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4 de Março de 2020

Os Princípios do processo do trabalho

Para concurseiros, estudantes de direito que irão prestar a OAB

Como sempre digo em meus textos, para entender determinada matéria, o


ponto inicial é entender a etimologia. As vezes, o simples entendimento da
palavra em si, já ajuda muito, dando um norte ao nosso raciocínio.

Estudantes de direito escutam a palavra Principio o tempo todo, mas afinal:

O QUE É PRINCIPIO?

Olhando no dicionário vemos que a palavra princípio significa o início


de algo, o que vem antes, a causa, o começo,... É também um conjunto de
leis, definições ou preceitos utilizados para nortear o ser humano.

É também uma verdade universal, aquilo que o homem acredita como um


dos seus valores mais inegociáveis. - Fulano tem princípios! Significa que
fulano tem um norte, um rumo certo.

Os princípios do direito são esse conjunto de preceitos que servem como


referência, um guia, um norte , ao estudar determinada matéria.

Visto que é impossível a criação de leis para dar conta de todas as


possibilidades de conflito na sociedade, os princípios servem como
ferramenta dos operadores do direito para resolver os conflitos do diaadia,
e ,no caso dos magistrados, resolver as lides, os casos concretos que vão
parar no judiciário. /
Há princípios comuns a todos os “ramos” do direito, seja ele: civil, penal,
processual, trabalhista,... como o direito a ampla defesa e ao contraditório.

Há também aqueles “especiais” “customizados” a determinado segmento do


direito como o “In Dubio pro reo” no direito penal.

Entendido sobre a importância dos princípios, vamos aos principios do


processo do trabalho? :O)

Vale destacar que esse é um rol "exaustivo"... fiz um pente fino em livros e
principalmente em questões de concursos e OAB dos ultimos 05 anos. É um
estudo mais detalhado, indicado para quem está estudando para alguma
prova específica.

No meu caso , estou tendo bastante dificuldade em aprender processo do


trabalho , então , retomei aos princípios para sedimentar uma "boa base".

Vamos a eles?

1- PRINCIPIO INQUISITIVO, INQUISITÓRIO OU IMPULSO


OFICIAL

O princípio inquisitivo, ou inquisitório, é um dos princípios mais


importantes do direito processual, e não apenas do processo trabalhista,
pois dispõe sobre a liberdade e a autonomia assegurada aos
magistrados na condução do processo.

/
Bezerra Leite, que também chama o princípio de “Impulso Oficial”,
salienta que pode ser extraído do art. 262, do CPC e do art. 765, da CLT,
art. 852-D . A ideia central, que vale para todos os casos, é que após o
ajuizamento da ação o juiz assume o dever de prestar a jurisdição valendo-
se de todas as prerrogativas que o ordenamento jurídico lhe atribui, sendo
certo que o processo deve se desenvolver por impulso oficial.

De maneira simples, compete ao juiz, uma vez instaurada a relação


processual, mover o procedimento de fase em fase, até exaurir a
função jurisdicional: O processo começa por iniciativa das partes, mas se
desenvolve por impulso oficial.

2- PRINCIPIO DA PROTEÇÃO AO HIPOSUFICIENTE

No direito material (direito do trabalho) por reconhecer a hipossuficiência


do empregado, trata-se desigualmente os desiguais, por aplicação do:

1) in dubio pro operário – na duvida, pro trabalhador

2) condição mais benéfica – na duvida, vale a condição mais benéfica ao


trabalhador

3) norma mais favorável - na duvida, vale a norma mais benéfica ao


trabalhador

No Processo do trabalho também há aplicação de regras que beneficiam


aquele que é considerado a parte mais fraca. exemplos:

Pagamento de custas ao final (art 789$1º clt)- tanto rico quanto pobre
podem entrar na justiça trabalhista

§ Pagamento de honorários da pericia ao final do processo o que não


impede o hipossuficiente de realiza-la.

