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RESUMOS DE HISTÓRIA

2.1. A fixação do território


2.1.1. A Reconquista

 Religião oficial do Império Romano – cristianismo –símbolo matriz identitária.


 Era impensável: não ter religião: viver fora da igreja, sem o clero; os soberanos não
serem reconhecidos pelo Papa; e não recuperar o solo cristão roubado.
 Portugal nasce como estado independente e fixa as suas fronteiras – reconquista cristã
 D. Afonso Henriques: tornou o condado portucalense no reino de Portugal. Rebelou-se
contra o seu primo, Afonso VII, rei de Leão e Castela, a quem devia obediência e
lealdade como vassalo.
 Conferência de Zamora (1143) – Afonso VII reconhece Afonso Henriques como rei
 Bula Manifestis Probatum (1179) – os reinos ficam desvinculados. Papa Alexandre III
acolheu o reino de Portugal sob a sua proteção, em troca do pagamento de um tributo
anual em ouro.

D. Afonso Henriques 1147- Domínio da linha do Tejo, depois Sintra, Almeida e Palmela.
1158: linha do Sado; 1165: Beja e Évora; 1185: morre.
D. Sancho I (1185-1211) 2 expedições gloriosas ao Algarve; não resistiu aos ataques dos
Almóadas (perdeu tudo a Sul do Tejo, menos Évora)
D. Afonso II (1211-1223) Absorvido no fortalecimento do poder real, ação militar inferior.
Batalha de Novas de Tolosa (1212): Com castelhanos, francos e
aragoneses, tropas avançaram no Alentejo e defenderam a península.
D. Sancho II (1223-1245) Expandiu território no Alentejo e no Algarve Oriental, beneficiando do
incentivo papal à Cruzada contra os Mouros.
D. Afonso III (1248-1279) Conclui-se a conquista do Algarve (49). O Norte cristão acabou com o
Sul islâmico – Reconquista chega ao fim.

2.1.2. Do termo da Reconquista ao estabelecimento e fortalecimento de fronteiras

 Entre o termo da Reconquista (1249) e o estabelecimento definitivo das fronteiras


portuguesas (1297) decorreu quase meio século, graças a vários litígios com o reino de
Castela.
 Em 1252, Afonso X de Leão e Castela reivindicou o ex-reino algarvio Niebla (onde
estava Silves) dizendo que o rei mouro lho havia cedido.
 Para evitar guerra, o Papa interveio com o Tratado de Paz de 1253. Afonso III casou
com Beatriz (D Afonso X) e renunciou, temporariamente, os seus direitos como dono
do Algarve.
 Tratado de Badajoz (1267) – soberania sobre o Algarve. Afonso X transferiu poder
para filho de Afonso III, e Beatriz de Castela, seu neto, D Dinis
 Tratado de Alcanises (1297): entre D. Dinis e Fernando IV de Castela fixaram-se os
limites territoriais dos dois reinos. Portugal desistiu de Aroche e Aracena, Valença e
Ferreira de Alcântara, Espargal e Aiamonte. Recebeu, em troca, Olivença, Campo
Maior, S. Félix dos Galegos, Monforte, …
 Portugal: país europeu com fronteiras mais antigas e estáveis.
2.2. O país rural e senhorial

 A unidade do Império é substituída pela fragmentação em reinos – tinham autoridades


locais e regionais. Senhorios: país rural; Vilas e cidades: país urbano.

2.1.2. Os senhorios: detentores, origem e localização

DETENTORES: Rei – reguengo; Nobres – Honras; Clero – coutos.

ORIGEM: Em Portugal: Reconquista

 Presúria: apropriação das terras vagas por parte do reis, nobres e clérigos.
Considerada um legítimo título de propriedade. (prendere=tomar)
 Doações territoriais: por parte dos reis – criação e ampliação de senhorios.
 Vassalidade: Os monarcas recompensavam os nobres e clérigos que os ajudaram na
guerra e administração do território em troca de estes serem vassalos fiéis: prontos a
segui-los nas lides militares; orar pelos sucessos reais; contribuir financeiramente; e
aconselhando e apoiando as decisões régias.

LOCALIZAÇÃO:

Honras (nobreza) Norte, mais antigas conquistas e Tinham: castelo, torre ou solar – afirmando
doações. o poder do senhor.
Coutos (cleros) Norte, mas mais no Centro e Sul Tinham: mosteiro, Sá Catedral e castelo
(ordens religioso-militares.

