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15/07/12 Breve História da Cidade do Porto - Invicta Cidade

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Breve Hist ória da
Cidade do Port o Breve História da Cidade do Porto
Patrim ónio Edificado
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Filipe Neto Da Pré História à Queda do Império Romano


A área
hoje ocupada
pela cidade já é
povoada há
milénios, como
provam os
Nasceu em Cedofeita,
Porto, a 6 -1 2 -1 9 89 e achados de
reside actualm ente em seixos rolados,
Gaia. Estuda na bifaces e lâminas
Faculdade de Letras do
Porto, no curso de
de pedra talhada
História, tendo um encontrados em
particular interesse na escavações no concelho do Porto e na zona
Época Mediev al. É um ribeirinha de Gaia. Contudo, o povoado que daria origem ao Porto
am ante da Cultura, das
Artes, das Letras e das
nasceu no topo da escarpa da Penaventosa, onde se ergue a
Ciências, bem com o do catedral e onde foram encontrados vestígios de um castro do final da
seu país e da sua cidade. Idade do Bronze. O morro da Penaventosa ergue-se a pique sobre o
Douro e sobre o Rio da Vila (hoje encanado) e tem cerca de oitenta
metros de altitude. Por isso, era um ponto estratégico, de onde se
controlava o rio e os acessos por terra, numa espécie de fortificação
natural. Existiam, contudo, outros castros espalhados pela área
urbana do Porto, como atestam outros vestígios pré-históricos, caso
da necrópole das Antas, onde existiram várias antas, monumentos de
cariz funerário datados do Bronze Final, e que foram destruídos para
permitir a construção do Estádio das Antas. O povo que aqui vivia era
o dos Brácaros, uma tribo de cultura céltica que habitava o território
entre o Lima e o Douro antes da chegada dos romanos. Os achados
arqueológicos mostram que, apesar de primitivos, os brácaros
mantiveram contactos comerciais com os povos mediterrânicos mais
avançados, nomeadamente com os cartagineses, fenícios e gregos.
Assim, pode-se afirmar que desde muito cedo o Porto começou a
demonstrar a sua aptidão e vocação comercial.

A chegada dos Romanos, comandados por Perpena, dá-se apenas


em 74 a.C. Já há muito que tentavam dominar a Hispânia, mas
depararam-se com uma difícil guerra de conquista contra os povos
locais, uma guerra tão dura que forçou o próprio Júlio César a
deslocar-se à península. Com a consolidação do domínio romano, o
povoado de muralhas de pedra solta e casas redondas de colmo
sofre uma evolução radical, com a romanização, principalmente a
partir do século II. Construíram-se casas rectangulares, ruas rectas,
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uma muralha mais


reforçada e melhores
instalações portuárias
na zona ribeirinha.
Com efeito a
localização da cidade
na foz de um rio
navegável e protegida
por um monte
fortificado, era a ideal
para um porto. E
assim, os romanos,
que haviam baptizado o burgo como Cale, logo mudaram o nome
para Portus Cale. O desenvolvimento do burgo tornar-se ia mais
evidente quando, após a construção da estrada romana que ligava
Olissipo a Bracara Augusta, se colocou ao lado de Portus Cale uma
estação de muda e pernoita, um ponto de paragem onde também se
faziam trocas comerciais. Assim, a cidade vai atraindo população e
vai descendo do alto da Penaventosa até ao rio, ao mesmo tempo
que escala o vizinho morro da Cividade. Começam a ser construídas
casas abastadas, as villa. Recentemente, escavações na Casa do
Infante deixaram a descoberto um conjunto de vários mosaicos
romanos, os únicos até hoje encontrados na cidade. Outrora terão
atapetado o chão de uma dessas villa. É com os romanos e com a
sua gradual conversão que o Cristianismo chega à região e que
Bracara Augusta conhece o seu primeiro bispo.

