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DISCIPLINA: DIREITO COLETIVO DO TRABALHO

DATA: 07/05/2023
ORIENTADORA: Dra. Márcia Aguiar
ACADÊMICO: José Alberoni Coelho da Silva
ACADÊMICA: Cibely Nina Ferreira de Oliveira

DISSÍDIO COLETIVO, SENTENÇA NORMATIVA E AÇÃO DE CUMPRIMENTO.

A) DISSÍDIO COLETIVO

1. CONCEITO

O dissídio coletivo de trabalho é o meio de solução jurisdicional do conflito


coletivo de trabalho. O conflito coletivo de trabalho tem como objeto o interesse
coletivo, isto é, comum a todos os integrantes do grupo, e, como sujeitos, um
número indeterminado de trabalhadores, representados pela entidade sindical
profissional, e um ou vários empregadores, representados ou não pela entidade
sindical econômica. O dissídio coletivo, assim, também é entendido como o
processo judicial que tem como objetivo a pacificação do conflito coletivo de
trabalho. No dissídio coletivo, o conflito de trabalho é objeto de decisão pelo Poder
Judiciário, sendo caso típico de heterocomposição.

2. NARTUREZA JURÍDICA

O dissídio coletivo de trabalho, para ser ajuizado, bem como ter o seu
mérito apreciado, exige a prévia tentativa de solução do conflito por meio da
negociação coletiva (art. 114, § 2º, da Constituição Federal de 1988).

Não sendo possível a solução do conflito coletivo por meio da negociação


coletiva, o § 1º do art. 114 da Constituição Federal de 1988 também admite a
utilização da arbitragem, ao assim prever: “Frustrada a negociação coletiva, as
partes poderão eleger árbitros”.

Trata-se de arbitragem facultativa, uma vez que as partes podem eleger


árbitros. O dissídio coletivo, portanto, apenas pode ser ajuizado se não obtida a
solução do conflito pela negociação coletiva e houver recusa de qualquer das
partes à arbitragem, uma vez que esta não é obrigatória.

A tentativa de primeiramente ser buscada a autocomposição, por meio da


negociação coletiva de trabalho, é condição da ação específica no dissídio coletivo,
ligada ao interesse processual, no que se refere à necessidade do provimento e da
tutela jurisdicional postulada.

A Lei 10.192/2001, no art. 10, dispõe que os “salários e as demais condições


referentes ao trabalho continuam a ser fixados e revistos, na respectiva data-base
anual, por intermédio da livre negociação coletiva”.

No dissídio de natureza jurídica, a tentativa de negociação coletiva não é


prevista como condição ou pressuposto processual. De acordo com o art. 616, § 4º,
da CLT, nenhum processo de “dissídio coletivo de natureza econômica” deve ser
admitido sem antes se esgotarem as medidas relativas à formalização da convenção
ou acordo coletivo correspondente. A Orientação Jurisprudencial 6 da SDC do
Tribunal Superior do Trabalho, que exigia, para o dissídio coletivo de natureza
jurídica, a negociação prévia, para buscar solução de consenso, foi cancelada em 10
de agosto de 2000, no julgamento do RODC 604502/1999-8 (DJ 23.03.2001).

O Ato 168/2016 da Presidência do TST instituiu o procedimento de mediação


e conciliação pré-processual em dissídios coletivos, a ser conduzido e processado
no âmbito da Vice-Presidência do Tribunal Superior do Trabalho (art. 1º). Podem ser
submetidas ao procedimento de mediação e conciliação pré-processual as relações
jurídicas passíveis e submissão a dissídio coletivo de natureza econômica, jurídica
ou de greve (art. 2º). A mediação e conciliação pré-processual pode ser requerida
por iniciativa de qualquer das partes potenciais de dissídios coletivos (art. 3º).

A partir da Emenda Constitucional 45/2004, ao inovar a respeito do dissídio


coletivo de trabalho de natureza econômica, passou-se a exigir o “comum acordo”
para a sua instauração, indicando ser necessário o consenso das partes que figuram
no conflito coletivo.

