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INTENSIVO I

Direito Penal
Cleber Masson
Aula 2

ROTEIRO DE AULA

Continuação: Princípios do Direito Penal

8. Princípio da Confiança
O princípio da confiança tem origem na Espanha e foi criado para ser aplicado aos crimes de trânsito
- aqueles que cumprem as regras de trânsito confiam e esperam que as demais pessoas assim o farão.
Posteriormente, o princípio passou a ser aplicado aos crimes em geral.

Ex.: “A” obedece a sinalização do semáforo e atravessa a avenida no sinal verde - se outro motorista
cruza o sinal vermelho e vem a falecer por colidir no veículo “A”, “A” não pratica crime algum.

- “Id quod plerumque accidit” = aquilo que normalmente acontece.

9. Princípio da responsabilidade penal pelo fato


O princípio da responsabilidade penal pelo fato se refere ao fato típico e ilícito praticado pelo agente.

- Direito Penal do autor “versus” Direito Penal do fato


a) Direito Penal do autor: rotula determinadas pessoas como indesejadas para o convívio social. Ele é
preconceituoso, autoritário e ultrapassado.

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Exemplo: furto praticado em sala que estavam presentes apenas a Madre Teresa de Calcutá e
Fernandinho Beira Mar - para o Direito Penal do autor Fernandinho seria considerado culpado;
Alemanha Nazista (Hitler); Direito Penal do Inimigo.

b) Direito Penal do fato: examina o fato praticado pelo agente - é o Direito Penal moderno, legítimo e
democrático.

Exemplo: furto praticado em sala que estavam presentes apenas a Madre Teresa de Calcutá e
Fernandinho Beira Mar - para o Direito Penal do fato o crime deve ser investigado independentemente
de quem pode ter praticado o delito.

10. Princípio da Intervenção Mínima


10.1. Origem e conceito atual (direito penal mínimo)
Origem: o princípio surge na França, em 1789 (Revolução Francesa), com a Declaração Universal dos
Direitos do Homem e do Cidadão. O art. 8º1 da referida declaração prescrevia que a lei deve prever as
penas estritamente necessárias:

Conceito: O Direito Penal deve ser utilizado somente se indispensável à proteção do bem jurídico, ou
seja, deve ser utilizado quando o bem jurídico não puder ser tutelado pelos demais ramos do direito.

10.2. Destinatários e finalidade (reforço ao princípio da reserva legal)


Destinatários:
- Legislador (ele deve observar o princípio da intervenção mínimo ao criar uma norma);
- Aplicador do direito penal (o crime e a pena, criados pelo legislador, não podem ser aplicados
indistintamente).

Finalidade: o princípio da intervenção mínima é considerado um reforço ao princípio da reserva legal


- a aplicação da lei deve ser necessária à tutela do bem jurídico.

10.3. Divisões: fragmentariedade e subsidiariedade


O princípio da intervenção mínima se subdivide em fragmentariedade e subsidiariedade.

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Art. 8º “A lei apenas deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessárias e ninguém pode ser punido
senão por força de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legalmente aplicada”.

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10.3.1. Princípio da fragmentariedade ou caráter fragmentário do Direito Penal
Para o princípio da fragmentariedade o Direito Penal é a última etapa, a última fase, o último grau de
proteção do bem jurídico.

- Nem todo ilícito se trata de um ilícito penal, mas todo ilícito penal também é ilícito perante os demais
ramos do Direito.

Exemplo 01: contribuinte que declara suas despesas e receitas e não realiza o pagamento do imposto
devido - nesse caso existe um ilícito tributário mas não um ilícito penal.

Exemplo 02: contribuinte que omite receitas e declara despesas inexistentes - nesse caso o
contribuinte comete ilícito tributário.

Exemplo 03: nem todo ato de improbidade é considerado crime contra a Administração Pública, mas
todo crime contra a Administração também caracteriza ato de improbidade (exemplo: crime de
peculato e art. 9º da Lei de Improbidade2).

O princípio da fragmentariedade se projeta no plano abstrato, ou seja, possui como destinatário o


legislador.

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Lei 8.429/92, Art. 9º. “Constitui ato de improbidade administrativa importando em enriquecimento ilícito
auferir, mediante a prática de ato doloso, qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício
de cargo, de mandato, de função, de emprego ou de atividade nas entidades referidas no art. 1º desta Lei, e
notadamente:” (...)

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Exemplo: o crime de furto nem sempre foi considerado crime - ele foi criado quando a legislação cível
deixou de ser suficiente para tutelar o bem jurídico.

