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Economia Urbana 2022.2023 Alexandra Alves, Amélia Patacho, Sofia Cardoso, Telmo Tomás
Índice:
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Introdução: apresentação breve do projeto e do arquiteto responsável
O mais novo terminal de cruzeiros do Porto de Leixões, inaugurado em 2015, está integrado no
plano estratégico de desenvolvimento do porto de Leixões, promovido pela Administração dos portos do
Douro, Leixões e Viana do Castelo e visa estabelecer uma maior coesão urbana no porto em simultâneo
com a melhoria da eficácia comercial do mesmo na atividade de cruzeiros.
Esta obra de Luís Pedro Silva abre o porto à cidade através de três componentes fundamentais:
um novo cais com mais de 300m de comprimento, uma doca de recreio com espaço para 170
embarcações e uma doca seca com edifício de apoio; um corredor de ligação à cidade com 750m de
comprimento que permite o acesso a diversos meios de transporte; e o edifício principal que, além de
fazer a transição arquitetónica entre terra e mar, é também um centro polivalente de atividades,
possibilitando o acesso de passageiros em escala e turnaround, abrindo espaços novos de comércio e
restauração, integrando todos os serviços logísticos necessários de apoio a passageiros e tripulações e
ainda o Polo de Mar do Parque de Ciência e Tecnologias da Universidade do Porto.
O projeto foi considerado um dos três melhores portos de cruzeiros do mundo pela Seatrade
Awards em 2015 e melhor empreendimento imobiliário pelos Prémios SIL também em 2015. Além disso,
foi o único projeto português nomeado para World Building of the Year 2016 juntamente com outros 343
projetos de 58 países. Aqui, concorria com outros 11 projetos na categoria de uso misto.
Apesar dos seus 40m de altura e milhares de metros cúbicos de betão utilizado, o edifício é
harmonioso com a paisagem, porventura da sua forma espiral e movimento das suas lâminas, pela cor
branca em contraste com o vidro que reflete o azul do céu e principalmente com a comparação com os
navios cruzeiro que recebe, que são extremamente mais compridos e habitualmente mais altos do que a
própria construção.
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Fig. 2 e 3 – Esquiços – Luís Pedro Silva Arquitecto e Fotografia – Fernando Guerra
Mas rebobinemos a fita, de modo a compreender o contexto em que surge a obra em estudo e a
sua relação com a envolvente. Pelas palavras de um escritor e historiador:
«… porque estando (…) metidos ao mar huns escabrosos penhascos, a que chama Leixoens o vulgo; por mais que as
tempestades embravecidas ostentem nelles com encapellada inchação e horrorosos deliquios, nunca nelles se vio
haver naufragio, antes sim seguro asylo a toda a embarcação, que de proposito encaminha o rumo a este surgidouro
admiravel, para salvar-se de todo, o que de outra sorte seria infallivel estrago, e notorio perigo, conseguindo deste
modo bonança na mais furiosa tormenta.»1
Por consequência geográfica, a foz do rio Leça, a meio quarto de légua da costa, elevada em
relação às águas do Atlântico, descrevendo um semicírculo rochoso no mar, ao qual os moradores deram
o nome de “Leixões”, denota caraterísticas de um porto de abrigo natural. Curiosamente, esta relíquia
geográfica, surge num contexto natural de uma costa assolada frequentemente por tempestades e
nevoeiros, designada de “Costa Negra”.
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Colonizada pelo Império Romano no século I a.C., esta zona de estuário, viria a tornar-se parte
de uma rota comercial de extrema relevância na Península Ibérica, com elevado sucesso económico,
fazendo chegar produtos dos pontos mais longínquos. Desta forma, a foz do Leça, revelava-se já, há dois
mil anos, como uma interface portuária e comercial de importância na região. Desde então, a
credibilidade comercial desta zona manteve-se intacta até aos dias de hoje, o que suscitou o interesse
arquitetónico, mais tarde, num sentido de aproveitamento da relevância regional, para concretizar projetos
de relevância arquitetónica e de engenharia.
