um “entendimento esclarecido
de seus interesses” (DAHL, 2006, p. 132) e é a partir destes que se
mobilizam. Em outras palavras, só haverá participação política dos
indivíduos no momento em que seus interesses estiverem em discussão. Isso
faz com que a política seja reduzida a um processo de escolha e poderia
legitimar, inclusive, ditaduras paternalistas, onde os cidadãos comuns
receberiam de certas elites uma cartilha de “verdadeiros” interesses para toda
a sociedade. E se as eleições são “a essência da democracia”, como já
apontava Samuel Huntington (1994, p. 16), como fazer para que os atores da
sociedade se envolvam com a política, independentemente se seus interesses
estão ou não em pauta?
Duas questões são destacadas aqui. A primeira, o estágio “eleitoral e o
entre eleições” (DAHL, 2006, p. 70-71). Uma organização eclesiástica, por
exemplo, tem, em seu rol de membros, aspectos demasiadamente
semelhantes, produzindo uma manifestação de preferências dentre
alternativas plurais. Isso seria resultado de um “treinamento social” entre
eleições (DAHL, 2006, p. 76s), que é a segunda questão.
O “treinamento social” empreende normas na/pela família, nas/pelas
escolas, por meios de comunicação e também nas/pelas igrejas. Para Dahl,
dentro de cada grupo, há um consenso diante das normas. Isso se dá por meio
de um treinamento. A proposta do autor não é que tais coletivos ofereçam
uma alternativa a seus membros, mas que todos os indivíduos tenham
informações idênticas das múltiplas alternativas (DAHL, 2006, p. 73), o que
geraria uma educação para a cidadania. Para que isso se torne realidade, um
consenso entre os líderes de cada setor é indispensável.
Tomando a igreja como exemplo, a questão que aqui levantamos é: até
que ponto as lideranças se servem de um discurso para “treinamento social”
para discussão de liberdade democrática? O que testemunhamos é que quanto
mais plural o Estado, maior a necessidade de grupos buscarem
representatividade. Vejamos, por exemplo, como o processo de interlocução
entre religião e política aconteceu tendo como referência a igreja evangélica
Assembleia de Deus (AD), do Maranhão, e sua inclinação por representação
política tanto no legislativo quanto no executivo. Utilizaremos o exemplo da
deputada federal Eliziane Gama (PPS-MA)[13] na eleição para o senado em
2018, para destacar a complexidade da representatividade – de parte – do
meio evangélico pentecostal e do discurso de alguns líderes da AD como uma
outra espécie de “treinamento social” para a democracia.
A complexidade da relação entre religião e política, como podemos
observar no caso aqui apresentado sobre a atuação da então deputada Eliziane
Gama, consiste na contingência e na abertura de sentido sobre a coletividade
sociopolítica que a deputada evangélica propõe representar. A contingência e
abertura de sentido resultam do fato de que a construção de coletividades
politicamente relevantes com base na religião, ou seja, da representação
política de uma vontade coletiva associada ao pertencimento religioso, não
está dada pelo vínculo religioso do candidato ou do partido. Os estudos sobre
a mobilização política de religiões pentecostais em períodos eleitorais têm
demonstrado enorme variedade de intensidade, forma e estilo no uso de
elementos religiosos para a construção da identidade política e das
coletividades que os candidatos pretendem representar (MEZZOMO &
PÁTARO, 2019). A sociologia política de Niklas Luhmann (2008) pode ser
útil para desenvolver uma análise desta relação complexa entre os
“subsistemas funcionais” da política e da religião, pois ela busca combinar
diferenciação com acoplamento entre estes subsistemas. Em seus primeiros
trabalhos de sociologia da religião (LUHMANN, 1977), Luhmann afirma,
com foco na Europa, que a religião tem encontrado dificuldades de
estabelecer e estruturar relações de interdependência com outros subsistemas
e isto explicaria, por exemplo, sua perda da relevância na esfera política em
democracias competitivas. No entanto, ao olhar, no final de sua vida e obra,
para o cenário religioso brasileiro, Luhmann (2002) considerou a
possibilidade de uma vitalidade religiosa especificamente moderna,
exemplificada sobretudo pelo pentecostalismo em se adaptar a uma sociedade
funcionalmente diferenciada e construir relações estruturadas com outros
subsistemas da sociedade.
Inspirado nesta possibilidade apontada por Luhmann, Petzke (2013)
ressalta o protagonismo pentecostal na construção de uma esfera religiosa
global desde o fim do século XIX e ao longo do século XX. No entanto, as
relações de diferenciação e interdependência entre religião pentecostal e
política têm sido pouco trabalhadas do ponto de vista da construção teórica.
Neste artigo, a partir de uma análise de caso sucinta, gostaríamos de analisar
a relação entre religião e política a partir do problema da construção de
coletividades, vontades coletivas e formas de representação política da
religião.
Luhmann fala do povo como construção interna da política. A
construção de identidades coletivas, como mostra Nassehi (2003), faz parte
da função da política em prover a capacidade de tomada de decisões
coletivamente vinculantes. Segundo ele, a definição de Luhmann sobre a
função da atividade política precisa ser esclarecida em um aspecto
fundamental: as coletividades que sustentam as decisões coletivamente
vinculantes não podem ser vistas como um dado que precede à política. Pelo
contrário, elas são produto do sistema político, um público que o sistema
constrói para si mesmo e diante do qual a atividade política deve sempre
legitimar-se (NASSEHI, 2003, p. 149). Assim, a função da política não é
apenas a produção de decisões coletivamente vinculantes, mas também a
produção de coletividades visíveis e imputáveis, o que torna possível a
natureza vinculante das decisões políticas.
Neste quadro, a instrumentalização da religião para a construção de
coletividades e pretensões de representação política pode assumir um papel
proeminente, já que a modernidade religiosa não significa necessariamente o
confinamento da religião à esfera privada, mas sim a abertura de um
horizonte de possibilidades variadas de organização e prática do religioso
(DUTRA, 2016), entre as quais se destaca, para Luhmann (2002, p. 301-302),
o papel moderno da religião na identificação coletiva de grupos e camadas
sociais.
No Brasil, a fragmentação recente do campo religioso (BRANDÃO &
JORGE, 2019) potencializa a variedade e a complexidade das formas de
instrumentalização política da religião. Esta fragmentação produziu não
apenas o atual pluralismo de denominações evangélicas, mas também uma
variedade de organizações religiosas que se distinguem especialmente pelo
nível de centralização e descentralização de suas estruturas e processos
decisórios internos. Por exemplo, enquanto a Igreja Universal do Reino de
Deus (IURD) e a Igreja Mundial do Poder Deus (IMPD) possui estruturas e
processos decisórios mais hierarquizados e centralizados, a Assembleia de
Deus (AD) se destaca pela sua descentralização.
O texto está divido em três seções. Na primeira, apresentamos a trajetória
de inserção política da AD, destacando como o perfil mais descentralizado de
suas estruturas organizacionais favorece à pluralização de estratégias
eleitorais e formas de mobilização de elementos religiosos por parte dos
candidatos religiosos. Na segunda seção, analisamos as tensões e conflitos
envolvendo o vínculo religioso e as pretensões eleitorais e de representação
política da senadora Eliziane Gama (AD) do Maranhão. Por último,
discutimos como o caso da senadora Eliziane Gama pode ser interpretado no
contexto mais amplo das relações entre política e religião em uma sociedade
diferenciada em subsistemas funcionais (Luhmann) ou campos de práticas
(Bourdieu). Neste contexto, a variedade das estratégias e formas de
instrumentalização político-eleitoral da religião está ligada tanto ao primado
da lógica política como às possibilidades de instrumentalização da religião
oferecidas pela estrutura do campo religioso.

Assembleia de Deus e o campo político


Nesta seção, consideramos importante observar, ainda que
brevemente, parte da história da AD no enquadramento da política brasileira.
O crescimento de pentecostais nesta esfera se deu no momento em que a
igreja evangélica se tornou religião de massas. E à medida que crescia,
percebeu a necessidade de certa representação política. Para além disso,
evangélico era sinônimo de honestidade, o que favorecia o ingresso na
política (FRESTON, 1994, p. 14-16). No caso da AD, a participação na
política não era uma decisão solitária, mas oligárquica (FRESTON, 1994, p.
14-16,31).
A figura do assembleiano Antônio Torres Galvão teve seu destaque
na política nacional. Presidiu o sindicato dos Trabalhadores de Fiação e
Tecelagem de Paulista, ajudou a fundar o PSD-PE e elegeu-se para a
Constituinte Estadual de 1947. Nesta época, era o único deputado de origem
humilde juntamente com alguns integrantes do PCB. Foi reeleito em 1950 e
tornou-se presidente da Assembleia Legislativa. Com a morte do governador
Ágamenon Magalhães, Galvão ocupou por 4 meses este posto no ano de
1952.
Nas eleições de 1982, esse cenário foi modificado quando o vereador
carioca Ivanir de Mello, membro da AD, foi eleito pelo PDT. Os discursos
foram ampliados e um candidato a deputado estadual (SP) pelo PT utilizou o
slogan “Trabalhador pentecostal vota em trabalhador pentecostal”[14]. Em
1978, o Mensageiro da Paz já antecipava: “crente vota em crente”
(GONÇALVES, 1990, p. 82). Mas este jornal demonstrou parcialidade com o
envolvimento dos membros da AD na política. Em maio de 1981, na pág. 4
do jornal, foi decidido que “o ministro titular que deseje [sic] exercer a
política partidária... se licencie das atividades pastorais”. Isso fez com que a
liderança motivasse a outros a se candidatarem. Foi o caso de José Fernandes,
o primeiro membro da AD a chegar ao Congresso Nacional. Alcebíades
Vasconcelos era pastor presidente no Amazonas e era defensor da projeção
social da igreja. José Fernandes foi eleito deputado federal pelo PDS nos anos
de 1978, 1982 e 1986. De 1979 a 1982 foi nomeado prefeito de Manaus. Em
1986 filiou-se ao PDT e se reelegeu como deputado federal constituinte
defendendo a família e votando contra o aborto[15].
A partir de 1985, o Mensageiro da Paz passou a falar de política em
quase todos os volumes. Na edição de dez/85 (p. 4), destacou: “[Os
candidatos a candidato], induzindo os crentes a imaginarem que a liberdade
corre perigo, fica mais fácil se apresentarem... como candidatos a paladinos
do Evangelho no Congresso”. Um ano depois, o livro Irmão vota em Irmão,
do assembleiano Josué Sylvestre, trazia textos bíblicos para darem apoio à
sua tese: “Bastaria o argumento do amor cristão para fazer com que os
crentes votassem nos crentes. Porque quem ama, não quer ver o seu irmão
derrotado... Crente vota em crente, porque, do contrário, não tem condições
de afirmar que é mesmo crente” (SYLVESTRE, 1986, p. 53-54).
Atualmente, uma personagem importante na inserção política da AD é
Eliziane Gama, jornalista formada na Universidade Federal do Maranhão e
membro da AD. Foi eleita pela primeira vez em 2006 como deputada
estadual com mais de 15 mil votos e foi reeleita em 2010 com mais de 37 mil.
Tentou a prefeitura de São Luís em 2012, mas ficou em terceiro lugar, com
cerca de 70 mil votos. Em 2014, foi a única mulher eleita deputada federal no
Maranhão, com 133.575 votos.[16]
Eliziane presidiu a Comissão de Meio Ambiente e outras importantes
comissões no Poder Legislativo do Maranhão como: a CPI de Combate à
Pedofilia e Abuso Sexual Infantil; a Comissão de Direitos da Mulher; a
Comissão de Direitos Humanos e a Comissão de Infância, Juventude e Idoso.
[17] Em seus discursos no plenário da Câmara (2015-2018) destacam-se as
temáticas das comissões por onde exerceu algum tipo de atividade. Quando
utilizou expressões religiosas foi para destacar o papel da AD na sociedade
em relação à educação e formação de profissionais autônomos, com escolas e
pastores voltados a essa prática. O Congresso em Foco a considerou em 2015
como uma das mais atuantes e influentes parlamentares e a segunda que
menos gastou com verbas indenizatórias na Câmara dos Deputados. No
mesmo ano, destacou-se com seu trabalho na CPI da Petrobras, Conselho de
Ética e comissões da Câmara.[18]
A partir de experiências familiares religiosas e sociais, a deputada
apontou, em seus discursos, questões sobre tráfico e consumo de drogas, bem
como investimentos e esforços para enfrentá-los; o aumento da violência e
mortes no país; os números crescentes de prostituição infanto-juvenil e o
analfabetismo. Eliziane julga ser nesses setores que a igreja tem um “papel
extremamente preponderante”; e afirma que “o trabalho da literatura cristã,
da bíblia, da escola bíblica dominical e de toda literatura que é utilizada reduz
de forma significativa os indicadores de analfabetismo dentro da igreja
evangélica”[19]. Além dessas áreas, a igreja (AD) também possui um
importante papel na recuperação e ressocialização de presos. Segundo a
deputada, a igreja, assegurada pela Constituição Federal, já realiza tal serviço
por meio de capelanias.[20]
Como vimos acima, a fragmentação do campo religioso e a variedade
interna de suas organizações favorece à diversificação das estratégias e
formas de instrumentalizar eleitoral e politicamente o vínculo religioso. Neste
contexto, a AD exibe, em comparação com outras denominações como a
IURD e a Igreja Mundial do Poder de Deus (IMPD), um nível importante de
descentralização de suas estruturas e processos decisórios, o que sugere,
inclusive, abandonar a ideia de uma unidade organizacional para esta
denominação.
A descentralização de estruturas e processos decisórios parece ter
influência importante sobre as formas e estratégias de uso da religião e de
seus elementos na política. Quando a organização religiosa tem maior
autonomia local (estrutura descentralizada) para decidir sobre sua inserção na
política, isto tende a favorecer à diversificação não apenas das formas de
instrumentalização da religião pela política, mas também dos perfis político-
ideológicos dos candidatos, potencializando conflitos que tendem a ser mais
raros em organizações religiosas mais centralizadas e hierarquizadas.
Na próxima secção, analisamos as tensões e conflitos envolvendo o
vínculo religioso e as pretensões eleitorais e de representação política da
senadora Eliziane Gama (AD) do Maranhão.

Eleições de 2018: complexa interface entre


representação política e apoio religioso
Pensando nas eleições de 2018 ao senado, a deputada Eliziane ganhou
o apoio da CEADEMA (Convenção Estadual das Assembleias de Deus no
Maranhão)[21], da CGADB (Convenção Geral das Assembleias de Deus no
Brasil) e do governador do estado, que se denomina católico, Flávio Dino, do
PC do B. Em dezembro de 2017, durante a 78ª Assembleia Geral da AD,
evento ocorrido em Chapadinha-MA, o presidente do Conselho Político da
CGADB, pastor Eleazar Ceccon, destacou a história política de Eliziane
Gama e deixou claro o apoio do Conselho ao senado:
O Conselho Político da CGADB reafirma o seu apoio a [sic] pré-candidatura ao Senado da
deputada Eliziane. Por sua voz firme em defesa do Maranhão e sem abrir mão dos princípios
cristãos, a deputada Eliziane merece não só o nosso apoio, mas também o nosso empenho nesta
pré-candidatura que pode fazer a diferença para o estado.[22] (Grifo nosso)

Durante o evento, a candidata propôs reestruturação, preservação e


conservação dos rios, ampliação da rede de proteção à mulher e combate ao
feminicídio – questões que não envolvem diretamente pautas morais, tão
prioritárias na história de alguns políticos assembleianos. Além disso,
prometeu convocar um plebiscito para anular a Reforma Trabalhista e da
Previdência.[23] Este ponto é importante, pois indica a construção de uma
identidade política que diverge da tendência geral de avanço de pautas morais
(aborto, orientação sexual) na construção das estratégias e formas de
instrumentalização da religião pela política a fim de construir representação e
a própria identidade coletiva política do grupo representado.
Nesta mesma convenção esteve presente o governador Flávio Dino,
que ressaltou a importância da AD no estado e recebeu homenagem da
Capelania da Polícia Militar. Dino destacou o papel que AD tem nas
capelanias, que contribuem muito com a segurança pública do estado.[24] Um
dado relevante é que durante o governo da família Sarney já era comum a
nomeação para o cargo de capelão ao invés da realização de concurso público
para tal exercício; mas durante o governo de Flávio Dino, de 16, passou para
o número de 50 capelães nomeados; dentre estes, sobretudo, líderes das AD
do ministério Madureira.
Com o apoio da denominação religiosa e do governo do estado,
Eliziane foi eleita senadora para a 56ª Legislatura com 1.539.916 votos. Foi a
segunda mais bem votada do Maranhão. Mas não apenas Eliziane como
membro da AD foi eleita. Mical Damasceno (PTB), filha do Pr. Pedro Aldi
Damasceno, presidente da CEADEMA, foi eleita como deputada estadual. O
PTB tinha coligação com o partido do governador Flávio Dino, assim como o
PPS. Segundo Mical:
O povo evangélico dessa vez entendeu que havia a necessidade de uma representatividade
evangélica e nós conseguimos essa grande vitória. Houve uma organização das Assembleias de
Deus e eu faço parte do projeto político e social de todas as congregações da Assembleia de
Deus.
Meu pai nunca me motivou a entrar para a política. Eu fui a primeira vez candidata, a
segunda e ele não aprovou, mas na terceira ele disse que se eu realmente queria ele iria me ajudar
e agora deu tudo certo. Dessa vez eu entendi que nem tudo é do jeito que a gente quer. Eu ouvi
os conselhos das lideranças e segui o caminho certo. Eu sou fruto da força política da
Assembleia de Deus. Agora a igreja acordou.
A minha equipe trabalhou com o projeto de reeleição do nosso governador, o meu pai
trabalhou também e ele [Flávio Dino] soube respeitar a nossa posição e sabe que nós não iríamos
apoiar o candidato dele [Fernando Haddad] e que nós estávamos com Bolsonaro.[25]

