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O URBANISMO DE ÉVORA NO PERÍODO MEDIEVAL

Hermínia Vilar (UE/CIDEHUS)


Hermenegildo Fernandes (FLUL/CHUL)

Nada mais banal e ao mesmo tempo mais verdadeiro do que ver no urbanismo de uma
cidade como Évora, em que a espessura da cronia se impõe ao observador como um
dado incontornável, uma sucessiva re-escrita, um palimpsesto em que os textos
anteriores fossem sucessivamente apagados para dar lugar às últimas leituras não sem
deixarem de si traços a permitirem propostas de decifração. A cidade é assim ela
própria estratigrafia, nas suas estruturas aparentes como nas invisíveis que o acaso das
intervenções urbanas e a acção dos arqueólogos vai evidenciando. E os estratos mais
antigos, aqui os medievais, datados do período islâmico ou do primeiro cristão são,
pelas leis que regem qualquer processo de sedimentação, os de mais difícil leitura e
interpretação. O que implica questionar a imagem da cidade enquanto centro
eminentemente medieval quando a maior parte das estruturas aparentes se apresentam
modernas, isto é, dos séculos XVI, XVII e XVIII, e precisar o que se entende por
“medieval”, rejeitando a projecção retrospectiva dos dados do urbanismo tardo
medieval, consolidado e definido em Trezentos pela construção da cerca nova, sobre
cronologias anteriores. O que se segue, necessariamente esquemático e
propositadamente fragmentário, como convém quando apenas de fragmentos do real se
entende, assenta nestes pressupostos.

A madinat Yabura
Muito pouco se sabe, de definitivo e seguro, sobre a organização do espaço urbano na
cidade islâmica de Yabura. Na ausência de resultados análogos àqueles que iluminaram
fragmentos de tecido urbano nas alcáçovas de Mértola ou de Silves, ou ainda em
Santarém, na Sé de Lisboa ou em Palmela, a reconstrução da malha urbana assentará
essencialmente na definição dos seus limites, bem como na da sua área áulica. E, nesses
limites, está talvez a chave para decifrar as relações que o núcleo islâmico mantém com
o então próximo passado romano prolongado na Antiguidade tardia visigótica. O que
define e configura a cidade são os seus muros e, não por acaso, o grosso dos informes
que ficaram sobre o edificado de Yabura diz respeito a essas estruturas que, mais uma
vez não por acaso, são romanas. Se fossem necessárias provas, outras que as da
tipologia construtiva – que poderia encaixar também nos esquemas andaluzes do

1
período omíada, tendentes a preservar as técnicas de alvenaria romanas – as escavações
recentes na Alcárcova de Cima mostrando a sobreposição da muralha a uma casa do
século III, o que é consentâneo com a cronologia de amuralhamento dos centros urbanos
a partir deste período, dissipariam todas as dúvidas sobre a origem da cerca que envolve
os cerca de 12 ha correspondentes ao espaço intra-muros durante os mais de mil anos
seguintes1. Isso significaria que a matriz da malha urbana de Yabura é romana, ainda
que tardia, e se mantém sem soluções de continuidade estruturais até ao crescimento,
difícil de datar com precisão, que conduzirá à redefinição do século XIV.
O que não se faz sem adaptações na utilização do espaço que reflectem e permitem
medir o pulsar das conjunturas ao mesmo tempo que indiciam o reordenamento de
equilíbrios internos na cidade. A este respeito, o saque da cidade protagonizado por
uma hoste comandada por Ordonho II em 913, constitui-se como um ponto de
observação privilegiado, sobretudo por o acontecimento ter sido suficientemente
marcante para, a partir da sua fixação inicial numa crónica regional coeva, encontrar o
seu caminho em direcção à grande compilação do século imediato, Muqtabas. A.
Sidarus já se ocupou demoradamente da exegese do texto2, interessando-nos aqui
sublinhar os focos que este lança sobre o urbanismo de Yabura. De facto, o espaço
construído e as intervenções por ele sofridas antes, durante e depois da tomada e
abandono da cidade pelos cristãos, desempenham um papel decisivo na economia da
narrativa. Desde logo Ordonho decide tentar o ataque justamente depois de observar o
mau estado da cintura de muralhas. Embora tivesse recebido nalguns pontos trabalhos
recentes – seguramente contextualizáveis no quadro da integração de Évora na esfera de
influência da dinastia regional fundada por Ibn Marwan na centúria anterior e que à data
da ofensiva cristã constitui o único referente político, enquanto se espera a reanimação
da autoridade omíada que virá com ‘Abd al-Rahman III – o muro romano havia por
então perdido a maior parte da sua funcionalidade defensiva: a muralha “[…] era baixa
e não tinha, no topo, parapeito nem ameias. Havia, numa zona do exterior, um elevado

