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Dagny Más, Gabriela Palacio Lopes, Gabriela Ribeiro Nunes, Isabella Souza

Pettengill, Isabela Araújo, Isadora Fernanda Ribeiro Fernandes, Laura Soares Costa,
Maria Margareth Ribas, Priscila Junqueira de Souza, Tainara da Rocha Leite

O FORTE DE NOSSA SENHORA DOS PRAZERES DO IGUATEMI:


IDENTIFICAÇÃO HISTÓRICA E FÍSICA DAS RUÍNAS QUE CONFIRMAM A
OCUPAÇÃO OESTE DO BRASIL, NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XVIII
PELOS COLONIZADORES PORTUGUESES DURANTE A DISPUTA
FRONTEIRIÇA ENTRE PORTUGAL E ESPANHA

Projeto de extensão apresentado no curso de


graduação de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

Docente: Dr. Maria Margareth Escobar Ribas


Lima

CAMPO GRANDE, MS

2023
SUMÁRIO

1. Introdução.................................................................................................................4
2. Levantamento Histórico............................................................................................6
2.1. História Global..................................................................................................6
2.1.1. Contexto Ibérico.....................................................................................10
2.1.1.1. Portugal......................................................................................... 11
2.1.1.2. Espanha........................................................................................ 13
2.2. História Continental........................................................................................16
2.2.1. Tratados.................................................................................................18
2.2.1.1. Tratado de Tordesilhas..................................................................19
2.2.1.2. Tratado de Madrid......................................................................... 21
2.2.1.3. Tratado de El Pardo...................................................................... 30
2.2.1.4. Tratado de Santo Ildefonso........................................................... 31
2.2.1.5. Outros Tratados............................................................................ 32
2.3. História Brasileira: Ocupação e Definição Territorial......................................32
2.3.1. Ocupação leste......................................................................................32
2.3.2. Ocupação oeste - Portuguesa............................................................... 37
2.3.3. Ocupação oeste - Espanhola................................................................ 40
2.3.3.1. Colonização...................................................................................40
2.3.3.2. As reduções de Itatim....................................................................44
2.3.3.3. Definições de fronteiras.................................................................46
2.4. História regional............................................................................................. 48
2.4.1. História de Paranhos............................................................................. 50
2.5. Outros acontecimentos históricos.................................................................. 52
2.5.1. Guerra do Paraguai............................................................................... 52
2.5.2. Madame Lassare................................................................................... 54
2.6. As fortificações...............................................................................................57
2.7. As Fortificações no Brasil...............................................................................61

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2.7.1. O Forte do Iguatemi...............................................................................66
3. Levantamento documental e cartográfico.............................................................. 72
3.1. Identificação: Cartografia da Praça Nossa Senhoras dos Prazeres de
Iguatemi (1754-1923)............................................................................................72
4. Levantamento topográfico (georreferenciado)....................................................... 80
5. Proposta de preservação e de divulgação............................................................. 80
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................... 83

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1. Introdução

No princípio do século XVI, quando os portugueses aqui chegaram traziam


consigo séculos de conhecimento sobre construção de fortificações, fundamentais
para a ocupação, povoamento, organização e exploração dos novos territórios, fato
que ocorreu em outras colônias como na África, ilhas do Atlântico e Índia e, aqui no
Brasil não foi diferente.
Esta expansão ultramarina permitiu aos portugueses colocarem em prática
conhecimentos construtivos, bem como, a busca de novas soluções arquitetônicas,
adequadas às novas realidades climáticas, topográficas, de matéria prima e, não
menos importantes às hostilidades encontradas nos diferentes continentes.
Durante o reinado de José I, de 1750 a 1777, o Brasil passou por reformas e
construção de novas fortificações que seriam destinadas a delimitar o território e
garantir a soberania portuguesa, contra as pretensões expansionistas espanholas,
principalmente na fronteira brasileira.
Com estas considerações e premissas iniciais, este documento buscou
informações a respeito do Forte de Nossa Senhora dos Prazeres do Iguatemi,
localizado à margem esquerda do Rio Iguatemi, no Município de Paranhos - Mato
Grosso do Sul.
Hoje o mesmo encontra-se em ruínas, no entanto, o que ainda existe
confirma a ocupação oeste do Brasil, na segunda metade do século XVIII, pelos
colonizadores portugueses durante a disputa fronteiriça entre Portugal e Espanha
durante o período de colonização.
A fundação do mesmo tinha por objetivo proteger as fronteiras estabelecidas
com os tratados de Tordesilhas e de Madri à oeste da então colônia de Portugal
das frentes espanholas que ocupavam esta região.
O Tratado de Madri de 1750 teve por finalidade substituir o Tratado de
Tordesilhas de 1494 e assim pôr fim às disputas e os limites entre as respectivas
colônias sul-americanas de Portugal e Espanha, privilegiando os rios e montanhas
para demarcação dos limites.
A coroa portuguesa estabelece medidas de proteção da fronteira oeste da
colônia portuguesa no Brasil, sendo uma delas a instalação de fortificações, o Forte
de Nossa Senhora dos Prazeres do Iguatemi foi uma dessas medidas.

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Dessa forma, este documento foi desenvolvido através de pesquisa
bibliográfica em fontes primárias, dados cartográficos e fotográficos, visando
identificar os elementos que possam ajudar na identificação e informações que
contribuirão para o acervo do Patrimônio Arquitetônico Brasileiro e do estado de
Mato Grosso do Sul, através do projeto de extensão: O FORTE DE NOSSA
SENHORA DOS PRAZERES DO IGUATEMI: IDENTIFICAÇÃO HISTÓRICA E
FÍSICA DAS RUÍNAS QUE CONFIRMAM A OCUPAÇÃO OESTE DO BRASIL, NA
SEGUNDA METADE DO SÉCULO XVIII PELOS COLONIZADORES
PORTUGUESES DURANTE A DISPUTA FRONTEIRIÇA ENTRE PORTUGAL E
ESPANHA, coordenado pela professora Dra. Maria Margareth Escobar Ribas Lima,
com a colaboração dos professores: Dr. Gilson Rodolfo Martins, Dr. José Alberto
Ventura Couto, Dr. Rodrigo Mendes De Souza , Dra. Juliana Villela Junqueira , Dr.
Victoria Mauricio Delvizio, Albertino Fachin Dias e Dr. Elioterio Fachin Dias, com a
participação dos seguintes acadêmicos: Dagny Más, Gabriela Palacio Lopes,
Gabriela Ribeiro Nunes, Isabella Souza Pettengill, Isabela Araújo, Isadora Fernanda
Ribeiro Fernandes, Laura Soares Costa, Priscila Junqueira de Souza e Tainara da
Rocha Leite. A parceria também foi estabelecida, além da prefeitura Municipal de
Paranhos na pessoa do Prefeito Donizete e da Secretaria de Planejamento do
Município de Paranhos, Sra. Miriam Aparecida Gavilan Jara e também da
comunidade indígenas da aldeia Yvy Kurusu/Takauaraty, onde está localizado o
Forte Nossa Senhora Dos Prazeres do Iguatemi.

Conforme o PLANO DE TRABALHO do projeto de extensão, previamente aprovado


pela UFMS foi dividida em etapas:

PRIMEIRA ETAPA: Período de maio a junho de 2022 elaboração e aprovação do


projeto de extensão junto à UFMS e formação da equipe e pesquisa bibliográfica;

SEGUNDA ETAPA: Período de maio a setembro de 2022, visita ao local onde está
localizado o Forte de Iguatemi (município de Paranhos/MS), com a realização de
fotos e palestras na comunidade indígena que está localizada na área da fortificação
do Forte de Iguatemi e munícipes de Paranhos.

TERCEIRA ETAPA: Período de setembro a dezembro de 2022, produção de


banners, cujo arquivo está anexo, cartilhas de aulas,;

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ÚLTIMA ETAPA: Período de dezembro a fevereiro de 2022, realização e finalização
do relatório final do projeto e montagem do site.

2. Levantamento Histórico

2.1. História Global

A história mundial é uma narrativa complexa e abrangente que abarca


milhares de anos de desenvolvimento humano. Desde os primórdios da civilização
até os tempos modernos, uma série de eventos moldou o curso da humanidade. Na
pré-história, nossos ancestrais enfrentaram desafios e descobertas cruciais, eles
aprenderam a usar ferramentas de pedra, dominaram o fogo e desenvolveram
técnicas de caça e coleta. Com o tempo, surgiram as primeiras comunidades
agrícolas, marcando o início da era neolítica.
A Antiguidade testemunhou o surgimento de grandes civilizações, como a
Mesopotâmia, o Egito, a Grécia e o Império Romano. Essas sociedades deixaram
um legado duradouro em áreas como política, arte, filosofia e direito.
A Idade Média foi caracterizada por transformações sociais e políticas. A
Europa foi abalada pelas invasões bárbaras, enquanto o feudalismo se estabeleceu
como sistema dominante. As Cruzadas e o Renascimento Comercial
desempenharam papéis importantes nesse período.
A Era Moderna trouxe consigo uma nova era de exploração e descoberta. Os
europeus expandiram seus horizontes por meio dos Descobrimentos, alcançando
terras distantes e estabelecendo colônias. A Revolução Industrial, posteriormente,
transformou radicalmente a sociedade com o avanço tecnológico e a urbanização
em massa.
O século XVIII foi marcado pela expansão europeia e pela construção da
Revolução Industrial Inglesa, um processo que representou a ascensão do
capitalismo.
Portanto, a historiografia predominante do Brasil e em alguns outros países
está centrada na história europeia, sendo uma potência dominante, marcada pela
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sucessão de sistemas mundiais hegemonizados que encontram-se apoiadas nos
paradigmas econômicos, sociais, políticos e culturais.
Na história das ciências ocidentais, os séculos XVIII e XIX são caracterizados
pelo grande número de expedições científicas, realizadas por vários países
europeus, com o objetivo de reconhecimento territorial, humano, zoológico, botânico
e mineral.
Essa "globalização" que ocidentalizada ou europeizava o mundo trouxe o
domínio dos grandes espaços, o que requer a quebra de barreiras geográficas
existentes no campo, levando os naturalistas da época ao planejamento de viagens
científicas de modo a coletar material para que os museus se tornassem os
principais abrigos de espécies naturais de todo o mundo. Portugal também
participou intensamente desse processo, despachando diversas expedições
científicas para suas colônias na América e África.
No século XX, o mundo testemunhou eventos de proporções sem
precedentes. As duas Guerras Mundiais deixaram marcas profundas na história,
causando enormes perdas humanas e redefinindo as fronteiras geopolíticas. A
Guerra Fria trouxe uma tensão global entre o bloco capitalista liderado pelos
Estados Unidos e o bloco comunista liderado pela União Soviética.
Hoje, vivemos em uma era de avanços científicos, tecnológicos e culturais
rápidos. A globalização conectou o mundo de maneiras inimagináveis, criando
interdependências econômicas e culturais. No entanto, desafios como as mudanças
climáticas, desigualdade e conflitos persistem e exigem soluções coletivas.
A história mundial é um relato fascinante de lutas, conquistas e
transformações. Ela nos ensina sobre as complexidades e diversidades da
experiência humana, permitindo-nos compreender melhor o passado e moldar um
futuro mais justo e sustentável.

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Figura 1 - Linha do tempo de acordo com a periodização clássica da história

Fonte: Ensinando História. Disponível em:


https://ensinandohistoria7.blogspot.com/2015/02/historia-7-ano-blog-destinado-aos.html. Acesso em:
20 de maio de 2023

Já a história do Brasil é marcada por uma rica diversidade cultural e uma


trajetória repleta de acontecimentos significativos. Desde os povos indígenas que
habitavam o território antes da chegada dos europeus até os desafios
contemporâneos enfrentados pela nação, o Brasil passou por diferentes fases e
transformações.
Não se pode deixar de reconhecer que o nosso subcontinente quase não tem
ação de presença no contexto mundial. Para o resto do mundo não temos história.
Podemos, até, sem erro, definir nossa ausência como incomparavelmente maior do
que a de quase todo o resto do mundo, somos um subcontinente desconhecido e
sem voz no contexto internacional. Mesmo hoje em dia inegavelmente, nossos
vizinhos marcam mais intensamente sua individualidade nacional do que toda a
extensão da América Latina. Nossa imagem política, decididamente, não nos ajuda:
somos conhecidos como uma região que politicamente vive em sobressaltos, onde a
instabilidade política crônica retrata fielmente a falta de amadurecimento econômico

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e cultural do povo, como da elite. Em resumo, submetida a essa posição rígida (que
é, por excelência, negação da diplomacia sábia), a América Latina civil, por muito
tempo, condenada a uma posição de política externa subserviente: falava o líder das
Américas, os latinos americanos formavam o couro. Posição que, por si própria,
destinava a América Latina ser apenas uma sombra em escala diplomática,
escondia os demais a presença dos nossos países no palco internacional. (ARY
GUIMARÃES, 1990, p.22)
A colonização do Brasil teve início em 1500, quando a expedição liderada por
Pedro Álvares Cabral chegou às terras brasileiras. Durante os primeiros anos, o país
foi explorado pelos portugueses, que exploravam os recursos naturais, como o
pau-brasil, e estabeleciam os primeiros assentamentos. Essa fase colonial foi
seguida por ciclos de mineração, especialmente no século XVIII, com o ouro sendo
descoberto em Minas Gerais. E é nesse período da história que o Forte Nossa
Senhora dos Prazeres do Iguatemi, objeto de estudo deste trabalho, foi construído.

Figura 2 - Linha do tempo situando a fundação do Forte Nossa Senhora dos Prazeres do Iguatemi na
história brasileira

Fonte: Educação Brasileira. Disponível em:


https://educacaobrasileirapormarjorie.blogspot.com/2011/09/linha-do-tempo-colonia-imperio.html.
Acesso em 23 de maio de 2023

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Em 1808, a chegada da família real portuguesa ao Brasil, fugindo das
invasões napoleônicas, marcou um momento de mudança. A colônia foi elevada ao
Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, e várias reformas foram implementadas,
incluindo a abertura dos portos às nações amigas.
Após anos de movimentos e lutas pela independência, o Brasil finalmente se
tornou uma nação independente em 1822, com a proclamação de Dom Pedro I
como Imperador do Brasil. O período imperial foi marcado por conflitos políticos e
sociais, além da abolição da escravidão em 1888.
Em 1889, ocorreu a Proclamação da República, estabelecendo um novo
sistema político. O Brasil enfrentou desafios como a industrialização, urbanização e
movimentos sociais ao longo do século XX. O país passou por diferentes regimes
políticos, incluindo a ditadura militar que durou de 1964 a 1985. A história do Brasil é
um contínuo processo de construção e busca por uma sociedade mais justa e
igualitária.

2.1.1. Contexto Ibérico

No final do século XV, os territórios da Península Ibérica apresentavam a divisão


representada na (fig ), na qual o Reino de Portugal já tinha a mesma configuração
territorial atual, mas o território atualmente reconhecido como pertencente à Espanha
era, na época, dividido entre a Coroa de Castela (em amarelo na imagem), que
comandava diversos reinos; o Reino de Navarra; e a Coroa de Aragão, também
subdividida em diversos reinos.

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Figura 3 - Configuração territorial Ibérica do final do século XV

Fonte: Wikimedia, 2010. Disponível em:


<https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=6179924>. Acesso em: 20 de abr. de 2023.

2.1.1.1. Portugal

As ilhas Canárias já eram conhecidas devido a tentativas anteriores de


colonização por variadas coroas quando, em 1336, D. Afonso IV de Portugal
patrocinou uma expedição e iniciou as reivindicações ao Papa pelo direito de
conquista do arquipélago. O monarca português acabou por aceitar a decisão papal
de conceder a concessão das referidas ilhas em feudo e a título de principado a D.
Luís de la Cerda em 1344. (E SILVA, 2006).
A política de expansão ultramarina de D. João I, rei de Portugal, inaugurou-se
em 1415, com a expedição à cidade de Ceuta, chamado de “o Algarve de além-mar”
(AB’SABER, 2020, p.33), localizada próxima ao Estreito de Gibraltar e então
território do Reino de Fez e que

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dava aos portugueses a possibilidade de navegarem e praticarem o
comércio com os países do Mar Interior, de ocuparem uma área territorial –
a norte – de Marrocos e de controlarem a passagem entre os reinos
muçulmanos de Granada e de Fez.
Contexto dentro do qual, a questão das Canárias adquire um maior
significado, que passa pelo seu posicionamento geo-estratégico, entre
Marrocos e a Guiné. E daí a insistência dos portugueses em nelas se
fixarem: a sua proximidade de África, a possibilidade de aí se poder
comerciar e capturar cativos, bem como as condições de apoio para a
prossecução das viagens para sul (em direcção aos rios da Guiné, serra
Leoa, golfo da Mina e, mais tarde, na rota do Cabo), justificavam-no. Pelo
menos até à passagem do cabo Bojador. (E SILVA, 2006, p. 99)

Figura 4 - Localização da cidade de Ceuta

Fonte: Wikimedia, 2009. Disponível em:


<https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Localizaci%C3%B3n_de_Ceuta.svg> . Acesso em: 20 de
abr. de 2023.