O discurso de Mical demonstra bem a influência que a denominação


possui e seu interesse por representatividade política, bem como a orientação
em relação à reeleição de Flávio Dino e seu não-voto ao candidato Haddad
(PT) no segundo turno das eleições presidenciais de 2018. Neste aspecto, há
outras razões que podem ser problematizadas em relação à
representatividade. A começar por Haddad. O que fez (ou o que representa)
para merecer o não-voto? Este conceito trazido Przeworski, que traduz o
exercício político da “punição” diante daquele que não atingiu beneficamente
a sociedade com seus planos de governo e por isso deve ser substituído,
poderia ser ampliado quando os líderes de igrejas utilizam seus espaços para
“treinamento social” no sentido de orientar seus filiados em quem se deve ou
não votar? O movimento contra Haddad e o apoio a Bolsonaro possui um
mecanismo litúrgico que confirma de certo modo este “treinamento social”.
Um mês antes das eleições de 2018, a AD iniciou uma campanha de jejum e
oração “pelo Brasil”. A ideia era mobilizar todas as igrejas a fim de que o
elemento da fé fosse o argumento legitimador da orientação do voto, uma vez
que seria o próprio Deus quem direcionaria a escolha pelo candidato. Assim
dizia o texto no Instagram da CGADB:
Uma crise moral, social, econômica e política, tem assolado nossa nação nos últimos anos, e
a nossa principal esperança de mudança é o Senhor Jesus [...] Serão trinta dias ininterruptos [...]
orando por nosso país; em seu lar, sempre que estiver reunido com sua família em um momento
de adoração a Deus, clame pelo Brasil; em todos os cultos e reuniões da Igreja que está sob seus
cuidados, de igual modo, faça uma oração especial pelo Brasil. Oremos para que Deus nos
direcione a votar em homens, mulheres comprometidos não só com o bem e o futuro da nação,
mas acima de tudo, comprometidos com Deus e a sua palavra, que afirma “Quando os justos
governam, o povo se alegra” Pv. 29:2a. Não fique de fora deste projeto, mobilize a Igreja do
Senhor no seu bairro, município, estado, a fazer parte deste momento especial [...]
Figura 1.
Fonte: Instagram CGADB
Ocorreu das eleições seguirem para o segundo turno e o presidente da
CGADB, pastor José Wellington Costa Júnior, encontrou-se com o candidato
à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) na tarde do dia 18 de outubro, numa
quinta-feira. Durante a reunião, o pastor declarou oficialmente apoio da AD,
que é a maior denominação evangélica do país, com 95.732 pastores e mais
de 20 milhões de fiéis (dados dinâmicos). Bolsonaro, à época, avisou aos
evangélicos: “tenham certeza que, se for a vontade de Deus que eu seja eleito,
vocês terão na presidência alguém afinado com aquilo que a Igreja defende;
o Brasil é laico, mas nós somos cristãos” (grifo nosso; LELLIS, 2019).
Durante a campanha para o segundo turno, uma nota oficial foi
emitida e também divulgada no mesmo Instagram:
A Campanha Nacional de Oração das Assembleias de Deus no Brasil idealizado [sic] pela
CGADB foi prorrogada; em virtude do Segundo turno para Presidente e também governadores
em diversos estados, conclamamos a todos a permanecerem orando e jejuando de forma
intensiva por nossa nação. Sem dúvida Deus agirá mediante o clamor de seu povo. Em todos os
momentos de culto em sua Igreja, no seu lar, em sua empresa, ore por nosso país. Incentive
outros a orarem também.

Prorrogar a campanha de oração seria o mesmo que continuar


utilizando do recurso litúrgico para orientação ao voto e ao não-voto, visto
que as razões apresentadas para a oração são desfavoráveis ao candidato do
PT. Há poucos dias das eleições, José Wellington publicou a seguinte nota
oficial, onde outrora já havia justificando que a decisão pela candidatura de
Jair Bolsonaro não era apenas por seu “perfil conservador”, mas “acima de
tudo pelo respeito que o mesmo demonstra para com a família e a Igreja,
sendo contra a ideologia de gênero, legalização das drogas, aborto e tantos
outros itens que vem contra o que nos ensina a palavra de Deus”[26]:
Figura 2.
Fonte: Instagram CGADB

O pastor Pedro Damasceno apoiou, em consonância com a CGADB,


o candidato Bolsonaro, que declarou estar “afinado com aquilo que a Igreja
defende”. Todavia, Damasceno trabalhou pela reeleição do comunista Flávio
Dino ao governo do estado, que se mostrou afinado a pautas semelhantes às
de Haddad e Manuela d’Ávila, sua vice. Em relação ao candidato do PC do
B, o apoio não foi unânime e, por isso, Damasceno recebeu Carta de Repúdio
do Pr. Anselmo Cardoso, da AD de Buriticupu-MA, em que dizia:
Ele [pr. Pedro Damasceno], hoje, está do lado dos comunistas e pode ser também um deles.
Em um país comunista, quem não apoia o governo, é preso, torturado e morto. [...] Essa posição
do Pr. Pedro Aldi Damasceno, traz indignação à maioria dos membros da CEADEMA. E, eu,
particularmente, demonstro o meu REPÚDIO e INDIGNAÇÃO contra essa posição
desagradável. [...] Tudo isso, são coisas que, nós, os verdadeiros evangélicos, repudiamos.[27]

Como registrado anteriormente, não apenas Damasceno apoiou à


reeleição de Flávio Dino, mas também sua filha Mical, eleita deputada
estadual. Mas outra personagem trouxe desconforto à denominação acerca de
seu apoio político: Eliziane Gama. Roberto Freire, presidente do PPS,
anunciou no dia 10 de outubro (ou seja, eleição para o segundo turno), que o
partido faria oposição às duas candidaturas, por considerar que ambos os
projetos flertavam com ditaduras. Eliziane posicionou-se contra a orientação
de seu partido e de sua igreja e, juntamente com o governador reeleito do
Maranhão Flávio Dino, demonstrou apoio a Haddad. Em evento do PC do B,
a senadora eleita afirmou: “Eu acredito que precisamos orar, pedindo a Deus,
para que o povo brasileiro possa, de fato, escolher o melhor para nossa nação
e nós, aqui do Maranhão, daremos a nossa contribuição nesse projeto” (grifo
nosso)[28], que era o apoio ao Haddad.

Após declaração, Eliziane também recebeu a seguinte moção de


repúdio:
A Assembleia de Deus em Itinga do Maranhão, representada por seu presidente Pr. José
Cardoso, e o ministério local da Igreja, formado pelos pastores dirigentes e obreiros, líderes de
Departamentos (Circ. de Oração e Mocidade) repudia a atitude da senadora eleita Eliziane Gama,
ao declarar (no dia 07/10/2018) apoio no segundo turno da eleição presidencial ao candidato do
PT Fernando Haddad, o qual em mandatos anteriores (prefeito de São Paulo e Min. da
Educação), implementou ações explícitas contra a Bíblia Sagrada, e contra a Igreja, e que o
mesmo em seu plano de governo pretende fomentar em escala de maior dimensão tais ações.
Informamos aos irmãos que se esta afirmativa de apoio da senadora tivesse sido feita antes do
pleito eleitoral jamais teríamos apoiado a referida candidata, assim como o não fizemos com a
candidata a presidente Marina Silva, que também é uma crente e apoia tais princípios
ideológicos. Deixo para reflexão o texto bíblico de 1 Rs 16 29. Brasil acima de tudo, Deus acima
de todos. A paz do Senhor.

Um áudio do pr. Damasceno foi divulgado e nele três questões


importantes são tratadas: uma nota de agradecimento aos seus colegas e às
igrejas pela eleição de sua filha e de Eliziane ao senado; uma nota de repúdio
ao apoio de Eliziane ao candidato Haddad; uma nota de alerta para que
ninguém votasse em Haddad por este ser inimigo da igreja e ter projetos para
fechá-la.[29] Damasceno lembrou, em outra ocasião, que Eliziane foi eleita
senadora com voto dos evangélicos e que o candidato à presidência e sua
vice, Manuela d’Ávila, não gostam de igrejas[30] – declaração comumente
utilizada por muitos membros de igrejas aos candidatos da esquerda.
Importante sublinhar que Eliziane não citou a CEADEMA em seu discurso
de vitória, o que trouxe também certa irritação aos fiéis.
Ou seja, em que mediada o apoio ao candidato do PT alteraria a
imagem representativa de Eliziane? Verificando comentários em seu perfil no
Instagram (membros da AD), notamos as seguintes manifestações após a
senadora ter parabenizado Flávio Dino pela campanha de Haddad no
Maranhão:
“Lamentavelmente! e a senhora, infelizmente não nos representa, nunca mais ganha com
meu voto.”
“Você é uma vergonha, você foi um erro, vamos te aguardar nas urnas, sua hipócrita, o
povo maranhense se arrepende de te colocar no senado, aproveita o tempo lá dentro, pois nunca
mais será eleita.”
“Lamentável, sua estratégia e articulação política foi inteligente, mas infelizmente em troca
de ‘valores’ e princípios que são irrevogáveis. Você envergonha os Cristãos do Brasil.” (Grifos
nossos)

Comentários de membros da AD aproximam-se do uso do não-voto


como punição diante da decisão de Eliziane em apoiar o candidato Haddad,
contudo, a questão da punição não está ligada ao fato dela ter conduzido suas
ações políticas como parlamentar de forma criminosa, ou por desempenho
insatisfatório ou algo semelhante, mas por ter apoiado alguém que
supostamente era contra a igreja.
Em outra postagem, Eliziane alertou que segmentos da população
brasileira flertavam com programas autoritários e chamou atenção para a
necessidade de construir pontes entre a política progressista e a sociedade.
Diante de tal declaração, recebeu os seguintes comentários[31]:
“O que o pessoal aí não entendeu é que ela [Eliziane] foi eleita pelos evangélicos para
defender os mesmos valores. E que não apoiam Haddad e ao vencer ela virou as costas para os
seus eleitores.”
“Enganou aos irmãos de fé, e declarou apoio total à marmita de Lula, o ladrão, criminoso,
condenado e preso! Mas que vagabunda!” (Grifos nossos)

O Pr. Damasceno fez contato com a senadora para esclarecimentos a


respeito de seu apoio ao Haddad, que estava ligada diretamente com o apoio
dado pelo governador Flávio Dino, responsável por praticamente triplicar o
número de capelães no estado e ajudar sua filha a ser eleita deputada estadual.
Em nota, a coordenação do CEADEMA chamou atenção dos pastores para
alguns aspectos, dentre eles que ninguém antecipasse “juízo de valor contra a
irmã Eliziane”, pois “pela primeira vez, tivemos a oportunidade de eleger
uma Senadora da República”[32].
O conflito da senadora eleita com a AD, que lhe concebeu apoio
oficial durante a campanha, é um caso que exibe aspectos e problemas
centrais da relação complexa entre religião e política, especialmente em
períodos eleitorais. Ao decidir apoiar Haddad no segundo turno contra
Bolsonaro, Eliziane parece ter se orientado por um cálculo político e eleitoral
e pelos riscos que vislumbrou em apoiar qualquer um dos dois candidatos à
presidência da república em 2018. O cálculo político e a avaliação dos riscos
já indicam um dos aspectos centrais da relação entre religião e política em um
cenário de fragmentação do campo religioso como o brasileiro: o primado da
política na definição das estratégias e formas de utilização da religião em
tempo de eleição. Não é a lógica da religião, mas sim a lógica da conquista e
manutenção do poder político que comanda o cálculo político exitoso sobre a
como, quando e em que medida usar ou não usar politicamente elementos
religiosos.
A complexidade envolvida em sua decisão exemplifica bem a
contingência da relação entre política e religião no Brasil atual. Ao decidir se
juntar a Haddad a senadora eleita arriscou claramente perder o apoio da AD
nas próximas eleições para consolidar sua relação com o grupo político do
governador reeleito Flávio Dino. De acordo com a sociologia de Luhmann
(1984), podemos entender a situação complexa da decisão de Eliziane a partir
da combinação entre as dimensões temporal (Zeitdimension), social
(Sozialdimension) e objetiva (Sachdimension).
Na dimensão temporal cabe destacar que a senadora, no momento de
sua decisão, dispunha, como perspectiva de futuro, de um mandato de oito
anos para o senado da república, período de tempo mais do que suficiente
para recuperar o apoio da AD. E mesmo com a concretização da vitória de
Bolsonaro sobre Haddad, a consolidação da relação com o governador
reeleito de seu estado lhe garante uma base alternativa de apoio que torna
possível e eleitoralmente viável tencionar seu vínculo com a AD. Na
dimensão social, sabendo que a lógica política é a que predomina, Eliziane
pode ainda contar com a probabilidade de que uma possível e provável
crescente impopularidade de Bolsonaro no Maranhão afaste o eleitorado
evangélico das classes populares da orientação conservadora preconizada
pelas lideranças da AD, abrindo um flanco promissor para que possa
reconquistar este eleitorado religioso sem ter que se submeter as orientações
eleitorais e à pauta moral encampada pela denominação evangélica. Eliziane
sabe que o eleitorado evangélico não olha a política apenas pelas lentes da
religião, atualmente focadas na pauta moral e de comportamento.
Na dimensão objetiva, podemos observar como a identidade política
da senadora eleita nunca esteve muito ligada às questões morais e de
comportamento. Sua plataforma de atuação sempre priorizou temas da
política social como saúde, educação e assistência. A prevalência deste eixo
temático em relação aos temas morais (aborto, “ideologia de gênero” etc.)
facilita consideravelmente uma aproximação com a esquerda, hegemônica na
região Nordeste e em seu estado, sem inviabilizar uma possível
reaproximação com sua base evangélica, que em outra constelação política de
fracasso ou impopularidade de um governo Bolsonaro, estaria mais voltada
para a política social e menos interessada na pauta moral. A combinação das
dimensões temporal, social e objetiva cria uma situação concreta de decisão
em que a lógica política prevalece sobre a lógica religiosa.
Na próxima secção, discutimos como o caso da senadora Eliziane
Gama pode ser interpretado no contexto mais amplo das relações entre
política e religião em uma sociedade diferenciada em subsistemas funcionais
ou campos de práticas. Neste contexto, a variedade das estratégias e formas
de instrumentalização político-eleitoral da religião está ligada tanto ao
primado da lógica política como às possibilidades de instrumentalização da
religião oferecidas pela estrutura do campo religioso.

Politização da religião, o primado da política e as


estruturas do campo religioso
A diferenciação do sistema político foi historicamente marcada pela
consolidação da “razão de estado” (Staatsraison) em substituição à
moralidade religiosa no esforço de monopolizar e centralizar o uso legítimo
da violência física em um determinado território. Em Maquiavel (1998
[1532]), este problema fundamental aparece formulado como paradoxo moral
do “príncipe” que, para alcançar o fim moralmente justificado de assegurar a
“ordem, a paz e a justiça”, precisa agir de forma moralmente reprovável,
assassinando ou deportando potenciais usurpadores do poder. Uma vez
assegurada a diferença entre governantes e governados (povo) por meio da
concentração do poder e da violência, o problema deixa de ser esta
necessidade de afirmar a autonomia das exigências funcionais da atividade
política diante das exigências da moral religiosa. No lugar do problema da
“razão de estado”, entra o problema do controle do uso arbitrário do poder. O
exercício do poder, uma vez que não pode mais estar baseado no “cheque em
branco” constituído pela fórmula da “razão de estado”, vai então precisar ser
legitimado pela observação dos direitos do cidadão e do sistema de “freios e
contrapesos”/ divisão de poderes. Trata-se aqui da passagem da monarquia
absolutista para o Estado constitucional.
É precisamente este processo de “constitucionalização do poder”
(NEVES, 2008, p. 481) que resulta na formação de direitos políticos
igualitários – a serem exercidos segundo procedimentos eleitorais
juridicamente controlados – como expressão da noção de soberania popular,
concebida como fonte última de legitimação do poder. Na medida em que o
acesso e o exercício do poder são regulados por procedimentos jurídicos
destinados a garantir tanto a expressão da vontade popular como o uso
constitucional do poder, espera-se neutralizar a influência direta do poder
social sobre o poder político, assim como o uso arbitrário deste a fim de obter
vantagens e corromper o funcionamento de outras esferas sociais – como a
esfera privada, a econômica, os meios de comunicação etc. Ou seja, a
constitucionalização do poder deve assegurar o acesso (ainda que potencial)
de todos ao poder político, e, ao mesmo tempo, cuidar para que ele não seja
exercido arbitrariamente sobre outras esferas da vida social e individual,
garantindo, assim, a diferenciação entre política e sociedade. Neste contexto,
as “teorias de reflexão” vão se ocupar primariamente dos problemas relativos
à (insuficiente) universalização dos direitos do cidadão e ao controle do uso
arbitrário do poder (a divisão de poderes e os “freios e contrapesos”). Como
sintetiza Luhmann (1997, p. 968): “a teoria política torna-se teoria do Estado
constitucional”.
Acontece que, ao se tornar teoria do Estado constitucional, a teoria
política perde de vista a dimensão não constitucional da política, exercida,
para Luhmann, especialmente no “circuito informal do poder” (LUHMANN,
1981). Ao trabalhar com a distinção entre poder formal e poder informal,
Luhmann aborda a política não só para além do Estado e sua dimensão
oficial, mas também para além do ideal constitucional de um poder político
plenamente imune ao poder social desigualmente distribuído.
O poder formal que o cidadão transfere pelo voto ao governante é, por
definição, normatizado, já que expressa a própria “constitucionalização do
poder”. Já o poder informal não é alcançado pela normatização
constitucional, estabelecendo-se como um espaço que contrasta com a
igualdade política normativamente esperada no espaço do poder formal.
Trata-se de um circuito de poder que se tornou parte do dia a dia dos sistemas
políticos modernos e no qual,
[...] a política não pode funcionar sem as orientações da administração. Assim como o
público torna-se dependente da pré-seleção de pessoas e programas dentro da política e a
administração passa a depender, na medida em que se expande para campos de forças mais
complexos, da atuação voluntária do público, sendo obrigada a concedê-lo alguma influência.
(LUHMANN, 1981, p. 164).