 Nos começos do século XIII as terras da Igreja ultrapassavam as de qualquer um.


 Dilatação do território – esforço de Reconquista maior; daí as vastas doações e grande
implantação naquelas partes do território.

2.2.2. O exercício do poder senhorial: privilégios e imunidades

Privilégios

Nobres e clérigos: poderes económicos e dominiais; poderes políticos ou públicos; de


comando militar; de punição judicial; e de coação fiscal – sobre os habitantes do senhorio.

Esses poderes públicos correspondiam ao poder banal (bannus) e tinham como privilégios:

Comando militar Poder de recrutar para a guerra, de controlar castelos/outras fortificações e de


organizar expedições ofensivas.
Punição judicial Exercia a justiça sobre os homens do seu território, determinava as penas (exceto
de morte e corte de membros) e cobrava as multas.
Coação fiscal Podia exigir uma variedade de pagamentos obrigatórios (impostos) – ex:
banalidades pelo uso do forno, moinho e lagar; entrada na área do senhorio.

Imunidades – Como o senhor exerce o poder público, os funcionários régios ficavam


impedidos de nele exercer as funções militares, judiciais e fiscais.

A obtenção da mesma fez-se através:


 Da concessão de uma carta de couto (“território coutado” é “imune”). Como a maioria
destas cartas foram atribuídas à Igreja, a palavra couto vulgarizou-se para designar os
senhorios eclesiásticos.
 Da doação de terras e poderes públicos a nobres: nobreza – honras. Consideravam-se
honrados, daí o nome honras.
 Do exercício abusivo do poder público pelos senhores em terras da Coroa (bens
reguengos), de que se apoderavam ou em terras de lavradores (herdamentos).
 Amádigo (1 dos abusos): criação de uma honra colocando o filho de 1 nobre a residir
temporariamente na casa de um lavrador.

2.2.3. A exploração económica do senhorio

 Domínios senhoriais: tinham campos de cereais, vinhas, pomares, pastos, bosques.


Centro e Sul: ocupavam superfícies extensas e contínuas; Norte: parcelas territoriais
dispersas e de menor dimensão.

Domínios da nobreza: tinham uma reserva – quintã; e unidades de exploração arrendadas – casais/vilares.

Quintã: morada do senhor, estábulos, celeiros, Exploração dos casais: contratos de


fornos, moinhos e lagar – a exploração cabia aos arrendamento/aforamento entre senhores e
escravos, servos e colonos livres dos casais – serviços colonos/caseiros; podiam ser perpétuos ou
gratuitos e obrigatórios, por um certo nº de dias por abranger 2 ou 3 gerações. As rendas podiam ser
ano – jeiras. fixas ou contemplar uma fração das colheiras.

 Nos domínios eclesiásticos os cleros optavam pela exploração direta da reserva –


granja. Para além das rendas cobradas aos caseiros, cobravam também a dízima (10%
da produção). Toda a gente devia a dízima à Igreja.

2.2.4. A situação social e económica das comunidades rurais dependentes

 Dependentes (controlados pela nobreza e pelo clero – exigiam tributos e prestações)


 Séc. XIII: aas comunidades rurais dependentes assistiram a um agravamento da sua
situação social e económica.

Herdadores Isentos de pagamento de direitos dominais – cobrança de direitos senhoriais pelos


(proprietários de senhores ou pelo rei.
terras - alódios)
Colonos/caseiros Homens livres que trabalhavam em terra alheia.
(foreiros, malados, Viram, desde o séc. XIII, os contratos a prazo ganharem forças sobre os perpétuos,
vilãos) misturando-se as prestações dominiais com novas imposições (cariz senhorial).
Servos – descentes Foram-lhes entregues casais para exploração e viviam sobrecarregados com as
de escravos jeiras, não podendo abandonar as terras onde viviam (foram ficando parecidos com
libertos os colonos)
Escravos Empregues nos trabalhos domésticos, no artesanato e na agricultura (nº aumentou
com a reconquista.
Assalariados Viviam do aluguer do seu trabalho, muito numas épocas e pouco noutras
(cabaneiros, moços da lavoura, caçadores, pastores)

Direitos dominiais: Exploração económica do solo arrendado - rendas e jeiras.


