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Exercícios 10 ano

GRUPO I PORTUGAL NOS SÉCULOS XIII E XIV: SOCIEDADE, ECONOMIA E


PODER POLÍTICO
Queixas dos procuradores dos concelhos nas Cortes de Lisboa (1371)

Nós, D. Fernando, pela graça de Deus rei de Portugal e do Algarve, [...] desejamos [...]
que cada um viva seguro e regrado, com direito e justiça; para isto fizemos nossas
Cortes, nas quais foram juntos os infantes nossos irmãos e bispos e abades e prelados e
condes e priores e mestres das ordens das cavalarias e ricos-homens e fidalgos e
também muitos e mui bons cidadãos das cidades e vilas, os quais mandámos vir a estas
Cortes para termos acordo e conselho [sobre como] corrigir e melhorar o estado dos
Reinos e para nos dizerem os agravos [praticados] por nós, pelos nossos oficiais ou por
outros poderosos. [...]
E nós [...], tendo conselho com os da nossa corte e com letrados e entendidos,
respondemos em cada artigo.
1.º – Pedem-nos que, daqui em diante, o rei não faça guerra nem moeda nem outra coisa
que possa causar dano à nossa terra, salvo com o conselho dos cidadãos e naturais [...].
Respondemos que queremos chegar a acordo convosco sobre isto. [...]
4.º – Dizem que mandamos comprar vinhos e outras mercadorias e que não as
mandamos pagar [...], o que não é próprio de rei. E pediam-nos que mandássemos pagar
o que comprámos, e que daqui em diante fizéssemos o mesmo. [...]
13.º – Dizem que os grandes homens da nossa terra, cavaleiros e fidalgos e corregedores
[...] mandam comprar mercadorias. E as mandam vender, o que não pertence a tais
pessoas fazer. E que por esta razão tiram o mantimento a mercadores e a outras pessoas.
[...]
22.º – Dizem que a nossa terra é prejudicada porque, quando temos guerra [...], obrigam
os cidadãos e seus lavradores ao serviço militar e ficam as terras despovoadas e
danificadas. [...] E pediam-nos [...] que tais pessoas sejam dispensadas desse serviço
[...].
24.º – Dizem que os reis nossos antepassados, vendo que os clérigos se apoderavam de
muitas terras que compravam, em prejuízo dos nossos direitos e dano dos nossos povos,
proibiram que o fizessem [...]. E que agora eles procedem em engano da lei [...].
Respondemos e mandamos que se respeite a dita lei [de desamortização].
44.º – Dizem que, em muitos lugares, clérigos e fidalgos compram e vendem
mercadorias, e não toleram a ingerência dos almotacés [...], nem querem pagar sisas,
alegando que são privilegiados e ameaçando com excomunhões. [...] Respondemos e
mandamos que as nossas justiças lho não consintam. [...]
51.º – Dizem que alguns lavradores e guardadores de gado [...] fizeram-se mercadores e
almocreves, e deixaram de lavrar e criar. Pediam-nos que mandássemos que cada um
conservasse o seu ofício [...], como foi mandado por nosso pai [...].
54.º – Pedem-nos que se regulem os altos salários exigidos pelos camponeses [...], de
modo a que tenham mantimento e os lavradores possam ter quem os sirva [...].
95.º – E porque também os reis nossos antepassados costumavam fazer as suas Cortes
muito raramente, sendo a emenda do mal feita muito tarde, [...] pediam-nos que
ordenássemos nossas Cortes de três em três anos.
1. As Cortes eram assembleias que
(A) aconselhavam o rei em assuntos como a guerra e a desvalorização da moeda.
(B) deliberavam acerca de assuntos como a justiça e a cobrança de impostos.
(C) reuniam em Lisboa sempre que necessário, por iniciativa da Cúria Régia.
(D) reuniam em Lisboa periodicamente, por iniciativa dos representantes dos concelhos.

2. A posição dos procuradores dos concelhos sobre a compra e venda de mercadorias


por «grandes homens da nossa terra, cavaleiros e fidalgos e corregedores» (linha 16)
refletia a
(A) defesa da minoria moura, que se consolidou após a Reconquista e que exercia a
atividade financeira.
(B) proteção dos mesteirais, que emergiram com o surto urbano e cuja principal
atividade era o comércio.
(C) crítica à concorrência do clero e da nobreza, cujo estatuto social assentava na posse
da terra e nas funções religiosas e político-militares que exerciam.
(D) discordância relativamente às funções dos almotacés, funcionários de cada concelho
responsáveis pela vigilância de pesos, medidas e preços.

3. A promulgação de leis de desamortização (linha 25) contribuiu para o reforço


(A) do património do clero, ao possibilitar o crescimento das suas propriedades.
(B) da autonomia dos concelhos, ao definir os direitos e deveres das populações.
(C) dos direitos senhoriais, ao regular a sua aplicação nos domínios.
(D) do poder real, ao limitar o crescimento das propriedades eclesiásticas.