Assim, começa a olhar-se, no final do século, para Leixões como uma alternativa viável e mais
segura, surgindo projetos de intervenção de vários e arquitetos e engenheiros nacionais e estrangeiros.
Fig. 5 - Proposed Harbour at Leça, 1865 (Proposta de James Abernethy para um porto na foz do Leça)
Arquivo da APDL
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Fig. 6 e 7 - Construção do Porto de Leixões (1884-1892)
Molhe do Norte visto dos rochedos de Leixões e Estaleiro
dos blocos artificiais do molhe Norte com o Titan em
montagem. 1885. Fotos de Emílio Biel.
O sucesso deste empreendimento foi tão grande que, passado poucas décadas, o porto de Leixões
se haveria tornado no maior porto comercial da zona, eliminando a influência quase em totalidade do
Douro. E, durante grande parte do século XX, não parava de crescer física e economicamente,
aumentando estruturas e tornando-se efetivamente referência internacional.
Daí surge, mais tarde o projeto de ampliação do porto de Leixões, com a construção do novo
Terminal de Cruzeiros, incluído no Plano Estratégico de Desenvolvimento do Porto de Leixões (PEDPL),
que permitiu melhorar a eficácia comercial, associada às atividades de cruzeiros, e a integração urbana,
associada ao incremento da sociabilidade com a envolvente.
Fig. 8 e 9 – Relação do projeto com a geografia do local e obra em construção – Fernando Guerra
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O terminal impulsionou não só o número de cruzeiros de passageiros no porto, mas também o
desenvolvimento económico da cidade envolvente.
O projeto, promovido pelo APDL – Admiração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo
– está integrado no Plano estratégico de Desenvolvimento do Porto de Leixões, com os principais
objetivos de melhorar a sua eficácia comercial, e integrar-se socialmente, como foi referido
anteriormente.
Para além dos serviços aos passageiros, o projeto alberga também Parque de Ciência e
Tecnologias do Mar da Universidade do Porto, e é sede do CIIMAR – Centro Interdisciplinar de
Investigação Marinha da Universidade do Porto (das mais relevantes unidades de investigação nacionais
na área das Ciências Marinhas).
Embora o porto já receba passageiros há mais de 50 anos, só nas recentes décadas é que se
tornou necessário a construção de um novo e mais moderno terminal, capaz de responder a procura
crescente por novas e diferentes rotas. Utilizando o Oceano Atlântico como rota alternativa, o porto liga
Portugal a novos lugares, como a Galiza e a Irlanda.
Sendo este o maior projeto de abertura do Porto de leixões à cidade, a sua capacidade aumentou,
sendo capaz de receber mais e maiores navios de cruzeiros. Consequentemente o turismo na cidade
aumentou para números record, impactando diretamente a economia da região. As expectativas na sua
inauguração em 2015 eram de cerca de 85 000 passageiros e 43 000 tripulantes, e um impacto de milhões
de euros na economia da zona - “Espera-se que o novo terminal de passageiros do Porto de Leixões
tenha um impacto directo na economia da região de cerca de dez milhões de euros até final do ano.” 2
Neste mesmo ano, em março, o porto estreou-se numa nova operação denominada de
“turnaround”, que significa embarque e desembarque simultâneo de passageiros. O porto torna-se assim
um lugar de início ou de fim de cruzeiro, dando aos seus passageiros mais tempo entre embarque e
desembarque, incentivando um maior fluxo de turismo na cidade.
2
https://www.rtp.pt/noticias/economia/impacto-de-terminal-do-porto-de-leixoes-estimado-em-dez-milhoes_v846607
3
https://expresso.pt/economia/2018-12-17-Leixoes.-Terminal-de-Cruzeiros-bate-recorde-de-turistas
4
https://www.jornaldenegocios.pt/empresas/detalhe/governo-avalia-concessao-do-terminal-de-cruzeiros-de-leixoes
6
Um outro ponto a destacar é o impacto que a pandemia do COVID-19 teve nas infraestruturas
turísticas e consequentemente no terminal. As expectativas de passageiros e embarques que não foram
atingidas, e o facto de todas as escalas terem sido canceladas, levou a um prejuízo de centenas de euros.
