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CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES – CEH

FACULDADE DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES – FFP


PROFLETRAS

A BELA ADORMECIDA DO SAMBA


LEITURA COMPARADA, ANÁLISE E DESENVOLVIMENTO DE ATIVIDADE

Trabalho Apresentado a Professora Doutora Maria Betânia Almeida na disciplina


Literatura Infanto Juvenil pelas mestrandas Elisabete Anacleto e Vanessa Gomes
SOBRE A BELA ADORMECIDA
• O famoso conto A Bela Adormecida foi publicado pela primeira vez em 1634, por
Giambattista Basile, e nessa versão, o rei que já casado, encontra a princesa
adormecida em um aposento, se apaixona por ela e a estupra, A princesa acorda
nove meses depois e se descobre grávida de um casal de gêmeos: o Sol e a Lua.
Quando a rainha descobre tenta matar a princesa e os filhos queimados, mas acaba
ela mesma morrendo e a princesa se casa com o rei, seu estuprador.

• Na história que foi adaptada por Charles Perrault em 1697, a princesa acorda e se
casa com o príncipe que um dia sai para uma caçada e a deixa juntamente com seus
filhos, sob os cuidados da sua mãe ciumenta. Essa faz de tudo para se livrar da nora
e dos netos chegando a mandar mata-los e cozinha-los para ela comer., no entanto,
esses são salvos pelo cozinheiro piedoso, até que o rei chega e confronta a mãe que
se suicida.

• Por fim, temos a versão dos irmãos Grimm em 1812, que termina no momento em
que o príncipe desperta a princesa,sendo esta versão a mais conhecida e servindo de
base para o filme produzido pela Disney em 1959.
• Todas essas versões tem em comum uma narrativa em torno de uma princesa que
recebe um encantamento de uma feiticeira, uma bruxa ou uma fada má, que a fará
cair em um sono profundo ao furar o dedo em um fuso de tear assim que completar
dezoito anos e assim permanecerá até que um príncipe encantado a desperte com
um beijo provindo de um amor verdadeiro.

• A história em si já nos traz muitas interpretações. A questão do sono da princesa


estar condicionado aos seus dezoito anos, que seria a idade em que ela despertaria
para o mundo e a vida, no entanto ela passa a dormir, o seu despertar condicionado
a um beijo de amor verdadeiro, o que ocultando a figura do príncipe gerou várias
outras interpretações como podemos ver na adaptação da história para o filme
Malévola, onde o amor verdadeiro é da própria fada que a enfeitiçou, e também em
Frozen, quando o beijo do amor verdadeiro é dado pela irmã da protagonista.
SOBRE A BELA ADORMECIDA DO SAMBA

• No conto A Bela Adormecida do Samba, a primeira coisa que se destaca são as


ilustrações de Luciana Grether e as cores vibrantes e representativas do universo
negro por ela adotadas: o amarelo, o ocre, o vermelho e o azul. Ao iniciarmos a
leitura da versão de Sonia Rosa, somos transportados no tempo e no espaço para um
universo em que cultura afro-brasileira é o pano de fundo para todos os
acontecimentos e mudanças.

• Diferente de todas as outras versões, os personagens são negros. Há mudança também


nas posições sociais dos protagonistas. A Bela Adormecida da história se chama Bela,
e não Aurora, que remete a manhã, claridade; os seus pais são uma porta-bandeira e
um mestre sala, o castelo se transforma em Barracão e terreiro de samba, a feiticeira,
bruxa ou fada má, é o Ifá, um adivinho muito respeitado na cultura negra e ele não
lança nenhum feitiço ou encantamento, apenas alerta sobre um infortúnio previsto
para a jovem quando completasse dezoito anos (destino).
• Preservou-se na história o tão aguardado nascimento da menina e a entrega de
presentes, que aqui são dons como amor, fé, beleza, saúde, inteligência,
generosidade, gentileza e sabedoria.

• A menina Bela não espeta o dedo em uma roca enquanto se prepara para o
baile, mas em um zíper enquanto fechava sua fantasia de Abre-Alas para mais
um desfile de carnaval e ao cair em sono profundo, a jovem adormecida é
colocada sobre uma esteira de palha, elemento que remete as senzalas.