1
A. Sidarus, “A nova fundação de Évora no princípio do século X” in Actas do I Congresso sobre o
Alentejo (Évora, Out. 1985), Beja, Associação dos Municípios do Distrito, vol. I, 191-197; Basilio Pavón
Maldonado, Ciudades y Fortalezas Lusomusulmanas. Crónicas de viajes por el sur de Portugal, Madrid,
Instuto de Cooperacion con el Mundo Arabe, 1993, 25 e ss.; Carmen Balesteros, Jorge de Oliveira, Élia
Marques, “As muralhas de Évora: aspectos problemáticos do seu sistema defensivo”, A Cidade de Évora,
II série, 2 (1996-97), 67-72.
2
A. Sidarus, “Um texto árabe do século X relativo à nova fundação de Évora e aos movimentos muladi e
berbere no ocidente andaluz”, A Cidade de Évora, 71-76 (1988-93), 7-37 (21-34 para a tradução que
seguiremos aqui do fragmento de texto em causa). Tradução integral para o castelhano por María de
Jesús Viguera e Federico Corriente, Saragoça/Madrid, Anubar/IHAC, 1981.

2
montão de lixo. Os habitantes da cidade costumavam atirá-lo para ali, a partir do
interior da muralha. Com o tempo, tinha alcançado quase a altura dela em alguns
pontos.” É seguramente também essa degradação estrutural, junta com a má qualidade
das obras recentes que permitem aos cristãos abrir uma brecha precisamente nessa área,
que vai facilitar a demolição dos muros que o senhor de Badajoz ordenará em Évora
depois do saque de Ordonho, temendo que a cidade deserta – a população fora
chacinada, os notáveis haviam fugido – viesse a ser ocupada pelos berberes. Porém, a
intensiva actividade de reparações nas fortificações das cidades do Gharb que resulta do
inesperado sucesso da operação cristã dará aqui também os seus frutos: ‘Abd Allah Ibn
Marwan, o senhor de Badajoz, tendo entregue a cidade a um seu aliado e vassalo,
Ma’sud Ibn Sa’dun, apresta-se a repará-la. A descrição das obras dá-nos a medida da
extensão dos danos anteriores ao mesmo tempo que limita a extensão da reconstrução:
“[…]tapou-se a brecha, consolidaram-se os contrafortes e colocaram-se portas pesadas.”
Assim, não só a cerca romana havia sobrevivido à usura do tempo, à desactivação
funcional dos séculos anteriores e ao ataque cristão, como um fragmento anterior do
mesmo texto que refere uma destruição total das muralhas pelo senhor de Badajoz
(“[…] destruiu as torrres e deitou abaixo o resto das muralhas, até ficarem rente ao chão
[…]”), talvez contenha, em partes iguais, tanto de realidade como de retórica celebrativa
da capacidade de intervenção do senhor regional, sublinhando a destruição para depois
exaltar a reconstrução. Uma coisa é certa: os trabalhos seguem o traçado imposto pela
muralha pré-existente, reforçando-a sem dúvida, mas recuperando a maior parte dos
elementos construtivos e mantendo inalterado o perímetro urbano. Se a atribuição da
face A da lápide encontrada na cave do museu de Évora ao início do século X, não
longe do que será depois o alcáçer, estiver correcta, essas obras mas sobretudo a
refundação da cidade por ‘Abd Allah, serão celebradas também, como era costume,
através de inscrição comemorativa.
Através da narrativa do Muqtabas podem ainda descortinar-se alguns fragmentos do que
seria o tecido urbano islâmico. Destaca-se, em primeiro lugar a ausência de referência a
quaisquer arrabaldes que, a existirem, não deixariam de ser presa imediata de Ordonho.
Deve pois concluir-se pelo carácter tardio dos arrabaldes perfeitamente identificados já
no século XIII mas de antiguidade dubitativa. Não é impossível que resultem do
processo de crescimento que o texto de Ibn Hayyan situa a partir da reconstrução de
inícios do século X, prolongando-o até à centúria imediata, hipótese mais credível que a
de uma datação posterior à conquista cristã, sobretudo porque entre 1165 e a

