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Áreas Centrais
Caro Participante,
“A reabilitação dos bairros antigos deve ser concebida e realizada, tanto quanto possível, sem
modificações importantes da composição social dos habitantes e de uma maneira tal que todas
as camadas da sociedade se beneficiem de uma operação financiada por fundos públicos.”
(CURY, 2004: 200)
Apesar de surgir como uma estratégia de reabilitação de bairros antigos, o uso do termo pode ser
aplicado a áreas mais novas, mas que possuam os mesmos problemas, tais como degradação
urbana e edilícia e conflitos sociais.
Reabilitação Urbana com foco em Áreas Centrais
Módulo I – Reabilitação de Áreas Urbanas Centrais
Esses termos surgiram em períodos e contextos diferentes como experiências cumulativas em várias
partes do mundo. Desta forma eles coexistem até hoje orientando a elaboração de planos, projetos e
ações.
RENOVAÇÃO URBANA
REVITALIZAÇÃO URBANA
REQUALIFICAÇÃO URBANA
São ações destinadas a dar melhores condições a uma área que também se encontre degradada,
em comparação ao seu histórico ou a outras áreas da cidade. A qualificação do espaço é buscada
por meio da integração da área às necessidades da vida contemporânea.
CONSERVAÇÃO INTEGRADA
É a conservação, restauração e reabilitação dos prédios e sítios antigos com o objetivo de torná-los
utilizáveis para novas funções da vida moderna.
REABILITAÇÃO URBANA
É uma estratégia de gestão urbana que, por meio de ações múltiplas e coordenadas, visa valorizar
as potencialidades sociais, econômicas e funcionais, melhorando a qualidade de vida da
população residente ou usuária e mantendo a identidade do lugar.
Foram realizadas desde a década de 1950 várias experiências de intervenção urbana em todo o
mundo, as quais podemos agrupar em períodos históricos, conforme Vargas & Castilhos (2009).
Nos EUA a deterioração dos centros urbanos foi consequência da migração para os subúrbios e do
impacto dos shoppings periféricos. Houve também a intenção de eliminar os congestionamentos das
áreas centrais com a criação de vias amplas e estacionamentos. Surgiram as torres de escritórios
corporativos e de apartamentos para classes de maior renda, o que levou à maior arrecadação de
impostos;
Apesar de VARGAS & CASTILHOS analisarem a renovação urbana a partir de década de 1950,
observa-se ações desse tipo em todo o mundo desde o século XIX. Como exemplo, pode-se citar as
ações do Barão Hausmann, prefeito de Paris, entre 1853 e 1870.
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Unidade 3 – Reabilitação Urbana – Conceitos e Experiências
Neste período destacou-se o interesse pela preservação dos centros urbanos. O centro passou a ser
um local diferenciado para o estabelecimento de empreendimentos imobiliários, frente ao
enfraquecimento do modelo periférico e com isso tornou-se alvo de iniciativas públicas e privadas.
Contudo, para atrair o público para o local após tantos anos de desvalorização foram estabelecidas três
ações:
a) projetos arquitetônicos – empreendimentos principalmente culturais e comerciais;
b) políticas urbanas – englobando várias frentes: comércio local, habitação de baixa renda, sistema de
transportes, espaços públicos e outros; e
c) programas de gestão compartilhada – exemplo disso são os Business Improvement Districts (BDIs)
nos quais comerciantes se unem para financiar e gerir a recuperação e manutenção de áreas, ruas e
quarteirões.
Foi também uma época de surgimento de muitos órgãos estatais de preservação, bem como da
formulação de um grande número de normatizações e legislações. A orientação geral, divulgada pela
UNESCO em suas recomendações, era de integração entre preservação e planejamento urbano,
contudo na prática muitas intervenções preservam apenas exemplares isolados e não o entorno urbano.
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Reflete o modelo de produção do espaço urbano em face da globalização, que coloca as cidades
em papel de destaque dentro da economia mundial.
Ocorre principalmente por meio do planejamento estratégico, que busca utilizar as intervenções
urbanas para criar ou recuperar a economia destas áreas a fim de se fomentar o emprego e renda.
São Paulo- SP. Vista do Parque Dom Pedro e Palácio das Indústrias. Fonte: CAIXA
Leitura complementar
Acesse o texto Experiências internacionais de intervenções urbanas em centros
para conhecer, por meio de relatos, outras experiências de sucesso dessa natureza.
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Você sabia?
No Brasil várias intervenções urbanas já foram realizadas. Conheça a seguir
algumas delas.
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Ponto positivo: A experiência de dar uso habitacional aos imóveis vazios e subutilizados
impulsionou a reabilitação do centro atraindo outros usuários e investimentos para melhoria da
infraestrutura. Ressalta-se também a continuidade do Programa até hoje.
Ponto negativo: As ações ainda são pontuais frente ao parque imobiliário que necessita ser
reabilitado. As maiores dificuldades são a oferta de mão de obra qualificada e a busca de investidores
para ampliar os recursos aplicados das fontes governamentais.