Efetivamente, o § 2º do art. 114 da Constituição, na redação determinada pela


Emenda 45/2004, assim prevê: “Recusando-se qualquer das partes à negociação
coletiva ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio
coletivo de natureza econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito,
respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as
convencionadas anteriormente”.

O dispositivo acima prevê o chamado poder normativo da Justiça do Trabalho,


ao possibilitar o estabelecimento de normas e condições de trabalho. Ao mesmo
tempo que ocorre a solução do conflito social, principal escopo da jurisdição, ocorre
a fixação de norma jurídica, materializada na sentença normativa.

A decisão proferida pela Justiça do Trabalho, no exercício do poder normativo,


tem como fundamento a equidade, como se observa na previsão do art. 766 da CLT:
“Nos dissídios sobre estipulação de salários, serão estabelecidas condições que,
assegurando justos salários aos trabalhadores, permitam também justa retribuição
às empresas interessadas”.

Quanto aos limites do poder normativo, prevalece, na atualidade, o


entendimento de que apenas podem incidir no chamado vazio da lei.

Ainda nesse sentido, destaca-se a seguinte decisão do STF:

“Recurso extraordinário. Dissídio coletivo. Indeferimento de cláusulas que estabeleciam


adicionais de horas extras e noturno acima dos percentuais fixados em lei, bem como
adicional de produtividade no percentual de 3,88%. 1. Produtividade: A alegada ofensa ao
artigo 114, § 2º, da CF, a depender da prévia análise de estarem, ou não, atendidos os
requisitos da Medida Provisória nº 1.540/1997, se existente, seria indireta ou reflexa. A
alegada ofensa ao art. 5º, II, da CF atrai a incidência da Súmula 636 do STF. Juízo diverso
acerca da demonstração do aumento de produtividade da empresa, apta a permitir o adicional
tal como pleiteado, demanda o reexame de prova (Súmula 279 do STF). 2. Horas extras e
adicional noturno: Sentença normativa que estabelece adicionais em patamar acima ao que
estabelecido em lei. Inadmissibilidade, pois ‘(...) é fonte formal de direito objetivo a decisão
proferida pela Justiça do Trabalho, na resolução de dissídio coletivo, autônoma na sua
elaboração, porém, somente suscetível de operar no vazio legislativo, como regra subsidiária
ou supletiva, subordinada à supremacia da lei’ (RE 197.911/PE, rel. Min. Octavio Gallotti, 1.ª
T., DJ de 7.11.1997). 3. Recurso improvido” (STF, 2.ª T., RE 283.116/ DF, Rel. Min. Ellen
Gracie, j. 28.09.2004, DJ 22.10.2004).

3. PODER NORMATIVA

Em caso de dissídio coletivo que tenha por motivo novas condições de


trabalho, e no qual figure como parte apenas uma fração de empregados de uma
empresa, pode o tribunal competente, na própria decisão, estender tais condições
de trabalho, se julgar justo e conveniente, aos demais empregados da empresa que
forem da mesma profissão dos dissidentes (art. 868 da CLT).

Cabe ao tribunal fixar a data em que a decisão deve entrar em execução,


bem como o prazo de sua vigência, o qual não poderá ser superior a quatro anos
(parágrafo único do art. 868 da CLT).

Portanto, a extensão da sentença normativa é aplicável apenas ao dissídio de


natureza econômica, que tenha como parte a) b) c) d) 27.12 somente uma parcela
dos empregados da empresa. Nessa hipótese, o tribunal, de ofício, pode estender as
condições de trabalho estabelecidas na sentença aos demais empregados da
mesma profissão.

A medida, assim, tem fundamento no princípio da igualdade, ao procurar


estabelecer o mesmo tratamento, com os mesmos direitos, aos empregados na
mesma situação.