As relações de poder informais visadas referem-se especialmente aos


vínculos seletivos e particularistas que se criam entre a administração e
setores do público de cidadãos, sobretudo setores organizados. Como as
organizações de interesse (as quais nem sempre se apresentem enquanto tal)
são o meio mais importante de exercício do poder informal sobre a
administração, o público, no espaço do poder informal, acaba se segmentando
entre um setor organizado e outro setor não organizado. Isto, por sua vez,
como a literatura sobre corporativismo e cidadania tem demonstrado para o
caso brasileiro, resulta em enormes e estáveis assimetrias de poder, as quais,
ao serem replicadas e reforçadas nas chances de influenciar a produção de
decisões coletivamente vinculantes, podem até mesmo levar a uma exclusão
política estável do segmento pouco ou nada organizado do público de
cidadãos.
O crescimento e o adensamento das estruturas organizacionais
envolvendo a administração e o público, incentivados pela expansão do
estado de bem-estar social, elevam a complexidade das situações de decisão
com as quais a administração se vê diariamente confrontada em função de
suas relações informais com o público. Em geral, isto faz com que a
administração se torne cada vez mais dependente da cooperação dos
segmentos organizados do público. Isto porque estes segmentos possuem
uma margem de atuação e influência sobre a implementação de políticas
públicas que não se deixa controlar pela cadeia de mando estatal
juridicamente fixada, ou seja, pelo poder constitucionalizado e pelos
programas decisórios oficiais:
Segundo a imagem oficial, a administração toma decisões e as implementa
independentemente do público afetado. A questão seria apenas o controle jurídico da decisão e
de sua observância, ou seja, se apresenta como um problema do estado de direito e da vigilância
de sua execução […]. Na medida em que o estado de bem-estar social vai se desenvolvendo, a
administração, por razões políticas, é cada vez mais incumbida de programas cuja execução
depende da cooperação do público. Esta dependência, por sua vez, não pode ser mais controlada
pelo direito ou por obrigações jurídicas; e também nem sempre está afinada com os interesses
daqueles de cuja atuação conjunta depende a administração. Esta dependência refere-se mais a
parceiros organizados com os quais se vai lidar novamente em outras constelações do que a
indivíduos dotados de direitos subjetivos […]. Na prática, isto cria uma complexa articulação de
interesses à margem da legalidade e até mesmo para além de seus limites. Aquele de cuja
cooperação depende a administração pode sempre exigir uma contrapartida. (LUHMANN, 2008,
p. 260-261).

Neste contexto, a política desenvolve relações variadas de


interdependência com outros subsistemas da sociedade. Estas relações podem
ser baseadas tanto no poder formal como no poder informal. A
“constitucionalização do poder” é um exemplo de relação de
interdependência (acoplamento estrutural) entre política e direito baseada no
poder formal. As estratégias e formas de mobilização da religião na política
eleitoral podem ser vistas como modalidades de interdependência informal
entre estes dois subsistemas. O envolvimento de organizações religiosas
como a AD na administração do sistema prisional (como no caso da relação
da AD com o governador Flávio Dino por meio da nomeação de cargos nas
capelanias) é outro exemplo de interdependência pelo poder informal.
Em seu processo de constituição, o sistema político se diferencia do
sistema social da religião. Mas, precisamente, a diferenciação entre os dois
subsistemas abre possibilidades de instrumentalização mútua. Ao olhar para a
realidade brasileira, Luhmann identificou possibilidades de recolocação da
religião na sociedade funcionalmente diferenciada. O desenvolvimento de
acoplamentos estruturais entre religião e outros subsistemas como a família e
a política confirmam de certo modo esta possibilidade.
Os acoplamentos entre religião e política podem ser identificados em
distintos níveis da realidade social: no nível das organizações, no nível das
redes de relações, no nível da construção da identidade pessoal dos agentes e
no nível da semântica política. O estudo de Mezzomo e Pátaro (2019) sobre o
uso da religião nas eleições para a Assembleia Legislativa do Paraná de 2014
identifica uma variedade de intensidades, formas e estilos de politizar a
religião em época eleitoral que remete claramente a estes níveis da realidade
social. A variedade ocorre especialmente em função de se o candidato é
escolhido oficialmente como candidato de uma denominação (nível da
organização), se recebe o apoio de lideranças religiosas (nível das redes de
relações pessoais), se constrói sua identidade política (identidade) com base
em símbolos, vestimenta ou linguagem da religião ou se elabora sua
plataforma de campanha (semântica) com base em temas presentes no
discurso religioso. O mesmo candidato pode, evidentemente, lançar mão de
todos estes níveis de relação entre religião e política, mas as combinações
possíveis entre eles produzem de fato um panorama muito variado de
instrumentalização política da religião.
No caso da senadora Eliziane Gama, o nível da organização está
claramente presente no apoio oficial que recebeu da AD, denominação que
tem se destacado pela oficialização e planejamento de candidaturas para
eleições legislativas em distintos níveis da federação. O nível das redes de
relações também está presente e provavelmente se potencializa com o apoio
oficial da denominação que legitima o uso de posições e cargos para construir
ou ampliar relações pessoais de apoio político e eleitoral. No nível da
identidade pessoal, a senadora eleita não se destaca por um uso intenso de
símbolos, vestimentas e linguagens da religião na construção de sua imagem
política. Por fim, sua semântica política é, de certo modo, desviante da
semântica oficial da AD e serve de legitimação para sua decisão de apoiar
Haddad e não Bolsonaro, o candidato oficial da AD, no segundo turno da
eleição para presidente da república. Enquanto a AD assume a pauta moral
como fundamento para recusar Haddad e apoiar Bolsonaro, a senadora eleita
insiste em sua agenda de política social e ignora o critério moral que orienta a
decisão política da organização religiosa.

Considerações finais
Na combinação entre os quatro níveis de relações entre religião e
política que elencamos acima, o apoio da organização parece ser o recurso
político mais importante que Eliziane Gama conseguiu em razão de sua
vinculação religiosa. Eleição depende de dinheiro, sobretudo porque depende
de organização. Por isso, o apoio de uma denominação religiosa com grande
capilaridade garante quase sempre uma máquina eleitoral difícil e custosa de
ser construída por outros meios. Portanto, a decisão de desobedecer a AD e
apoiar Haddad deve ser entendida a partir da seguinte questão: que outros
recursos a senadora eleita tem em mãos e no seu horizonte de atuação que lhe
permitiram assumir o risco de perder, pelo menos durante um período, o
apoio político oficial de uma denominação religiosa de tanta relevância
política como a AD? Como já pontuamos, a consolidação de sua relação
política com o grupo do governador reeleito Flávio Dino, a identidade
pessoal vinculada à agenda da política social, o horizonte temporal de um
mandato de oito anos e a perspectiva de reconquistar ou manter o apoio dos
eleitores evangélicos pobres são os recursos que viabilizaram uma decisão
arriscada como essa.
Nesta combinação de recursos e níveis de relações entre religião e
política, há um primado: o primado da lógica política de busca e manutenção
do poder, ainda que se possa admitir que motivos morais também expliquem
as ações individuais. Mas a racionalidade estratégica em torno da busca e
manutenção do poder, em um contexto de democracia de massas em que o
voto de eleitores evangélicos pode ser conquistado e fidelizado com o uso de
estratégias distintas, é a única que pode garantir cursos de ação exitosos no
campo político. Eliziane parece ter apostado na estratégia de combinar sua
imagem ligada à política social com perspectivas de poder geradas pelo
sucesso político-eleitoral de Flávio Dino e da agenda de centro-esquerda no
Nordeste e no Maranhão. Os riscos que assumiu ao apoiar Haddad podem lhe
garantir uma base política suficiente para não deixar à AD melhores
alternativas que a reaproximação.
Neste contexto, a variedade de estratégias de mobilização da religião
na política depende tanto do primado da lógica política na carreira de
políticos religiosos quanto das possibilidades de instrumentalização da
religião oferecidas pela estrutura do campo religioso. No caso da senadora do
Maranhão, a estrutura descentralizada da AD acaba favorecendo a uma boa
perspectiva de poder no sentido de reconquistar o apoio não apenas de
eleitores evangélicos, mas também de lideranças e organizações, já que estas
possuem um grau de autonomia estadual e local que facilita desalinhamentos
com orientações centralizadoras. A perspectiva de reconquista de apoio das
organizações religiosas é importante porque a carreira política de Eliziane
parece ter sido bastante impulsionada pelo poder político destas
organizações. Seu grande desafio parece ser a necessidade de reconstruir uma
base eleitoral que não pode prescindir de eleitores evangélicos, sem poder
contar com a narrativa religiosa mais poderosa atualmente. Trata-se de um
momento de reconstrução da identidade e da vontade coletiva, as quais um
político pretende representar política e eleitoralmente. O caso de Eliziane
mostra como o poder político das organizações religiosas não se constrói e se
afirma no campo religioso, e sim, no campo político e de acordo com o
primado da lógica de busca e manutenção do poder. No contexto deste
primado da disputa pelo poder, o uso de recursos políticos (organizações,
redes, identidades e semânticas) oriundos da religião pode ter maior ou
menor proeminência, de acordo com a importância de outros recursos
políticos ligados aos partidos ou a grupos políticos informais, suas redes,
identidades e semânticas.
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4. A partidarização de líderes da Convenção
Batista Brasileira:
uma análise político-teológica
Alonso Gonçalves

Separação entre Igreja-Estado como um princípio: os


batistas ingleses

O protestantismo nasceu da liberdade


da consciência individual, cuja consequência
política é a liberdade religiosa
(Rui Barbosa)
Os batistas surgem como grupo político organizado na Inglaterra em
consequência do liberalismo inglês.[33] Neste sentido, o liberalismo se dá em
sua dimensão libertária de toda e qualquer forma de subjugação do Estado
sobre o indivíduo. Assim, está dada a autonomia do indivíduo e a quebra do
autoritarismo do Estado, principalmente no aspecto político-religioso. Dentre
os pensadores que se destacaram, está o filósofo John Locke, ferrenho
defensor da tolerância religiosa.[34] No campo político, portanto, o
liberalismo é uma reação ao absolutismo da época, ou seja, uma maneira de
“legitimar o poder não mais fundado no direito divino dos reis, nem na
tradição e herança, mas no consentimento dos cidadãos” (ARANHA;
MARTINS, 1993, p. 217). Corolário ao liberalismo está o individualismo, no
seu sentido filosófico. Individualismo se dá a partir da liberdade do indivíduo
que, agora, passa a ser garantida pelo Estado. O individualismo, tratado em
Locke, se dá quando em seu tempo o mandato do Rei era tido como divino, o
que impedia as liberdades do indivíduo. O individualismo é um pensamento
revolucionário quando, à época, o monarca era tido como um deus entre os
homens e sua palavra era absoluta.[35] O livre pensamento não havia.
Qualquer ideia libertária ou contestatória era reprimida pelo monarca. Por
outro lado, a opulência do palácio deixava bem claro quem detinha o poder, o
Rei e sua nobreza. A religião, por sua vez, era manuseada para favorecer o
poder da monarquia como um imprescindível subsídio “sobrenatural” para
perpetuar o domínio do Rei. O entendimento individualista de Locke é de que
os homens, em estado de natureza, são livres, iguais e independentes. Nesse
sentido, portanto, o ser humano é responsável por si mesmo, não cabendo a
ninguém e a nenhum poder dominá-lo e silenciá-lo. A partir do seu
individualismo, a fé religiosa nunca deveria ser imposta por nenhuma
autoridade política e religiosa. Ao Estado cabe assegurar essa liberdade e não
intervir a fim de forçar os súditos a aderirem a um determinado credo
religioso. O seu individualismo o levou as consequências mais significativas,
qual seja, a separação entre Igreja e Estado. Em um tempo em que a Igreja
detinha o controle cultural, intelectual e educacional, Locke contribuiu para a
formulação de um importante princípio que ampliou significativamente as
bases da então sociedade moderna. Aqui reside a compreensão dos batistas
quanto à separação entre Igreja-Estado como um princípio filosófico-político-
religioso.[36]
Os batistas ingleses surgem como um grupo político-religioso
organizado que luta com veemência pela liberdade religiosa e, como
consequência, a separação entre Igreja e Estado, reivindicando, portanto, o
lugar do indivíduo como fator decisivo de consciência, opinião, crença e
participação política.[37] Tendo os batistas a sua gênese no movimento liberal
inglês, eles participam dos anseios e perspectivas de sua época, ou seja,
liberdade religiosa e separação entre Igreja e Estado. Esse ímpeto por
liberdade levou o filósofo inglês John Locke a dizer que “os batistas foram os
primeiros proponentes de uma liberdade absoluta, justa e verdadeira
liberdade, liberdade igual e imparcial” (apud YAMABUCHI, 2009, p. 98).

Batistas da CBB: apolíticos e apartidários?

O Ministro não deve fazer carreira política nem pertencer a uma facção política. Jesus nos
últimos dias do seu ministério disse: ‘o meu reino
não é deste mundo’
(O Jornal Batista, 27 de novembro de 1917)
Os batistas brasileiros são fruto do trabalho missionário de batistas do
sul dos EUA.[38] Um grupo que viu no Brasil a oportunidade de continuar o
seu modo de vida, tendo no trabalho escravo as condições para a manutenção
do seu status quo.[39] A partir desse fato, é possível perceber o
comportamento conservador desse grupo que se instala no Brasil e que,
depois, irão solicitar missionários para evangelizar o país.
Na perspectiva teológica, os batistas norte-americanos estão dentro da
matriz dos diversos grupos protestantes presentes nos EUA, ou seja, a raiz
teológica dos batistas vêm do puritanismo – que tem sua ênfase no biblicismo
e na inclinação para uma ética perfeccionista; do fundamentalismo que
advoga a interpretação literal da Bíblia e a dogmatização legalista das
doutrinas; do landmarkismo,[40] que afirma que os batistas são os únicos
herdeiros das doutrinas apostólicas (SANTOS, 2012, p. 35). No Brasil o
movimento batista ganhou contornos de seu ancestral imediato, ou seja, a
versão norte-americana, trazendo consequências para a eclesiologia, a
teologia e a ideia de missão.
No campo político, os batistas brasileiros, desde o início,
demonstraram uma certa ambiguidade com o princípio de separação entre
Igreja-Estado. Num primeiro momento, os batistas brasileiros, ainda sob forte
influência dos pastores-missionários, cultivaram uma postura definida quanto
à participação na política nacional, o absenteísmo político. Este funcionou
como elemento de unidade e certa identidade para os batistas da CBB. A
eclesiologia batista tem como marca a democracia participativa, a autonomia
da igreja local e a separação entre Igreja-Estado. Todos esses elementos
conjugados, com uma certa tensão política, deram aos batistas, a partir de
suas igrejas locais, a percepção de que os batistas brasileiros não se
envolviam com a política nacional. Cabia ao grupo, em termos de
participação política no cenário nacional, a “submissão à autoridade e da
oração pelos que estão investidos de poder. Do ponto de vista batista a oração
era um instrumento eficaz, tratava-se de pedir a intervenção espiritual de
Deus para abençoar os governantes e tocar nos seus corações o sentimento de
justiça” (SILVA, 2011, p. 305). Elizete da Silva (2011, p. 305), discutindo a
participação dos batistas na recém República, observa que, assim como os
demais protestantes no país, os batistas brasileiros participaram de um “Dia
de Comum Oração”, por temer que a nova República cedesse à hegemonia
católica. Como ferrenhos defensores da liberdade religiosa e da separação
entre Igreja-Estado, os batistas nunca esconderam o desejo de ver o Brasil
uma república. O Jornal Batista de 1902, traz uma oração dos batistas
brasileiros em relação à política e suas turbulências na época: “Pedir a Deus
pelo presidente e governadores; para que Elle lhes infunda um espírito de
justiça e de fidelidade às leis, para que não se deixem levar pelas manhas do
jesuitismo e governem com cuidado” (SILVA, 2011, p. 305). Imbuídos pelo
princípio da liberdade religiosa e da separação entre Igreja-Estado, os
batistas, ainda que com claros anseios por verem confirmados na política
nacional dois dos seus mais caros princípios, estão comprometidos com seus
princípios fundamentais e, mesmo com uma linguagem religiosa de cunho
pietista, imprimem seus princípios politicamente quando usam o jornal da
denominação para tornar evidente suas bandeiras políticas. Quando esses
temas mais caros aos batistas não estão em pauta, Elizete da Silva (2011, p.
306) observa que “a prática recorrente entre os batistas foi a omissão frente às
questões gerais da política nacional”. Antônio Gouvêa Mendonça (1990, p.
45), tratando sobre os batistas e sua relação com a política, é taxativo: “Não
se nota representatividade de algum ideal político protestante nem
pronunciamentos a respeito dos problemas estruturais da sociedade
brasileira”. Nesse sentido, os batistas, como um dos herdeiros do Pietismo,[41]
quando diante de temas da política nacional, mantinham uma postura de
“neutralidade”. O recurso era a oração pelos governantes e pelos problemas
da Nação, mas não havia um discurso político-teológico que confrontasse a
realidade da sociedade brasileira. Ainda que “os problemas políticos foram
[eram] reconhecidos, mas enquanto dificuldades decorrentes da falta do
Evangelho, da ausência dos princípios cristãos ou batistas no coração dos
governantes e dos governos” (SILVA, 2011, p. 306). Para Mendonça (1990,
p. 45), há na gênese dos batistas brasileiros pelos menos dois elementos
impeditivos quanto à participação dos batistas enquanto denominação no
cenário político nacional: (i) o “receio de escandalizar o conservadorismo das
bases”; (ii) “no antigo componente da teologia missionária norte-americana
da ‘Igreja espiritual’, que buscava afastar a Igreja dos conflitos sociais”.
Assim, a ênfase recai no discurso religioso que tenta imprimir uma postura
camuflada de não envolvimento com a política, mas ao mesmo tempo
reivindica a conversão e a teologia salvacionista, como parte de uma
pregação batista que é fruto do Pietismo,[42] como a principal plataforma de
comunicação política com a sociedade brasileira. Por adotarem essa postura
de pretensa abstenção política, os batistas, num primeiro momento, não
incentivavam a participação político-partidária, desestimulando a reflexão e a
práxis política. Elizete da Silva (2011, p. 308), pesquisando esse aspecto dos
batistas brasileiros, ressalta que havia toda “uma argumentação contrária ao
envolvimento dos batistas em coletivos políticos”. Até então, segundo Silva
(2011, p. 308), “a política era considerada como um componente do reino do
mundo [...], era uma atividade mundana por excelência, e não era incentivada
a participação”. E mesmo que houvesse uma disposição para colocar o crente
batista como uma confiável opção na tentativa de mudar o cenário político,
ainda assim a sua participação era rejeitada pelo grupo, “mesmo com a
perspectiva do fiel ser luz, portador dos princípios evangélicos” (SILVA,
2011, p. 308).
As conclusões quanto ao início, consolidação e pensamento dos
batistas como denominação no Brasil, podem ser assim aventadas: “O
pensamento batista brasileiro, expresso em órgãos como O Jornal Batista,
não traduziu apenas o liberalismo inglês do século XVII. Ao receber uma
influência direta dos batistas do sul dos EUA, miscigenou-se e gerou o que
chamamos de pensamento liberal-conservador” (PINHEIRO, 2012, p. 241).
Dessa forma, a percepção política dos batistas brasileiros, não obstante a sua
gênese inglesa conter contornos político-filosóficos e, com menor
intensidade, teológico, ficou aquém das raízes inglesas, absorvendo, como
herança dos pastores-missionários, a matriz norte-americana do modo de ser
batista. Israel Belo de Azevedo (2004, p. 225), sintetiza o que ficou como
formação do pensamento batista no Brasil: “o pensamento batista no Brasil é
o pensamento batista norte-americano reproduzido nas linhas gerais. Assim, o
anticatolicismo e o laicismo do Estado foram reforçados e o landmarkismo
resultou presente mas mitigado”.

