Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Arquitetura
Júri
Presidente: Prof.a Maria Alexandra de Lacerda Nave Alegre
Orientador: Prof. Jorge Manuel Gonçalves
Vogal: Dr. João Wengorovius Ferro Meneses
Outubro 2014
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
AGRADECIMENTOS
Aos Arquitetos Maria Cristina Pinto Cardoso Neves e Paulo Mendes Gonçal-
ves, responsáveis pelo projecto de requalificação do Largo do Intendente,
pela documentação fornecida, pela disponibilidade e troca de ideias nas en-
trevistas realizadas.
I. Agradecimentos
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
RESUMO
REABILITAÇÃO URBANA
Actualmente, os processos de reabilitação urbana dão resposta a um cres-
cente número de objectivos, que vão para além da preservação do edificado
CRIATIVIDADE
e do espaço público, nomeadamente a integração de princípios sociais, cul-
ESPAÇO PÚBLICO turais e de sustentabilidade. A reabilitação urbana tornou-se assim num pro-
cesso de desenvolvimento urbano complexo e num tema central das políti-
NOBILITAÇÃO
cas urbanas para a competitividade e coesão das cidades. Assiste-se assim
INTERVENÇÃO INTEGRADA a soluções diversificadas, cada vez mais integradas e multidimensionais. O
presente trabalho procura contribuir para o enquadramento e entendimento
das dinâmicas complexas de reabilitação urbana, a nível do espaço publico,
criatividade e nobilitação.
II. Resumo
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
ABSTRACT
Currently, the processes of urban rehabilitation address a growing number URBAN REHABILITATION
of objectives that go beyond the preservation of the buildings and the public
CREATIVITY
space, namely the integration of social, cultural and sustainable principles.
That way, the urban rehabilitation became a complex urban development PUBLIC SPACE
process and a central topic in the urban policies about the competitiveness
GENTRIFICATION
and cohesion of the cities. Therefore, it was possible to observe diversified
solutions, more integrated and multidimensional than before. The purpose of INTEGRATED INTERVENTION
this dissertation is to frame and understand the complex dynamics of urban
rehabilitation, in terms of public space, creativity and gentrification.
The first part of the work addresses the urban rehabilitation in the internatio-
nal and national context, and presents the evolution of the concept and the
policies. The second part focuses in the city of Lisbon, contextualizing the
object of study, the Largo do Intendente. Finally, the ongoing process in this
area will be studied, starting by framing it in the programs and plans in place
in this zone. An analysis of the different dynamics and synergies that contri-
bute to the rehabilitation and reversion of the space will then be conducted,
namely in terms of the public space and strategies based on creativity and
gentrification.
III. Abstract
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
ÍNDICE
I. AGRADECIMENTOS
II. RESUMO
III. ABSTRACT
IV. ÍNDICE
V. ÍNDICE DE FIGURAS E QUADROS
VI. LISTA DE ABREVIATURAS E ACRÓNIMOS
00 INTRODUÇÃO 17
0.1 Motivação e pertinência temática 18
0.2 Objectivos 18
0.3 Metodologia 19
0.4 Organização 20
IV. Índice
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
05 CONCLUSÕES 133
IV. Índice
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
Fig. 01.17- A praça do Museu de Arte Contemporânea em Barcelona é utilizada por skaters
Fig. 02.13- Escola Rainha D. Leonor, Prémio Valmor e Municipal de Arquitectura 2011
www.novaescola.min-edu.pt/np4/e1106454.html [25.09.2014]
Fig. 02.30- A Linha, um dos projectos vencedores do programa BIP/ZIP 2012, Alfama
alinhaalfama.wordpress.com/2013/03/18/paragem-no-24-stop-no-24/ [13.07.2014]
Quadro 02.32-Número de candidaturas e montante disponível para a estratégia BIP/ZIP por ano
habitacao.cm-lisboa.pt/index.htm?no=2730001 [01.06.2014]
Fig. 02.35- Esquema das intervenções, relações entre estas e objectivos a que dão resposta
Equipa de Missão Lisboa, 2012
Fig. 03.25- Imagem do vídeo de apresentação do projecto de requalificação da Mouraria, Set. 2011
vimeo.com/29968011 [03.09.2014]
Fig.04.1- Rua dos Anjos, uma das saídas mais importantes de Lisboa
lisboahojeeontem.blogspot.pt/2012/09/rua-dos-anjos.html [23.08.2014]
Fig.04.2- Planta1856-58
Gabinete Estudos Olisiponenses
Fig.04.3- Planta1911
Gabinete Estudos Olisiponenses
Fig. 04.17- Largo antes da intervenção: um todo viário e uma ilha pedonal
Neves e Gonçalves, 2011
Fig. 04.21- Pormenor do pavimento: calçada de vidraço branco e lajetas em pedra lióz
Fig. 04.31- Concerto orquestra TODOS e ORCHESTRA DI PIAZZA VITTORIO, Set. 2012
todoscaminhadadeculturas.blogspot.pt [18.09.2014]
Fig.04.43- Bike-pop
Fig.04.58- “B.I. Cerâmico”, realizado num atelier de cerâmica no âmbito do Festival Bairro Intendente
em Festa.
www.facebook.com/bairrointendente/info [14.09.2014]
Fig.04.59- Mandela Day no Largo do Intendente no âmbito do Festival Bairro Intendente em Festa
vimeo.com/101288597 [30.08.2014]
0.2 Objectivos
18
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
0.3 Metodologia
O caso prático foi baseado numa primeira fase em recolha documental acer-
ca dos programas e planos relativos àquela zona, de modo a entender a
evolução dos mesmos assim como a fase em que estes se encontram.
19
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
0.4 Organização
20
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
21
01 REABILITAÇÃO URBANA: ENQUADRAMENTO E POLÍTICAS
“We created cities to celebrate what we have in common. Now they are de-
signed to keep us apart.”
(Rogers, R., 2007)
A importância dada às cidades remete aos gregos e ao longo dos tempos
Fig. 01.1 Ágora: expressão máxima da esfera existiram muitas concretizações propostas urbanísticas do conceito secular
pública grega
de “cidade ideal” - desde o forúm romano às cidades medievais, passando
Fonte: www.ensinodahistoria1.blogspot.pt
pela cidade-jardim de Ebenezer Howard e a cidade funcional de Le Corbu-
sier, terminando nas cidades periféricas à cidade central reabilitada e revitali-
zada (cf. Fig. 01.1; 01.2; 01.3) – que ainda marcam muitas cidades europeias
desde há mil anos. O Renascimento marca a transição entre as cidades de
crescimento espontâneo e as planeadas: “la ciudad dejó de ser una mera
herramienta y se convertió, en mayor medida, en una obra de arte, concebi-
da, percibida y realizada como un todo” (Gehl, 2006: 49).
Fig.01.3 Maquete do plano para Paris, Le O ano de 2001 corresponde à altura em que mais metade dos habitantes
Corbusier reside nas cidades, sendo que em 1950 estes representavam apenas um
Fonte: http://sedulia.blogs.com/
terço da população mundial, 800 milhões. A população que vive nas cidades
consome mais de dois terços da energia disponível mundialmente e ocupa
cada vez mais um papel central nas políticas urbanas. Segundo João Ferrão,
existe “uma crescente complexidade das realidades urbanas”, pelo que se
torna “cada vez mais difícil delimitar esse objecto a que chamamos cidade,
tanto do ponto de vista conceptual como do ponto de vista geográfico ou
das políticas públicas” (Ferrão, 2003: 219). Observa-se também uma grande
mudança social e demográfica nessa mesma população, que se reflecte no
número de pessoas a viverem sozinhas, na fraca percentagem de população
em idade activa, bem como uma população envelhecida e um índice de na-
talidade que vem decrescendo, em parte devido ao aumento da participação
das mulheres no mercado de trabalho.
Fig. 01.4- Cidade de Barcelona
24
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
Segundo Oliveira das Neves (Neves, 1996), a crise que se fez sentir nos anos
70 contribuiu para o agravamento das dificuldades de gestão e ordenamento
do território face às tensões que se manifestaram nas grandes cidades, no-
meadamente “o declínio das actividades tradicionais, que induziu a morte de
vastas zonas da cidade com reflexo nos índices de envelhecimento e de de-
gradação urbana; a opressão imobiliária e a espiral inflacionária do custo do
solo, que expulsaram a habitação e as actividades tradicionais, com reflexos
sobre a desertificação humana de inúmeros espaços” (Neves, 1996: 103).
