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DIRETORIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL DO EXÉRCITO

ESTÁGIO GERAL INTERDISCIPLINAR DE GESTÃO CULTURAL

RODRIGO MARIANO POLITA

O FORTE NOVO DE COIMBRA

CORUMBÁ/MS

2020
RODRIGO MARIANO POLITA

O FORTE NOVO DE COIMBRA

Projeto de pesquisa apresentado ao Estágio Geral


Interdisciplinar de Gestão Cultural da Diretoria do
Patrimônio Histórico e Cultural do Exército, a ser
utilizado com diretrizes para manufatura do
Trabalho de Conclusão do Curso.

CORUMBÁ/MS

2020
RODRIGO MARIANO POLITA

Rodrigo Mariano Polita: O Forte Novo de Coimbra

Trabalho de conclusão do curso apresentado a


Diretoria do Patrimônio Histórico e Cultural do
Exército, como exigência parcial para a conclusão
do Estágio Geral Interdisciplinar de Gestão Cultural.

A banca examinadora dos Trabalhos de Conclusão, em sessão


pública realizada em _______/_______/________, considerou o (a)
candidato (a):

1) Examinador (a)
2) Examinador (a)
3) Presidente
A cima de tudo, agradeço a Deus por mais esta
realização.

Dedico a minha família, em especial ao meu


irmão Ricardo, amigos e professores por toda a
colaboração e paciência durante o
desenvolvimento desse trabalho.
RESUMO

Fundado em 1775 com a finalidade de assegurar a extrema fronteira oeste do nosso atual
território com as colônias espanholas. Construído em madeira não teria condições de suportar
ataques com os ocorridos e 1801 e 1864. A coroa portuguesa verificando a fragilidade das
instalações designa o Capitão Ricardo Franco de Almeida Serra para construir o forte novo de
Coimbra. O objetivo dessa pesquisa é identificar as motivações para a construção do novo
Forte, seu construtor e suas características. A pesquisa realizada através de biografias e visitas
técnicas

Palavras-chaves: Novo Forte, construção, fronteira. Forte de Coimbra.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Fotos
Número Titulo Página
1 Mapa “Tratado de Madri” 11
2 O Presidio de Coimbra 12
3 Mapa “Tratado de Santo Ildefonso” 13
4 Ricardo Franco de Almeida Serra 14
5 “Planta” Novo Forte de Coimbra 16
6 Alvenaria de Pedra e Cal 17
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional


MT Mato Grosso
MS Mato Grosso do Sul
Cap Capitão
Cel Coronel
Ten Tenente
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO............................................................................................................... 9
CAPÍTULO I................................................................................................................... 10

1. A OCUPAÇÃO DA FRONTEIRA OESTE DO BRASIL......................................... 10


1.1. TRATADO DE MADRI............................................................................... 10
1.2.A FUNDAÇÃO............................................................................................. 11
1.3.TRATADO DE SANTO ILDEFONSO........................................................ 13
2. RICARDO FRANCO................................................................................................. 14
3. O ESTADO DO PRESÍDIO....................................................................................... 15
CAPÍTULO II.................................................................................................................. 16

4. A CONSTRUÇÃO..................................................................................................... 16
5. CARACTERÍSTICAS CONSTRUTIVAS................................................................ 17
CAPÍTULO III................................................................................................................ 19
6. O ATAQUE DE 1801................................................................................................. 19
7. A GUERRA DA TRÍPLICE ALIANÇA.................................................................... 20
8. A RECONSTRUÇÃO................................................................................................ 21
CONCLUSÃO ................................................................................................................ 23
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................ 25
INTRODUÇÃO

