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Fernando Grilo

Doutor em História da Arte, Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa, Portugal,


fjorgegrilo@gmail.com

RESUMO: A extensa campanha de obras de urbanismo que D. Manuel I leva a cabo em Lisboa, tem
paralelo também com a sua intervenção no espaço estratégico de Belém/Restelo a qual deve ser
considerada como afirmativa e multifacetada, aí gerando uma arquitectura multifuncional e
polisemântica, que solicitou de Francisco de Arruda, autor da Torre de Belém (1514 – 1520) tal como
tinha solicitado a Boytac no primeiro projecto para Santa Maria de Belém (1501) e irá exigir a João de
Castilho e à sua companha multinacional (1517 – 1522), uma capacidade de inovação e de criatividade a
vários níveis notável. Proponho colocar o problema não só do ponto de vista da arquitectura militar, como
habitualmente tem sido visto, mas também no que defino como o campo da arquitectura iconológica no
tempo de D. Manuel I.

RESUMO: The extensive urbanistic campaign that takes place in Lisbon, ordered by D.Manuel I, can be
compared to his intervention in the strategic space of Belém/Restelo, which should be considered as an
affirmative and multifaceted action that generated a multifunctional and polysemanthic architecture.
Therefore, this campaign will need a capacity for innovation and creativity that can be found in Francisco
de Arruda, author of the Torre de Belém (1514-1520), Boytac in the first project for Santa Maria de
Belém (1501) and João de Castilho and his multinational team (1517-1522) in the same monastery. I
propose to approach the problem not only from a military architecture point of view, as has been the case,
but also as an example of what I consider to be an iconological practice applied to architecture.

PALAVRAS-CHAVE: Torre baluarte de Belém, Francisco de Arruda, Francesco di Giorgio Martini,


Arquitectura militar, Manuelino

Francisco de Arruda e a edificação da torre de Belém (1514 – 1520).


Circunstâncias, Especificidades e modelos.

Em frente deste templo ergue-se uma Torre de quatro pisos, construída em pedra de
cantaria. Foi também o já mencionado D. Manuel que empreendeu a sua edificação
sobre rochas lançadas ao mar, de forma que, ficando cercada de água por todos os
lados, se tornasse bem segura contra qualquer violência ou ataque dos inimigos; e
devido à estreiteza da passagem, tornasse impossível a quaisquer navios conseguirem
aproximar-se da cidade, sem o consentimento dos que estavam de quarda à torre.
Damião de Góis 1

Muito se tem escrito sobre o “castelo de sam vicente a par de belem”, desde os contributos mais antigos,
como os de Athanazius Raczinsky (2) ou de Albrecht Haupt (3) aos mais recentes como o de José Manuel
Garcia (4), já no âmbito da celebração dos 500 anos da Fundação deste emblemático edifício. A
omnipresença da Torre de Belém nos autores da especialidade justifica-se pela visibilidade cultural e
artística que o monumento assume, principalmente no séc. XX, sendo considerada, atendendo à decoração
dita manuelina que apresenta, como peça iconográfica essencial do discurso de poder de tal arquitectura
no espaço geográfico Belém/Restelo. É também sempre citada pelo carácter sui generis da sua
arquitectura, dita de transição, mesmo do ponto de vista restrito da sua função militar. Desde há muito
reconhecida como uma dos edifícios mais emblemáticos da arte portuguesa, raramente tem suscitado
abordagens historiográficas que não a relacionem ao Mosteiro de Santa Maria de Belém, assim como à
sua relação umbilical com as formas decorativas, exuberantes e híbridas, do tempo de D. Manuel I.
Sabendo-se hoje que algumas dessas formas “tipicamente” manuelinas foram acrescentadas e
hipervalorizadas em intervenções de restauro oito e novecentistas, penso ser mais interessante e produtivo
direccionar a discussão para as especificidades arquitectónicas e funcionais deste edifício, procurando a

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sua integração no tempo em que foi edificado e também na evolução da obra conhecida e devidamente
documentada do mestre por ela responsável.

Não sendo claramente a ocasião de fazer um estado da questão sobre as largas dezenas de estudos
publicados ao longo do tempo sobre este monumento nacional, nem todos de igual valor historiográfico
ou documental, não posso deixar de salientar algumas obras pelo valor excepcional que assumem nesta
discussão; como o livro, verdadeiramente seminal, de Reinaldo dos Santos ( 5), no qual , através de leitura
e interpretação documental, em 1922, o autor fixou definitivamente a autoria do célebre edifício a
Francisco de Arruda e estabeleceu a datação da campanha construtiva, entre 1514 e 1520. Igualmente
importante foi o contributo de A. Nogueira Gonçalves, publicado na revista Occidente, em 1964, mais
tarde reunido em volume (6), sendo o primeiro historiador da arte a chamar a atenção para a importância
de analisar a Torre de Belém como um edifício funcional para além da sua decoração, assim como, aí
salientou a necessidade de o integrar na arquitectura militar do seu tempo, numa visão que, todavia
permanecendo solitária, havia já sido sugerida, em 1932, pelo engenheiro José de Sousa Nunes ( 7). Não
posso deixar igualmente de salientar a publicação da documentação sobre os mestres Arruda, assim como
de muitos outros mestres da época, levada a cabo por Francisco de Sousa Viterbo (8), fonte de
conhecimento ainda hoje incontornável.

Resolvida documentalmente a questão da atribuição, ao labor e traça do mestre Francisco de Arruda e da


cronologia da intervenção, que praticamente se manteve incontestada, 1514 – 1520, outros contributos
historiográficos mais recentes, ao procurarem traçar visões alargadas e integradoras da arquitectura no
tempo joanino e manuelino, permitem hoje uma contextualização ampliada desta obra de arquitectura.
Refiro-me aos contributos de Pedro Dias (9), a permitir hoje a necessária visão conjuntural da acção
mecenática dos monarcas e de alguns membros da nobreza portuguesa, aliado ao conhecimento mais
profundo dos protagonistas desse notável surto construtivo (10) nos espaços do Império. Rafael Moreira
(11), a quem se devem publicações sobre arquitectura militar portuguesa, aproximou a Torre de Belém da
influência da tratadística de Francesco di Giorgio Martini ( 12), a que se juntam naturalmente, os
contributos bibliográficos de Vítor Serrão (13), Clara Moura Soares (14), Mário Jorge Barroca (15), Ricardo
Silva (16), Inês Fernandes dos Santos (17), Rui Carita (18) e da minha autoria ( 19), assim como de muitos
outros que aqui seria exaustivo enumerar, mas que nos permitem hoje deter uma visão muito mais precisa
e completa do período histórico em análise e da sua produção artística.