O Reino de Portugal continuou sua expansão, segundo Cartwright (2021),


“colonizando os arquipélagos desabitados do Atlântico Norte da Madeira em 1420,
os Açores em 1439, e Cabo Verde em 1462”. Entretanto, segundo E Silva (2006) foi
ao tentar novamente colonizar as Ilhas Canárias, em 1424, sob iniciativa do Infante
D. Henrique, filho do Rei D. João I de Portugal; onde os castelhanos já haviam se
estabelecido, que a competição colonialista intensificou-se, tendo sido apresentadas

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as alegações castelhanas contra a conquista das Canárias pelos portugueses no
Concílio de Basiléia (1434-1435).

As viagens que então se sucederam conduziram à descoberta de


algumas ilhas de Cabo Verde (1455-56), a que se seguiu um período mais
calmo – à morte do infante D. Henrique, em 1460, o ponto de chegada
situava-se na Serra Leoa –, uma vez que a monarquia se parece distanciar
da política atlântica.
Todavia as ilhas Canárias continuavam a apresentarem-se como um
desafio, um objectivo a alcançar. Embora inseridas numa outra estratégia, a
sua função de base de apoio na rota de navegação para a Guiné, surgia
renovada de interesse. (E SILVA, 2006, p. 102)

A disputa pelas Ilhas Canárias e as tentativas de ocupação portuguesa no


território ficaram em aberto e misturaram-se às questões sucessórias da Coroa de
Castela e terão fechamento apenas na assinatura do Tratado de Alcáçovas-Toledo
em 1479-1480.

2.1.1.2. Espanha

Quando se deu o nascimento de Joana, em 28 de fevereiro de 1462 em


Madrid, primeira e única filha do rei D. Henrique IV de Castela e sua consorte a
rainha D. Joana após sete anos de casamento, e sua nomeação como Princesa de
Astúrias, opositores da Coroa utilizaram como arma política a alegação de que a
recém nascida seria filha ilegítima, fruto de uma relação extra-conjugal da rainha
com D. Beltrán de la Cueva, um pajem de origem humilde e elevado a nobre por
serviços prestados à Coroa. (COSTA, 2011)
Tais opositores recusaram jurar a recém nascida Joana como herdeira da
Coroa, e propuseram a sucessão para o meio-irmão do rei, o Infante D. Afonso
(nascido do casamento de D. João II com D. Isabel de Portugal).

Foi neste contexto, em que era hostilizado por uma parte importante da
nobreza, a nível interno, e através do bloco navarro-aragonês, a nível
externo, que D. Henrique IV procurou explorar diplomaticamente uma nova
ligação a Portugal, eventualmente baseada noutros matrimónios. (COSTA,
2011, p.47)

Para selar a aliança, em 1464, durante expedição ao Marrocos, D. Henrique


IV prometeu a mão de sua meia-irmã a Infanta D. Isabel ao rei de Portugal D.

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Afonso, e sua filha D. Joana ao Príncipe de Portugal D. João, em troca de auxílio
bélico. Tais casamentos não foram concretizados devido a oposições apresentadas
pelo Conselho de D. Afonso, tendo em vista a “condição variável do dito rei Dom
Henrique”, deposto em 15 de junho de 1465, em favor de D. Afonso de então 12
anos, no que ficou conhecida por “Farsa de Ávila”, seguida por outras revoltas em
Toledo, Sevilha e Córdova, levando o monarca deposto a iniciar uma intensa guerra
civil. (COSTA, 2011)
Com a morte por provável envenenamento do Infante D. Afonso em 1468,
alguns dos nobres sublevados sujeitam-se ao rei D. Henrique IV, enquanto outros
decidem por apoiar D. Isabel. Esta, porém, "deliberou não tomar o título de rainha
em vida do rei, seu irmão, e concordar com ele, se, removendo todos os escândalos,
ele jurasse depois de seus dias a sucessão do reino”. Os termos de sucessão
incluíam também, além de vasto patrimônio para D. Isabel, o divórcio de D. Henrique
IV e D. Joana, já que esta encontrava-se a mais de um ano distante e em fase de
gravidez avançada,

a qual, sabendo-se claramente não ter sido gerada pelo monarca, reforçava
a argumentação dos partidários da infanta D. Isabel na defesa dos seus
direitos sucessórios e fragilizava a anterior posição do rei que, no acordo
com a irmã, punha em causa a sua paternidade sobre D. Joana. (COSTA,
2011, p. 51 apud SUÁREZ FERNÁNDEZ, 2008, p. 49)

A decisão acerca do casamento de D. Isabel ficou a cargo desta, cabendo ao


irmão o poder de veto ou aprovação de sua escolha (COSTA, 2011). Dentre os
pretendentes que se apresentaram, dois possuíam apoiadores na corte de Castela:
por Aragão, o príncipe D. Fernando, filho de D. João II; e por Portugal, o próprio rei
D. Afonso V.

De um lado, colocava-se a hipótese de ligação com Portugal, apostado no


desbravamento do desconhecido Mar-Oceano, na ocupação de pequenas
ilhas atlânticas e na conquista de praças em Marrocos; do outro, a hipótese
da união a Aragão, mais envolvido nos meandros da política continental e
orientado para o apetecível Mediterrâneo (por onde passava ainda parte
importante do comércio, inclusive o dos produtos orientais). (COSTA, 2011,
p.52)

A princesa optou pelo príncipe D. Fernando de Aragão, de idade mais


próxima a sua e também

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a ligação aragonesa era desejada por uma expressiva parte dos nobres
castelhanos, sanando com maior facilidade os conflitos internos, partindo do
pressuposto de que o governo dos dois reinos seria pacífico e as condições
ficassem, desde logo, estipulado nas capitulações matrimoniais. Se, por ser
mulher, houvesse qualquer contestação à sua realeza, D. Isabel, tendo em
D. Fernando o mais directo herdeiro ao trono castelhano (era, então, o único
descendente por varonia de D. Henrique III), anulava com o casamento esta
hipotética oposição externa. (COSTA, 2011, p. 53)

Segundo Costa (2011), D. Henrique IV tentou manipular a meia-irmã para que


esta se casasse com D. Afonso V, entretanto, D. Isabel conseguiu tramar e executar
o próprio casamento com o pretendente escolhido, D. Fernando de Aragão,
acabando por violar o acordo de Toros e a ter seu direito sucessório revogado pelo
meio-irmão, que restabeleceu a Infanta D. Joana como Princesa e casou-a com D.
Afonso V. Desta forma, quando do falecimento de D. Henrique IV no final de 1474,
instalou-se uma Guerra de Sucessão com facções de apoiadores às duas rainhas,
tia e sobrinha.

2.1.1.3. Tratado de Alcáçovas-Toledo (1479)

O tratado assinado em Alcáçovas (Portugal, 1479) e retificado pelos reis de


Castela e Aragão em Toledo (Castela, 1780) findou a Guerra de Sucessão de
Castela, reconhecendo D. Isabel A Católica como rainha. Também estabelece uma
linha divisória entre as conquistas marítimas dos dois países, reconhecendo as Ilhas
Canárias como território de Castela e, abaixo delas, na longitude 26° Norte, como
território de Portugal, incluindo as terras conquistadas no Reino de Fez e os
arquipélagos atlânticos, Madeira, Açores e Cabo Verde. (E SILVA, 2006)

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Figura 5 - Linha proposta pelo Tratado de Alcáçovas de 1479

Fonte: Bibliotecas Especializadas de Zamora, 2011. Disponível em:


<http://bibliotecasespecializadasdezamora.blogspot.com/2011/01/el-tratado-de-tordesillas.html>.
Acesso em: 20 de abr. de 2023.

2.2. História Continental

Os dados oficiais apontam a chegada do navegante genovês Cristóvão


Colombo, a serviço da Coroa de Castela e sua Rainha Católica Isabel, em 12 de
outubro de 1492, como o “descobrimento da América”, o local avistado “era o ilhéu
de Guanahani, depois designado por São Salvador, cuja identificação ainda hoje é
objecto de debate por parte dos historiadores. A partir daí, Colombo percorreu o
arquipélago das Bahamas e as ilhas de Cuba e do Haiti” (National Geographic
Portugal, 2020)

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Figura 6 - Viagens de Colombo

Fonte: National Geographic Portugal, 2020.c Disponível em:


<https://nationalgeographic.pt/historia/grandes-reportagens/1589-cristovao-colombo-o-navegador>.
Acesso em: 20 de abr. de 2023.

De acordo com Ab’Saber (2020), ao receber em primeira mão a notícia das


descobertas de Colombo, que fez parada em Lisboa em 15 de março de 1493 a
caminho de Castela, o Rei D. João II de Portugal, filho de D. Afonso V, convenceu-se
de que tais ilhas descobertas eram suas por direito, devido a sua localização
geográfica estar abaixo da linha traçada pelo Tratado de Alcáçovas-Toledo, e
considerou enviar uma expedição ao mesmo local.
Entretanto, tal expedição portuguesa não ocorreu e, segundo o Hispanic
Council (2022), os Reis de Castela e Aragão recorreram ao Papa Alexandre VI, seu
aliado prévio, que prontamente expediu, entre maio e setembro de 1493, as Bulas
Alexandrinas, através das quais “outorgou a Castela o direito de explorar as
Américas, reclamar como próprios os territórios descobertos e mandar homens alí
com a missão de evangelizar”.
Os quatro documentos que compõem as Bulas Alexandrinas também
confirmam a posse dos territórios conquistados por Castela na Índia, dos territórios
conquistados por Portugal na África e estabelecem um meridiano dividindo os
territórios encontrados nas Américas, localizado a 100 léguas da Ilha de Açores, no

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qual as terras à direita do meridiano pertenceriam a Portugal, e as à esquerda, a
Castela. (HISPANIC COUNCIL, 2022)

Figura 7 - Meridiano estabelecido pela Bula Inter caetera, 1493

Fonte: Díaz Villanueva, s/d. Disponível em:


<https://diazvillanueva.com/tordesillas-reparto-del-mundo/tratado-de-tordesillas-mapa/>. Acesso em:
26 de mai. de 2023.

2.2.1. Tratados

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2.2.1.1. Tratado de Tordesilhas

Descontente com as decisões papais que destinavam a maior parte do


território do denominado Novo Mundo à Coroa de Castela e que feriam a divisão
anterior das novas terras descobertas e a descobrir, o rei português D. João II
negociou diretamente com os reis católicos de Castela-Aragão Isabel I e Fernando II
a fim de evitarem que uma guerra por territórios se instalasse entre os países.
(OFICINA DE TURISMO DE TORDESILLAS, s.d)
Desta vez, utilizando como base a ideia de um meridiano que cortasse o
Atlântico, foi elaborado um tratado que distribuísse as zonas de navegação e
domínio entre as duas Coroas. (HISPANIC COUNCIL, 2022)

No dia 7 de junho de 1494, na vila de Tordesilhas, Castela e


Portugal firmam um tratado que dividia o oceano Atlântico por meio de uma
linha traçada de polo a polo, a 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde,
ficando o hemisfério oriental para a Coroa de Portugal e o hemisfério
ocidental para a Coroa de Castela. (OFICINA DE TURISMO DE
TORDESILLAS, s.d, tradução dos autores)

Segundo Cartwright (2021), a decisão deslocava a linha divisória para o que


imaginavam ser “aproximadamente equidistante das ilhas de Cabo Verde e das
Índias Ocidentais”.

Figura 8 - Como seria a divisão territorial brasileira atual segundo o Tratado de Tordesilhas

Fonte: Estudo prático, 2012. Disponível em:


<https://www.estudopratico.com.br/o-que-foi-o-tratado-de-tordesilhas/>. Acesso em: 20 de abr. de
2023.

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Figura 9 - Meridianos divisórios estabelecidos entre Castela e Portugal nos séculos XV e XVI

Fonte: Estudo prático, 2012. Disponível em:


<https://www.estudopratico.com.br/o-que-foi-o-tratado-de-tordesilhas/>. Acesso em: 26 de mai. de
2023.

Neste ponto, é importante ressaltar que a passagem ao sul do continente


sulamericano e toda a extensão do Oceano Pacífico ainda era desconhecida por
ambos os países signatários do Tratado, já que a primeira viagem de
circunavegação do globo só foi realizada pelo português Fernão Magalhães, a
serviço de Castela, entre 1519 e 1522. Foi a partir dessas descobertas que foi
firmado o Tratado de Saragoça em 1529, que estendia a linha do Tratado de
Tordesilhas até o outro lado do globo e teoricamente colocou fim nas dúvidas e
disputas territoriais entre Portugal e Castela (E COSTA, 2019).
Na prática, entretanto, a falta de instrumentos que pudessem demarcar de
maneira precisa as linhas traçadas pelos Tratados, assim como a falta de
conhecimento da extensão real do novo continente descoberto, tornou tais Tratados
imprecisos e frágeis. E mesmo que Portugal tivesse por muito tempo mantido maior
foco em seu império marítimo afro-asiático enquanto Castela focava nas conquistas
de terras dos impérios meso-americanos, o Tratado de Tordesilhas continuou sendo
constante motivo de conflito entre as Coroas, já que estas sempre alegavam estar
em sua parcela de território ao explorar novas terras (E COSTA, 2019).

20
2.2.1.2. Tratado de Madrid

Apenas 6 anos depois de sua distribuição oficial pelo Tratado de Tordesilhas


que a porção territorial atribuída a Portugal foi oficialmente achada por Pedro
Álvares Cabral, em 22 de abril de 1500, e batizada de Terra de Vera Cruz por
Henrique de Coimbra, em 26 de abril de 1500. A divisão política interna da colônia
também demorou a ser realizada, e a foi diversas vezes: em 1531 pelo sistema de
sesmarias, em capitanias hereditárias em 1534 e Governo-Geral em 1549.
Segundo Goes Filho (2021), foram as grandes descobertas de metais e
pedras preciosas pelos espanhóis1, “para falar só da mais importante, o “Cerro de
Potosí”, descoberto em 1554, na atual Bolívia, com as imensas reservas de prata”,
além das riquezas dos impérios incas e astecas, que motivaram os portugueses a
procuraram com afinco metais e pedras preciosas durante os dois primeiros séculos
da Colônia, o que os levou a adentrar cada vez mais o continente e a ultrapassar a
linha de divisão territorial.
Desde os primeiros tempos da colonização, havia uma vaga ideia
de que o Prata e o Amazonas eram as fronteiras naturais do Brasil. No
Norte, os espanhóis nunca contrariam esse entendimento, até porque
reconheciam que só os portugueses estavam por ali (São Luís é de 1615;
Belém, de 1616) e apenas eles poderiam enfrentar os outros europeus que
tentavam se fixar no intrincado delta amazônico. A fundação de Caiena2, em
1634, barrava a subida portuguesa pela costa, que aí tinha um sentido
noroeste. Mas a entrada pelo caminho real do rio Amazonas ficava
escancarada aos lusos. (GOES FILHO, 2021, p. 89)

Ainda segundo Goes Filho (2021), “no Sul era diferente. Sempre os
castelhanos se opuseram à penetração portuguesa na região do rio da Prata”. Além
das infindáveis rixas pelo domínio da boca da bacia do Prata e pela posse da
Colônia do Sacramento, fundada em 1680 pelos portugueses a apenas 160km em
linha reta de Montevidéu na margem direita do Prata, e quase espelhando a posição
de Buenos Aires em relação ao rio; também havia a questão “das descobertas de
ouro na região do rio Cuiabá (1718), a oeste de qualquer tentativa de fixação da
linha de Tordesilhas pelo interior do continente”.

1
Tecnicamente, é apenas na Constituição de Cádis, também conhecida como Constituição
Espanhola de 1812, que o nome “As Espanhas” é adotado para a nação constituída pela união das
coroas de Castela e Aragão. Entretanto, a terminologia será adotada de acordo com a utilizada pelo
autor.
2
Fundada pelos franceses ao norte do rio Oiapoque, parte do atual território da Guiana
Francesa.