Fig. 01.5 Periferia de Lisboa
Fonte: www.estudoprevio.net
O abandono e degradação dos centros das cidades é acompanhado pelo
alargamento exponencial dos perímetros urbanos e a consequente expansão
irracional das infraestruturas no território na maior parte dos países europeus
(Cf. Fig. 01.5; 01.6). Ao longo das décadas de 1950 e 1960 o desenvolvimen-
to económico traduziu-se espacialmente “na criação de espaços industriais,
residenciais e comerciais na periferia das cidades, constituindo os três prin-
cipais elementos estruturantes destes territórios” (Magalhães, 2008:19).
Segundo Gonçalo Byrne, “estas zonas são marcadas por ambientes muito
diferentes dos que se fazem sentir nas áreas centrais, pela sua homogenei-
dade, tipologia, morfologia e usos. Enquanto essas periferias se iam desen-
volvendo, os centros iam-se degradando e tornando abandonados” (Inter- Fig. 01.6 Edifício em elevado estado de
degradação em Lisboa
venção de Byrne, G., 2014). Este crescimento das cidades levantou diversas Fonte: cidadanialx.blogspot.pt
inquietações e críticas em relação ao futuro e sustentabilidade das cidades
assim como à destruição e ausência de espaço público. Ferreira e Salgueiro
afirmam que “a urbanização acelerada é um fenómeno muito recente e vai
continuar. [...] Se nós vamos viver em cidades, se cada vez mais gente vai vi-
ver em cidades, temos de tornar as cidades espaços mais agradáveis. Como
é que vamos conseguir fazer com que as cidades sejam centros económicos
importantes e, simultaneamente, sítios agradáveis para se viver?” (Ferreira e
Salgueiro, 2000).
25
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
26
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
27
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
Na década de 80, esse pensamento viria a ser alterado pois esse património
é valorizado como memória colectiva, adoptando-se uma política de revita-
lização baseada numa reabilitação integrada. Os anos 80 caracterizam-se
assim pela consolidação da dimensão urbana da reabilitação. O surgimento
de problemas como o desemprego, pobreza, insegurança e más condições
do ambiente urbano, favorecem a tomada de consciência da diversidade de
sectores envolvidos na melhoria da vida urbana, não se restringindo assim
à economia. Na “nova política urbana” reconhece-se que “a intervenção ur-
banística é um dos elementos da dinâmica social onde agem actores com
expectativas, interesses e inserções diferenciais na sociedade e na cidade”
(Guerra e Vilaça, 1994: 85). A Campanha Europeia para o Renascimento das
Cidades, lançada pelo Conselho da Europa em 1980, marca o início desta
viragem, tendo como mote uma “melhor vida nas cidades” e sensibilizando
tanto o público em geral como os governantes para a necessidade de me-
lhorar de uma maneira global a qualidade de vida das cidades.
28
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
Explicação de conceitos
29
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
De acordo com Dec. Lei n.o 307/2009 de 23 de outubro, que define o Regime
Jurídico da Reabilitação Urbana,
O Dec. Lei n.º 307/2009, actualizado pelo DL n.º 32/2012 de 14/08, defi-
ne ainda que compete às Câmaras Municipais desenvolverem a estratégia
de reabilitação assumindo-se esta “como uma componente indispensável
da política das cidades e da política de habitação, na medida em que nela
convergem os objetivos de requalificação e revitalização das cidades, em
particular das suas áreas mais degradadas, e de qualificação do parque ha-
bitacional, procurando-se um funcionamento globalmente mais harmonioso
e sustentável das cidades e a garantia, para todos, de uma habitação con-
digna.”
30
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
O Estado Novo, período que marcou o país até 1974, privilegiou a reabilita-
ção dos monumentos com valor histórico, sendo que se procuravam “sinais
da cultura arquitectónica portuguesa original que muitas vezes implicavam
remover traços de outras culturas e destruição de importantes contribuições
artísticas de outras épocas” (Silva, 2010: 10). Relativamente à habitação,
era dada pouca importância às necessidades qualitativas das habitações,
prevalecendo as necessidades quantitativas. O êxodo rural aumenta e nos
anos 50 há um forte défice habitacional, que leva à adopção do Plano de
Melhoramentos para a Cidade do Porto e do Plano de Construção de Novas
Habitações da Cidade de Lisboa.
31
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
32
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
O RJRU define ainda que a cada área de reabilitação urbana existe uma
operação de reabilitação urbana correspondente que pode ser simples ou
sistemática. A primeira diz respeito a uma intervenção integrada de reabilita-
ção urbana de uma área focando-se na reabilitação do edificado, orientada
por uma estratégia de reabilitação urbana. A segunda é dirigida à reabilitação
do edificado e à qualificação das infraestruturas, dos equipamentos e dos
espaços verdes e urbanos de utilização colectiva, visando a requalificação
e revitalização do tecido urbano, associada a um programa de investimento
público. Esta é orientada por um programa estratégico de reabilitação urba-
na (Decreto Lei nº307/2009).
33
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
Em 2012 este decreto de lei foi alterado através do Decreto nº 55/ XII, vi-
sando a implementação de medidas destinadas a dinamizar a reabilitação
urbana.
34
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
35
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
36
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
geralmente por agregados familiares com fraco poder económico. Este pro-
grama teve uma aplicação bastante moderada, facto que talvez se deva à
burocracia exigida para aceder ao mesmo.
Nos anos 90 volta a ser dada importância aos equipamentos culturais, sendo
que a arte é vista como um forte factor simbólico, impulsionada pela revo-
lução dos cravos, em que se assume como uma fonte de canalização da
democracia e liberdade. Foi assim valorizada a proximidade dos habitantes
com a rua e a arte, em detrimento dos museus e galerias.
A segunda fase deste programa, URBAN II, decorre entre os anos 2000 e
2006 e procura promover a melhoria da qualidade de vida das populações de
centros urbanos ou de subúrbios através da aplicação de estratégias inova-
doras de revitalização sócio-económica sustentável. A abordagem URBAN
consiste assim numa abordagem territorial integrada envolvendo uma sólida
parceria local e integrando as dimensões económica e social através de uma
série de operações. Em Portugal as zonas Urban II propostas são: Porto/
Gondomar, Lisboa/Vale de Alcântara e Amadora/Damaia- Buraca (Quadro
Comunitário de Apoio III, 2000).
37
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
Programa POLIS
38
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
39
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
Foi consultado uma obra de Jan Gehl (cf. Fig. 01.23), La Humanización Del
Espacio Urbano: La Vida Social Entre Los Edificios, em que este arquitecto,
Fig.01.22- Requalificação da Av. Duque interessado em melhorar a qualidade de vida urbana através do planeamen-
d’Ávila, Lisboa to, distingue três tipos de actividades exteriores: “actividades necessárias”
Fonte: infohabitar.blogspot.pt
40
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
41
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
42
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
Nobilitação
43
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
44
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
cidade interior e não das periferias sendo que os grupos sociais pioneiros da
nobilitação valorizam a cidade interior histórica com mais relações de proxi-
midade e vizinhança pois esta possibilita uma maior tolerância à diversidade
por estes grupos sociais com valores que requerem essa tolerância.
45
02 . A REABILITAÇÃO NA CIDADE DE LISBOA: UMA APOSTA ESTRATÉGICA
“Cities are the product of time. (...) By the diversity of its time structures, the
city in part escapes the tyranny of a single present, and the monotony of a
future that consists of repeating only a single beat heard in the past...”
(Mumford, L., 1938)
48
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
Ao contrário do que aconteceu nos anos 90, a estratégia actual de toda a ci-
dade tira partido das dinâmicas que ocorrem na mesma, assentes em carac- Fig. 02.1 Armazéns do Chiado após o
terísticas que sempre marcaram a nossa cidade: a sua posição geográfica, incêndio de 1988
Fonte: www.tsf.pt
o seu património e riqueza, a sua história. Esses factores aliados à crise que
vivemos potenciam um novo pensamento.
