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HOMOLOGAÇÃO JUDICIAL DE ACORDO EXTRAJUDICIAL

Edilton Meireles

Pós-doutor em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de


Lisboa. Doutor em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo (PUC/SP). Professor de Direito Processual Civil na
Universidade Federal da Bahia (UFBa). Professor de Direito na
Universidade Católica do Salvador (UCSal). Desembargador do
Trabalho na Bahia (TRT 5ª Região).

Sumário. 1. Introdução. 2. Precedentes legislativos e cabimento. 3. Do acordo


extrajudicial. Conceito e distinções. 4. Procedimento. 4.1. Iniciativa. 4.2. Rito
procedimental. 4.3. Da sentença e do recurso. 4.4. Efeitos. 5. Controle judicial. 6.
Anulação e rescisão. 7. Conclusão. 8. Referências.

1. Introdução

A Lei n. 13.467/17, que implantou a Reforma Trabalhista no Brasil, acabou por incluir
na Consolidação das Leis Trabalhistas expressa menção à possibilidade de homologação
judicial de acordo extrajudicial (autocomposição).

Conquanto não seja nenhuma novidade processual, ao se incluir em lei processual


trabalhista essa possibilidade, qualquer dúvida até então existente quanto ao seu
cabimento no processo do trabalho restou afastada.

Procurando, porém, contribuir para o debate em torno do cabimento e processamento


desta demanda de natureza voluntária, trataremos desse tema adiante.

2. Precedentes legislativos e cabimento

O disposto no art. 855-B da CLT, com a redação dada pela Lei n. 13.467/17, com vigência
a partir de 11 de novembro de 2017, a rigor, não introduziu qualquer novidade no processo
do trabalho. Isso porque, conforme legislação processual civil subsidiariamente aplicável,
o processo de homologação de acordo extrajudicial já tinha cabimento na Justiça do
Trabalho em face da previsão na lei processual civil 1.

Essa possibilidade foi introduzida no processo brasileiro pelo art. 57 da Lei n. 9.099/95,
que dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais.

Em seu art. 57, essa Lei, em regra de direito processual civil aplicável a qualquer demanda
cível, dispõe que “O acordo extrajudicial, de qualquer natureza ou valor, poderá ser
homologado, no juízo competente, independentemente de termo, valendo a sentença
como título executivo judicial”.

Semelhante disposição foi introduzida no CPC de 1973 pela Lei n. 8.953/94, que
acrescentou ao então código processual civil brasileiro o inciso III do art. 584,
posteriormente, reintroduzido pela Lei n. 10.358/01, para estabelecer que é título
executivo judicial a sentença homologatória de transação, “ainda que esta não verse
questão posta em juízo”.

A então grande modificação introduzida foi no sentido de permitir que as partes


acordantes pudessem requerer ao juiz a homologação da autocomposição extrajudicial
“ainda que esta não verse questão posta em juízo”. Em resumo, o acordo extrajudicial
firmado antes do ajuizamento da ação ou mesmo no seu curso, poderia ser levada à
homologação judicial, constituindo-se em título executivo2.

Assim, independentemente de existir demanda judicial, as partes interessadas poderiam


celebrar acordo requerendo, em seguida, sua homologação judicial.

Já o atual CPC, em seu art. 725, inciso VIII, seguindo a linha da Lei n. 9.099/95, foi mais
explícito, estabelecendo expressa disposição quanto ao cabimento do processo de
“homologação de autocomposição extrajudicial, de qualquer natureza ou valor”.

É, pois, neste caminhar, que os arts. 855-B a 855-E da CLT vieram disciplinar, na
realidade, apenas o procedimento do processo de homologação de acordo extrajudicial no
âmbito da Justiça do Trabalho. Isso porque, na pior das hipóteses, por força da aplicação
subsidiária ou supletiva, desde o início da vigência do CPC de 2015, já tinha cabimento
na Justiça do Trabalho o processamento desta espécie de processo de jurisdição
voluntária.