Exemplificando, se o dissídio coletivo tem origem em greve parcial, que


alcançou somente um setor da empresa, torna-se possível a mencionada extensão
aos demais empregados da mesma profissão.

Nos termos da Orientação Jurisprudencial 2 da SDC do TST:

“Acordo homologado. Extensão a partes não subscreventes. Inviabilidade.


(inserida em 27.03.1998). É inviável aplicar condições constantes de acordo
homologado nos autos de dissídio coletivo, extensivamente, às partes que não o
subscreveram, exceto se observado o procedimento previsto no art. 868 e seguintes,
da CLT”.
O art. 869 da CLT, por sua vez, estabelece que a decisão sobre novas
condições de trabalho pode também ser estendida a todos os empregados da
mesma categoria profissional compreendida na competência do tribunal.

Essa extensão pode ocorrer:

A) por solicitação de um ou mais empregadores, ou de qualquer sindicato destes;

B) por solicitação de um ou mais sindicatos de empregados;

C) de ofício, pelo tribunal que houver proferido a decisão;

D) por solicitação da Procuradoria do Trabalho.

Para que a decisão possa ser estendida, na forma acima indicada, torna-se
preciso que 3/4 dos empregadores e 3/4 dos empregados, ou os respectivos
sindicatos, concordem com a extensão da decisão (art. 870 da CLT).

O tribunal competente deve marcar prazo, não inferior a 30 nem superior a 60


dias, a fim de que se manifestem os interessados (art. 870, § 1º, da CLT).

Ouvidos os interessados e a Procuradoria do Trabalho, o processo deve ser


submetido ao julgamento do tribunal (art. 870, § 2º, da CLT).

Sempre que o tribunal estender a decisão, definirá a data em que a extensão


deva entrar em vigor (art. 871 da CLT).

Portanto, em se tratando de dissídio coletivo de natureza econômica, também


é possível a extensão da sentença normativa a toda a categoria profissional
compreendida na competência do tribunal. Nesse caso, é necessária a solicitação
de um ou mais empregadores ou sindicatos destes; ou a solicitação de um ou mais
sindicatos de empregados; ou de ofício; ou a solicitação do MPT. Exige-se, ainda,
que 3/4 dos empregadores e 3/4 dos empregados, ou os respectivos sindicatos,
concordem. Após os interessados e o MPT se manifestarem, o tribunal decide a
respeito dessa extensão, definindo a data de seu início.

4. PRESSUPOSTO DE CABIMENTO

Com fulcro no art. 114, §§ 1º e 2º, da Lei Maior, para que o dissídio coletivo
tenha viabilidade jurídica, a negociação coletiva deverá ser esgotada ou frustrada:
“Art. 114. (...) § 1º Frustrada a negociação coletiva, as partes poderão eleger
árbitros. § 2º Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à
arbitragem, é facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de
natureza econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas
as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as
convencionadas anteriormente”. A ideia é a de estimular a negociação coletiva por
meio de seus instrumentos normativos, quais sejam, o acordo coletivo de trabalho e
a convenção coletiva de trabalho. Na seara das formas de solução dos conflitos
coletivos de trabalho, a autocomposição prefere à heterocomposição.

5. CONDIÇÕES DA AÇÃO

Uma vez proferida a sentença normativa, esta deve ser observada pelos
empregadores abrangidos e representados pelas entidades sindicais que
participaram do dissídio coletivo.

A sentença normativa, entretanto, estabelece condições de trabalho de forma


genérica e abstrata, alcançando as diversas relações individuais de trabalho. Por
isso, é até mesmo considerada fonte formal do Direito do Trabalho.

Em razão dessa peculiaridade, a sentença normativa que não é cumprida não


é objeto de ação de execução propriamente, mas sim da chamada ação de
cumprimento.

A ação de cumprimento, na realidade, dá origem a processo de


conhecimento, tendo natureza de ação condenatória. Isso é confirmado pelo art. 872
da CLT, ao determinar que, uma vez celebrado o acordo, ou proferida a decisão no
dissídio coletivo, deve-se seguir com o seu cumprimento.