Lisboa tem uma grande riqueza nos seus elementos patrimoniais e em cada
um dos seus espaços e bairros com uma identidade espácio-cultural e vi-
vencial, porém esta encontra-se em transformação e em alguns casos em
fragilização devido à degradação do edificado e desertificação. No final dos
anos 60, o desenvolvimento da cidade encontra-se marcado por interven- Fig. 02.3 Residências EPUL Jovem, Martim
ções de iniciativa privada avulsas. O processo de urbanização foi guiado Moniz
pela especulação imobiliária que ocupou terreno junto à periferia da cidade, Fonte: www.epul.pt
Os anos 80 foram marcados por um boom imobiliário, onde a habitação e os Fig. 02.4 Edifício de habitação e comércio na
Rua do Benformoso, Mouraria
escritórios são privilegiados, sendo que em paralelo ocorreram operações de Fonte: www.epul.pt
reabilitação nos bairros históricos, iniciadas em 1986 pela CML. Considera-
-se que o espaço público tem um papel estruturante como gerador de forma
urbana, realizando-se operações de melhoria da acessibilidade pedonal,
49
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
50
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
51
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
Governança
52
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
Lx Factory
Este conjunto de imóveis industriais foi adquirido pela Mainside em 2005 aos
anteriores proprietários que utilizavam as instalações como gráfica, numa
altura em que já decorria um projecto de requalificação para esta zona pro-
movido pela CML, o plano Alcântara XXI. A Mainside é uma empresa priva-
da que desenvolve projectos ligados maioritariamente à reabilitação urbana,
como descreve João Queirós Carvalho, administrador desta empresa, numa
entrevista à revista “A Europa nas nossas Mãos”: “compramos imóveis edi-
ficados para os quais desenvolvermos projectos, que lhe dão um uso adap-
tado ao presente” (Carvalho, 2010). O administrador da Mainside considera
que a reabilitação é um potencial de negócio difícil mas que resulta em mais- Fig. 02. 18 Restaurante 1300 Taberna
-valias que não se obtêm num negócio imobiliário tradicional. Fonte: myguide.iol.pt
Em 2008 este espaço foi revitalizado e aberto ao público, e desde esse ano
que têm vindo a instalar- se nesta área diversas empresas ligadas à área de
arquitectura, design, restauração, publicidade, moda, artes plásticas, músi-
ca, entre outros, originando assim uma mistura de conhecimento e experi-
ências (cf. Fig. 02.17, 02.18, 02.19). Os espaços ligados ao comércio visam
fazer a promoção cultural do que se passa dentro e fora da antiga fábrica,
sendo que ocorrem também muitos eventos desde exposições, concertos,
festas, feiras (cf. Fig. 02.20, 02.21).
A zona do Cais do Sodré foi, nos anos 70, um ponto de referência como zona
de diversão e espaço de entretenimento para os marinheiros que atracavam
53
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
em Lisboa. Após esse período passou por um tempo de abandono e foi vista
durante décadas como uma zona de droga e prostituição. Após a ameaça de
desabamento de um edifício na Rua Nova do Carvalho, ou “rua cor-de-rosa”
como é mais conhecida, a mentalidade e visão desta área alterou-se. Esta
rua foi fechada ao trânsito, e após um conjunto de sinergias por parte da Câ-
mara, dos comerciantes e dos clientes, iniciou-se o processo de reabilitação
da zona.
Fig. 02.21 Mercado semanal de produtos A Associação Cais do Sodré foi criada por vários comerciantes locais, no-
em 2º mão
Fonte: myguide.iol.pt meadamente os da Rua Nova do Carvalho, e procura minimizar o choque
entre as várias valências do bairro assim como promover a dinâmica social
e cultural e financiar medidas ao nível da segurança, limpeza e recuperação
urbanística.
O concurso promovido por esta Associação foi ganho pela José Adrião Ar-
quitectos. Segundo o Arq. a pintura da rua criou um espaço dinâmico e in-
clusivo e proporciona o acesso à informação, na medida em que se produz,
partilha e consome cultura na Rua Cor-de-Rosa (cf. Fig. 02.22, 02.23, 02.24).
Fig. 02.22 Rua antes da intervenção Paralelamente a essa recuperação física observou-se a abertura de novos
Fonte: www.joseadriao.com espaços de restauração, hostels e espaços comerciais fortemente ligados às
artes os quais atraíram mais pessoas à zona. O ano de 2011 marcou o pro-
cesso de reconversão urbana desta zona, com a compra e remodelação por
parte da imobiliária Mainside, responsável pela recuperação da Lx Factory,
de um prédio pombalino situado no nº 19 da rua do Alecrim. Este projecto
resultou na Pensão Amor, um edifício de 5 pisos com espaços dedicados à
restauração e animação nocturna e ainda espaços de trabalho ligados a ac-
tividades criativas e culturais (cf. Fig. 02.25). Como sucedeu na Lx Factory, o
projecto foi pensado dando ênfase ao conceito e imagem dos espaços numa
ótica de regeneração urbana.
Fig. 02.23 Proposta do atelier José Adrião
Arq. Este é mais um exemplo de reabilitação urbana, através da consolidação do
Fonte: www.joseadriao.com
espaço público, em constante mudança e actividade, tendo como protago-
nistas as pessoas.
Martim Moniz
54
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
Estamos assim perante novas áreas criativas, distintas umas das outras. O Fig.02.27 Praça Martim Moniz
cais do Sodré manteve- se como espaço nocturno, mantendo assim sua Fonte: www.cm-lisboa.pt
função, mas o público e as formas de consumo são contemporâneas. A Lx
Factory alterou a sua função, passando da industrial para a cultural, requa-
lificando o edificado e tornando-se num espaço atractivo para a cidade. No
Martim Moniz observa-se uma apropriação mais informal, sendo que a Praça
assume-se como um lugar de estada ou passagem pelas diversas culturas
presentes naquele território.
55
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
BIP/ZIP
56
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
Como é possível observar (cf. Fig. 02.32), o ano de 2014 teve o maior número
de candidaturas com 146 participações. O ano de 2013 ficou marcado pela
realização de uma exposição no MUDE, chamada “Dentro de ti ó cidade” (cf.
Fig. 02.33), divulgando à cidade o que acontece nos bairros e associações
da mesma e documentando o processo participativo em curso, todos eles
projectos inovadoras e vitais. Os projectos reconhecem a importância do
espaço público, e devolvem-no aos habitantes da cidade, de modo a que
estes interajam, partilhem experiências e criem cumplicidade, “valorizando
a qualidade do ambiente urbano e a dimensão antropológica de cada lugar”
(Coutinho, 2013: 15).
57
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
Orçamento Participativo
58
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
O programa RE9 é promovido pela CML com diversos parceiros, como a Or-
dem dos Arquitectos ou dos Engenheiros, e apoia operações de reabilitação
de pequena e média escala. Este programa propõe nove benefícios às inter-
venções de reabilitação urbana. Nomeadamente: menos 17% de IVA na mão
de obra e materiais; Isenção de Imposto Municipal sobre Imóvel durante 5
anos em imóveis reabilitados após 1 de Janeiro de 2008 e até 31 de Dezem-
bro de 2020; Isenção de Imposto Municipal sobre as Transmissões Onero-
sas de Imóveis destinados exclusivamente a habitação própria e permanente
que se localizem em área de reabilitação urbana; Outros Benefícios Fiscais (
-30% no IRS, Isenção de IRC para fundos de investimento imobiliário e redu-
ção sobre as mais-valias para 5%); Isenção de Taxas Municipais (Isenção da
taxa de ocupação da via pública nos primeiros 4 meses, Isenção da taxa ad-
ministrativa de apreciação do processo ei senção da TRIU até 250m2 de área
acrescentada); Projetos de arquitetura e engenharia acessíveis a todos para
obras de reabilitação a realizar em Lisboa, com o devido acompanhamento
de modo a obter a melhor qualidade e economia das obras, graças a parce-
rias entre a Câmara Municipal de Lisboa, e as Ordens dos Arquitectos, dos
Engenheiros e dos Engenheiros Técnicos; Financiamento com condições es-
peciais; Parcerias com empresas e descontos nos materiais de construção;
Uma rápida via da Reabilitação Urbana.
59
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
Início, mais recente, da reabilitação urbana na cidade. Lançamento dos GTL de Alfama e
1986-1990
Mouraria de modo a proceder à requalificação física, social e funcional dos bairros e obter
um contacto mais directo com a realidade local promovendo uma gestão de proximidade.
