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Direito Penal
Cleber Masson
Aula 5
ROTEIRO DE AULA
Continuação:
4.5. O Direito Penal do inimigo no Brasil
- Admite-se a aplicação do Direito Penal do inimigo no Brasil?
Não. Ele viola o princípio da isonomia (art. 5º, caput, CRFB/88 - “todos são iguais perante lei”) - como
todos são iguais perante a lei não é possível separar as pessoas entre cidadãos e inimigos. Além do
mais, diversos dispositivos da CF vedam a tortura, o uso de provas ilícitas, a incomunicabilidade do
preso, consagram o contraditório etc.
Lei 13.260/2016, art. 5º: “Realizar atos preparatórios de terrorismo com o propósito inequívoco de
consumar tal delito:
Pena - a correspondente ao delito consumado, diminuída de um quarto até a metade.(...)”
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O professor também menciona a Operação Hashtag, em que a Polícia Federal identificou um grupo de
brasileiros jurando respeito à valores islâmicos via redes sociais na época das Olimpíadas, sendo
enquadrado como atos preparatórios de terrorismo. Na época, Alexandre de Moraes atuava como
Ministro da Justiça. Trata-se de um exemplo de manifestação do Direito Penal do Inimigo no Brasil.
O regime disciplinar diferenciado (RDD) possui previsão no art. 52 da LEP e foi muito modificado com
o Pacote Anticrime. Ainda que não seja o entendimento do STF e STJ, alguns doutrinadores afirmam
que o RDD é uma manifestação do Direito Penal do Inimigo diante da possibilidade de isolamento do
preso, da restrição de duas visitas por semanas por apenas duas horas com exceção de crianças e do
banho de sol por apenas duas horas por dia.
Exemplo: grupos de extermínio - o professor cita os ataques realizados pelo PCC em 2006 em que
grupos de criminosos atacaram viaturas policiais gerando muitos confrontos, mortes de policiais e de
membros da organização criminosa. A polícia reagiu com veemência e muitos bandidos foram mortos,
sobretudo, por vingança pela morte de policiais. Trata-se de exemplo de manifestação informal do
Direito Penal do Inimigo.
De acordo com Daniel Pastor, a quarta velocidade é aplicável principalmente a antigos chefes de
Estado pela prática de crimes de guerra. (Ex.: morte de Sadam Hussein - Iraque).
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O Direito Penal de quarta velocidade viola o princípio do juiz natural porque criam tribunais de exceção
(que julgam fatos determinados), o princípio da reserva legal e da anterioridade da lei penal. Além
disso, ele também viola o sistema acusatório - as funções de acusar, defender e julgar devem ser
realizadas por pessoas diversas.
LEI PENAL
1. Introdução
A lei penal é a fonte formal imediata do Direito Penal porque só ela pode criar crimes e cominar as
respectivas penas.
Exemplo:
“Art. 121. Matar alguém: (Preceito primário)
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.” (Preceito secundário)
2. Classificação
a) Incriminadoras: são aquelas que criam crimes e cominam as respectivas penas.
Elas estão contidas na Parte Especial do Código Penal e na legislação extravagante.
Atenção: Não existem normas penais incriminadoras na Parte Geral do Código Penal.
b) Não incriminadoras: são aquelas que não criam crimes e não cominam penas.
Em regra elas estão alojadas na Parte Geral do Código Penal. Excepcionalmente existem normas não
incriminadoras na Parte Especial do Código Penal e na legislação extravagante .
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Exemplo: art. 128 do CP; art. 327 do CP.
As normas penais permissivas, em regra, estão previstas no art. 23 do CP (Parte Geral do Código
Penal). Contudo, também existem normas penais permissivas na Parte Especial do Código Penal - art.
128 e 142 do, CP.
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c) Completas ou perfeitas: apresentam todos elementos da conduta criminosa e a respectiva pena.
b) Anterioridade: a lei penal deve ser anterior ao fato que pretende punir.
d) Generalidade: a lei penal se dirige indistintamente a todas as pessoas, inclusive aos inimputáveis.
e) Impessoalidade: a lei penal projeta seus efeitos para fatos futuros e alcança qualquer pessoa que
venha a praticá-los.
4. Tempo do Crime
Obs.: Lugar; Ubiquidade; Tempo; Atividade
CP, art. 4º: “Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o
momento do resultado.”
Exemplo: “A” efetua disparo de arma de fogo contra “B” quando possuía 17 anos, 11 meses e 29 dias.
“B” falece uma semana depois - nesse caso “A” é inimputável e responde pelas disposições do ECA.
- O Código Penal adota a teoria da atividade para o tempo do crime (art. 4º do CP).
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Os crimes materiais ou causais são aqueles em que o tipo penal possui conduta e resultado
naturalístico; eles exigem a produção do resultado naturalístico para fins de consumação.
CP, art. 111: “A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr:
I - do dia em que o crime se consumou.”
Súmula 711 do STF: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente,
se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.”
- Crime permanente: é aquele cuja consumação se prolonga no tempo pela vontade do agente. O
agente deliberadamente mantém uma situação contrária ao Direito.
No crime permanente:
i) A prisão em flagrante é possível a qualquer tempo enquanto durar a permanência; e
ii) A prescrição começa a fluir a partir da data em que cessar a permanência.
Exemplo: extorsão mediante sequestro (art. 159, CP) - no momento da privação da liberdade da vítima
o sequestrador possuía 17 anos; ela é libertada após o agente completar dezoito anos e entrar em
vigor uma lei mais grave. Nesse caso, o sequestrador responde pelo Código Penal e a lei mais grave é
aplicada.
