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Princípios penais fundamentais

I. Princípios relacionados com o direito penal


1. Princípio da exclusiva proteção do bem jurídico
É um princípio impeditivo. Impede que o Estado venha a utilizar o
Direito Penal para a proteção de bens ilegítimos.
Bem jurídico não significa objeto material do crime. O objeto do
crime pode ser jurídico ou material. Objeto jurídico é o bem ou o interesse
tutelado pela norma penal (A nomenclatura em negrito nos títulos e nos
capítulos).
Objeto material: é a pessoa ou a coisa sobre a qual recai a conduta
criminosa.
Ex.: objeto material do homicídio. – pessoa que foi morta. Objeto
jurídico: vida humana extra-uterina.
Obs.: furtar vacina ou ração para animal. Há correntes que
entendem que haveria tão somente o crime de dano, pois o animal não
seria outrem.
2. Princípio da Intervenção Mínima
O Direito Penal deve atuar apenas quando os outros ramos do
Direito não forem capazes de proteger aqueles bens considerados de
maior importância. (caráter subsidiário do Direito Penal – Roxin).
A pena criminal é a resposta mais drástica do Estado ao fato
criminoso, razão pela qual a intervenção estatal deve ser fragmentária e
subsidiária, sendo o Direito Penal é a ultima ratio.
 Fragmentariedade: Orienta a intervenção no caso
concreto (depois do crime). O Direito Penal só intervém
diante de relevante lesão ao bem tutelado. Apenas os bens
jurídicos + relevantes e os ataques + intoleráveis merecem
tutela penal.
Obs.: da fragmentariedade nasce o princípio da
insignificância.
A fragmentariedade é a concretização da adoção dos
princípios da intervenção mínima, da lesividade e da
adequação social, analisados no plano abstrato anteriormente
à criação da figura típica.
Obs.: para Nilo Batista, a fragmentariedade é uma das
características do princípio da intervenção mínima, juntamente com o
princípio da subsidiariedade.
 Subsidiariedade: Orienta a intervenção em abstrato
(antes do crime). o direito penal só terá lugar se os demais
ramos do Direito não resolverem de forma satisfatória o
conflito. O direito penal é a derradeira trincheira no
combate aos comportamentos humanos indesejados.
Subsidiariedade e fragmentariedade são como espécies
do gênero do princípio da intervenção mínima. (corrente
majoritária).
Obs.: o princípio da intervenção mínima tem o enfoque positivo
(onde o direito penal deve intervir) e o enfoque negativo (onde o direito
penal deve deixar de intervir - descriminalização).
Ex.: do princípio da intervenção mínima sob o aspecto negativo:
adultério, sedução.

Discussões relevantes com base nesse princípio:


Emissão de cheque sem provisão de fundos poderia ser inibida por
medidas civis e administrativas.
A manutenção das contravenções penais em nosso ordenamento
jurídico – Ferrajioli – o fato de o legislador ter determinado qualificar
certas condutas como simples contravenções, e de alguma maneira a elas
agregar a punição com uma simples multa, é suficiente para fazer supor
que ele mesmo tornou tais condutas menos ofensivas que todos os outros
crimes; e isto numa perspectiva de um direito penal mínimo é, sem
dúvida, um primeiro critério pragmático de despenalização.
Institutos da lei 9.099/95
Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial
ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a
que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou
não com multa.
Obs.: a transação penal ofende o princípio do não há pena sem
processo. É um momento pré-processual. A lei não exige advogado e
muitas vezes é um sujeito sem instrução (contraditório e ampla defesa??)
O art. 76 da Lei 9099/95 está ligado à segunda velocidade do
direito penal. Características: substituição da pena prisional por penas
alternativas (restritivas de direitos); relativização das garantias
constitucionais.
Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação
penal pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o
Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva
de direitos ou multas, a ser especificada na proposta.
Velocidades do Direito Penal: Silva Sanches (Santes) – obra:
expansão do direito penal.
3. Princípio da Insignificância
Conduta Fato
antinormati materialmen
va do agente te típico

Tipici
dade
Form
al
Adequação perfeita da conduta do
agente ao modelo abstrato legal;