3
consolidação da fronteira de Além-Tejo nos anos trinta de Duzentos, não há, nem
poderia haver, qualquer indício de crescimento urbano em torno de Évora. Em segundo
lugar, assinale-se o silêncio do texto sobre algum recinto fortificado no interior do
perímetro das muralhas que pudesse assemelhar-se a um alcáçer que, existindo, teria
desempenhado papel relevante na defesa da cidade. Em seu lugar parece estar o espaço
vazio e “apertado” a leste da madina onde a população encurralada será chacinada. No
final do século XII, contudo, nesta zona, a mais elevada da medina, estão os dois
alcáceres, o velho e o novo. A sua construção há-de ser pois posterior a 914, uma vez
que não há dela notícia no texto do Muqtabas, e com certeza anterior a 1165, não
estando documentada qualquer intervenção nesse espaço no reinado de Afonso
Henriques ou no seguinte. Um outro elemento no texto, porém, torna mais complexo o
problema. Trata-se da referência a uma mesquita do governador (‘amil), onde este foi
morto. Tal implica a existência de uma área áulica, ainda que não protegida por uma
cintura defensiva, no centro da qual se situaria a mesquita – uma matriz para o futuro
alcáçer com a igreja de S.Miguel? – desdobrando a funcionalidade da mesquita aljama,
localizada em posição incerta – a sé constitui uma probabilidade evidente mas
necessitaria de comprovação arqueológica – no interior da madina. A última referência
topográfica no texto de Ibn Hayyan reveste-se de particular importância porque diz
respeito à reutilização dos edifícios romanos em novo contexto: “[…] uma dezena de
notáveis […] refugiaram-se com as suas famílias num daqueles edifícios antigos,
entrincheirando-se no topo dele […]”. A analogia com a passagem da crónica de
Fernão Lopes que mostra os revoltosos de Évora a assediar o castelo a partir do cimo do
velho templo romano, transformado em fortificação, não podia ser mais evidente. Outro
dado a mostrar que, dessacralizado, o monumento faria parte nesse período da zona
áulica, próximo ou no interior do bairro ocupado pela elite muçulmana e,
provavelmente, o único ponto fortificado defensável – e inexpugnável visto que apesar
do assédio dos cristãos ter durado o dia inteiro, não só não conseguiram assegurar a
posição, como as famílias lá refugiadas acabaram por conseguir sair aproveitando a
calada da noite – no interior do perímetro das muralhas.
O conjunto de informes aduzidos lateralmente pelo texto do Muqtabas parece assim
configurar um padrão urbanístico para a cidade de Évora oferecendo garantias mínimas
de plausibilidade para o período anterior ao califado em que a madina se encontra sob o
controlo de poderes regionais, eles próprios de origem muladi e portanto indígena:
manutenção do perímetro de muralhas da época romana como elemento balizador do

4
espaço urbano, mesmo quando o seu mau estado e os acasos da guerra obrigam a uma
reconstrução; uma diferenciação sociológica do espaço urbano e uma área áulica
identificável, não plasmada, porém, numa estrutura fortificada autónoma dentro da
madina; recuperação, ainda que em novas funcionalidades, de edificações emblemáticas
antigas. No conjunto, dir-se-ia, ainda uma cidade da Antiguidade tardia, sem que
nenhuma ruptura radical tivesse vindo interromper a natural evolução do primitivo
tecido urbano romano. Conservação dos limites, com certeza também da diferenciação
funcional dos espaços, variações nos conteúdos funcionais resultantes da islamização
mais do que da ausência de um poder central, cujas funções são, pelos fins do século IX
e princípios do X, absorvidas pela dinastia dos Banu Marwan sediada em Badajoz.
As transformações que os primeiros registos cristãos depois da conquista documentam –
o duplo alcáçer, depois os arrabaldes – mostrando uma madina que cresceu e se
complexificou na organização interna do espaço, devem pois datar-se dos 250 anos que
medeiam entre o início do período califal e a conquista cristã. Todos os indícios,
embora esparsos, diria esqueléticos, para aí apontam.
Em primeiro lugar a questão do alcáçer ou, como se lhe referem os textos cristãos do
XII, o “alcáçer velho”. Embora mais uma vez aqui só campanhas arqueológicas
suficientemente abrangentes nos pudessem dar certezas, pensamos poder atribuir ao
período califal a construção do recinto, já por não haver qualquer notícia dele anterior,
já pela analogia de situação de Mérida, outro – e mais importante – centro da autonomia
regional de base muladi. Aí a submissão ao poder central restaurado e sediado em
Córdova, passou precisamente pela construção de uma fortificação interna ao mesmo
tempo virada contra a cidade e vigiando a velha ponte romana. Se excluirmos a variável
representada em Évora pela ausência do rio a situação do alcáçer era a mesma,
aproveitando aqui o ponto com a cota mais alta e ao mesmo tempo mais periférico à
cidade. Por essas mesmas razões, o complexo do depois palácio do conde de Basto
deve corresponder a este alcáçer por ventura califal, mais tarde entregue pelo rei aos
freires da ordem de Évora. Se esse núcleo inicial fortificado no interior das muralhas
datar do período califal, inserindo-se na política de controle dos centros urbanos que
‘Abd al-Rahman III inaugurou, resta ainda explicar o segundo, aquele a que os textos
cristãos de Undecentos qualificam de “novo”. Não sabemos nada de preciso sobre a sua
estrutura ou aparência, tendo as destruições praticadas pelos revoltosos de 1384 no
castelo bem como a obra do palácio Cadaval obliterado ou recoberto a construção
primitiva. No século XII, porém, ela devia parecer ainda bastante recente e, sobretudo,