Direitos senhoriais: Obrigatoriedade de servir o senhor na guerra e lhe pagar multas judiciais e
banalidades
2.3. O país urbano e concelhio

2.3.1. A multiplicação de vilas e cidades concelhias

 O mundo senhorial e rural foi complementado com um país urbano de vilas e cidades
concelhias – que impulsionaram o desenvolvimento do reino.
 Quando Portugal se afirmou como um reino independente, vivia-se uma conjuntura
europeia favorável ao renascimento urbano – resultava do fim das invasões,
recuperação demográfica, reanimação do comércio, do desenvolvimento do
artesanato e, consequentemente, do crescimento das cidades em número e área.

Quando e como se afirmaram as cidades e vilas no reino de Portugal?

1º: A ação da No seu avanço de Norte para Sul, ocasionou a integração de territórios muçulmanos com
própria marcadas características urbanas. Deve-se aos moçárabes: cristãos que transmitiram o
reconquista legado muçulmano, merecendo particular destaque as instituições e o urbanismo, as
técnicas agrícolas, artesanais e comerciais e a própria expressão artística – Foram
preservadas as crenças das urbes moçárabes.
2º: A Impulsionou a transformação de alguns agregados populacionais em urbes de maior
presença da importância e dimensão. As mudanças e deslocações da corte régia incrementaram o
corte régia prestígio dos centros populacionais onde esteve, que se sentiam + poderosos e
esclarecidos diante do mundo rural.
3º: A presença Ser sede de bispado ou sede episcopal, e de possuir uma Sé Catedral (condições
permanente necessárias para receberem o nome de cidade) – Portugal só tinha 9 cidades (onde os
de um bispo bispados se extinguiram com o domínio muçulmano e voltaram com a reconquista)
4º: Os seus habitantes dispunham de uma significativa capacidade para administrar os
Instituição assuntos comunitários e de isenções fiscais e militares. Fazia-se através da carta de foral,
de concelhos concedida pelo rei – quando a pop. era um bem reguengo; por um nobre/eclesiástico –
perfeitos/urb senhorio. Localizavam-se, maioritariamente, na Beira interior, na Estremadura e no
anos Alentejo, onde havia a necessidade de atrair defensores, e onde os monarcas e senhores
abriam mão do seu poder (guerra)
5º: Os mercadores europeus contribuíram para o dinamismo de centros urbanos – onde se
ressurgimento afirmou um grupo de mercadores empreendedores com capacidade para dinamizar o
comercial do artesanato local e para promover a expansão da produção agrícola nos territórios
Ocidente adjacentes.
medieval XII.

Os mesteirais: Nos centros urbanos, havia um grupo socioprofissional encarregado dos


ofícios/mesteres artesanais – mesteirais. Eram tecelões, tintureiros, sapateiros, curtidores
(curtir peles- tratar), ferreiros, ourives, pedreiros, carniceiros, padeiros, tanoeiros –
agrupavam-se por ofício. (ao contrário dos meios rurais, onde as tarefas do artesanato
competiam aos camponeses.)

2.3.2. A organização do espaço citadino

 A cidade medieval caracterizava-se pela topografia desordenada e labiríntica e pela


atmosfera sombria, fosse o seu urbanismo cristão (Norte) ou muçulmano (Sul e
Centro).