21
Um século antes, os espanhóis já haviam reagido às incursões dos
sertanistas de São Paulo nas reduções do Guairá, situado num meridiano
cerca de 300 quilômetros a leste de Cuiabá e a 700 de Guaporé. Agora, não
podiam ter dúvidas de que os mineradores paulistas tinham ultrapassado os
limites de 1494.O que deu certeza científica da grande penetração
portuguesa foi o mapa da América do Sul de Guillaume Delisle, de 1721. Ai
ficava claro que todo o rio Amazonas, o atual Centro-Oeste do Brasil e
Colónia do Sacramento estavam na parte espanhola da divisão das 370
léguas. (GOES FILHO, 2021, p. 90-91)

Figura 10 - Mapa da América Meridional de Guillaume Delisle, de 1721

Fonte: Biblioteca digital Luso-Brasileira, 2023. Disponível em:


<https://bdlb.bn.gov.br/acervo/handle/20.500.12156.3/14236>. Acesso em: 28 de mai. de 2023.

Ciente da fragilidade de sua soberania no território e dos limites da colônia, o


rei D. João V de Portugal, segundo Goes Filho (2021), “se convenceu da
necessidade de dar bases técnicas a sua diplomacia territorial”. A Espanha, por
outro lado, tinha maior foco nos territórios incas, maias, astecas e nas minas de

22
prata de Potosí do que na questão fronteiriça, de forma que “a diferença de
conhecimentos teóricos e práticos pesou nas futuras negociações”.
Mesmo assim, já havia menções a esta questão em correspondências entre
as casas reais e no Conselho Ultramarino desde 1720. “Mas o fato promissor que
abriu a possibilidade de acordo foi a ascensão de Fernando VI, genro de D. João V,
em julho de 1746”. No ano seguinte finalmente se iniciaram as negociações oficiais,
com cinco pontos-alvo principais para cada uma das partes. (GOES FILHO, 2021)
Para Portugal, segundo Goes Filho (2021, p.132-133), os principais pontos
eram:

1) Já que se revelava caríssima a manutenção de Colônia e que nunca


conseguira ligá-la por terra, de forma estável, às mais sulinas povoações
brasileiras, como Laguna e Rio Grande, admitia-se cedê-la à Espanha c
troca de alguma área valiosa para a economia e segurança do Brasil.

2) A melhor, a região dos Sete Povos das Missões, é praticamente a metade


oeste do atual Rio Grande do Sul. Sem as Missões, o sul da colônia
portuguesa se reduziria a uma faixa de 10 léguas de largura, com mínimas
possibilidades de se criar riqueza e máximas dificuldades para se defender
de uma invasão. É o que se vê, por exemplo, no mapa de d'Anville, de
1748. Com as Missões, sim, seria possível, nas palavras de Alexandre, "dar
fundo grande ao Estado do Brasil".

3) Era preciso haver um equilíbrio entre as bacias dos dois grandes rios do
continente. Se os espanhóis ficassem com o domínio absoluto do Prata, era
mais que justo que a bacia amazónica se integrasse ao Brasil. Há muitas
décadas, os portugueses haviam ocupado a boca e o vale do Amazonas
navegavam seu leito e afluentes. Missões de religiosos lusos,
especialmente jesuíticas, tinham se estabelecido, desde a metade dos
Seiscentos a margens de vários rios. Mais recentemente, os carmelitas
haviam fundado missões no Solimões, até próximo à foz do rio Javari. Para
não falar da viagem de Pedro Teixeira, que fixou o limite entre as duas
Coroas no Napo.

4) A área das minas de Goiás, de Cuiabá e de Mato Grosso (o rio Guaporé)


teria que ficar na soberania lusa. Haviam sido descobertas e ocupadas
pacificamente por luso-brasileiros, que as frequentavam pela estrada fluvial
das monções e depois pelas trilhas dos tropeiros. A ligação entre os rios
Paraguai e Guaporé era o fecho da linha de limites fluviais. Fundamental,
diz Alexandre, "para arredondar e segurar o país”.

5) Ao contrário da indemarcável linha geodésica do Tratado de Tordesilhas, os


limites deveriam ser rios e montanhas perfeitamente conhecidos para que
não houvesse dúvida no terreno.

Enquanto aos objetivos dos espanhóis, Goes Filho (2021, p.133-134) elenca:

1) A Colônia do Sacramento estava no centro dos interesses espanhóis, tanto


pela ameaça que representava (não se deve esquecer que Portugal era um
aliado da Inglaterra, frequente inimiga da Espanha) como por ser a base
atlântica do contrabando da prata de Potosi. O diretor da Secretaria de
Estado explica: "A utilidade especial para a Espanha consiste em tirar-lhes

23
[dos portugueses] Colônia e o famoso contrabando pelo rio da Prata [...]
Colônia não lhes traz proveito e nos destrói." O controle das duas margens
do Prata era, ademais, de interesse estratégico. O negociador espanhol
chega a dizer que Colónia era mais importante do que Gibraltar.

2) Nas outras regiões americanas, era preciso dar um basta nas ocupações
lusas. Os espanhóis não diziam, mas a prática mostrou que não era um
assunto de vida ou morte a grande linha de limites no Oeste e Norte do
Brasil. Quem estava junto a esta era não o Estado espanhol, mas sim as
missões jesuíticas. Estabelecidas em todo o centro do continente, iam do
Prata ao Amazonas: Tapes, Uruguai. Sete Povos, Chiquitos, Moxos,
Maynas… Dizia Eduardo Prado que, se tivessem vingado, teriam (quem
sabe) criado um grande Estado teocrático no interior da América do Sul, do
Atlântico ao Caribe. E (isto sim se sabe) os inacianos na Espanha eram
quase um Estado à parte, cujos interesses nem sempre coincidiam com os
da Coroa.

3) Há vários documentos espanhóis que frisam a necessidade de as


negociações considerarem o Tratado de Tordesilhas. Elas devem, diz um
texto de D. José, "conter-se dentro dos limites da demarcação [de 1494],
conformando-se com o conferido pela Santa Sé [em 1506] e com o
estipulado entre as duas Coroas". A ideia de um acordo totalmente novo e
baseado em outros princípios, o uti possidetis e as fronteiras naturais, era
portuguesa e demorou a ser aceita.

4) A Espanha sempre almejara a unificação da Península Ibérica: uma questão


de tempo e oportunidade. Os sucessivos casamentos entre as casas reais
eram o caminho pacífico para tal objetivo. No caso, o príncipe herdeiro
português era casado com uma princesa espanhola, e a rainha da Espanha
era portuguesa. Carvajal não deixa dúvidas sobre sua convicção: "A perda
de Portugal foi de sangue puro e balsâmico e, portanto, o ministro espanhol
que não pense na união [ibérica), sem intervalo, não conhece seu ofício ou
não tem lei." Era, pois, importante favorecer - como o faria um bom tratado
de limites coloniais - um ambiente amistoso na península. Todas as regiões
da Ibéria estavam unidas; só faltava o velho condado portucalense.

5) Já no plano inclinado do seu poderio, que baixava desde o "Siglo de Oro"


(os reinados de Fernando e Isabel, Carlos I e Filipe II), a Espanha
continuava a ser um dos protagonistas do jogo de poder europeu e uma
grande potência colonial. Nas Américas, herdara as vastas terras dos
astecas, dos maias e dos incas; no mundo, como se dizia, o sol nunca se
punha em suas possessões. Georg Friederici pensa que, em meados do
século XVIII, estava "fartada de terra". Podia, pois, ceder o que não
interessava muito, desde que conseguisse o que era mais importante:
Colônia e limites respeitados na América do Sul; paz e cooperação na
Península Ibéricas.

As negociações tiveram ainda algumas idas e vindas, e em 8 de fevereiro de


1749 foi enviado de Lisboa a Madri o Mapa das Cortes, mostrado abaixo, no qual é
demonstrada em uma linha vermelha a fronteira proposta. O mapa é quase exato e
apresenta grande similaridade com a realidade, além de apresentar as Missões
portuguesas como pontos de referência, porém, ainda assim, é distorcido no sentido
leste-oeste, fazendo parecer que a faixa territorial cedida pela Espanha fosse menor,
como pode ser visto na figura seguinte.

24
Figura 11 - Mapa das Cortes, de 1749

Fonte: Goes Filho, 2021.

25
Figura 12 - Mapa das Cortes sobre um mapa atual

Fonte: Goes Filho, 2021.

Assinado em Madri em 13 de janeiro de 1750, o Tratado apresenta em sua


folha de rosto decisões acerca da revogação de direitos territoriais entre os dois
signatários, para em seguida realizar as novas demarcações.

TRATADO DE LIMITE DAS CONQUISTAS ENTRE OS MUI ALTOS E


PODEROSOS SENHORES D. JOÃO V, REI DE PORTUGAL, E D.
FERNANDO VI, REI DE ESPANHA

Abolida a demarcação da linha meridiana ajustada no Tratado de


Tordesilhas de 7 de junho de 1494, se determina individualmente a raia dos
Domínios de uma e outra Coroa na América Meridional.

26
A de Portugal renuncia ao direito, que alegava ter, às ilhas Filipinas, pelo
dito Tratado de Tordesilhas e pela Escritura de Saragoça de 22 de abril de
1529 e cede à Espanha Colônia do Sacramento e o Território da margem
setentrional do rio da Prata, que lhe pertencia pelo Tratado de Utrecht, de 6
de fevereiro de 1715, como também a Aldeia de S. Cristóvão e terras
adjacentes, que tinham ocupado os portugueses entre os rios Japurá e Içá,
que desaguam no das Amazonas.
A de Espanha renuncia todo direito, que alegava ter, às terras possuídas
pelos portugueses na América Meridional ao ocidente da linha meridiana,
ajustada naquele tratado; e cede a Portugal todas as terras e povoações da
margem oriental do rio Uruguai, desde o rio Ibicuí para o norte, e outra
qualquer estabelecida pelos espanhóis na margem oriental do rio Guaporé.
(GOES FILHO, 2021, p. 153-154)

O Tratado de Madri apresenta em seus três primeiros artigos a dissolução dos


tratados anteriores, fixando que para Portugal ficaria o território já ocupado do Brasil,
enquanto para a Espanha, ficaram as Filipinas. Nos artigos IV a IX, são
estabelecidos todos os limites e fronteiras brasileiras. Para exemplificação foram
extraídos os artigos VI e VII:

ART. VI
Desde a boca do igureí continuará pelo álveo acima até encontrar a sua
origem principal: e dalí buscará em linha reta pelo mais alto do terreno a
cabeceira principal do rio mais vizinho que deságua no Paraguai pelo
sua margem oriental, talvez será o que chamam Corrientes, e baixará pelo
álveo deste rio até a sua entrada no Paraguai, desde a qual boca subirá
pelo canal principal que deixa o Paraguai em tempo sêco; e pelo seu
álveo até encontrar os pântanos que forma êste rio, chamados a Lagoa
dos Xarais, e atravessando esta Lagoa, até a boca do rio Jaurú.

ART. VII
Desde a boca do Jaurú pela parte ocidental prosseguirá a fronteira em linha
reta até a margem austral do rio Guaporé defronte da boca do rio Sararé
que entra no dito Guaporé pela sua margem setentrional; com declaração
que se os comissários, que se hão de despachar para o regulamento dos
confins nesta parte, na face do país, acharem entre os rios Jaurú e Guaporé
outros rios, ou balizas naturais por onde mais comodamente, e com maior
certeza, se possa assinalar a raia naquela paragem, salvando sempre a
navegação do Jaurú, que deve ser privativa dos portugueses, e o caminho
que êles costumam fazer do Cuiabá para Mato Grosso; os dois Altos
contraentes consentem e aprovam que assim se estabeleça, sem atender a
alguma porção mais ou menos de terreno que possa ficar a uma ou a outra
parte. Desde o lugar que na margem austral do Guaporé for assinalado para
este têrmo da raia, como fica explicado, baixará a fronteira por todo o
curso do rio Guaporé até mais abaixo da sua união com o rio Mamoré
que nasce na província de Santa Cruz de la la Sierra, e atravessa a missão
dos Moxos, e formam juntos o rio chamado da Madeira que entra na das
Amazonas ou Marañon, pela sua margem austral. (TRATADO DE MADRI,
1750)

Para Corrêa e Godoy (2013), “o Tratado de Madrid significou um acordo entre


as coroas ibéricas e consistiu, em linhas gerais, em reconhecer oficialmente os

27
territórios já ocupados por ambas as partes”. Os demais artigos (X ao XXVI), como
expõe Goes Filho (2021, p. 155).

explicam como se farão as permutas, esclarecem que os rios entre os dois


domínios são compartidos, vedam o contrabando, tratam do auxílio mútuo
em caso de ataques de terceiro, estabelecem que permaneçam em paz as
colônias, durante eventuais guerras europeias, e determinam que os
comissários a serem nomeados façam mapas das porções demarcadas.

Figura 13 - Limites do Tratado de Madri (1750)

Fonte: Corrêa e Godoy, 2013

28
Figura 14 - Mapa com dimensões corretas comparando o domínio português segundo os Tratados de
Tordesilhas e de Madri

Fonte: Fundação Alexandre de Gusmão, s.d. Disponível em:


<https://antigo.funag.gov.br/chdd/index.php/component/content/article?id=114>. Acesso em: 28 de
mai. de 2023.

O Tratado, entretanto, não agradou a todos. Corrêa e Godoy (2019) expõe


que
Se, por um lado, a permuta estabelecida em Madri parecia
vantajosa e “agradável” às Coroas, por outro, ela não foi recebida da
mesma forma pelos nativos e jesuítas que habitavam os Sete Povos.
Quando os decretos dos artigos do Tratado exigiam a permuta e as
transferências dos pertences para os lugares citados, a contrarreação de
Sete Povos das Missões foi inesperada.

29
Pouco depois do início da vigência do Tratado de Madri até as vésperas da
assinatura do Tratado de El Pardo, se deram as chamadas guerras guaraníticas de
1754 a 1760. O levante se deu pelos jesuítas espanhóis que controlavam a região
de Sete Povos das Missões através de suas reduções e pelos indígenas que nestas
habitavam e que temiam ficam à mercê dos bandeirantes paulistas ou dos
encomenderos paraguaios. Desta forma, para defender suas fazendas e seus
interesses, os jesuítas armaram os indígenas para que eles enfrentassem os
colonizadores. Entretanto, as coroas de Portugal e da Espanha se uniram para
silenciar a rebelião que estava impedindo que seu acordo fosse posto em prática e
para tal, mais de trinta mil indígenas foram dizimados ou escravizados. (PORTAL
DAS MISSÕES, 2022)

2.2.1.3. Tratado de El Pardo

Oficialmente, o Tratado de Madri teve vida curta. Alexandre de Gusmão, o


diplomata responsável pelos estudos, preparativos e negociação do Tratado foi
secretário do rei português D. José I de 1730 a 1750, sendo sucedido em seu cargo
em 1750 pelo Marquês de Pombal, que nutria por Gusmão certa antipatia e “era
contra o Tratado de Madri porque não concordava com a cessão de Colónia do
Sacramento - talvez pelo passado de lutas e mortes, talvez pelos lucros do
contrabando”. (GOES FILHO, 2021)

O fato é que, em 1761, os dois países assinaram o Tratado de El


Pardo, pelo qual o Tratado de Madri e os atos dele decorrentes ficavam
“cancelados, cassados e anulados como se nunca houvessem existido, nem
houvessem sido executados". Voltava-se, assim, pelo menos em teoria, às
incertezas da divisão de Tordesilhas, tão desrespeitada no terreno quanto
alterada por acordos posteriores. Na prática, nenhuma nação pretendia
renunciar a suas conquistas territoriais ou a seus títulos jurídicos. Tanto é
assim que foi exatamente no período pombalino que se construíram e
reconstruíram os grandes fortes que até hoje balizam as fronteiras do Brasil,
todos a oeste de Tordesilhas: Macapá, São Joaquim São José de
Marabitanas, São Gabriel da Cachoeira, Tabatinga, Príncipe da Beira,
Coimbra... O Tratado de El Pardo apenas criava uma pausa durante a qual
se esperaria o momento propício para novo ajuste de limites. (GOES
FILHO, 2021, p. 159)

30
2.2.1.4. Tratado de Santo Ildefonso

Os tratados e acordos que ocorreram nos anos do governo de Pombal foram


os grandes motins para a definição do contorno e a construção das fronteiras do
território brasileiro, mesmo que nos séculos seguintes, tenha sido alterado os
contornos e os limites do Brasil “...resultado dos embates de natureza econômica e
ideológica travados entre as Coroas portuguesa e espanhola por estabelecimento de
posse e domínio territoriais...”. (CORRÊA E GODOY, 2013, p. 16). E ainda afirmam:

O período pombalino pode ser concebido como momento de grande


transformação social. As estruturas econômicas, políticas e culturais
expressaram, naquele momento, o arrefecimento do sistema baseado em
relações sociais feudais e anunciavam a transição para um sistema
alicerçado na lógica do mercado e da concorrência comercial. (CORRÊA E
GODOY, 2013, p.16).

