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UM PAÍS DIVIDIDO

EM SENHORIOS E
CONCELHOS
MÓDULO 2 – UNIDADE 2
• Regiões do Território Português
A ORGANIZAÇÃO DO REINO
• O reino era formado por
senhorios (do rei, dos nobres e
do clero) e concelhos com
privilégios, imunidades e
autonomia:
• Norte: Há principalmente
senhorios nobres e eclesiásticos.
É mais rico e poderoso, aí se
concentram as elites do país.
• Centro e sul: Há mais concelhos
urbanos e senhorios
eclesiásticos (das Ordens
Religiosas Militares)
O PAÍS RURAL E
SENHORIAL
OS SENHORIOS
SENHORIOS

Castelo de Arnoia - Celorico de Basto


Situado na terra de Basto, (séc. X - XII) Era o poder senhorial da
família Lobo, que vinha ainda do tempo do reino de Galiza e
Leão, que dominava as terras de Basto, vasto território (desde
os limites de Felgueiras até Trás-os-Montes.
A DIMENSÃO DO SENHORIO EM PORTUGAL

• No norte do país eram propriedades


dispersas e de menor dimensão.
Os senhorios espalhados
encontravam-se por vezes entalados entre
outros senhorios
• No sul eram propriedades extensas e
contínuas
ORIGEM DOS
SENHORIOS
Os Senhorios aparecem durante a Reconquista Cristã.
Os 1.ºs nasceram Entre Douro e Minho e
estenderam-se para sul, à medida que se
conquistavam mais territórios:
- pelo direito de presúria (ocupação das terras
conquistadas ou deixadas pelos mouros)
- por doação do rei (OBJETIVOS DA DOAÇÃO:
a) auxílio na conquista, povoamento e administração;
b) obterem favores divinos
c) Foi uma forma de os reis se imporem, através das
relações de vassalagem, controlando os vassalos.)
PROPRIETÁRIOS DOS SENHORIOS

Coutos
Senhorios que
Honras pertenciam à Igreja:
- de Sés e Catedrais
Senhorios que
(bispados e
Reguengos pertenciam a nobres
arcebispados)
Senhorios que - de Mosteiros
pertenciam ao rei, - De Ordens Religiosas
nestes dominius rex Militares (com
era ele o Senhor castelos)
AS HONRAS

Os senhorios da Nobreza localizavam-se sobretudo no Norte


Atlântico (Entre Douro e Minho).
ORIGEM: muitos resultaram da presúria, muitos das doações dos
reis portugueses:
- POR DOAÇÃO: os vassalos do rei desempenham, na vez dele,
funções públicas (poderes públicos) que devem ser exercidas com honra.
É daí que vem o nome dos feudos doados (HONORES) que recebem
como recompensa pelos seus serviços.
- POR PRESÚRIA: alguns senhores, durante a Reconquista tomaram
por presúria os seus senhorios: usando o poder que tinham a nível local,
apoderavam-se de terras não só livres como pertencentes ao rei.
PRIVILÉGIOS DA
NOBREZA
Tipos de Nobreza Direitos e privilégios
• Ricos homens – vassalos diretos do rei • Poder dominial (PODER ECONÓMICO do
com direitos senhoriais (funções senhor no seu domínio senhorial)
administrativas e públicas e imunidade) • Poder senhorial (PODER DE BAN ou
• Infanções – média nobreza com terras IMUNIDADE - privilégio de impedir os
e direitos dominiais funcionários reais de entrarem e de
• Cavaleiros – filhos segundos de nobres, exercerem os poderes públicos nestas
sem terras mas que vivem da função terras – poder político, poder de cobrar
guerreira (ligados a estes, mas de impostos, ficando eles isentos, poder de
categoria inferior, os escudeiros, que os fazer justiça, poder de recrutar para serviço
serviam) militar).
Castelo de Santa Maria da Feira - A família Marnel foi uma das poucas da nobreza de Entre Douro e Minho
que se estabeleceu a sul do rio Douro, na região de Santa Maria da Feira.
Foi fundamental para a vitória de São Mamede, em 1128, quando o senhor deste castelo, Pêro Gonçalves de
Marnel, tomou o partido de D. Afonso Henriques contra D. Teresa e o conde de Trava.
AS HONRAS

• Castelos (símbolos
de Senhorios nobres)
no norte de Portugal
SÍMBOLOS DAS HONRAS SÃO OS CASTELOS, AS TORRES E OS
SOLARES

• Exemplos de nomes de terras


portuguesas:
Oliveira do Conde (Viseu)
Canas de Senhorim (antes: Terras de
Senhorim – Viseu)
Casal da Misarela (Coimbra);
Quintela (Vila Real)
Castelo de Paiva (Aveiro)

Torre de Quintela (V. Real); Solar com


torre em Refoios (Ponte de Lima)
OS COUTOS

• São os maiores senhorios do reino.