Suevos e Visigodos
A partir do século III
assistimos ao vacilar
do poder imperial que
irá, por fim, levar à
queda do Império em
475. No século IV
chegam os primeiros
povos germânicos ao
território: os Alanos e
os Vândalos. Os
primeiros instalam-se
no coração da
Meseta. Os segundos
atravessam para África. Em 409 chegam os Suevos, que acabam por
se instalar num território que vai da Galiza ao Tejo e às cordilheiras
asturianas, controladas pelos rebeldes Vascos. Tal como os Alanos,
os Suevos tinham fugido da sua terra natal, o vale do Elba, para
escaparem aos Hunos. Fundaram um reino com capital em Bracara
Augusta e tendo por principais cidades Lucus Augusta (Lugo), Portus
Cale e Asturica Augusta (Astorga). Eram cristãos e assim mantiveram
activas as dioceses do seu reino, principalmente Bracara. Portuscale

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acaba por ganhar relevo militar e estratégico adicional a partir do


momento em que os Alanos conquistam aos suevos as terras de
Entre Douro-e-Tejo, terras que depois passam para os visigodos, que
atacam também os suevos. A cidade, fortemente reforçada por
muralhas de pedra robusta, resistiu a todos os cercos mas, após um
século de declínio, os Suevos acabaram por ser dominados pelos
Visigodos.

Os Visigodos são um dos ramos em


que se dividiu a nação dos Godos,
oriunda do leste da Europa.
Estabeleceram-se na Aquitânia e
fundaram um reino com capital em
Toulouse em 418, reino que iriam
expandir com a conquista de quase
toda a Hispânia, destruindo os
Alanos. Acabariam confinados à
península a partir de 507, depois do
rei franco Clóvis os derrotar na
Batalha de Vouillé. Assim, a capital
visigoda passa para Toledo. Em 585, após a conquista dos Suevos,
tornam-se os senhores da península. Com o rei Leovigildo, a
monarquia electiva visigoda atinge o seu apogeu, com um forte cunho
centralizador e várias tentativas de caminhar para a hereditariedade
régia, tentativas travadas pela forte nobreza visigoda, que rodeava os
monarcas e os destronava sucessivamente, reclamando depois o
trono. Assim, com uma monarquia débil e um equilíbrio político frágil,
o reino caiu numa profunda crise política que ia agravar-se com os
conflitos entre católicos e cristãos arianos. O conflito religioso foi
resolvido com a conversão católica do rei Recaredo em 589, mas ia
manter-se um acentuado declínio do poder político. No entanto, é com
os visigodos que Portucale se torna sede de diocese, depois da
mudança do bispo de Magnetum (Meinedo) para o burgo, por volta de
570.

A presença árabe e a Reconquista

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No ano de
711, no
decurso de
um conflito
entre
Rodrigo e
Ágila,
herdeiros
do trono
visigodo, as
tropas do
muçulmano
Tárique atravessam o
Mediterrâneo e desembarcam em
Gibraltar, respondendo assim ao
pedido de ajuda de Ágila.
Contudo, após a derrota e morte
de Rodrigo na Batalha de
Guadalete, nesse mesmo ano, Ágila perde o controlo da situação e
deixa aberta para os árabes a porta do domínio do território. Os
visigodos, sem rei, fugiram para as montanhas das Astúrias e
Cantábria. Os árabes invasores, comandados por Muça,
conquistaram facilmente o burgo de Portucale e incendiaram a
cidade. Contudo, o domínio árabe foi curto e sem expressão. Logo
em 750, a cidade foi retomada pelos cristãos comandados por
Afonso I, rei das Astúrias para cair novamente sob jugo maometano.
Seria definitivamente reconquistada em 868 pelas tropas de Vímara
Peres. Ao tomar a cidade de presúria, o nobre asturiano assegurou
para si o domínio e senhorio da cidade, tornando-se assim o primeiro
Conde de Portucale e fazendo nascer o Condado Portucalense. Com
a fronteira fixa no rio Douro, a cidade ganha enorme importância
militar e assiste a uma renovação urbana e a algum crescimento. O
condado prosseguiria na família de Vímara Peres. O seu filho, Lucídio
Vimaranes, fundou um pequeno palácio junto a uma aldeia que
rebaptizou como Vimaranis. Nasceu assim Guimarães. Pouco
depois, a Condessa Mumadona, ao enviuvar, mandou construir para
si um convento e uma torre para o proteger. Nasceram assim o
Convento de Santa Maria da Oliveira e o Castelo de Guimarães, que
hoje são tão conhecidos de todos.