Se o ausente é o reclamante o processo é extinto sem resolução de


mérito. Caso o ausente seja o reclamado, será aplicada a revelia. (#
tratamentos).

3-CONCILIAÇÃO Art. 852-E Art. 846 e 850 Art. 764 da CLT /


Extremamente importante no processo do trabalho. Verdadeira fixação do
legislador.Por meio dela são extintos milhares de processo do trabalho por
ano. Há dois momentos obrigatórios para a proposição da conciliação:

1. No início da audiência

2. No final da audiência

Ao ser homologado o acordo, o juiz sentenciará extinguindo o feito com


resolução de mérito. Porem o magistrado não é obrigado a aceitar o
acordo. Segundo a sumula 418 do tst ,é ato facultativo do juiz. O magistrado
não está obrigado a aceitar o que foi proposta pela parte.A única forma de
desfazer o acordo é através de ação rescisória (sumula 259 do TST).

A reforma trabalhista inseriu o procedimento de homologação extrajudicial


(ou seja homologa tb acordos antes do ajuizamento das demandas
trabalhistas).

4-IRRECORRIBILIDADE IMEDIATA DAS INTERLOCUTORIAS


(art 893$1º clt)

São incabíveis recursos de decisões proferidas no curso do processo,


devendo a parte aguardar ser proferida decisão final para recorrer. Tal PP
está totalmente atrelado a celeridade processual da Justiça do trabalho. Há
algumas exceções. Não significa que não caiba recurso contra as decisões
interlocutórias, mas sim que não cabe de imediato, só quando for recorrer
da sentença.

5-JUS POSTULANDI (art 791 CLT)

Possibilidade das partes ajuizarem por elas mesmas as suas ações sem
necessidade advogado. As exceções são ditadas pela SUMULA 425 o que
permite dizer que tal pp (jus postulandi) foi mitigado. As exceções são:

1) Mandado de segurança

2) Ação rescisória

/
3) Ação cautelar

4) Recursos direcionados ao TST

Mais uma restrição é o art. 855-B ao afirmar que o acordo extrajudicial


deve ser assinado por advogado.

6) ORALIDADE

Muitos dos atos processuais podem ser realizados oralmente na justiça o


que facilita o Jus Postulandi. Prevalência dos atos orais praticados em
audiência, incluindo as provas. Vale destaque aos seguintes atos que podem
ser realizados oralmente:

Petição inicial: 840 clt pode ser escrita ou oral por opção do autor

Defesa pode ser oral (em 20 minutos) art 847 clt

Razoes finais: art 850 clt (em ate 10 minutos para cada parte)

Protesto em audiência: Sendo proferida decisão interlocutória deve a


parte manifestar seu protesto de forma oral para evitar a preclusão em
relação a matéria ; O protesto é a demonstração do inconformismo
com a decisão proferida, não sendo um recurso, mas a inclusão da
informação na ata da audiência.

7) PRINCIPIO DA CONCENTRAÇÃO DOS ATOS PROCESSUAIS

O juiz deve tentar concentrar a maior parte dos atos processuais em uma
única audiência, para que a sentença seja prolatada o mais rápido possível.
Art. 849 da CLT: A audiência será contínua (hoje, é quase impraticável a
audiência "una", e, portanto quase todos os magistrados do trabalho
costumam partilhar a audiência em três sessões: audiência de conciliação
(inaugural), audiência de instrução e audiência de julgamento. No entanto,
segundo o art. 852-C, as demandas que seguem o procedimento
sumaríssimo deverão ser de fato unas).

8) PRINCIPIO DA IDENTIDADE FISICA DO JUIZ:

/
O juiz que instruiu o processo deve ser o que vai proferir a sentença. Claro
que há exceções como férias, doença, promoções do magistrado,...

9) PP DO CONTRADITORIO E DA AMPLA DEFESA:

Princípio constitucional, Art. 5º, LV da CF/88. Também incide no âmbito


trabalhista. Direito ao pronunciamento daquele contra quem foi proposta a
demanda, podendo contrapor as alegações e produzir todas as provas
admitidas.