Embora o caput desse dispositivo mencione a decisão “transitada em


julgado”, na atualidade, em razão de leis posteriores, não se exige o trânsito em
julgado para a produção de efeitos da sentença normativa, nem para o ajuizamento
da ação de cumprimento. Como estudado anteriormente, o recurso em dissídio
coletivo, em regra, não tem efeito suspensivo, salvo se este for deferido pelo
Presidente do TST (art. 14 da Lei 10.192/2001).

6.PROCEDIMETO

A competência originária (funcional) para apreciar os dissídios coletivos é dos


Tribunais Regionais do Trabalho, no âmbito de suas competências territoriais. Se o
conflito envolver a jurisdição de mais de um Tribunal Regional do Trabalho, a
competência para julgar e processar o dissídio será do Tribunal Superior do
Trabalho.

Conforme destaca Ives Gandra Martins Filho:

“Só têm competência para apreciar dissídios coletivos os Tribunais do


Trabalho, ou seja, TRT e TST. A ação coletiva é, pois, ajuizada originariamente, num
tribunal. A competência hierárquica varia conforme o âmbito do dissídio:

a) TRT – somente aprecia e julga os dissídios de âmbito regional (ligados ao


território sobre o qual tem jurisdição) (CLT, art. 678, I, a, e Lei n. 7.701/88, art. 6o);

b) TST – decide originariamente sobre os dissídios de âmbito supra regional


(que abrange mais de um Estado Federado) ou nacional (toda a categoria do Brasil)
(CLT, art. 702, I, b, e Lei n. 7.701/88, art. 2o, I, a).”

As Varas do Trabalho poderão, entretanto, praticar alguns atos processuais no


dissídio coletivo, como instruir o processo por delegação do Tribunal. Nesse sentido,
dispõe o art. 866 da CLT, in verbis:

“Quando o dissídio ocorrer fora da sede do Tribunal, poderá o presidente, se julgar conveniente, delegar
à autoridade local as atribuições de que tratam os arts. 860 e 862. Nesse caso, não havendo
conciliação, a autoridade delegada encaminhará o processo ao Tribunal, fazendo exposição
circunstanciada dos fatos e indicando a solução que lhe parecer conveniente.”

Têm legitimidade para instaurar o dissídio coletivo e nele figurarem como partes
autora (suscitante) e ré (suscitado), como regra geral, os Sindicatos, que são os
representantes legais da categoria, tendo uma espécie de mandato legal para
defendê-la (art. 8o, III, da CF).

Dispõe o art. 856 da CLT:

“A instância será instaurada mediante representação escrita ao presidente do


Tribunal. Poderá ser também instaurada por iniciativa do presidente, ou, ainda,
a requerimento da Procuradoria da Justiça do Trabalho, sempre que ocorrer
suspensão do trabalho.”
Mesmo em caso de suspensão do trabalho, como na greve, o Presidente do
Tribunal Regional do Trabalho não mais poderá instaurar o dissídio, pois o art. 856 da
CLT foi revogado no aspecto pela Lei de Greve (Lei n. 7.783/89).

Em caso de paralisação, podem instaurar a instância os sindicatos e o


Ministério Público do Trabalho.

O Ministério Público do Trabalho somente poderá ingressar com o dissídio de


greve em atividade essencial, conforme já nos pronunciamos anteriormente, nos
termos do § 3o, do art. 114, da CF, com a redação dada pela EC n. 45/04, in verbis:

“Em caso de greve em atividade essencial, com possibilidade de lesão do


interesse público, o Ministério Público do Trabalho poderá ajuizar dissídio coletivo,
competindo à Justiça do Trabalho decidir o conflito.”