Com a chegada do Ano Mil, chega a


Portucale a hoste muçulmana do terrível
Almançor, que atravessou o Douro com uma
ponte sobre barcas. A sua reputação
sanguinária precedia-o e, temendo o pior, a
cidade evitou o combate e a destruição
quase certa quando o bispo D. Nónego fez
um acordo de não-agressão com o árabe
que, assim, prosseguiu em paz rumo a
Santiago de Compostela, que arrasou até às
fundações. A fronteira, entretanto, avançou
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para o rio Mondego com a conquista de Coimbra, pelo que o burgo


de Portucale pode respirar com mais alívio. Apenas as incursões dos
vikings normandos e escandinavos ainda ameaçavam a cidade. Em
1071, contudo, dá-se uma revolta de nobres portucalenses contra o
rei Garcia da Galiza. Era liderada pelo Conde D. Nuno Mendes,
directo sucessor de Vímara Peres. Veio a morrer na Batalha de
Pedroso, nesse ano, e a revolta morreria com ele, bem como o
condado, integrado no reino galego e, posteriormente, no Reino de
Leão. Seria novamente atribuído em 1096, quando D. Afonso VI faz
doação do condado a seu genro D. Henrique de Borgonha, casado
com a sua filha bastarda, D. Teresa. Durante a vida dos condes, o
Porto tem um papel apagado e Braga e Guimarães disputaram a
primazia política. Com a morte de D. Henrique em 1109, D. Teresa
fica ao comando do condado. Irá ser a protagonista de um dos
momentos mais importantes da história do Porto quando, em 1112,
faz doação do senhorio da cidade ao Bispado, que na época era
encabeçado pelo francês D. Hugo. A partir deste momento, o Bispo
será o senhor da cidade.

O Porto medieval: o bispo, a câmara e o rei


O Porto medieval foi
marcado por um
conflito entre o poder
régio, o poder
concelhio e o poder
senhorial, corporizado
no bispo, senhor da
cidade por doação de
D. Teresa, confirmada
e ampliada por D.
Afonso Henriques. É
o bispo D. Hugo quem confere ao Porto o
seu primeiro foral, em 1120. Os domínios da mitra estendiam-se
desde o Rio Douro até às Antas e do Rio da Vila até ao Rio Tinto.
Confinava com senhorios importantes do rei,da Colegiada de
Cedofeita e dos mosteiros de Leça, Rio Tinto, Águas Santas, Entre-
os-Rios e Foz do Douro. Ainda assim, esta época é de progresso.
Com D. Afonso Henriques, Guimarães perde o seu estatuto de capital
para Coimbra, uma cidade mais perto da fronteira e longe da
arrogante nobreza condal. O Porto por seu turno é, sem dúvida, o
motor económico e comercial do jovem reino português e graças a
esse factor nunca perderia protagonismo e importância ao longo da
Idade Média, mesmo com os conflitos entre o Burgo e o Bispo, e
entre o Bispo e o Rei, que serão vários e de vária ordem. Um dos
mais conhecidos foi a disputa do senhorio das terras entre o Rio da
Vila e o Rio Frio, que desagua na zona de Miragaia, um conflito que a
construção do convento dos franciscanos iria exacerbar. Mas o Porto
também colaborou no intenso esforço de reconquista. Em 1147, o
bispo D. Pedro Pitões terá mesmo exortado os cruzados francos que
tinham aportado à cidade para, em vez de ir para a Terra Santa, se
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juntarem à sua hoste e irem com ele a Lisboa auxiliar D. Afonso


Henriques na conquista da cidade. E assim foi.

O Porto de inícios do século XIV


era uma cidade que já ocupava
bom território: a Penaventosa,
onde a catedral se erguia como
um castelo, símbolo do poder do
bispo, e os arrabaldes fora de
muralhas: a Cividade, os
Carvalhos do Monte e o Olival
eram terras de hortas, soutos e
pomares que davam de comer à
cidade. O arrabalde de Miragaia
fornecia o peixe e a Ribeira era o
coração de toda a vida comercial.
Além da catedral haviam muitas
capelas e alminhas, mas apenas
dois mosteiros: o dos
franciscanos e o dos
dominicanos. Com D. Afonso IV
assiste-se à
construção de uma
nova muralha, que
só D. Fernando viria
a concluir: a Muralha
Fernandina. Foi
também com D.
Afonso IV que se
constrói a Alfândega
Velha, perto da
Ribeira. Com D.
Pedro e D. Fernando começam a existir no burgo agremiações de
ofícios, e uma representação que todos superintende e que faria
nascer, em algumas décadas, a Câmara do Porto. Assente na união
dos artesãos e na sua força económica, rapidamente ganharia
preponderância nas decisões sobre a cidade, afrontando o poder
senhorial ao ponto de proibir a qualquer senhor nobre a permanência
dentro dos muros da cidade por mais de quarenta e oito horas, o que
demonstra com clareza o poder e riqueza da burguesia do Porto, que
já mantinha intensas relações com o Norte da Europa, Inglaterra (o
comerciante portuense Afonso Martins Alho foi quem fez o primeiro
acordo comercial entre Portugal e Inglaterra), França e as cidades
italianas.