O espaço amuralhado/ O arrabalde/ O termo

O • A cidade medieval portuguesa destacava-se por estar envolta numa cintura de muralhas.
espaço A muralha delimitava o espaço urbano, dava-lhe segurança, rendimentos (portagens) e
amura embelezava-a. Tinha torres (cubelos) e ameias; a muralha abria-se através das portas e postigos,
lhado que se fechavam à noite.
• Nos séculos XIII, XIV, XV, o crescimento demográfico e as movimentações populacionais ditaram
a construção de novas muralhas – os arrabaldes.
• Núcleo central – habitado pelos dirigentes e pelas elites locais, onde estavam instalados os
poderes político, religioso e económico; Coincidia com: a zona do castelo – residia o alcaide; e a
praça principal – onde se encontrava a Sé ou igreja, o paço episcopal, os paços do concelho, as
moradias dos mercadores abastados e era onde se realizava o mercado, no rossio.
• Fora dos centros, as urbes medievais espraiavam-se num dédalo de ruas tortuosas – raramente
calcetadas, fétidas, escuras e poeirentas – despejos a céu aberto, cães e porcos focinhavam, havia
a ameaça de epidemias. Habitações populares, oficinas dos mesteirais, …
• Nos séculos XIII e XIV abriram-se as Ruas Novas e as Ruas Direitas – mais largas que o habitual,
onde se implantaram as melhores lojas e oficinas.
O • Localizava-se fora de muros e transformou-se num prolongamento da cidade/vila.
arraba • Um certo ar de marginalidade afetava o arrabalde. Era lá que se realizavam as atividades menos
lde limpas e onde as minorias étnico-religiosas, os mendigos e os leprosos eram metidos. Ordens
mendicantes instalaram-se nos arrabaldes desde o século XIII – franciscanos e dominicanos
desempenharam com êxito a sua missão de assistência e proteção aos humildes e desenraizados.
O • Cada urbe possuía o seu termo, território ás vezes espalhado por dezenas de km, que incluía
termo aldeias, vinhas e searas. Sobre ele, a cidade/vila concelhia exercia a jurisdição, impondo obrigações
fiscais, militares e judiciais. Quanto maior o termo, maior a riqueza da urbe em proventos
agrícolas, disponibilidade de mão de obra, animação comercial e capacidade de defesa.
• O prestígio e a abastança dos termos eram de tal ordem que os monarcas o alargavam ou
encurtavam-no se desejassem agraciar/castigar as cidades.

As minorias étnico-religiosas

 Não faltaram, na cidade medieval portuguesa, as minorias étnico-religiosas: os judeus


e os mouros vencidos – ambas sofreram discriminação.
 Judeus: muitos eram mesteirais; houve também médicos., astrónomos, mercadores,
prestamistas, cobradores de rendas, tipógrafos e impressores. Mais letrados que os
cristãos, mais abastados, embora houvessem alguns muitos humildes – viviam todos
em bairros próprios – judiarias.
 Durantes séculos a sociedade portuguesa tolerou judeus e até os recebeu dentro das
muralhas. Em finais do século XV a convivência dos 2 rompeu-se, quando um Édito de
D. Manuel (1496) determinou a expulsão dos judeus, os que ficaram no reino tiveram
de se converter – cristãos-novos.
 Comunidade mourisca: não foi senhora de nenhuma abastança como a dos judeus.
Foram afastados para bairros próprios – as mourarias – no arrabalde. Em 1496, como
os judeus, foram condenados à expulsão.

2.3.3. O exercício comunitário de poderes concelhios; a afirmação política das elites urbanas

 Instituição de concelhos – carta de foral – ajudou a urbanidade do território


português. Concelhos prefeitos/urbanos – privilégios fiscais e judiciais e grande
autonomia administrativa. Compreendiam a cidade/vila, sua sede, e as aldeias
abrangidas pelo respetivo termo.

A sociedade concelhia
Vizinhos Homens livres, maiores de idade, que habitavam a área concelhia há um certo tempo.
Excluíam-se os nobres/clérigos (a não ser que abdicassem dos seus privilégios e se
submetessem às leis comuns), as mulheres (menos as viúvas), os judeus, mouros,
estrangeiros, servos e escravos.
Mais Proprietários rurais e Até séc. XIII, tiveram um papel fundamental na reconquista e defesa
abastados donos de razoáveis do Sul, foram promovidos a cavaleiros-vilãos: serviam na guerra a
cabeças de gado no cavalo, com as suas armas de ferro e seus séquitos de peões
interior; litoral – Mereciam um tratamento judicial reservado a nobres inflações (sem
fortuna provinha do açoites); não pagavam impostos). Constituíam uma elite social – os
comércio marítimo. homens-bons.
Sem posses que lhes permitisse sustentar um cavalo. Trabalhavam na agricultura, nos
Peões mesteres, na pesca, no pequeno comércio.

A governação do concelho

 Eram os vizinhos (cavaleiros-vilãos e pões) que cabia a administração do concelho –


administração comunitária, distinta da do senhorio, pertencia a um único titular.
Integravam a Assembleia dos Vizinhos (grande órgão deliberativo do concelho).
 As deliberações concelhias (posturas e costumes) regulamentavam: questões
económicas relacionadas com a distribuição de terras; o aproveitamento dos pastos e
bosques, o exército dos mesteres, o abastecimento dos mercados e o tabelamento dos
preços. Não se descuravam, também, os preceitos de higiene; a concórdia entre os
habitantes; e os deveres das minorias étnico-religiosas.