A partir de uma contextualização histórica dos tratados da época e situações que


permearam a construção do forte Coimbra é possível o entendimento da construção e das
relações estabelecidas a partir do local escolhido.
O Forte de Coimbra é uma primorosa obra de engenharia militar, fundado em 1775
por ordem do governador da província do Mato Grosso, com objeto de defende a posse do
território naquele distante rincão. O quartel construído inicialmente ficava muito próximo da
margem do rio Paraguai e suas paredes de madeira, mostrava-se frágil para garantir a
segurança dos militares e a defesa da posição. Foi designado, então, o Capitão Ricardo Franco
para a construção do novo forte, o qual observou toda a fragilidade que se encontrava presente
no local, em especial a presença de uma construção em madeira, fazendo-se necessário uma
edificação de alvenaria para que de fato o forte cumprisse a missão de segurança e ocupação
da fronteira oeste. Após um estudo diversificado sobre todas as características do local de
construção a edificação foi construída.
Posteriormente a nova fortificação foi alvo de dois ataques: o primeiro foi o ataque
espanhol de 1801, e o segundo Paraguai já no contexto da guerra da Tríplice Aliança em
1864. Foi possível verificar na prática a importância dessa fortificação em termos estratégicos
de consolidação de território brasileiro, tanto no ataque vencido quanto no ataque dominado, o
qual se fez necessário a reconstrução do forte.
Dessa forma, o presente trabalho apresenta, através de pesquisa bibliográfica, as
características históricas e construtivas da fortificação, assim como os impactos da mesma na
construção da história militar, abordando desde os tratados que antecederam a construção do
forte a reconstrução do forte após o domínio paraguaio, demonstrando a importância do
mesmo na consolidação da fronteira oeste brasileira.

9
CAPITULO I

1. A OCUPAÇÃO DA FRONTEIRA OESTE DO BRASIL

A expansão do território brasileiro iniciou na descoberta no século XVI até o tratado


de Madri. Durante o primeiro século a ocupação do território pelos colonizadores portugueses
se restringiu a região litorânea, devido ao número reduzido da população branca e a
resistência da maior parte dos povos nativos.
Durante o século XVII o cenário muda com o início das atividades produtivas, ação
efetiva do estado no combate a resistência dos povos nativos e as constantes ameaças de
invasão do território. Ainda na primeira metade do século inicia o avanço dos bandeirantes
paulistas em busca dos povos nativos aldeados pelos jesuítas ao sul e posteriormente seguem
a norte, para o Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais em busca de metais preciosos.
Em 1719 com a descoberta de jazidas de ouro foi fundado pelos bandeirantes paulistas
as margens do rio Coxipó um pequeno povoado que deu origem a cidade de Cuiabá, que era
subordinada a capitania de São Paulo, em 1748 tornou-se a capitania do Mato Grosso, porem
a cede ainda era Vila Bela da Santíssima Trindade. Somente e 1818 Cuiabá passou a ser a
sede da capital.

1.1. TRATADO DE MADRI

Assinado em 13 de janeiro de 1750, com o objetivo de resolver as divergências que


surgiram desde a inatividade do Tratado de Tordesilhas, o novo acordo entre as duas grandes
potencias expansionistas do período, Portugal de Espanha criado para reafirmar divisões
territoriais da atual área do Brasil.
O novo mapa proposto com o Tratado propunha a uma medida muito utilizada no
período que era a utilização das balizas naturais para estabelecer os limites, dessa forma
montanhas, rios e outras características dos terrenos representariam os novos limites
estabelecidos. Deve se destacar o trabalho desenvolvido pelo Diplomata Português Alexandre
Gusmão, que foi o responsável pelo principio de uti possidetis que garante o direito de posse
para a nação que já ocupará o local.

10
Além de dar fim aos conflitos, o tratado delimitou o território o basicamente na forma
atual, destacando a regularização da capitania do Mato Grosso, que passa a ser território
brasileiro. Conforme afirma PARANHOS (2002, p. 193):
Desde o descobrimento do Brasil por Pedro Álvares Cabral, passando pelo
Tratado de Madri, de 1750, e seguintes até o Tratado de Santo Ildefonso, de 1777, a
construção territorial do Brasil deu-se em torno, ao longo e além da famosa “linha”
de Tordesilhas. Na Amazônia brasileira, foi seu primeiro demarcador nos termos do
Tratado de 1750 a obra diplomática de Alexandre de Gusmão, assim como do
governador do Grão-Pará e Maranhão Francisco Xavier de Mendonça Furtado,
meio-irmão do Marquês de Pombal. Entretanto, ainda não seria desta vez que as
desafiadoras fronteiras do Brasil – que levaram, inclusive, ao histórico conflito com
a poderosa Companhia de Jesus e ao iluminismo montante na Europa e nas colônias
– seriam demarcadas.