1
Teixeira Filho, Manoel Antonio, As Recentes Alterações no Processo Civil e suas Repercussões
no Processo do Trabalho, p. 111.
2
Calmon de Passos, Inovações no Código de Processo Civil, p. 132; Theodoro Junior, Humberto,
As Inovações no Código de Processo Civil, p. 39-40.
A Reforma Trabalhista, portanto, apenas se preocupou em disciplinar o processamento,
não o cabimento, desta espécie de demanda judicial.

Antes de tratar do processamento em si, no entanto, é preciso delimitar o que se tem por
acordo extrajudicial.

3. Do acordo extrajudicial. Conceito e distinções.

A CLT fala em “acordo extrajudicial”. O CPC/15, mais técnico, menciona a


autocomposição extrajudicial. Não falam em transação.

Transação é o ato pelo qual os interessados previnem ou terminam o litígio “mediante


concessões mútuas” (art. 840 do CC). No caso, na transação, diante do litígio em torno
de alguma pretensão, inclusive quanto a “direitos” contestados judicialmente (res dubia),
os interessados podem celebrar um verdadeiro acordo pondo fim ao conflito mediante
concessões mútuas.

Na hipótese de transação é preciso que se esteja diante de um conflito, ao menos em


potencial, e que as partes façam concessões mútuas. É o que ocorre, por exemplo, quando
o trabalhador afirma que o empregador lhe deve mil reais a título de aviso prévio e este
aduz que apenas deve seiscentos reais. No caso, diante da res dubia (coisa duvidosa; quem
tem razão?), as partes podem fazer concessões mútuas, v.g., transacionando o pagamento
de oitocentos reais. Há, neste caso, concessões mútuas.

A transação, ainda, está limitada “a direitos patrimoniais de caráter privado” (art. 841 do
Código Civil).

A CLT e o CPC/15, no entanto, não falam em transação. Mencionam o “acordo


extrajudicial” (ou autocomposição extrajudicial). E por “acordo” podemos ter o acerto de
vontades; a comunhão de vontades. Ou seja, qualquer acordo de vontades, ainda que não
haja concessões mútuas e ainda que não vise a prevenir ou encerrar um conflito. Aqui se
deve dar interpretação ampla ao que se deve ter por acordo, privilegiando a autonomia da
vontade, nos limites da lei.

O CPC menciona, ainda, que ele pode ser “de qualquer natureza ou valor” (inciso VIII do
art. 725 do CPC/15). Logo, não se limita “a direitos patrimoniais de caráter privado” (art.
841 do CC). E essa disposição processual bem revela que a expressão acordo extrajudicial
não se equivale a transação, já que esta somente pode envolver direitos patrimoniais
privado.

A partir, portanto, desses dispositivos se pode concluir que acordo extrajudicial é


qualquer acerto de vontade, envolvendo direito de qualquer natureza, patrimonial ou não,
privado ou público, gracioso ou oneroso, etc.

Ele, assim, pode se referir a um acordo para alterar um contrato, um acordo para distratar
o contrato, para quitar direitos e obrigações, etc. Em suma, pelo acordo as partes podem,
nos limites da lei, pactuar qualquer acerto, com declarações recíprocas de vontade, ainda
que por mera liberalidade ou graciosa.

Neste caminho, acrescentando com outros exemplos, podem ser objeto de homologação
judicial: o acordo para rescisão contratual (art. 484-A da CLT), o acordo (cláusula ou
compromisso) de arbitragem (art. 507-A da CLT), a quitação anual de obrigações (art.
507-B da CLT), a alteração contratual (art. 468 da CLT) e o acordo de compensação de
jornada de trabalho (arts. 59 e 59-A da CLT), dentre outras hipóteses.

Nada impede, ainda, que o acordo coletivo possa ser levado a homologação judicial,
passando a gozar da natureza de sentença normativa.

4. Procedimento.

A CLT não disciplina pormenorizadamente o procedimento a ser adotado no processo de


homologação judicial do acordo extrajudicial. O mesmo ocorre em relação ao CPC.

