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MÓDULO 2 UNIDADE 2

O ESPAÇO PORTUGUÊS – A CONSOLIDAÇÃO DE UM REINO CRISTÃO IBÉRICO


2.3. O PAÍS URBANO E CONCELHIO

● O Domínio Rural e Senhorial Dominava, contudo existia uma boa articulação entre o espaço rural e
urbano que impulsionaram o crescimento do Reino. Assim cabe estudar com maior pormenor as causas
desse crescimento ao qual muito implicou a afirmação/desenvolvimento das Vilas e Cidades Concelhias.

CAUSAS:
1. A reconquista para Sul assimilou as cidades e vilas muçulmanas (já bem estruturadas e
edificadas).
2. Nessas regiões a sul viviam os MOÇARABES ( Cristãos sob o dominio muçulmano) que ao tempo
da reconquista passaram para os portugueses o conhecimento assimilado (instituições,
urbanismo, técnicas agrícolas/artesanais/comerciais, expressão artística).
3. Várias cidades de Portugal acolheram a corte Régia (ex: Leiria, Santarém, Lisboa, Évora).
4. Com a reconquista os bispados (terras religiosas do bispo) ressurgiram em cidades como por
exemplo, Braga, Coimbra, Lisboa e Porto.
5. Nos sítios menos povoados de Portugal formavam-se concelhos (ajuntamentos de pessoas para
formar uma aldeia ou vila de raiz ), a população era atraída para esses lugares isenta de pagar
impostos.
6. As cidades do litoral (com portos marítimos) como Porto e Lisboa tornaram-se cada vez mais
importantes e populosas à medida que o comércio por mar se desenvolve.

ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO CITADINO

1. ESPAÇO MURALHADO: Existência de muralhas com portas em lugares para a entrada e saida de
pessoas.
2. ESPAÇO EXTRAMUROS OU ARRABALDES: Junto às muralhas mas do lado de fora ficavam os
Arrabaldes - bairros extramuros onde muitas vezes se fixaram as atividades ligada ao mau cheiro,
ruído ou sujidade (ex: curtumes, saboaria, carvoeiros, olaria. Mas também as hortas e pomares. ).
No caso de Lisboa em que o rio estava perto, os arrabaldes viviam trabalhadores mais ligados ao
mar (pescadores, marítimos, exploradores de ouro nas areias do Tejo).

● ESPAÇO MURALHADO:
1. O centro do espaço muralhado coincidia com a zona do castelo e/ou mais
frequentemente com a praça principal. Perto dela se situa a Sé ou a igreja, os
paços do concelho e as moradias dos mercadores abastados.
2. Fora do centro (do Castelo) existe um dédalo (labirinto) de ruas tortuosas.
3. Fora do centro (do Castelo)Existe também uma praça para a população vender e
comprar produtos (recebia o mercado) e era chamada de Rossio.
4. Algumas zonas ou ruas estavam destinadas (compartimentadas
sócioprofissionalmente) como se pode verificar no seu nome (toponímia): rua de
Mercadores, Rua dos Sapateiros, Mostardeiras, Forja, Ferraria, Açougues, etc.
5. Nas cidades medievais encontravam-se grupos minoritários que não se podiam
misturar: os judeus e os mouros - os judeus nas judiarias (mais perto do castelo e
possuíam a sua igreja chamada de sinagoga) e os mouros nas mourarias
(afastadas do Castelo).

OS JUDEUS tinham que se vestir de modo diferente dos cristão e usar a


partir de 1215 a estrela de David. Contudo podiam circular de modo livre no reino de portugal;
tinham liberdade religiosa; e podiam governar as judiarias com as suas regras. Em Lisboa era uma
população letrada que contava também com maestros(artesãos) e chegaram a existir 4 judiarias.

OS MOUROS – “trabalhar que nem um mouro”- Condição inferior à dos


judeus. Habitando bairros (mouraria) mais afastados do Castelo e por vezes nos arrabaldes, os
mouros, ainda assim, tinham a sua administração própria e a sua população gozava de certa
autonomia, nomeadamente de costumes e religião.

À volta das Cidades após os ARRABALDES (território junto às muralhas) existia um Território
espalhado por dezenas de quilómetros sobre o qual A cidade ou vila exerce jurisdição e impõe
obrigações fiscais e militares. Esse território chama-se O TERMO - é muitas vezes é de lá que vêm
para o mercado da cidade e vila os Produtos agrícolas vivendo aí pessoas que os cultivam - a
cidade recebia do “termo” o pão, a carne, o vinho, o azeite, a fruta e as hortaliças de que carecia.
Existem também nesse vasto território a capacidade de defesa antes dos inimigos chegarem às
muralhas e Castelo.