Exactamente porque em História da Arte é essencial manter uma visão o mais abrangente possível sobre o
objecto de estudo, devo destacar os contributos, não especialmente para a história e função deste edifício,
mas para a compreensão da arte da guerra, do armamento e da estratégia militar no período moderno
elaborados nos últimos anos (20) e que que nos dão as chaves de leitura essenciais para se poder olhar a
Torre de Belém do ponto de vista funcional, quer dizer, como estrutura defensiva. A esta bibliografia
essencial, quantas vezes não devidamente considerada pelos historiadores da arquitectura, não podemos
deixar de salientar as publicações essenciais que foram produzidas no contexto da actividade científica de
conservação deste edifício, que evidentemente constituem base essencial para a compreensão da sua vida
material (21), assim como o muito que se tem investigado e publicado no contexto da organização dos
estaleiros, das viagens dos artistas e das ideias e das técnicas construtivas no período do tardo gótico e do
Renascimento em Portugal (22).

O edifício traçado por Francisco de Arruda, iniciado em 1514, continua em plena laboração, em 1516,
quando a 2 de Outubro se procede a mais uma entrega ao “mestre do baluarte do restelo (…) de 763
cantos lavrados em que sobem 504 varas de cantaria para a construção do baluarte.” (23), sendo cobrada
cada vara a 45 rs. A construção demorará ainda cerca de quatro anos a ser terminada, o que parece
excessivo numa outra qualquer obra de arquitectura desta dimensão, mas que neste caso é explicada pelas
condições especiais em que decorrem os trabalhos dependendo não só do facto de se estar a construir
inteiramente no rio, a cerca de duzentos metros da margem, em aforamento basáltico, mas também por ter
de acompanhar o ritmo das marés, o que diminuía o tempo efectivo de trabalho aí despendido. Sendo a
pedra utilizada proveniente das mesmas três pedreiras que abasteciam o estaleiro hieronimita, o talhe dos
muitos silhares necessários pode ter sido distribuído, para uma maior rapidez de execução, pelo já citado

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estaleiro de Santa Maria de Belém e por um outro espaço de estaleiro autónomo, naturalmente de menor
dimensão, provavelmente mais próximo da margem do Tejo. Apesar da proximidade entre os dois
edifícios que a vontade régia fazia erigir em Belém, a campanha foi da responsabilidade única de
Francisco de Arruda, correndo independente da mestria de Boytac e da sua companha, ainda que a
vedoria fosse comum às duas obras.

A traça da Torre baluarte que Francisco de Arruda propõe ao Venturoso decorre naturalmente da estreita
colaboração que, ao longo da vida mantém com o irmão Diogo e, evidentemente, da sua experiência
profissional adquirida no contexto dos estaleiros das fortificações da raia, nomeadamente nos castelos de
Portel, de Moura e de Mourão, assim como nas fortificações régias porque ambos foram responsáveis no
Norte de África (24). Devemos à visão estratégica e à acção política de D. João II e de D. Manuel I, um
plano ambicioso e extremamente oneroso de fortificar a zona da raia com Espanha, que foi responsável
por alargadíssima campanha de obras, de Norte a Sul do reino, que Duarte D´Armas, em 1510,
imortalizou em desenhos detalhados. Tal plano e as campanhas de obras a que obrigou propiciou a
formação prática, e quiçá também teórica, de um número elevadíssimo de mestres, como Francisco
Danzilho (25) e outros de que nos fala a documentação da época, de uma multidão de pedreiros e
carpinteiros (26), como Vasco Martins, Afonso Barriga, Pêro Juzarte e outros, assim como um extenso
corpo de auxiliares especializados, dos cabouqueiros aos serventes, que constituem a mão de obra que, ao
longo do reinado do Venturoso, é deslocada para as terras do Norte de África, precisamente o local onde
era necessário consolidar uma presença portuguesa, que não podia deixar de ser militar, mas que
evidentemente se revestia igualmente de aspectos comerciais e religiosos.

Esses mestres, de que existe notícia documental concebem e executam uma arquitectura funcional,
pragmática, mesmo do ponto de vista da arquitectura civil e religiosa, de acordo com as necessidades e as
possibilidades da geografia e da implantação no terreno. Mantendo as mesmas técnicas construtivas e a
mesma estética (27), usando praticamente os mesmos materiais a que estavam habituados na metrópole,
dado a má qualidade e a escassez dos materiais locais, em especial da reputada má qualidade da cal que aí
se conseguia fundir. Numa prática deveras interessante estes mestres recorrem, em muitos casos, a
assinalável padronização de materiais, de soluções arquitectónicas e até de formas decorativas,
directamente importados da metrópole, como aconteceu no caso extremo da fortaleza de São Jorge da
Mina de fundação joanina, e como continuará a acontecer em tempo de D. Manuel I, como os irmãos
Arruda igualmente advogam para as obras de Azamor ( 28).

No entanto, se olharmos para a Torre de Belém, esquecendo os aspectos decorativos, maioritariamente


epidérmicos e as alegadas influências orientalizantes presentes no perfil exterior das coberturas das
guaritas (29), vemos um conjunto de soluções e uma estética não tem paralelo na obra anterior de
Francisco de Arruda, ou mesmo de Diogo. Assim constatando, há aqui que reconhecer um grau de
inventiva projectiva claramente superior a qualquer outra obra por eles já executada. Não só aqui se
afirma uma arquitectura militar inovadora, inteiramente vocacionada para a resistência e ataque à mais
moderna pirobalística naval, como se articulam de modo notável os aspectos funcionais de uma fortaleza
com o carácter habitacional e representativo tradicionalmente reservados para as torres de menagem e
outras residências de alcaides. Francisco de Arruda revela aqui uma capacidade de projecto que
ultrapassa claramente as valências defensivas de qualquer outro edifício que lhe tenha sido encomendado
ou cuja traça lhe tenha sido atribuída. Estamos, então, em face de uma encomenda excepcional, tão
excepcional como a execução do Paço manuelino que, já desde 1501, estava a ser erigido em Lisboa ( 30),
assim como de uma oportunidade única, apesar de tudo muito diferente da que foi oferecida a Diogo de
Arruda, em 1508, quando lhe foi encomendado o Baluarte do Paço, que era apenas uma estrutura
defensiva na margem do Tejo, sequencial ao palácio real (31).

Assim, tal como acontece na extensa campanha de obras que D. Manuel I leva a cabo em Lisboa,
essencialmente de carácter urbanístico e aúlico, também a sua intervenção no espaço estratégico de
Belém/Restelo deve ser considerado como afirmativo e multifacetado, aí gerando uma arquitectura
multifuncional e polisemântica, que solicitou de Francisco de Arruda, tal como tinha solicitado a Boytac
no primeiro projecto para Santa Maria de Belém (1501) e irá exigir a João de Castilho e à sua companha

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multinacional de 1517, uma capacidade de inovação e de criatividade a vários níveis notável. A questão,
que me parece evidente, permite colocar o problema não só do ponto de vista da arquitectura militar,
como habitualmente tem sido visto, mas também no que defino como o campo da arquitectura
iconológica (32).

