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RESUMO
O artigo é parte da pesquisa “Revitalização Urbana: espaço público como agente de requalificação da
paisagem e indutor do ordenamento territorial” do PIBIC/UFF/CNPq. Contribui para a percepção em
relação ao papel da teoria e prática do ensino de arquitetura e urbanismo através da análise de
Programas implantados na cidade do Rio de Janeiro, desde o Corredor Cultural até os projetos da Cidade
Olímpica, no campo da revitalização urbana e do desenvolvimento de projetos de recuperação espacial
de ambientes urbanos. O artigo descreve o estudo de caso do Programa Rio-Cidade. A metodologia
adotada enfatizou a revisão bibliográfica e textos sobre a experiência de projetos e propostas implantadas
com base no programa em referência. A análise buscou uma visão crítica, propiciando três chaves de
leitura: as diferenciações do contexto, a política de promoção urbana, e, as escalas de abrangência e
repercussões. Isto revelou inicialmente a impossibilidade de adoção de uma teoria geral única, diante de
tantas possibilidades conceituais, permitindo novos posicionamentos frente às práticas projetuais. Dentro
do contexto da pesquisa, em referência, um caminho que se apresenta consiste em interpretar o papel
que os espaços públicos e os espaços privados, de uso coletivo, desempenham na estruturação e na
ambiência urbana das cidades.
ABSTRACT
The article is part of the study "Urban Revitalization: public space as an agent for inducing regeneration of
the landscape and regional planning" PIBIC / UFF / CNPq. Contributes to the perception of the role of
theory and practice in teaching architecture and urbanism through the analysis of programs implemented
in the Rio de Janeiro City, from the Cultural Corridor project to the Olympic City, in the field of urban
revitalization and space development recovery projects of urban environments. The article describes a
case study of the Rio-Cidade Program. The methodology emphasized the writings on literature review and
the experience of projects and proposals under the program established by reference. The analysis sought
a critical view, providing three key reading: the differences of context, the policy of urban promoting, and
the scales of coverage and impact. This initially proved the impossibility of adopting a single general
theory, to the face of such conceptual possibilities, allowing new positions ahead projective practices.
Within the context of research, reference, a path that presents itself is to interpret the role that public and
private spaces, collective use, play in structuring and urban ambience of the cities.
1 INTRODUÇÃO
A proposta deste artigo surgiu com base na análise das iniciativas da Prefeitura
da Cidade do Rio de Janeiro - PCRJ para a recuperação das áreas centrais de bairros
cariocas, especificamente do Programa Rio Cidade. Como produto da pesquisa
“Revitalização Urbana: espaço público como agente de requalificação da paisagem e
indutor do ordenamento territorial” do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação
Científica – PIBIC/UFF/CNPq1, este artigo tem como propósito abordar, o processo de
análise orientado a partir de iniciativas do Programa Rio-Cidade, como experiências no
campo da revitalização urbana e do desenvolvimento de projetos de recuperação da
qualidade espacial de ambientes urbanos. Tais iniciativas podem ser contextualizadas
entre o Programa Corredor Cultural e os projetos que estão ocorrendo hoje na cidade
do Rio de Janeiro, como os projetos da Cidade Olímpica.
Vale ressaltar que este período, a cidade é marcada pelo abandono do seu
Plano Diretor6 e pela tomada do Plano Estratégico7 como principal forma de regulação
e planejamento da cidade. Em atendimento a uma competição entre cidades, espaços
públicos passam a ser alvos de projetos de requalificação, na ótica da revitalização
urbana. De forma que, essas políticas de intervenção, assumem processos de
apropriações e vivências em diferentes cidades, a partir de suas particularidades
históricas e arquitetônicas. Para alguns autores, como ARANTES (2002) e VAINER
(2002), em seus estudos é demonstrado que os temas predominantes na análise
dessas interferências espaciais são a política de patrimônio e a transformação de
espaços da cidade em produto/mercadoria.
Em 1994, o Centro, considerado como um lugar estratégico para a cidade do
Rio de Janeiro, em seu Plano Estratégico, foi incluído no Programa Rio-Cidade.
Nesse contexto, além do centro, outros bairros da cidade passam pela experiência do
referido programa, onde os projetos, a luz da racionalização de fluxos, paisagismo e
mobiliário urbano, concentram seus benefícios nos eixos estruturadores e/ou centros
de bairros caracterizados pela predominância de atividades comerciais e de serviços,
de lazer e entretenimento.