Figura 1 - Mapa Tratado de Madri

Fonte: Pinterest (2020)

1.2. A FUNDAÇÃO

Em 13 de setembro de 1775, a expedição do Capitão Matias Ribeiro da Costa com


seus 245 homens em quinze canos chegam ao estreito de São Francisco Xavier, julgando
aquele locar ser o ponto procurado fundou na margem direita do Rio Paraguai o forte.

11
Figura 2 - O Presidio de Coimbra

Fonte: CAMPESTRINI (2013)


Como de costume português naquele período quando da fundação de uma vila ou
localidade era nomeado em homenagem a uma cidade, pais ou continente já existentes,
acompanhado do termo “novo”, nesse sentido Coimbra foi nomeada a cidade de Coimbra em
Portugal, sendo chamada assim essa nova ocupação de Coimbra a nova ou Nova Coimbra.
A ocupação da margem direita do rio pelo Capitão Matias foi a desacordo com o
Tratado de Santo Ildefonso, que estabelecia o rio com baliza natural como limites entre a
ocupação de espanhóis e portugueses.
O Presídio de Nova Coimbra, presídio significava o mesmo que fortificação fora
construído 40 léguas acima do local correto, a ordem do Governador da província dizia que a
fortificação deveria ser no local chamado Fecho dos Morros, mas devido às semelhanças entre
o local instalado e a descrição do local correto o Capitão pode ter cometido um equivoco,
tanto que na carta de Fundação ele se refere ao local como Fecho dos Morros, conforme cita
CAMPESTRINI, (2013, p. 37):
Ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1775 – ao treze dias
do mês de setembro nesta situação até agora chamada Fecho dos Morros onde
presentemente me acho, eu Capitão Matias Ribeiro da Costa, comandante dum
corpo de soldados dragões, doutro de auxiliares encarregado ao ajudante Francisco
Rodrigues Tavares, e doutro de ordenança encarregado ao Capitão Miguel José
Rodrigues, e sendo ai em cumprimento as ordens do Ilmo. E Ex. Sr Luís de
Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres, governador e capitão-general desta
capitania de Mato Grosso.

12
1.3. TRATADO DE SANTO ILDEFONSO

Assinado entre Portugal e Espanha, em 1º de outubro de 1777, na cidade de Ildefonso,


na Espanha, visava finalizar os conflitos existentes nas colônias há três séculos. O tratado
Geopolítico restaurava grande parte do que tinha sido acordado no Tratado de Madri, e havia
sido desconsiderado com a assinatura do Tratado de El Prado de 1761.
Figura 3 - Mapa Tratado de Santo Ildefonso

Fonte: MultiRio (2020)


O novo tratado era mais técnico que o anterior embora repetisse os limites fixados em
1750, pode-se observar tal fato pela citação de NETO (2019, p. 63) a seguir:
O novo tratado, de caráter mais complexo, indicava normas de demarcação
territorial (toponímia e denominações para as localidades); limites territoriais (onde
começavam e onde terminavam as fronteiras de cada Estado Colonial); direitos e
deveres dos súditos que residiam nas regiões de fronteiras; retirada ou permanência
de povoações, dentre outros. O texto do tratado apresentava normativas em 25
artigos, estruturados de acordo com os critérios da época e carregado de cláusulas.
Para compor a comissão demarcatória de limites, a rainha D. Maria I, em nome de
Portugal, nomeou os lusitanos Ricardo Franco de Almeida e Serra e Joaquim José
Ferreira; os brasileiros Francisco José de Lacerda e Almeida e Antônio Pires da
Silva Pontes; um capelão, o Pe. Álvaro de Loureiro da Fonseca Zuzarte; dois
desenhistas e três oficiais de baixa patente. A assinatura do Tratado de Santo
Ildefonso evidencia que as definições de limites territoriais estavam longe de chagar
ao seu fim. Assim, tal evento dava continuidade ao importante processo de
demarcação territorial iniciado no contexto do Período Pombalino.