Batistas da CBB viram à direita (do Manifesto


Batista à Ditadura Civil-Militar)

A partir do golpe militar de 1964, os batistas brasileiros construíram um profícuo relacionamento


com o bonapartismo militar
(Jorge Pinheiro)
Assim como todos os protestantismos no Brasil, a história dos batistas
é uma antes do golpe civil-militar de 1964 e outra durante e depois do Estado
de exceção que o país viveu até 1985. Antes de 1964, os batistas brasileiros
estavam envolvidos com o principal problema da sociedade brasileira, a
pobreza extrema de milhares de brasileiros. As principais lideranças da
denominação que participavam ativamente da CBB, alimentavam um anseio
por ver um país com melhor igualdade de oportunidades e sonhavam com
uma distribuição equitativa da terra. O documento que resume bem esse
sentimento da grande maioria dos batistas brasileiros se traduziu no
Manifesto dos Ministros Batistas do Brasil (MMBB). Jorge Pinheiro (2012,
p. 242), fazendo uma avaliação da ambiguidade política dos batistas
brasileiros, ressalta que, antes do golpe civil-militar de 1964, havia “setores
da Igreja Batista [que] traduziam seu liberalismo a partir de uma leitura do
evangelho social, proposto por pensadores batistas norte-americanos como
[Walter] Rauschenbuch”. Os batistas pautaram sua conduta política a partir
do salvacionismo, imbuídos por uma visão pietista do lugar da igreja na
sociedade. Ainda que essa perspectiva tenha conduzido a maneira como os
batistas liam a sociedade brasileira, “foi dentre eles que surgiu uma das mais
concretas demonstrações de como os protestantes liam a realidade brasileira”
(PINHEIRO, 2012, p. 242-243). O MMBB surge em setembro de 1963 ainda
sob a notória influência da Conferência do Nordeste da qual líderes batistas
participaram.[43] O MMBB é fruto de uma radicalidade política diante da
realidade brasileira marcada por uma gritante desigualdade social. Ainda que
a estrutura da igreja seja fragmentária por conta do seu próprio sistema de
governo, o MMBB conseguiu traduzir uma percepção que poucos
documentos produzidos por protestantes, até então, conseguiram abordar com
precisão e perspicácia. O documento reiterou o compromisso com os Direitos
Humanos e deixou patente a primazia do ser humano e sua dignidade. Com
isso, no MMBB houve uma significativa demonstração de líderes
denominacionais que estavam preocupados em reafirmar a plena realização
da pessoa e de sua humanidade diante dos problemas sistêmicos da sociedade
brasileira (PINHEIRO, 2012, p. 244). No MMBB há uma significativa visão
holística da sociedade brasileira e suas mazelas, chamando atenção para a
“inadequação da estrutura social, política e econômica do país” (PINHEIRO,
2012, p. 244). O texto foi acusado de ser tendencioso quanto ao seu aspecto
político à esquerda, porque havia uma defesa veemente em relação às
reformas de base, entre elas a reforma agrária, uma iniciativa do então
governo de João Goulart, deposto por militares em 1964, dentre outras
reformas importantes naquele momento (PINHEIRO, 2012, p. 245). Ocorre
que o MMBB, logo no seu início, reivindica a tradição profética como a
primeira e fundamental motivação para o teor do documento: “Nossas
preocupações estão em consonância não só com as dos Profetas bíblicos, que
se constituíram nos intérpretes da vontade de Deus para os seus povos nos
momentos de maior gravidade de sua história, como também do próprio
Cristo” (PINHEIRO, 2012, p. 251-252).
Com o golpe civil-militar de 1964, os batistas brasileiros assumem de
maneira explícita a sua vertente política à direita, de forma institucional. O
principal semanário da denominação, O Jornal Batista, ficou à serviço do seu
redator, o pastor J. Reis Pereira, que passou a dar conselhos aos batistas
brasileiros diante do golpe civil-militar a partir de 1964. J. Reis Pereira
interpretou a intervenção militar “como uma vitória da democracia sobre o
comunismo” (REILY, 2003, p. 314-315). A partir disso, J. Reis Pereira,
como principal articulador do O Jornal Batista, passou a desmontar a
argumentação político-teológica do MMBB em virtude do momento atual do
país a partir de 1º de abril de 1964, mesmo sendo ele, J. Reis Pereira, “um de
seus signatários” (PINHEIRO, 2013, p. 222). Houve, portanto, uma explícita
vinculação entre os batistas brasileiros com o regime de exceção, não apenas
por parte de pastores e lideranças, mas também na dimensão institucional da
CBB, ficando patente, a partir de líderes denominacionais que fizeram uso de
meios institucionais para se fazerem ouvidos e lidos. Desse modo, a vertente
progressista entre os batistas brasileiros é desarticulada e o modo de ser
batista, que se configurou a partir da presença dos pastores-missionários, é
reassumido, mas dessa vez não mais como um discurso religioso com
características pietista, mas abertamente assumindo o espectro político à
direita como plataforma político-religiosa de atuação.[44]

Líderes batistas assumem posição à direta nas


eleições presidenciais (2010 e 2018)

Para muitos fiéis os líderes são representantes sacerdotais e


proféticos da divindade
(Leandro Seawright Alonso)
Em três momentos específicos, líderes denominacionais reforçaram a
vertente política à direita. Destacamos três casos pontuais de lideranças da
CBB[45] em que houve deliberada desconsideração do ethos histórico-
político-teológico dos batistas[46] e dos caros princípios fomentados pelos
batistas ingleses da liberdade de consciência e separação entre Igreja-Estado.
Mencionaremos a postura político-partidária de Paschoal Piragine Jr., pastor
da Primeira Igreja Batista de Curitiba/PR; L. Roberto Silvado, presidente, à
época, da CBB e pastor da Igreja Batista do Bacacheri, também na cidade de
Curitiba/PR; Josué Valandro Jr., pastor da Igreja Batista Central da Barra,
Rio de Janeiro/RJ, por ocasião da Eleição 2018 para presidente da República.
Na eleição presidencial de 2010 que colocou, dentre outros
candidatos, José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) como principais
concorrentes ao pleito, o pastor Paschoal Piragine Jr. exibiu um vídeo
propaganda no púlpito da igreja da qual é pastor titular desde 1988, a
Primeira Igreja Batista em Curitiba/PR, para assim emitir a sua opinião
contraria à eleição da então candidata Dilma Rousseff à presidência da
República, ainda que não mencionasse o seu nome, mas sim o Partido dos
Trabalhadores.[47] Segundo o pastor, o Partido dos Trabalhadores (PT) estava
comprometido com pautas morais questionáveis que, segundo ele, infringiam
a conduta cristã, trazendo consequências maléficas ao comportamento moral
do país. Assim, segundo Piragine Jr., Dilma e seu partido estavam se
preparando para consolidar, caso ganhasse o pleito eleitoral, aquilo que ele
chamou de império da iniquidade. A base para a sua fala foi o Programa
Nacional de Direitos Humanos 3 (PNDH – 3) que, naquele ano, chamou a
atenção de líderes evangélicos por abordar “propostas de descriminalização
do aborto [...] e da sugestão de apoio à união civil entre pessoas do mesmo
sexo” (ALONSO, 2012, p. 71). Em um domingo à noite daquele ano,
Paschoal Piragine Jr. confessa: “É por causa disso que eu tenho que falar uma
coisa que durante 30 anos, no meu ministério, eu nunca fiz. [...] Eu quero
dizer para vocês que nós temos que tomar muito cuidado com essas eleições
que vão acontecer” (ALONSO, 2012, p. 150). Assim, Piragine Jr., pela
primeira vez em 30 anos, toma partido e diz em quem os seus membros não
deveriam votar nas eleições gerais de 2010. Considerando “que grande parte
dos evangélicos votou segundo orientação dos seus pastores, dos seus líderes
e dos homens proeminentes nas suas denominações” (ALONSO, 2012, p.
152), quando Paschoal Piragine Jr. emite a sua opinião política, mesmo não
dizendo em quem, explicitamente, os membros e ouvintes da sua fala
deveriam votar, confia “que seu rebanho seguiria suas orientações na luta
contra as hostes espirituais da maldade, iniqua, encarnadas nos candidatos do
PT” (ALONSO, 2012, p. 152). Com um discurso político-evangélico-
messiânico, Piragine Jr. rompe com o ethos histórico-político-teológico dos
batistas quando trata de maneira explícita das eleições gerais de 2010, mas,
principalmente, quando foca em um partido político e em uma candidata
como a expressão máxima do pecado e da iniquidade no país, com um
discurso político-messiânico do iminente julgamento divino sobre a Nação
brasileira: “Deus vai julgar a nossa terra e, se Deus julgar a nossa terra, isso
vai acontecer na tua vida e na minha vida porque eu faço parte dessa terra.
Porque Deus não tolera iniquidade, amém?” (ALONSO, 2012, p. 162).
Houve reações de lideranças batistas à sua fala, que alcançou enorme
visibilidade nas mídias sociais. Mesmo o posicionamento de Piragine Jr. ser
“destoante dos princípios e das liberdades batistas” (ALONSO, 2012, p. 168),
o pastor da foi eleito presidente da CBB no ano de 2011. Segundo Leandro
Seawright Alonso (2012, p. 168-169), esse fato, a eleição de Piragine Jr.
como presidente da CBB, não causou surpresa porque o pastor foi uma
síntese de “narrativas, posicionamentos messiânicos contrários às esquerdas”.
O discurso político-religioso de Piragine Jr. não surtiu o efeito esperado
porque Dilma foi eleita a primeira mulher presidente do Brasil em 2010. Ela
foi para o Palácio do Planalto e Piragine Jr. para a sede da CBB no Rio de
Janeiro.[48]
Assim, quando Piragine Jr. se posicionou politicamente e o seu
discurso político-religioso foi chancelado quando se tornou presidente da
CBB em 2011, os batistas de Curitiba abertamente passaram a se posicionar à
direita no contexto político do país. No Ministério Público Federal em
Curitiba um dos procuradores da então “Operação Lava-Jato” deflagrada pela
Polícia Federal é Deltan Dallagnol, membro da Igreja Batista do Bacacheri,
liderada pelo pastor L. Roberto Silvado. Com o andamento das operações e
da crescente exposição midiática dos casos envolvendo políticos, empresários
e doleiros, Deltan passou a ser tratado como um messias que lutava contra a
corrupção no país sendo, portanto, aclamado entre os líderes da denominação,
principalmente quando o pastor da igreja que é membro substituiu Piragine
Jr. na presidência da CBB no ano de 2013. Assim, Deltan Dallagnol passou a
falar nas igrejas e em instituições da CBB. O posicionamento político à
direita não foi falseado, mas explícito.[49] No caso da votação no STF sobre a
prisão ou não em segunda instância, Dallagnol disse que “jejuaria pela prisão
de Lula”. O seu discurso político-religioso foi endossado por L. Roberto
Silvado, então presidente da CBB, que fez um pronunciamento aos batistas
brasileiros, pedindo oração e jejum para que o Supremo Tribunal Federal
julgasse de maneira correta quanto à prisão em segunda instância, pedindo
oração e jejum à todos os batistas brasileiros para que os ministros do STF
fossem iluminados pelo Espírito Santo quanto a permanência de um
entendimento do Supremo à favor da prisão em segunda instância mesmo que
o processo não tenha sido ainda transitado e julgado em todas as instâncias
superiores. Esse pedido visava tão somente a permanência do ex-presidente
Lula na prisão.[50] Enquanto esse texto foi escrito, a “Operação Lava-Jato”
está em suspeição pelo fato do então juiz federal Sérgio Moro ter trocado
mensagens comprometedoras com Dallagnol e outros procuradores da Força-
tarefa da Lava-Jato, demonstrando, assim, segundo as mensagens divulgadas
até então pelo site “The Intercept”, que Moro agiu como um articulador nas
investigações do Ministério Público Federal, conduzindo, de certa forma, as
fases da operação quando deu orientações aos procuradores quanto à coleta
de provas e indicação de testemunhas, principalmente ao procurador-chefe da
Lava-Jato, Deltan Dallagnol.[51]
No dia 19 de agosto de 2018, na Igreja Batista Atitude Central da
Barra, no Rio de Janeiro/RJ, o pastor Josué Valandro Jr. chamou à frente o
então candidato do PSL à presidência da República, o deputado federal
Jair Messias Bolsonaro. Sua intenção era orar pelo candidato, uma vez que a
esposa do candidato fazia parte da membresia da igreja e, segundo o pastor,
atuante na comunidade. Fazendo isso, Valandro Jr. sabe que irá se
comprometer com o candidato e suas propostas. No seu discurso político-
religioso,[52] Valandro Jr. procura acentuar que a Nação precisa “buscar a
vontade de Deus”. Com isso, reafirma que o país na eleição presidencial 2018
está esperando que a “vontade de Deus” fosse manifestada no mês de
outubro. A partir disso, diz o pastor: “Deputado, eu não sei qual a vontade de
Deus para a sua vida, mas uma coisa eu queria te falar: essa igreja vai orar
pela sua vida”. Ainda que essa seja a suposta prerrogativa para conduzir o
candidato à frente, fazer a oração e depois dar a ele trinta segundos para falar,
Valandro Jr. deixa muito claro quem é o seu candidato e quem ele espera que
suba a rampa do Palácio do Planalto no dia primeiro de janeiro de 2019: “Eu
não vi coragem e credibilidade no olhar dos outros [candidatos] que eu ouvi,
minha opinião”. Além de emitir a sua opinião a favor do candidato, a vontade
de Deus que ainda está para se manifestar, segundo o pastor, pelo menos num
primeiro momento, já está manifestada para ele: “Se for a vontade de Deus
que você seja no dia 1º de janeiro presidente do Brasil”. E assim completa:
“Porque nós precisamos de alguém justo, correto”. Mesmo que o pastor diga
que na igreja não há “voto de cabresto”, ele nega, pelo menos, dois princípios
dos batistas. O principal: a separação entre Igreja e Estado. Por esse
princípio, o candidato do PSL não deveria estar à frente da igreja, a não ser
que este fosse o Presidente do país. O segundo princípio, foi a liberdade de
consciência e opinião, que faculta a todos o direito inalienável de decidir suas
questões morais, éticas, políticas e religiosas. Quando o candidato sobe ao
púlpito da igreja ele é aplaudido pela grande maioria da plateia, confirmando,
assim, que a Igreja Batista Atitude, ou boa parte dela, aprovou a atitude do
seu pastor. Não é possível dizer que todos concordaram com o pastor, seu
gesto e fala. Além de tornar o candidato o preferido dele e, por influência sua,
da igreja também, Valandro Jr., na sua oração, confirma a suspeita do
candidato quanto este colocou em suspeição o processo democrático do país e
sua principal ferramenta, o voto por meio da urna eletrônica. A convicção do
pastor é tão evidente de que a vontade de Deus é tornar o candidato
presidente, que chega ao ponto de colocar em suspeição, também, a
credibilidade do processo eleitoral efetivado pela urna eletrônica e fiscalizada
pelo Tribunal Superior Eleitoral, quando diz: “Que nem os hackers consigam
mudar aqueles votos da urna. Que ninguém consiga, de alguma maneira,
desfazer o propósito melhor para a nossa Nação”. A expectativa de Valandro
Jr. é que “no dia 1º de janeiro, esse homem possa subir a rampa do Planalto,
para começar uma nova história desse Brasil”. Assim acontecendo, a eleição
e posse do seu candidato, o pastor antecipa o que não deveria acontecer, por
conhecer o temperamento e o discurso do então candidato que tinha como
principal plataforma discursos de ódio: “Não de caça às bruxas, por que não
estamos aqui para machucar ninguém”. Mesmo admitindo que o candidato
não é “evangélico” e “não é membro da igreja”, Valandro Jr. insiste que ele
tem “valores cristãos” e é um “amigo da igreja evangélica”, e, mais ainda,
“um amigo da ética”. Houve repercussão quanto a sua fala, oração e a
permissão para que o candidato à presidência da República falasse em uma
Igreja Batista ligada à CBB. Ainda que sua atitude tenha sido reconhecida por
parte da liderança das igrejas e da CBB, no mesmo caminho aberto por
Piragine Jr. em 2010, houve reações contrárias ao comportamento de
Valandro Jr. por entender que ele rompeu com o ethos histórico-político-
teológico dos batistas. Ele emitiu dois textos em que procura qualificar a sua
atitude diante das críticas que recebeu após o evento.[53] Em nenhum dos dois
textos Valandro Jr. admite qualquer erro em relação ao seu comportamento.
Depois do candidato do PSL ser eleito presidente da República, Valandro Jr.
foi convidado para fazer uma oração na posse do presidente e depois da sua
posse, o presidente foi à Igreja Batista Central da Barra agradecer o apoio
eleitoral que teve na pessoa do pastor Josué Valandro Jr.