61
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
62
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
63
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
64
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
65
03 . A MOURARIA NOS INSTRUMENTOS
DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL E URBANO
Fig. 03.1 Planta geral de Lisboa em 1833 Fig. 03.2 Cerca fernandina sobreposta à planta de Lisboa de 1856
Fonte: www.museudacidade.pt Fonte: revelarlx.cm-lisboa.pt
68
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
Esta zona distingue-se das outras áreas da cidade pelas suas características
arquitectónicas, que identificam uma época, e o modo de ocupação do ter-
ritório, que lhe confere uma identidade e expressão urbanística próprias. A
sua malha urbana de génese mourisca é das mais antigas da cidade e com-
plexa ao nível espacial pela sua irregularidade (cf. Fig.03.4). À semelhança
de outras ocupações muçulmanas, as habitações estão dispostas ao longo
da rua formando uma frente urbana e caracterizam-se por compartimentos
de reduzida dimensão organizados geralmente em torno de um pátio, com
um jardim, um quintal e um poço do outro lado da casa. Estas características
tornam o bairro numa das mais notáveis áreas históricas da cidade.
Fig. 03.4 Uma das diversas escadas do
bairro.
A malha orgânica e morfologia acentuada do terreno criam grandes dificul- Fonte: ventaniasrosadas.blogspot.pt
dades a nível das acessibilidades e mobilidade viária, existindo um grande
défice de estacionamento e as zonas de circulação exclusivamente pedonal
eram praticamente inexistentes. Este facto teve como consequência o afas-
tamento das pessoas de um espaço concebido essencialmente para o seu
usufruto mas que a partilha com o automóvel não permite percepcioná-lo
como tal, bem como a impossibilidade de viaturas de socorro e prioritárias
acederem ao local, pondo em risco pessoas e bens pois alguns locais da
Mouraria só possuem uma maneira de acesso (Neves e Gonçalves, 2009).
A rua do Benformoso foi até 1862, altura em que a rua da Palma abriu, uma
das ruas mais movimentadas da cidade por onde todo o trânsito era efectu-
ado e possui dois Imóveis de Interesse Público, nomeadamente um edifício
seiscentista, que mantem algumas das características pitorescas de Lisboa
antiga e um edifício oitocentista de arquitectura romântico revestido a azule-
jo (cf. Fig. 03.5). Esta rua é actualmente um eixo viário importante do bairro,
porém a reduzida dimensão dos passeios provoca uma dificuldade de mobi-
lidade dos peões. A rua do Benformoso desemboca no Largo do Intendente,
um espaço de descompressão que resulta de diversas transformações
69
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
70
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
71
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
O tecido social que define o bairro é composto por duas realidades com dife-
rentes características que coexistem, sendo que encontramos no eixo da rua
da Mouraria/ Martim Moniz/ rua do Benformoso uma vivência social ligada
ao comércio por parte da população imigrante, nomeadamente paquista-
neses, indianos, chineses, com diferentes culturas e práticas económicas.
A outra realidade, mais tradicional e vernacular, é definida por uma vida de
bairro e dinâmicas que de um modo de geral caracterizam os bairros histó-
ricos de Lisboa. Esta zona acolheu no século XX vários imigrantes chineses,
indianos, paquistaneses, bengalis e africanos que com a onda de imigração
que marcou aquela altura se instalaram no bairro (Neves e Gonçalves, 2011).
A identidade que a Mouraria possui deve-se assim aos modos de vida da po-
pulação do bairro e a sua estrutura socioeconómica, marcada por uma gran-
de diversidade étnica e cultural. Este bairro é também caracterizado pela
profunda cultura popular portuguesa, assumindo-se como o berço do Fado,
onde nasceram alguns fadistas populares, como Maria Severa, Fernando
Maurício ou Mariza. Embora a potencialidade e recursos endógenos que a
Mouraria possui, esta é historicamente um território vulnerável em termos
sociais, com grupos em risco ou em situação de pobreza ou exclusão social
e onde os índices de qualidade de vida são baixos. Existe ainda alguma
insegurança e os níveis de “guetização” territorial estão acima da média ve-
rificada em Lisboa.
72
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
Trajectória demográfica
1991 663 394 8 617 0-14 11,6% (65 549) 10% (588)
2011 545 245 5824 25-64 52,1% (294 171) 56% (3264)
Quadro 03.8 População Residente Quadro 03.9- Percentagem de habitantes por faixa etária
Fonte: INE, Censos 1991, 2001, 2011 Fonte: INE, Censos 2011
73
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
Lisboa Mouraria
Caracterização socioeconómica
74
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
75
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
76
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
O bairro da Mouraria, juntamente com o Bairro Alto e São Paulo, Baixa, Cas-
telo e Alfama e Pena, pertencem à Unidade Operativa de Planeamento e
Gestão do Centro Histórico (UOPG 7). Como descrito no capítulo anterior,
as UOPG são definidas pelo Plano Director Municipal, que aglutina as áreas
territoriais “com identidade urbana e geográfica, apresentando um nível sig-
nificativo de autonomia funcional e constituindo as unidades de referência
para efeitos de gestão municipal” (PDM, 2012).
77
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
78
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
Desde o final de 2011 que a Mouraria está envolvida numa intervenção ur-
banística com o intuito de restaurar o tecido arquitectónico e reorganizar o
território a nível social e económico. Esta acção procura requalificar os equi-
pamentos, proporcionando uma melhoria de qualidade, bem como introduzir
novas práticas de utilização e apropriação do espaço público através de ac-
tividades artísticas e culturais e novos modelos de desenvolvimento econó-
mico. Este projecto é aplicado através do Quadro de Referência Estratégica
Nacional da Mouraria (QREN), que visa a requalificação do espaço público
e reabilitação de edifícios de interesse histórico e cultural, e do Programa
de Desenvolvimento Comunitário da Mouraria (PDCM), que complementa
o primeiro e previne fenómenos de risco e pobreza e impulsiona eventos e
actividades artísticas desenvolvendo projectos de acção social que incenti-
vem uma nova forma de participação na vida pública do bairro. O Programa
de Acção da Mouraria, intitulado “as cidades dentro da cidade” mereceu
financiamento FEDER através do QREN. Estes programas serão explicados
no próximo ponto.
79
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
80
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
81
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
Fig.03.16 Interior do Quarteirão dos Laga- Fig. 03.17 Vista da entrada principal Fig. 03.18 Modelo tri-dimensional da
res antes da intervenção Fonte: www.aimouraria.cm-lisboa.pt proposta
Fonte: quarteiraodoslagares.blogs.sapo. Fonte: www.aimouraria.cm-lisboa.pt
pt/306.html
82
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
Eixos instrumentais:
Acção 3.1 Extensão das Instalações da Junta de Freguesia de São Cristóvão e São Lourenço em
edifício no Largo dos Trigueiros (CML). Esta acção encontra-se concluída.
Acção 3.2 Extensão das Instalações da Junta de Freguesia do Socorro em edifício na Rua da Guia
Acção 3.3 Sítio do Fado na Casa da A Casa da Severa, onde terá vivido a fadista Severa,
Severa (CML) localiza-se no Largo da Severa e foi reabilitada para dar
lugar ao Sítio do Fado. O arquitecto José Adrião foi o
responsável pelo projecto. Esta obra foi concluída em
2013 e pretende reforçar o carácter identitário da
Mouraria e realçar a génese da comunidade, vista como
o berço do fado (cf. Fig. 03.19)
Em Agosto deste ano instalou-se na casa da Severa a
Maria da Mouraria que funciona como restaurante com
actividades ligadas ao fado de modo a valorizá-lo e
divulga-lo. Este espaço articula-se com o Museu do
Fado em Alfama e está sob gestão deste (cf. Fig. 03.20,
03.21).
Acção 3.4 Acções de Redução de Riscos e de Minimização de Danos de Toxicodependência
Fig. 03.19 Edifício antes da intervenção Fig. 03.20 Casa da Severa Fig. 03.21 Interior da Casa da Severa
Fonte: www.idealista.pt Fonte: www.aimouraria.cm-lisboa.pt Fonte: www.idealista.pt
83
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
Acção 4.5 Percurso Turístico - Cultural (ATL) Este Percurso foi criado de modo a permitir a
divulgação da Mouraria nas rotas turísticas da
cidade, sustentado pela colocação de sinalética
direcional e de identificação dos edifícios com
valor patrimonial, classificados como Monumento
Nacional e como Imóvel de Interesse Público e
outros integrados na Carta do Património (cf. Fig.
