Juiz do Trabalho A primeira Constituição que tratou dos limites do Poder Normativo da Justiça foi a de 1946, que especificava que a lei iria determinar os casos em que as decisões nos dissídios poderão estabelecer normas e condições de trabalho. Quando fracassam todas as tentativas de negociação coletiva, de novas condições de trabalho, qual o sistema e o limite que devem ser usados para a solução do conflito trabalhista? A primeira Constituição que tratou dos limites do Poder Normativo da Justiça foi a de 1946, que especificava que a lei iria determinar os casos em que as decisões nos dissídios poderão estabelecer normas e condições de trabalho. A atual Constituição modificou a orientação das normas anteriores, não mais mencionando sobre o fato de que a lei iria estabelecer as hipóteses em que o Poder Normativo da Justiça do Trabalho poderia ser exercitado. O artigo 114, § 2º, da Constituição Federal, pelas alterações introduzidas pela EC nº 45/2004, estabelece o seguinte: “Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente”. A grande inovação introduzida a partir da referida Emenda Constitucional, no caso de dissídio coletivo de natureza econômica, é a aparente exigência, que haja comum acordo entre as partes. O tema em questão tem suscitado debates e distintas manifestações doutrinárias e jurisprudenciais. A interpretação que se faz do novo texto constitucional é de que o Poder Constituinte derivado consagrou mera faculdade ao tratar do consenso das partes na proposição da ação coletiva de natureza econômica, na medida em que a frustração da negociação prévia permanece como pressuposto do ajuizamento do dissídio coletivo, não havendo, por isso, que se falar em inconstitucionalidade da expressão ‘de comum acordo’. Na hipótese em que é buscada a conciliação entre as partes (negociação prévia), mas essa não é alcançada, é possível o ajuizamento do dissídio coletivo de natureza econômica por quaisquer das entidades sindicais sob pena de se eliminar o direito constitucional de ação previsto como cláusula pétrea da Constituição Federal. A análise dos limites do Poder Normativo deve levar em conta dois aspectos: o limite mínimo e o limite máximo. Com o limite mínimo, pouco se discutia na doutrina, em razão da norma constitucional que determinava a observância e manutenção das condições legais e convencionais mínimas de proteção ao trabalho. Com a atual redação da norma constitucional, podemos afirmar que os limites mínimos foram acrescidos para também proteger as disposições convencionadas anteriormente, as chamadas ‘cláusulas pré-existentes’. O limite máximo do Poder Normativo da Justiça do Trabalho é bastante discutido no âmbito doutrinário e jurisprudencial, sobretudo diante da nova redação do citado artigo 114 da CF, que suprimiu a expressão ‘estabelecer normas e condições’ por ‘decidir o conflito’. Com efeito, o Poder Normativo da Justiça do Trabalho continua ter limites mínimos e máximos. O jurista Octávio Bueno Magano, de saudosa memória, considerava o Poder Normativo da Justiça do Trabalho limitado ao ordenamento jurídico, definindo essa competência como típica atividade jurisdicional, pois, do contrário, estaria o Poder Judiciário invadindo área do Poder Legislativo. Afirmava o citado jurista que a CF de 1988 apenas extinguiu a compartimentação do campo de atuação do Poder Normativo que antes existia. Não há mais que esperar o legislador ordinário indicar qual a matéria possível de ser decidida pela Justiça do Trabalho nos conflitos coletivos. Remarcava, ainda, inclusive, uma analogia com o poder regulamentar do Executivo, que jamais pode confrontar a lei, lembrando estudo feito neste sentido pelo Ministro do TST Manuel Mendes de Freitas. Assim sendo, o texto constitucional valorou a negociação coletiva que, caso infrutífera, possibilita o ajuizamento da ação coletiva, visando a prestação jurisdicional do Estado. Entretanto, na ausência de acordo entre as partes, não implica tenha o Julgador de definir os limites da pretensão postulada além do que estatui a lei, criando normatividade não prevista no ordenamento legal. Em nenhum momento, porém, o texto constitucional do artigo 114, de acordo com a redação dada pela EC 45/2004, atribuiu ao Judiciário a obrigação de ampliar os direitos dos trabalhadores por meio do julgamento de cláusulas de dissídio coletivo. Mesmo antes da referida alteração constitucional, nem todas as questões e disputas entre os sindicatos de empregados e empregadores que implicassem a criação de normas e condições de trabalho para a solução do conflito estavam abrangidas pelo Poder Normativo da Justiça do Trabalho. Em outras palavras, o Poder Normativo nunca foi remédio para todas as reivindicações cuja satisfação implicasse necessariamente a criação de normas. O STF, a partir de 1996, entendeu ser a decisão da Justiça do Trabalho, em sua competência normativa, fonte subsidiária do direito, suscetível de operar apenas no vazio legislativo, sujeita, porém, à supremacia da lei formal, a exemplo dos seguintes julgamentos: “A jurisprudência da Corte é no sentido de que as cláusulas deferidas em sentença normativa proferida em dissídio coletivo só podem ser impostas se encontrarem suporte na lei” (RE 114.836, Rel. Min. Maurício Cardoso, DJ 06-3-98) e “... por exceder seu conteúdo à competência normativa da Justiça do Trabalho, cujas decisões, a despeito de configurarem fonte de direito objetivo, revestem o caráter de regras subsidiárias, somente suscetíveis de operar no vazio legislativo, e sujeitas à supremacia da lei formal (art. 114, § 2º, da Constituição)” (RE 197.911, Rel. Min. Octavio Gallotti, DJ 07-11-97). Na doutrina de Sérgio Pinto Martins, “No exercício do poder normativo, deve-se assegurar a propriedade privada, a sua função social, a livre iniciativa, a livre concorrência, a busca do pleno emprego, a valorização do trabalho humano e os ditames da justiça social (art. 170, II, III, IV e VIII), pois a empresa exerce a referida propriedade, assegurando empregos aos trabalhadores, devendo ser preservada a sua existência e continuidade, sem que haja intervenções excessivas do Poder Público no seu empreendimento, de maneira que possa haver justiça social. Se o poder normativo for estabelecido em contrariedade a tais hipóteses, haverá incompatibilidade com a Constituição” (in Repertório IOB de Jurisprudência, RJ/2, 1ª quinzena de fevereiro/97, nº 3/97 caderno 2). Cabe ressaltar, no entanto, que esse entendimento contraria a tese ampliativa do Poder Normativo defendida por parte da doutrina e da jurisprudência. Numa época de grandes transformações sociais, tecnológicas e dos costumes, parece natural que o Direito deve adequar-se à realidade. Nunca, porém, ao ponto de perder seu papel ético-cultural de referência às conquistas históricas da humanidade, centradas nas idéias de liberdade, de igualdade, de dignidade, de democracia e de Justiça. (Jornal O Sul, caderno colunistas, 09/04/2006)
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