Assim, na Justiça do Trabalho, cabe se valer das regras supletivas e subsidiárias,


apoiando-se, ainda, nas regras gerais que disciplinam o processo civil brasileiro.

A partir da legislação processual, então, podemos traçar algumas regras básicas de


procedimento.

4.1. Iniciativa

O CPC/15, em seu art. 720 dispõe que na demanda de jurisdição voluntária para
homologação judicial de acordo extrajudicial “o procedimento terá início por provocação
do interessado, do Ministério Público ou da Defensoria Pública, cabendo-lhes formular o
pedido devidamente instruído com os documentos necessários e com a indicação da
providência judicial” (art. 720). No caso, a providência judicial seria a mera homologação
do acordo.

A CLT, porém, dispõe que “O processo de homologação de acordo extrajudicial terá


início por petição conjunta, sendo obrigatória a representação das partes por advogado”
(art. 855-A), não podendo as partes serem representados pelo mesmo causídico (§ 1º do
art. 855-A da CLT). Logo, ao contrário do processo civil, na qual qualquer interessado, o
Ministério Público e a Defensoria Pública, pode propor a demanda pedindo a
homologação judicial do acordo extrajudicial, na Justiça do Trabalho esse pleito deve ser
formulado em conjunto.

Essa regra, no entanto, é de questionável constitucionalidade, já que condiciona o acesso


à justiça de um à vontade do outro. E, em tese, quem celebra acordo extrajudicial tem
interesse em pedir a sua homologação judicial por força do que lhe é assegurado no CPC
(inciso VIII do art. 725), especialmente quando ele, por si só, já constitua título executivo
extrajudicial (art. 785 do CPC/15).

De qualquer forma, pode-se pensar na constitucionalidade desse dispositivo, que exige


comum acordo para propositura da demanda homologatória, numa interpretação
conforme a Constituição, partindo-se do pressuposto de que a oposição de um dos
acordante em propor a ação respectiva não pode ser injustificada. Logo, o acordante-
interessado, quando diante dessa recusa injustificada, pode requerer a outorga judicial
respectiva no bojo do próprio procedimento homologatório.

E aqui vale lembrar que nossa legislação, em diversas situações, submete o exercício do
direito ao consentimento de outrem. E, em geral, nessas situações, o legislador prevê a
possibilidade de o consentimento ser suprimido por decisão judicial.

Podemos, assim, citar o caso do menor que somente pode se casar com o consentimento
de seus responsáveis (art. 1.517 do CC), mas a lei possibilita ao juiz suprir esse
consentimento quando “injusta” a recusa (art. 1.519 do CC). Igualmente, o Código Civil
também estabelece que o cônjuge, salvo quando casado sob regime de separação absoluta
de bens, somente pode concretizar determinados negócios jurídicos com o consentimento
do outro (art. 1.647 do CC). O juiz, no entanto, poderá suprir o consentimento quando a
recusa não tenha um “justo motivo” (art. 1.648 do CC).

No âmbito processual pode ser citado o exemplo do ajuizamento de algumas ações


judiciais por parte do cônjuge condicionada à concordância do outro (art. 73 do CPC). O
próprio CPC, porém, autoriza a supressão judicial quando o cônjuge não concede a
autorização “sem justo motivo, ou quando lhe seja impossível concedê-lo” (art. 74 do
CPC).

Esses exemplos, portanto, estabelecem a regra de que, sempre que o exercício de um


direito dependa da concordância de outrem, a recusa por parte deste outro deve ser
motivada. E, no caso de recusa sem justo motivo, pode o interessado demandar pedindo
que seja suprido o consentimento. Assim, o acordante extrajudicial, mesmo sem o
consentimento prévio da parte contraria, pode pedir a homologação, com eventual pedido
cumulado de supressão do consentimento.

Vale acrescentar, ainda, que nada impede de a parte ser substituída processualmente nesta
demanda, seja pela entidade sindical, seja pelo Ministério Público do Trabalho.

Lembre-se, ainda, que o interessado na homologação do acordo pode ser o trabalhador, o


que reforça a possibilidade da substituição processual em defesa do interesse do
empregado.