02.22). A Associação de Turismo de Lisboa é um
parceiro da candidatura e insere a Mouraria nos
seus itinerários culturais, divulgando nacional e
internacionalmente o Percurso Turístico-Cultural
(QREN Mouraria, 2010).
Acção 4.6 Visitas Guiadas ao Património Estas visitas são promovidas pela Associação
Histórico e Cultural da Mouraria (ARM) Renovar a Mouraria e estão divididas consoante
o interesse do visitante: percurso Mouraria dos
Povos e das Culturas; Percurso Mouraria das
Tradições; Percurso Mouraria do Fado; Percurso
do Castelo à Mouraria; Visita à História dos
Azulejos do Colégio dos Meninos Orfãos. O lema
das visitas é História e estórias com gente dentro
84
(cf. Fig. 03.23).
Acção 4.7 Publicação História da Mouraria em banda desenhada (ARM)
Acção 4.5 Percurso Turístico - Cultural (ATL) Este Percurso foi criado de modo a permitir a
divulgação da Mouraria nas rotas turísticas da
cidade, sustentado pela colocação de sinalética
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
direcional e de identificação dos edifícios com
valor patrimonial, classificados como Monumento
Nacional e como Imóvel de Interesse Público e
outros integrados na Carta do Património (cf. Fig.
02.22). A Associação de Turismo de Lisboa é um
parceiro da candidatura e insere a Mouraria nos
seus itinerários culturais, divulgando nacional e
internacionalmente o Percurso Turístico-Cultural
(QREN Mouraria, 2010).
Acção 4.6 Visitas Guiadas ao Património Estas visitas são promovidas pela Associação
Histórico e Cultural da Mouraria (ARM) Renovar a Mouraria e estão divididas consoante
o interesse do visitante: percurso Mouraria dos
Povos e das Culturas; Percurso Mouraria das
Tradições; Percurso Mouraria do Fado; Percurso
do Castelo à Mouraria; Visita à História dos
Azulejos do Colégio dos Meninos Orfãos. O lema
das visitas é História e estórias com gente dentro
(cf. Fig. 03.23).
Acção 4.7 Publicação História da Mouraria em banda desenhada (ARM)
Acção 4.9 Jornal Bimestral sobre a Mouraria Este jornal teve início em 2010 e envolve não só
“Rosa Maria” (ARM) jornalistas, fotógrafos, ilustradores e designers
gráficos mas também voluntários e moradores,
sendo assim produzido por todos os que queiram
participar. O jornal é distribuído gratuitamente
duas vezes por ano pelo bairro e está disponível
on-line.
Fig. 03.22 Sinalética do Percurso Turístico- Fig. 02.23 Percurso Mouraria dos Povos e das Culturas
Cultural Fonte: www.renovaramouraria.pt
85
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
Este plano pretende dar a conhecer, junto de uma vasta população, as ini-
ciativas do Programa de Acção (PA) da Mouraria, o seu desenvolvimento e
concretização através de diferentes meios e suportes. O património cultural
é também divulgado, pois tal como defendem algumas cartas internacionais
(Atenas ou Veneza) “a melhor estratégia para a salvaguarda do património
é a promoção do seu conhecimento para que as populações possam dele
apropriar-se” (UPM, 2009). O site onde foi consultado o PA é o maior agente
de divulgação, “com identificação e descrição das operações que integram
o PA, bem como de todos os projectos e relatórios produzidos no seu qua-
dro; identificação do Protocolo de Parceria Local com link para os sites dos
parceiros; notícias sobre iniciativas e estado dos trabalhos; divulgação dos
calendários de eventos das diferentes comunidades presentes no bairro e de
iniciativas promovidas pela Parceria; os apoios à reabilitação existentes; pro-
moção de um guia de recursos da Mouraria; e apresentação de uma galeria
multimédia” (UPM, 2009).
Fig. 03.24 Outdoor de divulgação do PA Mouraria Fig. 03.25 Imagem do vídeo de apresentação do
Fonte: aimouraria.com-lisboa.pt projecto de requalificação da Mouraria,
30 Setembro 2011
Fonte: http://vimeo.com/29968011
86
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
“A médio prazo:
1 Melhores oportunidades de emprego;
2 Maior formação e qualificação;
3 Maior capital social e participação;
4 Maior utilização e fruição do espaço público (por parte de moradores
e visitantes);
5 Maior acesso à saúde;
6 Promoção da identidade e valorização da Mouraria (interna e externa);
7 Capacitação das instituições da sociedade civil a actuar na Mouraria.
A longo prazo:
8 Maior coesão social e qualidade de vida na Mouraria;
9 Maior auto-estima da população (individual e colectiva);
10 Maior diversidade socio-económica da população da Mouraria
(moradora e visitantes);
11 Maior sentimento de segurança;
12 Instituições da sociedade civil mais robustas e participativas.”
87
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
BIP/ ZIP
Como foi explicado no capítulo anterior, a estratégia BIP/ ZIP incide nos bair-
ros e zonas de intervenção prioritária de Lisboa definidos por delimitações
municipais existentes e indicadores sociais e urbanos. Relativamente ao pri-
meiro, a Mouraria localiza-se na Área crítica de recuperação e reconversão
urbanística. Procurou-se estudar os indicadores sociais e urbanos de modo
a enquadrar a zona em estudo na estratégia BIP/ZIP. Foram analisados os
indicadores pertencentes às freguesias anteriores à reorganização, ou seja
Anjos e Socorro, por se tratarem dos dados que levaram à limitação destas
zonas como BIP/ZIP.
88
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
Orçamento Participativo
89
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
90
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
91
04. O LARGO DO INTENDENTE: UMA REVOLUÇÃO EM CURSO
94
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
Júlio de Castilho descreve esta zona, na sua altura mais movimentada e Fig. 04.6 Palacete Pombalino
Fonte: Neves e Gonçalves, 2011
vivida, como “O nosso largo do Intendente, de bulhenta e insuportável me-
mória. É dos sítios mais trilhados e rumorosos da Lisboa moderna. (E se não
calcule-se) Por ali passam sempre, a toda a hora, inumeráveis pessoas a
pé, a cavalo, em burro, em tilbury, em coupé, em dog-cart, em caleche, em
landau, para o campo, e para todos aquêles hoje povoadíssimos arrabaldes.
Além disso passam todos os carretos que por aquela banda vêm abastecer
os mercados da capital, todos os leiteiros, todos os hortelões, todas as la-
vadeiras, todos os moleiros, todos os almocreves, do têrmo dos lados do
norte. Passam mil vendeiros de hortaliça, de petróleo, de azeite, de água, de
peixe, de fato velho, de tudo enfim. Passam os estridentes caldeireiros, e os
que deitam gatos; cada qual com o seu pregão diverso. Passam os padeiros Fig. 04.7 Chafariz do Desterro
de carroça, com a sua matraca infernal. Passam constantemente, para baixo Fonte: lisboahojeeontem.blogspot.pt
95
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
96
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
deficit entre 2002 e 2009, “embora ali funcionassem alguns serviços de es-
pectro largo - centro de Saúde da área dos Anjos, uma escola profissional
ligada e atividades económicas e comércio - as práticas de tráfico de droga
e prostituição eram consideravelmente perturbadoras, com a consequente
concentração de consumidores toxicodependentes” (Gonçalves, 2013: 2).
De modo a obter uma análise mais sustentada e profunda deste Largo, pro-
curou-se estudar os edifícios que o delimitam e dão lugar à ocorrência de
dinâmicas variadas. Recorrendo aos censos de 2011, recolheu-se assim os Quarteirão A
População
Quarteirão Famílias Alojamentos Edifícios
residente
A 12 5 19 4
B 10 5 13 4
C 39 22 26 9
D 182 95 136 42
Quarteirão B
Como é possível observar através dos dados relativos aos Censos de 2011
e de uma observação local, os edifícios que definem o Largo apresentam
um número relativamente baixo de ocupantes permanentes, prevalecendo
assim a população flutuante nas residências e hostels. Essa situação deverá
manter-se, uma vez que estão previstos uma residência de estudantes e uma
unidade hoteleira. Este facto é importante quer para a dinâmica do Largo
quer para a sua sustentabilidade.