Diversos conflitos se seguiram à assinatura do Tratado de El Pardo, em


especial nas porções que englobam o atual território do Uruguai e do sul do Brasil,
com as tomadas da Colônia de Sacramento (1762) e da ilha de Santa Catarina
(1777), além de partes do Rio Grande (1763) pelos espanhóis que foram
posteriormente retomadas pelos portugueses (1776). (FARIA; OLIVEIRA, 2016)
Em 1777, com a morte do rei português D. José I e a consequente queda de
seu secretário, o Marquês de Pombal, e ascensão ao trono da rainha D. Maria I -
sobrinha do rei espanhol D. Carlos III -, o cenário político ibérico torna-se mais
favorável ao cessar fogo. Assim, o Tratado Preliminar de Paz e Limites assinado em
Santo Ildefonso, em 1º de outubro de 1777. (FARIA; OLIVEIRA, 2016)
Os limites estabelecidos pelo Tratado de Santo Ildefonso segue por base os
delimitados por seu antecessor assinado em Madri, mas desta vez, ao invés de
comitivas estrangeiras europeias, a demarcação foi feita pelos próprios
luso-brasileiros e pelos hispano-paraguaios, através de quatro Divisões que
acompanhassem os acidentes geográficos de ambos os lados das fronteiras. Além
disso, para cessar os conflitos entre as coroas, neste Tratado Portugal cede os
territórios de Colônia de Sacramento e de Sete Povos das Missões, e recupera a ilha
de Santa Catarina. (FARIA; OLIVEIRA, 2016)

31
2.2.1.5. Outros Tratados

Anos depois, em 1801, Portugal e Espanha acabam por guerrear novamente,


desta vez em seus territórios natais na Península Ibérica e, em retaliação, Portugal
mais uma vez retoma a Colônia de Sacramento. Neste mesmo ano é assinado o
Tratado de Badajoz, no qual as duas coroas finalmente acertam os territórios de
suas colônias, com a Espanha ficando com a Colônia de Sacramento e Portugal
ficando com Sete Povos das Missões, definindo a conformação atual do estado do
Rio Grande do Sul. (RAMIREZ, s.d.)
O último Tratado assinado foi o Tratado de Petrópolis de 1903, entre Brasil e
Bolívia, com mediação então Ministro das Relações Exteriores José Maria da Silva
Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco, no qual fica acordada a posse do estado
do Acre pelo Brasil em troca de um montante em dinheiro pago à Bolívia e da
construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré para que esta tivesse uma via na
qual pudesse escoar seus produtos até o Oceano Atlântico. (RAMIREZ, s.d.)

2.3. História Brasileira: Ocupação e Definição Territorial

A ocupação e definição territorial brasileira se deu de três formas, sendo sua


porção leste, litorânea, a primeira a ser ocupada pelos conquistadores portugueses,
e sua porção oeste, ocupada pelos portugueses durante o período das monções e
bandeiras e pelos espanhóis através da bacia do Prata. As três serão abordadas
separadamente para melhor compreensão do leitor.

2.3.1. Ocupação leste

A Europa Ocidental nasceu das ruínas do Império Romano e da presença dos


povos bárbaros, e se modificou principalmente devido à expansão agrícola,
proporcionando produção excedente de produtos fundiários, que eram passíveis de
troca, acarretando também na expansão comercial e geográfica. Apesar disso, os
aspectos negativos também se demonstraram importantes, desencadeando uma

32
série de rebeliões, que resultaram na queda da população, escassez de alimentos,
epidemias (devidos às condições sanitárias), etc. (FAUSTO, 2006)
Segundo Fausto (2006), em meio à essa crise que a Europa vivenciava,
Portugal tomou a iniciativa de lançar-se em uma aventura marítima, visto que o país
já tinha boas experiências em comércio de longa distância e decidiu investir em sua
expansão marítima, que era facilitada pela sua posição geográfica (fácil acesso ao
Mar Mediterrâneo, proximidade às ilhas do Oceano Atlântico e à costa da África).
Popularmente conhecida como Grandes Navegações, as expedições tinham
o intuito de chegar às Índias, buscando ouro e especiarias, mas acabaram
desviando da já conhecida costa africana, rumo a oeste, até avistar o que seria a
terra brasileira, e ancorar no litoral da Bahia, em abril de 1500, na cidade em que
passou a ser conhecida como Porto Seguro. (FAUSTO, 2006)
Segundo Abreu (1976), não há nenhuma comprovação de que o
descobrimento do Brasil tenha mesmo sido antes de 1500, ainda que a história
conte com alguns relatos de viagens do francês Cousin (1488), do português João
Ramalho (1490), e do espanhol Hojeda (1499), os quais Abreu considera que “não
passa de uma mistificação”, sendo, portanto, “incontestável que o descobrimento do
Brasil foi em 1500”.
Até hoje há controvérsias sobre qual dos países pertencentes à Península
Ibérica, de fato, descobriu o Brasil: Portugal ou Espanha? Segundo Abreu (1976),
cronologicamente falando, foram os espanhóis, dando mérito a Lepe e Pinzón, que
avistaram a terra em fevereiro de 1500, enquanto Cabral só avistou em meados de
abril do mesmo ano. Porém, o mesmo autor diz que “nada devemos aos espanhóis,
nada influenciaram sobre nossa vida primitiva”, mostrando que, sociologicamente, os
portugueses são considerados os descobridores do Brasil.
Considerando o que foi dito, passaremos a tratar sobre o que, de fato, já
existia no Brasil (a população ameríndia, a cultura, a língua, etc.), e como se deu o
encontro destes com os portugueses que chegavam na colônia, a princípio, tratando
sobre a Ocupação na Costa Leste, mas, posteriormente, sobre a Ocupação Oeste
(na bacia dos Rios Paraná e Paraguai).
A população que dominava a faixa litorânea era indígena, em sua maioria,
tupis-guaranis. Os grupos praticavam caça, pesca, coleta de frutas, e agricultura
(feijão, milho, abóbora e mandioca), gerando uma economia de subsistência, com
poucas trocas de alimentos entre as aldeias, que mantinham mais contato através

33
de trocas de mulheres ou bens de luxo (penas de aves e pedras). Os portugueses
que chegaram nas embarcações, de certa forma, desestabilizaram a nação, afinal,
chegaram dominando as terras, profetizando sua religião, se relacionando com o
povo (resultando na população mestiça) e, até mesmo, trazendo doenças e
causando epidemias. (FAUSTO, 2006)
As três primeiras décadas posteriores à conquista e à colonização, desde a
chegada de Cabral, foram marcadas por grosseira exploração de recursos naturais,
sendo o pau-brasil recurso de maior notoriedade, sem criação de núcleos de
povoação no litoral, mas com feitorias (postos que representam interesses
político-militares e comerciais da nação). (ZORRAQUINO, 2005)
Com o tempo, a madeira do litoral foi se esgotando, e a Coroa Portuguesa viu
a necessidade de colonizar ainda mais a nova terra, com sua efetiva ocupação,
portanto, Martim Afonso de Sousa embarcou em uma expedição (1530 a 1533), com
o objetivo de patrulhar a costa, explorar a terra e estabelecer a colônia. O então rei
de Portugal, Dom João III, decidiu criar um sistema de Capitanias Hereditárias, que,
além de amenizar as ameaças de países concorrentes, proporcionaria uma forma
mais estável de ocupação. (FAUSTO, 2006; ZORRAQUINO, 2005)
O sistema das Capitanias Hereditárias consistia na divisão do que se
conhecia do Brasil em 15 porções de terra, com limites entre linhas paralelas às do
Equador, que iam do litoral à linha meridional estabelecida pelo Tratado de
Tordesilhas (assinado em 1494, onde Portugal e Castela - atual Espanha - firmaram
um tratado que dividia, de polo a polo, o Oceano Atlântico - e, consequentemente, o
Brasil). Essas terras foram entregues aos capitães-donatários, que eram pessoas de
pequena nobreza, burocratas e comerciantes, com ligação com a Coroa, que
passaram a ter poderes econômicos e administrativos através da posse da terra
(mas não propriedade). (FAUSTO, 2006)

34
Figura 15 - Divisão das Capitanias Hereditárias (e seus donatários)

Fonte: História de Tudo. Disponível em:


<https://www.historiadetudo.com/capitanias-hereditarias>. Acesso em: 28 de jun. de 2023.

Com a divisão realizada, a colônia passou a expandir sua produção. As


capitanias as quais se estabeleceram as maiores e mais bem sucedida benfeitorias
foram as de Pernambuco e São Vicente (atual Santos), sendo que, na segunda,
iniciou-se a fase da produção de cana-de-açúcar, com um modelo agro-exportador
baseado no tripé “monocultura, latifúndio e mão-de-obra escrava”, e na primeira,
apesar das lutas com franceses e holandeses, houve a consolidação portuguesa,
inclusive com a fundação da capital (Salvador). (ZORRAQUINO, 2005)
No primeiro momento, a colonização deu-se com um breve ciclo de
exploração/extração madeireira, mas a ocupação no litoral deu espaço também para
a produção canavieira. Apesar do sucesso das capitanias citadas anteriormente, as
outras treze fracassaram, colocaram a mostra a precariedade da administração da
colônia, o que foi um dos fatores que levou à Coroa a tomar a decisão de
estabelecer o governo geral do Brasil, que fixou um pólo na organização colonial,
mostrando esforços de uma centralização administrativa, mesmo que a ligação entre
as capitanias se mostrasse isolada. Os jesuítas chegaram nesse mesmo período, a
fim de catequizar os índios, e também foram prova de que a conexão das capitanias
limitava-se ao raio de ação dos governadores, sendo que o maior representante,
Manuel da Nóbrega, chegou a falar que “mais fácil é vir de Lisboa recado a esta
capitania do que da Bahia”. (FAUSTO, 2006)

35
Ao mesmo tempo em que se instalava o governo geral, notícias da existência
de pedras e metais preciosos no sertão eram noticiados pelos nativos, o que
motivou uma expedição para oeste, comandada por Francisco Bruzza de Spinosa,
durante o governo de Duarte da Costa, partindo de Porto Seguro, percorrendo
várzeas de rios como o Pardo e o São Francisco e inaugurando uma série de busca
pelas supostas minas sertanejas. (CHAVES, 2005)

As suposições da existência de ouro pelo interior, noticiada pelos indígenas,


mobilizaram a organização de outras entradas. Da Bahia, expedições
saíram do litoral, adentrando pelos sertões. Na segunda metade do século
XVII, as bandeiras de São Paulo chegaram ao vale do rio São Francisco. A
ambição de encontrar ouro e pedras preciosas nos sertões continuou a
impulsionar outros homens a desafiar as condições adversas do território
desconhecido. Assim, portugueses e seus descendentes no Brasil partiram
do litoral rumo ao sertão, levando suas representações já construídas sobre
o território: lugar distante, vazio, não colonizado e habitado por índios
selvagens e por animais ferozes. Ele oferecia a possibilidade de encontrar
riquezas, mas era um lugar aterrorizante. (CHAVES, 2005, p. 01)

Com a descoberta do ouro no sertão de Minas Gerais, o Brasil passou a ser


um grande exportador, chegando a 2,5 milhões de toneladas de ouro e 1,5 milhão de
quilates de diamante, em especial no século XVIII, o qual, inclusive, gerou
despovoamento de cerca de 40% de Portugal por conta de emigração em busca de
melhores condições de vida.
Porém, não foi apenas Portugal que sofreu impactos com essa descoberta.
Essa nova economia, de ouro e diamante, deslocou o eixo comercial da colônia para
o centro-sul do Brasil, formando assentamentos urbanos como Ouro Preto, Mariana
e Tiradentes, no chamado “Caminho do Ouro e da Prata”. O Nordeste, que contava
majoritariamente com fazendas agrícolas, viu seu poder se esvaindo, principalmente
em 1763, ano a qual a capital da colônia foi transferida de Salvador para o Rio de
Janeiro. (ZORRAQUINO, 2005)
A bem-sucedida Capitania de São Vicente, com algumas mudanças, passou a
ser a Capitania de São Paulo e Minas de Ouro, em 1709, e era o “centro propulsor
de penetração para o interior”. Porém, para vigiar melhor a região mineira e
solucionar os problemas paulistas, a Coroa optou, em 1720, por dividi-la em duas
capitanias, sendo Minas e São Paulo (sendo que a segunda abrigava as capitanias
de Goiás e Mato Grosso, separadas apenas em 1748, respectivamente por conta de
sua importância aurífera e militar-fronteiriça). (BELLOTTO, 1979)

36
Segundo Bellotto (1979), a porção de São Paulo, após a descoberta de ouro
em Minas Gerais, acabou perdendo a sua importância, tendo, inclusive, grande
perda de contingente populacional. Com a transferência da sede para o Rio de
Janeiro e seu restabelecimento como capitania autônoma, São Paulo, que havia
perdido sua atividade aurífera, acabou indo buscar sustento no abastecimento das
minas, no comércio de gado sulino e nas Monções (expedições fluviais).
No governo de Morgado de Mateus, tropas militares, Monções e agricultura
de subsistência asseguravam a economia da capitania paulista, e foi, justamente, no
roteiro da Monções, que se apoiaram as expedições de exploração e conquista da
região da Bacia do Prata, assim como a implantação do sistema de defesa do
Oeste, que será tratado em seguida. (BELLOTTO, 1979)

Figura 16 - Capitanias no inícios dos século XVIII e XIX

Fonte: Santa Rosa de Viterbo, 2013. Disponível em:


<https://santarosadeviterbo.wordpress.com/2013/03/17/capitanias/>. Acesso em: 29 de jun. de 2023.

2.3.2. Ocupação oeste - Portuguesa

O período que hoje conhecemos como ocupação do território brasileiro se


inicia com a chegada dos portugueses no litoral nordeste, e perdura até a
independência do país em 1822. É esse período que dita a formação desse “Novo
Mundo”, e suas diversas ramificações culturais, linguísticas e institucionais. Desse
modo, ao longo dos anos, a ocupação portuguesa se expande progressivamente,
sempre impulsionada pela procura e exploração dos recursos naturais.

37
Após a chegada dos espanhóis à América no século XVI, a coroa
portuguesa demonstra interesse em explorar e colonizar as terras da região do Rio
da Prata. Guedes (1997) discorre sobre esse fato.

O descobrimento do caudaloso estuário do rio da Prata (1511)


alvoroçou a corte portuguesa, no sentido de ampliar até ele os seus
domínios. As notícias da existência de um povo serrano rico em ouro e as
amostras de prata trazidas pelos descobridores certamente para tal
contribuíram; (p. 11)

A ocupação da maior parte do território ao oeste do território brasileiro


acontece por vias pluviais, sendo a principal delas o estuário do Rio da Prata, que foi
responsável pela exploração de locais que hoje conhecemos como Argentina,
Paraguai e o Oeste Brasileiro. Já a ocupação do antigo e atual território do estado
do Mato Grosso, se iniciou através do Rio do Prata, pelos espanhóis, que de acordo
com o Tratado de Tordesilhas eram detentores do território. Inicialmente Cabeza de
Vaca, e um soldado alemão, a serviço da Espanha, Ulrico Schmidl, foram os
primeiros a realizar esse trajeto. Em contrapartida, meio século depois, ao cumprir
ordens da coroa portuguesa, as monções bandeirantes deram início ao avanço
exploratório ao norte do que hoje conhecemos como o estado do Mato Grosso. Esse
fato foi a causa de diversos conflitos entre Portugal e Espanha.
Naquele momento, a intenção em ocupar a região do pantanal era com
propósito de delimitação territorial e local de passagem. Porém, mesmo se tratando
de uma região que apresenta ameaças oriundas da natureza, desde agentes
biológicos, até sua geomorfologia, o Pantanal acaba sendo ocupado de maneira
temporária. De modo geral, a busca pelos recursos naturais é o que impulsiona
essas expedições e ocupações dos territórios pantaneiro e matogrossenses.