- A fragmentariedade às avessas: é o juízo de valor realizado para anteceder a “abolitio criminis”.

Na fragmentariedade às avessas o crime existe (já foi criado) mas deixa de ser necessário à realidade
atual (“abolitio criminis”).

Exemplo: adultério (art. 240 do CP), crime de ação penal privada personalíssima revogado no ano de
2005.

10.3.2. Princípio da subsidiariedade


O Direito Penal se manifesta ao operador do direito, no plano concreto, ou seja, ele é a ultima ratio e
deve ser aplicado quando os demais ramos do direito não conseguem realizar a proteção do bem
jurídico (o Direito Penal funciona como “soldado de reserva”).

Exemplo: uma pesquisa realizada no Fórum Criminal da Barra Funda constatou que mais de 80% dos
inquéritos policiais envolvendo crime de estelionato eram arquivados porque, na prática, poderiam
ser resolvidos pelo Direito Civil (fraude civil).

→ Atenção: Alguns autores invertem os conceitos acima analisados, afirmando que subsidiariedade
se refere ao plano abstrato e fragmentariedade ao plano concreto. Contudo, o professor observa que
essa interpretação é incorreta.

11. Princípio da Insignificância (Criminalidade de Bagatela)


11.1. Introdução e finalidade
O princípio da insignificância surgiu no Direito Romano e era destinado ao direito privado - “de
minimus non curat praetor”: os pretores, juízes e tribunais não devem cuidar do que é mínimo.

O princípio da insignificância passou a ser utilizado no Direito Penal em 1970 por meio de Claus Roxin.
Para o autor, o Direito Penal não deve se ocupar de condutas insignificantes, ou seja, com condutas
incapazes de lesar ou colocar em perigo o bem jurídico tutelado pela norma.

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Finalidade: o princípio da insignificância se destina a interpretação restritiva da lei penal (ampla e
abrangente). Desta forma, o princípio da insignificância limita o alcance da lei penal.

11.2. Natureza jurídica


O princípio da insignificância é um causa supralegal de exclusão da tipicidade (não está prevista em
lei).

→ Tipicidade penal = tipicidade formal + tipicidade material.

- Tipicidade formal: é o juízo de adequação entre o fato e a norma - o fato praticado pelo agente na
vida real se amolda ao modelo de crime descrito na norma penal.

Exemplo: subtração de uma garrafa de água no valor de R$ 1,00 - há tipicidade formal.

- Tipicidade material: é a lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado - não basta que o fato
praticado pelo agente se encaixe ao modelo do crime descrito pela lei penal porque a lesão ou o perigo
de lesão ao bem jurídico protegido deve estar presente.

Exemplo: subtração de uma garrafa de água no valor de R$ 1,00 - há tipicidade formal mas não
tipicidade material porque inexiste lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico.

Assim, o princípio da insignificância é um causa supralegal de exclusão da tipicidade: o fato possui


tipicidade formal mas não possui tipicidade material. Por consequência, o fato é atípico.

11.3. Requisitos: objetivos e subjetivos


Os requisitos objetivos se relacionam ao fato praticado, ao passo que os subjetivos dizem respeito ao
agente e à vítima.

- Requisitos objetivos: (MARI)


a) Mínima ofensividade da conduta;
b) Ausência de periculosidade social da ação;
c) Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento;
d) Inexpressividade da lesão jurídica.

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O princípio da insignificância é uma manifestação do funcionalismo penal, ou seja, é um instrumento
de política criminal.

Os requisitos objetivos, estabelecidos pelo STF, possuem conceitos abertos para flexibilizar a aplicação
da lei penal.

Exemplo 01: ao retornar de Miami “A” não declara os bens que adquiriu no exterior que se declarados
geraria o dever de pagar aproximadamente R$ 9.800,00 de imposto - ele foi indiciado por crime de
descaminho e o STF aplicou o princípio da insignificância;

Exemplo 02: dois rapazes que furtam uma cabra avaliada em R$ 70,00 no sertão de Pernambuco foram
presos em flagrante enquanto faziam churrasco do animal - o princípio da insignificância não foi
aplicado pelo STF.

No primeiro exemplo o STF entendeu que, como o Brasil possui alta arrecadação, a sonegação de
aproximadamente dez mil reais era incapaz de ofender o patrimônio da União (não compensaria a
movimentação de todo o maquinário estatal para cobrança).