Quarteirão C
Factores indutores da transformação
do Largo do Intendente
97
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
98
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
Este projecto tem por base os princípios que orientam o Programa Preliminar
elaborado no âmbito da candidatura ao QREN, assim como os Instrumentos
de Planeamento em vigor aplicáveis à área de intervenção, nomeadamente
o Plano de Urbanização do Núcleo Histórico da Mouraria e o Plano Direc-
tor Municipal de Lisboa, descritos no capítulo anterior. A área afectada pelo
projecto de requalificação tem cerca de 8450 m2 e é composta pelo Largo
do Intendente, a Rua do Benformoso, a Travessa do Benformoso, a Travessa
Cidadão João Gonçalves e a Travessa da Cruz dos Anjos (cf. Fig. 04.15).
99
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
101
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
A rua do Benformoso, como descrito acima, é uma das vias mais emble-
máticas do bairro sendo que a sua geometria é definida pela implantação
irregular do conjunto edificado. Propõe-se a introdução de uma faixa de es-
tacionamento e passeios mais amplos no troço entre a Rua do Terreirinho e
o Largo do Intendente. O espaço entre a rua do Terreirinho e a rua do Ben-
formoso, onde se encontra um chafariz, é substituído introduzindo degraus
permitindo atravessamentos sem obstáculos e uma leitura clara do espaço.
Fig. 04.18 Estereotomia de pavimento da
rua do Benformoso
O passeio é composto por calçada de vidraço e a circulação automóvel por
Fonte: Adaptado de Neves e Gonçalves, blocos irregulares de basalto (cf. Fig. 04.18). De modo a promover a mobili-
2011 dade pedonal, que se processava no passeio e na via devido à reduzida área
pedonal disponível, introduziu-se uma faixa lateral de cubos de granito com
acabamento serrado aumentando o conforto e a segurança da circulação
pedonal.
102
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
103
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
Mancha verde
A posição das árvores teve que ser repensada posteriormente, com a intro-
dução da escultura da Joana Vasconcelos. Prevê-se que a rega das árvores
seja manual, tendo-se instituído a execução de uma rede de rega no Largo a
Fig. 04.24 Plátano que existia no Largo
utilizar em caso de emergência.
Fonte: projetotoca.wordpress.com
104
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
Drenagem
105
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
Adenda
106
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
107
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
108
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
Domínio público
109
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
Ainda nesse mesmo ano teve lugar no Largo o “Red Bull Santos Vertical”, no
âmbito dos Santos Populares onde o palco dos concertos é uma fachada
pombalina cujas varandas são ocupadas pelas bandas. Este evento repetiu-
-se pela segunda vez este ano devido ao sucesso do primeiro ano, trazen-
do muita gente a esta zona e contribuindo para a sua revitalização (cf. Fig.
04.35).
110
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
111
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
112
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
Relevância
Dinamização
O jornal Rosa Maria é editado pela associação e existe desde 2010, sendo
distribuído no bairro porta-a-porta e noutros pontos da cidade nomeada-
mente em universidades, teatros e outros estabelecimentos culturais, co-
merciais e institucionais. Este é produzido duas vezes por ano, em Junho e
Dezembro e envolve não só jornalistas, fotógrafos, ilustradores e designers
gráficos mas também voluntários e moradores, sendo assim produzido por
todos os que queiram participar. Foi criado de modo a preservar e divulgar
o património histórico, humano e cultural do território. É ainda possível con-
sultá-lo on-line. Os primeiros quatro números do jornal foram financiados
em 80% por fundos europeus através do programa do QREN. Os números
seguintes foram suportados através de publicidade e pela Associação Re- Fig. 04.38 Jornal ROSA MARIA no2 e no7
Fonte: www.renovaramouraria.pt
novar a Mouraria.
113
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
O projecto “Mouraria para Todos” realiza visitas guiadas pelo bairro da Mou-
Fig. 04.40- Mercado na Mouraria
raria, e teve início em Março de 2014 com o apoio do programa EDP Solidá-
Fonte: www.facebook.com/renovar.a.mou-
raria ria da Fundação EDP. Este projecto tem uma especial atenção pelas pessoas
com necessidades especiais assegurando por exemplo a instalação de ram-
pas para pessoas com mobilidade reduzida.
114
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
Relevância
Dinamização
A Casa Independente tem três espaços distintos: uma grande sala, salas de
lazer e trabalho, uma cafetaria e um pátio (cf. Fig. 04.41). Desde a sua abertu-
ra que há uma programação regular com concertos, exposições, workshops,
encontros gastronómicos, procurando-se atrair os públicos a participar nos
diversos eventos. A oferta distintiva de acontecimentos pretende posicionar
115
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
Bike-Pop nº 21
Contexto e Relevância
Dinamização
116
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
117
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
Relevância
Dinamização
118
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
119
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
O LARGO Café tem uma esplanada no Largo e está aberto aos envolvidos
no projecto e a todos os utilizadores do Largo do Intendente, pretendendo
“reconfigurar pontos de contacto entre os artistas e o público em geral, inte-
grando-se constante e continuamente nas dinâmicas quotidianas do LARGO
representando o ponto central de encontro entre todos.”
Avenida Intendente
Contexto
Relevância
Dinâmização
120
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
Domínio privado
Este café abriu em Julho de 2012 numa antiga taberna e foi dos primeiros
espaços a se instalar no renovado Largo. Nessa altura já estava instalado no
Largo o presidente da câmara António Costa. As duas sócias do projecto
adaptaram o espaço procurando sempre abri-lo ao Largo e colocaram uma
esplanada.
Dinamização
121
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
A Vida Portuguesa nº 23
Contexto e Relevância
122
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
Contexto
Dinamização
123
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
Contexto
Dinâmização
Este espaço oferece snooker, jogos de cartas e bilhar e ainda um salão nobre
para ensaios de bandas e outros projectos artísticos. O Clube conta ainda
com noites de fado, e aluga o seu espaço para festas de empresa ou te-
máticas. Este espaço funciona todos os dias à noite, excepto ao sábado e
domingo que abre às duas da tarde.
Fig. 04.55 Sport Clube Intendente
124
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
Contexto
SOU é uma Associação Cultural sem fins lucrativas fundada em 2004 numa
antiga loja dos Anjos. Em 2008 nasceu o espaço SOU com um estúdio, ca-
fetaria, esplanada, expositores e espaço para exposições no nº 73 da rua
Maria.
Relevância
Esta associação tem como principais objectivos oferecer formação nas áre-
as das artes performativas, dinamizar e promover actividades culturais e
acolher criadores de vários âmbitos artísticos. Como objectivos artísticos
prioritários foi definido pela associação SOU: “fomentar projectos artísticos
de qualidade, disponibilizar programação de qualidade e maioritariamente
gratuita e promover a qualidade de vida e a cidadania das populações lo-
cais” (SOU, 2008).
Dinamização
Uma das premissas deste espaço é a abertura das suas actividades a todos.
Estas actividades procuram acolher colectivos e indivíduos para apresenta-
rem neste espaços os seus trabalhos, ideias e criações. Este espaço desta-
ca-se pelo facto de receber propostas criativas muito diversificadas, adap-
Fig. 04.56 Espaço SOU
tando-se assim a diferentes formatos. O Curso de Artes Performativas (CAP) Fonte: www.facebook.com
foi criado em 2009 e desde então que promove a formação em diversas
áreas nomeadamente a dança, teatro, música e performance. No ano lectivo
de 2013/2014 o SOU criou o Curso Anual de Produção nas Artes do Espec-
táculo, e proporcionou diversos workshops, como teatro, liderança e gestão
de equipas, voz e movimento entre outros. O Largo Residências, já descrito,
é uma iniciativa do SOU, em parceria com a Câmara Municipal de Lisboa.
125
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
Bairro Intendente
Contexto
Fig.04.59 Mandela Day no Largo do Intendente no âmbito do Festival Bairro Intendente em Festa.
Fonte: vimeo.com/101288597
126
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
Sobre o largo
127
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
128
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
129
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
Como referido pela socióloga, por um lado deve-se questionar qual o pú-
blico-alvo desta intervenção, sendo que “a fluidez e quantidade de hostels
que abriram recentemente é um elemento positivo na inserção e interação
de culturas, porém pode colidir com a população existente, com tendência a
envelhecer, apesar da população em idade activa ter aumentado nos últimos
anos” (Entrevista a Gonçalves, E., 2014).
