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23/01/23, 18:00 atempadamente: Um milagre em S.

Pedro de Pomares, Baleizão

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atempadamente
Da Grécia deram-nos a entender que os habitantes da região de Connistorgis poderão ser os antepassados
remotos, pré-romanos, dos alentejanos da região de Beja. Com tempo havemos de chegar a essa crucial
identificação. Alguma indiferença e o cansaço do povo mostram, provavelmente, a condenação a que foi
sujeita a sua memória ancestral. Há que ler nas entrelinhas de um "palimpsesto". Os etnolinguistas e os
arqueólogos talvez possam esclarecer melhor as raízes deste povo...

S E X TA - F E I R A , 2 8 D E M A I O D E 2 0 1 0 iconografia pacense

Um milagre em S. Pedro de Pomares, Baleizão http://iconografia-


pacense.blogspot.com
Dos reis e rainhas da
Idade Média europeia, O Museu da cidade de Beja
nomeadamente de
http://museu-de-
Portugal, contam-se
beja.blogspot.com
tantas histórias
surpreendentes que,
BEJA CIDADE MONUMENTAL
por vezes, não se
distingue com nitidez a http://forum-romano-de-
separação entre a beja.blogspot.com
verdade e a lenda. O
nosso primeiro rei Beja dos tempos idos
poeta, lavrador e http://connistorgis.blogspot.com
bastante instruído, D. Dinis, foi protagonista, segundo a tradição, de um
acontecimento sui generis em terras do Alentejo, região bravia que no Take place here Cartas portuguesas
seu tempo nem tampouco era ainda conhecida como de Entre Tejo e
http://fortinsguadiana.blogspot.c
Odiana a prolongar-se até ao Reino do Algarve. Nesse tempo o território om
era grande, pouco populoso, coberto de matas e quase não havia
caminhos transitáveis e seguros, sendo os cursos de água mais Cartas Portuguesas
apropriados para viajar do que as vias romanas há muito abandonadas.

http://lettres-
D. Dinis, andou por terras de Beja, nos confins da freguesia de Baleizão,
portugaises.blogspot.com
adjacentes às de Pedrógão e de Selmes, no concelho da Vidigueira. Hoje
reconhece-se no local a persistência da ocupação humana desde a
Arquivo do blogue
antiguidade, pois são várias as estações arqueológicas dos períodos pré-
histórico, romano e paleocristão, por escavar e é natural que muitos dos ► 
2016
(1)
montes e quintas actuais – Cegonha, S. Pedro, Rabadoa, Lamarim e Paço ► 
2013
(3)
Inchado, entre outros - se localizem sobre outros restos urbanos do
▼ 
2010
(3)
período islâmico e do início do domínio português. Mas falemos do
► 
setembro
(1)
milagre e do local que o comemora.

Se do tempo de D. Dinis pudéssemos datar com precisão os milagres das ▼ 


maio
(1)
Rosas e o seu, evocador de S. Luís, bispo de Tolosa, talvez Um milagre em S. Pedro de
compreendêssemos melhor a razão porque fechou o rei os olhos à Pomares, Baleizão
provisão que sua santa mulher, D. Isabel, distribuía entre os pobres. Se
► 
janeiro
(1)
deixou passar, em primeiro lugar, o milagre das Rosas, criou, como
contrapartida (estas coisas não se sabem, imaginam-se), as condições ► 
2009
(3)
para sobreviver ao ataque fatal que mais tarde o poderia ter
► 
2008
(1)
condenado. Se o milagre que o salvou foi anterior ao milagre das Rosas,
então percebemos melhor o seu fechar de olhos ao “desvio” virtuoso dos
bens da fazenda real e chegarmos à feliz conclusão de que um milagre
nunca vem só – como diz, aliás, o adágio popular: Fazer bem sem olhar
a quem ou Mãos que dão mãos que recebem.

Conta-se assim: Andava o rei numa das suas muitas montarias, em


Novembro de 1294, entre pequenas florações rochosas, mato e
chaparral, para os lados de S. Pedro de Pomares, no lugar de Belmonte,
na margem esquerda da ribeira de S. Pedro que desagua na ribeira de
Odearça, afluente do rio Guadiana, quando o seu cavalo se ergueu tão
rapidamente e de tal modo assustado que o projectou violentamente no
solo. Passado aquele momento, o monarca recobrou o sangue frio e
tentou assenhorear-se da situação e o que viu ainda o estarreceu muito
mais, à sua frente sobre as patas traseiras, um enorme urso pardo que
gesticulava grossas patas dianteiras de unhas afiadas, aprestando-se,
via-se-lhe nos olhos sanguinolentos e nos urros ensurdecedores que
emitia, para lhe dar o golpe fatal. O cavalo, ferido, pôs-se em fuga, os
súbditos, embora não muito afastados, viam gorados os seus esforços
para protegerem o rei, pois o local, apesar de plano, era mesmo um
embrenhado matagal de cobertura arbórea dispersa e arbustiva. Mas D.
Dinis, sem tempo para desbravar o terreno, não esteve com poesias e,
antes que a besta o atacasse, tomou ele valentemente a dianteira.
Invocou, em seu auxílio, o nome de S. Luís, bispo de Tolosa, recobrando

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um ânimo e uma força tão desmesurada, para um homem normal, que
de um só golpe certeiro, desferido com o seu punhal, prostrou de
imediato o animal, ferido de morte – milagre!