O tempo das Descobertas


No final da Idade Média, o Porto era uma cidade burguesa, rica,
orgulhosa, dinâmica e comercial. Em 1387, depois de ter tomado voz
na Crise Dinástica como partidária do Mestre de Avis, acolheu
festivamente D. João I quando do seu casamento com D. Filipa de
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Lencastre. O
casamento
cimentou a
aliança luso-
britânica firmada
no Tratado de
Windsor e
decorreu na
catedral
portuense. O
monarca, que
muito amou a cidade, voltaria várias vezes, ficando no Paço
Episcopal ou no Convento de São Francisco, sendo dos reis que
mais beneficiou o Porto. O Infante D. Henrique acabou mesmo por
nascer no Porto, em 1394, numa das estadias do rei na cidade. D.
João I concedeu vários privilégios à cidade, autorizou a criação da
Bolsa de Comércio (antepassada das companhias de seguros) e de
uma casa da moeda. Foi ainda ele quem mandou abrir a Rua Nova,
que hoje é a Rua do Infante D. Henrique e à qual chamava de "minha
rua formosa" por ser comprida, recta e larga, contrastante com a
malha urbana serpenteante do burgo. Entretanto, em 1386, como o
monte do Olival estava desocupado, apenas com campos e hortas, o
rei decide transferir os judeus para uma judiaria que cria no topo do
monte, isolada do resto da cidade por taipas de madeira. A
urbanização do Olival foi em grande parte possível graças à judiaria e
à acção dos franciscanos e dominicanos. Em 1406, após intensas
negociações entre D. João I e o Bispo D. Gil Alma, o senhorio da
cidade passa para a Coroa, e a cidade conquista a sua autonomia.
A cidade quinhentista
estava dividida em
três núcleos
essenciais dentro da
muralha: a Sé, a
Ribeira e o Olival. Os
centros de maior
aglomeração de
pessoas eram a
Praça da Ribeira
(centro comercial da
cidade), a Rua Nova
(onde residiam os
indivíduos de mais grada condição) e
o Largo de São Domingos (onde se
fazia a feira). Das portas da cidade
(Carros, Cimo de Vila, Nobre, Olival e
Sol) saíam estradas para Guimarães,
Braga, Penafiel, Foz do Douro e
Entre-os-Rios. Ao longo do século XV
foram construídas novas igrejas,
capelas e os conventos dos Lóios e Santa Clara. Albergarias davam
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hospedagem aos viajantes, gafarias e leprosarias acolhiam os


leprosos, funda-se o Hospital do Roque Amador, escavam-se
canalizações para captar a água dos arrabaldes e funda-se um
estaleiro naval nos areais da praia de Miragaia. Foi aliás nesse
estaleiro que se construíram as barcas que levaram D. João I à
conquista de Ceuta, em 1415. Para essa expedição, a vereação da
Câmara doou toda a carne do matadouro do burgo, na Rua do Sol. A
cidade ficou apenas com as tripas, que não se podiam salgar e, por
isso, embarcar nos navios. É daqui que surge o famoso prato das
Tripas à Moda do Porto, que imortalizou a alcunha de tripeiros para
os naturais do Porto, uma alcunha que ainda se ostenta com todo o
orgulho.