38
Figura 17 - Mapa das Cortes, 1749

Fonte: Cartografia e Diplomacia do Brasil do século XVIII. Comissão Nacional para Comemorações
dos Descobrimentos Portugueses. Lisboa, 1997

A fim de aumentar sua defesa contra a Espanha e apropriar-se da região,


foram fundados Fortes às margens de rios em travessias estratégicas, como por
exemplo, o mais importante deles, o Forte de Coimbra que foi fundado em 1775, às
margens do Rio Paraguai. Outra apropriação de terras com grande importância para
a Corte Portuguesa, é a Colônia de Sacramento que foi fundada em 1680 em um
ponto estratégico, entre os Rios Uruguai e Paraná. Essa região só se tornou parte
do território Uruguaio após anos de conflito, em 1828.
As disputas territoriais entre Portugal e Espanha também foram algo de
grande influência na ocupação do território do centro oeste brasileiro. O
descumprimento do Tratado de Tordesilhas foi um fator de grande influência para
essa rivalidade entre os países, fato que também influenciou a Guerra dos Sete
Anos em (1756 - 1763), e acabou dando origem ao Tratado de Santo Ildefonso.

39
2.3.3. Ocupação oeste - Espanhola

Para compreensão de como se deu a ocupação da porção centro-oeste


brasileira pelos espanhóis, voltaremos ao início do século XVI, durante o reinado dos
reis católicos Isabel de Castela e Fernando de Aragão, já mencionado neste
documento.
Após o rei português Dom João II ter recebido a notícia da chegada de Pedro
Álvares Cabral à parcela de terras que lhe cabia segundo o Tratado de Tordesilhas,
o rei castelhano passou a buscar o caminho para chegar às Ilhas de Especiarias,
como eram chamadas as Ilhas Molucas - hoje pertencentes ao território da
Indonésia, sem que se tocasse o território da nova colônia pertencente ao rei de
Portugal, contornando este pelo sul e, para tal, enviou a expedição de Juan Díaz de
Solís e Vicente Yañez Pinzón. (FREGEIRO, 1879)

2.3.3.1. Colonização

O português Aleixo Garcia, participante da expedição de Juan Díaz de Solís


que buscava a rota para contornar o recém descoberto continente da América do Sul
de 1515 foi, segundo Costa (1999) apud Más (2021, p.48), o primeiro a adentrar o
Gran Chaco através do Pantanal. Enquanto a maior parte de seus companheiros,
incluindo o capitão Solís, foram mortos e comidos pelos indígenas Charruas na
costa do Uruguai, Garcia e mais dez sobreviventes conseguiram escapar para a ilha
que é atualmente denominada de Santa Catarina, onde ouviram sobre o fabuloso El
Dorado.
Estragó (2011) expõe que movido pelo desejo de encontrar metais preciosos,
Garcia dividiu o grupo de sobreviventes e, junto de mais cinco deles, rumou para o
interior do continente, alcançando a bacia do Prata e, através dessa, chegando ao
território inca do Alto Peru (atual Bolívia) em 1524. A figura abaixo ilustra a rota
percorrida pelo explorador, que foi assassinado na volta pelos guaranis na região do
atual Paraguai.

40
Figura 18 - Mapa da rota de Aleixo Garcia

Fonte: Muradás, 2008

O próximo conquistador espanhol a vir adentrar a bacia do Prata foi o nobre e


militar Pedro de Mendoza, que chegou à foz do Rio da Prata em 1536, onde fundou
a cidade de Buenos Aires. Entretanto, Mendoza veio apenas acompanhado de
outros militares, que não sabiam e não queriam trabalhar a terra para obter sustento,
de forma que entraram em embates com os indígenas locais para que estes lhe
fornecessem alimento. Acometido por doença, Mendoza decide voltar à Espanha e
deixa seu servo Juan de Ayolas como responsável por explorar mais a região.
(ESTRAGÓ, 2011)
Ayola também divide sua expedição ao adentrar o Chaco: enquanto segue
mais adentro do continente, deixa Domingo Martínez de Irala com instruções para
aguardar seu retorno. Devido a demora da expedição em voltar, um terceiro grupo,
chefiado por Juan de Salazar de Espinoza, sai de Buenos Aires levando provisões e
se junta ao grupo de Irala, que precisa voltar rio abaixo em relação ao local de
espera combinado para reparo de navios. Neste local, que estava sob o comando do

41
cacique Caracará, em 1537 Mendoza e Salazar firmam aliança com o cacique e
Salazar funda o Forte de Nossa Senhora de Assunção. (ESPÍNOLA; QUEVEDO,
s.d).
Nos anos seguintes, os indígenas carijós apresentaram resistência quanto à
presença do forte de Assunção, mas acabaram subjugados pelos espanhóis. A
forma de selar a nova “aliança” foi através do costume nativo de tovaja, ou seja, ao
se casarem com as mulheres indígenas, os espanhóis obtinham também parentes
políticos que lhes serviam nas tarefas domésticas e da terra em troca de defesa
contra seus inimigos. (ESTRAGÓ, 2011)
Ao perceberem que o grande território da cisplatina não possuía de fato
metais preciosos, e que a região que de fato os possuía já havia sido dominada por
Pizarro, os espanhóis se firmaram definitivamente em Assunção e a província do
Paraguai passou a ser utilizada para agricultura. Para tal, precisavam de mão de
obra e, por pressão de seus companheiros conquistadores, ao final de seu mandato
como governador, em 1556, Irala passa a aplicar o sistema de encomiendas já
utilizado pelos espanhóis nas Antilhas. (RIBEIRO, 2020)

A produção colonial espanhola foi organizada a partir da exploração


da mão-de-obra indigena. A encomienda consistia na exploração dos
nativos como servos nos campos e nas minas. A Coroa encomendava a
captura de indígenas a um intermediário - o encomendero - e os distribuía
aos colonizadores, que recebiam o índio como seu servo. A servidão era
justificada como um pagamento de tributos, feito pelos índios em forma de
serviços, por receberem proteção e educação cristã. O encomendero, por
sua vez, transferia parte dos tributos para a Coroa. (MURADÁS, 2008,
p.105)

O controle dos indígenas era difícil devido à pequena proporção que os


espanhóis representavam em relação a estes. Porém em 1575 chega o frei
franciscano Luis Bolaños, que percorreu a região do Guairá a fim de pacificar os
indígenas através da catequese, da evangelização e da doutrinação de acordo com
o modo de vida “humanizador” dos europeus. Bolaños aprendeu o idioma guarani,
inventou sua forma escrita, passou a pregar o cristianismo na língua nativa e assim
conseguiu reunir 1300 indígenas e fundar em 1580 a redução de Altos, a 40km da
cidade de Assunção. (ESTRAGÓ, 2011)
Bolaños seguiu fundando diversas outras reduções ao longo do território da
província do Paraguai, principalmente a norte e a leste de Assunção. Nas reduções,
o trabalho indígena era obrigatório, comunitário e dividido por gênero; cabendo aos

42
homens além do trabalho na terra para subsistência e para os encomenderos, que
variava de acordo com o povoado, as oficinas de carpintaria, forja, ourivesaria,
olarias, trapiches de açúcar, entre outros; e às mulheres cabiam os cuidados da
casa, dos filhos, de fiação, tecelagem, buscar lenha e água para a casa. Além disso,
durante o período em que os homens trabalhavam para os encomenderos, as
mulheres deviam ajudar no cuidado da terra durante a época de plantio e colheita
para a subsistência do povoado. (ESTRAGÓ, 2011)
Em 1592 a região do Paraguai teve pela primeira vez um adelantado nascido
na América e escolhido via voto, Hernando Arias de Saavedra, mais conhecido
como Hernandarias, que se destacou por sua política de proteção aos indígenas,
indo contra as tradições das encomiendas, e por conseguir a autorização do rei para
a instalação de reduções pelos jesuítas (CABALLOS, s.d)

Com isso pretendia dar um refúgio seguro aos índios que estavam
morrendo nas incursões dos bandeirantes portugueses. O Rei autorizou e
em menos de vinte anos foram erguidas treze reduções indígenas na
província do Guairá que agruparam mais de cem mil indígenas. Anos
depois, devido aos contínuos ataques dos traficantes de escravos
portugueses, esses assentamentos tiveram que ser transferidos para o local
da futura província argentina de Misiones. (CABALLOS, s.d, tradução dos
autores)

Outra de suas propostas aceitas pelo rei foi a divisão do território,


especificamente a criação de um governo na região de Guairá (atual estado
brasileiro do Paraná), pois esta estava sofrendo com muitos ataques vindos dos
bandeirantes, além de outras localidades que eram assoladas por ataques de
indígenas Guaicurus e Paiaguás. Entretanto, em 1616, quando a divisão é
concretizada, ela inclui as cidades de Villa Rica del Espíritu Santo, Ciudad Real,
Santiago de Xerez e a capital, Assunção. (ESTRAGÓ, 2011)

43
Figura 19 - Mapa de 1703 de Guillaume Delisle retratando a extensão do Paraguai, Chile e
Terra de Magalhães (Argentina)

Fonte: Meister Drucker, s.d. Disponível em:


<https://www.meisterdrucke.pt/impressoes-artisticas-sofisticadas/Guillaume-Delisle/1065196/Mapa-do
-Paraguai,-Chile-e-Terra-de-Magalh%C3%A3es-(Argentina)-(gravura.html>. Acesso em: jul. de 2023.

2.3.3.2. As reduções de Itatim

Vale constar que em 1580 começou a União Ibérica, ou seja, união das
coroas da Espanha e de Portugal sob um mesmo monarca, que durou 60 anos.
Durante este período, a divisão do território das colônias foi suspensa, o projeto
expansionista espanhol perdeu forças e as incursões portuguesas saíram da
clandestinidade. Neste intervalo, em 1629 houve a mais violenta das bandeiras
encabeçada por Antônio Raposo Tavares, na qual milhares de indígenas guaranis
foram capturados; as várias campanhas de Tavares acabaram por destruir as

44
reduções do Guairá, inclusive as vilas espanholas de Ciudad Real e Villa Rica, em
1633. (ESTRAGÓ, 2011)
A porção sul do atual Mato Grosso do Sul era anteriormente chamada de
região de Itatim, devido a um dos povos indígenas que a habitavam. Apesar de as
excursões de Aleixo Garcia e Domingo Martínez de Irala terem atravessado este
território, não fixaram assentamento e por muito tempo foi objeto de disputa entre os
espanhóis e os portugueses apenas como lugar de passagem e de catequese.
Mesmo a cidade de Santiago de Xerez e as encomiendas distribuídas ao seu redor
demoraram a sair do papel e foram fixadas na transferência de 1599 para “as
proximidades do rio Monterey, na região compreendida entre os rios Aquidauana e
Miranda. Os Guarani do Itatim viviam perto, mas não no mesmo povoado”.
(CHAMORRO; COMBÈS, 2015)
Os Itatim estavam entre os primeiros grupos indígenas a serem contatados
pelos espanhóis, através das tentativas de catequização de Bolaños rio Paraguai
acima em 1579, mas por se localizarem a mais de 400km de Assunção,
conseguiram manter seus costumes e sua liberdade por mais tempo. Das reduções
instaladas pelos franciscanos, a que se localizava no atual Mato Grosso do Sul foi a
de Perico, integrada pela população não guaraní dos indígenas Ñuara e fundada
aproximadamente em 1582. (CHAMORRO; COMBÈS, 2015)
Os jesuítas, no entanto, tiveram sucesso em estabelecer suas reduções na
região após 1630, pois estas se apresentavam como “refúgios” para os indígenas
que fugiam tanto dos encomenderos, apoiados pelos franciscanos e pelo povoado
de Santiago de Xerez, quanto dos bandeirantes paulistas que assolaram a região do
Guairá. (CHAMORRO; COMBÈS, 2015)

Sob a pressão dos bandeirantes, os jesuítas deslocaram as


reduções do Itatim da parte oeste do atual Mato Grosso do Sul para o norte
da região oriental do Paraguai, até as margens do rio Jejui (CORTESÃO,
1952, p. 3). No entanto, a segunda fase de evangelização no Itatim foi
efêmera, devido, principalmente, à desagregação contínua e generalizada
dos indígenas reduzidos. Essa fragmentação tinha duas explicações: a
ausência prolongada dos jesuítas das reduções e as malocas dos paulistas,
que enganaram o próprio cacique principal, Ñanduavusu (SUSNIK,
1979-1980, p. 163). (apud CHAMORRO; COMBÈS, 2015, p. 565)

Mesmo assim, nem todos os indígenas da região aceitaram de bom grado


integrar as reduções, tendo vários grupos de diversas etnias oferecido resistência ou
se debandado para outras regiões, e após algum tempo, até mesmo muitos dos

45
Itatins reduzidos após perceberem que os padres “além de prejudicar a liderança
tradicional indígena, não impedia a invasão dos bandeirantes”, de forma que o
controle dos jesuítas na região durou menos de três décadas, e o foi “de maneira
descontínua e em número provavelmente insignificante frente à população que
permaneceu fora das reduções”. (CHAMORRO; COMBÈS, 2015)

2.3.3.3. Definições de fronteiras

Ao fim do século XVII, a pobreza assomava a população geral da província do


Paraguai, que fugia dos campos para Assunção, abandonando fazendas por medo
dos indígenas revoltosos que “entravam e saíam do território sem ser sentidos”, os
conselheiros municipais, ou cabildantes, de Assunção reclamavam ainda
especialmente do permissão que a Coroa havia concedido à Companhia de Jesus
para beneficiar e comercializar a erva mate, “que era o principal item do Paraguai,
mercadoria e moeda ao mesmo tempo”. (TELESCA, 2011)
A maioria da população, ou seja, aqueles que não tinham encomiendas ou
eram cabildantes, não possuíam terra própria. Além de trabalhar em terras alheias,
deviam servir nas guarnições fronteiriças para proteger a província, além das
incursões ao Chaco e de serviços para beneficiar a erva. Desta forma, um tipo
especial de unidade familiar centrado na mulher surgia, pois “os homens podiam
passar um ano inteiro fora de casa, o que fazia com que as mulheres tivessem um
papel fundamental na manutenção de seus lares”. (TELESCA, 2011)
Telesca (2011) cita que a forma encontrada para tentar povoar a província foi
a doação de “mercedes reais” ou “sessões reais”, concedidas especialmente para
membros da elite e militares, tanto para servirem de estâncias quanto para serem
trabalhadas . Das distribuídas entre 1714 e 1726, é interessante notar a menção
pelo autor do território da atual Campo Grande:

Em relação à localização geográfica das outorgas, a maioria estava


localizada no litoral norte de Assunção, na região compreendida pelos
municípios Tapu'ã, Campo Grande, Mbayué, Tarumandy, Cañada de Garay,
Salinas (mais de 30 outorgas); vales que ficavam ao sul do rio Salado.
(TELESCA, 2011, p.101, tradução dos autores)

46
As revoltas comuneras, ocorridas entre 1717 e 1735 tiveram início por
embates políticos entre as elites paraguaias por poder e pela supremacia na venda
de erva mate, mas em sua segunda fase, acabaram se tornando um levante popular
que clamavam pela expulsão dos jesuítas, a quem acusavam de não seguir as leis
de comércio de erva mate, culpavam pela pobreza por não permitir a encomienda
dos indígenas sob sua proteção, e se ressentiam por ocuparem grandes partes de
terra; também se revoltaram contra os abusos do vicerrei e da própria Coroa. Apesar
dos levantes dos crioulos comuneros terem fracassado, o rei Carlos III da Espanha
acabou por assinar em 1767 a expulsão da ordem dos jesuítas. (TELESCA, 2011)
Estas revoltas, entretanto, não influenciaram nem no fortalecimento das
fronteiras e nem no nível de vida da população geral, pois se estavam todos
“apertados”, isso se dava mais pelos avanços dos indígenas, pois

Ao norte do rio Manduvirá, o controle pertencia, fundamentalmente,


aos mbayás, aos chanés e aos guanás. A oeste do rio Paraguai, outros
povos indígenas se deslocavam livremente, como os payaguás, os
mocobíes e os abipones. A leste, o território pertencia ao grupo denominado
monteses, ou seja, Guarani ainda "infiéis". (TELESCA, 2011, p. 114,
tradução dos autores)

Além disso, os homens costumavam passar mais tempo nos ervais e nas
guarnições do que em suas terras. No intervalo de seu governo, de 1740 a 1747,
Rafael de la Moneda começou a intensificação do controle fronteiriço, adicionando
mais 8 fortes além dos 11 já existentes, além de um povoado que se consistia
“exclusivamente com população parda livre, para servir de parapeito às incursões,
sobretudo, dos mbayás. Seu nome era bastante revelador: Emboscada ou Cambá
retã (lugar dos negros, em guarani)”. (TELESCA, 2011)
Em 1761, o Paraguai não jesuítico incluía menos de 50% do total dos
habitantes da província. Desta população, a maioria vivia “esparramada pelos
campos”. Fora de Assunção, havia apenas outras duas cidades, Villa Rica (hoje
Villarrica) e Curuguaty. A ocupação do território foi se dando pela outorga de mais
mercedes, sendo que no período de 1741 a 1771, 258 porções de terra foram
distribuídas, com foco em povoar a zona das Cordilheiras após a fundação de
Emboscada.
Assim como Rafael de la Moneda estabeleceu um marco fronteiriço
com a fundação de Emboscada, San Just fez o mesmo com o
estabelecimento, em 1760, da missão de Belén, às margens do rio Ypané,
que acolheu os indígenas Mbayá no comando da companhia de Jesus.