5
claramente destacada do complexo do alcáçer velho. O que a remeterá para uma fase
bastante mais tardia que a deste. Um período plausível seria aquele em que a cidade
serve de centro secundário para os aftássidas de Badajoz, na segunda metade do século
XI, sobretudo durante o tempo em que o depois último rei da dinastia, al-Mutawakkil, aí
foi governador3. O paralelo com o palácio de Silves que albergou um al-Mu’tamid a
ocupar idênticas funções, bem como o surto construtivo que ocorre por todo o lado
durante as taifas – os alçáceres de Sevilha, o primitico zirida de Granada e a Aljaferia
Hudida de Saragoça são os exemplos mais siginificativos – permitem pensar provável
esta hipótese. A construção pode no entanto ser bem mais tardia e o uso do adjectivo
“novo” pelos conquistadores cristãos torna plausível, diriamos mesmo provável, que se
tratasse de uma edificação posterior ao último período taifa. O que recolocaria o
problema do seu contexto cronológico. A este respeito uma inscrição datável dos anos
de 1148 a 11514 e que comemora uma fundação feita por um senhor da guerra que opera
por esses anos à escala regional, Sidray Ibn Wazir, com um sucesso que lhe permitirá
ostentar então o título soberano de Imam, pode permitir aclarar a questão. Trata-se
desde logo de uma inscrição fundacional o que implicaria uma edificação de alguma
visibilidade, suficiente para garantir prestígio a um senhor cuja posição e legitimidade
estavam longe de ser suficientemente seguras, como os acontecimentos posteriores
haveriam de mostrar. Para o sublinhar Ibn Wazir escolheu como suporte não uma
qualquer pedra mas, invertendo-a, o verso daqueloutra inscrição fundacional
provavelmente comemorativa da refundação de Évora depois do saque de Ordonho. A
apropriação de uma memória prestigiosa mas suficientemente longínqua para poder ser
obliterada e reaproveitada em novo contexto. Este facto e o próprio local do achado –
recente, de 1968 – nas fundações do paço episcopal, muito perto do local do alcáçer
novo, reforça a probabilidade de esta ser a própria inscrição fundacional do alcáçer ou
de uma estrutura a ele associada. O que seria um sinal não só da importância deste
movimento taifa de meados do século XII, como da pujança urbanística da cidade nos
finais do período muçulmano, justificando numa perspectiva de continuidade o surto de
crescimento que se evidenciará na cidade cristã dos séculos XIII e XIV assim como a
primazia por ela assumida no contexto regional em todos os séculos seguintes.

3
C. Picard, Le Portugal musulman (VIIIe-XIIIe siècle). L’occident d’al-Andalus sous domination
islamique, Paris, Maisonneuve et Larose, 2000, 198.
4
A. Goulart de Melo Borges, “Duas inscrições árabes inéditas no Museu de Évora”, Cidade de Évora, 67-
68 (1984-85), 21-31; Portugal Islâmico. Os últimos sinais do Mediterrâneo (Catálogo da Exposição), ed.
Cláudio Torrres, Santiago Macías, Lisboa, Museu Nacional de Arqueologia, 1998, 222 (Catálogo, nº
272).

6
Outros indícios embora extravasando da esfera estrita do urbanismo, convergem, aliás,
no mesmo sentido. A começar pelas referências à prosperidade e crescimento da cidade
feitas, de um ponto de vista que é o do século XI, pelo já citado Muqtabas, depois
genericamente corroboradas pelos sinais da sua crescente importância política sobretudo
face a Beja, que, no primeiro milénio, concentrara em si a maior parte das funções
centrais à escala regional, agora perdidas para Évora, numa tendência que a conquista
cristã manterá. Embora ainda exíguo se comparado com o de Beja, o aparecimento nos
séculos XI e XII de alguns intelectuais num centro urbano como Évora de onde eles
antes pareciam completamente ausentes, parece confirmar esta tendência para o
crescimento5.
Neste quadro, poderá haver fundamento suficiente para pensar numa expansão precoce
do centro urbano, de qualquer forma anterior à conquista cristã. Adaptando-se às novas
circunstâncias políticas que implicam uma tentativa de controle mais apertado por parte
de poderes externos à cidade, materializada na construção de um complexo de alcáçeres
que Afonso Henriques herdará, ela mantém-se apertada na sua cintura de muralhas
romanas refeitas que os indícios de crescimento populacional evidenciam ser
insuficiente. Os arrabaldes documentados a partir de Duzentos acabam por o provar.

O espaço urbano no período da pós reconquista


Quando, muito provavelmente, cerca de 1176 ou pouco tempo antes, os chamados
freires de Évora, se instalam, sob o comando de Gonçalo Viegas de Lanhoso, no
interior da cerca romana de Évora, na zona que mais tarde viria a ser chamada de
Freiria, protagonizam um movimento de substituição de senhores e de poderes no
espaço urbano recém conquistado. À conquista militar da cidade em 1165 pelas forças
de Geraldo Sem Pavor e à entrega do núcleo à jurisdição de Afonso Henriques seguiu-se
um processo de apropriação e de redistribuição dos espaços conquistados por diferentes
protagonistas directamente intervenientes no movimento de conquista ou que dela
usufruiram nos anos imediatos. E entre os primeiros estiveram, desde cedo, os
chamados freires de Évora, cujo nome de origem os liga indissoluvelmente à cidade na
qual se instalaram pouco tempo após a sua conquista pelos cristãos e dentro da qual
assumiram um papel central na sua defesa e manutenção.