4. Os problemas económicos do país, segundo o documento, decorriam


(A) do atraso das técnicas agrícolas e do sistema de organização da propriedade.
(B) dos baixos salários pagos aos camponeses e dos tributos que lhes eram exigidos.
(C) da falta de mão de obra nos campos, devido à guerra e à atração pelo comércio.
(D) dos preços baixos dos produtos, devido à emissão e à desvalorização da moeda.

GRUPO II

PORTUGAL – O PAÍS URBANO E CONCELHIO NOS SÉCULOS XIII E XIV


Carta de Feira de Vouzela (1393)

D. João I, pela graça de Deus rei de Portugal e do Algarve, a vós juízes e concelho e
homens-bons do julgado de Lafões, saúde.
Sabei que os moradores do burgo de Vouzela nos mandaram dizer que el-rei D. Dinis,
nosso bisavô [...], querendo fazer graça e mercê aos moradores do dito lugar, lhes dera e
outorgara privilégio em que ele mandava que houvesse no dito lugar uma feira franca
em cada ano e outorgara certos privilégios àqueles que à dita feira viessem [...]. [No
entanto,] por causa das guerras e da grande crise e pobreza que se seguiram, há muito
tempo que não se realizava a dita feira nem dela se tirava proveito. E mandaram-nos
pedir por mercê que lhes outorgássemos a dita feira.
E nós, vendo o que nos disseram e pediram e querendo fazer-lhes graça e mercê,
porquanto o dito lugar de Vouzela é o melhor e o mais honrado lugar desse julgado, por
ser mais povoado e porque é ponto de passagem de muita gente, temos por bem e
outorgamos que possam aí fazer a dita feira em cada ano, no primeiro dia de agosto, a
qual mandamos que dure oito dias; e que a dita feira e aqueles que a ela vierem tenham
os privilégios, as liberdades e as isenções que têm as feiras francas de Viseu, de
Trancoso e da Guarda, que se fazem por dias certos em cada ano.
E, para a dita feira ser melhor e mais honrada e os que a ela vierem acharem onde
colocar as tendas para as suas mercadorias, mandamos-vos que, com os bens desse
concelho, mandeis aí fazer, no rossio, ao lado do paço do concelho que mandámos
fazer, dois bons alpendres grandes, um numa parte e outro na outra parte da praça, em
que se vendam as ditas mercadorias. E também nos foi dito que se pode fazer no dito
rossio um chafariz, para os animais beberem, que pode ser abastecido com a água de um
rio que aí existe e que é do concelho.
E, para a dita feira ser mais honrada e para aqueles que a ela vierem terem, perto de si,
onde dar água aos seus animais, mandamos que façais o dito chafariz e que sejam
abertos canais para ter abundância de água. E, se não houver bens e rendas do concelho
para que isto se possa fazer, mandamos-vos e permitimos que lanceis para isso
contribuições extraordinárias sobre todos os moradores desse julgado, do mesmo modo
que nós vos mandámos fazer para a construção do paço do concelho.

1. A confirmação da concessão régia de uma carta para a realização de «uma feira


franca em cada ano» (linhas 5-6), em Vouzela, justificava-se
(A) pelo desejo de fomentar o mercado externo e de favorecer a integração do país nas
rotas do comércio europeu.
(B) pela vontade de desenvolver os domínios senhoriais e de diversificar as fontes de
rendimento das ordens privilegiadas.
(C) pela necessidade de aumentar a receita fiscal da Coroa e para limitar o crescimento
dos homens de negócios.
(D) pela intenção de proteger os interesses dos mercadores portugueses e pela
proximidade aos eixos de comunicação terrestres.

2. Na organização do espaço urbanístico de Vouzela, o «rossio» (linha 19), onde se


realizava a feira, localizava-se
(A) no centro, dentro do espaço amuralhado, onde estavam instalados os principais
núcleos do poder religioso, político e económico.
(B) no arrabalde, fora do espaço amuralhado, onde residia a comunidade mourisca,
responsável pelo dinamismo económico do burgo.
(C) no termo, onde se localizavam as habitações dos mercadores abastados da cidade.
(D) na judiaria, onde os residentes comercializavam os seus excedentes agrícolas.

3. No quadro da construção do Portugal medieval, os concelhos, como o de Vouzela,


eram
(A) senhorios onde o clero gozava de isenção judicial, fiscal e militar.
(B) propriedades obtidas através da presúria e pertencentes ao rei.
(C) comunidades populacionais detentoras de autonomia administrativa.
(D) domínios onde os nobres tinham poder sobre a terra e sobre os homens.