O sentido funcional do edifício, que condiciona claramente a forma escolhida pelo mestre Arruda como a
mais eficiente para o cumprir da função designada, é complementado com outras funções, nomeadamente
a residencial, ao longo dos seus quatro andares, ecoando as tradicionais torres de menagem, mas neste
caso com a diferença essencial da luz que entra pelas grandes janelas e varandas, torna o espaço habitável
mais acolhedor, a permitir também a visibilidade de um discurso em que a arquitectura se completa na
emblemática e na decoração aí existentes. O edifício detém também, em meu entender, uma função de
representação do próprio monarca, pela omnipresente e dissuasora visibilidade que assume em face do
Tejo, principal via de acesso a Lisboa no séc. XVI, aliada à exibição de um impressionante poder de fogo
e à presença da emblemática régia. A utilização da Torre, recentemente finalizada, como uma espécie de
extensão do Paço da Ribeira, usado pelo Rei e pela sua corte em ocasiões solenes, como aconteceu logo
em 1521, na emotiva partida da infanta D. Beatriz para casar com o Duque Carlos III de Sabóia ( 33,
reforça esta ideia.

A ligação da Torre ao mosteiro de Santa Maria de Belém, constituído desde há alguns anos como local
emblemático da monarquia manuelina, e em especial do Venturoso, que aí se celebra, no portal principal
do templo através da sua representação, e da sua Rainha, em inauditos retratos escultóricos “tirados do
natural” por Nicolau Chanterene (34), que aí igualmente perpetuamente se entroniza, escolhendo a
monumental igreja para local de sua sepultura, em campa rasa e no local onde o oficiante celebra a missa
(35). Neste discurso total, que junta arquitectura e uma nova tipologia de decoração que invade as
estruturas de suporte, não poderiam faltar as relações com a imagem sacras, como as representações de S.
Vicente, padroeiro de Lisboa e mártir da sanha do mouro, e principalmente de D. Fernando, o Infante
Santo, memória sempre relembrada do sacrifício da casa real em prol da grande empresa em que o reino
está envolvido (36) e do carácter ecuménico da acção manuelina. Também no portal sul do cenóbio
hieronimita, paroquial do sítio de Belém, não está ausente, nesta lógica evocativa e iconológica, a
presença do Infante D. Henrique (37), subtil e duplamente significativa evocação que, por um lado
enaltece o seu papel na empresa dos Descobrimentos, e que por outro relembra a sua relação com o
ducado de Beja, através do infante D. Fernando, pai de D. Manuel I, fortalecendo a invocação a linhagens
régias passadas, o que, aliás, será sempre um dos seus objectivos, até no uso da emblemática escolhida, na
sua ligação específica à Ordem de Cristo e no enaltecimento dos dois fundadores da nacionalidade.

A documentação mais antiga (38), diz-nos que o primeiro Capitão e Alcaide do “castelo de s. vicente de
par de belém” será Gaspar de Paiva, “(…) pelo qual deve fazer menagem e tê-lo guardado como a gente
a ele ordenada segundo o regimento que lhe foi dado”. A importância defensiva mas também aúlica do
edifício sai reforçada por esta nomeação, pois Gaspar de Paiva é irmão de Bartolomeu de Paiva, braço
direito de D. Manuel I nas suas empresas artísticas e amo do príncipe. Esta nomeação, sendo para um
cargo militar é também de alto prestígio, até pelo carácter exótico do edifício. A documentação
conhecida, esta já do séc.XVII, refere a presença de uma muito assinalável guarnição fixa de oitenta
homens, assim como de um condestável, com ordenado de 20.000 rs., e oito bombardeiros ( 39) que
perceberiam de ordenado 15.000 rs cada um. Por alvará de D. Manuel I podemos identificar três dos
bombardeiros que aí prestavam serviço, como João Afonso (40), morador em Lisboa mas natural de
Évora, João de Évora (41) ou João Moleiro (42), casado e natural de Sacavém. Em 1520, o Venturoso
manda o seu feitor na Flandres, Rui Fernandes de Almada, a Habsburgo com o objectivo essencial de
negociar com os banqueiro Jacob Fugger a manutenção do contrato e do preço do fornecimento do tão
necessário cobre, mas também para contratar bombardeiros experientes, tendo dessa viagem resultado
igualmente na vinda para o nosso país de um conjunto de obras de arte ( 43). Como é igualmente sabido,
por várias vezes, o rei legislou no sentido da modernização do seu exército e marinha, nomeadamente
promovendo a fundação de uma oficina de armas em Barcarena, para a qual mandou vir mestres de
Biscaia, e ordenou que em certas cidades e vilas houvesse oficiais armeiros, pagos pelos concelhos.

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Fundou igualmente em Lisboa as Tercenas da porta da Cruz e de Cata-Que-Farás, com oficinas de armas
e fundição de artilharia, e uma fábrica de pólvora, que depois se mudou para Alcântara, e mais tarde para
Barcarena. O número de peças de artilharia que se fundiu em Portugal, em Goa, em Macau, e noutros
pontos durante este reinado foi particularmente elevado, dado a necessidade de armar condignamente os
vasos portugueses, quer de guerra quer mercantis, que cada vez mais sulcavam os oceanos Atlântico e
Índico, assim como as fortificações que por essas longínquas paragens eram fundadas. Nestas a
pirobalística assumia cada vez mais uma importância que condicionava claramente o próprio traçado
arquitectónico e influía nas técnicas construtivas. O terraço que Francisco de Arruda projecta para a Torre
de Belém constitui, para além de plataforma muito elevada de tiro, uma verdadeira atalaia que permite
triangulação essencial com outros pontos de defesa da costa e do interior como sugeria Manuel Cardoso
M. Atanázio, ecoado por Lina Marrafa de Oliveira. Em 1514, está também a ser construída a ermida de S.
Jerónimo, em plano muito elevado, na cerca de Santa Maria de Belém, igualmente com cobertura de
terraço. A partir do andar superior da Torre avistam-se as fortificações da outra margem do rio Tejo,
nomeadamente o joanino Forte de S. Sebastião ou Torre Velha da Caparica, o castelo de S. Jorge que,
apesar de já não albergar o Paço, manteve evidentemente a sua função defensiva, assim como quase todas
as fortificações da linha da costa até Oeiras ou ainda mais acima. Tal indicia tratar-se da concepção de
raiz de um sistema destinado a monitorar sistematicamente, e por conseguinte a melhor defender, a
aproximação naval da cidade de Lisboa. O carácter perfeitamente operacional do edifício está assim
claramente definido, assim como a sua função protectora da entrada na cidade através do Tejo.