A partir da visão acima descrita, que consagra o poder público voltado em suas
preocupações para a revitalização de espaços públicos degradados, o projeto Rio-
Cidade mostra a clara influência da escola do autor Kevin Lynch. A cidade, segundo
LYNCH (1981) não é construída para uma pessoa, mas para um grande número
delas, todas com grande diversidade de formação, temperamento, ocupação e classe
social. Ecoa da obra do autor uma voz que clama por um ambiente que não seja
simplesmente bem organizado, mas também poético e simbólico.
Numa visão mais crítica, a partir da experiência vivenciada pelo Programa Rio-
Cidade, cuja trajetória de projetos urbanos para o centro se propunham a requalificá-
lo, a atualidade traz como exigência a promoção do uso e a ocupação democrática
das áreas urbanas centrais, de seus espaços públicos, propiciando a permanência de
população residente e a atração de população não residente por meio de ações
integradas que fomentem a diversidade funcional e social, a identidade cultural e a
vitalidade econômica dessas áreas. De modo que os Planos de Reabilitação possam
visar o estímulo à utilização de imóveis urbanos vazios ou subutilizados; a
recuperação de moradias localizadas em áreas de risco e insalubres; a adequação da
situação fundiária dos imóveis; a readequação de áreas centrais e equipamentos
urbanos; e o estímulo ao aproveitamento do patrimônio cultural nas áreas centrais.
ARANTES, Otília. “Uma estratégia fatal: A cultura nas novas gestões urbanas”, in: O.
Arantes, C.Vainer, E. Maricato, A cidade do pensamento único, Petrópolis: Vozes,
2002.
JACOBS, Jane. Morte e Vida de Grandes Cidades. Parte 1/3 - Os Usos das Calçadas:
Contato. São Paulo: Ed. Martins Fontes, pp. 59 a 79, 2001.
MARICATO, Ermínia. Brasil Cidades, alternativas para a crise urbana. Petrópolis, Vozes, 2001.
OZEDA, Valéria Marinho. Madureira ontem e hoje "Capital dos Subúrbios". Rio de
Janeiro. Trabalho Final de Graduação. UFF,1993.
ROLNIK, Raquel & BOTLER, Milton. Por uma Política de Reabilitação de Centros
Urbanos. In: Revista OCULLUM, Puc/Campinas.
SOMEKH, N.Programa Ação Centro: reconstruindo a área central de São Paulo. Ação
para o Centro de São Paulo. São Paulo, Emurb – PMSP, Cebrap, CEM, CD-ROM,
2004.
VAINER, Carlos B., Pátria, empresa e mercadoria: notas sobre a estratégia discursiva
do planejamento estratégico urbano, O. Arantes, C.Vainer, E. Maricato (orgs) A cidade
do pensamento único, Petrópolis: Vozes, 2002.
Notas
1 Pesquisa PIBIC/UFF/CNPq, coordenada pela Profa. Dra. Eloisa Carvalho de Araujo, Departamento de
Urbanismo da Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense. Conta com a
participação da aluna-bolsista de Iniciação Científica – Carina Gagliano Rodrigues, desde 2011.
2 Como Domingues, Luis Carlos Soares Madeira (1999). Projeto Urbano e Planejamento: o caso do Rio
Cidade; Oliveira, Marcio Piñon (2008). Projeto Rio Cidade: Intervenção Urbanística, Planejamento Urbano
e Restrição à Cidadania na Cidade do Rio de Janeiro; Pasquatto, Geise Brizotti (2010), Design Urbano:
um estudo dos projetos brasileiros de promoção urbana do IPPUC, do Rio Cidade e do Eixo
Tamanduatehy; e Santos, Carlos Eduardo (1999). Imagem da Cidade – cidade da imagem: o modelo de
intervenção urbana do Rio Cidade, entre outros estudos.
3 Ver publicação de cunho institucional da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro - Rio Cidade - O
Urbanismo de volta às ruas, 2000.
4 Os trabalhos pesquisados tiveram origem na Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Federal Fluminense no período compreendido da implantação do Programa Rio-Cidade até o anos de
2008.
5 Vale aqui ressaltar que Vaz, Lilian & Silveira, Carmen Beatriz, In: Áreas centrais, Projetos Urbanísticos
e Vazios Urbanos, Revista Território. Rio de Janeiro, ano IV, n" 7. p. 51-66, jul./dez. 1999,
http://www.revistaterritorio.com.br/pdf/07_5_vaz_silveira.pdf (visitado em 26 de julho de 2012),
apresentam três fases que podem ser identificadas com processos de intervenção expressando
concepções básicas em melhoramentos urbanos – a primeira: séculos XVII/XIX ~ período de
ocupação/dominação da natureza; a segunda: décadas 1900/1970 ~ período de renovação urbana; a
terceira: décadas 1980/1990 - período de preservação/revitalização urbanas. Podemos acrescentar a
quarta fase, situando o período atual onde conceitos de regeneração e refuncionalização de áreas
urbanas vem sendo incorporados aos projetos urbanos contemporâneos.