GUIMARÃES
UMA VILA CONCELHIA NO PORTUGAL MEDIEVO
Diz-se que Guimarães é o berço da Nação portuguesa porque aí aconteceu o provável nascimento e
batismo de D. Afonso Henriques em Guimarães (1109?). Existe, assim, uma Estátua de D. Afonso
Henriques, em Guimarães (realizada pelo artista Soares dos Reis, 1887). Guimarães foi também a cidade
onde por várias vezes se reuniram as Cortes Régias (1250,1256, 1288 e 1401) o que revela a sua
importância na época medieval. Por esses motivos Guimarães era uma cidade típica medieval, ou seja,
era muralhada e as muralhas tinham diversas portas, existia o núcleo do Castelo na colina (vila alta); e o
burgo (os bairros) em volta. Existia também na Praça da Senhora da Oliveira (o tal Rossio) o mercado
semanal da vila. As gentes nobres, fidalgos e mercadores abastados, viviam mais perto do Castelo.

Existiam em Gumirães Ruas conforme as profissões - Rua dos Mercadores, Rua dos Sapateiros, etc. E
existiam as Judiarias (os mouros estavam mais a sul de portugal). Nos arrabaldes (lembrar, fora dos muros
- instalavam-se em Guimarães as ordens mendicantes (século XIII).

ACTUALMENTE
• Património Cultural da Humanidade em 13 de dezembro de 2001.
• Em 2011, o prestigiado jornal New York Times, numa visita à “Cidade-Berço”, elegeu-a como um
dos 41 locais a visitar e considerou-a um dos pontos culturais emergentes na Península Ibérica.
• Capital Europeia da Cultura em 2012.

MÓDULO 2 UNIDADE 2 – O ESPAÇO PORTUGUÊS – A CONSOLIDAÇÃO DE UM REINO CRISTÃO IBÉRICO


2.4. O PODER RÉGIO.
FATOR ESTRUTURANTE DA COESÃO INTERNA DO REINO

● Em Portugal vivia-se uma Monarquia feudal – regime monárquico em que o rei se assume como o
maior e mais poderoso dos senhores feudais. NOS PRIMEIROS TEMPOS DA INDEPENDÊNCIA, A
MONARQUIA PORTUGUESA É FEUDAL, PORQUE O REI SE CONSIDERAVA UM SENHOR (O MAIS
ALTO SENHOR = PROPRIETÁRIO DO REINO). O REINO E O TÍTULO ERA TRANSMITIDOS AO FILHO
PRIMOGÉNITO. O REINO ERA CONSIDERADO UM BEM PESSOAL E, POR ISSO, OS PRIMEIROS
MONARCAS EFETUARAM LARGAS DOAÇÕES AO CLERO E À NOBREZA. ASSIM, A REALEZA CRIOU
UMA CORTE DE VASSALOS QUE LHE DEVIA FIDELIDADE E APOIO NAS TAREFAS DE DEFESA,
EXPANSÃO E ADMINISTRAÇÃO DO REINO.
● COM O FIM DA RECONQUISTA A AÇÃO GOVERNATIVA DO MONARCA ASSUMIU NOVAS
PRIORIDADES. COMPETIA À COROA A MANUTENÇÃO DA PAZ E DA ORDEM, A DEFESA E
ORGANIZAÇÃO DO REINO, A JUSTIÇA.
● A centralização do poder na figura do REI - o processo de centralização começa cedo. Os
monarcas sempre se basearam na doutrina do direito divino, ou seja, consideravam que eram os
representantes de Deus na Terra). Nesse sentido, concentravam na sua pessoa as mais altas
funções militares, judiciais, legislativas e fiscais:
➢ Chefia militar dos exércitos (Reconquista);
➢ Manutenção da paz e da justiça como representante de Deus;
➢ Cunhagem da moeda;
➢ Juiz supremo e exercício da justiça maior;
➢ Tabelamento de preços e salários (ex: Lei da Almotaçaria do reinado de D. Afonso III).

O Rei Portugues D. Afonso II (1210-1279) foi nesse plano importante porque cria as Leis
Gerais em que o poder régio sai fortalecido, capaz de se sobrepor aos poderes senhoriais (da
nobreza); são mais protegidos os bens da coroa e as classes populares. O Rei reduz os
privilégios do clero, como por exemplo, anulação de doações e de outras aquisições do clero.

Naturalmente vão haver conflitos sociais entre o rei D. Afonso II, o clero e a nobreza que se
acentuaram entre 2011 e 2016.