Trata-se de um edifício notável com um conjunto de características extremamente interessantes, baseia-se


num baluarte equipado com artilharia ( 44), de variado calibre, certamente escolhido em função do
posicionamento e do papel desempenhado na defesa global do edifício e do território que protegia e que
permitiam uma combinação ideal entre o alcance e o poder destrutivo. Como tem sido referido também
por outro autores, a inovação arquitectónica presente neste baluarte, em termos estritamente funcionais,
decorre da posição baixa das portas de fogo, a permitirem um fogo rasante de ricochete, devidamente
testado e desenvolvido já no tempo do Príncipe Perfeito, mas a permitir também o fogo artilheiro
tradicional. Sendo uma estrutura interna, quer dizer coberta com abóbadas, permite uma protecção
eficiente das peças e das respectivas guarnições do ataque exterior e das intempéries, acarretando ,
todavia, a necessidade de criação de um sistema de ventilação adequado que permitisse o rápido
escoamento dos fumos tóxicos provocados pelo disparo das várias peças. Francisco de Arruda cria para
esse efeito um sistema de ventilação, centrado naturalmente no claustro a céu aberto, sensivelmente a
meio do espaço do Baluarte, coadjuvado por um conjunto de escotilhas que permitiam não só a circulação
do ar, como também o rápido abastecimento do espaço inferior. Como nos diz Mário Jorge Barroca (45),
em todos os bastiões erguidos por Francisco de Arruda a preocupação com a ventilação é idêntica,
inclusivamente nos exemplos mais tardios, como em Évora Monte, datado de 1525.

Aliado a este baluarte, que apresenta alambores exteriores que contribuem para fortalecer a estrutura
murária, ampliando enormemente a sua espessura o que vai permitir igualmente incrementar
exponencialmente a sua resistência, quer ao embate contínuo do mar quer ao eventual embate de
projécteis resultantes de fogo naval rasante, o nosso mestre construtor concebe uma Torre de Menagem,
de planta quadrangular seguindo a tipologia das que equipam os nossos principais castelos desde o
período dionisino (46). Contudo, neste caso específico, e contrariamente ao que pode ser observado em
todos os outros exemplos, a torre abre-se ousadamente ao Tejo e sua embocadura, em varandas e janelas
de variada dimensão. Articulando-se em quatro pisos, com outros tantas salas cobertas com abóbadas de
diferentes geometrias e nem sempre de qualidade idêntica, a torre é coroada, tal como acontece noutros
locais, por um terraço com torreões em planta ultra-semi-circular, ainda que de pequena dimensão. Se
bem verificarmos esta solução já tinha sido apresentada nas fortificações de Almeida, onde em 1508,
trabalha Francisco Danzilho e a sua companha, ou nos castelos do Vimioso, de Alpalhão, Castro Marim,
Bragança, Chaves e Freixo de Espada à Cinta e outros, todos representados por Duarte D´Armas,
constituindo uma solução construtiva já conhecida e devidamente testada. No entanto, na fortaleza que
estudamos, os torreões permitem também tiro mergulhante e rasante aos panos de muro e são de pequena
dimensão, quase miniaturais, o que nos indica que, no caso em estudo, toda a estrutura foi armada tendo

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como objectivo um confronto à distância, fundamentalmente naval, onde tudo se decide pelo fogo
cruzado que procura eliminar a ameaça o mais cedo possível.

Apesar das relações que naturalmente mantem com outros edifícios militares e outras planimetrias, a
Torre de Belém possui características difíceis de encontrar noutras estruturas deste tipo e na época, refiro-
me à forma poligonal do baluarte e ao último andar da torre, recuado em relação ao plano da base. O
paralelismo evidente, já devidamente traçado por outros autores, é a torre de menagem do castelo de Beja.
Não sendo evidente a autoria do traçado desta torre, de fundação dionisina (1310), mas reformulada no
tempo de D. Manuel, em período anterior à elevação de Beja a cidade, em 1517, a relação entre as duas
estruturas parece evidente, até pelo carácter emblemático que igualmente esta torre assume para o Ducado
e para a casa do Rei, assim como pela solução de criar uma espécie de adarve a permitir uma
movimentação mais alargada de defensores. No caso de Belém a torre ergue-se a mais de trinta metros de
altura, gerando espaços internos, quer acima quer abaixo do solo, de que se salienta a presença de uma
cisterna.

Como vimos já as necessidades específicas do edifício, onde se alia a funcionalidade militar ao carácter
representativo da imagética cortesã e de poder manuelina através da arquitectura, impulsionou a
criatividade de Francisco de Arruda, e muito provavelmente também, a discussão de novos modelos e de
novas traças, quer com o Rei, quer com Bartolomeu de Paiva, o que, dado a semelhança, já notada por
Rafael Moreira, existente entre a traça do edifício que estudamos e os desenhos do arquitecto
quatrocentista Francesco di Giorgio Martini, pode levar a concluir pelo uso do seu tratado como fonte
essencial e modelo para a Torre baluarte de Belém.

De facto, como também destaca Mário Jorge Barroca a proximidade aos desenhos de Martini, em especial
os que estão reunidos no primeiro volume da edição de 1967 do Tratatti de Architettura Ingegneria e arte
Militare, nomeadamente nos fólios 4 a 6 e também os que são presentes no 2º volume desta mesma
edição, em especial os fólios 61, 68v-69 e 75v.- 76 parece evidente. Vendo o tratado do arquitecto italiano
podem mesmo juntar-se outras semelhanças, quer atendendo ao traçado geométrico do baluarte, fólios
54v, à inserção das torres no espaço defensivo, fólio 67v, ou mesmo na forma dos bastiões ou até no
modo como é resolvida a questão do acesso ao baluarte, com plataforma levadiça, com sarilho no terraço,
e construção protegida por fogo cruzado de espingardaria a partir das guaritas, como se sugere no fólio
75v.

É interessante a proximidade entre a tratadística martiniana e as soluções que Francisco de Arruda propõe
neste seu edifício, pelo que se pode afirmar estar em face da primeira vez que a presença dos desenhos de
Martini se fazem sentir no nosso país. Numa outra conjuntura foi possível comprovar a sua influência por
exemplo, em 1533, no traçado de João de Ruão no inovador do Claustro da Manga em Coimbra (47), no
Mosteiro de Santa Cruz e também, pelo menos mais uma vez, em 1537, reconhecida a importância que o
tratado martiniano assumiu para a traça do Mosteiro crúzio de São Salvador da Serra do Pilar, em especial
do seu claustro circular (48). Em ambos os casos e cronologias sabemos o envolvimento directo de D. João
III e de Frei Braz de Barros, assim como de Diogo de Castilho e de João de Ruão, que explica o uso desta
fonte de informação cujo conhecimento e utilização ilustra uma conjuntura artística e cultural bastante
diferente.