Considerações finais

Os batistas são um povo que tem a coragem das suas convicções. Creem num indivíduo livre,
numa igreja livre, num estado livre; creem na competência de cada alma tratar diretamente com Deus
da sua própria salvação; creem nos direitos iguais para todos e privilégios especiais para ninguém;
creem numa democracia política, religiosa, social, econômica e educativa
(A. B. Langston)

O discurso político-religioso entre os batistas brasileiros tem como


principal característica a sua ambiguidade. Se, num primeiro momento, havia
uma clara orientação apolítica e apartidária, não significou total isenção
diante do quadro político brasileiro, antes, por meio do subterfúgio da oração,
algo típico dos grupos protestantes marcados pelo Pietismo, havia uma
preocupação com a liberdade religiosa e a separação entre Igreja-Estado, dois
princípios que os batistas fizeram esforço para que fossem incluídos na
República. O discurso político-religioso funcionou, por vezes, de modo
camuflado, enviesado por uma teologia que, aparentemente, formulava um
certo absenteísmo político. Esse quadro, portanto, mudou drasticamente no
golpe civil-militar de 1964, transformando radicalmente a face dos
protestantismos no Brasil e os batistas, por sua vez, assumiram a sua face
mais obscura da sua história, não apenas fazendo apologia ao regime de
exceção por meio de instrumentos institucionais como O Jornal Batista,
como também integrando o governo bem como as forças de repressão nesse
período, tendo, inclusive, generais e presidente da República frequentando
cultos em Igreja Batista. Ainda que a principal característica do
protestantismo brasileiro seja o conservadorismo, com uma clara inclinação à
direita no contexto político nacional, houve vozes dissonantes com uma
práxis comprometida com os ideais do protestantismo do século XVI. No
caso dos batistas brasileiros, o Manifesto do Ministros Batistas do Brasil é
um exemplo desse grito. Um documento de teor político-teológico que
encarou a realidade brasileira marcada pelas suas mazelas sistêmicas,
propondo caminhos que tinham como pegadas os profetas de Israel e a
mensagem de Jesus pregada a partir do Reino de Deus. Ainda que os batistas
brasileiros tenham seus momentos de posicionamento em algum tema
político nacional, os seus pronunciamentos enquanto CBB são até que
pertinentes diante dos problemas do país,[54] mas ainda não há um
comprometimento profético e pontual, independentemente de governo, entre
os batistas. As eleições presidenciais de 2010 e 2018, mais especificamente,
demonstrou de maneira patente a deficiência com uma perspectiva estrutural
à nível de Nação. Quando líderes denominacionais tomaram a preferência
política à direita e fizeram uso de um discurso messiânico e anticomunista,
fica evidente que ainda não se tem uma preocupação com a formação cidadã
do país e o jogo político-partidário segue sendo atraente em momentos de
conflitos e posturas antagônicas. De qualquer modo, há vozes que procuram
se pautar no ethos histórico-político-teológico dos batistas, partindo da
tradição batista que sempre procurou se comprometer com o ser humano e
sua dignidade, primando pela vida e seus direitos.

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Páginas eletrônicas:

CONVENÇÃO BATISTA BRASILEIRA. “Jejum e oração em favor do Brasil – L. Roberto Silvado”. Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=moFA3YSHD10>.

CONVENÇÃO BATISTA BRASILEIRA. “Pronunciamento sobre a reforma da Previdência”. Disponível em:


<http://www.convencaobatista.com.br/siteNovo/pagina.php?DOD_ID=2>.

EL PAÍS. “Em novo diálogo vazado, Moro orienta força-tarefa da Lava Jato a contestar na imprensa depoimento
de Lula”. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2019/06/15/politica/1560562972_929834.html>.

PIRAGINE JR., Paschoal. “Não votem no PT”. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?


v=NaGBrs7J6O8>.

VALANDRO JR., Josué. “Bolsonaro e esposa recebem oração de seu pastor”. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=yRK3KlhmAY0>.

VALANDRO JR., Josué. “Orar por candidatos a cargos políticos”. Disponível em:
<https://pleno.news/opiniao/josue-valandro-jr/orar-por-candidatos-a-cargos-politicos.html>.

VALANDRO JR., Josué. “Voto cristão e seu futuro. Você está preocupado?”. Disponível em:
<https://pleno.news/opiniao/josue-valandro-jr/voto-cristao-e-o-seu-futuro-voce-esta-preocupado.html>.
5. Percepções de jovens pentecostais sobre
participação e mobilização política
Wania Amélia Belchior Mesquita
Leonardo Gonçalves de Alvarenga
Vanessa da S. Palagar Ribeiro

Introdução
O que pensam jovens pentecostais sobre participação cívica? Como
estabelecem vínculos entre religião e política? Como se assumem diante de
questões sociais e ambientais? A religião faz diferença no cotidiano desses
jovens? Este artigo resulta da pesquisa “Juventude e expansionismo
pentecostal no norte fluminense”[55] que buscou conhecer o perfil de jovens a
partir de alguns aspectos relacionados a religião e as dinâmicas socioespaciais
da cidade de São João da Barra, localizada no norte fluminense do estado de
Rio de Janeiro e que passou por algumas transformações decorrentes da
implementação do Complexo Logístico Industrial e Portuário do Açu
(CLIPA)[56]. Portanto, partiu-se do entendimento das transformações no
cenário religioso tanto em relação ao contexto local, considerando-se as
transformações socioeconômicas, quanto em relação a um contexto nacional
de reordenamento das religiões na contemporaneidade (SWATOWISKI,
2009). Conforme indicam algumas pesquisas as “microrregiões geográficas
representam um excelente nível de análise para pesquisas que considerem o
país como um todo” (JACOB et al, 2003; ALVARENGA, 2017).
A base empírica da pesquisa realizada com os jovens em São João da
Barra englobou a abordagem quanti-qualitativa, baseada em um survey
realizado no período de novembro de 2014 a janeiro de 2015, em etnografia e
na realização de grupos focais por meio do trabalho de identificação das
ações dos jovens pentecostais, possibilitando e ampliando a compreensão
sobre os processos sociais em curso. No entanto, neste texto focaremos na
pesquisa quantitativa, tendo como parâmetro a participação e mobilização
política dos jovens que frequentam as igrejas pentecostais e moram em São
João da Barra, correlacionando com as suas atitudes a partir temática de
religião e política.
O universo da pesquisa refere-se aos jovens de 15 a 24 anos[57] que
frequentam as igrejas pentecostais e moram na região norte fluminense. A
construção social e histórica da juventude (ARIES, 1981), considera a
existência de perfis muito peculiares em diferentes contextos sociais e
culturais, a heterogeneidade da categoria reflete não apenas diferentes
percepções da noção de indivíduo e sua relação com o todo social
(BOURDIEU, 1983). Conforme já destacado por Novaes (2006, p.105), “(...)
qualquer que seja a faixa etária estabelecida, jovens com idades iguais vivem
juventudes desiguais”. Neste sentido, Fernandes (2011, p. 102) na sua
abordagem sobre a relação entre juventude, religião e política entre os jovens
que participavam de paróquias católicas e Igrejas pentecostais na Baixada
Fluminense – Rio de Janeiro, destaca que é fundamental considerar as
“relações sociais estabelecidas, pelo modo como elaboram as diversas
representações da sociedade e pelas formas cada vez mais novas de inserção
nos grupos sociais”.
A construção do questionário[58] utilizado para o levantamento de dados
foi baseada na divisão em cinco eixos temáticos, a fim de contemplar a
problemática da pesquisa. O primeiro eixo temático está direcionado para a
"identificação e perfil" dos jovens pesquisados; o segundo contempla a
"Religião" dos jovens; no terceiro abordamos a "participação cívica, religião
e política"; o quarto eixo abordamos o tema "percepções e valores"; e o
quinto, e último eixo, buscou contemplar questões relativas a "sexualidade"
dos jovens. No entanto, esse conjunto de questões não foi abordado devida a
restrições colocadas por pastores das igrejas onde foram aplicados
questionários da pesquisa.
A concepção inicial do survey era abordagem domiciliar junto aos jovens
residentes na cidade de São João da Barra, contudo não tivemos acesso aos
microdados do IBGE (Censo 2010) necessário a definição amostral do
universo da pesquisa. Mediante este fato, foi feito um reconhecimento do
quantitativo e especificação das igrejas pentecostais na cidade junto ao
Cartório de Registro de São João da Barra, tal ação não foi exitosa, mediante
a resposta da inexistência desses registros. Outra tentativa de levantamento
dessas igrejas foi através da lista telefônica, onde foram localizadas menos
que cinco igrejas com telefone e endereço.
Posterior a esta fase, a partir de uma incursão exploratória presencial de
pesquisadores na localidade, foi realizado levantamento e identificação prévia
das igrejas localizadas na área central, primeiro distrito de São João da Barra.
Sendo identificadas as seguintes denominações Primeira Igreja Batista,
Assembleia de Deus, Assembleia de Deus Ministério Madureira, Assembleia
de Deus Casa de Sibitião para os povos, Igreja Internacional da Graça de
Deus e Igreja Universal do Reino de Deus.
Durante a pesquisa realizamos várias visitas as respectivas igrejas, onde
os jovens foram contatados em momentos que antecederam atividades como
cultos e reunião de jovens. Nessas ocasiões os pesquisadores de campo se
apresentaram e informaram o objetivo da pesquisa. Como mencionado
anteriormente, a aplicação do questionário teve restrições por parte dos
pastores, dessa forma, os jovens não chegaram a ter conhecimento das
questões relativas a sexualidade.

Identificação e perfil dos jovens


De acordo com as primeiras perguntas do questionário em relação ao
perfil do jovem, como idade, cor ou raça, estado civil, escolaridade, entre
outros, foi possível elaborar um perfil dos jovens sanjoanenses que
frequentam as igrejas pentecostais. Entretanto, pelo caráter de artigo serão
apresentados apenas os resultados obtidos a partir da análise dos dados, sem
apresentar os mesmos em forma de tabelas ou gráficos para não prolongar em
excesso o texto. Neste sentido, é importante ressaltar que a pesquisa foi
baseada em um recorte e controle de cotas de sexo, idade e religião. O recorte
de idade compreende a faixa etária dos jovens entre 15 a 24 anos, que foram
distribuídos em três grupos de idade, a saber, o primeiro grupo foi formado
por jovens com idade entre 15 a 17 anos, o segundo grupo entre 18 a 20 anos
e terceiro grupo entre 21 a 24 anos de idade. Em termos de uma classificação
etária dentro do recorte estabelecido, obteve a seguinte distribuição entre os
grupos de idade, 52,9 %, 19,6% e 27,5%, respectivamente. Sendo assim, mais
de 50% dos jovens que compuseram a amostra coletada estão no primeiro
grupo de idade dos jovens de 15 a 17 anos.
Em relação a filiação religiosa dos jovens, devido ao recorte de
religião, todos os jovens pesquisados são de segmentos evangélicos, porém
de igrejas distintas. Assim, foi possível atribuir, em maior proporção, a
seguinte filiação religiosa a estes jovens: em primeiro lugar, os jovens são em
sua maioria oriundos da 1ª Igreja Batista (54,9%), como pode ser observado,
foi responsável por mais da metade das igrejas que os jovens declararam
pertencer. E em segundo lugar, a igreja Assembleia de Deus Ministério
Madureira, com 29,4%. As demais igrejas que são citadas pelos jovens
aparecem em menores proporções, a saber, Igreja Internacional da Graça de
Deus (5,9%), Igreja Universal do Reino de Deus (5,9%), Assembleia de Deus
(2,0%), e Assembleia de Deus Casa de Sibitião para os pobres (2,0%).
ao critério de cor ou raça foi possível observar que praticamente a
metade dos jovens entrevistados se autodeclararam brancos (49,0%), em
seguida, em menor quantidade, pardos (33,3%), pretos (7,8%), amarela
(3,9%), outras (3,9%) e indígena (2,0%). Uma amostra coerente, inclusive
com relação a distribuição percentual de brancos, pretos e pardos nos surveys
oficiais brasileiros. E já que a amostra selecionada foi baseada em um recorte
e controle de cotas de sexo, idade e religião, a partir da aplicação do
questionário pode ser constatado um equilíbrio no percentual de pessoas
entrevistadas do sexo feminino (53%) e masculino (47%) do universo da
amostra.
Em relação à escolaridade dos jovens pesquisados foi observado que
29,4% deles possuem ensino médio completo, 23,5% ensino médio
incompleto e 21,6% ensino fundamental incompleto. No entanto, visto que os
jovens entrevistados em sua maioria (52,9%) se encontram na faixa etária de
15 a 17 anos, esta seria uma distribuição dentro da “normalidade”, já que
estão em fase de término de ensino fundamental até a conclusão do ensino
médio. E o restante dos jovens entrevistados (9,8%) possui apenas o ensino
fundamental completo e correspondem ao quantitativo de 5 jovens na faixa
etária de 15 a 17 anos. Correlacionando os grupos de idade com o nível de
escolaridade foi possível verificar que os jovens de 15 a 17 anos, se
encontram basicamente no ensino fundamental incompleto e ensino médio
incompleto; já os jovens de 18 a 20 anos se concentram no ensino médio
completo e superior incompleto; e por fim, os jovens entre 21 a 24 anos, se
encontram basicamente no ensino médio completo, no entanto, dois destes
jovens já possuem superior completo. Desta forma, verifica-se uma grande
variedade de situação de escolaridade, variando constantemente com as faixas
etárias.
A situação atual de trabalho dos jovens se caracteriza principalmente
pela opção “nunca trabalhou” (46,8%), sendo que, 19,1% dos jovens,
também, mencionaram estar “empregado com carteira assinada”. As
alternativas “estágio com remuneração” e “estágio sem remuneração”, ambos
os presentes no questionário, não foram mencionadas pelos jovens
entrevistados. Sobre o recebimento de benefício do Governo, verificou-se que
apenas 15,7% dos jovens entrevistados relataram receber algum tipo de
benefício do Governo, que se distribuem a partir dos seguintes benefícios:
bolsa família (7,8%); cartão cidadão[59] (3,9%); bolsa família e cartão
cidadão (2,0%); e, vale alimentação (2,0%). E, 84,3% afirmaram não receber
nenhum benefício do Governo. Já em relação ao estado civil dos jovens foi
observado que 74,5% se declararam solteiros, e apenas um pequeno grupo de
jovens (13,7%) se declararam “casado (a) no civil e no religioso”.
Deste modo, podemos identificar o perfil dos jovens evangélicos
entrevistados da seguinte forma: mais da metade dos jovens entrevistados se
concentraram na faixa etária de 15 a 17 anos, não existe uma diferença
significativa na proporção entre homens e mulheres, já que a pesquisa previa
um corte de sexo e idade, além de religião. Os jovens se autodeclararam mais
brancos do que pardos ou pretos. E a escolaridade característica destes jovens
é significativamente diversificada, mas eles se encontram basicamente nas
escolaridades ensino médio completo, ensino médio incompleto e
fundamental incompleto (somando essas três opções de escolaridade perfaz
mais de 70% do total dos jovens entrevistados).Em relação a situação atual de
trabalho dos jovens recai, principalmente, na opção "nunca trabalhou", mas
também, em menor quantidade no "empregado com carteira assinada". E, por
fim, o estado civil dos jovens se caracteriza por solteiros em sua maioria, e
uma pequena proporção de casados (as) no civil e no religioso.