A cidade soube lucrar com as Descobertas:


os mercadores portuenses compravam os
produtos africanos e indianos e revendiam-
nos para o Norte da Europa, com lucros
avultadíssimos, o que chegou a chamar para a
cidade vários mercadores de origem
estrangeira. No entanto, em 1496, D. Manuel I
expulsa os judeus de Portugal, ordenando a
sua saída imediata, ou conversão forçada ao
catolicismo. Isso privou a cidade de uma
considerável força comercial e dinâmica, pois
os judeus tinham vocação para os negócios e
para o comércio, e
constituíam uma mais-
valia para a cidade.
Era o fim da Judiaria
do Olival. No local
onde se erguia a
sinagoga, arrasada, o
rei ordenou a
construção de um
mosteiro beneditino: o
Mosteiro de São
Bento da Vitória. O
morro seria doravante chamado de Vitória, em sinal da vitória da fé
católica sobre o judaísmo. Pouco depois, em 1509, a burguesia do
Porto, rica e orgulhosa, começa a sua escalada a caminho da sua
própria elevação à nobreza, passando a permitir, finalmente, que
indivíduos de classe nobre possam residir e ter casa sua dentro do
perímetro murado do burgo. Logo de seguida, em 1517, o rei D.
Manuel I dá foral ao Porto, no âmbito da sua reforma dos forais, e em
1521, também por iniciativa régia, rasga-se nas hortas do bispo a
Rua de Santa Catarina das Flores (hoje apenas Rua das Flores), uma
rua de feição elegante e aristocrática, sinal de que, finalmente, a
nobreza chegou ao Porto. Ligava o Largo de São Domingos ao Largo
da Porta de Carros, vizinho ao Convento dos Lóios e ao recém
construído Convento de São Bento de Ave-Maria, que o rei Venturoso
também apadrinhou. Pouco depois lançava-se a ponte de pedra que

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ligava esta nova rua à vetusta Rua da Bainharia, atravessando o Rio


da Vila, nascendo assim a Rua da Ponte Nova. Nascem ainda o
Hospital de D. Lopo de Almeida e os conventos de São João Novo e
Monchique (este último fora de muros e afastado do burgo). Chegam
também os jesuítas, que constroem o Colégio dos Grilos. Finalmente,
em 1583, devido ao crescimento da cidade, esta é subdividida em
quatro paróquias: Sé, São Nicolau, Vitória e Belomonte (a última
extinta pouco depois).

O Barroco e o Vinho do Porto


Nos inícios
do século
XVI, o
Porto era
uma
cidade em

crescimento e a sua riqueza atraiu


comerciantes estrangeiros,
principalmente holandeses católicos,
fugidos das guerras religiosas na sua
terra natal, e ingleses que procuravam
enriquecer com a revenda dos
produtos coloniais portugueses,
principalmente do açúcar do Brasil. Nasceu assim uma importante
comunidade inglesa que cresceu ao longo de todo o século XVII e
XVIII. Contudo, esta situação alterou-se radicalmente com a
integração de Portugal na imensa coroa de Filipe II de Espanha.
Ingleses, franceses e holandeses começaram logo a atacar as
possessões portuguesas e a fazer concorrência com Portugal. Os
preços do açúcar caíram e os ingleses que estavam no Porto foram à
procura de alternativas de negócio. O vinho
do Douro tinha boa aceitação junto do
estrangeiro e convinha à Inglaterra, que
deixava de importar vinho da rival França. O
comércio do vinho do Douro explodiu e
imensas firmas começaram a estabelecer-
se. Contudo, o vinho necessitava de passar
algum tempo em caves, o que fez com que,
devido à falta de espaço na Ribeira, estas
fossem construídas em Gaia, que era ainda
uma freguesia do Porto. Nascia o Vinho do
Porto, que muitas fortunas fez. Nasceram
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bonitos palacetes e uma nobreza nova, vinícola e exportadora, que


tinha também pequenas quintas de veraneio nos arredores da cidade
(Palácio do Freixo, Quinta da Bonjóia, da Prelada, Casa de
Ramalde). O negócio viria a ser regulado com a criação, por mando
do Marquês de Pombal, da Real Companhia da Agricultura e Vinhas
de Trás-os-Montes e Alto Douro, o que levou ao instigar de uma
revolta: o Motim da Companhia foi rechaçado com violência, tendo
sido enforcados os cabecilhas e a cidade ocupada por tropas, em
1757.
Esta abundância de dinheiro
sentiu-se mais com a descoberta
de ouro no Brasil, a partir de
1690. A cidade assistiu a uma
fervilhante actividade cultural e
arquitectónica. Igrejas como as
dos franciscanos e clarissas
cobriram-se de ouro, constrói-se
a Cadeia da Relação, os