4.2. Rito procedimental

A CLT dispõe que, uma vez proposta a demanda, “no prazo de quinze dias a contar da
distribuição da petição, o juiz analisará o acordo, designará audiência se entender
necessário e proferirá sentença” (art. 855-D).

Caso, porém, a demanda seja proposta por apenas um dos interessados, a hipótese é de
aplicação da regra subsidiária do CPC, em seu art. 721, determinando-se a citação de
“todos os interessados” para se manifestarem no prazo de quinze dias.

Assim, mesmo na hipótese de a demanda ser proposta por apenas um dos acordantes, não
cabe ao juiz, de logo, extinguir o feito pela ausência de manifestação de interesse do outro
acordante. No caso, cabe-lhe, em verdade, mandar citar o interessado para que ele se
pronuncie quanto a concordância ou não com o pedido de homologação judicial.

Em qualquer hipótese, porém, cabe intimar o Ministério Público nos casos previstos no
art. 178 do CPC/15, ou seja, nos processos que envolvam “interesse público ou social”,
“interesse de incapaz” ou quando envolver “litígios coletivos pela posse de terra rural ou
urbana”, lembrando que a “participação da Fazenda Pública não configura, por si só,
hipótese de intervenção Parquet (parágrafo único do art. 178 do CPC/15).
A CLT ainda prevê (e nada impediria qualquer omissão legislativa neste ponto) a
possibilidade de o juiz do trabalho designar audiência, “se entender necessário”. No caso,
na audiência o juiz poderia pedir que as partes prestassem algum esclarecimento, tirar
dúvidas, etc., podendo, ainda, sugerir alterações no acordo de modo a adequá-lo aos
limites da lei, evitando, assim, eventual decisão desfavorável aos interessados.

Nada impede, ainda, que a audiência sirva como meio de ratificação do acordo
extrajudicial, especialmente quando, pelo menos, um dos acordantes esteja numa
condição de vulnerabilidade qualificada. Esclarecemos.

Por certo que, em regra, o trabalhador pode ser classificado como vulnerável, já que se
encontra numa situação de fragilidade, permanente ou provisória, perante o empregador.
Daí porque necessita de maior proteção. Logo, em tese, o juiz do trabalho sempre pode
designar a audiência como meio de controle do acordo, já que na oportunidade pode
apurar o grau de vontade do trabalhador na celebração do acordo.

Há trabalhadores, porém, que se encontram em dupla situação de vulnerabilidade dada


sua condição pessoal. São os casos dos incapazes, idosos, negros, homossexuais,
indígenas, deficientes físicos, etc. São pessoas vulneráveis em face de duas ou mais
condições, ou seja, além de vulnerável em face da condição de empregado, ainda a são
dada outra condição pessoal.

Na prática, então, essa audiência será uma verdadeira audiência de conciliação ou


mediação, regulada no art. 334 do CPC, atraindo a aplicação dos princípios apontados no
art. 166 do mesmo diploma legal.

Assim, no caso, o juiz deve, se for o caso, observar os “princípios da independência, da


imparcialidade, da autonomia da vontade, da confidencialidade, da oralidade, da
informalidade e da decisão informada” (art. 166 do CPC).

Dentre todos eles cabe especial aplicação o princípio da decisão informada. Por este, cabe
prestar ao interessado todas as informações e esclarecimentos necessários à compreensão
do que está sendo acordado, inclusive quanto as suas consequências. Ou seja, é condição
necessária que o interessado tenha plena consciência quanto aos seus direitos e a realidade
fática na qual se encontra e as consequências que possam advir do acordo celebrado.

Logo, ao menos em casos especiais, o juiz pode se valer da audiência para prestar esses
esclarecimentos, solicitando a ratificação do acordado antes de sua homologação.