Tipicidade
Penal

Tipici
dade
congl
oban
te
Zaffa
roni

Princípio da
insignificância
O estudo da insignificância reside na segunda vertente da
tipicidade conglobante, na chamada tipicidade material. (há tipicidade
formal, mas não há tipicidade material). Causa supralegal de exclusão da
tipicidade.
Claus Roxin – dizia que a insignificância atua como
auxiliar interpretativo, objetivando reduzir a literalidade do
tipo formal
Klaus Tiedmann chama o mesmo princípio de princípio
da bagatela.
O princípio da insignificância atua como instrumento de
interpretação restritiva do tipo penal, auxiliando o intérprete a
excluir, do âmbito de incidência da lei, aquelas situações consideradas
como de bagatela.
STF – O princípio da insignificância qualifica-se como
fator de descaracterização material da tipicidade penal. (HC
96.823/RS 2 TURMA – de 2009)
Se falar simplesmente que o princípio da insignificância
exclui a tipicidade, a resposta está incompleta. O princípio da
insignificância descaracteriza a tipicidade material.
A conduta praticada pelo agente atinge de modo tão ínfimo o valor
tutelado pela norma que não se justifica a repressão. Juridicamente isso
significa que não houve crime algum.
Informativo 463 STJ – STJ HC 181756
Obs.: a razoabilidade é utilizada para se auferir a importância do
bem lesionado;
Obs.: há uma corrente mais radical que afirma que todo bem
tutelado pelo Direito Penal merece proteção, não havendo bagatela.
Vetores para a caracterização da insignificância:
Mínima ofensividade da conduta do agente;
Nenhuma periculosidade social da ação;
Reduzidíssimo grau de reprovabilidade do
comportamento;
Inexpressividade da lesão jurídica provocada.
Teorias:
Teoria objetiva: só são necessários requisitos objetivos para
aplicação do princípio da insignificância. Basicamente o valor.
Teoria objetiva e subjetiva: além do valor da res deve ser analisada
a figura do agente. (ex.: o sujeito mega reincidente não poderia se valer do
princípio da insignificância). Tendência majoritária no STF e STJ. O
valor deve ser pequeno e o sujeito deve ser primário e portador
de bons antecedentes.
Obs.: Se houver continuidade delitiva há um forte entendimento
jurisprudencial que está afastado o princípio da insignificância.
STF HC 100105 J. 27/10/10
STF HC 101998 J. 28/05/10 Inf. STF 610
STF Inf. 612
CP E CPM
Como regra, o princípio da insignificância não está na lei (direito
penal comum), com exceção do CPM (direito penal especial).
Art. 209. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
§ 6º No caso de lesões levíssimas, o juiz pode considerar a infração
como disciplinar. (DESCARACTERIZAÇÃO DO PENAL NO CPM)
Furto de pequeno valor no CPM
Art. 240. Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
§ 1º Se o agente é primário e é de pequeno valor a coisa furtada, o
juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um
a dois terços, ou considerar a infração como disciplinar. Entende-
se pequeno o valor que não exceda a um décimo da quantia mensal do
mais alto salário mínimo do país.
(DESCARACTERIZAÇÃO PENAL – A punição não será no âmbito
criminal, mas no administrativo)
Furto de pequeno valor no CP
Art. 155 § 2º CP – Furto de pequeno valor – para o STF e
STJ é diferente do princípio da insignificância. O furto de pequeno
valor é típico; Furto de valor insignificância é furto atípico. A
insignificância exclui a tipicidade material;
Valor a ser considerado para a aplicação do princípio da
insignificância: aproximadamente 10% do salário mínimo.
Vide: STJ HC 164993 – J. 18/05/2010
Infração bagatelar própria x Infração bagatelar imprópria
Infração bagatelar própria: é a que já nasce irrelevante para o
Direito Penal, ou porque há desvalor da ação ou porque há
desvalor do resultado.
Vide art. 254 CP. – desvalor da ação – colocar um copo de água
em uma represa que vem a arrebentar.
Inundação
Art. 254 - Causar inundação, expondo a perigo a vida, a
integridade física ou o patrimônio de outrem:
Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa, no caso de dolo, ou
detenção, de seis meses a dois anos, no caso de culpa.
Vide art. 264 CP. – desvalor da ação – arremessar bola de papel
contra ônibus.
Art. 264 - Arremessar projétil contra veículo, em movimento,
destinado ao transporte público por terra, por água ou pelo ar:
Pena - detenção, de um a seis meses.
Parágrafo único - Se do fato resulta lesão corporal, a pena é de
detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos; se resulta morte, a pena é a do
art. 121, § 3º, aumentada de um terço.
Desvalor de resultado – furto de barra de chocolate
Infração bagatelar imprópria: o fato não nasce irrelevante para o
Direito Penal, só que pela análise do caso concreto, se verifica que a
aplicação de pena é totalmente desnecessária. – desvalor da
CULPABILIDADE do agente. Aqui vige o princípio da irrelevância
penal do fato. Causa de dispensa de pena.
Ex.: peculato culposo quando a reparação do dano se dá até a
sentença irrecorrível. (art. 312 §3º CP).
Bagatela imprópria – princípio da irrelevância penal do
fato – culpabilidade;
Bagatela própria – princípio da insignificância –
tipicidade;

Bagatela própria - o fato já nasce irrelevante;

Há desvalor na conduta - copo dágua na represa - ou no


resultado - furto de barra de chocolate

Aplica-se o princípio da insignificância - ATIPICIDADE


MATERIAL DO FATO

Como o fato já nasce atípico, não há persecução penal.

O princípio da bagatela imprópria NÃO é igual ao perdão judicial


(causa legal de extinção da punibilidade), mas ambos se assemelham pela
desnecessidade de pena.

Discussões relevantes com base nesse princípio:


Roubo
Nos crimes patrimoniais violentos, no entanto, os Tribunais
superiores têm proclamado a inaplicabilidade do princípio da
insignificância.
Furto – sim, Roubo – não (voto vencido Min. Marco Aurélio – Inf.
STF 595 – admite insignificância em roubo)
Furto + Resistência: informativo do STJ 441 – separa-se
o furto da resistência: no furto cabe, na resistência não;
Roubo – não cabe aplicação do princípio da insignificância – não
cabe substituição de PPL por PRD pois o crime é praticado mediante
violência ou grave ameaça. Situação: grave ameaça para subtrair 2 reais
da vítima – poderia em tese aplicar-se o princípio da irrelevância penal do
fato, não descaracterizando o crime, mas afastando a pena.
Vide STF HC 100177 J. 22/06/2010
Moeda Falsa
A tutela da fé pública é indisponível, logo, não cabe a aplicação do
princípio da insignificância. Inf. STJ 437.
Posse e Tráfico de drogas
Inf. STJ 445
Vide STF HC 97131 J. 10/08/2010 – Para a posse
consideram o princípio da insignificância; para o tráfico não.
CRIME MILITAR (CPM, ART. 290)- PORTE (OU POSSE) DE
SUBSTÂNCIA ENTORPECENTE - QUANTIDADE ÍNFIMA - USO
PRÓPRIO - DELITO PERPETRADO DENTRO DE
ORGANIZAÇÃO MILITAR - PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA -
APLICABILIDADE - IDENTIFICAÇÃO DOS VETORES CUJA
PRESENÇA LEGITIMA O RECONHECIMENTO DESSE
POSTULADO DE POLÍTICA CRIMINAL - CONSEQÜENTE
DESCARACTERIZAÇÃO DA TIPICIDADE PENAL EM SEU
ASPECTO MATERIAL - PEDIDO DEFERIDO
. - Aplica-se, ao delito castrense de porte (ou posse) de substância
entorpecente, desde que em quantidade ínfima e destinada a uso
próprio, ainda que cometido no interior de Organização Militar, o
princípio da insignificância, que se qualifica como fator de
descaracterização material da própria tipicidade penal.
Precedentes.
TRÁFICO. DROGAS. PRINCÍPIO. INSIGNIFICÂNCIA.
Segundo precedentes do STF e do STJ, o delito de tráfico de
drogas não comporta a incidência do princípio da
insignificância, visto que se cuida de delito de perigo abstrato
praticado contra a saúde pública. Dessa forma, para esse específico
fim, é irrelevante a pequena quantidade da substância apreendida (no
caso, 0,2 decigramas de crack).
Improbidade Administrativa
Qualquer fato que envolva moralidade administrativa, que lá no
fim afete o interesse público, não cabe aplicação do princípio da
insignificância. O interesse público é indisponível.
STJ HC 148765
Contrabando e Descaminho
São crimes a serem julgados na justiça federal. Vide Lei 10.522/02
Art. 18 § 1º - 100 reais.
E art. 20 caput – 10,000 reais – hoje é esse o valor consolidado.
Justificativa: se nem o Direito Administrativo tem direito (não
haverá execução fiscal se o valor não ultrapassar 10 mil), não haverá
interesse penal.
HABEAS CORPUS. CRIME DE DESCAMINHO
(ART. 334 DO CP). TIPICIDADE. INSIGNIFICÂNCIA PENAL DA
CONDUTA. TRIBUTO DEVIDO QUE NÃO ULTRAPASSA A
SOMA DE R$ 3.067,93 (TRÊS MIL, SESSENTA E SETE REAIS E
NOVENTA E TRÊS CENTAVOS). ATIPICIDADE MATERIAL DA
CONDUTA. ORDEM CONCEDIDA.
Não há sentido lógico permitir que alguém seja processado,
criminalmente, pela falta de recolhimento de um tributo que nem
sequer se tem a certeza de que será cobrado no âmbito
administrativo-tributário do Estado. Estado julgador que só é de
lançar mão do direito penal para a tutela de bens jurídicos de cuja
relevância não se tenha dúvida. (lembrar: valor inferior a 10.000 e
descaminho).
STJ – em relação ao crime de descaminho, ser aplicável o
princípio da insignificância, quando o valor do tributo iludido ao Fisco
Federal não ultrapassar 10,000 reais (art. 20 da Lei 10.522/02, alterado
pela Lei 11.033/04), consoante a orientação emanada do colendo STF.
(aplicação dos princípios da subsidiariedade, intervenção mínima
e fragmentariedade);
Valor sentimental
STJ – o valor afetivo/sentimental, ainda que ínfimo o valor
patrimonial, é relevante para descaracterizar a insignificância.
Informativo STF 639 - inaplicabilidade de bagatela por
furto de objeto com valor sentimental
A 1ª Turma denegou habeas corpus em que requerido o
trancamento de ação penal, ante a aplicação do princípio
da insignificância, em favor de acusado pela suposta prática do
crime de furto de quadro denominado “disco de ouro”. A defesa
sustentava atipicidade da conduta, porque o bem possuiria
valor apenas sentimental e teria sido
restituído integralmente ao ofendido. De início, salientou-se
que o acusado praticara o delito com invasão de domicílio
e ruptura de barreira, o que demonstraria tanto a sua
ousadia quanto o alto grau de reprovabilidade do seu
comportamento. Aduziu-se que aquela conduta, por si só, não
se enquadraria dentre os vetores que legitimariam a aplicabilidade
do referido postulado. Asseverou-se, ainda, que o objeto
subtraído seria dotado de valor inestimável para a
vítima. Reputou-se não ter havido a restituição, porquanto o
agente fora encontrado nas imediações do local do delito, logo
após a ocorrência deste. O Min. Luiz Fux acrescentou que a
aplicação do princípio da bagatela deveria levar em conta
o valor da res furtiva para o sujeito passivo do
crime. Frisou que, no caso, o ofendido recebera a premiação do
“disco de ouro” após muito esforço para se destacar no meio
artístico. Logo, explicitou que não se poderia cogitar insignificante
a conduta do acusado sob qualquer ângulo.

