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DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO

(CONTINUAÇÃO)

PRINCÍPIOS PECULIARES DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO (conforme


Carlos Henrique Bezerra Leite)

INTRODUÇÃO:

-> Para Mauro Schiavi o princípio se traduz na própria norma jurídica.

-> Função: informativa (informar o legislador da criação da lei), integrativa


(suprir lacunas/anomias – art. 769 da CLT) e interpretativa (art. 8º §1º, CLT)

PRINCÍPIOS

-> 1) Princípio da proteção: Para não haver desigualdade entre trabalhador e


empregador, o próprio legislador trouxe esta proteção nos artigos 9º, 444 e 468
CLT. Estes três artigos são chamados de coluna vertebral da proteção ao
trabalhador, dispondo inclusive que qualquer cláusula contratual que viole o
que está na CLT é nula de pleno direito, ou seja, os direitos trabalhistas são
irrenunciáveis.

O princípio da proteção processual deriva da própria razão de ser do processo


do trabalho, o qual foi concebido para efetivar os direitos materiais
reconhecidos pelo direito do trabalho, sendo este ramo da árvore jurídica criado
exatamente para compensar ou reduzir a desigualdade real existente entre
empregado e empregador, naturais litigantes do processo laboral.

Como exemplo, acrescenta-se que a ausência dos litigantes à audiência


trabalhista implica o arquivamento dos autos para o autor (geralmente o
empregado) e confissão ficta e revelia para o réu (em regra o empregador). Este
tratamento legal diferenciado constitui a exteriorização do princípio da
proteção ao trabalhador (natural litigante no pólo ativo da demanda no âmbito
do processo do trabalho). É o que se extrai do artigo 844 da CLT.

A desigualdade econômica, o desequilíbrio para a produção de provas, a


ausência de um sistema de proteção contra a despedida imotivada, o
desemprego estrutural e o desnível social e cultural entre empregado e
empregador, certamente, são realidades trasladadas para o processo do
trabalho, sendo, portanto, imprescindível a existência de um princípio de
proteção ao trabalhador, que é destinatário de direitos humanos, sociais e
fundamentais.

Por fim, uma das críticas em relação à reforma trabalhista é de que a mesma
exerce grande influencia para o enfraquecimento do princípio da proteção
processual. Exemplo: pagamento de custas pelo empregado, se ele propor uma
segunda ação depois do arquivamento injustificado da primeira; pagamento de
perícia se o empregado perder, ainda que ele seja beneficiário.

-> Proteção existe nos dois ramos, ou seja, no direito do trabalho e no processo
do trabalho.

. Ex.: Direito do Trabalho: Arts. 9º, 444 e 468 da CLT; Processo do Trabalho: Arts.
844 e 899 CLT e Súmula 128 TST.

-> 2) Princípio da finalidade social: Quem tem o dever de fiscalizar a proteção é


o juiz, ou seja, é o juiz que deve tornar efetiva essa proteção. No processo civil
não tem esse princípio, por isso ele se destaca do processo do trabalho

Segundo Humberto Theodoro Junior “o primeiro e mais importante princípio


que informa o processo trabalhista, distinguindo do processo civil comum, é o
da finalidade social, de cuja observância decorre da quebra do princípio da
isonomia entre as partes, pelo menos em relação à sistemática tradicional do
direito formal”.

A diferença básica entre o princípio da proteção processual e o da finalidade


social do processo é que, no primeiro, a própria lei confere a desigualdade no
plano processual, no segundo, permite-se que o juiz tenha uma atuação mais
ativa, na medida em que auxilia o trabalhador, em busca de uma solução justa,
até chegar o momento de proferir a sentença. Ex: Art. 5º LINDB – esse artigo
justifica essa aplicação do juiz

-> 3) Princípio da primazia da realidade: Art. 765 CLT e Súmula 74, II e III TST.

Este princípio processual deriva do direito material do trabalho, conhecido


como principio da primazia da realidade ou contrato realidade. Embora haja
divergência sobre a singularidade deste princípio no sitio do direito processual
do trabalho, parece-nos inegável que ele é aplicado com maior ênfase neste
setor da processualística do que no processo civil. O dispositivo no art. 765 da
CLT, confere aos juízos e tribunais do trabalho ampla liberdade na direção do
processo. Assim, os magistrados do trabalho ‘velarão pelo andamento rápido
das causas, podendo determinar qualquer diligencia necessária ao
esclarecimento delas’.