5
C. Mazzoli-Guintard, Ciudades de al-Andalus, Granada, Almed, 2000, 462-463.

7
Daí que seja pouco importante afirmar com certeza se a fundação destes freires se ficou
a dever ou não à necessidade da defesa da cidade conquistada em 1165. O que é certo é
que a funcionalidade desta nova ordem se confunde, nos primeiros anos de existência,
com a defesa de Évora e do território em que esta se inseria e o espaço interior no qual
os freires se instalam no final da década de setenta do século XII reflecte esta mesma
funcionalidade.
Com efeito, em 1176, Afonso Henriques entregava à posse destes freires umas suas
casas situadas em Évora com o seu alcácer velho6, além de outros bens situados em
Évora e em Coruche. A instalação da ordem neste alcácer velho, localizado junto ao
actual Páteo de S. Miguel ou nas proximidades do palácio dos Condes de Basto7,
representou a ocupação e revitalização de um anterior espaço de forte conteúdo militar
mas reflectiu ainda a acentuação da centralidade de um espaço fortificado situado no
interior da cerca romana. Na verdade, a Évora da pós reconquista, da segunda metade
do século XII e das primeiras décadas de Duzentos era um centro articulado em torno
do poder militar, essencial à sua sobrevivência, e do poder religioso, cedo presente na
malha urbana e na malha dos poderes com influência na cidade8. Se o primeiro
convergia na zona amuralhada herdada da ocupação muçulmana, o segundo acabará por
ocupar, em data incerta ou pelo menos discutível, um espaço relativamente próximo da
alcáçova mas polarizador de um outro eixo que abria para uma outra centralidade da
cidade, ligada às actividades económicas e já não apenas às necessidades de defesa de
um núcleo.
Retornemos, porém, ao primeiro destes espaços e equacionemos algumas das dúvidas
que sobre a sua organização têm vindo a tecer diferentes historiadores e estudiosos.
Com efeito, muitas discussões subsistem sobre a extensão da zona fortificada
possivelmente herdada do período muçulmano e sobrevivente no interior da cerca. As
menções cronologicamente próximas a um alcácer velho e a um alcácer novo, o carácter
lacunar das informações para a Évora muçulmana e para a Évora da pós conquista
cristã, dificultam o conhecimento da malha urbana, da extensão e mesmo da sua
organização interna para as primeiras décadas da segunda metade de Duzentos, sendo

6
Documentos Medievais Portugueses.Documentos régios, ed. de Rui de Azevedo, Lisboa, 1958, vol. I,
doc. 327, 427-428.
7
Miguel Pedroso de Lima, O Recinto Amuralhado de Évora, Évora, Estar Editora, 1996, p. 31 e Ângela
Beirante, Évora na Idade Média, Lisboa, FCG-JNICT, 1995, 44-45.
8
A articulação entre estes dois pólos e a sua importância no período da pós reconquista foi já realçada por
Afonso de Carvalho, Da Toponímia de Évora. Dos meados do século XII a finais do século XIV, Lisboa,
Colibri, 2004, 46 e ss..

8
grande a tentação de ler o urbanismo de final do século XII e do início de Duzentos
como a herança directa das décadas anteriores. No entanto é de supor que a marca cristã
se tenha feito gradualmente sentir no espaço vivido da cidade conquistada, recuperando
por um lado antigas e contínuas funcionalidades, como acontecia com o espaço dos
alcáceres velho e novo entregues à ordem dos freires9 e que, no conjunto, deviam incluir
o núcleo central fortificado da cidade, naturalmente defensável e estrategicamente
situado, mas alterando outras, como acontecia com o poder religioso articulado em
torno do poder diocesano, restaurado desde, pelo menos, 1166. E este,
independentemente da situação do templo primitivo, foi, desde cedo, um centro
ordenador do espaço fisico e simbólico de Évora.
Com efeito, mais uma vez se torna dificil afirmar com clareza a localização de um
hipotético templo primitivo cristão, sede anterior de uma Sé datada já da segunda
metade do século XIII. No entanto, nem por isso a presença do poder do bispo se fazia
sentir com menos vigor, em especial quando a fase da conquista e da defesa passou e a
cidade se adaptou gradualmente ao viver e à presença cristãs.
Na verdade, no início de Duzentos, a linguagem da guerra e a pressão ditada pela
proximidade do campo de batalha pareciam relativamente afastadas. É claro que a
ameaça almôada de vinte anos antes tinha feito perigar os campos em redor de Évora,
cuja defesa entregue aos seus freires tinha conseguido resistir, face à violência dos
ataques, usufruindo talvez de uma relativização do interesse muçulmano por esta praça
a sul da fronteira do Tejo em favor de outras localidades mais estratégicas para os seus
interesses militares e económicos. Mas ultrapassada a violência desses anos, a tendência
seria para a integração da cidade no reino cristão e na malha das suas hierarquias.
O conflito que no início de Duzentos se desenha, pela primeira vez, entre os freires de
Évora e o bispo da nova diocese prova que um novo equilibrio se esboçava na cidade
após o domínio do poder militar10. O que então estava em causa, entre outras questões,
era o estatuto da capela de S. Miguel, detida pelos freires na zona da alcáçova, na qual
se celebrava missa e um sino chamava à celebração. Fundada, possivelmente, pelos
freires pouco após a sua fixação11, este templo poderá ter sido um dos primeiros a ser
instalado no espaço intra muros após a conquista, talvez até antes da primitiva sé de