13
2. RICARDO FRANCO

Nascido em Portugal em 1748, Ricardo Franco de Almeida Serra formou-se na


Academia Militar em Engenharia e Infantaria, vasto conhecimento como cartógrafo, geógrafo
e astrônomo. Após dês anos de serviço em Lisboa, foi designado integrante da Terceira
Partida de Demarcação e Limites na América, e chegou ao Brasil em fevereiro de 1780, em
consequência do novo Tratado assinado em 1777.
Figura 4 - Ricardo Franco de Almeida Serra

Fonte: PEREIRA (2013)


No Brasil aplicou seus conhecimentos técnicos fazendo levantamento de fronteiras,
mapeou as capitanias do Grão-Pará, Piauí, São José do Rio Negro e Mato Grosso, além de
explorar mais de 50 rios das bacias do Amazonas e do Prata. Entre todos esses trabalhos foi
ainda o responsável pela coordenação e execução da construção do Forte Príncipe da Beira no
atual estado de Rondônia e o Quartel dos Dragões de Vila Bela da Santíssima Trindade no
Mato Grosso, conforme cita a pagina dos patronos no site do Exército Brasileiro (maio, 2020)
“Das obras de Ricardo Franco, sobressai a construção e defesa do Forte de Coimbra, em pleno
pantanal sul-mato-grossense. O coronel Ricardo Franco faleceu em 21 de janeiro de 1809, aos
61 anos, ainda no comando do Forte de Coimbra”.
O trabalho desenvolvido pelo Ricardo Franco foi de grande importância para definir e
assegurar as fronteiras do Brasil com as colônias espanholas do continente. Entre os séculos

14
XVIII e XIX aconteciam muitas disputas entre as duas potências colonizadoras do novo
continente, Portugal e Espanha, conhecer a geografia, desbravar as fronteiras e construir
fortificações era a única forma para garantir a integridade territorial.

3. O ESTADO DO PRESÍDIO

Em 1786 Ricardo Franco conheceu o presídio de Coimbra. Designado em uma missão


de reconhecimento pelo Governador da província Luís de Albuquerque, o reconhecimento
iniciava no Jauru até um pouco abaixo de Coimbra, que durou de 30 de abril a 7 de novembro
de 1786.
Ao chegar a Coimbra, verificou a fragilidade das instalações do presídio em madeira,
em sua diligência fez questão de citar a situação da estacada de Coimbra: “Uma débil estacada
de 12 palmos de altura e menos de um de grossura” (MACEDO, 2016, p. 259).
Em 1791 o governador João de Albuquerque irmão e sucessor de Luís designa o
Sargento Mor Joaquim José Ferreira, que trabalhou com Ricardo Franco nos reconhecimentos
e demarcações, que estavam juntos desde a vinda de Portugal, para comandar o presidio de
Coimbra e a fronteira sul, a mesma fora desativada no ano seguinte. No mesmo ano de sua
designação Joaquim José Ferreira já informara as condições do presídio, segundo MACEDO
(2016, p. 259). “Entretanto, em seu relatório que faria em 1791, Joaquim José Ferreira já
diária que “o recinto da estacada não tem um só pau que com um murro não se bote abaixo”.
O estado precário da estacada era pois sabido.”
O novo comandante tratou que realizar os reparos possíveis mais devido ao incêndio
de 1776 não havia próxima a Coimbra madeira para tal fim, um dos motivos que reforçavam a
ideia de Ricardo Franco de construir uma nova fortificação em pedra e cal. O Governador
João de Albuquerque morreu no posto em 28 de fevereiro de 1796, sem decidir sobre a
situação de Coimbra.

15
CAPITULO II

4. A CONSTRUÇÃO

Tendo em vista a fragilidade da estrutura do presidio construído em madeira de


Candará em 1775, foi designado o Tenente Coronel Ricardo Franco para construir o novo
forte em alvenaria, um projeto ambicioso, pois construir a imensa fortificação em meio ao
praticamente inóspito pantanal.
Em 3 de novembro de 1797 é lançado a primeira pedra para a construção da primeira
obra em pedra e argamassa de cal na fronteira sul, enquanto aguardava a aprovação do
governador.
Figura 5 - Planta Novo Forte de Coimbra

Fonte: CORRÊA (2013)


Ricardo Franco sabia os riscos de um ataque espanhol, tanto que dividia seu pequeno
efetivo em grupos de patrulha e grupos de construção, também informará o governador sobre
as precárias armas de artilharias do forte e solicitava a substituição por armas mais modernas.
Para a confecção da planta definitiva do forte, Ricardo fraco passou 22 dias estudando
a morfologia e demais características do terreno embora a longitude do terreno já era
conhecido desde seu primeiro contado com Coimbra em 1786.