Eleitos Magistrados: encarregues da Alcaide-menor; Mordomo; Almotacés;


pela defesa, fazer cumprir posturas Procurador; Chanceler (responsável
Assembleia e costumes locais e exercer a pelo selo); Saiões e porteiros.
justiça.
Eleitos Magistrados que Alcaide-maior; Mordomo; Almoxarife;
pelo rei superintendiam na Meirinhos; Corregedores; Vereadores;
administração concelhia Juízes de fora.

2.4. O poder régio, fator estruturante da coesão interna do reino

2.4.1. Da monarquia feudal à centralização do poder

 A realidade geopolítica era, em Portugal, na época medieval, a de um reino composto


por senhorios e concelhos, uns e outros dotados de imunidades, privilégios e
autonomia administrativa. Ao rei e á monarquia cabia o papel de respeitar esses
particularismos senhoriais e concelhios, e unificá-los de forma a que houvesse uma
coesão interna.
 A monarquia dos 1º tempos da independência portuguesa é uma monarquia feudal. O
rei considerava-se um senhor, o mais alto senhor, o proprietário do reino que,
juntamente com o título, transmitia o reino ao filho primogénito (como bem pessoal).
 Os monarcas recompensavam os nobres efetuando largas doações por considerarem
precisamente o reino um bem pessoal e não público. Desta forma, a realeza criou uma
corte de vassalos – devia-lhe fidelidade e apoio nas tarefas de defesa, expansão do
território e administração do reino.
 Apesar dos privilégios e imunidades dos senhores, a monarquia portuguesa não correu
perigo de enfraquecimento e desagregação.
Dada a fraca capacidade da nobreza para sustentar séquitos de vassalos, só o rei foi
considerado o único e verdadeiro senhor feudal, para quem se convergiam
diretamente todas as dependências vassálicas.

A centralização do poder: defesa, justiça, legislação e fiscalidade

 Desde cedo a monarquia caminhou para a centralização do poder. Os monarcas


sempre basearam o seu poder na doutrina do direito divino, consideravam-se os
representantes de Deus na Terra. Intitulavam-se reis por “graça” ou “clemência” de
Deus e assumiram o papel de órgão máximo de poder público – concentravam em si as
mais altas funções militares, judiciais, legislativas e fiscais.
 Só ao rei competia a chefia militar na guerra contra inimigos externos – esta vasta
competência militar contribui muito para o fortalecimento do poder real e relacionou-
se com as circunstâncias em que o reino de Portugal nasceu e cresceu – luta pela
independência e a Reconquista.
 O rei assumiu-se como responsável máximo pela manutenção da paz e da justiça
internas (recebendo o poder de Deus). Coube-lhe: o controlo de todas as formas de
abuso e violência, o direito de julgar os nobres, a função de juiz supremo e o exercício
do justiça maior (permitiu-lhe condenar à morte/talhamento de membros).

 Desde 1211, reinava Afonso II, a monarquia portuguesa assumiu o exclusivo da


legislação suprema; Leis gerais: pretendiam um poder régio fortalecido, capaz de se
sobrepor aos particularismos e poderes locais (o reino assumir-se-ia a um todo nacional)
 Essas leis destinavam-se a combater os privilégios senhoriais (direito de vindicta dos
nobres); a recuperar o património e os poderes da Coroa (inalienáveis e indivisíveis); a
questões monetárias (cabia apenas ao rei a cunhagem da moeda e a sua manipulação);
á moral e os bons costumes.
 Fiscalidade: empenhada na cobrança dos direitos da realeza.

2.4.2. A reestruturação da administração central

 Apesar da capital ser em Lisboa (desde Afonso III), a corte régia portuguesa deslocava-
se pelo reino na época medieval, para melhor se inteirar dos problemas e exercer a
governação. O rei e a corte eram acompanhados de funcionários e assembleias, que
compunham a administração central.

O funcionalismo

 Altos funcionários (desde D. Afonso Henriques): alferes-mor, mordomo-mor e o


chanceler.

