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Direito do Trabalho

Aula 3

As Varas do Trabalho devem ser instaladas em cidades com mais de 24.000


empregados ou com uma média de demandas superior a 240 processos anuais. No caso, se
não se enquadrasse nesses requisitos e não fosse possível instalar uma vara trabalhista como
posto de um outro Foro Trabalhista – de uma sede de um Foro Trabalhista, posso instalar
pontos até 100km de distância da sede (ex.: Posto da Justiça do Trabalho em Capão da Canoa
vinculado ao Foro Trabalhista de Torres), o juiz de Direito, isto é, vinculado ao Tribunal de
Justiça daquele Estado-membro, será investido de jurisdição trabalhista para julgar demandas
naquela localidade.

A Vara do Trabalho compõe-se de um juiz do trabalho titular e um juiz do trabalho


substituto. O ingresso na carreira da magistratura trabalhista ocorre por meio de concurso de
provas e títulos para juiz substituto e haverá promoção na carreira considerando,
alternadamente, os critérios de antiguidade e de merecimento.

Órgãos auxiliares: secretaria/cartório da Vara, distribuição e contadoria.

Quando houver mais de uma vara com matérias concorrentes, isto é, que julguem as
mesmas matérias, haverá uma distribuição que será responsável por distribuir os processos,
reclamatórias trabalhistas de forma equânime, bem como para evitar o direcionamento das
ações.

Contadoria  realiza os cálculos contábeis necessários (ex.: o valor devido a título de


custas). Não confundir com o contador que é o experto, perito, não atua em todas os casos.

A jurisdição é o poder de dizer o Direito. O poder de dizer o Direito, de regra, é de


acordo e limitado pelo pedido das partes no processo e, somente pode analisar e julgar sobre
esses pedidos, o juiz competente e provocado pelas partes.

Preciso conhecer as regras para saber quem é aquele que pode analisar os meus
pedidos, isto é, aquele que tem competência para dizer o Direito no caso em concreto.

Competência em razão da matéria

A competência é processar e julgar questões derivadas da relação de trabalho. Houve


uma modificação de competência e ampliação de jurisdição pela Emenda Constitucional n. 45.
Antes dessa emenda, a competência era processar e julgar as relações de emprego. Contudo, a
partir da emenda referida, a competência passou a ser não apenas das relações de emprego
(espécie de trabalho), mas das questões derivadas da relação de trabalho.

Relação de trabalho consiste em vínculo resultante da prestação pessoal de serviços


em proveito de outrem, pessoa física ou jurídica, que o remunera. Pressupõe objeto lícito,
manifestação de vontade sem vício, agente capaz.

O emprego é uma espécie de trabalho. Esse é gênero e aquele uma das suas
espécies.

Prestação gratuita ou voluntária de trabalho não gera direito para quem o presta ou
dever jurídico para quem se beneficia, por exemplo, assim como também é afastada aquela
prestação realizada por um pessoa jurídica.

A Emenda Constitucional visou a trazer para a competência trabalhista ações


referentes, por exemplo, a trabalhadores informais e questões concernentes a possíveis
fraudes trabalhistas. Aproximou-se o Brasil do que havia na Europa.

Contratos de pequena empreitada  o contrato que une o empreiteiro ao dono a


obra é de natureza civil, visto que visa a um resultado e não a pessoalidade do prestador
(interessa quem faça e não o prestador). A competência da Justiça do Trabalho decorre do art.
652, a, III, da CLT, que diz que é competente tal justiça nos casos de pequeno empreiteiro e
artífice, isto é, o empreiteiro trabalha junto com seus empregados, confundindo-se com esses.
O legislador equiparou esse pequeno empreiteiro ao empregado para garantir o direito de
ação quanto ao preço da empreitada e, se houver, da multa contratual, apesar de não ser uma
matéria precípua trabalhista. A competência da Justiça do Trabalho amplia-se em face da
legislação. A CLT previu estabeleceu essa proteção, a garantia do direito de ação na Justiça do
Trabalho, para o “empreiteiro operário” ou artífice porque, na época, não havia os juizados
especiais – era uma forma de garantir o acesso dele à justiça sem necessidade de pagamento
de custas, evitando que fosse obrigado a contratar advogados, etc. Não pode ser pleiteados
direitos de ordem trabalhista ao pequeno empreiteiro, mas, sim, o valor do contrato e, se
prevista contratualmente, a cláusula penal. Não poderia se falar, por exemplo, em horas
extras, horário noturno, mas apenas da matéria referente à contratada. Pela emenda
constitucional n. 45/04, ainda continua tais casos – do pequeno empreiteiro e artífice – como
de competência trabalhista. A Súmula 18 das Turmas Recursais – vide, por exemplo, o recurso
inominado de n. 701004011789 de 2013 – considera incompetente os juizados especiais para
julgar casos concernentes a pequenas empreitadas.
A competência da Justiça do Trabalho também decorre do art. 114 da CLT, in verbis:

“Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: (Redação dada pela


Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

I – as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público


externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de
2004)

II – as ações que envolvam exercício do direito de greve; (Incluído pela Emenda


Constitucional nº 45, de 2004)

III – as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e


trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores; (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)

IV – os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data , quando o ato


questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição; (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)

V – os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista, ressalvado o


disposto no art. 102, I, o; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

VI – as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação


de trabalho; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

VII –as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores


pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho; (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)

VIII – a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a , e II,
e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir; (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

IX – outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da


lei. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

§ 1º - Frustrada a negociação coletiva, as partes poderão eleger árbitros.