Neste caminhar, optando pela realização dessa audiência, mas desde que advertindo
previamente as partes, cabe, ainda, a aplicação da regra do § 8º do art. 334 do CPC, de
modo que o não comparecimento injustificado da parte audiência poderá ser “considerado
ato atentatório à dignidade da justiça e será sancionado com multa de até dois por cento
da vantagem econômica pretendida ou do valor da causa, revertida em favor da União
[...]”.

Nada impede, ainda, de o juiz, antes de homologar o acordo, pedir esclarecimentos por
escrito, sugerir retificação de cláusulas, ou, ainda, ouvir terceiros na qualidade de amicus
curiae, “considerando a relevância da matéria, a especificidade do tema objeto da
demanda ou a repercussão social da controvérsia” (art. 138 do CPC).

4.3. Da sentença e do recurso

Com ou sem a realização da audiência, seja qual for a hipótese, o juiz deve pronunciar
sua decisão em sentença. Essa poderá ser simplesmente homologatória do acordo, ainda
que parcialmente, ou extintiva sem resolução do mérito (ilegitimidade de parte, etc) ou,
ainda, de rejeição do pleito com resolução de mérito (improcedência do pedido de
homologação).

No caso de homologação integral, a decisão dispensa maiores fundamentos, já que ela


não contraia a vontade dos interessados na homologação. Basta a menção ao
preenchimento dos pressupostos legais.

Nas demais hipóteses, no entanto, em recusando, ainda que em parte, a homologação


judicial, o juiz deve apontar o fundamento da sua decisão denegatória. Aqui se exige a
motivação expressa e explícita, já que a decisão contraria os interesses dos acordantes.

O CPC, no parágrafo único do art. 723, aplicável por força do disposto no art. 725, caput,
estabelece que neste procedimento “O juiz não é obrigado a observar critério de
legalidade estrita, podendo adotar em cada caso a solução que considerar mais
conveniente ou oportuna”.

De fato. Adaptando essa regra ao procedimento em comento, quando da apreciação do


pedido de homologação judicial do acordo extrajudicial (tal como já ocorre na conciliação
judicial), o juiz não pode se limitar a aferir o pleito somente à luz da legalidade estrita.
Ele, em verdade, deve ser ater à situação na qual se encontram as partes interessadas,
procurando verificar, a par da legalidade estrita, a conveniência e oportunidade do acordo.
Conjugando-se, assim, os princípios que nortearam a reforma trabalhista, em especial a
elevação de grau de autonomia das partes, com a regra do parágrafo único do art. 723 do
CPC/15, o que se quer com a homologação judicial do acordo extrajudicial é que o juiz
do trabalho, em determinadas situações, possa servir como autorizador do consentimento
de vontade do trabalhador, “referendando” ou suprindo a sua vontade nas hipóteses em
que a lei limita a sua autonomia.

Por exemplo: a CLT estabelece que somente o empregado que perceba salário mensal
igual ou superior a duas vezes o limite máximo dos benefícios do Regime Geral de
Previdência Social e seja portador de diploma de nível superior possa firmar acordo
contratual nas hipóteses previstas no art. 611-A da CLT (conforme disposto no parágrafo
único do art. 444 da CLT).

Quem não preencha essas duas condições, no entanto, poderá firmar o acordo
extrajudicial e pedir sua homologação judicial. Imaginem que esse acordo fosse celebrado
por um jogador de futebol que percebe salário elevadíssimo. No caso, então, o juiz, não
se limitando a legalidade estrita, tendo em conta a conveniência ou a oportunidade, poderá
homologar o acordo, referendando a vontade da parte cuja autonomia para negociar é
limitada.

Da decisão judicial, por sua vez, cabe embargos de declaração e eventual apelo (recurso
ordinário).

Impõe-se, ainda, que o juiz fixe as custas do processo.

Se o acordo envolver o pagamento de dinheiro, o juiz deve, ainda, em indicar a natureza


jurídica das parcelas, bem como a responsabilidade de cada interessado pelo recolhimento
da contribuição previdenciária, se for o caso (§ 3º do art. 832 da CLT).

Óbvio, ainda, que se o juiz perceber que as partes se valem do procedimento “para praticar
ato simulado ou conseguir fim vedado por lei”, cabe-lhe proferir decisão que impeça os
objetivos das partes (art. 142 do CPC).