47
Embora não envolvesse uma população espanhola, representou
posteriormente o ponto de partida para a reconquista da zona norte, desde
o Manduvirá até o rio Apa. (TELESCA, 2011, p. 117, tradução dos autores)

Desta forma, podemos observar na figura abaixo que, apesar de a província


do Paraguai teoricamente se estender até metade do território do atual Mato Grosso
do Sul, o território perdido na execução do Tratado de Madri, a leste do rio Paraguai
e a norte do rio Apa, se tratava de uma região cuja densidade populacional
hispano-paraguaia era praticamente nula, sendo provavelmente composta apenas
por alguns esparsos fazendeiros.

Figura 20 - Mudança na densidade populacional e no território paraguaio ocupado entre 1740 e 1790

Fonte: TELESCA, 2011.

2.4. História regional

48
As raízes da Guerra do Paraguai, que remontam a uma história de rivalidades
e malquerenças entre Brasil e Paraguai que se estendia por mais de três séculos,
principalmente relacionadas à questão de limites que Portugal e Espanha não
conseguiram resolver. O abandono da região sudoeste do Mato Grosso após a
destruição do Forte de Iguatemi agravou a situação. Em 1864, o governo paraguaio
aprisionou o Vapor Marques de Olinda, levando ao rompimento das relações com o
Brasil e à invasão do Mato Grosso pelo Paraguai. Seis meses depois, foi assinado o
Tratado da Tríplice Aliança, pelo qual Brasil, Argentina e Uruguai uniram-se contra o
Paraguai. A guerra durou quase seis anos e terminou com a morte de Solano Lopes.
O Tratado de Paz e Amizade Perpétua e de Limites entre Brasil e Paraguai só foi
assinado em 1872.(SOBRINHO, 2009).
Durante o período em que o Tratado de Madrid estava em vigor, as
comissões de limites não conseguiram chegar a um acordo sobre a localização do
Rio Igurei, que deveria fixar a fronteira entre Paraguai e Brasil. Felix de Azara, Chefe
da Comissão Demarcadora da fronteira estabelecida pelo Tratado de Santo
Ildefonso, sugeriu que o verdadeiro nome do rio Ivinhema seria Yaguarey, nome de
origem guarani de onde foram retiradas as duas vogais "a", ficando Igurey. Isso
gerou divergências entre a sub-comissão portuguesa e a hipótese foi rebatida com
forte argumentação pelo governador da Capitania que integrava a sub-comissão
portuguesa.(SOBRINHO, 2009).
Os desacordos entre as comissões de limites tornaram a tarefa de
demarcação difícil e sem sucesso. Após a Guerra do Paraguai, foi criada a
Comissão Mista de Limites Brasil/Paraguai para traçar a linha de fronteira entre os
dois países, e o Brasil cedeu ao Paraguai a parte onde o Rio Igurei era ponto de
referência, do lado direito do Rio Paraná, passando a ser esse ponto o Salto Grande
do Sete Quedas. Os trabalhos de demarcação foram iniciados em 1872, e a equipe
do Brasil foi coordenada pelo Visconde de Maracajú.(SOBRINHO, 2009).
Uma comparação entre os tratados de 1750 a 1872 não indica que a região
onde se localiza Amambai tenha alguma vez pertencido ao Paraguai. Desde o
Tratado de Madrid, Amambai pertencia aos domínios portugueses e brasileiros.
(SOBRINHO, 2009).
Thomaz Larangeira foi responsável pelo abastecimento de alimentos para os
trabalhadores da Comissão de Limites, o que o levou a percorrer uma vasta área
nas bacias dos rios Amambai e Iguatemi, onde descobriu grandes ervais nativos.

49
Após o término dos trabalhos da Comissão, ele permaneceu na região e iniciou a
extração de erva-mate em pequena escala, utilizando os caminhos abertos pelos
trabalhadores da Comissão. Com o sucesso do negócio, Larangeira buscou
autorização do governo para continuar, e em 1879 apresentou uma proposta de
arrendamento das terras onde se localizavam os ervais, que foi favoravelmente
recebida pelo então Governador da Província, Rufino Galvão, com quem trabalhou
na Comissão de Limites.(SOBRINHO, 2009).
Em 09 de dezembro de 1882 com o Decreto no 8799 o Governo Imperial
autoriza Laranjeira a colher erva-mate na Província de Mato Grosso, pelo prazo de
10 anos. (SOBRINHO, 2009).
Thomaz Larangeira obteve autorização para explorar os ervais da região de
Mato Grosso em 1880 e, em 1883, criou o primeiro arranchamento em Rio Verde.
Com o sucesso da atividade ervateira, Larangeira prorrogou o prazo do
arrendamento e aumentou a área de concessão. Ele também organizou a
Companhia Matte Laranjeira em 1891 para conduzir os negócios da erva-mate como
pessoa jurídica.
A concorrência pública para o arrendamento dos ervais entre o Rio Iguatemi e
o Paraná foi vencida pelo Banco Rio Mato Grosso em 1893, e a área foi transferida
para a Companhia Matte Laranjeira. A Companhia passou por uma transformação
em 1902 e transferiu o controle acionário ao capital estrangeiro com a constituição
da Sociedade "Larangeira Mendes & Cia". O povoamento da região foi formado por
indígenas, paraguaios e sul-rio-grandenses que vieram para trabalhar nos ervais e
pensar na agricultura e na posse da terra. (SOBRINHO, 2009).

2.4.1. História de Paranhos

De acordo com estimativas recentes, a cidade de Paranhos possui uma


população de aproximadamente 20.000 habitantes, configurando-se como um centro
urbano de porte médio, com uma predominância de população rural (IBGE, 2010).
A economia de Paranhos é essencialmente baseada na agricultura e na
pecuária. A renda da população está fortemente vinculada às atividades
agropecuárias, incluindo o cultivo de grãos, a produção leiteira e a criação de gado.

50
Além disso, há também trabalhadores que atuam no comércio local e em uma
variedade de serviços (IBGE, 2010).
A agricultura desempenha um papel significativo na economia de Paranhos,
destacando-se a produção de culturas como soja, milho, mandioca e feijão. A
pecuária bovina também possui uma presença importante na região, com a criação
de gado para corte e leite. A cidade conta com cooperativas agrícolas e
agroindústrias que contribuem para o desenvolvimento econômico local
(PREFEITURA DE PARANHOS, 2023).
Paranhos é uma cidade com uma rica diversidade cultural, influenciada
principalmente pela presença de diferentes grupos étnicos e pela herança indígena.
A cultura indígena tem uma representatividade marcante na região, com destaque
para a etnia Guarani-Kaiowá. Festas tradicionais, como o Toré (ritual indígena) e a
Festa do Peão de Boiadeiro, fazem parte do calendário cultural da cidade,
enriquecendo a vida dos seus habitantes (BARBIERO, 2018).
A cidade de Paranhos, localizada no estado do Mato Grosso do Sul, tem uma
história marcada pela ocupação indígena e pelo processo de colonização na região
(BARBIERO, 2018). Antes da chegada dos colonizadores europeus, a região onde
hoje está Paranhos era habitada por diversas etnias indígenas, com destaque para
os Guarani-Kaiowá. Os indígenas ocupavam e utilizavam o território de maneira
sustentável, estabelecendo suas aldeias e vivendo em harmonia com a natureza
(BARBIERO, 2018).
Com a expansão das fronteiras do Brasil durante o período colonial, a região
passou a ser alvo de interesse dos colonizadores. A partir do século XIX, a presença
dos brancos na área se intensificou, com a chegada de exploradores, bandeirantes e
fazendeiros em busca de terras férteis e recursos naturais (BARBIERO, 2018).
A colonização efetiva da região onde se encontra Paranhos ocorreu no início
do século XX, com a instalação de fazendas e a abertura de estradas de acesso. A
área foi oficialmente elevada a distrito em 1921, pertencendo ao município de Ponta
Porã (BARBIERO, 2018).
No entanto, o município de Paranhos foi criado somente em 1980,
desmembrando-se de Ponta Porã. O nome "Paranhos" é uma homenagem ao
político brasileiro José Maria da Silva Paranhos Júnior, mais conhecido como Barão
do Rio Branco, que foi uma importante figura na diplomacia brasileira e teve
participação decisiva na definição das fronteiras do Brasil (BARBIERO,2018).

51
Ao longo de sua história, Paranhos enfrentou desafios como conflitos
territoriais, disputas pela posse de terras e questões relacionadas aos direitos
indígenas. A cidade preserva até hoje uma forte influência da cultura indígena, com
a presença e participação ativa das comunidades Guarani-Kaiowá em suas
tradições e festividades (BARBIERO ,2018).
Atualmente, Paranhos se destaca como um município agrícola e pecuarista,
com uma economia baseada principalmente na agricultura de grãos, na produção de
leite e na criação de gado. A cidade busca conciliar o desenvolvimento econômico
com a preservação ambiental e a valorização da cultura local, promovendo a
inclusão e o respeito aos direitos dos povos indígenas.

2.5. Outros acontecimentos históricos

2.5.1. Guerra do Paraguai

A Guerra do Paraguai foi um conflito armado ocorrido entre 1864 e 1870,


envolvendo o Paraguai e uma aliança formada pelo Brasil, Argentina e Uruguai.
Essa guerra é considerada um dos maiores e mais sangrentos conflitos da história
da América Latina e não está correlacionada com o Forte Nossa Senhora dos
Prazeres do Iguatemi, seja no período da história, ou na localização geográfica do
conflito.

52
Figura 21 - Localização da disputa de território durante a guerra do Paraguai

Fonte: Disponível em:


https://profclaudio.wordpress.com/2010/01/21/quais-as-causas-da-guerra-do-paraguai/ Acesso em 22
de maio de 2023

Figura 22 - Mapa município de Paranhos e localização do Forte

Fonte: Wikipedia. Disponível


em:https://pt.wikipedia.org/wiki/Paranhos_%28Mato_Grosso_do_Sul%29. Acesso em: 25 de maio de
2023

53
A guerra teve início quando o presidente paraguaio Francisco Solano López,
motivado por ambições territoriais e conflitos diplomáticos, decidiu invadir o Brasil.
As hostilidades se estenderam rapidamente, e o Paraguai acabou lutando contra os
três países vizinhos. O conflito foi marcado por intensos combates e um alto custo
humano. O Paraguai, com um exército mal equipado e com recursos limitados,
enfrentou uma luta desigual contra as forças militares da aliança. O país sofreu
graves perdas humanas e de infraestrutura.
As batalhas mais notáveis da guerra incluem a Batalha de Tuiuti, a Batalha de
Curupaiti e a Batalha de Cerro Corá. Esses confrontos testemunharam estratégias
militares avançadas e um grande número de baixas de ambos os lados. A guerra
teve consequências profundas para todos os países envolvidos. O Paraguai, em
particular, sofreu enormes perdas populacionais, com estimativas de que a maioria
da população masculina adulta tenha sido morta durante o conflito. Além disso, o
país enfrentou uma devastação econômica e social que levou décadas para ser
superada.
O Brasil, por sua vez, consolidou sua posição como potência regional e
ampliou seu território ao conquistar áreas do Paraguai. A Argentina também obteve
ganhos territoriais e o Uruguai viu seu território preservado.A Guerra do Paraguai
teve impactos duradouros na história e na identidade dos países envolvidos. No
Paraguai, o conflito é lembrado como uma tragédia nacional, e suas consequências
moldaram o curso do desenvolvimento do país. Nos outros países, a guerra foi um
elemento importante na consolidação de suas identidades nacionais e na redefinição
das relações regionais.
A Guerra do Paraguai deixou um legado complexo e é um tema de estudo e
reflexão até os dias de hoje. Ela revela as dinâmicas e desafios enfrentados pelos
países sul-americanos na busca por poder, território e identidade ao longo do século
XIX.

2.5.2. Madame Lassare

O conflito devastador da Guerra do Paraguai arrasou a vida de inúmeras


pessoas, dentre as quais se encontravam inúmeros paraguaios, que inicialmente se
54
apegaram a uma falsa sensação de segurança sob a liderança do presidente Solano
López. Em meio ao caos e à brutalidade da guerra, a verdadeira natureza do regime
de López se tornou evidente, resultando em mortes cruéis de milhares de homens e
deixando um rastro de viúvas e órfãos, incluindo a de muitos estrangeiros que ali
viviam. Dorothéa Duprat de Lassare, mais conhecida como madame Lassare, foi
uma das testemunhas dessa tragédia.
Madame Lassare era francesa e foi compelida ao exílio como ato de vingança
de Solano López pela suposta traição de seu pai, marido e irmão. Após ser
resgatada por tropas brasileiras, escreveu relatos dos ocorridos e dos sofrimentos
passados por ela e outras mulheres durante a marcha. Suas memórias oferecem um
relato comovente de sobrevivência e resiliência.
No início da guerra, muitos homens e mulheres se recusaram a deixar seus
lares, levados pela falsa esperança de que o ditador Solano López não mataria seu
próprio povo. Entretanto, em meio à desordem instaurada, a realidade se mostrou
ser bem diferente.
Além dos milhares de homens mortos de maneira cruel por López, foi criada a
Comissão de Inquérito, equipe responsável pelas perseguições e assassinatos a
membros da burguesia, ministros, generais e outros indivíduos acusados de traição
ao governo, incluindo os estrangeiros residentes no Paraguai. O cônsul francês
Laurent Cochelet desempenhou um papel crucial na proteção dos estrangeiros, mas
o sofrimento de Madame Lassare teve início após sua partida de seu lar.
Ela foi forçada a abandonar sua casa em apenas 48 horas e se refugiar na
vila de Limpio juntamente com sua família. No fatídico dia 6 de julho de 1868, seu
marido, D. Francisco Lassare, foi brutalmente levado pela polícia da ditadura sob
acusação de traição. Dias depois, seu pai e irmão caçula tiveram o mesmo destino
cruel, deixando Madame Lassare e sua mãe desamparadas. Embora o cônsul tenha
oferecido apoio, Madame Lassare foi enganada por ele, que constantemente
afirmava que seus entes queridos estavam vivos e sendo bem tratados, para que ela
continuasse a enviar encomendas de roupas e comidas aos presos de sua família.
No entanto, mensageiros enviados ao exército confirmaram que eles haviam sido
assassinados.
No período de evacuação de Assunção, nos dois últimos anos da Guerra,
iniciou-se o processo de migração das mulheres que possuíam vínculo íntimo,

55
familiar ou político com os acusados de traição à pátria, conforme relatos de
Madame Lassare:

Dolorosa sorpreza me aguardava, ao encontrar-me alli com uma porção de


senhoras da melhor sociedade da capital atiradas, como eu, nos confins do
paiz !
A todas perguntei o que faziam naquelles desertos, que crime haviam
commettido para merecer tão cruel provação, responderam que tinham sido
destinadas para Ihú, que seus esposos, paise irmãos haviam
desapparecido, seus bens confiscados ou arrancados sob diversos
pretextos. (LASSARE, 1893, p. 47, SIC)

As denominadas “destinadas” eram encaminhadas sob escolta de soldados


paraguaios pela cordilheira central que cortava o país em toda a sua extensão, de
modo a castigá-las com a fome e o esforço físico extremo causado pelas
caminhadas extensas. Foram encaminhadas para a localidade de Ihú para,
posteriormente, serem concentradas em Espadín, onde sofriam das mais diversas
ameaças, ataques e saques por parte dos soldados e espiões paraguaios, de modo
a aumentar o sofrimento e a escassez do acampamento, conforme relatos:

Os espiões iam e vinham : invadiam as casas, roubavam mel e viveres em


umas, em outras pediam com instância roupa, comida ou qualquer outra
cousa que lhe apetecia e que ninguém tinha coragem de negar com receio
de ser violentada ; diariamente carneavam vaccas de particulares depois de
extinguirem o pouco gado das destinadas.
Por fim, em 19 de Setembro, levaram todos os animaes que encontraram no
districto. Dir-se-hia que os seqnazes de Lopez procuravam por todos os
meios inutilisar tudo, extinguir mesmo os poucos recursos que ainda existia
na villa que nos garantia a subsistência e assim tornar mais breve o nosso
martyrio. (LASSARE, 1893, p. 59-60, SIC)

Na madrugada de 24 de dezembro de 1869, circulou na localidade a notícia


de que tropas brasileiras haviam chegado ao alto da serra para resgatar as
destinadas. Mesmo desconfiadas de se tratar de uma emboscada de Solano López,
as mulheres marcharam em direção ao local. Foi quando, em 25 de dezembro,
encontraram com a expedição do tenente-coronel Antônio José de Moura, que as
levaram aos postos avançados dos brasileiros.
Um fato curioso ao se pensar na relação de Madame Lassare com o Forte
Nossa Senhora dos Prazeres do Iguatemi, objeto de estudo do presente trabalho, foi
que, enquanto tentavam uma de suas fugas do campo de concentração de Espadín,
as destinadas se refugiaram “junto a um cerrado próximo ao passo do rio Igatemi”
(LASSERRE, 1893).