9
Maria Ângela Rocha Beirante, Évora na Idade Média, Lisboa, FCG/JNICT, 1995, 44-45.
10
Hermínia Vilar, As Dimensões de um poder. A diocese de Évora na Idade Média, Lisboa, Estampa,
1999 e Arquivo do Cabido da Sé de Évora, CEC 3-IIIA, fl17-18v..
11
Afonso de Carvalho, op. cit., 55 e Carlos da Silva Tarouca, “As origens da ordem dos cavaleiros de
Évora (Avis) segundo as cartas do Cabido da Sé de Évora”, A Cidade de Évora, 13-14 (1947), 30-31.

9
localização desconhecida. Mas no início do século XIII a sua existência representava
um problema para os poderes diocesanos. O acordo que procura pôr fim a uma anterior
conflitualidade de duração desconhecida referia a celebração de missas, a recepção de
dádivas, um comportamento religioso, enfim, que aproximava a capela de S. Miguel de
qualquer outra igreja paroquial. E esse era, aparentemente, o perigo para os poderes
diocesanos. A capela de S. Miguel deveria ser para uso exclusivo dos freires aí
instalados e a celebração de missas deveria reduzir-se a alguns dias previamente
estipulados, de forma a que nada a confundisse com uma igreja paroquial, fundada e
desenvolvida num espaço demasiado contíguo ao espaço de influência dos poderes
diocesanos, entregue, para mais, à jurisdição de uma ordem militar.
Na verdade, este conflito, um dos poucos, que se debruça sobre o espaço urbano para
uma cronologia tão recuada, reflecte um primeiro confronto entre os dois poderes do
período do pós reconquista, um conflito que anuncia o fim gradual do domínio militar e
prenuncia uma nova estrutura e novos eixos de organização da vivência urbana.
E, na verdade, em 1211 Afonso II confere à Ordem de Évora um novo destino: Avis.
Neste espaço, para o qual os freires de Évora resistirão a mudar, irá a ordem buscar um
novo nome, novas propriedades e mesmo uma nova memória. É verdade que a sua
ligação a Évora se mantêm, pela posse de casas e de alguns bens no interior e nas
imediações da cidade, mas os tempos eram já outros nos meados de Duzentos.
A centralidade urbana dos poderes diocesanos era gradualmente afirmada, mesmo se no
vasto espaço da diocese a partilha com a influência das ordens militares era inevitável.
Assim, quando a nova sé é construída, ela não se vira para o espaço fortificado,
deixando-o antes para trás, num simbolismo que parece remeter para o passado a
presença da guerra e dos seus protagonistas; não olha mesmo para o espaço herdeiro do
Forum Romano progressivamente reutilizado, mas antes para os novos eixos que já,
talvez, entreabertos nas décadas anteriores, ganham agora uma gradual e nova
centralidade.

Paróquias e arrabaldes ou os eixos de crescimento urbano


A 6 de Fevereiro de 1286, D. Dinis em conjunto com muitos da “sua corte” concedia ao
concelho de Évora, reunido no adro da igreja de Santo António, uma carta de
confirmação, de reconhecimento de privilégios e de concessão de novos pedidos que, na