Diga-se, ainda, que mesmo diante da recusa do acordo extrajudicial, nas hipóteses
previstas em lei, ele, por si só, já pode ser título executivo extrajudicial (por exemplo, nas
hipóteses dos incisos II, III e IV do art. 784 do CPC/15).

4.4. Efeitos
A CLT dispõe de duas regras quanto aos efeitos que decorrem do ajuizamento da ação de
homologação de acordo extrajudicial.

Todos os efeitos são negativos.

Assim, conforme art. 855-C da CLT, o ajuizamento da demanda de homologação não


prejudica o prazo para pagamento das verbas rescisórias estabelecido no § 6º do art. 477
da CLT e não afasta a incidência da multa sancionatória prevista no § 8º do mesmo
dispositivo.

Da mesma forma, conforme art. 855-E da CLT, com o início do procedimento


homologatório, o prazo prescricional da pretensão é suspenso em relação aos direitos
especificados no acordo extrajudicial. Esse prazo, porém, “voltará a fluir no dia útil
seguinte ao do trânsito em julgado da decisão que negar a homologação do acordo”
(parágrafo único do art. 855-E da CLT).

5. Controle judicial.

Outra questão bastante relevante é em se saber se o juiz pode exercer o controle judicial
quanto ao acordo extrajudicial.

A resposta, por óbvio, deve ser positiva, até porque a decisão judicial não é vinculante à
vontade das partes.

Assim por óbvio, que o juiz deve verificar o preenchimento de todos os requisitos
necessários para validade do negócio jurídico (arts. 104 e 166 do Código Civil), negando
homologação aos atos nulos de forma absoluta.

Caso, porém, esteja diante de ato anulável, ele somente poderá negar a homologação se
provocado (art. 141 do CPC).

O acordo extrajudicial pode envolver um negócio jurídico processual na forma permitida


no art. 190 do CPC. Logo, o juiz, no caso, deve observar as regras pertinentes antes de
sua homologação. Ou seja, deve verificar se as partes são “plenamente capazes”, suprindo
a vontade se oportuno ou conveniente.

Da mesma forma, como o acordo processual é menos que o formalizado em torno do


direito material, já que aquele é apenas instrumental em relação a este, poderá o juiz
aplicar a regra do parágrafo único do art. 190 do CPC em qualquer caso, mesmo não se
tratando de negócio jurídico processual.
Assim, “de ofício ou a requerimento, o juiz controlará a validade das convenções [...],
recusando-lhes aplicação somente nos casos de nulidade ou de inserção abusiva em
contrato de adesão ou em que alguma parte se encontre em manifesta situação de
vulnerabilidade” (parágrafo único do art. 190 do CPC), sem perder de vista a
oportunidade e conveniência da homologação do acordo, e não somente se atendo à
legalidade estrita.

6. Anulação e rescisão.

A decisão meramente homologatória não é rescindível. No caso, aplica-se a regra do § 4º


do art. 966 do CPC, sujeitando a decisão à anulação nos termos da lei.

No caso, a decisão homologatória do acordo poderá ser anulada no prazo decadencial de


quatro anos (art. 178 do Código Civil), contado “I - no caso de coação, do dia em que ela
cessar; II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em
que se realizou o negócio jurídico; III - no de atos de incapazes, do dia em que cessar a
incapacidade”.

O juízo que homologou o acordo, por sua vez, é o prevento para a respectiva ação
anulatória3.

No caso em que o juiz nega a homologação judicial, no entanto, a decisão respectiva pode
ser objeto de ação rescisória nas hipóteses taxativas prevista no CPC (art. 966 do CPC).
Isso porque, no caso, por lógica, não se trata de decisão meramente homologatória de ato
de vontade. E a que nega a homologação é de mérito.