56
2.6. As fortificações

As fortificações desempenham um papel crucial na história da


humanidade, sendo testemunhas do desenvolvimento da arquitetura e das
estratégias militares ao longo dos séculos, se destacam na paisagem e configuram
processos importantes nas técnicas de construção. Desde os primeiros
assentamentos humanos, o homem buscou meios de se defender contra invasões, o
que levou ao desenvolvimento dos Fortes na arquitetura (CUSTÓDIO, 2017).
Fortificações são projetadas para proteger áreas e cidades de ataques
militares, com destaque na paisagem para propiciar visibilidade das áreas
circundantes (OLIVEIRA, 2008). Em seu tratado, Vitruvio discute o planejamento e a
construção de cidades, incluindo a localização estratégica de fortificações e a
proteção dos assentos, na história da arquitetura das fortificações compreende-se as
Fortificações Medievais, Fortificações Renascentistas, Fortificações Modernas,
Fortificações Contemporâneas e Fortificações no Brasil Colonial. As primeiras
fortificações datam de milhares de anos atrás, quando as primeiras comunidades
construíram estruturas simples, como muralhas de pedra, para se protegerem de
ameaças externas.
Durante a Idade Média, as fortificações assumem uma importância ainda
maior devido às constantes guerras e invasões. Nesse período, viveram diversas
inovações arquitetônicas que fortaleceram a defesa das estruturas, utilizadas para
demonstrar poder e domínio do território, também serviram como uma expressão
política na história da arquitetura (CRUXEN, 2011). Como esclarece Figueroa
(1994), as fortificações medievais elevaram-se na paisagem, pois permitiam
vantagens claras, embora também imponha restrições aos habitantes da área
fortificada. Essas limitações são especialmente significativas quando se considera o
aspecto doméstico e agropecuário que caracteriza a maioria das fortificações
medievais.
As torres romanas fortificadas se constroem como parte dos murais
defensivos das cidades ou acampamentos. Estas torres, geralmente de forma
quadrada ou circular. As torres fortificadas permitem que os soldados vigiem os
vizinhos e defendam a cidade ou o acampamento contra ataques inimigos. Embora

57
o Tratado de Vitrúvio não trate especificamente das torres romanas fortificadas, ele
fornece princípios arquitetônicos e conhecimentos gerais que podem ser aplicados
ao planejamento e construção dessas estruturas defensivas. De acordo com o
estudo de Vellozo (2005), a utilização de fossos nas praças fortificadas demonstrou
um avanço significativo na arquitetura das fortificações, proporcionando maior
segurança e controle estratégico, pois dispunha de obstáculos que dificultava o
acesso do inimigo até as torres. As torres mais altas também demonstraram uma
mudança na estratégia de combate, pois permitia que os atacantes pudessem
visualizar melhor onde iriam atacar.
Com o advento do Renascimento, a arquitetura das fortificações passou por
transformações. Castro (2016), mostra que as fortificações militares apresentam
características arquitetônicas com traços retos, e geométricos, o autor destaca a
influência do pensamento renascentista na concepção e projeto das fortificações,
com uma maior ênfase na estética e no equilíbrio entre forma e função. Na figura
abaixo, pode ser visualizado um esquema de flanqueamento em um castelo.

Figura 23 - Esquema de flanqueamento em um castelo e em um forte abaluartado

Fonte: Castro, 2009

Fortificações renascentistas, como a Cidadela de Carcassonne, na França,


incorporam elementos arquitetônicos decorativos, como frontões e ornamentações,
sem comprometer sua eficácia defensiva. Alves (2018), esclarece que a construção
desse Forte não se limitava apenas em um castelo, mas para proteção e controle
territorial, e neste momento surgem os rios como um aliado para posicionar os
fortes, pois dificultava a passagem dos povos estrangeiros, um dos principais
avanços da engenharia neste período foi a construção de pontes levadiças, que
permitia o controle de quem entrava nas fortificações. Com o avanço da tecnologia

58
militar, as fortificações evoluíram para se adaptar às novas ameaças e estratégias
de combate.

Figura 24 - Cidadela de Carcassone, França

Fonte: Revirando Mundo, 2017. Disponível em:


<http://www.revirandomundo.com.br/2017/vamos-medieval-carcassonne/>. Acesso em: mai. de 2023.

Neste período, segundo Alves (2018), destaca-se a incorporação de


elementos como baluartes, fortificações em estrela e sistemas de escavação em
forma de túneis. Essas inovações arquitetônicas permitem uma melhor distribuição
de forças defensivas e uma maior capacidade de resistir ao fogo de artilharia. Além
disso, a introdução de materiais como concreto armado e aço permitiu a construção
de fortificações mais resistentes e duráveis. A utilização desses materiais permitiu a
criação de estruturas fortificadas de maior porte e com melhor capacidade de
suportar os impactos das armas modernas. Como mostra Rocha (2018), ao longo da
história, as fortificações passaram por uma evolução contínua, refletindo as
mudanças sociais, tecnológicas e estratégicas de cada época, como o reforço
defensivo com estradas, e uma hierarquia nas praças.
A Praça de Elvas (figura 25), localizada na cidade de Elvas, Portugal, é uma
notável obra de arquitetura de fortificação, composta por uma série de elementos
defensivos, composta por muralhas, baluartes, fossos e revelins, prática de forma
complexa e bem organizada, iniciadas em 1643. Rocha (2018), esclarece que a
construção da Praça de Elvas também envolveu o uso de materiais robustos, como
pedra e alvenaria, que conferiram solidez e resistência às estruturas defensivas.
O desenvolvimento dessa construção e técnicas da arquitetura militar tornou
possível cruzamentos de fogos, hierarquias fortificadas e áreas que ocupavam mais

59
espaço no exterior das praças. Os baluartes, em particular, são características
marcantes da arquitetura de fortificação da Praça de Elvas. Essas estruturas em
formato de estrela permitem uma melhor distribuição das forças defensivas e um
amplo campo de visão para monitorar e proteger os arredores. Além disso, os
baluartes ofereciam plataformas para artilharia, permitindo o uso efetivo de canhões
para repelir ataques inimigos. (ROCHA, 2018)

Figura 25 - Planta da Praça de Elvas e seus contornos/ Miguel Luiz Jacob, 1710-1771

Fonte: Entidade: Biblioteca Exército, 2023

A arquitetura das fortificações evoluiu de estruturas primitivas para obras


arquitetônicas complexas e adaptáveis. No contexto do Brasil colonial, as
fortificações conseguiram um papel fundamental na defesa das colônias contra
ameaças externas e piratas. A arquitetura das fortificações no período colonial
refletiu influências européias, principalmente portuguesas, combinadas com sintonia
às condições e materiais disponíveis na região.
De acordo com Custódio (2011), o Brasil, como colônia portuguesa, não
experimentou diretamente esse período medieval europeu, mas isso não significa

60
que não houve influências culturais e arquitetônicas remanescentes da época, o
autor enfatiza que os primeiros colonizadores portugueses que chegaram ao Brasil
traziam consigo uma forte herança cultural do medieval relacionada principalmente
às tradições e costumes, incluindo as festas religiosas populares do interior do país.
Através disso, é possível compreender a importância da relação entre forma e
função na concepção das fortificações, bem como a necessidade de incorporar
novas tecnologias e materiais para garantir sua eficácia defensiva, em que
trouxeram elementos importantes para a arquitetura, com avanços tecnológicos e
novas técnicas na construção.

2.7. As Fortificações no Brasil

As fortificações litorâneas atendem uma demanda de proteção e defesa do


território onde a ocupação colonizadora era premente, por outro lado o interior do
Brasil estava desprovido das ações que eram realizadas pela corte portuguesa.
As razões e fatos que contextualizam e avançam as ações para o interior do
Brasil iniciaram com o Tratado de Tordesilhas3 (1494) seguido dos Tratados de
Madri4 (1750), O Tratado de El Pardo5 e de Santo Ildefonso6 (1775), que foram os
atos que definitivamente interferem na conformação de defesa e definição da
fronteira brasileira pelos portugueses, embora o confronto com a coroa Espanhola
se deva frequentemente.
É, portanto, através desses tratados que melhor se identifica as ações de
ocupação e defesa de Marquês de Pombal nas fronteiras do Brasil com as
3
O Tratado de Tordesilhas, assinado na povoação castelhana de Tordesilhas em 7 de junho
de 1494, foi um tratado celebrado entre o Reino de Portugal e a Coroa de Castela para dividir as
terras "descobertas e por descobrir" por ambas as Coroas fora da Europa.
4
Tratado de Madrid foi um tratado firmado na capital espanhola entre os reis João V de
Portugal e Fernando VI de Espanha, em 13 de janeiro de 1750, para definir os limites entre as
respectivas colônias sul-americanas, pondo fim assim às disputas. Tratado de limites das conquistas
entre os muito altos e poderosos senhores D. João V, Rei de Portugal, e D. Fernando VI, rei de
Espanha, assinado em 13 de janeiro de 1750, em Madrid, e ratificado em Lisboa a 26 do dito mês, e
em Madrid a 8 de fevereiro do mesmo ano. Fonte: Sousa, Octávio Tarquínio, Colecção documentos
brasileiros, vol. 19, Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1939
5
Que anula o tratado de Madrid, em 1761
6
Tratado de Santo Ildefonso foi o acordo assinado em 1 de outubro de 1777 na cidade
espanhola de San Ildefonso, na província espanhola de Segóvia, na Comunidade
Autónoma de Castela e Leão, com o objetivo de encerrar a disputa entre Portugal e Espanha pela
posse da colônia sul-americana do Sacramento, situação que se prolongava desde a Paz de
Utrecht e a guerra de 1735-1737. O tratado foi intermediado pela Inglaterra e pela França, que tinham
interesses políticos internacionais na pacificação das relações entre Portugal e Espanha.

61
fortificações que foram construídas. Trata-se, sobretudo, da Fortaleza de São José
do Macapá (AMAPÁ - AP), o Forte Príncipe da Beira (RONDÔNIA – RO) e o Forte
de Coimbra (CORUMBÁ - MS) e Presídio de Miranda (MIRANDA-MS) e do Forte de
Iguatemi (PARANHOS - MS), objeto principal deste trabalho.
Com o objetivo de demarcar a fronteira luso-espanhola com os acordos do
Tratado de Madrid, foi criada uma comissão demarcatória em território
mato-grossense e que tinha como principais comissários o engenheiro militar,
cartógrafo, arquiteto, geógrafo e administrador colonial do século XVIII do lado
Português José Custódio de Sá e Faria (inclusive foi Governador da Capitania do
Rio grande do Sul e teve atuações relevantes na parceria entre os Governadores
das Capitanias do Rio de Janeiro e São Paulo, nas questões da instalação do Forte
de Iguatemi que serão melhor analisadas no próximo capítulo), e não menos
importante pela parte espanhola, Manuel Antônio de Flores.
O que se observa nessas fortificações citadas acima é que todas possuem
uma tipologia da arquitetura Militar Moderna, ou seja, todas com as balaustradas e
elementos bélicos dessa nova arquitetura e, sobretudo, sob orientação de Marquês
de Pombal.
A Fortaleza de São José do Macapá – Amapá - AP (Fig. 26) está localizada à
esquerda do rio Amazonas, nas proximidades da antiga Província dos Tucujus, onde
hoje em dia, conhecemos como a cidade de Macapá, no estado do Amapá, no
Brasil. Seu propósito era defender a Amazônia, foi desenvolvido por Marquês de
Pombal, as suas dimensões são próximas às do Real Forte Príncipe da Beira, no
qual seu projeto foi inspirado.

62
Figura 26 - Fortaleza de São José do Macapá (MACAPÁ - AP)

Fonte: Lukamapa, 2011. Disponível em: < http://luckamapa.blogspot.com/2011/11/>.


Acesso em: out 2022.

O Real Forte Príncipe da Beira (RONDÔNIA – RO) (Fig. 27) está localizado
na margem direita do rio Guaporé, hoje município de Costa Marques, em Rondônia,
Brasil. Foi construído a partir de abril de 1775, para defender o País, na fronteira
com a Bolívia, da ofensiva dos espanhóis. Ele se impôs pela estrutura e posição
estratégica. É apontada como a maior edificação militar portuguesa no Brasil
Colonial e fora da Europa.

63
Figura 27 - O Forte Príncipe da Beira (RONDÔNIA - RO)

Fonte: IPHAN, 2018. Disponível em: < http://portal.iphan.gov.br/noticias/detalhes/4950>.


Acesso em: out. 2022.

O Forte de Coimbra (CORUMBÁ-MS) (Fig. 28) localiza-se na margem direita


do rio Paraguai e sobre o estreito de São Francisco Xavier, no que hoje se conhece
como distrito de Forte Coimbra, dentro do município de Corumbá, estado de Mato
Grosso do Sul, no Brasil. O forte foi oficialmente fundado em 13 de setembro de
1775.
Figura 28 - Forte de Coimbra (CORUMBÁ - MS).

Fonte: Acervo da Autora, 2022.

64
Enquanto o Forte de Miranda (MIRANDA-MS) (Fig. 29) localizava-se
no Presídio de Miranda, à margem direita do rio M'boteteí, o atual rio Miranda.
Na área que hoje se situa a cidade de Miranda, no estado de Mato Grosso do
Sul, no Brasil. Fundado em 1797 pelo governador e capitão-general da
capitania de Mato Grosso, Caetano Pinto de Miranda Montenegro.
Figura 29 - Presídio de Miranda (MIRANDA - MS).

Fonte: deatasefatoshistóricos, 2011. Disponível em:


<http://datasefatoshistoricos.blogspot.com/2011/03/16-de-julho.html>. Acesso em: out. 2022.

E por último o Forte de Nossa Senhora dos Prazeres do Iguatemi (Fig. 30),
que será tratado com mais detalhes no tópico a seguir (2.7.1).
Figura 30 - Forte Nossa Senhora dos Prazeres do Iguatemi.

Fonte: Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, s/d. Disponível em:


<https://drive.google.com/file/d/12V4pn2Faaw8lOrpQWqyHiDqWRxDstc4S/view?usp=sharing>.
Acesso em: out. 2022.