• Os Coutos também existem no Norte Atlântico, mas os maiores são do Centro e do Sul
(atribuídos às Ordens Religiosas Militares): no norte são sobretudo arcebispados e
bispados ou mosteiros (na sua maioria da Ordem Beneditina)
• Chamavam-se COUTOS ou TERRAS COUTADAS porque foram criados através de uma
CARTA DE COUTO onde estão definidos os poderes públicos, as imunidades e os
limites destes.
• ORIGEM: Tiveram origem nas doações e heranças, refletindo a importância da Igreja e
a ajuda que davam aos reis, na administração e povoamento/defesa dos territórios de
fronteira durante a reconquista (O. R. M.).
PRIVILÉGIOS DO CLERO
Tipos de Clero Direitos e privilégios
• Clero secular – vive nas igrejas ou • Direitos dominiais (PODER ECONÓMICO do senhor)
nas sés, junto da população. • Direitos senhoriais (PODER DE BAN ou IMUNIDADE
• Clero regular – vive nos mosteiros (privilégio de impedir os funcionários reais de
e conventos de acordo com uma entrarem e de exercerem os poderes públicos
regra nestas terras – poder político, poder de cobrar
• Alto clero e baixo clero – os cargos impostos, ficando eles isentos, poder de fazer
superiores do clero secular ou do justiça e de dar asilo).
regular (arcebispos, bispos, • Isenção da justiça do rei (submetem-se ao direito
párocos… abades, chefes de ordens canónico e aos tribunais da Igreja. É um estado
religiosas militares…) dentro do estado porque escapa à justiça do rei)
• Recebe a dízima de toda a produção (mesmo do
rei)
SÍMBOLOS DOS COUTOS SÃO AS SÉS, OS MOSTEIROS E OS
CASTELOS (DAS ORDENS RELIGIOSAS MILITARES)

• Exemplos de nomes de terras


portuguesas:
Coutada (Santarém);
Aldeia do Bispo (Guarda)
Nossa Senhora da Granja (Idanha a
Nova)

Mosteiro das Castanheiras (V. Real)

Sé de Braga; Mosteiro de Tibães;


Castelo de Almourol (Templários)
OS REGUENGOS

• No início da Reconquista a maioria dos


territórios obtidos por presúria pertenciam ao
rei, mas, com o passar do tempo, estes
territórios foram reduzindo por causa das
doações.
• O rei exercia os poderes senhoriais nos seus Quinta do Reguengo, Melgaço
reguengos. Em muitos o rei vai criar conselhos,
com alguma autonomia, mas sempre
mantendo o seu domínio.
• Exemplos de nomes de terras
portuguesas:
Cabeças do Reguengo (Portalegre)
Reguenga (Sto Tirso)
Ponte do Reguengo (Santarém)
Reguengos de Monsaraz (Évora)

[pelourinho – símbolo de concelho - de R. de Monsaraz]


REGUENGOS
DE
MONSARAZ
COMO SE FAZIA A EXPLORAÇÃO ECONÓMICA DO
SENHORIO? (NAS HONRAS)
• A reserva senhorial era o paço ou a quintã (quinta, quintal);
- Aqui ficava a habitação do senhor, a igreja, por vezes um bosque,
os meios de produção (moinho, lagar, celeiros) e uma propriedade
agrícola não muito extensa (os senhores portugueses preferiam
viver das rendas a explorar diretamente as suas propriedades);
- Era trabalhada pelos servos (que trabalhavam nas terras dos
senhores e não as podiam abandonar) e pelos colonos ou
“caseiros” (homens livres dos casais que tinham que pagar jeiras –
rendas em trabalho)
• Os mansus eram os casais (as terras arrendadas aos camponeses). O
conjunto de alguns casais eram vilares (vilas, aldeias, pequenos
agregados de casais)
- para a sua exploração eram feitos contratos de arrendamento com os
colonos e o senhor; podiam ser perpétuos ou abranger 3 gerações.
A FORMA DE EXPLORAÇÃO ECONÓMICA DO
SENHORIO EM PORTUGAL (NOS COUTOS)