16
Em ofício enviado ao governado Montenegro em 31 de dezembro de 1800, Ricardo
Franco informa que a construção das muralhas estava chegando ao fim, e informa também as
características do forte como citado por MACEDO (2016, p. 284):
As muralhas são construídas sobre desigual terreno e áspera subida (desde a
margem do Paraguay); pelos dous lados edificados sobre o ângulo recto que este
monte faz no Paraguay, é huma rocha cortada a prumo, e pelos outros dous mais
praticáveis, cercado por hum escavado recinto de áspera penedia, na áspera escarpa
e descida deste íngreme monte.
O Forte foi atacado em 1801, mas sua construção foi concluída em 13 de setembro de
1803, quando a imagem de Nossa Senhora do Carmo foi levada pelas não do Ricardo Franco
a nova capela, agora no forte em alvenaria ao forte, em uma grande cerimonia que envolvia
militares em moradores da comunidade.

5. CARACTERÍSTICAS CONSTRUTIVAS

O novo forte construído com a técnica de alvenaria de pedra e cal, técnica construtiva
comum do período do Brasil colonial. Essa técnica construtiva consiste em muralhas e
paredes estruturais, usando matéria prima encontrada no terreno da própria construção. No
caso de Coimbra o construtor contou com matéria prima ideal, já que a moraria da região é
rica em rocha basáltica, que se caracteriza por sua grande resistência e baixa flexibilidade,
usado até os dias de hoje na construção civil, devido suas características. Já a argamassa que
unia a pedra foi feita de saibro encontrado no local e cal trazidos de outros lugares da colônia.
Figura 6 - Alvenaria de Pedra e Cal

Fonte: Coisas da Arquitetura (2020)


17
O projeto idealizado desde o principio por Ricardo Franco passou por algumas
mudanças durante a execução. A estrutura baseia-se nas fortificações italianas abaluartadas.
Entretanto no caso do novo forte foi adaptada ao terreno íngreme e por consequência a
fortificação foi construída de forma assimétrica.
Ricardo Franco detinha vasto conhecimento em muralhas adquiridos durante sua
formação em infantaria e engenhar, tal conhecimento foi muito importante para a idealização
da estrutura planejado cada detalhe da construção e pensando no seu emprego futuro
conforme cita MACEDO (2016, p. 286):
1º- O inimigo não poderia posicionar “minas” sob as muralhas; 2º - Para
“ofender” e destruí uma praça em tal sítio assim construída, o inimigo deveria dispor
de uma armada para o canhoneiro e de um exército para o assalto. Tropas de tal
quantidade não seriam fáceis de manter ativas por longo tempo, por falta de
recompletamento de munição de guerra e de boca. 3º - As muralhas, junto a
margem, seriam de fácil e rápida construção, pois normalmente estes sítios à beira
de rios caudulosos [ou praia de mar], apresentam solo de bom saibro duro ou
rochoso para as fundações e, mesmo, pedra para as muralhas. 4 – Estas muralhas
juntas à margem, não requerem obras pesadas de fortificações como baluartes ou
tenalhas e sim que a praça junto a elas tenha cortinas em redentes, que propiciem
fogo cruzado ao defensores.
Seguindo o projeto o forte foi construído com suas paredes chegando a medir 2,20
metros de grossura e de 3,40 a 5,50 metros de altura. Não sendo possível construir o fosso na
parte externa das muralhas, que idealizadas pelo construtor serviria de obstáculos para as
tropas de infantaria que tentasse transpor.