• O sono da princesa e de todos que estavam no barracão se transforma em


boato e desperta a atenção do jovem Jorge (nome que remete a um personagem
do sincretismo religioso: São Jorge). Ele que era passista, compositor,
historiador e pesquisador é um personagem de suma importância, visto que
uma das leituras possíveis do texto é sobre o apagamento da história negra
(dormir como símbolo desse esquecimento), e a questão da fé (a crença)
elemento sempre presente que fará com que esse jovem (um pesquisador e
historiador) desenterre essa história por meio do AMOR, visto que em suas
investigações ele não encontrou nenhum registro escrito, precisando se guiar
pela tradição oral que passava de geração a geração (o pai ouviu, do avô, que
ouviu do bisavô, etc)
• Nesta parte do diálogo a ilustradora traz os tambores africanos para o texto, pois
eles eram tocados quando o povo se reunia para ouvir as histórias dos griots ou
griôs. Há também a presença do Baobá, a árvore sagrada em volta da qual se
contava e cantava também as histórias. se ele avistou a árvore ele está perto desse
resgate cultural.

• Na parte em que a autora descreve várias esteiras no barracão com vários roncos
(pessoas dormindo) novamente a imagem da senzala é retomada. O despertar da
jovem se dá pelo canto que Jorge entoou e não pelo beijo. Falar as histórias, contar
e cantá-las nos faz estarmos conscientes, despertos. Um outro ponto interessante é o
fato de eles se olharem nos olhos por longo tempo. Olhar nos olhos é enxergar o
outro, conhecer sua alma.

• “Foi um despertar coletivo...” – Essa parte da conclusão do livro traz a importância


da coletividade para os povos africanos e resgata o conceito de Ubuntu – “eu sou
porque nós somos”. Enquanto um dormia, todos dormiam, quando um despertou
todos despertaram. Despertaram do sono e despertaram para as questões de resgate
de sua ancestralidade e de suas tradições expressas no carnaval, desfile de carnaval
e na retomada dos lugares de destaque, ele vira mestre sala e ela porta-bandeira. “O
AMOR desfilando na avenida...”
QUEM CONTA UM CONTO
AUMENTA UM PONTO?
• No artigo “Quem conta um conto aumenta um ponto? de Andréa Grijó, destaca-se que
“ transformar alunos em leitores tem sido uma tarefa histórica das escolas e, para sua
realização, são discutidas as inúmeras maneiras de se construir processos de mediação
que possam tornar os alunos “ afim de ler”, e mais ainda, que os formem sujeitos, que
antes de tudo reconheçam na literatura um patrimônio cultural da humanidade, à qual
deve ser dado acesso por direito, e, principalmente, que esses sujeitos possam
vivenciar a experiência estética que sua leitura possibilita e proporciona.”

• A autora ressalta que nas adaptações, há muitas vezes maior preocupação com o que
dito do que com o modo de contar. E podemos perceber que no livro A Bela
Adormecida do Samba, houve uma preocupação no o que, no como e no onde a
história se passa.

• Tais elementos devem ser passados aos alunos na atividade para retratar tanto o
clássico, quanto os elementos e a ideologia da cultura afro. E assim mostrar aos
alunos o que Andréa Grijó destaca que “o ideal é uma adaptação bem feita e atraente”.
ATIVIDADE PARA A TURMA
• Na atividade para turma do 8º ano da escola municipal em Maricá/RJ, o primeiro
contato sobre a obra será através da oralidade e sobre construção de memória,
perguntando aos alunos suas lembranças sobre a obra A Bela Adormecida e se os
mesmos viram filmes sobre esta temática, discutindo e construindo em coletivo a
narrativa.

• Depois, o trabalho será pela imagem onde os alunos deverão desenhar um momento
que demonstre ou revele importância sobre a história, podendo os alunos adaptarem a
Bela Adormecida como desejarem.

• Em seguida, haverá a leitura da Bela Adormecida do Samba destacando os elementos e


princípios da cultura afro como a oralidade, o ubuntu, o terreiro, o samba, etc. Neste
momento, será observado a diferença de uma história eurocêntrica para uma história
afrodescente.

• Haverá a apresentação de algumas partes da adaptação do filme Malévola para


demonstrar os elementos similares, mas também os elementos díspares como a visão de
amor de mãe como salvação de Aurora.

• Os alunos criarão uma narrativa contando sua versão sobre a obra colocando
elementos da sua realidade e comunidade.

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