Princípio da Insignificância e reincidência


Na espécie, o paciente fora condenado pela prática do crime
previsto no art. 184, § 2º, do CP, por ter exposto à venda milhares
de adesivos contendo imagens de super-heróis e personagens
infantis, produzidos com violação do direito de autor.
Inicialmente, enfatizou-se que, para a aplicação do princípio da
insignificância, deveriam ser observados todos os seus requisitos.
Esclareceu-se que, apesar do valor irrisório obtido com a
contrafação (cerca de R$ 200,00), constaria dos autos que o
paciente fora condenado definitivamente em duas outras
oportunidades por cometer delito idêntico. Reputou-se que,
reconhecida a reincidência, a reprovabilidade do comportamento
seria agravada de modo significativo, sendo suficiente para
inviabilizar a aplicação do referido postulado.
Obs.: Furto insignificante: o delegado deve fundamentar e
instaurar o inquérito em portaria. Não é razoável a lavratura do
flagrante.
4. Princípio da Adequação social
Luiz Regis Prado: a teoria da adequação social, concebida por
Hans Welzel, significa que apesar de uma conduta se subsumir ao modelo
legal não será considerada típica se for socialmente adequada ou
reconhecida, isto é, se estiver de acordo com a ordem social da vida
historicamente condicionada.
Dupla função:
a) Restringe o âmbito de abrangência do tipo penal, limitando a
sua interpretação. (as elementares do tipo devem ser
concretizadas de tal maneira que não abranjam fatos
socialmente adequados).
b) Serve como norte ao legislador para não tipificar ou retirar do
ordenamento jurídico condutas consideradas socialmente
adequadas;
Obs.: o princípio da adequação social, por si só, não tem o
condão de renovar tipos penais incriminadores. Nossos tribunais,
especificamente no que diz respeito à contravenção penal do “jogo do
bicho, tem rejeitado a tese de que as condutas daqueles que se vêem
envolvidos com a aludida contravenção, por exemplo, sejam socialmente
adequadas.
“O fato de a sociedade tolerar a prática do delito em questão não
implicaria dizer que o comportamento do paciente poderia ser
considerado lícito” – venda de produtos piratas. STF Informativo 583, HC
98898/SP. Ministro Ricardo Lewandowski, 20/04/10.
Muitos usam o princípio da adequação social para afastar as
pequenas lesões nas atividades esportivas. Princípio da adequação
social significa fato atípico.
Ex.: tatuagem; piercing; mãe furar a orelha da filha para por
brinco;
Há decisões nos casos de: manter caso de prostituição; fornecer
bebidas para adolescente sendo atípicos pelo princípio da adequação
social.
Vide STJ RESP 820406 RS J. 05/03/09 – O STJ afastou o
princípio da adequação social no caso de manter casa de prostituição.
II. Princípios Relacionados com o Fato
1. Princípio da ofensividade do fato (lesão ou exposição de perigo
em concreto)
As proibições penais somente se justificam quando se referem a
condutas que afetem gravemente aos direitos de terceiros. Não há crime
sem lesão ou exposição a perigo concreto do bem jurídico.
Origem: período iluminista, que por intermédio do movimento de
secularização procurou desfazer a confusão entre direito e moral.
Há autores chamam o princípio de lesividade (GRECO);
Nullum crimen sine iniuria (não há crime sem lesão)
Neminem laedere (a ninguém ofender, a ninguém lesionar)
Relaciona-se ao princípio da materialização do fato: O Estado
só pode incriminar condutas humanas voluntárias que se manifestem
através de ações/omissões concretas.Ninguém pode ser punido por seu
pensamento, religião, cor, ideologia política, opção sexual, etc.
Ex.: art. 59 da LCP (existe formalmente mas não foi recepcionado
pelos princípios constitucionais);
Mezger – idealizador da lei dos estranhos da comunidade;
Funções:
a) Proibir a incriminação de uma conduta interna: ninguém
pode ser punido por aquilo que pensa ou mesmo por seus sentimentos
pessoais.
b) Proibir a incriminação de uma conduta que não exceda o
âmbito do próprio autor: não são lesivas a bens de terceiros. À essa
hipótese se amoldam os atos preparatórios e o crime
impossível.
Princípio da alteridade: A prática do crime pressupõe que a
conduta transcenda a esfera individual do agente.
Ex.: autolesão ou tentativa de suicídio.
Obs.: ler sobre autolesão para conseguir seguro.
Obs.: artigo 28 da lei 11.343/06 – incrimina a conduta de
consumir drogas; há uma medida descarcerizadora pois não prevê
qualquer pena que importe a privação da liberdade, proibida inclusive a
prisão em flagrante. Nilo Batista: a incriminação do uso de drogas
se opõe ao princípio da lesividade.
Vide informativo 456 STF RE 430105
c) Proibir a incriminação de simples estados ou condições
existenciais
Impedir que seja erigido um Direito Penal do Autor – Zaffaroni –
um direito que reconheça e que também respeite a autonomia moral da
pessoa, jamais pode penalizar o ‘ser’ de uma pessoa, mas somente o seu
agir, já que o direito é uma ordem reguladora de conduta humana.
CP - Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior
deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os
efeitos penais da sentença condenatória.
Obs.: a contravenção penal da vadiagem é exemplo de direito
penal do autor.
Obs.: não cabe preventiva de contravenção penal.
d) Proibir a incriminação de condutas desviadas que não afetem
qualquer bem jurídico – desviadas sob o enfoque moral.
Obs.: Crimes de perigo abstrato
Crimes de perigo: se dividem em crimes de perigo abstrato e
crimes de perigo concreto.
No crime de perigo abstrato, o perigo é absolutamente presumido
por lei, bastando ao órgão acusador demonstrar a conduta. Nos crimes de
perigo concreto o perigo deve ser demonstrado: exige-se risco
concreto/real/efetivo.
Crime de perigo abstrato: há uma presunção júris et de júri no
sentido de que de uma determinada conduta advém perigo.
Vide art. 288 CP – crime plurisubjetivo ou de concurso necessário.
Argumentos da inconstitucionalidade
a) Se, basta que o MP narre a conduta na denúncia já se
pressupõe (presunção absoluta) a periculosidade, o que o advogado vai
defender??? – ofensa a ampla defesa.
Obs.: há vários crimes de perigo abstrato, alguns
ensejam discussão, outros não, como tráfico de drogas.
Porte de arma de fogo sem munição:
No STJ a maioria das decisões é pela tipicidade.
Vide RESP 1121671
No STF se a arma desmuniciada + disponibilidade imediata da
munição: há tipicidade. Se a arma está desmuniciada mas a munição está
ao alcance do agente, sustenta-se tipicidade para as duas cortes.
Ex.: STF HC 99449 J. 25/08/2009
Ementa: AÇÃO PENAL. Crime. Arma de fogo. Porte ilegal. Arma
desmuniciada, sem disponibilidade imediata de munição. Fato atípico.