• Semelhantes aos domínios


senhoriais da nobreza, contudo
os domínios eclesiásticos tinham
normalmente reservas
senhoriais maiores (granjas e
não quintãs) porque arrendavam
menos terras e exploravam
grande parte delas diretamente.
A SITUAÇÃO DOS DEPENDENTES NOS
SENHORIOS RURAIS

• Os dependentes eram todos os que estavam


debaixo da alçada do senhor (clero, nobreza ou rei)
• Dividiam-se em:
- Herdadores
- Colonos / “caseiros”
- Servos
- Assalariados
OS HERDADORES

• São homens livres com pequenas


terras suas, ainda que integradas no
território do senhorio.
• Não pagam rendas, mas estão
sujeitos aos direitos senhoriais
(impostos, recrutamento militar,
justiça, multas…)
OS “CASEIROS” (COLONOS OU VILÃOS)

• Eram homens livres mas sem terra


sua. Tinham que alugar um casal do
senhor, pagando rendas e jeiras
(rendas em trabalho na quintã ou
granja do senhor) e banalidades
(rendas por usarem os meios de
produção do senhor);
• Tal como todos, estavam sujeitos
aos direitos senhoriais
OS SERVOS
• No início da Idade Média eram autênticos
escravos, trabalhando só na quintã do
senhor, sem poder abandonar o senhorio.
Mas, na Baixa Idade Média, começam a
assemelhar-se aos caseiros: são
progressivamente libertados da servidão e
são-lhes arrendados casais, pagam
banalidades e continuam sobrecarregados
pelas jeiras.
• Tal como todos, estão sujeitos aos direitos
senhoriais.
OS ASSALARIADOS

• Os assalariados (ou moços de


lavoura) viviam do aluguer do seu
trabalho, sazonal na maioria dos
casos (quando era preciso mais
gente para as colheitas)
• Estavam um pouco à margem do
sistema senhorial.
QUESTÕES DE APLICAÇÃO DE
CONHECIMENTOS

• Manual:
- pág. 61 – 1, 2, 3, 4 e 5.
- Pág. 63 – 1 e 2.
- Pág. 69 – 7 e 8.4.
O PAÍS URBANO E
CONCELHIO
OS CONCELHOS
DEFINIÇÃO DE CONCELHO

Comunidade de HOMENS LIVRES


com alguma AUTONOMIA ADMINISTRATIVA,
que eram criadas ou viam reconhecida essa
autonomia pelos SENHORES ou pelo REI,
através de CARTA DE FORAL.
Eram constituídas pela aldeia, vila ou cidade
e a população em redor.
A CARTA DE FORAL

Definição: documento real ou senhorial que regulava a


administração do concelho, os deveres e privilégios (a
organização política, jurídica, administrativa, social e
económica).
A palavra "foral" deriva da palavra “fórum”(centro de
reunião pública).
ORIGEM DOS CONCELHOS: O PROCESSO DE FORMAÇÃO
DOS CONCELHOS

1. Objetivos políticos:
a) Legalizar concelhos já existentes - organizar comunidades já existentes
durante a Reconquista;
b) Criar concelhos para: Povoar e defender territórios durante a Reconquista;
Povoar e defender territórios de fronteira com a Espanha;
c) Limitar o poder senhorial e estender o poder do rei;
2. Objetivos económicos:
c) Desenvolvimento económico - do comércio e do artesanato;
d) Assegurar os direitos do rei - Cobrança de impostos.
1. A) NECESSIDADE DE ORGANIZAR COMUNIDADES
JÁ EXISTENTES DURANTE A RECONQUISTA