A proximidade entre Francisco de Arruda e Francesco Martini levanta vários problemas, ainda não
resolvidos. A questão essencial permanece, em 1514, sabendo-se o reduzidíssimo número de cópias do
tratado de Martini que até essa data tinham sido executadas, num total de dezassete cópias antes de 1700,
que possibilidades efectivas tinha Francisco de Arruda de ter tido acesso ao tratado de Martini e aos seus
desenhos, recém chegado de Azamor, para onde foi, partindo das obras militares do Alentejo, sem nunca
ter demonstrado, em obra anterior, ter conhecimento desta ou doutra qualquer tratadística, seja de
Vitrúvio ou de Alberti.

A resposta tem naturalmente de passar pelo convívio, ao tempo da encomenda da Torre, com os meios
mais eruditos da cultura portuguesa da época, naturalmente no âmbito da corte dos Reis de Portugal ou no

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âmbito da acção cultural do duque de Bragança, para quem o mestre havia trabalhado no castelo de
Portel. A presença em Portugal de Cataldo Sículo, entre 1485 e 1517, e a sua acção cultural ligado ao
ducado de Coimbra, às personalidades de D. João II e D. Manuel I, e mais tarde a D. Jaime, duque de
Bragança 49, torna provável que fosse este humanista, certamente conhecedor da existência de tal
tratadística, a tê-la sugerido ao Rei. No entanto, apesar de ser quase certo que o mestre e o literato se
conhecessem na corte, as respectivas esferas de acção eram tão distintas que dificilmente partilhariam
conhecimento, nem o literato saberia como interessar o mestre construtor nessas novidades de Itália, nem
o mestre de renome reconhecia utilidade nesse conhecimento ( 50). Aqui reside parte essencial do
problema da arte do renascimento em Portugal segundo um modelo à italiana, ou seja, na coexistência
paralela e só muito raramente convergente dos dois mundos, o da prática artística e construtiva e o da
prática humanística, afortunadamente convergentes e conjugados no caso da obra escultórica de Nicolau
Chanterene (51).

Resta-nos transferir a questão para quem estava, de facto, envolvido na construção e quem podia
evidentemente sugerir um modelo a ser seguido, refiro-me ao próprio Venturoso ou, por ele, a
Bartolomeu de Paiva. Não devemos estranhar, atendendo ao que atrás deixei expresso sobre o valor
iconológico desta arquitectura, que D. Manuel I se envolvesse directamente na sua traça, minucioso como
era efectivamente com as questões de construção, particularmente de função militar e até de vedoria das
obras que propiciava, como se constata abundantemente quer nos autores que na documentação já
publicada. Nem tão pouco seria de estranhar o papel de conselheiro para estas questões desempenhado
pelo aio do príncipe, pois sabemo-lo igualmente profundamente ligado à edificação de Santa Maria de
Belém e outros edifícios que desempenham um papel essencial no discurso arquitectónico de poder da
coroa manuelina. Assumindo, provavelmente, um papel de verdadeiro ideólogo que, no âmbito religioso
claramente partilha com outras personalidades de renome como Frei Brás de Braga, Bartolomeu de Paiva
e sua família, de quem se falará noutra ocasião, salientando-se, então devidamente, o papel que
certamente desempenharam na verdadeira construção ideal da imagética manuelina.

À raridade das cópias do tratado de Martini acresce a dificuldade da contaminação entre as ideias e
desenhos do arquitecto italiano e o mestre português. Como constata Alice C. Guess ( 52), não existe hoje
o manuscrito original do Tratatto di Architettura Civile e Militare, escrito em duas versões, cerca de
1480, em Siena. O que existe são cópias, as mais antigas e fiáveis executadas ainda no século XV, com
comentários e alguns desenhos originais do arquitecto. Duas dessas cópias, que serviram de base à edição
de Maltese publicada em 1967, foram executadas no scriptorium da abadia dominica de Monte Oliveto
Maggiore e datam de 1480 e de 1503, respectivamente, o denominado Codex Ashburnaham 361,
guardado na biblioteca Laurenziana, em Florença, e o Codex 148 Saluzzo, existente na biblioteca real de
Turim. Outras duas cópias, igualmente preparadas para publicação por Maltese, e igualmente executados
na citada abadia encontram-se na Biblioteca Nazionale de Florença, o Codex Magliabechiana II.I.141 e
na Biblioteca Comunale de Siena, o Codex S.IV.4. Executados entre 1489 e 1490, foram ambos revistos e
acrescentados por Giorgio Martini. Sabemos a partir da investigação daquela autora que o tratado foi
copiado vinte e sete vezes, sendo que dez dessas cópias foram executadas depois de 1700. Assim
considerando para que Francisco de Arruda tenha tido acesso a uma dessas cópias, é necessário concluir
que, em Portugal, existia uma das primeiras cópias executadas, à disposição do artista, ou do mecenas,
logo na primeira década de quinhentos, situação de que não temos notícia. Podia também acontecer a
circulação de desenhos ou gravuras feitas a partir deles circulassem em Portugal, feitos a partir do original
ou das citadas cópias, situação de que também não temos qualquer notícia.

Outra questão, a meu ver crucial, passa pelo modo como um mestre como Francisco de Arruda, formado
na prática dos estaleiros batalhinos, sob supervisão de seu pai João de Arruda, continuando a sua
aprendizagem e vida profissional no campo da arquitectura militar, com obra feita não só no continente
mas também no Norte de África, de competência reconhecida e louvada tanto por D. Manuel I como pelo
duque D. Jaime, sentiria a necessidade de recorrer à tratadística, onde o texto em italiano,
fundamentalmente teórico se funde com os traçados, fundamentalmente ilustrativos e idealizados.
Francesco Giorgio Martini nos seus tratados reflecte uma complementaridade de influências vitruvianas e

7
albertinianas que se expressam na relação entre o texto e os desenhos, recorrendo a uma terminologia que
não possui indicações precisas de construção, pelo menos não de um modo que um mestre português
pudesse entender e claramente transmitir aos oficiais do estaleiro que supervisionava. O modo de
trabalhar em arquitectura em Portugal, na primeira década do século XVI, em especial no universo que
decorre dos mestres batalhinos, não sente a necessidade de recorrer a uma reflexão teórica sobre a
Antiguidade e as características de edificar dos Antigos, porquanto o que está em causa não é ainda a
fundamentação teórica de uma arte e de um estatuto social do mestre construtor o que vai acontecer ao
longo do século. Os nossos mestres usam a geometria e a aritmética, ensinam-na de um modo
eminentemente prático nos estaleiros de obra, como se constata nas mostras ainda existentes, no traçado
das abóbadas ou no desenho de ornato, mas não obedecem, nem compreendem a utilidade de um conceito
ideal que, mergulhando as suas raízes na arquitectura e na tratadística romana, encontra na simetria e no
número um ideal de beleza que só mais tarde será plenamente compreensível. Não basta, portanto,
encontrar semelhanças entre os desenhos e as traças dos edifícios, para concluir a importância de Martini
entre nós nas duas primeiras décadas do século XVI, há que encontrar igualmente as circunstâncias e o
impacto futuro que na obra dos mestres e no gosto dos encomendadores, o uso da tratadística implicou, o
que conduz a um terceiro argumento que nos permite defender o carácter exógeno da citação da
tratadística civil e militar de Martini, na obra de Francisco de Arruda. Se verificarmos o impacto dos
textos e dos desenhos de Martini, não os vamos encontrar aplicados por Diogo de Arruda, aparentemente
impermeável ao seu conhecimento ou influência, mas voltamos a encontrar o nosso mestre construtor a
inovar na traça que aplica noutra obra de grande importância mecenática, neste caso no castelo roqueiro
de Vila Viçosa, onde já foi sugerida a relação com um desenho de Leonardo da Vinci como fonte gráfica
do traçado. Reconhecida a importância que as ideias de Martini, nomeadamente sobre geometria e
projectiva militar, exerceram sobre o pensamento leonardesco, bem expresso pela presença de anotações
manuscritas do mestre de Vinci em algumas das cópias atrás citadas existentes em bibliotecas italianas, é
provável que neste caso se faça igualmente sentir a influência dos desenhos de Martini. Noutra ocasião
voltarei a este problema, que reveste exactamente os mesmos contornos do que aqui pretendi abordar, a
questão essencial da viagem das ideias e do seu impacto na conjuntura construtiva tardo gótica em
Portugal.