Alferes-mor Mais alto posto da hierarquia militar; transportava o pendão real (sem o
rei chefiava o exército)
Mordomo-mor Superintendia na administração civil do reino; coadjuvado pelo dapífero
para assuntos privados do monarca.
Chanceler Redação dos diplomas régios e a guarda do selo real (tinha
conhecimentos superiores e cultura jurídica)
 Centralização do poder régio + direito romano + impulsionada por D. Afonso III =
acréscimo da produção documental e o reforço dos poderes da chancelaria régia. O
chanceler tornou-se numa personalidade indispensável na adm. do reino (com vários
funcionários: notários e escrivães).

A Cúria Régia: órgão que exercia um papel de proximidade aos monarcas (aconselhando em
questões militares, económicas e judiciais. (ex: declaração de guerra/paz; lançamento de
tributos e desvalorização da moeda; e julgamento de nobres, …)

 Composta por: membros da corte régia (rainha, irmão e tios do rei, ricos-homens e
prelados que o seguiam permanentemente); os altos funcionários (atrás referidos) e o
alcaide da cidade onde a corte se instalasse.
 Quando os assuntos a tratar revestiam uma dimensão nacional, era convocada pelo
monarca uma Cúria extraordinária (onde se acrescentavam á Cúria ordinária: bispos de
várias dioceses, os abades das principais comunidades monásticas, os alcaides das
cidades, os membros da mais alta nobreza e os mestres das ordens religioso-militares).
 Resultavam dos concelhos da Cúria Régia importantes resoluções (ex: 1ª Cúria Régia
extraordinária, realizada em Coimbra em 1211, onde se elaboraram as primeiras Leis
Gerais – tirar poder á nobreza e ao clero).
 D. Afonso III: alterações na Cúria Régia, evoluiu para um Concelho Régio e para as
Cortes. Criaram-se os tribunais superiores, aos quais ficaram reservadas as funções
judiciais (antes da Cúria Régia).

O Concelho Régio e as Cortes

Concelho Régio Para aconselharam o monarca os membros necessitavam de uma


preparação vastíssima em matéria jurídica. Por isso os monarcas
recrutavam os seus concelheiros privados de entre os legistas prezando
a sua opinião sábia e a sua competência técnica (ex: Pedro Hispano,
futuro Papa, e o mestre João de Deus).
As Cortes Eram mais representativas. Compreendiam elementos do clero secular
(1ªAssembleia em e regular, das ordens religioso-militares, dos ricos-homens e outros
Leiria em 1254) fidalgos e os procuradores dos concelhos das cidades e vilas.
 Os três estados do reino estavam representados nas Cortes – dando-lhe uma
dimensão nacional.
 Deles o rei ouvia queixas, pedidos e concelhos (abusos dos senhores, inconvenientes
de novos tributos e da desvalorização monetária, …) e com base nelas as decisões
régias eram tomadas.

2.4.3. A reestruturação da administração local

 Como chefes supremos do reino, os monarcas superentendiam na


administração local (reguengos dependentes da Coroa, concelhos, senhorios
– não ameaçavam o poder real).
 D. Afonso III dividiu o reino em comarcas, subdivididas em julgados e estes
em almoxarifados, onde funcionários designados por ele cobravam rendas
fundiárias e zelavam pelos direitos militares, judiciais e fiscais devidos à
Coroa.

2.4.4. O combate à expansão senhorial e a promoção política das elites urbanas

 O controlo exercido sobre o poder local levou a realeza a combater os abusos do


poder senhorial
 Desde D. Afonso II, os monarcas deixaram de tolerar o crescimento desenfreado da
propriedade nobre e eclesiástica (especialmente os clérigos que acumularam inúmeras
posses através de compra, hereditariamente ou como oferta).
 Muitos nobres e eclesiásticos se serviam de estratagemas fraudulentos para
expandirem os seus bens: convertendo propriedades do rei (reguengos) e de
herdadores (alódios) em honras e coutos. (Afigurava-se inadmissível na centralização
de poder ampliar as propriedades senhoriais)
 Leis dos séculos XIII e XIV de carácter antissenhorial:

Leis de Proibiram os mosteiros e as igrejas de comprarem bens de raiz, de os herdarem e de aceitarem


Desamortização doações de particulares. Evitava-se assim a fuga ao fisco de bens que, uma vez na posse do
clero, eram considerados “mortos” para os cofres régios, dotados de imunidade.
Confirmações Representaram o conhecimento pelo rei dos títulos de posses de terras e direitos da nobreza e
Gerais do alto clero, doados pelos predecessores. Os senhores eram assim consciencializados de como
muitos dos seus bens podiam regressar à Coroa.
Inquirições Averiguavam a natureza das propriedades, se eram efetivamente imunes ou se havia direitos e
rendas devidos ao rei. Permitiam descobrir que os fidalgos, as ordens religioso-militares, os
bispos e os abades haviam cometido inúmeras usurpações e abusos.