conventos das Carmelitas e de Santo


António da Cidade e as igrejas da Lapa, Santo Ildefonso e Trindade.
A Câmara, presidida por João de Almada e Melo e depois por
Francisco de Almada e Mendonça, adopta um ambicioso plano de
renovação urbanística de conjunto, um gesto inovador e exemplo para
a a Europa. Nesse plano, onde tinham relevo a preocupação com a
luz, higiene e salubridade, traçam-se novas ruas de saída da cidade
(Rua de Cedofeita, Santa Catarina, Almada, D. Manuel II e Rodrigues
de Freitas) novos espaços para as feiras (as Fontainhas e a Praça
Carlos Alberto) fontes e chafarizes (o mais relevante seria o chafariz
monumental da Praça da Ribeira), requalificam-se as velhas praças
(Largo de São Domingos e Praça da Ribeira) e abrem-se os
primeiros jardins públicos (Passeio das Virtudes, Cordoaria e São
Lázaro). A partir dos fins do século XVIII, o projecto seria embelezado
com obras neoclássicas como a Feitoria Britânica, o Hospital de
Santo António, a Real Casa Pia, os Arcos da Ribeira na Muralha
Fernandina e a actual Reitoria da
Universidade. Ao mesmo tempo,
partes inteiras das muralhas eram
paulatinamente desmanteladas. A
Muralha do Bispo desapareceu na
sua quase totalidade, ao passo que a
Muralha Fernandina foi sendo
desmantelada ou coberta pelo

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casario. Um dos arquitectos de maior renome deste tempo foi o


italiano Nicolau Nasoni, que deu inicio a um barroco muito elaborada,
o Barroco Portuense ou Barroco Nortenho, com edifícios tão notáveis
como a Torre da Igreja dos Clérigos (a maior construção de pedra de
Portugal, com 75 metros de altura), a Igreja da Misericórdia ou o novo
Palácio dos Bispos, que domina toda a encosta da Penaventosa.

O Século XIX: Invasões, guerras e convulsões políticas


O Século XIX foi muito importante para
a cidade do Porto, mas nem sempre
pelos melhores motivos. Começou mal,
com as Invasões Francesas, em 1807.
Após um complicado ballet diplomático
e sabendo que a invasão de Portugal
por Napoleão estava iminente, o
Príncipe Regente D. João mudou a
capital de Portugal para o Rio de
Janeiro, de modo a evitar a captura da
Família Real, e a
consequente perda
da independência. A
cidade foi ocupada
pelas tropas da
Primeira Invasão e
os portuenses
sofreram os piores
ultrajes. Contudo,
meses depois,
arvoravam-se as
bandeiras nacionais
em sinal da
resistência ao invasor, que era expulso com a ajuda das tropas
inglesas recém-chegadas. Contudo, em 1809, nova invasão se
avizinhava, entrando por Chaves. Mas a cidade teve tempo de
preparar defesas e construir uma cintura de fortificações em redor do
seu perímetro, que deram tempo aos portuenses para fugirem.
Mesmo assim, não evitaram a ocupação e uma nova pilhagem, ainda
mais violenta que a de 1808: igrejas profanadas, mortes, violações e
roubos selvagens. Com a aproximação do inimigo, o povo fugiu em
pânico por uma ponte sobre barcas, que atravessava para Gaia, e
que desabou. Mais de 4000 pessoas morreram afogadas num dos
piores desastres que atingiu a cidade.

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O Porto
foi

libertado em 1809 e
conseguiu nos anos
seguintes recuperar
da tragédia humana,
económica e
anímica que foram
as invasões de
Napoleão. Contudo,
os portuenses, e em
particular a
burguesia, estavam
insatisfeitos pois,
apesar da paz ter voltado, o país continuava entregue a uma
guarnição inglesa e a uma junta de governo, enquanto o rei estava
ausente no Brasil. Por outro lado, o fim do exclusivo comercial
português nos portos brasileiros causara imensos prejuízos aos
comerciantes, que tinham agora a feroz competência estrangeira em
pleno solo brasileiro. A emissão de moeda no Rio de Janeiro e a
elevação do brasil a Reino, unido com Portugal, foram também
factores de descontentamento. Logo se formava no Porto o Sinédrio,
uma associação secreta que preparou um golpe. A 24 de Agosto de
1820, o golpe
rebentou e as tropas
saíram dos quartéis,
clamando pelo
regresso da Corte e
pela adopção de
uma constituição, e
que teve imediata
adesão em Lisboa.
Nos meses
seguintes, com
efeito, forma-se uma
junta de governo que providencia a convocatória de Cortes
Constituintes e o regresso da Família Real. Iniciava-se o
Constitucionalismo, de curta duração, pois a não-aceitação da
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Constituição por parte