Em honra de tal milagre mandou sua majestade construir uma capela na


igreja do extinto convento de S. Francisco (actual Pousada), na cidade
de Beja. Dessa capela, dedicada a S. Luís, já nada existe, pois a igreja
foi totalmente reformada no século XVIII. Todavia, no local do milagre,
deixou-nos o rei, segundo reza a tradição e a história, a ermida de S.
Pedro de Pomares, construção que conserva ainda na sua estrutura
elementos arquitectónicos dos períodos visigótico e posteriores, dos
séculos XIII e XIV. Os próprios capitéis do nártex do templo de nave
única são peculiares pelas cabeças
invertidas e barbadas que ostentam. A
volumetria actual do edifício aponta para
reformas parciais realizadas nos séculos
XVI e XVII, de feição maneirista. Porém, a
data de 1716, é a que se refere numa
sepultura onde jazem os últimos
benfeitores do templo. No interior
destaca-se ainda, embora de feitura
seiscentista ou setecentista, um quadro a
óleo sobre tela alusivo ao dito milagre “S.
Luís salvando o rei D. Dinis do ataque do
urso”.

No lado sul e sudoeste da ermida ainda se


vêem as casas de apoio aos romeiros,
lavradores e todo povo da região, que em número copioso concorriam
na devoção a S. Luís, então também venerado em capela própria na
herdade da Rabadoa que no século XVIII havia sido a cabeça do
morgadio dos Tomazes, os benfeitores da ermida de S. Pedro.

Recordando os sinais deixados pelo corcel de D. Fuas Roupinho no


extremo do promontório sobre o mar da Nazaré, também na
proximidade de S. Pedro se podem observar, sobre a rocha da nascente
da Fonte de S. Luís, as “patas gravadas” do cavalo de D. Dinis, afinal,
apenas sinais dos homens do neolítico que devem ter conhecido mais
ursos do que o rei divinamente protegido, além outras espécies animais
hoje praticamente extintas. Em Portugal extinguiram-se por volta dos
séculos XVII ou XVIII e algumas noticias que os dão como vistos nos
séculos XIX ou XX têm a ver com as migrações temporárias originárias do
norte de Espanha, país onde as áreas da cordilheira Cantábria e dos
Pirinéus protegem as poucas dezenas de ursos ainda existentes na
península ibérica.

Leonel Borrela

Nota: Esta crónica veio publicada a pp.35-38 do Boletim Informativo da


Federação Alentejana de Caçadores, nº11, de Maio de 2006. Uma revista
de qualidade, de distribuição gratuita, que não aparece há algum
tempo.

à(s)
13:52

4 comentários:

Maria Máxima Vaz


disse...
Segundo Frei Francisco Brandão e o Historiador José Augusto de
Sotto Mayor Pizarro, a capela que ficava no convento de S.
Francisco, não foi construída devido ao milagre do urso, mas sim
a outro anterior, e que terá sido S. Luís ter ressucitado um falcão
ao rei.

20 de maio de 2012 às 04:40

Calandrónio
disse...
Agradeço a informação cujo teor desconhecia. Vou tentar saber
um pouco mais sobre o assunto. MUITO OBRIGADO, LB

23 de maio de 2012 às 23:05

Calandrónio
disse...
Agradeço a informação cujo teor desconhecia. Vou tentar saber
um pouco mais sobre o assunto. MUITO OBRIGADO, LB

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23/01/23, 18:00 atempadamente: Um milagre em S. Pedro de Pomares, Baleizão
23 de maio de 2012 às 23:06

Mario Baleizao Jr
disse...
Obrigado pela bela estória. Interessa-me o que são histórias de
Baleizão. Pelo que apurei, esta estória tem 2 versões: uma com
um urso e outra com um javali. A versão do javali está em
"Estâncias d'Arte e de Saudade", de Fialho de Almeida, Livraria
Clássica Editora, 1921. Há uma referência a um painel de azulejo,
invocativo do milagre, na igreja de São Pedro de Pomares. Não
consegui imagem do painel de azulejo.

18 de julho de 2022 às 08:26

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