18
CAPITULO III

6. O ATAQUE DE 1801

O comandante do Forte, Tenente Coronel Ricardo Franco havia solicitado por mais de
uma vez ao governador da província canhões mais modernos e mantimentos para uma
resistência de seis meses, mas não fora atendido.
Em maio de 1801, Portugal e Espanha então em guerra. Lázaro de Ribeira y Spinosa, o
governador de Assunção precisava apenas de um motivo para colocar seu ambicioso plano em
ação, tratava-se de retomar as terras a oeste de Tordesilhas, expulsando pelo combate os
portugueses que ocupara tal posição.
O novo forte que Ricardo Franco era encarregado de construir não estava pronto,
entretanto a guarnição de Coimbra foi informada do possível ataque castelhano por
intermédio do alerta feito pelo índio guaicuru Nixinica, quando as embarcações inimigas
encontravam-se por volta de 380 km abaixo da posição do forte. O aviso oportuno foi de
grande valia para o comandante, que dispunha de poucas e frágeis canoas e um canhão de
calibre 1, organizou e deu ordens para que todos ocupassem o forte em alvenaria antes da
chegada do inimigo.
A tropa de Lazaro de Ribeira chega ao forte por volta das 16 horas, no dia 16 de
setembro de 1801, com o efetivo e material superior a tropa e material do forte, conforme
citação de PARREIRA (2013, p. 7) a seguir:
O efetivo inimigo constituía-se de 600 homens de combate em terras; 100
compunham a guarnição das sumacas; 200 marchavam por terra (não chegaram);
índios paiaguas, 200. Total de 1.100 atacantes! Ricardo franco contou apenas com a
lealdade de 49 bravas combatentes!
Como costume do combate naquele período, uma forma de cordialidade o atacante
propunha ao comandante oponente a rendição. Lazaro de Ribeira percebendo sua
superioridade de poder de fogo através do disparo da melhor arma de artilharia do forte, no
mesmo dia em que o inimigo é avistado Ricardo Franco efetua disparo com seu canhão de
calibre 1, e seu projetil mal consegue atingir o meio do rio, com isso no dia 17 é enviado o
ultimato de Lazaro de Ribeira que é respondido pelo Ricardo Franco conforme cita
PARREIRA (2013, p. 7) a seguir:
Eis a imortal resposta de Ricardo Franco: Tenho a honra de responder
categoricamente a V Exª que a desigualdade de forças sempre foi um estimulo que
animou os portugueses, por isso mesmo, a não desampararem os seus postos, e a
defende-los (...) repelir o inimigo ou a sepultar-se debaixo das ruinas dos fortes que
lhe confiam. Coimbra, 17 de setembro de 1801.

19
O combate acontecera do dia 16 ao dia 24, porém no dia 23 por forte tempestade as
operações foram suspensas, no dia seguinte as sumacas assumiram posição de combate e
efetuaram em torno de 100 disparos em direção ao forte, em seguida suspendeu fogo e se
retiram, marcando assim o fim do combate e a vitória dos luso-brasileiros.

7. A GUERRA DA TRÍPLICE ALIANÇA

Por muito tempo existia certa indisposição em Brasil e Paraguai. Por uma questão de
planejamento, visando garantir a integridade do território brasileiro o império deu ordens ao
governador da província do Mato Grosso para que transferisse a cede do governo e o quartel-
general para o Forte de Coimbra. Em atenção às diretrizes do império o governador Augusto
Leverger criou a Companhia dos Imperiais Marinheiros e se instalou na elevação em frente ao
forte na margem oposta do rio conhecido atualmente como morro da Marinha. Em 1855 passa
a tensão e Augusto Leverger retorna a Cuiabá.
Em 1962 com a morte do governador do Paraguai Carlos Lopes, assumiu o governo
seu filho, Francisco Solano Lopes, que em 1964 declara e inicia guerra a três países ao mesmo
tempo. A guerra que Solano Lopes inicia por interesse próprio como cita TAUNAY (2003, p
7) “a guerra que Francisco Solano Lopes, o presidente do Paraguai, na América do Sul
suscitara sem maiores motivos que os ditames da ambição pessoal; quando muito a invocar o
vão pretexto da manutenção do equilíbrio internacional.”
O Forte de Coimbra foi o primeiro local a sofre o taque Paraguai, do dia 26 de
dezembro de 1864 as tropas chegam próximas de Coimbra e no dia 27 pela manhã as
sentinelas do Forte visualizavam os 10 navios de guerra, armados com 39 canhões, e um
efetivo em torno de 3200 homens.
A força disponível no Forte era de 115 artilheiros, e 11 canhões disponíveis, e desses
canhões só 5 foram empregados, por conta do efetivo reduzido de militares no forte, e uma
embarcação canhoneira, Amambai. Nesse episódio o forte era comandado pelo Capitão
Benedito Jorge de Faria, que não comandou a resistência do forte pois estava presente o
Tenente-Coronel Portocarrero, que se encontrava nas instalações em visita de inspeção e
assumiu o comando por ser o militar mais antigo.
O combate iniciou por volta das 11 horas da manha do dia 27, tendo trégua no período
noturno, essa trégua foi muito importante, pois durante a noite de 27 para 28 as mulheres do