Nos termos do art. 857, da CLT: “A representação para instaurar a instância em dissídio
coletivo constitui prerrogativa das associações sindicais, excluídas as hipóteses aludidas no
art. 856, quando ocorrer suspensão do trabalho. Parágrafo único. Quando não houver
sindicato representativo da categoria econômica ou profissional, poderá a representação ser
instaurada pelas federações correspondentes e, na falta destas, pelas confederações
respectivas, no âmbito de sua representação.

B) SENTENÇA NORMATIVA

1. COISA JULGADA

Tem o nome de sentença normativa a decisão dada no dissídio coletivo,


acolhendo ou rejeitando as cláusulas postuladas no dissídio coletivo de natureza
econômica ou interpretando e aplicando o direito já existente no dissídio coletivo de
natureza jurídica.

Diverge a doutrina sobre a natureza jurídica da sentença normativa. Quanto


ao dissídio coletivo de natureza jurídica, não há controvérsia sobre a natureza
declaratória da sentença normativa. Quanto à sentença que aprecia o dissídio de
natureza econômica, há divergências na doutrina. Para alguns, ela é constitutiva por
criar direito novo, para outros, é dispositiva, pois a Justiça do Trabalho criará, no
branco da lei, direito novo, sendo certo que sentença constitutiva apenas cria uma
relação jurídica e não direito ainda não existente.
Mesmo apreciando cláusulas econômicas, a jurisprudência, acertadamente,
tem exigido que a sentença seja fundamentada, atendendo ao mandamento
constitucional previsto no art. 93, IX, da Constituição Federal.

É da essência da sentença normativa ser provisória e precária, pois,


conforme reiteradamente vem decidindo o STF, o poder normativo da Justiça do
Trabalho atua no branco da lei. Porém, editada a lei, norma de caráter imperativo,
esta se sobrepõe a todas as demais fontes secundárias do direito, como a norma
coletiva e a sentença normativa.

Mostra-se discutível a seguinte questão: a sentença normativa faz coisa


julgada material?

Respondendo afirmativamente a esta questão, temos a respeitável doutrina


de Carlos Henrique Bezerra Leite:

“Para nós, a sentença normativa faz coisa julgada material (e, logicamente, formal),
pois o art. 2o, I, c da Lei n. 7.701/88 dispõe expressamente que compete,
originariamente, à sessão especializada em dissídios coletivos ‘julgar as ações
rescisórias propostas contra sua própria sentenças normativas’, cabendo-lhe, nos
termos do inciso II, alínea b, do referido artigo, julgar em última instância, ‘os recursos
ordinários interpostos contra as decisões proferidas pelos Tribunais Regionais do
Trabalho em ações rescisórias e mandados de segurança pertinentes a dissídios
coletivos’. Ora, se cabe ação rescisórias contra sentença normativa, então ela está apta
a produzir coisa julgada material (CPC, art. 269).”

Se o dissídio for de competência originária do TST, o recurso cabível será o de


embargos para o próprio TST, que recebem o nome de embargos infringentes, tendo
por objeto modificar a decisão proferida pelo TST em dissídios coletivos não
unânimes, conforme o art. 894, I, a, da CLT c/c. art. 2o da Lei n. 7.701/88 que assim
dispõe:

“Compete à seção especializada em dissídios coletivos ou seção normativa: [...] II – em


última instância julgar: c) embargos infringentes interpostos contra decisão não
unânime proferida em processo de dissídio coletivo de sua competência originária,
salvo se a decisão atacada estiver em consonância com precedente jurisprudencial do
Tribunal Superior do Trabalho ou da Súmula de sua jurisprudência predominante.”

Desse modo, os embargos infringentes são cabíveis para a seção de Dissídios


Coletivos do TST, quando a decisão proferida pelo Tribunal Superior do Trabalho em
dissídios coletivos de sua competência originária, ou rever ou estender as sentenças
normativas, não unânimes, salvo se a decisão recorrida estiver em consonância com
precedente jurisprudencial do TST ou Súmula.