da Rainha D. Carlota
Joaquina e do Infante
D. Miguel iria minar o
sistema. Em 1822, o
Brasil proclama a
independência, para
reagir à vontade das
Cortes de que
deixasse de ser reino
a par com Portugal. Poucos anos depois, em 1828, D. Miguel I torna-
se rei, depois de um acordo com o irmão D. Pedro, que ficara no
Brasil como Imperador. Recusa, no entanto, qualquer constituição. D.
Pedro acabaria por abdicar do trono brasileiro e ir para Inglaterra,
onde congrega um exército com o qual ocupa a Ilha Terceira,
iniciando-se a guerra com o irmão. Desembarcaria perto do Porto, na
praia do Mindelo, ocupando o Porto, onde ficaria cercado pelas
tropas miguelistas por mais de onze meses. O Cerco do Porto,
durante esta guerra civil de dois anos, foi um dos momentos mais
marcantes da história recente do Porto, mas que garantiu a D. Pedro
IV a vitória sobre o irmão, bem como a consagração do regime
constitucional.

Contudo, o
Porto de
Oitocentos
não foi
apenas
guerra e
conflito
armado.
Foi
igualmente
uma
época de
um
dinamismo
económico sem
paralelo para a
cidade, que se
expande para o
dobro do seu
tamanho no inicio do
século, causando a
urbanização de uma
vasta área rural em
redor do burgo.
Centenas, milhares de pessoas migram dos campos para a grande
cidade em busca de oportunidades de vida. Surgem as grandes
indústrias e fábricas, espalhadas por toda a cidade: tabacos, tecidos,

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madeiras, cerâmicas... surgem também os bairros operários e as


"ilhas", onde viviam as classes mais modestas, em condições
altamente degradantes e insalubres, sobretudo em Cedofeita,
Massarelos, Bonfim (com o caso
paradigmático da Rua de São Vítor),
Ramalde e Lordelo do Ouro. Com o
adensar da indústria e do tráfego
comercial, tornava-se necessário um
porto mais capaz, e assim é
construída a Alfândega Nova, um
gigante de pedra à beira-rio, em
Miragaia, e a Ponte Pênsil, inaugurada em 1843. Surgem ainda os
mercados novos, em espaços fechados e com arejamento, como o
Mercado do Anjo e o Bolhão, aberto em 1837. Com as leis de saúde
surgem os primeiros cemitérios (Lapa, Prado do Repouso e
Agramonte) e os enterramentos nas igrejas são abolidos. A evolução
dos transportes e comunicações trará à cidade o telégrafo e o
comboio, que chega em 1877, ano de inauguração da Ponte D. Maria
Pia e da Estação de Campanhã, de
onde a linha seria reconduzida para o
terminal final, a Estação de São Bento,
inaugurada nos inícios do século XX e
construída sobre o demolido Convento
de São Bento de Ave Maria. Seria
ainda construída uma linha ferroviária
de via estreita entre a Póvoa de Varzim e a Boavista. Surgem os
americanos, e a partir de 1872 os eléctricos, em 1895, ano da
abertura do Porto de Leixões, que vem substituir o Douro. Constroem-
se mais jardins, como os do Palácio de Cristal, magnífico exemplar
da arquitectura do ferro inaugurado em 1865. As ruas são iluminadas
pelo gás (1855) e
instalam-se
sistemas caseiros
de água canalizada
e saneamento
(1887). Nasciam
clubes como o
Ateneu Comercial
do Porto, o Clube
dos Fenianos
Portuenses, jornais
como o Jornal de Notícias, o Comércio
do Porto, o Primeiro de Janeiro, o
Tripeiro, associações como a
Associação Comercial do Porto
(Palácio da Bolsa), clubes desportivos
como o Futebol Clube do Porto, instituições culturais como a Escola
Politécnica do Porto (actual Universidade do Porto) e a Biblioteca do
Porto e Liceu Central do Porto (1840). Já na viragem do século XIX,
com a abertura da Estrada da Circunvalação, entram para a cidade
zonas como Aldoar, Nevogilde e Ramalde definindo de uma vez o
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território da cidade e concelho do Porto.