Por outro lado, o facto de o bairro estar “na moda” pode ser perigoso e co-
loca diversos desafios. Contudo a história do bairro é uma mais-valia para o
turismo mais tradicional, como por exemplo com a existência da fábrica dos
azulejos Viúva Lamego. Estela Gonçalves afirma que “actualmente as práti-
cas sociais não são modeladas pela estrutura familiar, escolaridade, classe
social, mas sim pelos fluxos de moda, pelo que o gosto pelo “exótico” deve
ser vivido com respeito e com a consciência da dignidade humana” (Entre-
vista a Gonçalves, E., 2014). A socióloga refere ainda o exemplo do Bair-
ro Alto, que teve várias vagas, que se foram adaptando e sobrevivendo ao
passar dos anos, ao contrário do que muitas pessoas defendiam, provando
que este território se deve re-inventar e adapatar constantemente com as
práticas e costumes das sociedades.
130
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
Importa também perceber o cenário esperado para este território tendo pre-
sente o contexto actual de acontecimentos que se sucedem semana após
semana neste espaço.
131
05 . CONCLUSÕES
CONCLUSÕES 05
Neste capítulo são revistos os objectivos e o desenvolvimento do tra-
balho e elaborado um quadro crítico em relação ao objecto de estudo,
bem como o possível desenvolvimento deste processo.
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
É esperado que estes territórios históricos, uma vez reabilitados, tragam no-
vos moradores, actividades económicas e em consequência o aumento dos
valores imobiliários. o que leva à especulação imobiliária dos edifícios reabili-
tados, levando à subida da renda que impossibilita a ocupação por parte dos
habitantes, nomeadamente os jovens do bairro, que optam por deixar o bair-
ro e residir em novas urbanizações. Podemos considerar que os gentrifiers
são também a população que usufrui dos eventos e actividades que têm
135
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
ocorrido nesta área, sendo que Marluci Menezes define-os de “gentrifiers efé-
meros” (Menezes, 2011). Este aspecto coloca algumas questões relativamente
à identidade comunitária que esta nova entidade terá, assim como as conse-
quências que traz a entrada de novos indivíduos atraídos por novas possibili-
dades de exploração e modos diferentes de apropriação do espaço público. A
Associação Renovar a Mouraria tem um papel importante na moderação dos
efeitos causados pela nobilitação, na medida em que alia e relaciona os novos
moradores com os antigos, tirando assim partido das tradições e do tecido lo-
cal com as vantagens que o fenómeno da nobilitação traz.
Esta vinda de novos indivíduos deve-se por um lado à atracção por zonas histó-
ricas da cidade, pelo seu património e “vida de bairro”, por outro lado a existên-
cia de equipamentos potenciadores de actividades criativas, nomeadamente a
Casa Independente e o LARGO Residências, é factor de atracção de determi-
nados grupos. Julga-se pertinente a interrogação acerca da gestão de imple-
mentação de novos equipamentos assim como a acessibilidade aos mesmos
por parte dos diferentes grupos sociais presentes no território. A directora do
LARGO Residências, Marta Silva, afirma que o Largo é usufruído pelos habitan-
tes da Mouraria e da freguesia do Socorro, que apesar de não viverem no local
se apropriam deste.
Reflectindo acerca das questões que este estudo colocou, considera-se que a
existência de serviços no Largo para a população envolvente (por exemplo um
centro de saúde, uma repartição de serviços administrativos, etc) fosse talvez
uma estratégia integradora de toda a população da zona envolvente, proporcio-
nando a troca de conhecimento entre todos os que usufruem daquele território
tão complexo. A preocupação com a integração e permeabilidade social com
a envolvente, e a cidade, deve merecer uma atenção especial, de modo a que
o Largo não se torne num lugar alienado do território que o envolve, apesar de
estar espacialmente muito próximo deste.
Alves, J. E., Costa, A. F. (1996), Avaliação processual em reabilitação urbana: conceitos e instrumentos
in Sociologia, Problemas e Práticas, 22, pp. 61-79.
Carneiro, L. (2014), Reabilitação Urbana: Lisboa Vestida de Novo, in LISBOA Revista Municipal, nº10.
Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa, Pelouro da Economia, Educação e Inovação.
Castilho, J. (1936), Lisboa Antiga - Bairros Orientais. Volume IX in Neves, M., Gonçalves, P. (2011) Me-
mória Descritiva. Lisboa: CML.
Cohendet, P., Grandadam, D., e Simon, L., (2011), Rethinking urban creativity: lessons from Barcelona
and Montreal, city, culture and society. Disponível em: www.sciencedirect.com.
Costa, A. (2013), A ideia é simples, in Catálogo Dentro de ti ó cidade, energia BIP-ZIP, pp. 11. Lisboa:
CML, Pelouro da Habitação.
Costa, P., Sugahara, G., e Vasconcelos, B., (2007), O meio urbano e a génese da criatividade nas acti-
vidades culturais. Comunicação no 13º Congresso APDR “Recriar e valorizar o território”, Açores, 5-7
Julho 2007.
Costa, P., et al, (2007), A discussion on the governance of ‘Creative Cities’: Some insights for policy
action in Norsk Geografisk Tidsskrift – Norwegian Journal of Geography, 61, pp.122-132.
Costa, P., Roldão, A., Seixas, J. (2009), From ‘Creative Cities’ to ‘Urban Creativity’? Space, Creativity
and Governance. The Contemporary City. Lisboa: DINAMIA.
Coutinho, B. (2013), Arquitectura, Design, Urbanismo, in Catálogo Dentro de ti ó cidade, energia BIP-
ZIP, pp.15. Lisboa: CML, Pelouro da Habitação.
Ferrão, J. (2003), Intervir na cidade: complexidade, visão e rumo in Portas, N., Domingues, Á., Cabral,
J. (2003), Políticas Urbanas –tendências, estratégias e oportunidades. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian.
Ferreira, A. F. e Salgueiro, T. B. (2000), As cidades: hoje e amanhã. Sociedade e Território, nº31, 180-
187.
Ferreira, V. M., Lucas, J. e Gato, M.A. (1999), Requalificação urbana ou reconversão urbanística? in A
cidade da EXPO 98 – uma reconversão na Frente ribeirinha? Lisboa: Bizâncio.
Ferro, G. (2012), Re-inventar um bairro: análise de uma reforma sócio-urbanística no bairro da Moura-
ria. Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Antropologia Aplicada. Lisboa: UNL.
Fidalgo, A. (2012), As parcerias para a regeneração Urbana- uma análise comparativa. Dissertação de
Mestrado em Engenharia do Ambiente, Perfil de Ordenamento do Território e Avaliação de Impactes
Ambientais, UNL.
138
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
Gehl, J. (2006), La Humanización Del Espacio Urbano: La Vida Social Entre Los Edificios. Barcelona:
REVERTÉ.
Gonçalves, J. (2006), Os espaços públicos na reconfiguração física e social da cidade. Lisboa: Univer-
sidade Lusíada Editora.
Graça, M. S. (2005), Espaços públicos e uso colectivo de espaços privados, Disponível em http://
ecultura.sapo.pt/Anexos/%C2%ABEspa%C3%A7osPublicos%26Privados%C2%BB%20.pdf
[05.03.2014] .
Guterres, A. (2012), Interações reflexivas sobre o novo plano MARTIM MONIZ. Disponível em http://
www.buala.org/pt/cidade/interacoes-reflexivas-sobre-o-novo-plano-martim-moniz [20.06.2014].
Landry, C. (2000), The Creative City: a toolkit for urban innovators. Londres: Earthscan Publications.
Madeira, C. (2009), A Reabilitação Habitacional em Portugal. Avaliação dos Programas RECRIA, REHA-
BITA, RECRIPH E SOLARH. Dissertação de Mestrado em Regeneração Urbana e Ambiental. Lisboa:
Faculdade de Arquitectura de Lisboa.
Magalhães, A. (2008), Reabilitação urbana- experiências percussoras em Lisboa. Lisboa: Parque EXPO.
Mendes, L. (2006), A nobilitação urbana no Bairro Alto: análise de um processo de recomposição só-
cio-espacial. Finisterra, 81, pp. 57-82.