Falta de ofensividade. Atipicidade reconhecida.
Porte de munição:
Algumas decisões entendem que há crime; outras aplicam a
insignificância no porte de munição; Outros entendem que ofende o
princípio da lesividade.
Vide Inf. STF 583
Inf. 610 STF – Resp. 961863 RS – STJ.Apreensão e perícia da
arma de fogo para fazer incidir a majorante do roubo – A utilização da
arma pode ser demonstrada por outros meios.
STF – é desnecessária a apreensão quando houver meio de prova
indireto da eficácia da arma. (a prova não é da existência, mas da
eficácia do instrumento).
Art. 32 LCP – crime de perigo abstrato – derrogado (revogação
parcial) e Art. 309 CTB – crime de perigo concreto
Não basta dirigir veículo automotor em via pública, sem
habilitação para dirigir ou a devida habilitação. Para ser crime deve haver
perigo de dano.
Súmula 720 STF
Código de Trânsito Brasileiro - Perigo de Dano -
Derrogação - Contravenções Penais - Direção Sem Habilitação
em Vias Terrestres
O art. 309 do Código de Trânsito Brasileiro, que reclama
decorra do fato perigo de dano, derrogou o art. 32 da Lei das
Contravenções Penais no tocante à direção sem habilitação em vias
terrestres.
Art. 302 § único V CTB – revogado pela lei 11.705/08 (lei seca) –
se a lei seca revoga a majorante, de duas a uma: ou está excluída a culpa
consciente, restando apenas o dolo eventual ou o agente vai responder por
homicídio culposo na direção de veículo automotor + embriaguez no
volante.
Pela segunda interpretação, a lei seca que veio para piorar a pena
do réu acabou melhorando. Pois o réu iria responder por um homicídio
majorado e agora responderá da forma simples, posto que pelo princípio
da consunção, o crime de dano absolve o crime de perigo.
Obs.: Lei 9099/95 – Infração de menor potencial ofensivo
O princípio da menor ofensividade deve ser respeitado em sede de
infrações de menor potencial ofensivo.
2. Princípio da legalidade
Princípio mais importante do direito penal, posto que a lei é o
instrumento normativo para proibir condutas sob ameaça de sanção.
Lembrar – Estado Constitucional de Direito: o qual a Constituição,
como fonte de validade de todas as normas, não pode ser contrariada pela
legislação que lhe é inferior.
Vide art. 5 XXXIX CF
Tudo o que não for expressamente proibido é lícito em Direito
Penal. Por essa razão, Von Liszt diz que o Código Penal e a Carta Magna
do delinqüente.
Origem: foi com a Revolução Francesa que o princípio atingiu os
moldes exigidos pelo Direito Penal. Tal princípio fora previsto em todos
os nossos códigos.
Von Feuerbach – nullum crimen, nulla poena sine praevia legi.
Funções do princípio da legalidade
a) Proibir a retroatividade da lei penal (nullum crimen nulla poena
sine lege praevia) –
A regra é da irretroatividade da lei penal; a exceção é a
retroatividade em benefício do réu.
 Lex praevia – princípio da anterioridade: necessidade de
uma lei anterior ao fato que se quer punir.
O Tribunal de Nuremberg e de Tóquio feriu tais princípios. Os
fatos foram tipificados depois de sua prática.
Art. 50 VII LEP – sujeito flagrado com chip de celular. Segundo o
STJ, chip encontra-se na expressão ‘similar”. A defesa argumenta que
ofende o princípio da reserva legal.
b) Proibir a criação de crimes e penas pelos costumes (nullum crimen
nulla poena sine lege scripta). Proibição da invocação do direito
consuetudinário também para fundamentação ou agravação da
pena;
Costume:
Secundum legem: é conhecido como costume
interpretativo. É aquele que esclarece o conteúdo da norma.
Praeter legem: é o costume integrativo aquele que
preenche lacunas;
Contra legem: é o costume negativo, contrário a lei.
Os dois primeiros podem ser utilizados no direito penal. O contra
legem não pode ser utilizado.
Obs.: lei penal só é revogada por lei penal. Art. 2º §1º LINDB.
Nem decisão do STF dizendo que a lei é inconstitucional revoga
lei, pois o plano é outro (validade/eficácia)
c) Proibir o emprego da analogia para criar, fundamentar ou agravar
penas (nullum crimen nulla poena sine lege scripta) – é vedada a
aplicação da analogia em direito penal, com exceção da analogia in
bonam partem.
Analogia é o modo de integração. Vide art. 4º LINDB
A analogia in bonam partem é muito utilizada em relação ao
perdão judicial nos crimes de trânsito. Utilizar por analogia o art. 121 §5º
CP se for homicídio e 129 § 8º se for lesão corporal.
d) Proibir incriminações vagas e indeterminadas (nullum crimen nulla
poena sine lege certa)
Princípio da taxatividade: o tipo penal deve ser determinado,
claro, preciso, certo, isso é ser taxativo. Ele deve ser de fácil interpretação
tanto para os técnicos, como para os leigos (os destinatários do tipo
penal);
O agente tem que saber exatamente qual a conduta que está
proibido de praticar, não devendo ficar, assim, nas mãos do intérprete,
que dependendo do motivo político pode alargar a sua exegese.
Quem são os destinatários da lei penal?
Preceito primário: traz a conduta incriminadora – tem como
destinatárias todas as pessoas que se submetem a lei penal
brasileira.
Preceito secundário: é onde está cominada a pena – o
destinatário do preceito secundário é o juiz.
A discussão da constitucionalidade das leis penais em branco
heterogêneas passa pelo princípio da taxatividade.
Vide art. 9 Lei 7.170 – parece violar o princípio da taxatividade.
Art. 9º - Tentar submeter o território nacional, ou parte dele, ao
domínio ou à soberania de outro país.
Pena: reclusão, de 4 a 20 anos
1.1 Legalidade formal e Legalidade Material
Legalidade formal: obediência aos trâmites procedimentais
previstos pela Constituição para que determinado diploma legal possa vir
a fazer parte do nosso ordenamento jurídico.
Mera legalidade – Ferrajoli – aceitação em nosso ordenamento
jurídico de uma norma que atende tão somente às formas e aos
procedimentos destinados à sua criação.
Estrita legalidade – Ferrajoli – obediência não só ao
procedimento e formas, mas também ao conteúdo constitucional,
respeitando-se suas imposições e proibições para a garantia dos direitos
fundamentais (vai além da mera legalidade).
Os princípios da legalidade formal e da legalidade material, bem
como os de vigência e validade da norma, podem ser resumidos e
expressos por intermédio do brocardo nulla poena nullum crimen sine
lege valida.
1.2 Termo inicial de aplicação da lei penal
A lei deve sempre estar em vigor anteriormente à conduta do
agente. O marco, portanto, para que devamos obediência à lei penal,
como regra, é a data de sua vigência.
Lembrar – a vigência pode não coincidir com a publicação da lei. A