• Os 1.º concelhos surgem de comunidades que se


tornam autónomas por, no meio das guerras entre
mouros e cristãos, não terem senhor.
• O rei, ou o senhor local, reconhecendo a sua
importância na defesa/povoamento do território,
dá-lhes uma Carta de Foral que passará a orientar
a sua administração.
• Integraram-se também territórios
mouros, já com tradição urbana, mais
voltados para o comércio e o artesanato • Coimbra, nos inícios do Séc. XII, era uma das
(as “urbes moçárabes”) cidades existia uma grande comunidade
moçárabe, já habituada à organização árabe.
• Em 1111 revoltou-se contra a autoridade do Conde
D. Henrique. O conde, compreendendo as
reivindicações, aceitou-as e deu foral à cidade.
1. B) e C) POVOAR E DEFENDER TERRITÓRIOS
DURANTE A RECONQUISTA E NA FRONTEIRA COM
ESPANHA
Criaram-se muitos concelhos a sul com este intuito
(também para defender as regiões de fronteira com
Espanha, fustigadas pelos conflitos com os nossos
vizinhos se criavam concelhos que atraiam muitos dos
que fugiam ao domínio senhorial)
Ex. de Concelho na Beira
Interior: Sortelha (Guarda)
• À época da Reconquista Sortelha constituiu-se
em defesa da região fronteiriça, disputada entre
Portugal e Castela. D. Sancho II concedeu foral à
vila (1228).
Ex. de Concelho do Sul do país
- Moura
• O domínio cristão data de 1232 e, a partir
de 1295, Moura é definitivamente
conquistada. É com D. Dinis que Moura
recebe a sua primeira Carta de Foral (1295)
1. D) LIMITAR O PODER SENHORIAL E ESTENDER O PODER
DO REI
O selo de Santarém (data da Idade Média)
reconhece o poder do rei: a torre central é carregada
das quinas do brasão real.

• Ao criar os concelhos o rei afirma o seu


controlo sobre essas regiões e garante que
não há abusos dos poderes senhoriais.
2. a) DESENVOLVIMENTO DO COMÉRCIO E DO
ARTESANATO
• Através da Carta de Foral, o rei também pode
controlar/promover o desenvolvimento económico da
região:
• Nos séc. XII e XIII, houve uma revitalização do comércio e
existiam muitos mercadores e mesteirais (artesãos) nas
cidades do litoral

• Há ruas das cidades com os nomes dos mesteirais que as povoavam:


(Rua dos fanqueiros (têxteis) de Lisboa)
2. b) COBRANÇA DE IMPOSTOS POR PARTE DO REI.

• Ao conceder a Carta de Foral, o


rei controlava e garantia os seus
direitos fiscais nesse território
EXEMPLO DE FORAL (SINTRA, POR D. AFONSO
HENRIQUES, SÉC. XII)

Incentivo ao desenvolvimento do comércio:


«O mercador de Sintra não pagará portagem em toda a
terra do rei, quer vá vender quer comprar.»
Garantir a cobrança de impostos:
«Os agricultores peões que lavrarem com um só boi
paguem um sexto de trigo e de cevada, e se lavrarem com
dois ou mais entreguem um quarto, entre trigo e cevada,
por alqueire do mercado…
Paguem por ano: o sapateiro 1 soldo, o ferreiro ferre um
cavalo, o mercador e o peleiro 1 soldo cada.»
CONSTITUIÇÃO/ORGANIZAÇÃO DO
CONCELHO
A vila e o arrabalde
OS PODERES CONCELHIOS (A AFIRMAÇÃO DAS ELITES
URBANAS)
OS HABITANTES DOS CONCELHOS
• Os habitantes dos concelhos eram os
VIZINHOS:
- Homens livres que viviam e
trabalhavam há algum tempo na região ou
eram proprietários (de fora as mulheres,
exceto as viúvas, judeus, mouros e
estrangeiros)
(estavam excluídos os clérigos e nobres que
tinham os seus direitos específicos)
OS PODERES CONCELHIOS (A AFIRMAÇÃO DAS ELITES
URBANAS)
A ADMINISTRAÇÃO DOS CONCELHOS
Os concelhos eram administrados pela
ASSEMBLEIA DE VIZINHOS.
Decidia normas (POSTURAS MUNICIPAIS) e
regulamentava questões económicas (uso dos pastos,
exercício dos ofícios, …), de higiene e costumes.