7. Conclusão.

3
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Conflito de competência n. 120.556. Rel. Min. Luis Felipe
Salomão. Julgado em 09/10/2013. DJe 17/10/2013. Disponível em:
https://ww2.stj.jus.br/processo/pesquisa/?tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroRegistro&termo=2011031
09345&totalRegistrosPorPagina=40&aplicacao=processos.ea. Acesso em: 25 set. 2017; BRASIL.
Superior Tribunal de Justiça. Recurso especial n. 1.150.745. Rel. Min. Marco Buzzi. Julgado em
11/02/2014. DJe 19/02/2014. Disponível em:
https://ww2.stj.jus.br/processo/pesquisa/?tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroRegistro&termo=2009014
37560&totalRegistrosPorPagina=40&aplicacao=processos.ea. Acesso em: 25 set. 2017.
Assim, em apertada síntese podemos concluir que o procedimento de homologação de
acordo extrajudicial já tinha cabimento na Justiça do Trabalho pelo menos desde o início
da vigência do Código de Processo Civil de 2015, por força de sua aplicação subsidiária
e supletiva, tendo em vista o disposto no art. 725, inciso VIII, deste diploma legal.

A Lei n. 13.467/17, por sua vez, apenas veio disciplinar, em alguns aspectos, o
processamento deste procedimento de jurisdição voluntária, estabelecendo algumas
regras mais especiais em relação ao CPC de 2015, a exemplo da exigência do seu
ajuizamento em petição conjunta pelas partes interessadas.

O acordo extrajudicial difere da transação, já que aquele pode ter por objeto matéria de
qualquer natureza e valor (inciso VIII do art. 745 do CPC/15), enquanto esta outra
(transação) é reservada a direitos patrimoniais privados.

O juiz do trabalho pode exercer, de ofício, o controle judicial do acordo extrajudicial,


negando sua homologação quando diante de nulidades absolutas. Os vícios que anulam o
acordo extrajudicial, no entanto, somente podem ser apreciados por provocação da parte
interessada.

Por fim, cabe ressaltar que a decisão que homologa o acordo extrajudicial é passível de
anulação nos termos da legislação civil. Já a decisão que rejeita o pedido ou que
eventualmente extingue sem resolução de mérito o procedimento pode, nas hipóteses
legais, ser objeto de rescisão judicial.

8. Referências

BRASIL. Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. 1973.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5869.htm; Acesso em: 17 set. 2017.

BRASIL. Lei n. 8.953, de 13 de dezembro de 1994. Altera dispositivos do Código de Processo


Civil relativos ao processo de execução. 1994. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8953.htm. Acesso em: 17 set. 2017.

BRASIL. Lei n. 9.099, de 26 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis
e Criminais e dá outras providências. 1995. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9099.htm. Acesso em: 17 set. 2017.

BRASIL. Lei n. 10.358, de 27 de dezembro de 2001. Altera dispositivos da Lei no 5.869, de 11


de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil, relativos ao processo de conhecimento. 2001.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LEIS_2001/L10358.htm. Acesso
em: 17 set. 2017.

BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm. Acesso em: 03 jul. 2017.

BRASIL. Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. 2015. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 05
jun. 2017.

BRASIL. Lei n. 13.467, de 13 de julho de 2017. Altera a Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT), aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, e as Leis nos 6.019, de 3
de janeiro de 1974, 8.036, de 11 de maio de 1990, e 8.212, de 24 de julho de 1991, a fim de
adequar a legislação às novas relações de trabalho. 2017. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/L13467.htm. Acesso em: 28
ago. 2017.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Conflito de competência n. 120.556. Rel. Min. Luis
Felipe Salomão. Julgado em 09/10/2013. DJe 17/10/2013. Disponível em:
https://ww2.stj.jus.br/processo/pesquisa/?tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroRegistro&termo=
201103109345&totalRegistrosPorPagina=40&aplicacao=processos.ea. Acesso em: 25 set.
2017; BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso especial n. 1.150.745. Rel. Min. Marco
Buzzi. Julgado em 11/02/2014. DJe 19/02/2014. Disponível em:
https://ww2.stj.jus.br/processo/pesquisa/?tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroRegistro&termo=
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2017.

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