lei já existe a partir da sua promulgação e conseqüente publicação. Se
houver vacatio legis, a lei existirá, mas ainda não será vigente. Portanto,
eventual tipo penal incriminador praticado no período de vacatio legis
não será imputado ao agente, porque o marco de atenção obrigatória para
com a lei penal será a partir da data da sua vigência.
Em caso de Lex mitior, existe a possibilidade de ser
aplicada ao caso concreto, mesmo antes de sua entrada em
vigor.
Obs.: Somente por intermédio de lei ordinária, em obediência aos
princípios da legalidade e da separação dos poderes, é que se pode legislar
em matéria penal.
Argumentos contra a utilização de MP:
a) Ofende ao princípio da separação dos poderes, posto que a função
de legislar em matéria penal cabe ao poder Legislativo, e não ao
Poder Executivo.
b) Na MP, a decisão de inovar o sistema jurídico-penal cabe a uma só
pessoa, o Presidente da República. Com isso, não ocorre uma
discussão obrigatória sobre o tema, pelas casas legislativas.
c) Geraria “tipos condicionados”- a MP estaria sempre condicionada a
aprovação ou rejeição pelo CN; poderia assim, existir um tipo penal
incriminador e posteriormente o mesmo deixaria de existir (em
caso de rejeição): o que fazer com relação às pessoas presas
cautelarmente em razão de MP posteriormente rejeitada?
d) Tipos penais incriminadores exigem uma ampla reflexão e
discussão, caindo por terra um dos requisitos da MP: a urgência.
Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da
República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo
submetê-las de imediato ao Congresso Nacional.
§ 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria:
b) direito penal, processual penal e processual civil;
MP não pode dispor sobre matéria penal nem para melhorar a
situação do réu; a CF não faz nenhum tipo de especificação;
Lembrar: prisão temporária surge como medida provisória (foi
convertida em lei depois).
1.3 Legalidade e reserva legal (pesquisar)
Há autores como Bittencurt, RC, Capez que diferenciam legalidade
e reserva legal: o princípio da legalidade dirá respeito à lei em sentido
amplo (art. 5º II CF, vide art. 59 CF); o princípio da reserva legal dirá
respeito à lei em sentido estrito (art. 5º XXXIX – lei ordinária ou
complementar);
Lei complementar 105/01 – art. 10 – traz um crime por meio de lei
complementar
Obs.: Art. 68 §1º CF – Não cabe lei delegada quando a matéria diz
respeito a direitos individuais -> art. 5º XXXIX CF – Logo lei delegada
não pode estabelecer crime.
III. Princípios relacionados com o agente do fato
1. Princípio da responsabilidade pessoal
Esse princípio proíbe o castigo penal por fato alheio. No âmbito
penal deve sempre ser demonstrada a relação de causalidade entre a
pessoa denunciada e o fato praticado. Não há responsabilidade coletiva,
responsabilidade societária no Direito Penal. A responsabilidade é
pessoal.
Por isso que o MP quando denuncia deve individualizar os fatos
praticados pelo agente. (denúncia genérica fere o princípio da
responsabilidade pessoal).
Obs.: tem doutrina negando a responsabilidade penal da pessoa
jurídica com base no princípio da responsabilidade pessoal.
ATENÇÃO: TEORIA DA DUPLA IMPUTAÇÃO OU SISTEMA DA
IMPUTAÇÃO PARALELA: a pessoa jurídica pode ser responsabilidade
criminalmente desde que no mesmo contexto seja responsabilizada a
pessoa física responsável por ela.
Vide art. 225 § 3º CF
Vide STJ HC 24239 Inf. STJ 438/10
2. Princípio da responsabilidade subjetiva
Não basta que a conduta seja materialmente praticada pelo
agente; para que se possa responsabilizá-lo penalmente, é necessária a
comprovação de dolo ou de culpa. O fato tem que ser querido e
aceito pelo agente ou, pelo menos, previsível.
A responsabilidade objetiva significa uma mera imputação de
causa e efeito, onde não se perquiri a comprovação de dolo ou culpa.
(existe no meio ambiente, na tutela do consumidor, no direito
administrativo).
Vide art. 19 CP – Art. 19 - Pelo resultado que agrava
especialmente a pena, só responde o agente que o houver
causado ao menos culposamente. – responsabilidade penal
subjetiva
Art. 137 § único CP – Se ocorre morte ou lesão corporal de
natureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena de
detenção, de seis meses a dois anos. – Pelo simples fato da participação –
participou da confusão generalizada – a qualificadora incide mesmo na
vítima – dispositivo de duvidosa constitucionalidade.
Teoria da actio libera in causa – teoria da ação livre na origem:
considera-se o momento da ingestão da substância e não o momento da
prática do crime. Utiliza-se o elemento subjetivo do momento da ingestão
da substância e o traz para prática do crime. – Essa teoria é um resquício
de responsabilidade penal objetiva (logo, em regra, não cabe a sua
aplicação).
Exceção: na embriaguez pré-ordenada é necessária a aplicação da
teoria da actio libera in causa.
Embriaguez: analisada quando do estudo da culpabilidade. A
embriaguez pode ser não acidental (voluntária – o sujeito quer se
embriagar - ou culposa – o sujeito se embriaga por imprudência),
acidental, patológica ou pré-ordenada.
A pré-ordenada o agente se coloca em estado de embriaguez pois
nesse estado ele quer praticar o crime. A embriaguez pré-ordenada é uma
agravante genérica. Art. 61, II, l CP.
Ex.: a mãe quer matar o filho recém nascido e dorme ao lado dele,
após ingerir sonífero. Ao rolar pela cama dormindo, a mãe mata a criança
asfixiada.
Obs.: tem doutrina negando a responsabilidade penal da pessoa
jurídica com base nesse princípio.
3. Princípio da igualdade ou da isonomia
Este princípio obriga o legislador e o juiz a tratar os iguais de
maneira igual e os desiguais de modo desigual, na medida de suas
desigualdades. Nós adotamos uma igualdade substancial.
Vide artigo 24 da Convenção Americana de Direitos Humanos.
Artigo 24 - Igualdade perante a lei
Todas as pessoas são iguais perante a lei. Por conseguinte, têm
direito, sem discriminação alguma, à igual proteção da lei.
Originalmente, a lei 9.099/95 em seu artigo 61 (JEC estadual) –
dizia que as infrações de menor potencial ofensivo eram aquelas em que a
pena máxima é igual ou inferior a um ano.
Lei 10.259 – JEC Federal – dizia que as infrações de menor
potencial ofensivo eram aquelas em que a pena máxima é igual ou inferior
a dois anos.
Com base no princípio da igualdade, a lei 11.313/06 alterou o art.
61 – hoje infração de menor potencial ofensivo são todas as contravenções
penais e os crimes cuja pena máxima é igual ou inferior a dois anos.
Cabe uma flexibilização do princípio da isonomia desde que
razoável e justificada (igualdade valorativa) > diferente da igualdade