2. ULTRATIVIDADE

Ensina Antonio Lamarca:

“A sentença coletiva é lei categorial, dissemo-lo inúmeras vezes. Comando genérico e


abstrato, com eficácia erga omnes e efeitos ex nunc, não contém ingrediente
condenatório; portanto inexequível, senão através de dissídios individuais
denominados de cumprimento. A chamada ação de cumprimento de sentença coletiva
— doutrinam Orlando Gomes e Elson Gottschalk — é a prova de que os seus preceitos,
quando violados, se cumprem através do dissídio individual, tal como ocorre com a
violação da lei. Se a sentença contém um comando geral e abstrato, a sua execução e
realização se cumprem através de casos particulares, nos dissídios individuais. Apenas
as sentenças condenatórias comportam propriamente execução em forma direta,
imediata ou específica.”

A ação de cumprimento constitui ação individual de conhecimento, de rito


especial trabalhista destinada ao cumprimento das cláusulas constantes da sentença
normativa e dos acordos e convenções coletivas de trabalho.

Trata-se de ação de natureza condenatória proposta pelos empregados ou


pelo Sindicato, com a finalidade de fazer cumprir as cláusulas constantes dos
instrumentos normativos coletivos (acordos coletivos, convenções coletivas e
sentenças normativas).

A Consolidação das Leis do Trabalho disciplina a presente ação no art. 872, in


verbis:

“Celebrado o acordo, ou transitada em julgado a decisão, seguir-se-á o seu


cumprimento, sob as penas estabelecidas neste Título. Parágrafo único – Quando os
empregadores deixarem de satisfazer o pagamento de salários, na conformidade da
decisão proferida, poderão os empregados ou seus sindicatos, independentes de
outorga de poderes de seus associados, juntando certidão de tal decisão, apresentar
reclamação à Junta ou Juízo competente, observado o processo previsto no Capítulo
II deste Título, sendo vedado, porém, questionar sobre a matéria de fato e de direito já
apreciada na decisão.”

Conforme previsto no referido dispositivo legal, embora tenha a denominação


de ação de cumprimento, sua natureza não é executiva, pois os instrumentos
normativos coletivos não têm natureza executória. Além disso, trata-se de ação
individual, embora se destine ao cumprimento de instrumentos coletivos normativos,
ela não tem por objeto criar direito novo e sim fazer cumprir direitos que já estão
normatizados para a categoria. Desse modo, a natureza jurídica da ação de
cumprimento é condenatória, seguindo o rito processual da reclamação trabalhista
(ordinário, sumário ou sumaríssimo).

3. HOMOLOGAÇÃO DE ACORDO EXTRAJUDICIAL

Até a Lei n. 8.984/95, a doutrina e a jurisprudência praticamente só aceitavam


a competência da Justiça do Trabalho para as ações de cumprimento para sentenças
normativas, pois o art. 114 da CF, com a redação dada em 1988, restringia a
competência da Justiça do Trabalho para as controvérsias entre empregados e
empregadores.

Nesse sentido, a Súmula n. 286 do C. TST, in verbis:

“SINDICATO. SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL. CONVENÇÃO E ACORDO COLETIVOS — A


legitimidade do sindicato para propor ação de cumprimento estende-se também à
observância de acordo ou de convenção coletivos.” (Redação dada pela Res. n. 98/2000, DJ
18.9.2000)

O acordo extrajudicial é procedimento de jurisdição voluntária e não permite


intervenção judicial na manifestação de vontade das partes acordantes”. Com esse
entendimento, expresso no voto do relator, o juiz convocado Danilo Siqueira de Castro
Faria, os julgadores da Sexta Turma do Tribunal Regional do Trabalho de Minas
Gerais, à unanimidade, deram provimento ao recurso de uma empresa para
homologar o acordo extrajudicial firmado com um ex-empregado. O acordo foi
homologado pelos julgadores nos exatos termos em que foi ajustado, sem ressalvas,
dando-se plena e geral quitação à extinta relação jurídica. A decisão de primeiro grau
havia rejeitado a homologação do acordo, por entender que era prejudicial ao
trabalhador.