Por outro lado, diante da miserabilidade da região do sertão de Pernambuco e levando em


consideração que o animal furtado poderia ser a fonte de alimentação de uma família, o STF entendeu
que a aplicação do princípio da insignificância não era adequada diante do resultado causado pelo
crime.

- Requisitos subjetivos:
a) Condições pessoais do agente:
a.1. Reincidente: existem duas posições sobre a possibilidade do princípio da insignificância ser
aplicado ao reincidente.

- 1ª posição: (STF) não, o princípio da insignificância se trata de medida de política criminal que deve
ser aplicada ao réu primário (HC 135.164 - Inf. 938)

- 2ª posição: (STJ) sim, é possível a aplicação do princípio da insignificância ao reincidente porque (i) a
reincidência se trata de agravante genérica que incide na segunda fase da dosimetria da pena; e (ii) o

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princípio da insignificância é analisado na atipicidade (elementos do fato típico), ou seja, sua análise é
anterior à reincidência.

Obs.: O entendimento do STF de não aplicação do princípio da insignificância ao reincidente vem


sofrendo algumas modulações em relação ao reincidente genérico.

a.2. Criminoso habitual:

CPP, art. 28-A, § 2º: “O disposto no caput deste artigo não se aplica nas seguintes hipóteses: (...) II - se
o investigado for reincidente ou se houver elementos probatórios que indiquem conduta criminal
habitual, reiterada ou profissional, exceto se insignificantes as infrações penais pretéritas.”

- O criminoso habitual é aquele que faz da prática de crimes o seu meio de vida.

- Ao criminoso habitual não se aplica o princípio da insignificância (entendimento pacífico).

a.3. Militares:
O princípio da insignificância não é aplicado aos crimes praticados por militares por ser incompatível
com a hierarquia e disciplina que regem as relações militares, bem como em razão da segurança e
tranquilidade pública que o cargo transmite.

Exemplo: militar que furta chocolates de supermercado enquanto o outro aguarda na viatura.

b) Condições da vítima
b.1. Extensão do dano:
Não basta analisar o valor do bem subtraído porque a extensão do dano causado à vítima deve ser
observada quando da aplicação do princípio.

Obs.: A jurisprudência não fixa um valor máximo para aplicação do princípio da insignificância.
Contudo, existem julgados do STJ fixando o importe de 20% do salário mínimo.

Exemplo: furto de uma máquina de costura utilizada como meio de sustento de uma costureira; furto
de uma bicicleta velha e enferrujada que servia como meio de transporte de um servente de pedreiro.
b.2. Valor sentimental do bem:

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O Direito Penal não deve se apegar apenas aos valores econômicos do bem porque seu valor
sentimental também deve ser analisado.

Exemplo 01: furto realizado em casa que estava em situação de extrema pobreza, sendo furtado
apenas um porta-retratos de plástico com uma foto em preto e branco, única lembrança que a mãe
possuía de seu filho já falecido - nesse caso não é possível aplicar o princípio da insignificância em
razão do valor sentimental do bem.

Exemplo 02: subtração de discos de ouro que cantores recebiam em razão do número de exemplares
vendidos - não é possível aplicar o princípio da insignificância em razão do valor sentimental que o
bem possui.

- HC 107.615 - Inf. 639:


“Habeas corpus. Furto de quadro denominado "disco de ouro". Premiação conferida àqueles artistas
que tenham alcançado a marca de mais de cem mil discos vendidos no País. Valor sentimental
inestimável. Alegada incidência do postulado da insignificância penal. Inaplicabilidade. Bem restituído
à vítima. Irrelevância. Circunstâncias alheias à vontade do agente. Paciente reincidente específico em
delitos contra o patrimônio, conforme certidão de antecedentes criminais. Precedentes. Ordem
denegada. 1. As circunstâncias peculiares do caso concreto inviabilizam a aplicação do postulado da
insignificância à espécie. Paciente que invadiu a residência de músico, donde subtraiu um quadro
denominado "disco de ouro", premiação a ele conferida por ter alcançado a marca de mais de cem
mil discos vendidos no País. 2. Embora a res subtraída não tenha sido avaliada, essa é dotada de valor
sentimental inestimável para a vítima. Não se pode, tão somente, avaliar a tipicidade da conduta
praticada em vista do seu valor econômico, especialmente porque, no caso, o prejuízo suportado pela
vítima, obviamente, é superior a qualquer quantia pecuniária. 3. Revela-se irrelevante para o caso o
argumento da defesa de que o bem teria sido restituído à vitima, pois ocorreu em circunstâncias
alheias à vontade do paciente. Segundo o inquérito policial o paciente foi abordado por policiais
militares em via pública na posse do objeto furtado, o que ensejou a sua apreensão e,
consequentemente, a sua restituição. 4. Impossibilidade de acatar a tese de irrelevância material da
conduta praticada pelo paciente, especialmente porque a folha de antecedentes criminais que instrui
a impetração demonstra a presença de outros delitos contra o patrimônio por ele praticados. Com
efeito, esses aspectos dão claras demonstrações de ser ele um infrator contumaz e com personalidade
voltada à prática delitiva. 5. Conforme a jurisprudência desta Corte, o reconhecimento da
insignificância material da conduta increpada ao paciente serviria muito mais como um deletério