4. Nos séculos XIII e XIV, a política régia de criação de concelhos tinha por objetivo
(A) o controlo e a averiguação do estado dos bens do rei e dos bens da Coroa.
(B) o incremento dos impostos senhoriais sobre as comunidades dependentes.
(C) o povoamento e o desenvolvimento económico de regiões do interior.
(D) o fortalecimento das relações hierárquicas de vassalidade entre a nobreza
GRUPO III

PORTUGAL NOS SÉCULOS XIII E XIV – O PAÍS RURAL E SENHORIAL NO


CONTEXTO DA FIXAÇÃO DO TERRITÓRIO
Confirmação da doação do castelo de Aljustrel à Ordem de Santiago – carta de D.
Afonso III (1255)

Em nome da santa e indivisa Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, ámen.


Visto que os atos dos homens podem, às vezes, cair no esquecimento, se não forem
registados por escrito, eu, Afonso, pela graça de Deus rei de Portugal e conde de
Bolonha, com a minha esposa, a rainha D. Beatriz, filha do ilustre rei de Castela e Leão,
por meu beneplácito e com o consenso da minha Cúria, faço carta de doação, com
validade perpétua, à ordem militar de Santiago, a vós mestre D. Paio Peres Correia, a D.
Gonçalo Peres, comendador dessa ordem em Portugal, e a todos os conventos da dita
ordem, do meu castelo de Aljustrel e dos seus termos, a saber:
A começar pela foz do ribeiro de Cobres e daí até à sua cumeada; e daí como quem vai
diretamente até à serra donde correm as águas para Oeiras e para Torredanos; e daí
como quem vai até à Alcaria das Alpertinas; e daí como quem vai até às Alcarias dos
Bois; e daí como quem vai até aos cumes do Ameixial; e daí como quem vai até aos
cumes de Benelga; e daí aos Açougues de Benazeval; e daí pela escarpa de Torgala; e
daí ao Esteiro do Comendador, como entra no rio Mira, e pelo meio do rio como entra
no mar; e na direção de Évora, pelo mosteiro de Odivelas que está sobre a Arrancada de
D. Henrique; e de Aljustrel até ao dito mosteiro de Odivelas e daí diretamente até à dita
foz do ribeiro de Cobres; e os termos do dito castelo de Aljustrel estendem-se por uma
légua nesse caminho, na direção de Beja, e juntam-se, do dito mosteiro de Odivelas até
ao mar, com os termos de Alcácer.
Dou e concedo-vos, a vós e aos vossos sucessores, o supradito castelo de Aljustrel com
os seus termos, já mencionados, com os montes, as fontes, as pastagens, as minas de
ferro e as áreas de pesca, com todos os seus direitos de portagem e com todos os direitos
reais que eu aí tenho e devo ter, por direito hereditário para sempre, exceto as minas de
ouro e os banhos termais. Destas minas e banhos dou-vos a décima parte de tudo o que
daí vier a receber.
E faço isto para a salvação da alma de meu pai, da minha e da de minha mãe e da de
meus parentes. E pelo muito bom serviço que prestastes e continuais a prestar a mim e
ao reino.
Quem respeitar este meu ato, realizado por bem e por misericórdia, seja bendito. E se,
por acaso, o que não aconteça, alguém atentar contra este meu ato, tal não lhe seja
permitido, mas por essa só tentação seja amaldiçoado por Deus e condenado ao inferno
como Judas traidor e seja para sempre separado de Deus, ámen.
E para que este meu ato tenha mais força, mandei fazer esta carta, confirmada com o
meu sinal e assinada por minhas mãos.
Feita em Santarém, aos 16 de fevereiro de 1255.

1. O «muito bom serviço» (linha 25) prestado pela Ordem de Santiago referia-se
(A) à abertura de escolas e do Estudo Geral para a formação da nobreza de corte.
(B) à participação na Reconquista e à defesa das terras recuperadas aos muçulmanos.
(C) ao cumprimento de corveias e ao pagamento de impostos ao poder central.
(D) à nomeação de magistrados concelhios e à aprovação de posturas municipais.
2. O senhorio confirmado por esta «carta de doação» (linha 5) de D. Afonso III à Ordem
de Santiago denominava-se
(A) concelho.
(B) honra.
(C) couto.
(D) reguengo.

3. Enquanto detentora de um domínio senhorial eclesiástico, a Ordem de Santiago


usufruía de «direitos» (linha 21) , entre os quais se incluíam
(A) cobranças de impostos e dos dízimos pagos por todos, incluindo o rei.
(B) rendimentos provenientes das minas locais e das águas termais.
(C) o comando militar supremo e a cunhagem de moeda.
(D) a aplicação da justiça maior e a feitura de leis gerais.

4. A importância da ação de D. Afonso III para o processo de estabelecimento e de


consolidação das fronteiras de Portugal evidenciou-se pela
(A) assinatura do Tratado de Alcanizes com o rei de Castela e Leão.
(B) obtenção do reconhecimento do reino pelo papa Alexandre III.
(C) apropriação dos castelos da linha do Tejo.
(D) conquista definitiva do território do Algarve

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