65
2.7.1. O Forte do Iguatemi

No contexto de disputa entre Espanha e Portugal e o acirramento ao Sul


envolvendo a Colônia de Sacramento e as terras do Rio Grande, a construção do
Forte de Nossa Senhora dos Prazeres do Iguatemi é investido como ação
estratégica levada a cabo por Morgado de Mateus, no intuito de ganhar tempo e
conter o avanço dos castelhanos ao Sul.
Para tanto, era premente conhecer geograficamente a região, especialmente
a hidrografia. Assim, Morgado de Mateus lança mão dos mapas elaborados antes de
sua vinda, nas expedições para identificar as áreas menos conhecidas. Com o
conhecimento da região, esperava uma situação oportuna para fazer marchar a
Capitania armada, sendo umas das áreas visadas a do Iguatemi, na medida em que
“desde o século XVII, as áreas dos Rios Jejui, Igurei e Iguatemi eram palmilhadas
por paulistas, havendo constantes choques com os espanhóis”. (BERLLOTTO, 1979,
p. 118).
O Tratado de Madrid em seus artigos 5 e 6 estabeleceu aí a fronteira entre
Portugal e Espanha, onde todo o vale do Iguatemi fixaria o lado português, embora
no momento da demarcação houvesse dúvidas na definição real do local. Em
meados de 1766, foram criadas as primeiras expedições de avanço para o Oeste,
região que passava por intenso conflito agravado pelo assassinato por afogamento
do Governador do Paraguai no Rio Iguatemi. Morgado de Mateus, através de seus
informantes infiltrados nos meios espanhóis, considerava a possibilidade de contar
com a colaboração dos amotinados do Paraguai.
Segundo relatos em Documentos Interessantes, João Martins Barros foi o
fundador do Iguatemi. Há de se destacar a presença do capitão João Alves Ferreira
e do Brigadeiro José Custódio de Sá Faria, que lá foram cuidar da praça e
fortificá-la. Dessa forma, inicia-se a constituição da empresa Iguatemi que seria um
conjunto de ações para a sobrevivência por meio de aparatos de expedições,
estratégias de avanço de combate aos castelhanos e demais atos inerentes ao
propósito inicial de defesa do território fronteiriço no Brasil.
É possível questionar, a partir do pleno conhecimento de Morgado de Mateus
sobre a instalação de sua praça nos Sertões do Ivaí, se todas as estratégias de
instalar a Praça do Iguatemi já não vieram prontas de Portugal, quando de sua

66
nomeação enquanto Governador da capitania de São Paulo, cuja planta deste forte
já estaria antecipadamente planejada. O fato é que Morgado de Mateus
demonstrava uma certa obsessão para cumprir a missão de defender-se dos
Castelhanos pelo Rio Iguatemi, em detrimento das investidas contra os espanhóis
no Sul, o que causaria um desapontamento da Corte, culminando no início de sua
queda como Governador desta Capitania.
Outro fato é justamente em relação aos desenhos das plantas que definiam o
projeto da Praça do Iguatemi, pois, José Custódio em 1774/1775 elabora uma planta
diferente da anterior, talvez pela inviabilidade de construir um forte naquela região.
(Fig. 31).
A falta de respostas da corte e também da praça do Iguatemi quanto aos
próximos passos na atuação de Morgado de Mateus relacionavam-se à expectativa
de notícias da Península Ibérica no tocante às relações de Portugal e Espanha, de
modo que as relações aqui na América não interferissem nos interesses de paz
entre os dois países.

Figura 31 -: Demonstração do terreno imediato à Praça N.S. dos Prazeres do Rio Ygatemi.

Fonte: Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, s/d. Disponível em:


<https://drive.google.com/file/d/1LdwZ9pjtJEVcqp39mj1BiowUqMS-R1jv/view?usp=sharing>>. Acesso
em: out. 2022.

Naturalmente os espanhóis não viram com bom grado a ocupação no Rio


Iguatemi e logo os governos do Paraguai e de Buenos Aires se manifestaram contra
essa ocupação ao Vice-rei no Rio de Janeiro, embasados no Tratado de Madri. No

67
entanto, as tratativas foram muito amenas já que as relações entre Portugal e
Espanha estavam em bom termo, apesar de Morgado de Mateus ter convicção da
jurisdição Portuguesa na região. Certamente, somava-se à pressão espanhola a
dificuldade da manutenção das pessoas e da estrutura do Forte em lugar tão ermo.
Além da deserção, ainda ameaçavam o bom andamento do presídio de
Nossa Senhora dos Prazeres, os descontentamentos, dos quais participavam tanto
soldados como povoadores, embora não chegassem propriamente em motins. As
condições eram realmente árduas. A lavoura viu-se constantemente prejudicada
pelas chuvas. As epidemias causavam muitas baixas. E havia, em meio a isso, os
ânimos exaltados de alguns, que facilmente convenciam os mais revoltados.
(BERLLOTTO, 1979, p. 146).
Muitas foram as investidas e preocupação em manter o Presídio do Iguatemi
das dificuldades citadas. Uma das orientações dos Serviços Ultramarinos através do
Secretário Martinho Mello e Castro diante das condições do Presídio, foi a de
mandar José Custódio para relatar as reais condições do Iguatemi desde 1771, além
de fortificar, treinar a tropa local para defesa e táticas de ataques e emboscadas,
sendo esta averiguação feita apenas em 1774/1775, justamente quando este
engenheiro faz o desenho da Planta do Iguatemi. Nos desenhos de José Custódio,
pode-se constatar que realmente havia dentro dos muros da fortificação
arruamentos e características de uma Vila: algumas ruas com edifícios como o
quartel do Governador, Casa da Fazenda Real, Quartel das Tropas, Igreja, Câmara
e Corpo de Guarda. Essas características arquitetônicas já definem os sistemas das
fortificações modernas que estavam acontecendo na Europa e já assimiladas pelos
engenheiros militares de Portugal com os baluartes e as vilas no interior. (Fig. 32)

Figura 32 - Plano em Borrão da vila interna do Forte

68
Fonte: JUZARTE, Plano em Borrão, 1769. p. 55

No entanto, esta organização não foi suficiente para impedir as epidemias e a


falta de abastecimento na Praça, tanto de atendimento médico como de alimentos,
que refletiam no alto índices de mortes no período de 1769 a 1774.
Segundo o Diário das Navegações, onde estão os relatos de uma das
expedições que partiu de Araritaguaba, hoje Porto Feliz em direção ao sítio do
Iguatemi de 13 de abril de 1769 até seu regresso, o comandante Teotônio José
Juzarte descreve de forma surpreendente a viagem e as condições de horrores das
pragas, desconforto, fome e morte. Juzarte também produz um desenho do Forte.
(Fig. 33).

Figura 33 - Demonstração da Praça N.S. dos Prazeres do Rio Ygatemi

69
Fonte: Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Disponível em:
<https://drive.google.com/file/d/12V4pn2Faaw8lOrpQWqyHiDqWRxDstc4S/view?usp=sharing>.
Acesso em: out. 2022.

70
Esta expedição, que demorou mais de dois meses para chegar ao destino
determinado, era composta por mais de setecentas pessoas, compostas de homens,
mulheres, rapazes, crianças e soldados, além de animais e mantimentos que nem
sempre eram suficientes para todos.
Ao fim de 1772, a determinação da área central era que Morgado de Mateus
renunciasse e abandonasse seus propósitos na Praça do Iguatemi e que a força
militar da Capitania de São Paulo se juntasse às do Rio de Janeiro e de José
Custódio para defender o Sul, contra a vontade de Morgado de Mateus que insistia
da importância estratégica da Praça Iguatemi perante a corte. Assim, através do
decreto de 9 de junho de 1774, a corte designou seu sucessor Martim Lopes Lobo
de Saldanha, que foi muito crítico dos esforços de seu antecessor, oposição essa
que teve reflexos em Iguatemi.
O fracasso dessa investida foi confirmado com a pressão da Coroa em
abandonar a Praça do Iguatemi e a Fortificação foi invadida pelos castelhanos. A
povoação foi incendiada e os espanhóis se retiraram em seguida. A artilharia
capturada demonstrou a fragilidade da fortificação, incapaz de responder seu
propósito de defesa territorial.
Foi também comprovado que o Forte de Nossa Senhora dos Prazeres do
Iguatemi, está localizado no Município de Paranhos-MS, a margem direita do Rio
Iguatemi, no estado de Mato Grosso do Sul, Brasil, território pertencente à Aldeia
Indígena Ivykuarusu Takuaraty (Paraguassu). (Fig. 34).

Figura 34 - Indicação cartográfica do local destinado a construção do Forte do Iguatemi

71
Fonte: Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, s/d. Disponível em: <
https://drive.google.com/file/d/1LdwZ9pjtJEVcqp39mj1BiowUqMS-R1jv/view?usp=sharing>. Acesso
em: out. 2022.

Atualmente, por se localizar dentro de um território indígena reconhecido, não


é permitido visitas nem levantamentos no entorno nem na estrutura remanescente
do Forte Nossa Senhora dos Prazeres do Iguatemi, o que impede que este seja
explorado e estudado. Dentro de sua praça, situa-se uma escola municipal indígena,
este, e qualquer outro uso atual para o Forte é de posse total Aldeia Paraguassu,
mesmo que o Forte tenha sido tombado.

3. Levantamento documental e cartográfico

3.1. Identificação: Cartografia da Praça Nossa Senhoras dos Prazeres


de Iguatemi (1754-1923)

72
Figura 35 - Carta XIII.

Fonte: In: “Diário e Planos do Caminho que da cidade da Assumpção do Rio Paraguay se
dirige the o passo do Rio Yguatemy, oferecidos ao Ill mo. e Exmo. S. D. Luiz Antonio de Souza
Botelho do Cons. De S. Mag. Governador & Capam. General da Capitania de São Paulo”. Autor:
Engenheiro José de Custódio Sá e Faria. Data: 1754. Dimensão:34 X 22 cm. Biblioteca Municipal
Mário de Andrade – São Paulo.

73
Figura 36 - Croqui das obras do Forte do Iguatemi, 1768.

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino, AHU_ACL_CU_023-01, Cx. 25, D. 2432.

Figura 37 - Planta da villa de Nossa Senhora dos Prazeres na paragem da fortaleza dos campos das
Lages..., 1769.

Fonte: Museu Histórico Thiago de Castro.

74
Figura 38 - [JUZARTE, Teotônio José]. Planta da Praça de N. Sra dos Prazeres do Rio Guatemy...,
1769.

Fonte: Reis Filho (2000:245).

75
Figura 39 - SÁ E FARIA, José Custódio de. [Implantação da Praça de Nossa Senhora dos Prazeres],
1774-1775.

Fonte: Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.

Figura 40 - SÁ E FARIA, José Custódio de. [Planta da Praça de Nossa Senhora dos Prazeres],
1774-1775.

Fonte: Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.

76
Figura 41 - SÁ E FARIA, José Custódio de. [Plantas da Praça de Nossa Senhora dos Prazeres],
1774-1775.

Fonte: Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.

Figuras 42 e 43: Praça de N. Sra. dos Prazeres do mesmo Rio. Yguatemy, 1774.

77
Fonte: Engenheiro José Custódio de Sá e Faria. Dimensão: 34,0 x 22,5 cm. Mapoteca do Itamaraty –
Rio de Janeiro.

Figura 43 - "Demonstração de huã porção do Rio Ygatemy, Lugar da Fortaleza de N. S.ra dos
Prazeres, passo da Cordilheira de Maracayu, passo dos Castelhanos, & dos Indios Cavaleiros".

Fonte: José Custódio de Sá e Faria. Fonte: Original manuscrito pertencente ao códice "Cartas
Topográficas do Continente do Sul e Parte Meridional da America Portugueza" da Biblioteca Nacional,
Rio de Janeiro.

78
Figura 44 - Planta da Praça de Nossa Senhora dos Prazeres, s/d.

Fonte: Arquivo Histórico do Exército.

Figura 45 - Planta da Praça de Nossa Senhora dos Prazeres, s/d.

Fonte: Arquivo Histórico do Exército.

79
4. Levantamento topográfico (georreferenciado)

O arquivo referente a este tópico será disponibilizado no site como um link


(juntamente com um link para download do qgis).

5. Proposta de preservação e de divulgação

A partir deste projeto de extensão no qual a ideia de resgate e divulgação da


história que se passou na região do atual município de Paranhos tendo como foco o
episódio do Forte de Iguatemi no século XVIII, naturalmente surgiram ideias de
como tornar essa história um valor cultural permanente com forte repercussão
benéfica na identidade e mesmo na economia e situação social daquela região, tão
carente de atividades econômicas que propiciem seu desenvolvimento.
Nesse contexto, pode-se perceber de imediato a importância e o próprio
desejo dos munícipes de Paranhos de divulgar e valorizar a história do Forte, mas
também dos outros momentos históricos que explicam toda a trajetória histórica da
região e significância para o Brasil e que envolve também tantos outros países. Com
a percepção da importância dessas ações de promoção cultural, e como
consequência do próprio projeto de extensão, ideias sobre como tornar esse
conhecimento histórico algo permanente e significativo para as comunidades da
região bem como do Estado de Mato Grosso do Sul, do País e mesmo para os
países envolvidos com tais eventos a região bem como do Estado de Mato Grosso
do Sul, do País e mesmo para os países envolvidos com tais eventos históricos
Ainda, percebe-se que vai se caracterizando um processo de recuperação e
de formação de uma identidade no reconhecimento da história que inclui o evento do
Forte de Iguatemi, mas que inclui tanto o momento anterior como os eventos
posteriores a ele e até mesmo como se chegou até a atualidade. Conclui-se que o
projeto de extensão se tornou o início de um autorreconhecimento que demanda
ações no sentido de tornar permanente a construção de um conhecimento histórico
fundamental para diversas instituições de nível municipal, estadual e federal, bem
como de outras que promovem a cultura brasileira e mesmo de outros países
envolvidos. Mas acima de tudo, da própria população que inclui os indígenas.

80
É reconhecido que uma das mais importantes maneiras de se efetivar essa
difusão cultural é por meio de instalações físicas que garantam algo permanente
para visitação. Ou seja, de edifícios para fins culturais. No caso, considerando-se
que se trata de um município de pequeno porte e carente, parece adequado num
primeiro momento, que se construa um pórtico de entrada na cidade que impactasse
de maneira inevitável a todos que adentram a cidade, inclusive o visitante que
poderá se interessar por conhecer a história e a própria cidade. Adicionalmente,
reconhece-se o atual potencial de uso dessa entrada como área de lazer, muitas
pessoas a usam dessa maneira, o que enseja uma pequena adequação dessa área
para esse fim, trazendo segurança e cultura ao usuário.
E de modo complementar, aprofundando aquilo que se anuncia no pórtico,
seria construído um edifício como memorial dessa história. Esse edifício seria
construído junto ao Parque Ecológico Clovis Bronzim onde se encontra a nascente
do Rio Destino, que indica ser a área mais adequada para a localização do Memorial
em função de sua beleza natural, de sua proximidade com o centro cívico e
comercial da cidade e do reconhecimento e apropriação como espaço privilegiado
para o lazer dos munícipes. Ainda cabe ressaltar seu potencial ainda não explorado
em sua continuidade ao longo do Rio Destino e que pode possibilitar uma
infraestrutura de passeio ligando o parque ao pórtico.
Nesse memorial teriam salas temáticas sobre alguns períodos mais
significativos dessa história numa visitação sequencial e didática. Também incluiria
um auditório para diversas finalidades como palestras, debates, apresentações
culturais e mesmo de audiovisuais como conclusão das visitações.
Inclui, ainda, a possibilidade de eventos externos ao memorial por meio da
utilização da área aberta em que deverá estar implantado. A ideia é ter um térreo
livre e coberto que se expande para uma área descoberta com aproveitamento do
desnível natural existente na área de modo a se formar uma plateia nesse desnível.
Portanto, terá um térreo aberto e coberto onde poderão ser feitas atividades
transitórias, poderá abrigar um palco aberto e, em uma parte fechada, o auditório.
Outras formas de divulgação se conectam a essas que envolvem
infraestruturas. Imagina-se, por exemplo, a visitação de estudantes incluindo
palestras e audiovisuais, e também outras possibilidades como exibição de filmes e
apresentações musicais até mesmo pequenas encenações. Ou seja, um espaço
cultural para a cidade.

81
Tal tipo de infraestrutura inevitavelmente se tornaria uma referência
fundamental para a cidade catalisando todo um processo de autorreconhecimento e
de consolidação da identidade das comunidades locais.
A viabilização dessa atividade de planejamento e projeto arquitetônico seria,
portanto, outro projeto de extensão envolvendo a UFMS em parceria com outras
instituições que viabilizariam a concretização desses projetos. Inclui a Prefeitura de
Paranhos, a FAPEC - Fundação de Apoio à Pesquisa, ao Ensino e à Cultura, ligada
à UFMS, Fundect - Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e
Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul, Caixa Econômica Federal, entre
outros interessados.

82
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