Participação cívica, religião e política


Esta seção do texto trata de dados referentes a participação cívica, política
e religiosa dos jovens entrevistados. Os próximos 6 gráficos foram
elaborados pensando em algumas formas de reivindicações populares, para
que os jovens dessem sua opinião de acordo com a legenda (concorda e
realiza; concorda; discorda; discorda, mas realiza; NS/NR). Com isto, no
Gráfico 1, temos que 47,1% dos jovens concordam com a ocupação de terras
improdutivas para a reforma agrária, e 39,2 % discordam desta forma de
reivindicação popular. E, ainda, 11,8 % dos jovens não sabem ou não
responderam, e ainda, apenas 2,0 % (que correspondem a frequência de 6
jovens) disseram discordar, mas realizam a ocupação de terras. O Gráfico 2,
apresenta a forma de reivindicação popular das greves por melhores
condições de trabalho e salário, neste gráfico, 72,5% dos jovens declararam
concordar com este tipo de greve, e 7,8 %, não apenas concordam, como
também, o realizam. Entretanto, 11,8% dos jovens afirmaram não concordar
com as greves trabalhistas.

Gráfico 1 - Jovens segundo sua posição em relação a ocupação de terras improdutivas para a reforma
agrária (%)

Gráfico 2 - Jovens segundo sua posição em relação a greves por melhores condições de trabalho e por
salário (%)

Em relação a reivindicação popular envolvendo manifestações pela


paz, Gráfico 3, os jovens se mostraram bem receptivos, onde 70,6 %
afirmaram concordar, e, 17,6% afirmaram concordar e realizar, apenas 3,9%
disseram discordar desta forma de reivindicação. O Gráfico 4, revela a
opinião dos jovens em relação a realizações de abaixo assinado para
melhorias no bairro ou cidade. Nesta forma de reivindicação popular, os
jovens se revelaram além de receptivos, bastante participativos também, pois
68,6% dos jovens afirmaram concordar com essa forma de reivindicação, e
23,5% afirmaram concordar, e realizar abaixo assinados.
Gráfico 3 - Jovens segundo sua posição em relação a manifestações pela paz (%)

Gráfico 4 - Jovens segundo sua posição em relação a abaixo assinado para melhorias no bairro ou cidade
(%)

Já em relação a reivindicação popular sobre ocupações de prédios


públicos, como podemos observar no Gráfico 5, os jovens apresentaram
opinião contrária a ocupações, pois 70,6% dos jovens declararam discordar
deste tipo de reivindicação, enquanto apenas 11,8% afirmaram concordar
com ocupações de prédios públicos. E ainda, 7,8% afirmaram discordar, mas
realizam esta ação. O Gráfico 6, que encerra as questões sobre as formas de
reivindicações populares, traz o tema de manifestações pela ética na política.
Os jovens afirmaram em sua maioria (60,8%) concordar com esta forma de
manifestação, em seguida, alguns jovens disseram discordar (21,6%) desta
ação, e apenas, 7,8% dos jovens responderam que concordam e realizam essa
prática de manifestação.
Gráfico 5 - Jovens segundo sua posição em relação a ocupações de prédios públicos (%)

Gráfico 6 - Jovens segundo sua posição em relação a manifestações pela ética na política (%)

Os próximos 22 gráficos são referentes a pergunta (3.1) do questionário,


onde foi solicitado aos jovens para dizer se eles participam ou gostariam de
participar das organizações e movimentos listados. Neste sentido, a primeira
forma de organização ou movimento listado foi o movimento estudantil
(Gráfico 7), onde 60,8% dos jovens declararam não participar deste tipo de
movimento. Outros 25,5% dos jovens afirmaram participar do movimento
estudantil, e por fim, 13,7% não souberam ou não responderam a questão.
Quando foi indagado aos jovens se gostariam de participar do
movimento estudantil (Gráfico 8), 37,3% dos jovens assinalaram que
gostariam de participar, enquanto 25,5% deles não apresentaram interesse em
participar desta forma de movimento social. Outros 11,8% não souberam ou
não responderam a questão. Observando que a coluna "Não se aplica", a qual
compreende 25,5% dos jovens entrevistados, representa o quantitativo dos
jovens que responderam afirmativamente a pergunta anterior a esta, e que a
resposta está diretamente relacionada a pergunta subsequente. A coluna Não
se aplica será verificada nos próximos gráficos, no entanto, serão analisados
apenas que se referem a seguinte indagação: Gostaria de participar?, que
alude a organização e movimento abordado na pergunta anterior.

Gráfico 7 - Jovens segundo participação no movimento estudantil (%)

Gráfico 8 - Jovens segundo a possibilidade de participação no movimento estudantil (%)

O Gráfico 9 revela a participação em grupos de igreja, onde


praticamente a totalidade dos jovens (92,2%) afirmaram participar em grupos
de igreja, apenas 7,8% dos jovens assinalaram que não souberam ou não
responderam a questão. Não houve resposta negativa. Já no Gráfico 10,
relativo à possibilidade de participação em grupos de igreja, é possível
afirmar que, como foi observado uma quase totalidade de respostas
afirmativas na pergunta anterior (Gráfico 9), a coluna Não se aplica do
Gráfico 10 apresenta 92,2% da totalidade dos jovens. E os 7,8% dos jovens
restantes afirmaram não saber ou não responderam a questão. Ou seja, as
opções Não e Sim não foram mencionadas. Sabendo que os 7,8% dos jovens
que assinalaram não souberam ou não responderam a questão, os mesmos
jovens o fizeram nas duas questões (Se participa em grupos de igreja? e Se
gostaria de participar em grupos de igreja?) referentes aos Gráficos 9 e 10.

Gráfico 9 - Jovens segundo participação em grupos de igreja (%)

Gráfico 10 - Jovens segundo a possibilidade de participação em grupos de igreja (%)


Em seguida, apresentamos a forma de organização social da participação
de partido político (Gráfico 11), neste caso, a maioria dos jovens (90,2%)
afirmaram não participar de nenhum partido político, 7,8% não souberam ou
não responderam a questão, enquanto que apenas 2,0% dos jovens, o que
corresponde a frequência de apenas um único jovem, declarou participar de
um partido político. O Gráfico 11 é interessante e mostra que a questão
partido político é um debate difícil, sobretudo, atualmente quando se discute
sobre “escola sem partido” no Brasil. Em relação a possibilidade de
participação de partido político (Gráfico 12), os jovens não mostraram muito
interesse em participar deste tipo de organização, pois 76,5% dos jovens
responderam negativamente, 15,7 % não souberam ou não responderam a
questão, e apenas 5,9% dos jovens gostariam de participar de partido político.
Gráfico 11 - Jovens segundo participação de partido político (%)

Gráfico 12 - Jovens segundo a possibilidade de participação de partido político (%)


O Gráfico 13 traz o tema do voluntariado em ONGs, onde 82,4% dos
jovens afirmam não participar de nenhuma forma de voluntariado em ONGs,
9,8% não souberam ou não responderam a questão, e apenas 7,8% dos jovens
disseram participar desta forma de organização. Quando foi perguntado aos
jovens se eles gostariam de participar do voluntariado em ONGs (Gráfico
14), o quadro se inverteu consideravelmente, pois 66,7% dos jovens
afirmaram que gostariam de participar desta forma de organização ou
movimento social. Outros jovens, 19,6%, responderam negativamente a
pergunta, ou seja, não gostariam de ser voluntários em ONGs. E, 5,9% não
souberam ou não responderam a pergunta.
Gráfico 13 - Jovens segundo voluntariado em ONGs (%)

Gráfico 14 - Jovens segundo a possibilidade de ser voluntário em ONGs (%)

Foi perguntado aos jovens se participam de associações de moradores


(Gráfico 15), 72,5% disseram não participar dessa forma de associação,
17,6% dos jovens responderam positivamente a esta pergunta, afirmando que
participam de associação de moradores, e ainda, 9,8% não souberam ou não
responderam a questão. O Gráfico 16, referente a se os jovens gostariam de
participar de associação de moradores, percebemos que não há muito
interesse por parte dos jovens em participar dessa forma de associação, pois
praticamente a metade (47,1%) dos jovens responderam negativamente a
questão. Enquanto 25,5% responderam positivamente, e 9,8% não souberam
ou não responderam a pergunta.

Gráfico 15 - Jovens segundo participação em associações de moradores (%)


Gráfico 16 - Jovens segundo a possibilidade de participar de associação de moradores (%)

O Gráfico 17, por sua vez, faz referência a participação em


movimentos e organizações em grupos de defesa do meio ambiente. Os dados
referentes a esse tema assinalam que 76,5% dos jovens não participam de
nenhum grupo de defesa do meio ambiente, 11,8% afirmaram participar e
11,8% não souberam ou não responderam a questão. Mais da metade dos
jovens pesquisados (66,7%) revelaram mostrar interesse em participar de
grupo de defesa do meio ambiente (Gráfico 18). O restante dos jovens se
dividiu entre aqueles que não apresentaram interesse de participar de grupo
de defesa do meio ambiente (13,7%), e aqueles que não souberam ou não
responderam a pergunta (7,8%).

Gráfico 17 - Jovens segundo participação em grupo de defesa do meio ambiente (%)


Gráfico 18 - Jovens segundo a possibilidade de participar de grupo de defesa do meio ambiente (%)

Observando o Gráfico 19 verificamos que 72,5% dos jovens entrevistados


não participam em clube de associação esportiva, e ainda, 19,6% afirmaram
participar deste tipo de associação, e apenas 7,8% não souberam ou não
responderam a questão. Em relação a indagação no questionário sobre se eles
gostariam de participar de clube de associação esportiva (Gráfico 20), temos
que 33,3% dos jovens responderam não ter interesse em participar desse tipo
de associação, outros 33,3% afirmaram interesse em participar de uma
associação esportiva, e 13,7% não souberam ou não responderam a questão.

Gráfico 19 - Jovens segundo participação em clube de associação esportiva (%)


Gráfico 20 - Jovens segundo a possibilidade de participar de clube de associação esportiva (%)

Outra forma de organização ou movimento social listado no questionário


foi a participação como agente de educação, ou seja, realização de trabalho
voluntário em escolas. Nesta opção, 86,3% dos jovens (Gráfico 21) revelaram
não participar como agente de educação, 5,9% responderam afirmativamente
a pergunta, e 7,8% não souberam ou não respondeu. Observando o gráfico
abaixo (Gráfico 22), podemos perceber que a metade dos jovens (51,0%)
apresentou interesse de participar como agente de educação. Outros 31,4%
não mostraram interesse no trabalho voluntário em escolas, e 11,8% não
souberam ou não responderam a questão.

Gráfico 21 - Jovens segundo participação como agente de educação (trabalho voluntário em escolas) (%)
Gráfico 22 - Jovens segundo a possibilidade de participar como agente de educação (trabalho voluntário
em escolas) (%)

O Gráfico 23 revela a participação dos jovens como agente da saúde, ou


seja, realizando trabalho voluntário em postos de saúde, centro comunitários,
etc. Nessa temática, percebemos que os jovens majoritariamente não
participam desta forma de trabalho voluntário, pois 88,2% dos jovens
responderam negativamente a esta questão, apenas 3,9% responderam
positivamente, e ainda, 7,8% não souberam ou não respondeu. E ao ser
questionado aos jovens se gostariam de participar como agente da saúde
(Gráfico 24), 43,1% dos jovens apresentaram interesse em participar deste
tipo de atividade, mas praticamente na mesma proporção, 41,2% dos jovens
responderam negativamente, afirmando que não gostariam de participar como
agente da saúde. Os outros 11,8% dos jovens não souberam ou não
responderam a questão.
Gráfico 23 - Jovens segundo participação como agente da saúde (trabalho voluntário em postos de saúde,
centros comunitários, etc.) (%)

Gráfico 24 - Jovens segundo a possibilidade de participação de agente da saúde (trabalho voluntário em


postos de saúde, centros comunitários, etc.) (%)

Outra forma de organização ou movimento social colocado no


questionário foi a participação em campanhas solidárias, ou seja,
organizações que trabalham com coleta e doações de materiais, como
alimentos, agasalhos, roupas, etc. Neste sentido, podemos verificar no
Gráfico 25, a participação da metade dos jovens (52,9%) nesse tipo de
organização, no entanto, uma quantidade relevante de jovens (41,2%)
afirmou não participar em campanhas solidárias. E os outros, 5,9% não
souberam ou não responderam a pergunta. Observando o gráfico 26, referente
ao questionamento sobre se os jovens gostariam de participar em campanhas
solidárias, vimos que 37,3% dos jovens responderam que gostariam de
participar em campanhas solidárias, 3,9% responderam não ter interesse de
participar desse tipo de organização, e 5,9% não souberam ou não
responderam a questão.
Gráfico 25 - Jovens segundo participação em campanhas solidárias (alimentos, agasalhos, etc.) (%)

Gráfico 26 - Jovens segundo a possibilidade de participar em campanhas solidárias (alimentos, agasalhos,


etc.) (%)

A última alternativa listada referentes a pergunta (3.1) do questionário


sobre a participação em organizações e movimentos foi em relação a
participação em visitas a instituições caritativas, isto é, fazer visitações em
asilos, orfanatos, etc. No Gráfico 27, podemos verificar os resultados obtidos
para esta forma de participação em organização e movimento social, assim,
temos que 52,9% dos jovens afirmaram participar desde tipo de atividade,
41,2% assinalaram não participar de visitas a instituições caritativas, e 5,9%
não souberam ou não responderam a questão. E no Gráfico 28, verificamos a
possibilidade dos jovens de participar em visitas a instituições caritativas,
nesta perspectiva, aos 52,9% dos jovens que já participam deste tipo de visita,
soma-se 33,3% de jovens que gostariam de participar em visitas a asilos,
orfanatos, etc. E os demais jovens se dividem entre aqueles que não
gostariam de participar deste tipo de atividade (5,9%), e aqueles que não
souberam ou não responderam a questão (7,8%).

Gráfico 27 - Jovens segundo participação em visitas a instituições caritativas (asilos, orfanatos, etc.) (%)

Gráfico 28 - Jovens segundo a possibilidade de participar em visitas a instituições caritativas (asilos,


orfanatos, etc.) (%)

Observando a trajetória do Gráfico 7 ao Gráfico 28, podemos afirmar


que os jovens não se mostraram ativos em participações de organizações e
movimentos, exceto nos gráficos 25 e 28, que tratam respectivamente, da
participação em campanhas solidárias e participação em visitas a instituições
caritativas. Nestes dois últimos gráficos, os jovens se revelaram bastante
atuantes. Entretanto, apesar da pouca participação destes jovens nas formas
de organizações e movimentos citados nestes gráficos, também percebemos
que quanto a possibilidade de participação, isto é, se os jovens gostariam de
participar destas atividades, houve um maior interesse por parte dos mesmos
em quase todos os itens, exceto na possibilidade de participação em partido
político (Gráfico 11) e em associações de moradores (Gráfico 15).
Ao final da questão 3.1 do questionário, indagamos aos jovens se a igreja
que frequentam promove ou influencia a participação em alguma das
atividades citadas anteriormente, assim, com o Gráfico 29 percebemos que
78,4% dos jovens afirmaram que sua igreja promove ou influencia algum tipo
de participação na sociedade, e 21,6% responderam negativamente a esta
questão.
Gráfico 29 - Jovens segundo se sua religião promove ou influencia a participação em alguma dessas
atividades anteriores (%)

Em uma das perguntas do questionário foi solicitado aos jovens que


observasse cinco afirmações e assinalasse a cada uma delas, se ele(a)
concorda plenamente, concorda parcialmente, discorda plenamente ou
discorda parcialmente. A primeira afirmação foi "Os jovens sem religião
participam mais em partidos e nos sindicados", a partir das respostas dos
jovens elaboramos o Gráfico 30, podemos observar que os jovens em sua
maioria discordam plenamente (35,3%) e discordam parcialmente (21,6%)
desta afirmação. Esses dois itens reúnem 56,9% dos jovens, os demais jovens
se distribuem entre aqueles que concordam plenamente (15,7%), concordam
parcialmente (21,6%) e aqueles que não souberam ou não responderam a
questão (5,9%).
A segunda afirmação, a saber, "Os jovens sem religião preferem ser
voluntários em ONGs, participam de movimentos sociais ou associações da
sociedade civil", o Gráfico 31 expressa o resultado dessa questão, neste
sentido, notamos que mais da metade dos jovens responderam que discordam
plenamente (29,4%) e discordam parcialmente (25,5%) desta afirmação. Os
outros jovens afirmaram concordar plenamente e concordar parcialmente,
ambos com 19,6%, e 5,9% dos jovens não souberam ou não responderam a
questão.
Gráfico 30 - Os jovens sem religião participam mais em partidos e nos sindicados (%)

Gráfico 31 - Os jovens sem religião preferem ser voluntários em ONGS, participam de movimentos sociais
ou associações da sociedade civil (%)

A terceira afirmação foi "Os jovens religiosos não devem se meter em


política", a partir das respostas dos jovens elaboramos o Gráfico 32. Nele é
possível observar que os jovens em sua grande maioria responderam
discordar plenamente (45,1%) desta afirmação. A opção discordar
parcialmente apareceu em segundo lugar, com 23,5% das respostas, em
seguida, concordar parcialmente, com 19,6% e concordar plenamente com
5,9%, bem como, a opção não souberam ou não responderam a questão
também com 5,9%.
O Gráfico 33 é referente a quarta afirmação da questão 3.8 do
questionário, “O jovem evangélico deve ser incentivado a se envolver na
política”. De acordo com os dados coletados para essa questão, 45,1% dos
jovens afirmaram discordar plenamente desta afirmação, 21,6% discorda
parcialmente, e, também, 21,6% dos jovens afirmaram concordar
parcialmente. E 5,9% responderam concordar plenamente e outros 5,9% não
souberam ou não responderam a questão.
A quinta e última afirmação foi “A política precisa de mais
evangélicos”, o Gráfico 34 representa os resultados para esta afirmação. Nele
podemos observar que a metade dos jovens (51,0%) concordou plenamente
com esta afirmação, os jovens que afirmaram concordar parcialmente e
discordar plenamente ambos apresentaram 19,6%, e 3,9% discordaram
parcialmente e 5,9% não souberam ou não responderam a questão.
Gráfico 32 - Os jovens religiosos não devem se meter em política (%)