4. RECURSO ORDINÁRIO
O recurso ordinário é o meio recursal no qual as partes podem discutir
novamente e de forma ampla, em termos de direito e de fatos, a matéria decidida em
primeira instância. Tem natureza ordinária e é de livre fundamentação pelas partes. É
cabível na fase de conhecimento; na fase executória o recurso adequado é o agravo
de petição.

Segundo o art. 872 da CLT, podem propor a ação de cumprimento os


empregados, individualmente, ou em litisconsórcio ativo facultativo e o sindicato da
categoria.

Para alguns autores, a legitimidade do sindicato para propositura da ação de


cumprimento advém da lei (ad litem)(55). Para o entendimento majoritário, trata-se de
substituição processual, uma vez que o Sindicato pleiteia em nome próprio direito
alheio (art. 18 do CPC).

No nosso sentir, efetivamente, o Sindicato, na ação de cumprimento, atua como


substituto processual, pois defende direitos individuais de seus associados, quais
sejam: direitos individuais homogêneos que têm origem comum. Além disso, o direito
não pertence ao sindicato e sim aos trabalhadores. A legitimidade do Sindicato se dá
por força de lei (arts. 8o, III, da CF, e 872, parágrafo único, da CLT).

De outro lado, pensamos que, a teor do disposto no inciso III do art. 8o da CLT
e do cancelamento da Súmula n. 310 pelo TST, a substituição processual da categoria
também abrange os não associados na ação de cumprimento.

A jurisprudência tem fixado entendimento no sentido de que o número de


substituídos na ação de cumprimento possa ser limitado para não prejudicar a
celeridade processual e a efetividade do processo.

C) AÇÃO DE CUMPRIMENTO

1. CONCEITO

Uma vez proferida a sentença normativa, esta deve ser observada pelos
empregadores abrangidos e representados pelas entidades sindicais que participaram
do dissídio coletivo.

A sentença normativa, entretanto, estabelece condições de trabalho de forma


genérica e abstrata, alcançando as diversas relações individuais de trabalho. Por isso,
é até mesmo considerada fonte formal do Direito do Trabalho.
Em razão dessa peculiaridade, a sentença normativa que não é cumprida não
é objeto de ação de execução propriamente, mas sim da chamada ação de
cumprimento.

A ação de cumprimento, na realidade, dá origem a processo de conhecimento,


tendo natureza de ação condenatória. Isso é confirmado pelo art. 872 da CLT, ao
determinar que, uma vez celebrado o acordo, ou proferida a decisão no dissídio
coletivo, deve-se seguir com o seu cumprimento.

2. NATUREZA JURÍDICA

O inquérito judicial para apuração de falta grave pode ser conceituado como
ação de conhecimento, de natureza desconstitutiva (constitutivo-negativa), de rito
especial, que tem por escopo a resolução de contrato individual de trabalho de um
empregado portador de estabilidade (garantia de emprego), após a comprovação
judicial de falta grave (justa causa) por ele cometida.

O inquérito judicial para apuração de falta grave encontra amparo nos arts. 494,
853 a 855 da CLT:

Art. 494. O empregado acusado de falta grave poderá ser suspenso de suas
funções, mas a sua despedida só se tornará efetiva após o inquérito e que se verifique
a procedência da acusação. Parágrafo único. A suspensão, no caso deste artigo,
perdurará até a decisão final do processo.

Art. 853. Para a instauração do inquérito para apuração de falta grave contra
empregado garantido com estabilidade, o empregador apresentará reclamação por
escrito à Junta ou Juízo de Direito, dentro de 30 (trinta) dias, contados da data da
suspensão do empregado.

Art. 854. O processo do inquérito perante a Junta ou Juízo obedecerá às


normas estabelecidas no presente Capítulo, observadas as disposições desta Seção.