- Crime continuado - art. 71 do CP: o agente pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e pelas
condições de tempo, local, maneira de execução e outras semelhantes - os crimes subsequentes
devem ser entendidos como continuação do primeiro (teoria da ficção jurídica).
Exemplo: o agente pratica cinco furtos continuados - os quatros primeiros quando do vigor de lei
menos grave e o último crime sob a vigência de lei mais grave.
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Atenção: no exemplo acima, de acordo com a Súmula 711 do STF deve ser aplicada a lei mais grave
para toda a série continuada.
Para a teoria da ficção jurídica, o crime continuado é um único delito para fins de aplicação de pena.
5. Lugar do crime
CP, art. 6º: “Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou
em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.”
Para o lugar do crime se adota a teoria da ubiquidade. O lugar do crime é o lugar da ação ou omissão,
bem como o lugar do resultado. Por esse motivo essa teoria também é chamda de mista.
A teoria da ubiquidade ou mista se aplica aos crimes materiais ou causais. Além disso, ela se aplica
apenas aos crimes à distância ou de espaço máximo.
Os crimes à distância ou de espaço máximo são aqueles em que a conduta e o resultado ocorrem em
países diversos - se refere à soberania dos países envolvidos na empreitada criminosa.
Exemplo: “A” atira em “B” em solo brasileiro e “B” morre em solo paraguaio - nesse caso o lugar do
crime será o Brasil e o Paraguai.
No exemplo acima, “A” pode ser julgado tanto no Brasil quanto no Paraguai.
Atenção: como o agente pode ser processado, julgado, condenado e cumprir penas em dois países, o
art. 8º CP traz uma regra para evitar o bis in idem: a pena cumprida no estrangeiro deve ser descontada
da pena a ser cumprida no Brasil pelo mesmo crime.
CP, art. 8º: “A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime,
quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas.”
Imagine que, no exemplo acima, o agente foi processado tanto no Brasil como no Paraguai e
condenado à pena de 15 anos primeiro e 10 anos no segundo. Após cumprir a pena no Paraguai, ele
é extraditado para o Brasil e cumpre os 5 anos remanescentes.
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- Crimes à distância versus crimes plurilocais:
Os crimes à distância ou crimes de espaço máximo são aqueles em que conduta e resultado ocorrem
em países diversos. Trata-se de uma questão de soberania dos países envolvidos .
Os crimes plurilocais ou crimes de espaço mínimo são aqueles em que conduta e o resultado ocorrem
em comarcas diversas dentro do mesmo país. Nesse caso, a questão é de competência.
A teoria do resultado é adotada nos crimes plurilocais para fixação da competência (art. 70 do CPP).
CPP, art. 70: “A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração,
ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução.”
Exemplo: “A” atira em “B” no Rio de Janeiro e a vítima falece em Niterói - de acordo com o CPP a
competência seria da comarca de Niterói, mas a jurisprudência dos tribunais fixam a competência da
comarca do Rio.
- Fundamentos:
a) Produção de provas:
No exemplo dado acima as provas estão no local da conduta e não no local do resultado, assim como
as eventuais testemunhas.
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6.1. Introdução
- Regra geral: territorialidade - aplica-se a lei brasileira ao crime praticado no território nacional.
- Exceções:
i) Extraterritorialidade: aplicação da lei penal brasileira a crimes cometidos fora do território nacional.
Território brasileiro por extensão: o território brasileiro por extensão está previsto no art. 5º, §1º do
CP:
CP, art. 5º, § 1º: “Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as
embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer
que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de
propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-
mar.”
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Exemplo: imagine que um avião da Presidência da República está no aeroporto da China e o
comandante pratica crime de estupro contra uma aeromoça - nesse caso o crime foi praticado em
território brasileiro porque se considera que o avião é território brasileiro por extensão.
Obs.: A sede e os prédios de Consulados Estrangeiros não são considerados território extrangeiro por
extensão.
Art. 7º, inc. I, “d”, do CP: Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro:
I - os crimes:
(...)
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil.”
Além disso, o princípio também está previsto no art. 7º, II, “b’ do CP:
Art. 7º, inc. II, “b”, do CP: “Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro:
(...)
II - os crimes:
(...)
b) praticados por brasileiro.”
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Obs.: A Constituição Federal proíbe a extradição de brasileiros natos e admite de forma excepcional a
extradição de brasileiros naturalizados. Nesses casos, os brasileiros natos respondem pela lei
brasileira.
Exemplo: caso de estrupro cometido por Daniel Alves na Espanha - se o jogador consegue voltar para
o Brasil ele não pode ser extraditado por ser braisleiro nato e, por consequência, responderá de
acordo com a lei brasileira.
Art. 7º, § 3º, do CP: “A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra
brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior:
a) não foi pedida ou foi negada a extradição;
b) houve requisição do Ministro da Justiça.”
Neste caso, a lei penal brasileira é aplicada ao estrangeiro se este estiver no Brasil.
Exemplo: um japonês pratica tentativa de homicídio contra sua esposa brasileira no Japão. A brasileira
volta para o Brasil e o japonês também. Ele se dirige até a casa do genitor da vítima e, ao perceber
que ela não se encontra, pratica homicídio contra seu sogro - nesse caso ele responderá no Brasil pelo
crime de homicídio praticado no país e pelo crime de tentativa de homicídio praticado no Japão.
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