Francisco de Arruda em 1514 é já um mestre construtor muito experiente, que no caso da encomenda
régia do Baluarte de Belém foi colocado diante de um novo problema, com especificidades concretas a
que a sua traça teve necessariamente de atender: 1. edificar inteiramente dentro de água, a duas centenas
de metros da margem do rio, o que nunca antes tinha feito; 2. a necessidade de criar uma fortaleza que
resistisse aos novos problemas que a pirobalística naval colocava, uma vez que estamos a falar de um
edifício pensado para resistir e ripostar a ataques que teriam maioritariamente uma origem naval, amplo e
funcional o suficiente para que albergasse uma guarnição suficiente para tal função e que igualmente
fosse parte integrante de um sistema defensivo estático como ponto de observação e, por fim, 3. a
necessidade de criar um edifício cuja originalidade e visibilidade fossem um garante de prestígio para o
Venturoso e sua acção. A resposta a todas estas questões dificilmente as procuraria Mestre Arruda de
moto proprio num livro ou num desenho de outrem, procurava-as na inteligência projectiva que sempre
revelou, na experiência construtiva que possuía e nas questões concretas que decorriam da tipologia do
armamento naval usado na época, seu manuseamento alcance e capacidade destrutiva. Que o conseguiu
efectivamente atesta a importância do edifício de que em boa hora se celebram os 500 anos de fundação.

1
) GÓIS, Damião de - Descrição da cidade de Lisboa, Lisboa, 1988, p. 46
2
) RACZINSKY, Atanazius - Les Arts en Portugal , Paris, 1846
3
) HAUPT, Albrecht - A arquitectura do Renascimento em Portugal, Lisboa, 1985, int. e notas de
Manuel Cardoso Mendes Atanázio.
4
) GARCIA, José Manuel - A Magnífica torre de Belém, Lisboa, 2015
5
) SANTOS, Reinaldo dos - A torre de Belém, Lisboa, 1922
6
) GONÇALVES, António Nogueira - “A Torre Baluarte de Belém”,Occidente, Vol. LXVII, Lisboa,
1964, Estudos de História da Arte da Renascença, 2ª Edição, 1979, Coimbra, Paisagem Editora, pp.7-25
7
) NUNES, José Sousa - Breves Apontamentos acerca da Torre de Belém, Lisboa, 1932.

8
8
) VITERBO, Francisco Marques de Sousa - Dicionário Histórico e documental de Architectos,
Engenheiros e construtores portugueses, III vols, Lisboa, 1899 – 1922.
9
) DIAS, Pedro, Arquitectura Gótica portuguesa, Lisboa, 1994; Idem, A Arquitectura manuelina,
Coimbra, 1988, idem, A arquitectura dos Portugueses em Marrocos 1415 – 17679, Lisboa, 2000, idem,
História da Arte Portuguesa no Mundo (1415 – 1822), o espaço do Atlântico, Navarra, 1999.
10
) cfr. MAGISTER – Arquitectura tardo-gótica em Portugal: Protagonistas, modelos e intercâmbios
artísticos (Sécs. XV – XVI), (PTDC/EAT-HAT/119346/2010, Fundação para a Ciência e Tecnologia.
http://tardogotico.letras.ulisboa.pt, assim como a bibliografia especializada aí citada.
11
) MOREIRA, Rafael - A arquitectura militar do Renascimento em Portugal, A introdução da Arte da
Renascença na Península Ibérica, Coimbra, 1981, Idem, , Arquitectura, Catálogo das XVII Exposição de
Arte e Ciência e Cultura, Conselho da Europa, Núcleo do Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa, 1983,
pp. 319 – 321.
12
) MARTINI Francesco di Giorgio – Tratato di Archittetura,Ingegneria e arte militare,à cura de
MALTESE, Corrado, Polifilo, 1967, Milano; GUESS, Alice C. - The Machines of Francesco de Giorgio
Martini. Demonstrations of the World, Master in Architecture, McGills University, Montreal, 1998,
POLLALI, Angeliki – Reconstruction Francesco di Giorgio Architect, London, 2011; Francesco di
Giorgio Architetto, ed. FIORI, Paolo, TAFURI, Manfredo, Siena, 1993.
13
) SERRÃO, Vitor - O Renascimento e o Maneirismo, 1500 – 1620, Lisboa, 2001.
14
) SOARES, Clara Moura - As intervenções oitocentistas do Mosteiro de Santa Maria de Belém: O sítio
a história e a prática arquitectónica, Tese de Doutoramento em História da Arte, Faculdade de Letras da
Universidade de Lisboa, 2005.
15
) Mário Jorge BARROCA, Tempos de resistência e de inovação: a arquitectura militar portuguesa no
reinado de D. Manuel I (1495 – 1521), Portugália, Nova série, Vol.XXIV, 2003, pp. 95 – 112.
16
) SILVA, Ricardo J. Nunes da - Mestres e oficiais de pedraria do tardo gótico português em terras do
Norte de África (1415 – 1521), Arquitectura tardogótica en la Corona de Castilla: Trayectorias e
Intercambios, Begona Alonso RUIZ, Fernando Villaseñor SEBASTIÁN (eds), Universidad de Sevilla,
2014, pp.215- 232, Idem - O mestre Boytac e as correspondências com o foco toledano, Convergências –
Revistas de Investigação e Ensino das Artes, nº 4, 2009. http://convergências.esart.ipcb.pt/artigo/64
17
) SANTOS, Inês Fernandes dos - A Torre de Belém no contexto romântico de Oitocentos, Dissertação
de Mestrado em Arte, Património e Teoria do Restauro, Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa,
1996, Lisboa.
18
) CARITA, Rui - Aproximação à fortificação manuelina e joanina de Évora, Castelos, Imagens (re)
encontradas, Évora, 2015, pp. 1- 8.
19
) GRILO, Fernando - A arte gótica em Portugal, História de Portugal, Dir. João Medina, Lisboa, 1994,
Vol. III, pp. 367 – 399; Idem - Escultura e Escultores do Tardo-Gótico e do Renascimento em Portugal
.Hibridismo e decorativismo escultórico em Santa Maria de Belém e no Convento de Cristo, em Tomar,
Arquitectura tardogótica en la Corona de Castilla: Trayectorias e Intercambios, RUIZ, Begona Alonso
SEBASTIÁN, Fernando Villaseñor (eds), Universidad de Sevilla, 2014, pp. 233-250 e também
MAGISTER, Arquitectura tardo-gótica emPortugal, Protagonistas, Modelos e Intercâmbios (sécs. XV e
XVI), http://tardogotico.fl.ul.pt
20
) DUARTE, Luís - 1449 – 1495: o Triunfo da Pólvora, Nova História Militar de Portugal, dir. Manuel
Themudo Barata, Lisboa, 2003, Vol. I, pp. 347 – 391; RUBIM, Nuno - A artilharia em Portugal, Porto,
Museu Militar, 1982; Idem - Estudos sobre artilharia antiga. I – a torre de Belém, Revista de Artilharia,
1995, pp. 835 – 836; Idem - D. João II e o artilhamento das caravelas de guarda costas. O tiro de
ricochete naval”, Revista de Artilharia, 1990, MONTEIRO, João Gouveia - Os Castelos portugueses dos
finais da Idade Média, Colibri, 1999; CORREIA, Luís Miguel, Castelos de Portugal, Retrato do seu
perfil arquitectónico (1509 – 1949), Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil, Faculdade de
Ciências e Tecnologia, Universidade de Coimbra, 1977.
21
) AAVV, Torre de Belém, Intervenção de Conservação exterior, Lisboa, 2000; HENRIQUES,
Fernando, CHAROLA, Elena - “Fundamentos teóricos da intervenção na torre de Belém”, AAVV, Torre
de Belém, Intervenção de Conservação exterior, Lisboa, 2000, pp.45 – 51; AIRES-BARROS, Luís et al.,
“Patologias da Pedra usada na Torre de Belém e análise das águas de limpeza”, AAVV, Torre de Belém,
Intervenção de Conservação exterior, Lisboa, 2000, pp. 57 – 69, PROENÇA, Nuno - Conservação e
restauro do exterior da Torre de Belém, AAVV, Torre de Belém, Intervenção de Conservação exterior,
Lisboa, 2000, pp. 99– 141.
22
) ROSA, Lúcia - Investigação em História da Arte e a sua aplicação nas acções de recuperação e de
reabilitação do Património: Materiais de construção e ritmos construtivos nas igrejas paroquiais
(secs.XV e XVI), II Seminário Intervenção no património, práticas de conservação e de reabilitação,
Faculdade de Engenharia, Universidade do Porto, 2006, pp. 105; AAVV., História da Construção: Os