20
forte confeccionaram 6000 cartuchos, usando parte de seus vestidos. No dia seguinte a guerra
continuava, conforme a citação a seguir de PARREIRA (2013, p. 14):
Durante o desenrolar do dia, a vantagem numérica e a falta de munição no
Forte de Coimbra começava a fazer efeito. Os lances da infantaria paraguaia eram
incessantes e nada arrefecia seu ânimo. Um diluvio de ferro e fogo caía mais e mais
contra o forte! É nesse momento que o verdadeiro milagre acontece. O musico
Verdeixas, por ordem de dona Ludovina, esposa o Tenente-Coronel Portocarrero,
ergue por sobre as muralhas a imagem da Protetora de Coimbra: Nossa senhora do
Carmo! Ela estava usando a faixa de comandante! Diante da confusão da batalha, de
ruídos e estrnbos e gritos, milagrosamente brasileiros e paraguaios, ao verem a
Imagem, cessam o fogo, e começam a dar vivas! Viva Nossa senhora do Carmo!,
Viva Nuestra Señora Del Carmen! ”

Pouco tempo após o milagre citado o combate retorna e ao anoitecer novamente


acontece uma trégua, com os paraguaios retornando para os navios. Manter a resistência era
impossível, então o comandante decide pela retirada, embarcando militares e civis, levando
todos e sem baixas na embarcação Amambai, o embarque inicia as 21 horas e termina as 23
horas, sem que os paraguaios percebam, a retirada foi importante para avisar as próximas
guarnições que era a cidade de Corumbá. No dia 29 o forte é ocupado pelos paraguaios.

8. A RECONSTRUÇÃO

Desde a manhã do dia 29 de dezembro de 1864 até abril de 1868 o Forte ficou sob
domínio paraguaio. O forte foi abandonado pelos paraguaios em decorrência do desfeio das
batalhas, em junho de 1867 Corumbá foi retomado pelo Tenente-Coronel Antônio Maria
Coelho, e esse episódio representou o início da queda das conquistas paraguaias em seu
objetivo. Devido a conjuntura o Exército Paraguaio retrai para defender seu território que
estava ameaçado.
Em 1968 assume o comando do Forte o Tenente João de Oliveira Mello, que
participou da resistência de 1864, e ficou conhecido por sua bravura como Mello Bravo. A
fortificação encontrava-se com muitos danos em sua estrutura, já que os paraguaios não
fizeram a manutenção após a ocupação de 1864, os canhões e materiais que podia ser
transportados foram levados pelo Exército paraguaio em sua retirada.
A partir de 1870 com o final da Guerra inicia a reconstrução do forte e a implantação
das armas, o forte passou por manutenções e alterações em seu projeto até a construção do
novo quartel em 1908.
Em 1974 o forte é inscrito no livro do tombo e deixa de sofrer alterações estruturais e
passa a ser preservado como patrimônio histórico e cultural, em 1992 através da

21
reorganização do Exército e atualização da doutrina, Coimbra passa a ser ocupada por uma
unidade de infantaria.

22
CONCLUSÃO

A construção de fortificações, a presença militar e a consolidação de povoados em