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incentivo ao cometimento de novos delitos do que propriamente uma injustificada mobilização do
Poder Judiciário (HC nº 96.202/RS, DJe de 28/5/10). 6. Ordem denegada. (HC 107615, Relator(a): DIAS
TOFFOLI, Primeira Turma, julgado em 06/09/2011, Informativo 639)”.

11.4. Aplicabilidade e inaplicabilidade


- Regra geral:
O princípio da insignificância é aplicável a todo e qualquer crime que seja com ele compatível, ou seja,
ele não se restringe aos crimes patrimoniais.

Exemplo: o princípio pode ser aplicado a crimes tributários quando o valor do tributo devido não
ultrapassar o valor de R$ 20.000,00; lesão corporal leve.

- Exceções: existem crimes incompatíveis com o princípio da insignificância.

Exemplo: crimes contra a vida; crimes contra a liberdade sexual.

Súmula 589 do STJ: “É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções penais
praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas.”

Súmula 599 do STJ: “O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração
pública.”

O STJ não admite o princípio da insignificância nos crimes contra a Administração Pública porque
nesses casos a moralidade e a probidade administrativa, bem como a ética dos servidores públicos
afastam sua aplicação.

Obs: A Súmula 599 do STJ é flexibilizada em determinadas situações.

Exemplo: os bens apreendidos pela Receita Federal são doados aos órgãos públicos. Um determinado
funcionário joga um desses bens fora e outro funcionário o pega do lixo, o leva embora e é processado
- nesse caso, o STF entendeu pela possibilidade de aplicação do princípio da insignificância.

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O professor também defende que o princípio pode ser utilizado em determinadas situações
corriqueiras, como no caso de servidor que utiliza telefone público para resolver situações particulares
e de uma juíza que leva para casa o papel sulfite do fórum.

11.5. Princípio da insignificância e acordo de não persecução penal

CPP, art. 28-A, § 2º: “O disposto no caput deste artigo não se aplica nas seguintes hipóteses: (...) II - se
o investigado for reincidente ou se houver elementos probatórios que indiquem conduta criminal
habitual, reiterada ou profissional, exceto se insignificantes as infrações penais pretéritas.”

Como o princípio da insignificância torna o fato atípico, o professor afirma que o trecho “exceto se
insignificantes as informações penais pretéritas” foi redigido erroneamente - se o princípio gera a
atipicidade do fato não há que se falar em crime pretérito.

11.6. Valoração pela autoridade policial


Quem pode aplicar o princípio da insignificância? A autoridade policial pode aplicar o princípio da
insignificância?

O STJ entende que o princípio da insignificância não pode ser aplicado pela autoridade policial e que
deve ser aplicado apenas por membros do Poder Judiciário (STJ - HC 154.949 - Inf. 441).

“PENAL. HABEAS CORPUS. FURTO. IRRELEVÂNCIA PENAL. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.


RESISTÊNCIA. ALEGAÇÃO DE POSSIBILIDADE DE ABSOLVIÇÃO DO CRIME DE RESISTÊNCIA ANTE A
ATIPICIDADE DA CONDUTA DE FURTO. IMPOSSIBILIDADE. ATO LEGAL DE AUTORIDADE. I - No caso de
furto, a verificação da relevância penal da conduta requer se faça distinção entre ínfimo (ninharia) e
pequeno valor. Este, ex vi legis, implica eventualmente, em furto privilegiado; aquele, na atipia
conglobante (dada a mínima gravidade). II - A interpretação deve considerar o bem jurídico tutelado
e o tipo de injusto. III - In casu, imputa-se ao paciente o furto de dois sacos de cimento de 50 Kg,
avaliados em R$ 45,00 (quarenta e cinco reais). Assim, é de se reconhecer, na espécie, a irrelevância
penal da conduta. IV - Ademais, a absolvição quanto ao crime de furto, tendo em vista a aplicação do
princípio da insignificância, não tem o condão de descaracterizar a legalidade da prisão em flagrante
contra o paciente. Na hipótese, encontra-se configurada a conduta típica do crime de resistência pela
repulsão contra o ato de prisão, já que o paciente, por duas vezes após a captura e mediante violência,
conseguiu escapar do domínio dos policiais, danificando, neste interregno, a viatura policial, fato este