A República e os dias de hoje

O Porto

participou
activamente no
movimento contra o
Ultimato em 1890.
No ano seguinte, a
31 de Janeiro,
estalou na cidade
um golpe militar
republicano,
derrotada pelas
forças leais a D.
Carlos I. Em 1910,
com a implantação
da República, seria palco de levantamentos monárquicos, sempre
rechaçados com violência. Ficou célebre o pronunciamento militar da
Monarquia do Norte em 1919, liderado pelo General Paiva Couceiro.
O século XX foi, contudo, uma época de crescimento mais lento e
ordenado, mas ainda alimentado pelo êxodo rural. O crescimento da
cidade é, contudo, ordenado segundo os Planos Directores, que se
têm vindo a suceder, adaptados à realidade que a cidade enfrenta. O
surgimento do trânsito automóvel iria forçar a um repensar de toda a
malha urbana. Em 1915 é terminada a
Avenida da Boavista, e no ano
seguinte é iniciada a abertura da
Avenida dos Aliados, o novo espaço
central da cidade, coroada pela nova
Câmara, concluída em 1957. Surgem
novos serviços e equipamentos:
melhores estradas e estruturas, vias
de acesso, cinemas e centros
comerciais. Nasce o Teatro de São João, das mãos do génio de
Marques da Silva, a Zona Industrial das Sete Bicas (cuja rainha é a
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Efanor), a Ponte da Arrábida (1963), obra prima do Eng. Edgar


Cardoso,
autor
também
da ponte
de São
João
(1991), a
Avenida
AIP, o
aeroporto
de Pedras
Rubras, a
Via de
Cintura
Interna e as pontes do Freixo (1995) e Infante (2005). A cidade
moderniza-se e acompanha os tempos, fazendo nascer a Área
Metropolitana do Porto, a segunda maior de Portugal. Nos primeiros
anos do novo milénio, o Porto foi eleito Capital Europeia da Cultura,
em 2001, conjuntamente com Roterdão. Logo se fez um enorme plano
de renovação urbana, que não foi gerido da melhor forma. Em 2001
nada estava pronto e foi sendo terminado ao longo dos anos
seguintes: obras por todas as praças
da cidade, além da construção do
Edifício Transparente e da Casa da
Música, que terminaram com enormes
derrapagens orçamentais e
cronológicas. A partir de 2002, o
Porto inaugurou o Metropolitano, uma
das mudanças mais radicais para a
cidade no espaço de cem anos, e que deu aos portuenses uma nova
mobilidade que eles muito agradeceram e que só pecou por tardia. O
areoporto foi igualmente alargado e modernizado, bem como os dois
principais estádios de futebol da cidade: o Estádio do Bessa e o
Estádio do Dragão (num projecto de renovação dos estádios
desportivos que antecedeu o Campeonato Europeu de Futebol de
2004, realizado em Portugal, e cujo jogo inaugural foi no Dragão.

Contudo, o Porto debate-se com sérios problemas. A tendência de


desertificação do centro da cidade, já sentida no final do século XX,
acentuou-se, em boa parte devido ao aumento desmesurado do
preço das casas. À diminuição da população residente seguiu-se a
crise do pequeno comércio, que tem levado ao encerramento muitas
casas comerciais centenárias, e que dantes eram sólidas. Assim, os
prédios antigos e os velhos palácios do centro da cidade ficaram
votados ao abandono, vazios e esventrados pelas ervas, apenas
usados pelos gangs urbanos, pelos grafiteiros, pelos
toxicodependentes e pelos mendigos e vadios. A Baixa, passou a ser
um espaço de contrastes, onde o movimento e buliço diurno
contrastavam com as ruas desertas e inseguras da noite portuense. O
tráfico de droga, o vandalismo, o crime organizado e violento e o

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banditismo aumentaram na última


década e puseram recentemente
em risco o galardão concedido
pela UNESCO ao Centro
Histórico: o de Património
Mundial da Humanidade. Além
disso, o Porto tem perdido o seu
lugar no país, e o seu carácter
central, com a deslocalização das
grandes empresas e das sedes
de bancos e seguradoras para
Lisboa, o que leva a cidade a
viver uma forte crise de
identidade, e a questionar-se
sobre qual o seu papel no país e
numa Europa unida.

Qual será o futuro


da Cidade do
Porto? Não
sabemos, mas
será o que
fizermos dele hoje!

Património
Edificado

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