§ 2º Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é


facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza
econômica, podendo a Justiça do  Trabalho decidir o conflito, respeitadas as
disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas
anteriormente. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

§ 3º Em caso de greve em atividade essencial, com possibilidade de lesão do interesse


público, o Ministério Público do Trabalho poderá ajuizar dissídio coletivo,
competindo à Justiça do Trabalho decidir o conflito.(Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)”

Competência normativa  autoriza-se a justiça do trabalho editar normas gerais


modificadoras das relações trabalhistas, isto é, há a função de legislar diante do caso concreto
para conflitos coletivos (art. 144, § 2º da CLT).
O preceito constitucional abriu três vias para solução dos conflitos coletivos –
arbitragem, negociação coletiva e dissídio coletivo. É facultada às partes ajuizar dissídio
coletivo. Frustrada a negociação coletiva, poder-se-á recorrer-se à arbitragem.

Como pré-requisito indispensável para o dissídio coletivo, deveria haver


demonstrado para solução das divergências foi tentada negociação coletiva conforme
entendimento jurisprudencial.

A emenda constitucional n. 45/04, restringiu, em um primeiro olhar, a solução


jurisprudencial. O dissídio coletivo de natureza econômico passou a ser admitido somente
quando é proposto pelas partes, ou, no caso de greve, pelo Ministério Público do Trabalho
(proposto pelo MPT, fica no polo ativo esse e no polo passivo os sindicatos).

O dissídio coletivo seria de natureza econômica, não mais falando da possibilidade


desse dissídio ter natureza jurídica. Entendeu-se que, com a reforma realizada pela EC n.
45/04, haveria uma limitação da competência da natureza normativa dos tribunais, que não
poderiam dar mais normas interpretativas, por exemplo, de cláusulas decorrentes de
convenção em dissídio, ou de natureza jurídica em dissídio.

Porém, o entendimento atual é de que a competência para dissídios de natureza


jurídica não fora perdida. Atualmente, além dos dissídios de conflito econômico, os de
natureza jurídica ou de interpretação de cláusulas de convenção em dissídios coletivos ainda
são julgados pelos TRT em dissídios. Entende-se que a falta de previsão constitucional não
prejudica a existência desses dissídios de natureza jurídica e a solução pelo Judiciário, pois
estaria albergada no art. 10 da Lei 7.701/88 que os dissídios de natureza jurídica são de
competência originária do Tribunais Regionais do Trabalho. Logo, julga-se dissídios tanto de
natureza econômica como jurídica.

Acidente do trabalho  o pleno do STF havia concluído que a competência era da


Justiça Comum (março/2005 a decisão). As demandas propostas contra o empregador para
ressarcimento de danos morais e materiais (patrimoniais) seria da Justiça comum. Era a
conclusão mantida pelo STF, porquanto compreendiam que o pleito realizado pelos familiares,
se houve falecimento do trabalhador, tinha natureza sucessória, decorria da sucessão e não
necessariamente de um vínculo entre empregado (falecido) e empregador. Assim, diante
disso, manteve-se a competência da Justiça Estadual para julgamento de casos concernentes a
acidentes do trabalho. Entrementes, o STJ, a posteriori, entendeu que a competência para
essas ações de indenizações por danos extrapatrimoniais e patrimoniais era da Justiça do
Trabalho. A partir daí, começou uma discussão novamente quanto a essa competência. Hoje é
assente que a competência para julgamento de casos referentes a acidentes do trabalho é da
Justiça laboral. O tema foi pacificado pela súmula vinculante n. 22 de 11 de dezembro de 2009
do Pretório Excelso. Considerou-se que se o acidente do trabalho nasce dentro da relação de
trabalho e dela decorre, a competência deve ser da Justiça do Trabalho e não pode ser a
competência estabelecida pela qualidade das partes, ou seja, independente da ação ser
movida pelo próprio trabalhador acidentado ou pelo seu espólio ou herdeiros (em caso de
óbito do trabalhador diante de acidente do trabalho), não se modifica o fato do acidente ter
nascido dentro da relação trabalhista, passando com esse novo entendimento a ser fixada a
competência da Justiça trabalhista pelas ações indenizatórias, mesmo que postuladas por
sucessor, em razão de acidente de trabalho, passando a viger a súmula vinculante 22 do STF
que revogou súmula anterior de entendimento contrário. Mesmo as ações já em trâmite, não
sentenciadas, ajuizadas quando já havia a súmula 45/2004, passaram a ser de competência da
justiça laboral. Se já houve sentença, quem a prolatou seria o competente pela execução. Se
não houve sentença, o feito seria remetido para a Justiça trabalhista.

Na concepção do professor, as regras de competência devem ser prévias, pois se já


há a ação, não deveria ser, durante essa, alterada a competência, pois alguém seria
prejudicado. A competência, a regra do jogo, deve ser estabelecida antes do jogo. Não pode
mudar as regras do jogo durante ele. A indefinição da competência gera custos consideráveis.

Relações de consumo  a competência da Justiça do Trabalho se estende às


relações de trabalho, mas não às de consumo, visto que essas são, ideologicamente,
incompatíveis com a justiça do trabalho. Deve-se observar que há diferenças entre a relação
de trabalho e de consumo. O empregado (prestador do serviço) é hipossuficiente em relação
ao empregador (tomador do serviço). Na relação de consumo, o consumidor (tomador de
serviço) que é o hipossuficiente em face do prestador de serviços.

Nas relações de consumo, não há os requisitos que caracterizam a relação de


trabalho, assim como as verbas discutidas são diversas das trabalhistas.

Se é uma relação na qual quero reconhecer vínculo trabalhista, por entender que são
preenchidos seus requisitos, a competência é da Justiça do Trabalho. Se for uma relação de
consumo e que quero discutir as verbas decorrentes da relação de consumo, a competência é
da Justiça Comum.

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