Resistências

 Não foi nada fácil aos monarcas implementarem a legislação antissenhorial.


Encontraram poderosas resistências, tendo a luta adquirido contornos violentos.
 Os senhores prestavam falsas declarações dizendo que as terras averiguadas sempre
haviam sido imunes. Caso eles não acreditassem e insistissem na cobrança dos direitos
régios, eram expulsos ou assassinados.
 Frequentemente, os prelados e bispos queixavam-se ao Papa do rei de Portugal
atentar contra a liberdade da Igreja – contavam-lhe que os oficiais régios lhes
cobravam direitos e que eram ameaçados com o julgamento em tribunais canónicos e
a isenção do serviço militar.

D. Afonso II e Penderam-lhes as excomunhões (não podiam entrar na Igreja) e interditos (toda a comunidade fiel
D. Dinis estava proibida de celebrar a missa e administrar os sacramentos do Reino),
D. Afonso II e Arrependeram-se à hora da morte.
D. Afonso III
D. Sancho II Foi deposto pelo Papa Inocêncio IV

O apoio dos concelhos

 No seu combate à expansão senhorial, os monarcas contaram com o apoio dos


concelhos (na Corte desde 1254).
 Ex: O Porto dos sécs. XIII e XIV, sempre em luta com as prepotências do bispo,
acolhiam de braços abertos o rei que, por eles, tomava partido. Para a realeza era a
oportunidade de cercear os privilégios do coto episcopal.
 Num dos conflitos, D. Afonso IV consegui7u para o Porto o estatuto de concelho
perfeito (permitia á cidade nomear os seus juízes e usufruir de autonomia judicial).
 Promoção de elites urbanas – meio de os monarcas premiarem os concelhos que os
apoiavam na recuperação do poder real.
2.4.5. A afirmação de Portugal no quadro político ibérico

No longo reinado de D. Dinis os progressos da centralização atingiram um ponto alto.

 A administração central mostrou-se rigorosa na cobrança de rendas e foros da Coroa e


no exercício da justiça maior e da apelação que só ao rei competia;
 O poder senhorial foi combatido. As relações com a igreja normalizaram-se, o clero
aceitou as leis de desamortização através da Concordata dos 40 Artigos, não
abdicando dos seus bens e do direito de ser julgado nos tribunais católicos;
 As fronteiras terrestres ficaram definitivamente fixadas. Fortificaram-se vilas,
construíram-se/repararam-se castelos, concederam-se forais, protegeram-se os
concelhos;
 Expandiu-se a superfície cultivada e a população de pequenos agricultores.
Incrementaram-se as feiras e o comércio externo, organizou-se a marinha de guerra. A
firmeza da moeda atestava a prosperidade material e financeira do reino.
 Dignificaram-se as letras ou não fosse o rei trovador, o português tornou-se na língua
oficial dos documentos da chancelaria régia, criou-se a 1ª universidade portuguesa,
expandiu-se a arte gótica.

O prestígio da monarquia portuguesa atravessou fronteiras: no contexto político ibérico o rei


de Portugal merecia o maior respeito. (ex. Tratado de Alcanises)

o Com a Coroa de Aragão estreitaram-se os laços. O monarca português casou com a


filha do rei de Aragão. Aragão evidenciava-se como grande potência económica na
área do Mediterrâneo, exercendo papel de 1º plano na diplomacia peninsular.
o Foi solicitado a Afonso IV que apoiasse Castela contra os muçulmanos de Marrocos
que ameaçavam a península.
o Batalha do Salado (1340): as forças castelhanas e portuguesas venceram as hostes
muçulmanas.

Portugal afirmava-se entre os grandes. Ao findar o século XIV, em plena crise de 1383-85, a
glória de Portugal sobressaiu no campo de Aljubarrota (1385) e garantiu a independência
nacional.

O rei português D. João I casou-se com a filha do duque de Lencastre, D. Filipa, em 1387,
selando a mais antiga aliança, ainda em vigor, entre Portugal e Inglaterra, o Tratado de
Windsor.

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