A ADMINISTRAÇÃO DOS CONCELHOS PERFEITOS


Distinguiam-se dos outros pela administração da Pelourinho e paços de concelho de Penamacor (Beira interior)
justiça (o pelourinho é um símbolo) e pela eleição de
magistrados (entre os Homens-bons que pertenciam
à elite do Concelho – proprietários rurais, no norte
interior; comerciantes no litoral sul):
• OS MAGISTRADOS DOS CONCELHOS:
- 2 ou 4 Alcaides ou Alvazis (no sul moçárabe): tinham o
comando;
- 12 Almotacés: supervisionavam atividades económicas,
sanitárias e obras públicas;
- 1 Procurador: tesoureiro e representante do concelho no
exterior;
- 1 Chanceler: cuidava da bandeira e do selo do concelho;
- 2 a 6 Vereadores (não eleitos, mas nomeados pelo rei entre os
vizinhos, a partir do séc. XIV, com o aumento da centralização do
poder): competências legislativas e executivas (sobrepunham-
se à assembleia e restantes magistrados)
OS HOMENS-BONS
(ELITES)
Durante a Reconquista os HOMENS-BONS
foram tão importantes (sobretudo para
defender os territórios) que os reis os fizeram
CAVALEIROS-VILÃOS, servindo a cavalo com
armas de ferro e um séquito de peões.
O rei tratava-os como infanções e tinham
isenções fiscais.
A partir do séc. XIII, estas elites urbanas
passam também a participar nas cortes,
representando as populações dos concelhos.
COMO SE EXPRIMIA A
AUTONOMIA DOS • Ainda que sujeitos aos impostos e
CONCELHOS?
direitos e deveres definidos pelos
reis, os concelhos são autónomos
porque são governados pelos seus
habitantes, através da Assembleia
de Vizinhos e dos Magistrados que
são eleitos pelos vizinhos entre os
homens-bons da terra.
APLICAÇÃO DE CONHECIMENTOS

• Manual
- Pág. 72: 4.
- Pág. 73: 5.
- Pág. 79: 1 e 5.
O PODER RÉGIO
FATOR DA COESÃO INTERNA DO
REINO
A MONARQUIA FEUDAL
• A sociedade feudal em Portugal acabou por ser diferente do resto da
Europa: os senhores tinham poder, mas o rei conseguia ter algum poder
sobre eles.
• Os VASSALOS DO REI não eram muito fortes (não tinham feudos muito
extensos e não eram suseranos nem de muitos vassalos, nem tão pouco
de vassalos fortes. Quando muito, eram suseranos de alguns infanções e
cavaleiros).
• Assim, o rei era o ÚNICO VERDADEIRO SUSERANO FEUDAL – com
vassalos poderosos que lhe eram fieis.
• O REI CONSEGUIU IMPOR-SE AOS PODERES LOCAIS. Em vez de falarmos
em feudalismo, com fragmentação do poder do rei, temos de falar em
SENHORIALISMO (têm poder, mas não tanto como o rei).
A CENTRALIZAÇÃO DO PODER:
(CENTRALIZAÇÃO DOS PODERES PÚBLICOS)
O rei era respeitado porque:
1.º O CHEFE MILITAR foi sempre o rei, principalmente por causa da
Reconquista, pois era necessária a união em torno do chefe para
garantir a força para conquistar e defender terras. Isto fez com que o
respeitassem desde cedo.
2.º Fundamentava o seu poder na DOUTRINA DO DIREITO DIVINO;
3.º O rei era o JUÍZ SUPREMO: com exceção do Clero, que se regia
pelas leis da Igreja, o rei funcionava como um tribunal de apelação – de
“JUSTIÇA MAIOR” (a pena capital e o talhamento de membros só
podiam ser autorizados por ele);
4.º Só os reis podiam CUNHAR MOEDA.
5.º O rei começa a ser o LEGISLADOR SUPREMO: as “LEIS GERAIS”
de Afonso II são para todo o país e combatem, os privilégios senhoriais.
I - O REFORÇO DA AUTORIDADE DO REI
NA ADMINISTRAÇÃO CENTRAL
• A administração central, que era feita pela corte do rei, era constituída
por ALTOS FUNCIONARIOS e por ASSEMBLEIAS
1. OS ALTOS FUNCIONÁRIOS

Para reforçar o poder, os reis apoiam-se


em altos funcionários conhecedores das
leis do direito:
1- ALFERES-MOR: administração militar do reino
(podia substituir o rei na chefia do exército);
2- MORDOMO-MOR: administração civil do reino;
(1.º ministro)
3- VEDOR: Assuntos privados do rei;
4- CHANCELER – Chancelaria redigia os diplomas
régios (legislação)
2. AS ASSEMBLEIAS (DESDE O REI AFONSO III)
a) O Conselho régio ajudava o rei no seu
governo.
Os seus elementos eram versados em leis.

b) As Cortes reuniam para decidir assuntos


mais importantes.
Começaram por reunir só os grupos
privilegiados, mas passaram a ser mais
representativas (a retirar tanto poder aos
senhores) integrando os procuradores dos
concelhos (cavaleiros-vilãos), representantes
do povo.
II - O REFORÇO DA AUTORIDADE DO REI
NA ADMINISTRAÇÃO LOCAL

D. Afonso III fez uma reorganização administrativa


das regiões sob a dependência da coroa:

1. Dividiu o país em comarcas (distritos dirigidos por


oficiais de justiça - Meirinhos) subdivididas em julgados e
em almoxarifados.
2. Aumentou os funcionários régios nos
concelhos, para olharem pelos seus interesses:
• Alcaide-mor, que comandava as tropas e vigiava
as atividades judiciais locais; (militar e justiça)
• Almoxarife e mordomo, que cobravam os
impostos devidos ao rei; (finanças)
• Corregedor (juiz superior) e juízes de fora, que
inspecionavam os magistrados e a administração
municipal; (justiça)
• Vereadores, os novos magistrados, que
interferiam no governo do concelho.
A lenda do Alcaide-mor de Coimbra, Martim de
Freitas
• Após a deposição de D. Sancho II (1209-1248) em
1245, sendo o governo do reino confiado ao seu irmão,
o infante D. Afonso (III), refugiou-se o primeiro em
Toledo, no reino de Castela.
• Reza a lenda que Martim de Freitas, alcaide do Castelo
de Coimbra, fiel a D. Sancho II, a quem prestara
menagem, recusou-se a entregar o castelo ao regente,
mesmo suportando um longo cerco.
• Informado da morte de D. Sancho II (1248), pediu um
salvo conduto e foi certificar-se da notícia. Lá
chegando, aberto o caixão, depositou as chaves do
castelo sobre o cadáver do seu senhor, retirando-as em
seguida para então as entregar ao novo soberano.
A Lenda do Galo e da Galinha (Barcelos)
Entre os Peregrinos que rumavam a Compostela e que subiam
à cidade de Santo Domingo da Calçada para venerar as relíquias do
Santo, chegou um casal com o seu filho de dezoito anos.
A rapariga da pensão onde ficaram hospedados apaixonou-se
pelo jovem mas, perante a indiferença do rapaz, decidiu vingar-se:
colocou uma taça de prata na bagagem dele e, quando os
peregrinos seguiram o seu caminho, denunciou o “roubo” ao
Corregedor da cidade.
As leis puniam com morte o roubo de prata pelo que, após ser
preso e julgado, o Peregrino inocente foi enforcado.
Contudo, quando os pais foram recolher o corpo do filho,
assustaram-se ao ouvir a voz dele a anunciar que Santiago lhe tinha
conservado a vida.
Foram imediatamente a casa do Corregedor e contaram-lhe o
sucedido; ele, obviamente incrédulo, discordou deles e disse até
que “o seu filho estava tão vivo como o galo e a galinha que se
preparava para comer assados no forno.” Nesse instante, o galo e a
galinha saltaram do prato e puseram-se a cantar.
O COMBATE À EXPANSÃO SENHORIAL
MEDIDAS TOMADAS PELOS REIS A PARTIR DO SÉC. XIII, PARA
LIMITAR OS PODERES DO CLERO E DA NOBREZA:

a)Leis de desamortização: impediam os mosteiros e igrejas de adquirirem bens de raiz ou


proibiram as ordens religiosas de herdar bens daqueles que haviam professado votos.
b) Confirmações gerais: reconhecimento ou confirmação dos títulos de posse de terras e
direitos da nobreza e do alto clero, doados pelos antepassados do rei.
c) Inquirições: inquéritos que averiguavam o estado dos reguengos. A constatação de que
houvera inúmeras usurpações obrigou as terras ocupadas a voltarem à propriedade da
coroa.

d) Promoção da autonomia dos concelhos e das elites destes, para contrabalançar o


poder do clero e da Nobreza.
A PROMOÇÃO DAS ELITES URBANAS (PELO APOIO NO COMBATE AOS
PRIVILÉGIOS DOS SENHORIOS)

“ (Bispo do Porto) este pecador escandaloso não era contudo um


monstro: era um homem perdido do vício, cego do poder, corrupto
pela riqueza” (Garrett, num romance de fundo medieval)
Como conseguiu o rei fortalecer o seu poder político?

Reforço do poder real

Luta contra os abusos dos privilegiados: clero


e nobreza

Medidas régias
Confirmações - confirmação dos bens doados aos
senhores e concelhos
Inquirições - inquéritos às terras reais para detectar
abusos
Leis de desamortização - proibição do clero adquirir mais
terras

Hora H 7 Custódio Lagartixa, Helena Sardinha, José Gomes


QUESTÕES DE APLICAÇÃO
• Manual
- Pág. 87: 5 e 6.
- Pág. 91: 2 e 4.
- Pág. 95: 1 e 3.

Hora H 7 Custódio Lagartixa, Helena Sardinha, José Gomes

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