Gráfico 33 - O jovem evangélico deve ser incentivado a se envolver na política (%)


Gráfico 34 - A política precisa de mais evangélicos (%)

O Gráfico 35 representa a opinião dos jovens entrevistados sobre o


principal problema do país. Esta pergunta no questionário ofereceu 12
alternativas (desemprego, violência, desigualdade social, má administração
pública, fome/miséria, educação, saúde, ateísmo/falta de religião, corrupção,
não há problemas, outros - discriminar, NS/NR), no entanto, só poderiam
escolher uma única resposta. Assim, observando o Gráfico 35, percebemos
que várias alternativas foram acionadas, mas as alternativas "desigualdade
social" e "violência" apresentaram as maiores proporções.
Gráfico 35 - Jovens segundo sua opinião sobre o principal problema do país (%)
A pergunta 3.10 do questionário, solicitou aos jovens que observassem 4
aspectos da vida, a saber, "Família", "Trabalho", "Religião" e "Educação", e
respondesse o quanto confia em um futuro melhor para essas áreas em suas
vidas. O Gráfico 36 representa as respostas dos jovens segundo sua confiança
em um futuro melhor para sua vida em relação a família, neste sentido, a
maioria dos jovens responderam confiar plenamente (78,4%) nesse aspecto
de sua vida, outros 15,7% afirmaram confiar, e 3,9% disseram que confiam
pouco. Nenhum jovem assinalou não confiar em um futuro melhor para sua
vida em relação a família.
Já de acordo com a confiança em um futuro melhor para sua vida em
relação ao
trabalho, temos o Gráfico 37, onde 43,1% dos jovens se mostram
plenamente confiantes, 25,5% se revelaram confiantes, 19,6% se declararam
pouco confiantes, 2,0% não confia em um futuro melhor em relação ao
trabalho, e 9,8% não souberam ou não responderam a questão.
Gráfico 36 - Jovens segundo sua confiança em um futuro melhor para sua vida em relação a família (%)
Gráfico 37 - Jovens segundo sua confiança em um futuro melhor para sua vida em relação ao trabalho (%)

O Gráfico 38 se refere a perspectiva dos jovens sobre a confiança em um


futuro melhor para sua vida em relação a religião, neste gráfico podemos ver
perceptivelmente, que 76,5% dos jovens se revelaram plenamente confiante,
17,6% afirmaram confiar nesse aspecto futuro de suas vidas, apenas 2,0%
afirmaram confiar pouco e nenhum jovem assinalou não confiar num futuro
melhor em relação a religião. O Gráfico 39 revela a expectativa dos jovens
sobre a confiança em um futuro melhor para sua vida em relação a educação,
dessa forma, temos no Gráfico 39 que, 56,9% dos jovens se revelaram
plenamente confiantes, 31,45% se revelaram confiantes, 9,8% se declararam
pouco confiantes, nenhum jovem marcou não confiar em um futuro melhor
em relação a educação, e 2,0% não souberam ou não responderam a questão.
Gráfico 38 - Jovens segundo sua confiança em um futuro melhor para sua vida em relação a religião (%)
Gráfico 39 - Jovens segundo sua confiança em um futuro melhor para sua vida em relação a educação (%)

A pergunta 3.11 do questionário, solicitou aos jovens que observassem 7


aspectos referentes a confiança em um futuro melhor para sua cidade, os
aspectos são "qualidade da educação, qualidade da saúde, qualidade do
transporte, oferta de empregos, diminuição da violência, preservação do meio
ambiente, e expansão da minha igreja/religião".
O Gráfico 40 representa as respostas dos jovens segundo sua confiança
em um futuro melhor para sua cidade, em relação a qualidade da educação.
Nele observamos que houve certo "equilíbrio" nas respostas dos jovens, onde
37,3% afirmaram confiar pouco, 23,5% disseram confiar nesse aspecto,
21,6% declararam confiar plenamente, e ainda, 13,7% assinalaram não
confiar. Fato, que pelo menos, a metade dos jovens (51,0% a soma dos que
responderam confiar pouco e não confiar) apresentam perspectivas negativas
para o futuro da cidade em relação a educação.
O Gráfico 41 nos revela os dados relativos ao grau de confiança dos
jovens em um futuro melhor para sua cidade em relação a qualidade da
saúde. Neste gráfico verificamos que 33,3% dos jovens confiam num futuro
melhor na qualidade da saúde na sua cidade, 27,5% responderam confiar
pouco, e 21,6% afirmaram confiar plenamente neste aspecto, e ainda, 15,7%
assinalaram não confiar, enquanto, que apenas 2,0% não souberam ou não
responderam a questão. Ou seja, os jovens se apresentaram mais otimistas em
relação a um futuro melhor na qualidade da saúde na sua cidade.

Gráfico 40 – Jovens segundo sua confiança em um futuro melhor para sua cidade em relação a qualidade
da educação (%)

Gráfico 41 - Jovens segundo sua confiança em um futuro melhor para sua cidade em relação a qualidade
da saúde (%)
Os dados relativos ao grau de confiança dos jovens em um futuro melhor
para sua cidade em relação a qualidade de transporte pode ser observado no
Gráfico 42, em que 39,2% do jovens assinalaram confiar neste aspecto,
35,3% confiam pouco, 15,7% confiam plenamente, 7,8% não confia e apenas
2,0% não souberam ou não responderam a questão. De modo geral, um pouco
mais da metade dos jovens confiam em algum grau em um futuro melhor
para sua cidade em relação a qualidade de transporte.
No Gráfico 43 podemos observar as respostas dos jovens sobre sua
confiança em um futuro melhor para sua cidade em relação a oferta de
emprego, 41,2% afirmaram confiar em um futuro melhor em relação a oferta
de emprego, 29,4% confiam pouco, 15,7% confiam plenamente, 11,8% não
confiam e apenas 2,0% não souberam ou não responderam a questão. Neste
aspecto, mais da metade dos jovens também apresentaram expectativas
positivas em um futuro melhor para sua cidade em relação a oferta de
emprego.
Gráfico 42 - Jovens segundo sua confiança em um futuro melhor para sua cidade em relação a qualidade
de transporte (%)
Gráfico 43 – Jovens segundo sua confiança em um futuro melhor para sua cidade em relação a oferta de
emprego (%)

E sobre a confiança dos jovens em um futuro melhor para sua cidade em


relação a diminuição da violência, temos que 39,2% dos jovens não confiam
que no futuro haja uma diminuição da violência na sua cidade, 23,5%
confiam plenamente, 17,6% confiam neste aspecto, e outros, 17,6% confiam
pouco, enquanto, que apenas 2,0% não souberam ou não responderam a
questão. Neste aspecto, os jovens demonstraram certa "desconfiança" futura
em relação a diminuição da violência para sua cidade (Gráfico 44). O Gráfico
45 representa os dados sobre a percepção dos jovens sobre sua confiança em
um futuro melhor para sua cidade em relação a preservação do meio
ambiente. Neste gráfico, verificamos que os jovens ficaram bastante
divididos em suas opiniões sobre o assunto, pois 31,4% assinalaram confiar,
27,5% confiar plenamente, 23,5% confiam pouco, 13,7% não confiam, e
ainda, 3,9% não souberam ou não responderam a questão. No entanto, ainda
é possível afirmar que mais da metade dos jovens entrevistados confiam, em
algum grau, em um futuro melhor para sua cidade em relação a preservação
do meio ambiente.
No último gráfico desta seção, o Gráfico 46, podemos observar os jovens
segundo sua confiança em um futuro melhor para sua cidade em relação a
expansão de suas respectivas igreja/religião. Neste aspecto, quase a totalidade
dos jovens confiam plenamente (64,7%) e confiam (25,5%) num futuro
melhor sobre a expansão de sua igreja/religião. Apenas 5,9% afirmaram
confiar pouco e 2,0% assinalou não confiar, bem como, 2,0% não souberam
ou não responderam a questão.

Gráfico 44 – Jovens segundo sua confiança em um futuro melhor para sua cidade em relação a diminuição
da violência (%)

Gráfico 45 – Jovens segundo sua confiança em um futuro melhor para sua cidade em relação a preservação
do meio ambiente (%)
Gráfico 46 – Jovens segundo sua confiança em um futuro melhor para sua cidade em relação a expansão de
sua minha igreja/religião (%)

Considerações finais
Pesquisas já têm sido feitas no sentido de mostrar que entre evangélicos,
pentecostais ou não, a questão identitária é uma questão de heterogeneidade.
No geral e no particular, os evangélicos não são um bloco monolítico
(ALENCAR, 2013; ALVARENGA, 2017). A juventude, como categoria não
homogênea (BOURDIEU, 1983), encontra eco nessa realidade difusa e
permeável que é a religião no Brasil. Fernandes (2011, p. 104) indica que
“tanto a situação de moradia quanto a vinculação religiosa podem ser
variáveis importantes para a análise das expectativas e representações
juvenis”. Nestas perspectivas, os dados coletados trazem um indicativo
curioso e ao mesmo tempo repleto de questões que precisam ser
aprofundadas, como por exemplo, o local de habitação dos jovens, as
transformações sociais e econômicas, além da religiosa.
Mas o que se pode observar, ainda que de forma fugaz e dinâmica, é que
entre os jovens entrevistados há uma tensão entre o que pensam e o que
fazem. Em um primeiro momento pode suscitar questionamentos sobre a
forma que os referenciais religiosos orientam as práticas juvenis no que se
refere ao modo de vida. Se concordam e não praticam ou até mesmo tem
interesse em participar, mas não colocam em prática, dá a entender que a
religião não trata dos assuntos mencionados e muito menos estimula esses
tipos de ações. Ou então, que existem certos entraves no contexto religioso
que não foram enfrentados, como a suposta impermeabilização das ordens
religiosas e políticas.
A participação cívica dos jovens mostrou-se menor do que o grau de
concordância. Existem diferentes maneiras de interpretar esses dados. Uma
delas pode ser analisada a partir do questionamento sobre o incentivo ou não
do jovem no envolvimento na política. Quase a metade discordou. Será que
para esses jovens a religião teria outro papel? Somente 5,9% concordaram
com esse tipo de estímulo, ou seja, há muitas outras coisas importantes que a
religião deveria dar conta e que não tem nada a ver com a política. Todavia,
não é o caso de considerar esse aspecto um indício de alienação. Ao falar de
política, pode-se pensar no seu paradoxo, isto é, como algo que só beneficia
uma classe em detrimento de outra ou então um meio de aproveitamento
ilícito e práticas corruptas (CHAUÍ, 2000). Além disso, existe a possibilidade
de pensar que a política é uma atividade própria de certas pessoas
encarregadas de fazê-la.
Os dados oferecem margem para outras interpretações que requerem
maior densidade e aprofundamento analíticos. Todavia, deve-se considerar
que o perfil dos jovens entrevistados oscila entre crenças, costumes e
práticas. Um quadro comparativo com jovens não religiosos serviria como
base para chegar a outras conclusões. Na sociedade moderna, consolidada ou
não, a crença religiosa e a participação religiosa ou mesmo cívica são
“assunto de opção pessoal”: são assuntos particulares, que dependem de uma
consciência individual e que nenhuma instituição religiosa ou política pode
impor a quem quer que seja. O fato de serem jovens pentecostais não indica
uma uniformidade do pensamento. Suas respostas aos questionamentos têm
variantes que confirmam a hipótese de que ocorre, sim, uma “perda de
regulamentação” e que esta aparece principalmente na liberdade com que
estes indivíduos constroem seu sistema de fé, fora de qualquer referência a
um corpo de crenças institucionalmente validado (HERVIEU-LÉGER, 2008).
Com isso, pode-se também observar que a crença desses jovens, ainda que
fluidas, não desaparece, ela se desdobra e se diversifica, tornando-se
maleáveis e de acordo com o espaço-tempo, além dos dispositivos de seu
enquadramento institucional. As crenças se expressam de um modo
probalístico (“podem bem ser, mas não estou certo disso”, ou então, “não
concordo plenamente, mas parcialmente”, “não participo, mas tenho
interesse”). Tais variações se dão na medida em que a abordagem
considerada nesta pesquisa teve como perspectiva analítica as percepções de
jovens pentecostais nos contextos de suas relações sociais.

Referências

ALENCAR, Gedeon Freire de. Matriz Pentecostal Brasileira: Assembleias de Deus 1911-2011. Rio de Janeiro:
Editora Novos Diálogos, 2013.

ALVARENGA, L.G. Os batistas em movimento: um estudo da dinâmica sócio religiosa de batistas no Brasil: o
exemplo de Macaé-RJ. São Paulo, 2017. 260 f. Tese (Doutorado em Ciência da Religião) - Programa de Pós-Graduação
em Ciência da Religião, PUC-SP, 2017.

ARIÈS, Phillipe. História social da criança e da família. 2 ed. Rio de Janeiro: LTC, 1981.

BOURDIEU, Pierre (1930–2002). A “juventude” é apenas uma palavra. In: BOURDIEU, Pierre. Questões de
Sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983.

CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. 13 Ed. São Paulo: Ática, 2000.

FERNANDES, Sílvia Regina Alves (2011). (2011). Marcos definidores da condição juvenil para católicos e
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HERVIEU-LÉGER, Daniele. O peregrino e o convertido: a religião em movimento. Petrópolis: Editora Vozes,


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PIRES, Beatriz de Oliveira; PEDLOWSKI, Marcos A. Impactos socioambientais de megaempreendimentos: o


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SWATOWISKI, Claudia. Dinâmicas espaciais em Macaé: Lugares públicos e ambientes religiosos. In:
ALMEIDA, Ronaldo; MAFRA, Clara. (Orgs.). Religiões e cidades: Rio de Janeiro e São Paulo. São Paulo: Terceiro
Nome, 2009.
Sobre os autores e as autoras
Alonso Gonçalves - Doutorando em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São
Paulo. Pastor da Igreja Batista Central em Pariquera-Açu/SP. E-mail: alonso3134@hotmail.com

Claudio de Oliveira Ribeiro - Doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do


Rio de Janeiro, com estágio pós-doutoral pela Southern Methodist University, Dallas-EUA. Professor
do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora. E-
mail: cdeoliveiraribeiro@gmail.com

Leonardo Gonçalves de Alvarenga - Doutor em Ciência da Religião pela Pontifícia


Universidade Católica de São Paulo, com estágio de pós-doutorado em Sociologia Política pela
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. E-mail: alvarengalg2@gmail.com

Magali do Nascimento Cunha - Doutora em Ciências da Comunicação pela Universidade de


São Paulo (USP), com estágio pós-doutoral em Comunicação e Política pela Universidade Federal da
Bahia. Pesquisadora em Comunicação e Religião da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares
da Comunicação (INTERCOM). E-mail: magali.ncunha@gmail.com

Nelson Lellis - Doutorando em Sociologia Política pela Universidade Estadual do Norte


Fluminense Darcy Ribeiro. Membro do grupo de pesquisa CRELIG (Dinâmicas Territoriais, Cultura e
Religião) e bolsista pela Capes. E-mail: nelsonlellis@gmail.com.

Roberto Dutra - Doutor em sociologia pela Humboldt Universität zu Berlin. Professor


Associado da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. E-mail:
robertodtj@gmail.com

Vanessa da S. Palagar Ribeiro - Doutoranda em Sociologia Política pela Universidade


Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. Membro do grupo de pesquisa CRELIG (Dinâmicas
Territoriais, Cultura e Religião) e bolsista pela Capes. E-mail: vanessapalagar@yahoo.com.br.
Wania Amélia Belchior Mesquita – Doutora em Sociologia pelo Instituto Universitário de
Pesquisas do Rio de Janeiro/SBI, com estágio pós-doutoral no ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa.
Professora e Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da Universidade
Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. E-mail: mesquita@uenf.com.br.