paritária (generalizada).
4. Princípio da presunção de inocência
Art. 5º LVII CF – ninguém será considerado culpado até o
trânsito em julgado de sentença penal condenatória.
Existem julgados do STF preferindo a expressão “presunção de
não culpa” ou presunção de não culpabilidade.
O princípio da presunção de inocência fica incoerente quando o
país adota o sistema de prisões provisórias – Crítica feita por Mirabete.
Art. 8º 2 da CADH – Toda pessoa acusada de um delito tem o
direito de que presuma sua inocência enquanto não for provada a sua
culpa.
Art. 66 do Estatuto de Roma – Traz as conseqüências do princípio
da presunção de inocência
 Prisão provisória como instrumento excepcional.
 Incumbe ao acusador o ônus da prova
 Sentença condenatória exige certeza do crime e de sua
autoria.
Marco Aurélio de Melo utiliza as expressões princípio da
presunção da inocência ou da não culpa como sinônimos.
5. Princípio da Culpabilidade
Culpabilidade diz respeito ao juízo de censura, ao juízo de
reprovabilidade que se faz sobre a conduta típica e ilícita praticada pelo
agente. Reprovável ou censurável é aquela conduta levada a efeito pelo
agente que, nas condições em que se encontrava, podia agir de outro
modo. (não se encontra no rol dos princípios expressos).
Alguns autores optam pelo termo imputação pessoal para
atribuir o desvalor do fato penalmente antijurídico ao seu autor (corrente
minoritária).
O princípio da culpabilidade possui 3 sentidos fundamentais:
a) Culpabilidade como elemento integrante do conceito
analítico de crime
Após a conclusão que o agente praticara um injusto penal (fato
típico e ilícito), o terceiro nível da valoração será a culpabilidade: a
possibilidade ou não de censura sobre o fato praticado.
b) Culpabilidade como princípio medidor de pena
A pena não deve ultrapassar o marco fixado pela culpabilidade da
respectiva conduta. Nessa fase, o estudo da culpabilidade não se destina a
concluir pela infração penal, posto que o réu já está condenado. Ela
exercerá agora a função medidora da sanção penal.
Vide art. 59 CP – Culpabilidade como primeira circunstância
judicial.
c) Culpabilidade como princípio impedidor da
responsabilidade penal objetiva, ou seja, da responsabilidade
penal sem culpa.
Os resultados que não foram causados a título de dolo ou culpa
pelo agente, não podem ser a ele atribuídos, pois a responsabilidade
penal, de acordo com o princípio da culpabilidade, deverá ser sempre
subjetiva.
Nessa terceira vertente, a culpabilidade deve ser entendida apenas
como um princípio em si, pois, uma vez adotada a teoria finalista da ação,
dolo e culpa não analisados no elemento “tipo” e não quando da análise
da culpabilidade.
IV. Princípios relacionados com a pena
1. Princípio da individualização da pena
Art. 5 XLVI da CF
Primeiro momento: seleção feita pelo legislador – seletiva dos
tipos penais em abstrato – cominação;
Preleciona Betttiol: todo direito penal moderno é orientado no
sentido da individualização das medidas penais, porquanto se pretende
que o tratamento penal seja totalmente voltado para características
pessoais do agente a fim de que possa corresponder aos fins que se
pretende alcançar com a pena ou com as medidas de segurança.
Segundo momento: a individualização sai do plano abstrato
(cominação/legislador) e passa para o plano concreto (aplicação/
julgador).
Julgador: fixação da pena base, atendendo às circunstancias
judiciais; análise das circunstancias agravantes e atenuantes; causas de
diminuição e aumento de pena; devendo ao final, impor ao condenado, de
forma JUSTA E FUNDAMENTADA, a pena que este merecer.
Terceiro momento: fase de execução da pena: Art. 5 lei 7210/84.
“Os condenados serão classificados, segundo os seus antecedentes e
personalidade, para orientar a individualização da execução penal.”
– individualização da pena e cumprimento do regime progressivo
(sistema inglês ou irlandês de cumprimento de pena).
Individualização da pena e a lei 8072/90 – Crimes hediondos
Critério objetivo:
A redação original do parágrafo 1º art. 2º da Lei 8.072/90 vedava
a progressão de regime nos crimes hediondos. Em 23 de fevereiro de
2006 o STF, declarou a inconstitucionalidade desse dispositivo, por
afrontar o direito de individualização previsto no art. 5 LXVI da CF. Com
tal decisão, passou-se a aplicar a regra geral de progressão de 1/6.
Antes da Lei 11.464/07 – progressão com cumprimento de 1/6 da
pena. Após a Lei 11.464/07 – 2/5 se não reincidente e 3/5 se reincidente.
No que diz respeito aos fatos praticados anteriores à vigência da
Lei 11.464/07, ver súmula vinculante n. 26 STF.
Súmula Vinculante 26
Para efeito de progressão de regime no cumprimento de pena por
crime hediondo, ou equiparado, o juízo da execução observará a
inconstitucionalidade do art. 2º da Lei n. 8.072, de 25 de julho de 1990,
sem prejuízo de avaliar se o condenado preenche, ou não, os requisitos
objetivos e subjetivos do benefício, podendo determinar, para tal fim, de
modo fundamentado, a realização de exame criminológico.
Critério subjetivo: atestado de bom comportamento carcerário.
Súmula 439 STJ – Admissibilidade - Exame Criminológico -
Decisão Motivada
Admite-se o exame criminológico pelas peculiaridades do caso,
desde que em decisão motivada.
2. Princípio da limitação das penas
Vide art. 5 XLVII CF.
A proibição de tais penas atende ao princípio da dignidade da
pessoa humana. Princípio da proibição da pena indigna: A
ninguém pode ser imposta pena ofensiva a dignidade humana
Princípio da humanidade ou da humanização das penas:
nenhuma pena poderá ter caráter cruel, desumano ou degradante.
a) penas de morte e de caráter perpétuo
A vedação a esses tipos de pena encontra-se no rol dos direitos e
garantias fundamentais (art. 5º CF), não podendo ser objeto de
deliberação a proposta de emenda que tivesse a finalidade de trazê-las
para o nosso ordenamento jurídico-penal. (art. 60 parágrafo 4º IV).
Maurício Antônio Ribeiro Lopes: se a pena tem a função
terapêutica, reeducadora, socializante, não pode haver pena de morte ou
perpétua, que não atendam à função da pena.
A tendência mundial tem sido pela abolição da pena de morte, seja
essa abolição total, ou mesmo parcial, como ocorre no Brasil, que a
reserva somente para os casos de guerra declarada.
CF – Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da
República:
XIX - declarar guerra, no caso de agressão estrangeira,
autorizado pelo Congresso Nacional ou referendado por ele,
quando ocorrida no intervalo das sessões legislativas, e, nas
mesmas condições, decretar, total ou parcialmente, a
mobilização nacional;