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A prefeitura de São Paulo entre 2002 e 2004 implantou o Programa Morar no Centro e os
Perímetros de Recuperação Integrada do Habitat (PRIH).
O primeiro teve como objetivo a melhoria das condições de vida dos moradores dos bairros
centrais que trabalhavam na região e moravam informalmente em habitações insalubres. O segundo
priorizou incentivo à reforma de prédios vazios e de valor arquitetônico, combinando soluções
habitacionais à geração de renda para garantir a sustentabilidade dos empreendimentos.
Ponto positivo: A experiência de dar uso aos imóveis vazios e subutilizados com serviços de moradia
para população de baixa renda.
Ponto negativo: A falta de uma gestão contínua paralisou a implantação dos projetos, a continuidade
do que já havia sido implantado ocorreu apenas porque houve grande pressão popular.
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A Associação de Moradores e Amigos do Centro Histórico-AMACH moveu uma ação civil pública contra o
governo do Estado da Bahia motivada pela expulsão dos antigos moradores da área para a realização das obras
de recuperação. Como conseqüência, foi assinado um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) em junho 2005
estabelecendo, entre outras condições, que 103 famílias permaneceriam na área após a recuperação dos
casarões.
Pontos negativo: O poder público ter custeado integralmente as obras, visto que a propriedade dos imóveis é
do Estado, e o fato de interesses pontuais de particulares travarem o andamento das obras pactuadas em
acordos pré-estabelecidos. Devido a problemas de diversas ordens, até agora somente alguns imóveis foram
reabilitados e entregues à população.
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LIÇÕES APRENDIDAS
Como vimos anteriormente, as experiências de reabilitação urbana passaram por várias fases que
trouxeram importantes lições e que podem ser replicadas e até mesmo servir de parâmetro para não
mais serem reproduzidas.
LIÇÕES APRENDIDAS
ASPECTOS POSITIVOS
Planejamento
A integração entre ações de reabilitação e planejamento é fundamental para que qualquer intervenção
seja bem sucedida. Mas o planejamento não deve ser “engessado”, deve permitir uma visão de longo
prazo e, ao mesmo tempo, deixar que pequenas adaptações possam ocorrer, de acordo com as
possibilidades dos agentes envolvidos (poder público, moradores, proprietários, usuários).
Diversidade de usos
A convivência de diversos usos na área central garantem sua vitalidade, bem como a segurança da
população em todos os horários e dias da semana. Deve ser viabilizada por meio da flexibilização de
legislação, de incentivos fiscais e de linhas de financiamento.
Intersetorialidade
As intervenções para as áreas centrais pressupõem uma integração administrativa entre os diversos
órgãos envolvidos no processo de forma que as ações nas áreas de transporte, habitação, economia,
cultura, lazer, entre outros, também sejam integradas.
Participação social
Nenhuma intervenção é bem sucedida sem o apoio da população, que deve participar ativamente
desde a elaboração até a implementação das ações de reabilitação urbana.
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LIÇÕES APRENDIDAS
ASPECTOS NEGATIVOS
Intervenções pontuais
As intervenções pontuais correm o risco de estar desarticuladas da dinâmica de desenvolvimento
proposta para a cidade.
Gentrificação
A expulsão da população residente e a alteração das funções originalmente existente na região
acarretam prejuízos de ordem social relacionadas às oportunidades de acesso à cidade para
todos.
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LIÇÕES APRENDIDAS
ASPECTOS NEGATIVOS
Especulação imobiliária
As transformações geradas pelas intervenções poderão ocasionar um aumento excessivo do
valor da terra e dos imóveis, que poderá levar à retenção de propriedades aguardando sua
valorização. O lucro individual deste proprietário não se reflete em benefício para a coletividade,
podendo comprometer a implementação das ações propostas, bem como causar a gentrificação.
Você identifica em sua cidade algum dos processos de intervenção urbana tratados
nesta unidade?
Este processo teve reflexos na(s) área(s) urbana(s) central(is)? De que forma?
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Bibliografia
CURY, Isabelle (org.) Cartas patrimoniais. Rio de Janeiro: IPHAN; MINISTÉRIO DA CULTURA,
2004
MEIRA, Ana Lucia Goelzer. O Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no Rio Grande do Sul no
Século XX: atribuição de valores e critérios de intervenção. Tese de Doutorado. Porto Alegre,
2008
VARGAS, Heliana Comin & CASTILHO, Ana Luisa Howard de. Intervenções em centros urbanos:
objetivos, estratégias e resultados. São Paulo: Manole, 2005
VIEIRA, Natalia Miranda. Gestão de sítios históricos Gestão do Patrimônio Cultural Integrado : a
transformação dos valores culturais e econômicos em programas de revitalização em Gestão do
Patrimônio Cultural Integrado áreas históricas. Recife: Editora Universitária da UFPE, 2008
ZANCHETI, Sílvio Mendes (org.) Gestão do Patrimônio Cultural Integrado. Recife: Centro de
Conservação Integrada Urbana e Territorial – CECI; Editora Universitária da UFPE, 2002