10
altura, lhe foram dirigidos12. Nesse documento estabelecido entre o monarca e o
concelho, ambas as partes comprometiam-se a aceitar as condições herdadas do reinado
anterior de Afonso III e a devolver a posse dos bens tal como cada um dos envolvidos
tinha detido nas décadas anteriores.
Como testemunhas deste acto foi indicada uma longa lista de vizinhos e moradores da
cidade, a par dos muitos que, provavelmente, tinham acompanhado D. Dinis na sua
viagem até Évora. Entre estes últimos destacava-se o chanceler, curiosamente bispo de
Évora na altura: D. Domingos Eanes Jardo, o seu mordomo, o porteiro, o sobrejuiz,
além de um número significativo de ricos-homens, alguns familiares do próprio
monarca e um número indiscriminado de membros da sua corte. No entanto, não é esta
a lista que nos interessa, não obstante as indicações que nos fornece sobre a importância
do documento assinado, mas sim a constituída pelos membros do concelho, mais
eloquente sem dúvida em informações sobre a cidade na qual o acordo teve lugar.
Na verdade, é a partir da leitura e análise da lista constituída pelos representantes de
Évora que maiores questões se colocam e também maiores reflexões são suscitadas.
Mais de cinco dezenas de nomes são referidos nesse rol de testemunhas, embora as
menções não esgotem o número de personagens presentes, dada a referência comum a
parentes dos intervenientes mencionados. Nomes que apontam para diferentes grupos
sociais, desde eclesiásticos, entre os quais se destacam alguns cónegos da Sé, a
escudeiros e mercadores. No entanto, e ao contrário do que se poderia supor, a maior
parte das referências não classificam os mencionados de acordo com as suas profissões
ou ocupações, nem mesmo com um qualquer critério económico que permita organizar
ou adivinhar a hierarquia subjacente. Curiosamente, é o espaço da sua habitação, da sua
pertença que organiza uma parte substancial deste conjunto.
Assim, após a enumeração de algumas testemunhas, identificadas, na maior parte dos
casos, por ligações familiares, muitos das restantes surgem ligadas a um determinado
pólo da cidade, localizado no exterior da muralha romana. O primeiro critério
subjacente aponta, pois, no sentido da existência de uma clivagem entre os que
habitavam dentro e fora de portas, ou seja dentro e fora da muralha romana, a única à
data existente e que separava e estabelecia a diferenciação entre o interior amuralhado e
as zonas exteriores. O segundo critério aponta no sentido da especificação clara do
arrabalde ao qual cada uma das testemunhas pertencia. Assim, enquanto no caso dos

12
Gabriel Pereira, Documentos Históricos da Cidade de Évora, Lisboa, 1998 [1885], 42-44.

11
primeiros moradores referidos não é feita qualquer menção ao seu local de residência,
indício possível mas não claro de uma morada localizada no interior das muralhas, os
restantes são agrupados de acordo com os arrabaldes de onde provinham, no caso: o de
Alconchel, o de S. Francisco, o da Porta de Moura e o de S. Mamede.
O retrato que este documento nos faculta é pois, e antes de mais, o de uma cidade que,
nas últimas décadas de Duzentos, se espraia já pelas zonas limitrofes ao espaço
amuralhado, definindo zonas preferenciais de concentração habitacional extra-muros,
das quais as referidas no documento seriam talvez as mais importantes e com maior
representatividade económica, a suficiente, pelo menos, para que os nomes de alguns
dos seus moradores fossem referidos explicitamente na lista dos presentes à celebração
deste documento. Mas, na verdade, outros pólos populacionais deveriam ainda
dispersar-se pela zona externa em redor da muralha, se bem que, provavelmente, com
bastante menos representatividade e importância do que os referidos. Um destes poderia
ser, com certeza, o núcleo do arrabalde de Avis, outro o de Cogulos13, embora aí os
dados documentais sejam escassos e lacunares. De qualquer forma, é possível que a
tendência acabasse por ser a inclusão destes pólos secundários nos grandes arrabaldes
que a muralha cristã viria a conter no seu interior.
Alconchel, Porta de Moura, S. Francisco e S. Mamede, estes seriam, muito
possivelmente, no final de Duzentos os mais importantes centros organizadores do
povoamento extra muros e tanto a sua dispersão como a sua denominação reflectem
alguns dos condicionalismos do seu crescimento.
Atentemos antes de mais, nos termos que os designavam. Dois critérios básicos
parecem estruturar as denominações destes quatro arrabaldes. No caso dos dois
primeiros domina um critério de localização: eram as portas da muralha que definiam a
identidade do arrabalde, ou seja era a visão do interior que dominava sobre o exterior,
enquanto os dois restantes se definiam em função de duas instituições eclesiásticas: uma
de implantação relativamente recente mas já suficientemente importante para ditar a
organização do espaço em seu redor, ou seja o mosteiro de S. Francisco, outra de
implantação mais antiga e que se ligava à igreja paroquial que fora de portas organizava
o pólo habitacional que incluía a mouraria, mas também ruas que, a seguirmos a opinião
de Ângela Beirante, seriam de“fixação precoce junto aos muros da cidade”14.