Art. 855. Se tiver havido prévio reconhecimento da estabilidade do empregado,


o julgamento do inquérito pela Junta ou Juízo não prejudicará a execução para
pagamento dos salários devidos ao empregado, até a data da instauração do mesmo
inquérito.
3. LEGITIMIDADE/INTERESSE
A palavra legitimidade da parte é para o direito processual, a condição de ser
o detentor do direito buscado, a condição de ser legítimo para propor a demanda,
para solicitar ou restaurar direito que lhe pertence. É a lei que vai mostrar quem é
legítimo para tal ato. Sem ser legítimo, o sujeito não consegue, em nome próprio,
solicitar o direito em juízo.

Logo que trazemos para o direito a palavra legitimidade, o que temos é um


significado processual, que vai além do que encontramos nos dicionários. A
legitimidade para o direito nos remete a pessoa legítima para tal ato, podendo sua
legitimidade ser ativa, quando o sujeito é o legítimo para propor a demanda; passiva,
quando o sujeito é chamado a demanda, o réu; ordinária, aquele que propõe o litígio
e defende direito próprio; extraordinária, quando a atuação é em nome próprio,
porém demanda o direito de outro; exclusiva, é um sujeito único, legítimo por lei de
seu próprio direito; e concorrente, é concedida por lei para vários sujeitos. O
presente trabalho irá trazer as acepções dessas palavras, assim como explicar de
que se trata o interesse processual, assim como o que é uma ação processual e
quais são as ações declaratórias, constitutivas, condenatórias e tutelares.

4. COMPETÊNCIA

A competência para o julgamento da ação de cumprimento é do juiz de primeiro


grau, em virtude do que restou estabelecido pelo artigo 652 da CLT. Essa norma
caracteriza-se como uma ressalva ao que dispõem os incisos I e II do artigo 575 do
CPC. Segundo Mozart Victor Russomano,19 “abre-se, aqui, exceção ao princípio de
que o juízo que prolatou a sentença é o órgão competente para executá-la”, pois nessa
contingência a decisão que se pretende fazer cumprir é proferida exclusivamente pelo
Tribunal Regional do Trabalho ou pelo Tribunal Superior do Trabalho.

A CLT não contempla regra exclusiva especificando o foro competente para


processar e julgar essa espécie de ação. Portanto, aplica-se o previsto no caput do
seu artigo 651, segundo o qual a competência da Vara do Trabalho é determinada
pelo lugar onde o empregado presta serviços ao empregador.

É o caso de se colocar em evidência que, nessa modalidade de ação, o ente


sindical autor, na qualidade de substituto processual, defende o interesse de vários
empregados da categoria que representa. O empregador desses trabalhadores tem
que ser o mesmo, que por sua vez poderá oferecer numerosos postos de prestação
de serviço, em matriz e em sucursais. Nessa conjuntura, considerando-se que o
empregador tenha empregados prestando serviços em regiões distintas, a regra geral
de foro tornar-se-á descabida para o caso.

É nesse sentido que Cláudia de Abreu Lima Pisco, argumenta que o foro geral
é inoportuno quando se está diante de uma norma coletiva que beneficia vários
empregados cuja prestação de serviço ocorre em vários locais, como acontece na
eventualidade de essa norma ser ajustada por sindicatos de base territorial nacional
ou estadual.

5. PRESCRIÇÃO
No Código Civil (art. 189), a prescrição é o meio pela qual se extingue a pretensão de
um titular obter na Justiça um direito que lhe foi violado. Ou seja, a partir de uma violação, a
pessoa tem um prazo para poder entrar na Justiça contra a parte contrária.

Findo esse tempo, o titular não tem mais o direito de tentar resolver esse
conflito judicialmente.

Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue,
pela prescrição, nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206.

Art. 190. A exceção prescreve no mesmo prazo em que a pretensão.

Segundo o Código Civil, essa pretensão não existe para sempre. André
precisa ingressar com o processo em um prazo determinado pela Lei. Caso não o
faça, o direito de cobrar Paulo judicialmente prescreverá. Esta é a prescrição.

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