6 O Plano Diretor Decenal da Cidade, de 1992, instituído através da Lei Complementar no.16, de 04 de
junho de 1992. Entre as inúmeras diretrizes definidas, a valorização do patrimônio cultural carioca ganhou
destaque. Onde o projeto Rio-Cidade, é interpretado nas diretrizes voltadas à qualificação dos principais
eixos urbanos.
7 A adoção do Plano Estratégico reflete uma conjuntura econômica mundial que celebra como apresenta
David Harvey (1996, p.49), o triunfo do fenômeno do empresariamento urbano. Tal fenômeno é definido
pelo autor como sendo o momento favorável à organização do espaço da cidade a partir de coalizões
entre diversos agentes do complexo conjunto de forças que passam a lidar com a cidade. O Programa
Rio Cidade constituiu um dos projetos incluídos no Plano Estratégico da cidade do Rio de Janeiro.
8 O Programa Monumenta, implementado pelo Ministério da Cultura, teve em 2000, convênios assinados
com as cidades da Amostra Representativa: Recife, Ouro Preto, Olinda e Rio de Janeiro. O programa
atuou em cidades históricas protegidas pelo IPHAN. A proposta era de promover obras de restauração e
recuperação dos bens tombados e edificações localizadas nas áreas de projeto. Os objetivos do
Programa foram de preservar áreas do patrimônio histórico e artístico urbano e estimular ações que
aumentem a consciência da população sobre a importância de se preservar o acervo existente. A Praça
Tiradentes e alguns quarteirões à sua volta foram foco de uma parceria que congrega a Prefeitura do Rio,
através da Secretaria de Fazenda e da Subsecretaria de Patrimônio Cultural, Intervenção Urbana,
Arquitetura e Design da Secretaria de Cultura; o Governo Federal, através do Ministério da Cultura e o
Banco Interamericano de Desenvolvimento.
9 Plano de Revitalização para a Zona Portuária da cidade do Rio de Janeiro, denominado Porto
Maravilha, teve sua inspiração no Plano Estratégico da cidade de Barcelona e projetos urbanos
consequentes. O “modelo Barcelona” se baseou em dois eixos importantes, quais sejam: a
criação/transformação de espaços públicos e as operações urbanísticas, cujas intervenções estão ligadas
a grandes eventos, como por exemplo, as Olimpíadas de 1992 e o Fórum de las Culturas, realizado em
2004.
10 Ver ARAUJO, E.C. (2010) Atualidade e potencialidades para uma nova centralidade na área portuária
do Rio de Janeiro: apostas e repercussões. I ENANPARQ, Rio de Janeiro. In: Sessão Temática: Códigos
da Cidade: construções normativas em projetos. Coord. Rosângela L. Cavallazzzi.
11 O Concurso selecionou os melhores projetos para a construção das instalações olímpicas previstas
para a região portuária. Foram quatro premiações, em função dos estudos selecionados para duas áreas
de terreno. Os projetos foram direcionados para previsão de instalações para as vilas de Mídia e de
Árbitros, a inclusão de um Centro de Convenções de médio porte e um hotel. Levando-se em
consideração que a principal diretriz do concurso foi o legado após os jogos.
12 O projeto vencedor foi conduzido pelo arquiteto Backheuser, idealizado em parceria com um escritório
espanhol, foi inspirado na cidade de Barcelona. Todas as estruturas foram pensadas para um bairro
sustentável, com consumo de energia consciente e respeito ao meio ambiente. O segundo, terceiro e
quarto lugar, ficaram, respectivamente, com as equipes coordenadas pelos arquitetos Roberto Aflalo
Filho, de São Paulo; Francisco Spadoni, também de São Paulo; e, Jorge Mario Jauregui, do Rio de
Janeiro.
13 O Programa Rio-Cidade, segundo PINÔN (2008) teve a abrangência de 15 áreas na primeira sua
primeira fase - Rio Cidade I e mais 15 áreas na segunda fase - Rio Cidade II. Sua diferenciação frente a
outros planos de intervenção urbana idealizados para a cidade do Rio de Janeiro diz respeito a sua
abrangência em diferentes pontos da cidade.