CPM – Art. 56. A pena de morte é executada por fuzilamento.
b) Penas de trabalhos forçados
O que a Constituição quis abolir foi aquele trabalho que humilha o
condenado pelas condições como é executado.
LEP - Art. 39. Constituem deveres do condenado:
V - execução do trabalho, das tarefas e das ordens recebidas;
LEP – Art. 114 Art. 114. Somente poderá ingressar no regime
aberto o condenado que:
I - estiver trabalhando ou comprovar a possibilidade de fazê-lo
imediatamente;
Embora não haja cominação de penas de caráter forçado, o
condenado que não quer volitivamente trabalhar, deixa de usufruir de
benefícios como a progressão de regime (semiaberto para o aberto) e da
remição (para cada três dias de trabalho, um será remido – regimes
fechado e semiaberto).
c) Pena de banimento
O banimento era uma medida de política criminal que consistia na
expulsão do território nacional de quem atentasse contra a
ordem política, interna ou a forma de governo estabelecida.
Sinônimos: exílio, desterro e desgredo.
e) Penas cruéis
Do princípio da humanidade deduz-se a proscrição das penas
cruéis e de qualquer pena que desconsidere o homem como pessoa. –
Zaffaroni
Vide art. 5 parágrafo 2 CADH.
Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas ou tratos
cruéis, desumanos ou degradantes. Toda pessoa privada de liberdade deve
ser tratada com o respeito devido à dignidade inerente ao ser humano.
3. Princípio da responsabilidade Pessoal
Em virtude do princípio da responsabilidade pessoal, também
conhecido como princípio da pessoalidade ou da intranscendência
da pena, somente o condenado é que terá de se submeter à sanção que
lhe foi aplicada pelo Estado
Art. 5º XLV CF. A pena não pode passar da pessoa do réu.
Zaffaroni – a pena é uma medida de caráter estritamente pessoal,
haja vista ser uma ingerência ressocializadora sobre o condenado.
Todavia, se estivermos diante de uma responsabilidade não penal,
como a obrigação de reparar o dano, nada impede que, no caso de morte
do condenado e tendo havido transferência de seus bens aos seus
sucessores, estes respondam até a força da herança. O que pode ser
transmitido aos herdeiros é o perdimento de bens e a
reparação de danos, sempre até o limite do respectivo quinhão.
CC - Art. 1.997. A herança responde pelo pagamento das dívidas
do falecido; mas, feita a partilha, só respondem os herdeiros, cada qual
em proporção da parte que na herança lhe coube.
Pena de multa: é considerada legalmente como dívida de valor,
inscrita como dívida ativa da Fazenda Pública, passível de
execução (executada como dívida ativa), não sendo permitida a
sua conversão em pena privativa de liberdade. No entanto, tem
natureza penal, não podendo ser cobrada após a morte do
autor da infração, mesmo porque há extinção da punibilidade com a
morte do agente. Desta feita, a multa não pode passar da pessoa do
condenado;
Ferrajoli – a pena pecuniária é uma pena aberrante sobre vários
pontos de vista. Sobretudo porque é uma pena pessoal, que qualquer um
pode saldar.
O mesmo se diga com relação a pena restritiva de direitos, na
modalidade prestação pecuniária, em que qualquer pessoa, que não o
condenado, pode cumpri-la por ele.
Observação: a transcendência do poder punitivo na direção de
terceiros acaba sendo inevitável; o conhecimento, a estigmatizarão, a
queda dos rendimentos acabam por refletir nas pessoas próximas ao
acusado.
Se o condenado morreu, está extinta a punibilidade dele, com base
no ar. 107, I, CP. O art. 62 do CPP exige a certidão de óbito para que seja
dada a decisão de declaração da extinção de punibilidade.
Uma primeira corrente – o princípio da pessoalidade é relativo,
admitindo exceção prevista na própria CF, qual seja, a pena de
confisco.
Vide: Flávio Monteiro de Barros
Segunda Corrente – o princípio da pessoalidade é absoluto, não
admitindo exceções. Para essa segunda corrente, confisco não é
pena, mas efeito da sentença, do mesmo modo que é efeito da
sentença a obrigação de reparar o dano.
Vide: Luís Flávio Gomes
Vide art. 5º § 3º da CADH – A pena não pode passar da pessoa do
delinquente.
4. Princípio da proporcionalidade
Tem raízes na Antiguidade, mas firmou-se no período iluminista,
sobretudo com a obra intitulada Dos Delitos e Das Penas, de autoria do
Marquês Beccaria.
É um princípio implícito – Ponderação entre o bem que é
lesionado ou posto em perigo – gravidade do fato – e o bem que pode
alguém ser privado – gravidade da pena – 2 destinatários: o legislador:
proporcionalidade em abstrato / cominação e o juiz: proporcionalidade
em concreto / aplicação;
A pena deve ser proporcional à gravidade da infração penal (a
pena deve ser meio suficiente para atingir seus fins – retribuição,
prevenção e ressocialização). Esse princípio é um desdobramento lógico
do princípio da individualização da pena.
Duplo viés do princípio da proporcionalidade
Proibição do excesso: procura-se evitar punição desnecessária
de comportamentos que não possuem a relevância exigida pelo Direito
Penal, ou mesmo comportamentos que, embora relevantes, foram
excessivamente valorados pelo legislador.
Vide art. 303 CTB e art. 129 CP – lesão corporal culposa,
praticada na direção de veículo automotor, sendo punido mais
severamente que lesão corporal dolosa.
Proibição da proteção deficiente: consiste em não se permitir
uma deficiência na prestação legislativa, de modo a desproteger bens
jurídicos fundamentais (seja mediante a eliminação de figuras típicas, seja
pela cominação de penas que ficam aquém do bem que se quer proteger,
seja pela aplicação de institutos que beneficiam indevidamente o agente.)
Proporcionalidade em sentido estrito
Discussão sobre:
 Penas cominadas em abstrato – os crimes patrimoniais são
os mais duramente punidos pelo legislador – é justo,
razoável que o patrimônio valha mais que a vida?
 Com base nesse princípio que alguns vêm sustentando a
Combinação de leis – Lex tercia.
6. Princípio da vedação do bis in idem
Estatuto de Roma. Artigo 20 – Ne Bis in Idem
1. Salvo disposição contrária do presente Estatuto, nenhuma
pessoa poderá ser julgada pelo Tribunal por atos constitutivos de crimes
pelos quais este já a tenha condenado ou absolvido.
Esse princípio possui 3 significados
1. Significado processual: ninguém pode ser processado 2 vezes
pelo mesmo crime.
2. Significado material: ninguém pode ser condenado 2 vezes em
razão do mesmo fato.
3. Significado execucional: ninguém pode ser executado 2 vezes
por condenações relacionadas com o mesmo fato.
Esse princípio admite uma exceção, relacionada à
extraterritorialidade da lei penal.

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