Mendes, L. (2012), Nobilitação urbana marginal enquanto prática emancipatória: Alternativa ao discur-
so hegemónico da cidade criativa? Revista Crítica de Ciências Sociais, 99, pp. 51-92.
Menezes, M. (2003), Entre o mito da Severa e o Martim Moniz, Estudo antropológico sobre o campo
de significações imaginárias de um bairro típico de Lisboa, Tese Doutoramento. Lisboa: UNL-FCSH.
Menezes, M. (2011), Todos na Mouraria? Diversidades, Desigualdades e diferenças entre os que vêm
ver o bairro, nele vivem e nele querem viver. Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais.
Moura, D., et al (2005) A Revitalização Urbana, Contributos para a Definição de um Conceito Operativo
in Politicas Publicas de Revitalização: reflexão para formulação estratégica e operacional das actua-
ções a concretizar no QREN. Lisboa: ISCTE.
Neves, A. O. (1996), Planeamento estratégico e ciclo de vida das grandes cidades. Lisboa: Celta.
Neves, M., Gonçalves, P. (2009), Projecto de Requalificação Urbanística e Ambiental do Largo do In-
tendente / Rua do Benformoso: programa preliminar. Lisboa: CML.
139
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
Neves, M., Gonçalves, P. (2011), Projecto de Requalificação Urbanística e Ambiental do Largo do In-
tendente / Rua do Benformoso: memória descritiva e justificativa. Lisboa: CML.
Neves, M., Gonçalves, P. (2012), Projecto de Requalificação Urbanística e Ambiental do Largo do In-
tendente / Rua do Benformoso: adenda da memória descritiva e justificativa. Lisboa: CML.
Pinho, A. (2009), Conceitos e Políticas Europeias de Reabilitação Urbana - Análise da experiência por-
tuguesa dos Gabinetes Técnicos Locais. Lisboa: Faculdade de Arquitectura, UTL.
Portas, N., Domingues, A., Cabral, J. (2003), Políticas Urbanas- tendências, estratégias e oportunida-
des. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
Portas, N. (2003), in Brandão, P., et al. (ed.), Design de espaço público: deslocação e proximidade.
Lisboa: Centro Português de Design.
Rogers, R. (1997), Cities for a small planet. London: Faber and Faber Limited.
Roseta, H. (2013), Pequeno Programa, Grande Lição, in Catálogo Dentro de ti ó cidade, energia BIP-
ZIP, pp.13. Lisboa: CML, Pelouro da Habitação.
Seixas, J., Costa, P., (2010), Criatividade e governança na cidade. A conjugação de dois conceitos
poliédricos e complementares. Cidades, Comunidades e Territórios, 20-21, pp. 27-41.
Silva, D. S. (2011), Reabilitação Urbana: projecto de viabilidade para Reabilitação da Rua das Musas.
Dissertação de Mestrado em Economia e Gestão das Cidades. Porto: Faculdade de Economia, Uni-
versidade do Porto.
Valle, S. (2008), Cultura e regeneração Urbana: usos e actividades artísticas em zonas urbanas degra-
dadas. Dissertação de Mestrado em Arquitetura. Lisboa: IST.
Velez, S. (2014), Editorial in LISBOA Revista Municipal, nº10. Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa,
Pelouro da Economia, Educação e Inovação.
Casa Independente (2012), Ficha candidatura. Programa parcerias locais BIP/ZIP Lisboa. Lisboa: CML,
Programa Local de Habitação de Lisboa.
140
O efeito combinado da criatividade, espaço público e nobilitação
CML, Programa Reabilita Primeiro Paga Depois, disponível em http //www.cm- lisboa.pt/viver/urba-
nismo/reabilitacao-urbana/programas-de-incentivo-a-reabilitacao-urbana/programa-reabilita-primei-
ro-paga-depois [10.05.14].
CML (2009), Atlas do Programa Local de Habitação, Relatório da Primeira Fase. Lisboa: CML.
CML (2010), Carta dos BIP/ZIP- Relatório metodologia de identificação e construção da carta BIP/ZIP.
Lisboa: CML, Programa Local de Habitação de Lisboa.
CML (2011a), Carta Estratégia de Reabilitação Urbana de Lisboa 2011/ 2024. Lisboa: CML.
CML (2013), Catálogo Dentro de ti ó cidade, energia BIP-ZIP. Lisboa: CML, Pelouro da Habitação.
CML (2014b), Relatório “Estamos a reabilitar Lisboa, 2007 a 2014”. Lisboa: CML.
Council of Europe (2005), Guidance on urban rehabilitation. Strasbourg: Council of Europe Publishing.
Decreto-Lei n.º 307/2009, de 23 de Outubro. Diário da República nº 206 -1ª série. Lisboa.
Decreto-Lei n.º 22/2012, de 30 de Maio. Diário da República nº 105 -1ª série. Lisboa.
Equipa de Missão Lisboa/ Europa 2020 (2012), Lx-Europa 2020 – Lisboa no quadro do próximo perío-
do de programação comunitário, Lisboa: CML.
Largo Residências (2011), Ficha candidatura. Programa parcerias locais BIP/ZIP Lisboa. Lisboa: CML,
Programa Local de Habitação de Lisboa.
UPM, (2009), Programa de Ação da Mouraria: As Cidades dentro da Cidade. Lisboa: CML.
Media e internet
Abreu, M. (2010), TODOS- Caminhada de Culturas regressa ao Martim Moniz. Jornal Rosa Maria, no0.
Lisboa: Associação Renovar a Mouraria.
Carvalho, J. Q. (2010), Dossier Actualidade in A Europa nas nossas mãos- imagina, cria, inova. Dis-
ponível em http://www.lxfactory.com/ficheiros/noticias/aae89ede12927f3477a2b7df6636613d.pdf
[14.06.2014]
141
Estratégias complexas de reabilitação urbana | Madalena Perestrelo de Lemos
Correia, M. J. (2012), Entrevista in Jornal Rosa Maria, nº 4. Lisboa: Associação Renovar a Mouraria.
Lusa (2012), Largo do Intendente vai acolher um laboratório artístico. Disponível em p3.publico.pt/
actualidade/sociedade/2710/largo-do-intendente-vai-acolher-um-laboratorio- artistico [05.07.2014].
Menezes, M. (2013), Esta Mouraria dos contrastes in Jornal Rosa Maria, nº 5. Lisboa: Associação Re-
novar a Mouraria.
O Corvo (Março 2014), António Costa vai abandonar gabinete no Largo do Intendente. Disponível em
ocorvo.pt/2014/03/26/antonio-costa-vai-abandonar-gabinete-no-largo-do-intendente/ [10.08.2014].
O Corvo (Julho 2014), António Costa quer mais cafés no Intendente. Disponível em ocorvo.
pt/2014/07/10/antonio-costa-quer-mais-cafes-no-largo-do-intendente/ [20.08.2014].
Público (2011), António Costa levou ministra ao Intendente para mostrar que a reabilitação já come-
çou. Disponível em www.publico.pt/local/noticia/antonio-costa-levou-ministra-ao-intendente- para-
-mostrar-que-a-reabilitacao-ja-comecou-1514660 [30.05.2014].
Público (2013), As andorinhas d’A Vida Portuguesa já voam no Intendente. Disponível em fugas.publi-
co.pt/Noticias/326224_as-andorinhas-d-a-vida-portuguesa-ja-voam-no-intendente [05.07.2014].
Simplício, S. (2013), Esta Mouraria dos contrastes in Jornal Rosa Maria, nº 5. Lisboa: Associação Re-
novar a Mouraria.
Outros
Entrevista realizada à arquitecta paisagista Maria Cristina Pinto Cardoso Neves no âmbito da disser-
tação, 2014.
Entrevista realizada à directora do LARGO Residências, Marta Silva no âmbito da dissertação, 2014.
Intervenção de Gonçalo Byrne na conferência “Reabilitar Lisboa, Para quê e para quem?” no âmbito
da Semana da Reabilitação Urbana, Lisboa, 21 Março 2014.
Intervenção de João Appleton na conferência “Reabilitar Lisboa, Para quê e para quem?” no âmbito
da Semana da Reabilitação Urbana, Lisboa, 21 Março 2014.
Intervenção de João Santa-Rita na conferência “Reabilitar Lisboa, Para quê e para quem?” no âmbito
da Semana da Reabilitação Urbana, Lisboa, 21 Março 2014.
142