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que o levou posteriormente a ser algemado e amarrado. Habeas corpus parcialmente concedido. (STJ,
HC 154.949/MG, Relator Ministro Felix Fischer, Quinta Turma, julgamento 03.08.2020, Informativo
441)”.

- 2ª posição: a autoridade policial pode aplicar o princípio da insignificância na fase investigativa e a


decisão pode ser revista pelo Poder Judiciário.

Exemplo: subtração de garrafa de água.

11.6. Insignificância imprópria ou bagatela imprópria


O princípio da insignificância imprópria ou bagatela imprópria tem origem na Alemanha e não possui
previsão legal.

Princípio da insignificância própria Princípio da insignificância imprópria

- Fato atípico; - Fato típico e ilícito;


- Não se instaura a ação penal - o inquérito é - Agente culpável;
arquivado (caso contrário a denúncia deve - Há ação penal;
ser rejeitada e se assim não for realizado pelo - Utilidade da aplicação da pena;
magistrado a defesa deve impetrar HC. - Desnecessidade/inutilidade da pena.

Exemplo: “A” é réu primário, pratica furto simples, é denunciado e a denúncia é recebida. Contudo, o
processo fica parado por determinado período e o juiz constata que “A” não praticou qualquer crime
nesse lapso temporal, além de se tratar de pai de família e empresário que emprega muitos
trabalhadores - aqui se aplica o princípio da insignificância imprópria para aqueles que o admitem.

O princípio da insignificância imprópria ou bagatela imprópria é uma causa supralegal de extinção da


punibilidade - o fato é típico, ilícito, o agente é culpável, existe prova da autoria e da materialidade
mas o Estado abre mão do direito de punir porque a punição se revela desnecessária no caso concreto.

12. Princípio da proibição do “Bis In Idem”

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- Princípio da proibição do “bis in idem” ou “non bis in idem”;

- O Direito Penal não admite a dupla punição pelo mesmo fato. Um mesmo acontecimento e uma
mesma circunstância não podem ser utilizados mais de uma vez em desfavor de alguém.

Exemplo: “A” é acusada de infanticídio com duas agravantes: agravante por crime praticado contra
descendente e agravante por crime praticado contra criança. Nesse caso, as agravantes estão
incorretas porque o grau de parentesco é elementar do tipo penal. Da mesma forma, a agravante de
crime praticado contra criança não pode ser aplicada porque o crime de infanticídio já é praticado
pela mãe contra o filho recém nascido.

- O princípio da proibição do “bis in idem” ou “non bis in idem” é implícito e pode ser extraído do art.
8º, §4º do Pacto de São José da Costa Rica.

Art. 8º, §4º, do Pacto de São José da Costa Rica: “O acusado absolvido por sentença transitada em
julgado não poderá ser submetido a novo processo pelos mesmos fatos”.

- O Pacto de São José da Costa Rica foi incorporado ao direito brasileiro pelo Decreto nº 678/92.

Súmula 241 do STJ: “A reincidência penal não pode ser considerada como circunstância agravante e,
simultaneamente, como circunstância judicial”.

A Súmula 241 do STF proíbe que uma condenação definitiva seja utilizada contra o acusado
concomitantemente na primeira e na segunda fase de dosimetria da pena:

- Se o agente possui uma condenação definitiva que caracteriza a reincidência o magistrado deve
utilizá-la como agravante genérica na segunda fase de dosimetria da pena;

- Se a condenação não caracteriza reincidência, ela deve ser utilizada pelo magistrado na primeira fase
de aplicação da pena como circunstância judicial desfavorável.

Obs.: A Súmula 241 do STF só pode ser aplicada quando o acusado possui apenas uma condenação
definitiva. Se o acusado possui duas ou mais condenações definitivas uma delas pode ser utilizada

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como reincidência (agravante genérica) e as demais como maus antecedentes na primeira fase de
aplicação da pena.

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