9
materiais, coord. MELO Arnaldo Sousa e RIBEIRO Maria do Carmo, CITCEM, LAMOP, Braga, 2012 e
também www.magister.ulisboa.pt e a bibliografia aí reunida.
23
) Arquivo Nacional de Arte Antiga (ANTT), Corpo Cronológico, parte III, mç 6, doc. 35, já publicado
por Sousa Viterbo.
24
) LOPES, Ana Catarina Gonçalves - Acerca de Azamor: Estruturas militares no manuelino,
Dissertação de Mestrado, Universidade do Minho, 2009. Os irmãos Arruda aí geraram uma tipologia que
pode ser definida como advogando o uso de fortes baluartes redondos assentes em largas sapatas, uso de
canhoeiras baixas para artilharia pesada, ligados aos muros por igualmente por sólidas sapatas, uso de
canhoeiras médias a poderem ser usadas por artilharia mais ligeira, e pela criação de esplanadas elevadas,
igualmente dotadas de canhoeira. CARITA, Rui - op. cit. p.6.
25
) 9 setembro de 1508- carta de D. Manuel para Mateus Fernandes, com o pedreiro Álvaro Pires
examinarem as obras, dadas de empreitada a Francisco de Anzinho, mestre de obras biscaínho,
confirmada por outra carta datada de 27 outubro do mesmo ano na qual o monarca manda pagar ao
pedreiro Martim Lourenço os dias que esteve em Almeida "a ver a obra que aí fez Francisco de
Anzinho"; VITERBO, Francisco Marques de Sousa - Dicionário . Vol I p.338. Álvaro Pires e Martim
Lourenço integrarão a campanha deste mestre biscainho no Norte de África, entre 1510 e 1515.
26
) SILVA, Ricardo J. Nunes da - Mestres e oficiais de pedraria do tardo gótico português em terras do
Norte de África (1415 – 1521), Op. Cit., pp. 215- 232, DIAS, Pedro - A viagem das formas. Estudos sobre
as relações artísticas de Portugal com a Europa, a África, o Oriente e as Américas, Lisboa, 1995.
27
) DIAS, Pedro - A viagem das Formas (…) , idem - A arquitectura dos Portugueses em Marrocos 1415
– 17679, Lisboa, 2000, GRILO, Fernando - Escultura e escultores do Tardo-gótico e do Renascimento
em Portugal. Hibridismo e decorativismo escultórico em Santa Maria de Belém e no convento de Cristo,
em Tomar, Arquitectura tardogótica en la Corona de Castilla: Trayectorias e Intercambios, RUIZ, Begona
Alonso, SEBASTIÁN Fernando Villaseñor (eds), Universidad de Sevilla, 2014, pp. 233-250.
28
) ANTT, Corpo Cronológico, parte 1, maço 15, doc. 11, publicado por Francisco Sousa VITERBO, op.
cit., Vol. I, pp. 47 - 49
29
) Gostaria, de destacar o uso da cúpula como forma de cobertura e, em alguns exemplos, para a
qualidade do seu traçado interno com silhares lançadas à fiada, portantes e bem talhados.
30
) SENOS, Nuno - O Paço da Ribeira. 1501-1581, Lisboa 2002.
31
) Tal estrutura, completamente desaparecida na actualidade, ainda foi representada na planta de Lisboa
de Jorge Braunio, 1572, ou no desenho datado de 1575, da autoria de Simão de Miranda, (Archivio de
Stato de Turin).
32
) Defino arquitectura iconológica como aquela que é concebida de raiz para cumprir simultaneamente
várias funções a que, por várias circunstâncias acrescem funções de representação iconológica do
encomendador. Neste sentido, esta categoria pode ser aplicada ao edifício analisado como uma unidade,
composta por um conjunto de funções, práticas e de representação, habitualmente exercidas através da
complementaridade entre as estruturas e a decoração.
33
) BUESCU, Ana Isabel - A infanta Beatriz de Portugal e o seu casamento na Casa de Sabóia, 1504 –
1521, Portugal e o Piemonte: A Casa Real portuguesa e os Saboias, Nove séculos de relações dinásticas e
destinos políticos (XII – XX), LOPES, Maria Antónia RAVIOLA, Blythe Alice (Coord.), Coimbra, pp.
51–99.
34
) GRILO, Fernando - Nicolau Chanterene e a afirmação da escultura do Renascimento na Península
Ibérica, (c. 1511 – 1551), Tese de Doutoramento em História da Arte, Universidade de Lisboa, 2 vols,
Lisboa, 2000; Idem - Nicolau Chanterene e a influência italiana na escultura do Renascimento em
Portugal. Fontes e práticas artísticas, O modelo italiano en las artes plásticas de la Península Ibérica
durante el Renascimento, Valladolid, 2004, pp. 393 – 422.
35
) Para o texto do testamento de D. Manuel I e interpretação da sua vontade cfr. ATANÁZIO, Manuel
M. A arte do Manuelino, Mecenas, Influências, espaço, Lisboa, 1994.
36
) GRILO, Fernando - Nicolau Chanterene e a afirmação da escultura (…), pp. 265 – 300.
37
) DIAS, Pedro - Os portais manuelinos do Mosteiro dos Jerónimos, Coimbra, 1993.
38
) ANTT, Conselho Geral, Consultas, 1644, maço 4- B), decreto de D. João IV ao Conselho da Fazenda
e consulta levada a cabo pelo Conselho da Guerra.
39
) ANTT, Corpo Cronológico, 1161 – 1694, 2ª parte, maço 100, nº 152.
40
) ANTT, Chancelaria de D. Manuel I, Liv. 18, fl.37.
41
) idem, fl. 44
42
) idem, fl.67
43
) GRILO, Fernando – O retábulo escultórico de hans Daucher / 1520. Uma obra de arte do
Renascimento alemão e sua relação com Portugal, Artis Revista de História da Arte e Ciências do
Património, nº1, II Série, Lisboa, 2013, pp. 42 – 52.