Depois de D. Afonso II sobe ao trono D. Sancho II (1209-1248) que teve um reinado atribulado que terminou
quando perdeu o confronto militar com o irmão mais novo, futuro D. Afonso III. Este último retirou-lhe a coroa
com o apoio de parte da nobreza, do clero e do Papa Inocêncio IV.
D. Afonso III (1210-1279), o segundo filho de D. Afonso II, herdou a coroa do irmão, e conquistou aos mouros os
últimos territórios a sul. Põe fim à Reconquista no território português - A conquista de Faro (1249) marca o fim
da presença muçulmana no território nacional. (É depois D. Dinis, seu filho, que completa o processo de definição
de fronteiras com a assinatura do Tratado de Alcanizes em 1297).

D. AFONSO NO DOMÍNIO ECONÓMICO:


‐ Aumentou o património da Coroa.
‐ Criou legislação no sentido de fixar preços e salários (Lei da Almotaçaria).
-Promoveu o desenvolvimento de feiras e do comércio local, mediante as cartas de feira.
‐ Incentivou a proibição de exportar os produtos considerados essenciais.
‐ Procedeu à desvalorização da moeda.

NO DOMÍNIO SOCIAL:
- Procedeu à pacificação da nobreza.
- Reestruturou a nobreza.
‐ Favoreceu o aparecimento de uma nova nobreza de Corte fiel ao monarca.
‐ Procurou o apoio dos representantes dos concelhos (procuradores dos concelhos nas Cortes).

NO DOMÍNIO ADMINISTRATIVO:
‐ Definiu orientações para os concelhos.
‐ Estimulou a concessão de cartas de foral que permitiam justamente criar esses novos concelhos..
‐ Convocou os representantes dos concelhos para as Cortes.
‐ Promoveu a realização de Inquirições Gerais para reprimir os abusos das classes privilegiadas foi a forma do rei
controlar, não só o grande poder da Nobreza, mas também para saber se lhe estavam a ser usurpados bens que,
por direito, pertenciam à Coroa.
‐ Favoreceu a criação de um corpo de funcionários administrativos leais ao rei.

A capital ficou sediada em Lisboa, desde o reinado de D. Afonso III. A corte régia sempre se deslocou pelo reino,
para melhor se inteirar dos problemas e mais eficazmente exercer as tarefas governativas. O rei e a corte faziam-
se acompanhar por funcionários e assembleias que constituíam a administração central. Cria-se , então, a Cúria
Régia (espécie de governo) – composta por membros da corte régia. Elementos da família do monarca, ricos-
homens e prelados, altos funcionários, e o alcaide (governador) da cidade onde a corte se instalasse. Quando os
assuntos eram de dimensão nacional, o rei convocava uma Cúria extraordinária. Acrescentavam-se os prelados
de várias dioceses, os abades das principais comunidades monásticas, os alcaides, os membros da mais alta
nobreza e os chefes das ordens religiosas.

A 1ª reunião realizou-se em Coimbra, no ano de 1211 – elaboração das primeiras Leis Gerais.

O poder jurídico - Até ao século XIII, a função de gerir e julgar tinha um carácter arbitrário. A centralização
régia deu lugar a uma maior uniformização da justiça e da administração. O monarca presta especial atenção à
administração local dos reguengos, concelhos e senhorios, por forma a que não existam abusos e ameaças às
prerrogativas régias. D. Afonso III dividiu o reino em comarcas, subdivididas em julgados, e estes em
almoxarifados com funcionários apropriados à função de julgar - corregedores, juízes, almoxarifes, mordomos,
etc. O reinado foi uma época de influência dos juristas, defensores do direito romano.

O Proximo rei D. Dinis (1279-1325)


• Estabilizou as fronteiras (Tratado de Alcanises)
• Povoamento das regiões fronteiriças
• Desenvolvimento do comércio: incremento das feiras francas
• Criação da Bolsa dos Mercadores (1293): comércio marítimo
• Criação dos Estudos Gerais
• Uso do português em actos judiciais e processos (abandono do latim)
• Fundação da Ordem de Cristo (1317)
a justiça é considerada uma função do Estado - : funcionários para ajudar a manter a justiça,
lei e ordem.

O próximo rei D. Afonso IV (reinado de 1325-1357) - Durante este reinado houve guerra contra Castela, por
razões familiares. A nível interno, a política do rei visava fortalecer o poder real com as reformas que foram feitas,
como na justiça. Sucede D. Pedro I e depois Fernando I, o Formoso (1367-1383) que leva à famosa crise de 1383-
1386.

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