13
Afonso de Carvalho, ob. cit., 84-88.
14
Ângela Beirante, ob. cit., 58.

12
Contudo, não foi no adro desta igreja, mas sim junto à outra igreja paroquial
igualmente localizada fora de muros que o documento que nos tem servido de guia foi
assinado, ou seja no adro da igreja de Santo António. Com efeito e ao contrário do que
a importância do texto e dos protagonistas envolvidos poderia fazer supor, não foi no
adro da Sé ou nas suas imediações que o rei e os membros do concelho se reuniram
mas, antes, nas proximidades de uma igreja paroquial localizada fora do centro
amuralhado, junto à praça que se ia delineando e cuja importância e centralidade crescia
e se impunha gradualmente.
Na verdade e mais uma vez não sabemos em que data esta igreja, localizada não longe
da porta de Alconchel, foi fundada. As primeiras referências documentais são
relativamente tardias, tal como acontece com as restantes paróquias de Évora. S. Tiago,
S. Pedro, S. Mamede e Santo António, igrejas que juntamente com a Sé partilhavam e
retalhavam o espaço habitado tanto no interior como no exterior da muralha surgem
mencionadas em datas relativamente tardias, embora uma leitura do espaço e da
evolução da sua posse autorize pensar numa bem mais precoce fundação para alguns
destes templos. Mas a existência paralela destas cinco paróquias na segunda metade de
Duzentos, a escolha do adro de Santo António para a celebração de cerimónias como
esta que o documento de 1286 retrata, a própria importância económica de uma igreja
como a de S. Mamede que na Lista de Igrejas de 1320 apresenta o segundo maior
rendimento das igrejas de Évora logo depois da Sé15, são indícios claros da importância
das igrejas dos arrabaldes e consequentemente destes mesmos arrabaldes no contexto de
Évora dos séculos XIII e início do XIV. Importância que não deixa de colocar dúvidas
sobre a cronologia da ocupação do expaço em redor da muralha e sobre a formação
destes pólos habitacionais que articulavam o espaço em torno do limitado
amuralhamento romano.
Desta forma, a escolha do adro de Santo António não foi com certeza aleatória. Claro
que é bastante provável que este espaço se tenha também imposto pela sua dimensão e
pela necessidade de albergar um tão elevado número de pessoas como aquele que é
referido no final do documento, mas a sua escolha não deixa igualmente de ser
sintomática dos novos focos de polarização urbana que se vão definindo.
Distante do centro episcopal, distante até do centro militar directamente ligado ao rei, o
arrabalde de Alconchel, no qual a igreja de Santo António se instalava, estava

15
Fortunato de Almeida, História da Igreja em Portugal, dir. Damião Peres, Porto/Lisboa, Livraria
civilização, 1971, vol. IV, Apend. XVII, 134.

13
plenamente inserido na malha urbana em crescimento e é com esta cidade que D. Dinis
estabelece o acordo. Na verdade, é com o concelho, os cidadãos, os mercadores e os
representantes dos diferentes grupos urbanos que o monarca se articula e não com a
nobreza ou o clero aí sediado.
O documento de 1286 não se limita, pois, a ser um documento para a história das
relações entre a cidade e a realeza. Ele constitui igualmente um reflexo da organização
da Évora cristã das últimas décadas do século XIII. Um pólo que passados pouco mais
de cem anos após a sua conquista e algumas décadas apenas após a pacificação plena da
zona na qual se integrava, se dispersava por diferentes núcleos habitacionais, de
importância desigual, mas que rodeavam uma parte significativa da muralha romana.
Tomados em conjunto, os arrabaldes mencionados neste documento do final de
Duzentos apontam já os eixos prioritários de crescimento da cidade, os que virão a ser
incluídos no interior da cerca nova que, alguns anos mais tarde, após a celebração deste
documento, começaria a ser construída.
Com efeito, o crescimento dos séculos seguintes limitar-se-á, grosso modo, a preencher
o espaço deixado em aberto entre os diferentes núcleos habitacionais que se difundem
no decurso do século XIII em torno da muralha, mas a base da articulação da cidade
medieval parece mais ou menos definida nesta centúria.
Da mesma forma, tanto o convento franciscano como o dominicano reconhecerão e
confirmarão, através da sua implantação, na primeira metade de Duzentos, os eixos
privilegiados do crescimento urbano, incentivando-o nas décadas seguintes. Assim,
instalam-se junto de zonas de crescimento populacional, deficientemente integradas na
rede paroquial de instalação relativamente recente, mas suficientemente próximos dos
centros articuladores desse crescimento. S. Domingos procura a zona de Cógulos,
enquanto S. Francisco se instala perto do arrabalde “cerca da Corredoira”, arrabalde que
mais tarde tomará o nome do próprio mosteiro como já referimos. Afastados entre si e
da muralha romana perfilam-se em função de dois eixos divergentes em relação à Porta
de Alconchel.
No essencial a zona de crescimento da cidade está definida no decurso do século XIII,
como atrás foi referido. As duas centúrias seguintes pouco mais farão do que ocupar as
zonas intermédias deixadas em aberto, apropriarem-se dos vastos espaços não habitados
que serão mantidos no interior da cerca nova. Com efeito, a cerca que as centúrias de
Trezentos e de Quatrocentos verão tomar forma, incluirá largas zonas, tão largas que

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só passados muitos anos a população de Évora voltaria a ter necessidade e vontade de
ultrapassar o aro definido pela cerca medieval.

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