10
44
) Importa definir claramente o alcance e a tipologia dos canhões que equipavam a Torre manuelina,
pois tais característica é que definem a sua verdadeira acção defensiva. Ao que parece as peças usadas em
Belém, só podendo disparar numa direcção, podiam evidentemente apontar do ponto de vista da distância
e por conseguinte regular o tiro, mas não podiam, neste caso e ao que parece, acompanhar o deslocamento
constante do alvo, por isso contando com o número elevado de peças para poderem fazer frente às
ameaças. O fogo concertado de tais peças cobria, em sequência, os quadrantes de rio que era necessário
atravessar para chegar a Lisboa. Existem fotografias, no arquivo do SIPA onde os nichos do baluarte
aparecem sem qualquer peça, embora se saiba que, em 1644, (ANTT, CG, Consultas, 1644, maço 4- B),
em sequência de um decreto de D. João IV ao Conselho da Fazenda e de uma consulta levada a cabo pelo
Conselho da Guerra, a Torre possuía uma guarnição de 40 praças, ainda que no seu regimento devesse ter
o dobro, protegidos por 14 canhões de diversos calibres, de que se salienta a presença de apenas 1 de 24
libras, 7 meios canhões de 16 libras, 4 Meia columbina de 12 libras, outra de 10 libras e finalmente uma
pequena Falconeta de 1 libra. As dezassete bocas de fogo existentes não estavam portanto
completamente ocupadas, assim como a tipologia de peças não é a que hoje lá se encontra.
45
) BARROCA, Mário Jorge - Tempos de resistência e de inovação (…), p. 103.
46
) DIAS, Pedro A Arquitectura Gótica portuguesa, Lisboa, 1994, cap.12, pp. 197 – 218 e a bibliografia
aí aduzida.
47
) ABREU, Susana Matos de - A fonte do Claustro da Manga. “Espelho de Perfeyçam”, uma leitura
iconológica da sua arquitectura, Revista da Faculdade de Letras – Ciências e técnicas do Património.
48
) ABREU, Susana Matos - A Docta Pietas ou a arquitectura do Mosteiro de S. Salvador, também
chamado Santo Agostinho da Serra (1537 – 1692): Conteúdos, formas , métodos conceptuais,
Dissertação de Mestrado em História da Arte em Portugal, Faculdade de Letras, Universidade do Porto,
1999 e também idem - Diogo de Castilho e João de Ruão: Uma parceria invulgar no traçado do
Mosteiro de S. Salvador da Serra (Serra do Pilar), Colóquio Brasileiro de História da Arte. Artistas e
artífices e a sua mobilidade no mundo de expressão portuguesa, Porto, 2007, pp. 495 – 503; idem -
Tratados de arquitectura em Bibliotecas, Museus e Arquivos portugueses (sécs. XV e XVI). Relevância
desta herança bibliográfica na investigação do património arquitectónico, Arquivos, Bibliotecas e
Museus – Realidades de Portugal e Brasil, Salvador, 2013, pp. 95 – 152.
49
) ROSA, Maria de Lurdes, D. Jaime, Duque de Bragança, entre a cortina e a vidraça, O tempo de
Vasco da Gama, Lisboa, 2006, pp. 319 – 332.
50
) SILVA, Ricardo Nunes da - “ARS SINE SCIENTIA NIHIL EST”. A arte nada é sem a ciência:
Desenho, geometria e arquitectura tardo medieval”, Grafema. Estudos do Livro. Imprensa e Design de
Comunicação, Actas do I Congresso Internacional de Investigadores em História e Artes Visuais, Lisboa,
2009; PEREIRA, Paulo - A traça como único princípio. Reflexão acerca da permanência do Gótico na
Cultura arquitectónica dos Séculos XVI e XVII, Homenagem a Artur Nobre de Gusmão, Lisboa, 1994.
51
) GRILO, Fernando - Nicolau Chanterene e a afirmação da escultura (…), pp. 345; Idem - Nicolau
Chanterene escultor do Renascimento em Évora, Do mundo antigo aos Novos Mundos. Humanismo,
Classicismo e Notíciais dos Descobrimentos em Évora (1516 – 1624), Évora, 1998, pp. 171 – 192, Idem -
O retábulo da Igreja do Mosteiro de Nossa Senhora da Pena (1528 – c.1532) Fontes literárias e
gráficas: De Vitrúvio e Sagredo à Bíblia dos Jerónimos dos Attavanti, Actas do II Congresso
Internacional de História da Arte, Porto, 2004, pp. 361 – 382.
52
) cfr. Nota 12 e também RIAHI, Pari - Ars et Ingenium. The embodiment of imaginationin Francesco di
Giorgio Martini drawings, Ruthledge, New York, 2015.

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