10) Princípio da imediatidade ou imediação: (Art. 342, 440 e 446, II


do CPC Art. 820 da CLT)

Permite um contato mais próximo entre o magistrado, partes e


testemunhas. O juiz é o destinatário da prova, e por isso o depoimento
pessoal e as provas devem ser apresentadas perante o juiz, é preciso haver
um contato próximo para o juiz exercer a tutela jurisdicional com mais
eficiência.

Ex1: Juiz pode até mesmo comparecer em diligência com as partes para ver
quem está falando a verdade.

EX2: Reclamação trabalhista em que a reclamante requer o


reconhecimento do vínculo de emprego com a empresa “GHJ Ltda.”. A
empresa reclamada, por sua vez, nega o referido vínculo, alegando que a
reclamante não trabalhou para ela, não tendo, inclusive, jamais ingressado
no interior do estabelecimento. O Magistrado converteu a audiência em
diligência e se dirigiu à empresa reclamada com as partes. No local, o
Magistrado solicitou que a reclamante indicasse o banheiro feminino. Esta
não soube indicar e o Magistrado percebeu qual das partes estava faltando
com a verdade.

11) Princípio da Imparcialidade:

A pessoa tem o direito de ser julgada por um juiz imparcial, que não tenha
interesse nas partes ou no objeto do litígio.

12) Princípio do duplo grau de jurisdição:


/
Não está expresso na CF/88 e nem na CLT porem a CF não assegurou o
princípio do duplo grau de jurisdição obrigatório. Entretanto, é um
princípio implícito em virtude de Convenções Internacionais assinadas pelo
Brasil. A Súmula 303 do TST regulamenta a aplicação deste princípio na
Justiça do Trabalho.

13) Princípio da busca da verdade real: (Art. 765 da CLT)

O que o juiz busca no processo é a verdade dos fatos, e não a verdade


meramente formal ou documental (semelhança com o princípio da
primazia da realidade).

14) Princípio da normatização coletiva:

Possibilidade de a justiça do trabalho estabelecer o seu poder normativo, de


proferir a chamada sentença normativa de cunho obrigatório para os
sindicatos dos trabalhadores e sindicatos patronais, caso não haja o acordo
entre eles. Art. 114, § 1º da CF/88. Chamado também de jurisdição
normativa ou nomogênese derivada: a Justiça do Trabalho exerce o Poder
Normativo, pelo qual substitui as partes na resolução de um conflito
coletivo de natureza econômica. É feito por uma ação chamada dissídio
coletivo. Na prática, pode-se estabelecer normas e condições de trabalho".

15) Princípio da extrapetição:

O magistrado pode condenar o reclamado em pedidos que não constaram


no rol da inicial (Ex.: condenação em juros e correção monetária). Art. 137,
§§ 1º e 2º da CLT (juiz pode determinar as férias do trabalhador e ao
mesmo tempo pode condenar o empregador a uma multa). Art. 467 da CLT:
As parcelas incontroversas devem ser pagas em audiência, sob pena de
acréscimo de 50% pelo juiz. Art. 496 e 497 da CLT: Na ação de
reintegração, quando esta se tornar desaconselhável, o juiz poderá
converter a reintegração em indenização, mesmo que a parte não peça.
Portanto, o juiz pode condenar além da inicial, sem que se configure uma
sentença extra ou ultra-petita.

17-princípio da instrumentalidade das formas :

/
Se o ato atinge a sua finalidade sem causar prejuízo às partes, ainda que
contenha vício, não se declara a sua nulidade. O que vale é o fim
(finalidade).