[1] BOLSONARO afirma em seu primeiro discurso que terá governabilidade; leia íntegra. Folha
de S. Paulo, 28 out 2018. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/10/bolsonaro-
afirma-em-seu-primeiro-discurso-que-tera-governabilidade-leia-integra.shtml>. Acesso em: 1 out 2019.
[2] BOLSONARO, Jair. Jair Bolsonaro, presidente de Brasil: “No quiero que Argentina siga la
línea de Venezuela, por eso apoyo la reelección de Macri”. Entrevista Exclusiva a Guido Nejamkis.
Clarín, 14 jul 2019. Disponível em: <https://www.clarin.com/mundo/jair-bolsonaro-presidente-brasil-
quiero-argentina-siga-linea-venezuela-apoyo-reeleccion-macri_0_r0JjNpoAE.html>. Acesso em: 1 out
2019
[3] MENDONÇA, Ricardo. Ideologia interfere pouco na decisão de voto, diz Datafolha. Folha de
S. Paulo, 14 out 2013. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/133801-ideologia-
interfere-pouco-na-decisao-de-voto-diz-datafolha.shtml>. Acesso em: 1 out 2019.
[4] O fundamentalismo é um movimento religioso e conservador, nascido entre os protestantes dos
EUA no início do século XX, que tem como princípio os “Fundamentals” – elementos elencados como
fundamentos da fé e da doutrina cristãs, baseados na interpretação literal de narrativas e ensinamentos
da Bíblia. Sobre o Fundamentalismo, suas origens e ênfases, ver DREHER, Martin N. Para entender o
fundamentalismo. São Leopoldo: Editora UNISINOS, 2002.
[5] De acordo com o Censo de 2010 (IBGE), os cristãos representam 86.8% da população - quase
nove em cada 10 brasileiros se declaram cristãos, segundo o Censo de 2010. Dentro deste agrupamento
religioso encontram-se fundamentalmente dois segmentos: os católico-romanos, 64,6% (queda de 9,27
em relação ao Censo de 2000), e os evangélicos, 22,2% (crescimento de 6,4 em relação ao censo
anterior).
[6] Sobre isto ver CASADO, José. A direta avança. O Globo, 8 jul 2104. Disponível em:
<http://oglobo.globo.com/opiniao/a-direita-avanca-13171346#ixzz376hEcRGH>. Acesso em: 1 de out
2019.
[7] Sobre isto ver COUTO, Aluízio. Preferências ideológicas e jornalismo tribal. Observatório da
Imprensa, n.753, 2 jul 2013. Disponível em:
<http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed753_preferencias_ideologicas_e_jornalismo_tribal>.
Acesso em: 1 de out 2019.
[8] EDUCAÇÃO como prioridade é tema de encontro em Brasília. Fundação Lemann, 18 set
2019. Disponível em: <https://fundacaolemann.org.br/noticias/educacao-como-prioridade-e-tema-de-
encontro-em-brasilia>. Acesso em: 1 out 2019.
[9] MELO, Patrícia Campos. Itamaraty orienta diplomatas a frisar que gênero é apenas sexo
biológico. Folha de S. Paulo, 26 jun 2019. Disponível em:
<https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/06/itamaraty-orienta-diplomatas-a-frisar-que-genero-e-
apenas-sexo-biologico.shtml>. Acesso em: 1 out 2019.
[10] FRAZÃO, Felipe, MOURA, Rafael Moraes, FORMENTI, Ligia. Evangélicos influenciam
atos da gestão Bolsonaro. Estadão, 15 set 2019. Disponível em:
<https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,evangelicos-influenciam-atos-da-gestao-
bolsonaro,70003011076>. Acesso em: 1 out 2019
[11] Sobre isto ver: CUNHA, Magali do Nascimento. Ao criticar perseguição religiosa na ONU,
Bolsonaro só olha para fora. Diálogos da Fé (Carta Capital), 25 set 2019. Disponível em:
<https://www.cartacapital.com.br/blogs/dialogos-da-fe/ao-criticar-perseguicao-religiosa-na-onu-
bolsonaro-so-olha-para-fora/>. Acesso em: 1 out 2019
[12] A votação da Reforma da Previdência, ocorrido em jul/2019 na Câmara dos Deputados,
ilustra bem este ponto. O PDT havia orientado a todos os seus membros a votarem contra a Reforma. A
deputada federal Tabata Amaral e mais 7 deputados contrariaram a orientação de seu partido. O PDT
abriu um processo disciplinar contra estes.
[13] A sigla PPS foi modificada em março/2019. O partido passou a se chamar Cidadania.
[14] Comunicações do ISER, 3, dezembro de 1982, p. 16-17.
[15] Disponível em: <http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/jose-de-
oliveira-fernandes>. Acesso em: 10 de set. de 2018.
[16] No ano de 2014, dos 27 estados nacionais, 9 não elegeram deputados federais ligados à AD:
Acre, Alagoas, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Piauí, Sergipe e Tocantins.
Mas tiveram eleitos para outros cargos para a Câmara em outros estados, exceto em Alagoas, Paraíba,
Piauí e Tocantins. No Acre, foram eleitos deputados estaduais.
[17] Disponível em: <https://www.eleicoes2014.com.br/eliziane-gama/>. Acesso em: 28 de jul. de
2018.
[18] Disponível em: <http://diegoemir.com/2016/01/eliziane-economiza-e-segunda-parlamentar-
com-menor-gasto-na-camara-dos-deputados/>. Acesso em: 28 de jul. de 2019.
[19] Em: 09/06/2015; sessão 142.1.55.O; fase: homenagem.
[20] Em: 13/06/2017; sessão 157.3.55.O; fase: breves comunicações.
[21] Segundo o CEADEMA, há 7.890 igrejas assembleianas com 8.450 obreiros e 1.350.000
membros. Disponível em: <https://ceadema.com.br/>. Acesso em: 28 de jul. de 2018.
[22] Disponível em: <https://www.marcoaureliodeca.com.br/2018/06/13/evangelicos-lancam-
sabado-pre-candidatura-de-eliziane-gama-ao-senado/>. Acesso em: 28 de jul. de 2018.
[23] Disponível em: < https://luiscardoso.com.br/politica/2018/10/eliziane-gama-anuncia-voto-
em-haddad-e-lider-das-assembleias-de-deus-reprova/>. Acesso em: 15 de out. de 2018. Nada ocorreu
em relação ao plebiscito, mas Eliziane, após eleita ao senado, votou contra tais Reformas.
[24] Disponível em: <http://www.ma.gov.br/agenciadenoticias/gestao/relacoes-institucionais/em-
chapadinha-governador-flavio-dino-participa-de-convencao-anual-das-assembleias-de-deus>. Acesso
em: 22 de jun. de 2019.
[25] Disponível em: <https://www.blogsoestado.com/zecasoares/2018/11/28/mical-diz-que-e-
fruto-da-assembleia-de-deus/>. Acesso em: 17 de jun. de 2019.
[26] Disponível em: <https://pleno.news/brasil/eleicoes-2018/cgadb-declara-apoio-ao-candidato-
jair-bolsonaro.html>. Acesso em: 20 de dez. de 2018.
[27] Disponível em: <https://www.marcoaureliodeca.com.br/2018/06/26/pastor-da-assembleia-de-
deus-repudia-apoio-da-lideranca-da-igreja-a-flavio-dino/>. Acesso em: 17 de jun. de 2019.
[28] Disponível em: <https://oimparcial.com.br/politica/2018/10/eliziane-declara-apoio-a-haddad-
e-igreja-repudia/>. Acesso em: 02 de dez. de 2018.
[29] Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=m5mmqzG_MXI>. Acesso em: 15 de
jan. de 2019.
[30] Idem.
[31] Disponível em: <https://noticias.gospelmais.com.br/senadora-assembleia-de-deus-apoiar-
haddad-103216.html>. Acesso em: 18 de jun. de 2019.
[32] Disponível em: <http://linhares.info/dois-anos-apos-votar-pelo-impeachment-eliziane-gama-
quer-pt-de-volta/>. Acesso em: 17 de jun. de 2019.
[33] Liberalismo “considera a vontade individual como fundamento das relações sociais, portanto,
as liberdades de pensamento e opinião, como de culto, em relação ao poder do Estado” (JAPIASSÚ;
MARCONDES, 1996, p. 163).
[34] “Se os evangelhos e os apóstolos podem ser acreditados, nenhum homem pode ser cristão
sem caridade e sem aquela fé que opera não pela força, mas pelo amor. Agora apelo para a consciência
daqueles que perseguem, torturam, destroem e matam outros homens sob a pretensão da religião, seja
por amizade e gentileza para com eles ou não” (LOCKE, 2011, p. 32).
[35] “Pois Deus, ao conferir ao homem um entendimento para governar suas ações, concedeu-lhe
uma liberdade de vontade e de ação como a estas pertinente, dentro dos limites da lei à qual está
submetido” (LOCKE apud CAVALCANTE, 2010, p. 114).
[36] “O grande grito de liberdade, não só para cristãos, mas para todos, foi dado em 1612 por
Thomas Helwys. Escrevendo ao rei Tiago I (1567-1625), Helwys afirma que ‘se o povo for obediente e
verdadeiramente sujeito [ao rei], obedecendo todas as leis humanas erigidas pelo rei, nosso senhor o rei
não pode requerer mais [que isto]: porque a religião dos homens em relação a Deus é entre Deus e os
homens. O rei não responderá por isso, nem pode o rei ser juiz entre Deus e o homem’. Continua
Helwys, ‘o rei é um homem mortal, e não Deus, portanto, ele não tem poder sobre a alma mortal dos
seus cidadãos para fazer leis e ordenanças e instaurar autoridades espirituais [bispos, cortes
eclesiásticas, etc.] sobre eles’. Portanto, as pessoas devem ser livres para crer ou deixar de crer no [quê]
quer que seja, sem que o Estado se interponha nesta questão” (RIKER, 2010, p. 82).
[37] “Os batistas fazem parte da gênese do pensamento liberal inglês. Não se pode dizer que sejam
tributários do liberalismo, porque é mais verdadeiro dizer que integram o mesmo movimento que se
consolidou no liberalismo primitivo [...]. De qualquer modo, com certeza, a ênfase na liberdade
individual e no princípio da separação entre igreja e estado são uma evolução do puritanismo ou uma
apropriação do liberalismo. Quando alguns batistas emigraram para as Treze Colônias americanas, o
ideário permaneceu e esteve onipresente na sua relação com o novo mundo. O modo de pensar se
transformou, mas conservou e consolidou o espírito inglês” (AZEVEDO, 2004, p. 12).
[38] “A cisão que mais repercute até nossos dias, e que foi fundamental para a história dos batistas
brasileiros, foi a causada pela controvérsia escravagista. Desde a organização da convenção trienal em
1814, o problema da escravatura era algo real. O ponto máximo da questão aconteceu em 1845, quando
os irmãos do sul se sentiram compelidos a separarem-se da convenção trienal, estabelecendo uma
convenção separada a qual deram o nome de Convenção Batista do Sul” (SANTOS, 2012, p. 30).
[39] “O trabalho batista no Brasil foi, indiretamente, produto da Guerra Civil dos Estados Unidos.
Desanimados com a perda de terra e escravos, como resultado da guerra, algumas centenas de famílias
americanas resolveram procurar novos lares no Brasil, aproveitando o convite do Imperador liberal, D.
Pedro II. Estabeleceram-se no Estado de São Paulo, numa Vila chamada Santa Bárbara” (HARRISON,
1987, p. 14).
[40] Vem do termo landmark, que significa “marco de terra”. Tem a ver com Dt 19,14, que fala
para não remover os marcos “que os antigos fixaram”. As ideias landmarkistas foram espalhadas, a
partir de 1846, através do jornal “The Tennessee Baptist” (OLIVEIRA, 2010, p. 91).
[41] Segundo Alberto Kenji Yamabuchi (2009, p. 105), do Pietismo veio o desejo de proclamar o
evangelho ao mundo, o que acabou desenvolvendo nos batistas norte-americanos um messianismo com
forte teor salvacionista. Uma vez no Brasil, os missionários trouxeram essa teologia salvacionista
influenciando profundamente o pensamento batista brasileiro.
[42] “A tradição fundamentalista e pietista do protestantismo missionário, defendiam que as
reformas políticas e sociais se dariam através da regeneração dos indivíduos. A leitura e a prática dos
ensinos bíblicos eram aconselhadas como medida profilática e saneadora dos males sociais e políticos”
(SILVA, 2011, p. 309).
[43] “Realizada de 22 a 29 de julho de 1962, em Recife, nas dependências do Colégio Agnes
Erskine (vinculado à Igreja Presbiteriana do Brasil, IPB), a Conferência do Nordeste – como ficou
chamada desde então – foi a 4ª Reunião de Estudos promovida pelo Setor de Responsabilidade Social
da Igreja da Confederação Evangélica do Brasil [...]. Cento e sessenta e sete participantes estiveram
presentes, representando 14 diferentes denominações protestantes (entre as quais batistas,
congregacionais, presbiterianos, episcopais, luteranos, pentecostais, reformados, metodistas livres) e
delegados de cinco igrejas dos Estados Unidos, México e Uruguai, como observadores” (BURITY,
2011, p. 171-172).
[44] “Grande parte da história da mentalidade protestante brasileira está baseada no ‘sonho
americano’ como lapidar para a construção do Reino de Deus por meio da salvação do espírito humano
– tão somente. Episódio semelhante aconteceu no ambiente da Ditadura Militar no Brasil em que
pastores iluminados propuseram uma salvação como renovação espiritual, pois uma das características
redentoras, dos movimentos messiânicos, é se desprender do campo vago da salvação meramente
espiritual para ocasionar processos complexos de renovação política” (ALONSO, 2012, p. 132).
[45] Ainda que a denominação batista seja, na sua configuração, plural, as pessoas aqui
mencionadas como “lideranças da CBB” recebem essa identificação por serem líderes que estão
envolvidos com a política denominacional, participando, assim, dos rumos da denominação no seu
aspecto institucional a nível de CBB, concorrendo, em nas assembleias anuais da denominação à cargos
eletivos, principalmente para presidente da CBB.
[46] Por ethos histórico-político-teológico dos batistas compreendemos as principais
características desse grupo que começou na Inglaterra do século XVI-XVII, passou pelos EUA e
chegou no Brasil, três fases com peculiaridades, mas todas partindo da mesma concepção fundamental
do grupo. Assim, podemos resumir esse ethos da seguinte maneira: “Do princípio da responsabilidade
individual da criatura humana diante de Deus derivam os demais princípios que balizam a vida do
crente batista: o livre exame da Palavra de Deus; a liberdade de consciência; a responsabilidade pessoal
para com a igreja local e outras coirmãs; a responsabilidade civil para com o Estado; a separação entre
Igreja e o Estado; e o amor, que gera conduta e respeito para com o próximo, testemunho e ação no
mundo” (AZEVEDO, 2004, p. 258).
[47] Vídeo disponível: <https://www.youtube.com/watch?v=NaGBrs7J6O8>.
[48] “Cabe considerarmos que a narrativa de Piragine Jr. foi exceção do pensamento batista
brasileiro por diferentes razões. Em primeiro lugar Piragine Jr. amenizou os discursos tocantes à
‘exacerbação da experiência de conversão’ em substituição da salvação da Pátria por meios messiânicos
milenaristas, com voto religioso. Em segundo lugar, sua narrativa alojou qualquer ênfase no exercício
do individualismo protestante batista e do transcendentalismo, para exigir um posicionamento
veemente, histórico, contra o Império malévolo da Iniquidade petista. [...] Mesmo tendendo para uma
preferência elitista, Piragine Jr. abandonou os fundamentos do pensamento liberal batista da defesa
suprema da liberdade individual, econômica, política, intelectual e religiosa, na tentativa de moralizar
religiosamente o Estado, laico, Democrático de Direito, o Brasil” (ALONSO, 2012, p. 166).
[49] “Na apresentação do processo da Lava-Jato, baforou frases pouco isentas contra Lula, como
‘comandante máximo’, ‘grande general’ da ‘propinocracia’ – sem provas diretas” (PY, 2018, p. 128).
[50] Vídeo disponível: <https://www.youtube.com/watch?v=moFA3YSHD10>.
[51] Texto disponível:
<https://brasil.elpais.com/brasil/2019/06/15/politica/1560562972_929834.html>.
[52] Texto disponível: <https://www.youtube.com/watch?v=yRK3KlhmAY0>.
[53] No primeiro texto, escrito no dia 24 de agosto de 2018, Valandro Jr. procura justificar sua
atitude em permitir um candidato à presidência da República subir ao púlpito da igreja. Com o texto
“Orar por candidatos a cargos políticos” - Disponível: <https://pleno.news/opiniao/josue-valandro-
jr/orar-por-candidatos-a-cargos-politicos.html>. Valandro Jr. procurou acentuar que a principal razão
de tal atitude foi porque a esposa do candidato, Michelle Bolsonaro, é membro da igreja. No segundo
texto, escrito no dia 14 de setembro de 2018, o pastor justifica mais uma vez o seu comportamento com
o texto “Voto cristão e seu futuro. Você está preocupado?” - Disponível:
<https://pleno.news/opiniao/josue-valandro-jr/voto-cristao-e-o-seu-futuro-voce-esta-preocupado.html>.
Valandro Jr. procurou desqualificar partidos de esquerda e assumiu uma postura à direita de maneira
ainda mais clara e contundente.
[54] Um desses momentos, por exemplo, se deu quando a Convenção Batista Brasileira emitiu um
Pronunciamento Oficial sobre a reforma da Previdência no governo de Michel Temer (PMDB). O
documento está disponível: <http://www.convencaobatista.com.br/siteNovo/pagina.php?DOD_ID=2>.
[55] Com apoio da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de
Janeiro (FAPERJ). A pesquisa quantitativa contou com a participação de 4 estudantes de mestrado e
um pós-doutorando do Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da UENF.
[56] Para mais informações sobre o CLIPA verificar os seguintes estudos: Pires e Pedlowski
(2009); Quinto Junior, Faria e Carvalho (2011) e Quintslr (2014).
[57] Esta faixa etária corresponde a definição de jovens da Organização das Nações Unidas.
[58] O instrumento da pesquisa foi elaborado e ampliado a partir do questionário do projeto de
pesquisa “Juventude, religião e política na Baixada Fluminense - ações e representações”, FAPERJ.
Coordenado por Silvia Regina Alves Fernandes, 2014.
[59] Em relação ao cartão cidadão, um benefício oferecido pela Prefeitura de São João da Barra,
que em junho de 2015, era destinado a 4.905 famílias em situação de vulnerabilidade social, com um
valor mensal de R$ 230,00 para aquisição de gêneros alimentícios no comércio local, foi suspenso.
Atualmente, o benefício de transferência de renda municipal, chama-se "Cartão Viver Melhor" (na
verdade é praticamente o mesmo formato do cartão cidadão). No entanto, atende apenas a 2.000
beneficiários, com um valor mensal de R$250,00 para aquisição de gêneros alimentícios, no comércio
local. É gerido pela Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos (Secretaria
Municipal de Assistência Social, Trabalho e Direitos Humanos).

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