Este impasse nunca experienciado, criou uma certa incerteza relativamente a retoma do funcionamento
regular do terminal, e a compensação dos danos causados. Nesse sentido, foi necessária uma
compensação por parte da oferta turística, compensação esta que requer investimento.
“No final do ano passado, a empresa portuária anunciou o arranque do restauro do Titan de Leixões, o
gigante guindaste de ferro construído em 1888 para suportar a construção do porto de Leixões. O projeto, orçado
em dois milhões de euros e que deverá estar concluído no verão, irá criar mais um ponto de atração turística na
zona do terminal de cruzeiros, já que estará disponível para visitas.”5.
Este a acontecimento expõe, mais uma vez, a influencia económica que o projeto teve, e ainda
tem, na economia da região.
O terminal tornou o porto, não só um ponto de atração turística, mas também de atração de
talento. A sua associação à Universidade do Porto incentiva alunos a
relacionar-se com a cidade e respetiva envolvente, para além de gerar curiosidade pelos projetos e
iniciativas da instituição
“[…] e de conhecer as atividades de investigação do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e
Ambiental da U. Porto (CIIMAR-UP), instalado no Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões.” 6.
Para além de atrair alunos universitários, este projeto cria iniciativas de inserção do porto e da
universidade na população, dando a conhecer os diferentes projetos e investigações realizadas no
terminal.
“É já este sábado, 17 de setembro, que decorre no CIIMAR (Centro Interdisciplinar de Investigação
Marinha e Ambiental) da Universidade do Porto a iniciativa “Há Ciência no Terminal”, inserida na 8ª edição
do “Dia do Porto de Leixões”, realizado anualmente pela Administração dos Portos do Douro e Leixões (APDL).”7
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https://www.dinheirovivo.pt/economia/nacional/terminal-de-cruzeiros-reinventa-se-para-a-retoma-turistica-
13266293.html
6
https://noticias.up.pt/terceira-missao-u-porto-e-inspiracao-para-universidades-da-america-latina/
7
https://noticias.up.pt/ciimar-mostra-ciencia-no-terminal-de-cruzeiros-de-leixoes/
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Dimensões críticas de sucesso; sugestões de melhoria na intervenção
No entanto, apesar de todo o reconhecimento que tem vindo a receber, o edifício tem sido objeto
de algumas críticas, construtivas. Após a leitura de umas quantas apreciações críticas deixadas pelos
passageiros e visitantes, foi possível elencar questões que poderiam ser mais bem trabalhadas:
A primeira questão surge à volta dos horários de abertura para visitas ao público. Apesar de o
terminal ter de manter o bom funcionamento dos serviços aos passageiros, as datas e horários de abertura
para quem queira ver esta obra-prima arquitetónica marcante na cidade de Matosinhos, não tem outra
opção senão um domingo de manhã. Assim sendo, seria ideal se o horário de abertura aos visitantes fosse
estendido.
A segunda questão referida frequentemente é a débil publicidade feita ao edifício. Esta obra
deveria ser mais divulgada, visto que é um marco arquitetónico e turístico da cidade de Matosinhos e não
recebe o merecido protagonismo. As suas visitas deviam ser mais publicitadas, bem como os estudos
desencadeados pelas equipas de investigação.
Por último, registou-se uma certa dificuldade para pessoas com mobilidade reduzida em se
deslocarem pelo complexo. Embora o interior do edifício seja de mobilidade acessível, graças às rampas,
o problema surge após a saída do edifício principal, uma vez que a distância entre a estrutura e o portão
de saída é extensa e não existe nenhum meio de transporte para passageiros ou visitantes mais debilitados.
Conclusão
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Fig. 13, 14, 15 e 16 – Alçados do projeto – Luís Pedro Silva Arquitecto e Fotografia de comparação de dimensões
entre obra e + exterior – Fernando Guerra