Em um processo é comum existir documentos válidos apresentados como meio


de provas, porém podem ser descaracterizados. Existe uma preocupação com o
empregado e sabe-se que o empregador pode obrigá-lo a assinar documentos,
por isto, são meios de prova relativos, que comportam prova em contrário,
como testemunhas, por exemplo. É muito Importante que as partes tenham
noção do ônus da prova.

Em regra o ônus sempre começa com quem alega (normalmente o empregado,


art. 818, I, da CLT, ex: requerimento horas extras), porém, a empresa,
dependendo do que ela alega, pode atrair o ônus (ex.: eu paguei, eu compensei,
ele não fez.. são fatos extintivos, modificativos e impeditivos do direito do
autor, art. 818, II, da CLT). A busca da verdade real faz parte do processo do
trabalho, é um dever do juiz do trabalho.

-> 4) Princípio da indisponibilidade: Esse princípio constitui adaptação do


princípio da indisponibilidade ou irrenunciabilidade do direito material do
trabalho no campo do processo do trabalho.

As normas de direito processual de qualquer ramo são, em regra, de natureza


absoluta e de ordem pública, mas nos sítios do processo do trabalho a
indisponibilidade do direito processual assume importância mais enfática, tendo
em vista a inferioridade econômica do trabalhador destinatário, em regra, de
créditos de natureza alimentícia como um dos sujeitos da relação jurídica
processual. A súmula 418 do TST, quando autoriza ao juiz do trabalho a
faculdade na homologação do acordo está assegurando, dentre outras coisas, a
irrenunciabilidade do direito processual do trabalho. Ex.: O juiz não homologaria
um acordo em caso de fraude ou renúncia de direito trabalhista, e esta decisão
é irrecorrível. Outro exemplo seria a não aplicação de ofício da prescrição em
créditos trabalhistas, pois a previsão do art. 219, §5º CPC violaria o princípio da
proteção ao trabalhador, pois apenas este poderia ser prejudicado com a
aplicação de ofício, porém, existe divergência em relação a este entendimento.

-> 5) Princípio da conciliação: O princípio da conciliação encontrava


fundamento expresso nas Constituições brasileiras de 1946 (art. 123), de 1967
(art. 134), de 1969 (art. 142, com redação dada pela EC n. 1/1969) e na redação
original do art. 114 da Carta de 1988. Todas essas normas previam a
competência da Justiça do Trabalho para “conciliar” e julgar os dissídios
individuais e coletivos.

Embora o princípio da conciliação não seja exclusivamente do processo laboral,


parece-nos que é aqui que ele se mostra mais evidente, tendo, inclusive, um
inter procedimentalis peculiar, como se pode observar os arts. 764 e 831 CLT.
Há no procedimento comum ordinário trabalhista, dois momentos obrigatórios
para proposta judicial de conciliação, quando aberta a audiência (art. 846 CLT),
e após as apresentações das razões finais (art. 850 CLT). O acordo é bem-vindo
em qualquer fase do processo.

Com efeito, dispõem o art. 764, caput, e seus parágrafos da CLT. (caput: Os
dissídios individuais ou coletivos submetidos à apreciação da Justiça do Trabalho serão
sempre sujeitos à conciliação.)

Dois momentos obrigatórios para a proposta judicial de conciliação

1- Art. 846 CLT: Ocorre por ocasião da abertura da audiência. “Aberta a


audiência, o juiz ou presidente proporá a conciliação”

2- Art. 850 CLT: Ocorre após o término da instrução e da apresentação das


razões finais pelas partes.

-> 6) Princípio da normatização coletiva (poder normativo da Justiça do


Trabalho ao julgar um dissídio coletivo)

A justiça do trabalho brasileira é a única no mundo que pode exercer o chamado


poder normativo, que consiste no poder de criar normas e condições gerais e
abstratas (atividade típica do poder legislativo, proferindo sentença normativa
com eficácia ultra partes, cujos efeitos irradiarão para os contratos individuais e
os trabalhadores integrantes da categoria profissional representada pelo
sindicato que ajuizou o dissídio coletivo.)

O princípio da normatização coletiva não é absoluto, pois encontra limites na


própria constituição, nas leis de ordem pública de proteção ao trabalhador e nas
cláusulas anteriores previstas em convenções e acordos coletivos que
disponham sobre condições mínimas de determinado profissional.

Essa competência da Justiça do Trabalho é conferida aos tribunais trabalhistas e


autorizado pelo artigo 114 §2º da CF.

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