determinada região com povo de origem da nação colonizadora eram um costume dos países
europeus, como um método para garantia de posse do território colonizado, o uti possidetis
que garante o direito de posse para a nação que já ocupará o local, termo este utilizado no
tratado de Madri, e tratados posteriores.
Desde a descoberta do Brasil pelos portugueses até o ano de 1750, o território que era
por direito espanhol pelo tratado de Tordesilhas estava sendo ocupado em parte por luso-
brasileiros, tornando assim a área da colônia portuguesa duas vezes maior do que deveria ser.
Com o objetivo de não se indispor, as potências se propuseram a fazer acordos territoriais.
Em meados do século XVIII a coroa portuguesa inicia um projeto com a criação de
núcleos de povoamento nas extremidades da fronteira estabelecida pelos tratados, dessa forma
constrói o Forte Príncipe da Beira, funda a o Forte de Coimbra, as vilas de Albuquerque e
Corumbá, todos na província do Mato Grosso, cuja capital era Vila Bela, uma pequena
comunidade que também ficava na fronteira com as colônias espanholas.
A fortificação representou desde sua fundação o ânimo e espírito de cumprimento de
missão dos luso-brasileiros, no princípio sem conhecimento específico foi construído pelo
primeiro comandante em madeira retirada da própria região, quando de sua construção em
alvenaria, em pedra, argamassada e cal por um engenheiro militar, grade parte da matéria
prima foi retirada do próprio moro, poupando esforço dos poucos homens disponíveis para tal
trabalho, nos dois ataques sofridos a estrutura em alvenaria salvaguardou seus defensores, de
forma a não ter baixas. Demonstrando a efetividade da construção e a importância de cada
estudo feito para que ela fosse erguida.
Dessa forma, o trabalho desenvolvido por Ricardo Franco representou um marco para
a construção civil do período, o engenheiro foi o primeiro a propor e construir uma obra de tal
porte em alvenaria de pedra argamassada e cal em ermo território pantaneiro, seu
conhecimento em muralhas e sua dedicação como construtor fez com que sua obra
sobrevivesse além dos ataques, as intempéries do tempo. Assim sendo, a grande fortificação
preservada representa nos dias atuais o grande esforço dos antepassados para a consolidação
da fronteira oeste brasileira.

23
Ainda que, a partir da década de 30 a fortificação deixa de ser utilizadas como base
militar, sendo preservadas suas características, portanto é de suma importância para história
brasileira, o Forte é conhecido não somente pelas lições de bravura representadas por sua
riquíssima história, mas pela localidade, que conta com uma bela paisagem natural que é
peculiar no pantanal, onde se confundem os dois morros em uma enorme planície alagável,
além, também, da sua paisagem artificial composta por uma grande fortificação branca em
pedra e uma pequena vila de pescadores ribeirinhos.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

PARANHOS, José Maria da Silva. Barão do Rio Branco uma Biografia


Fotográfica: Tratado de Madri, Fundação Alexandre de Gusmão, Brasília-DF, 2002;
CAMPESTRINI, Hildebrando. Forte de Coimbra Historia e Tradição: Cenário e
memoria, Centro de Comunicação Social do Exercito, Brasília-DF, 2013;
NETO, Lael Ferreira. A Doutrina do Uti Possidetis na Tradição Ibérica: A política
externa expansionista do Marquês de Pombal, Universidade Federal de Brasília, Brasília-DF,
2019;
MACEDO, Tibério Kimmel. Ricardo Franco O Fronteiro Solitário: Volume II, A
frágil Estacada de Coimbra, a nova, 4º Grupamento de Engenharia, Porto Alegre-RS, 2016.
PARREIRA, José Loureço, Forte de Coimbra Historia e Tradição: A guerra de
1801 – O ataque ao Forte, Comando Militar do Oeste, Campo Grande-MS, 2013;
TAUNAY, Visconde. Retirada da Laguna: Martin Claret, São Paulo-SP, 2003;
PARREIRA, Luiz Eduardo Silva Parreira, Forte de Coimbra Historia e Tradição:
Forte de Coimbra na Guerra do Paraguai, Comando Militar do Oeste, Campo Grande-MS,
2013;

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Site Exército Brasileiro, Patronos, http://www.eb.mil.br/ricardo-franco (acesso em 29
de abril de 2020);
Trabalho de Conclusão de Curso: A Doutrina do Uti Possidetis na Tradição Ibérica: A
política externa expansionista do Marquês de Pombal, 2019, NETO, Lael Ferreira, Site:
https://bdm.unb.br/bitstream/10483/22413/1/2019_LaelFerreiraNeto_tcc.pdf ((acesso em 29
de abril de 2020);

https://br.pinterest.com/pin/828521662685337120/ (figura 1)

http://multirio.rio.rj.gov.br/index.php/estude/historia-do-brasil/america-portuguesa/86-da-
am%C3%A9rica-portuguesa-ao-brasil/8799-os-contornos-do-territ%C3%B3rio (figura 3)

https://coisasdaarquitetura.wordpress.com/2010/09/06/tecnicas-construtivas-do-periodo-
colonial-i/ (figura 6)

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