18- Eventualidade:

Verdadeira pegadinha esse principio devido ao nome! Compete ao réu


alegar, na contestação, toda matéria de defesa, expondo as razões de fato e
de direito, com que impugna o pedido do autor e especificando as provas
que pretende produzir. Não confundir com o Princípio da Economia
Processual que visa a obtenção do máximo rendimento da lei com o
mínimo de atos processuais

19- PP DA NÃO PERMISSAO DA INQUIRIÇÃO DIRETA DAS


TESTEMUNHAS PELA PARTE

De acordo com o Tribunal Superior do Trabalho, NÃO se aplica (m) ao


processo laboral a (s) norma (s) do novo Código de Processo Civil que
Permite (m) a inquirição direta das testemunhas pela parte.

Sabe-se que a aplicação do CPC ao processo do trabalho é subsidiária.

No caso, o art. 459 do NCPC fala que"as perguntas serão formuladas pelas
partes diretamente à testemunha...".

Ocorre que esse dispositivo é incompatível com o art. 820 da CLT" As


partes e testemunhas serão inquiridas pelo juiz ou presidente,
podendo ser reinquiridas, por seu intermédio, a requerimento dos vogais,
das partes, seus representantes ou advogados ".

Portanto, neste caso, prevalece o art. 820 da CLT por ser norma
mais específica.

20- Princípio da paridade das armas

O princípio constitucional da igualdade substancial das partes no processo


manifesta-se por meio do princípio da paridade das armas, com o qual
autorizam-se desequilíbrios no direito de ação como forma de compensação /
da inferioridade própria do hipossuficiente.

21-PRINCIPIO DA CELERIDADE

É um reflexo direto da simplicidade e da informalidade dos atos. O


Processo Trabalhista, por cuidar, na maior parte dos casos, de verbas
salariais que serão usadas para a subsistência da parte, deve ser realizado
de maneira rápida e simples. É o fato de que o empregado deve receber
mais rapidamente as verbas que lhe são devidas, porque é de natureza
alimentar, devendo assim, haver simplificação de procedimento.

22- Principio dispositivo

Também conhecido como princípio da inércia da jurisdição, o princípio


dispositivo preconiza que o juiz não pode conhecer de matéria a cujo
respeito a lei exige a iniciativa da parte.A inércia se restringe apenas à
iniciativa do processo, pois uma vez provocada a Jurisdição, ou seja, uma
vez ajuizada a demanda, haverá o impulso oficial para o andamento do
processo.

O direito processual trabalhista, contudo, em homenagem à celeridade que


é uma de suas marcas, bem como à simplicidade que é um de seus vetores,
concebe algumas mitigações ao princípio, como por exemplo, a execução ex
officio pelo juiz, prevista no art. 878, da CLT.

É fácil encontrarmos que o PP dispositivo é regra e o inquisitivo (o primeiro


estudado nesse artigo) é a exceção.

Segundo a doutrina, o pp inquisitivo não se aplica em detrimento do


princípio dispositivo, dependendo da manifestação das partes para que os
atos sejam praticados, ainda que na seara laboral haja um maior grau de
inquisitoriedade (como na aplicação do artigo 878 da CLT), mas isso não
significa a aplicação do princípio inquisitório plenamente.

O principio dispositivo se mostra antagônicos ao pp inquisitivo em parte.

/
Enquanto um está atrelado a necessidade de pedido da parte para que o
poder judiciário atue (sendo inclusive chamado de pp da inercia com
previsão no cpc 2º) o outro o judiciário age sem provocação das partes. Um
outro exemplo: O artigo 39 da Consolidação das Leis do Trabalho permite
que a Delegacia Regional do Trabalho - DRT encaminhe processo
administrativo à Justiça do Trabalho, onde conste reclamação de
trabalhador no tocante a recusa de anotação da CTPS pela empresa. Este é
um exemplo de exceção ao princípio DISPOSITIVO.

Fonte:

Qconcurso (banco de questões) -

Imagem: Kauer

Disponível em: https://danicoelho1987.jusbrasil.com.br/artigos/620557756/os-principios-do-processo-


do-trabalho

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