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DIREITO PENAL

Características:

- Ciência normativa (APENAS aquilo que está na lei).

- Direito positivo e dogmática penal.

- Caráter fragmentário: cuida de apenas uma parte dos ilícitos, apenas o que tem
relevância para seu estudo. As vezes pode até ser um licito de outro ramo do direito
conjuntamente com o direito penal. Protege os bens jurídicos mais importantes (vida,
liberdade, patrimônio, liberdade sexual...) – não protege aquilo que não tem importância.
– “última ratio”.

- Ramo do direito PÚBLICO.

- É evitado porque quando ele age é com violência (Ex: uso da força para prender,
condenação com a liberdade cerceada) e, assim, é uma violência licita.

Direito penal: é um conjunto de normas, regras e princípios (aspecto formal) que


descrevem comportamentos, que pode ser ação ou omissão (aspecto material),
reprováveis e ameaçadores da ordem social (aspecto social).

Fontes do direito:

Fonte material “Quem”: órgão encarregado pela criação das leis – Art. 22, I, CF: Compete
de forma privativa a União de legislar sobre direito penal. E lei complementar pode
autorizar os Estados a legislar sobre questões especificas.

Fonte formal “O que”: Objeto, instrumento de exteriorização do direito penal.

Para doutrina clássica (majoritária):

a) Imediata: Apenas a lei;


b) Mediata: Costumes e princípios gerais do direito.

Para a doutrina contemporânea (moderna e não majoritária):

a) Imediata: lei, constituição federal (mandados de criminalização – racismo crime


inafiançável, previsto na CF/88), atos administrativos, jurisprudência (Ex: súmula do
STF que fala do uso de algemas), tratados e convenções internacionais de direitos
humanos e princípios.
b) Mediata: Doutrina e costumes (fonte informal do direito)

Teoria geral do crime

Infração penal: o ordenamento jurídico brasileiro adota ao sistema dualista ou binário ou


dicotômico da infração penal, dividindo-a em:

1) Crime (ou delito*) Doutrinadores entendem que delito e infração penal são sinônimos
mas é a minoria.
2) Contravenção penal, também chamada de (crime anão, delito liliputiano)
Crime vs Contravenção penal: Art. 1º da lei de introdução ao Código Penal.

Crime: se no código estiver que a pena será de reclusão ou detenção: será um crime. Ainda que
seja cumulado com multa.

Contravenção: apenas prisão simples com multa ou apenas multa.

Quem decide se a conduta ilícita é crime ou contravenção? O legislador, sendo assim, uma
infração que hoje é contravenção poderá se transformar num crime se assim o legislador
decidir. Sendo uma distinção axiológica (de valor).

Norma penal:

Preceito primário x Preceito secundário:

Primário: descrição da conduta delituosa. Ex: Art. Matar algúem

Secundário: sanção penal. Ex: Pena: 2 a 4 anos.

Relação do direito penal com outros ramos do direito.

- O direito é uno (não pode ter contrariedade entre os ramos do direito).

- Direito constitucional: mandados de criminalização, teoria constitucionalista do direito


(proteção à vida), princípios constitucionais (art. 1º CF/88).

- Direito processual penal: é o meio de aplicação das sanções penais.

- Direito administrativo: lei de licitações, crimes contra administração pública.

- Direito civil: conceitos, como o do direito de propriedade...

Funções do direito penal:

1) Proteção de bens jurídicos;


2) Garantia para o cidadão (punir apenas com base na lei);
3) Instrumento de controle social (preserva paz pública);
4) Mínimo valor ético (Ex: crime de bigamia);
5) Simbólica para os governantes (protegendo a sociedade) e cidadãos (se sentir
protegido);
6) Motivadora: motiva a não praticar crimes;
7) Redução da violência estatal: apenas a punição prevista em lei;
8) Promocional: atuar como instrumento de transformação social, Direito Penal precisa
evoluir junto com a sociedade.

Princípios do direito penal:

Explícitos: positivados no ordenamento jurídico.

1) Reserva legal ou da estrita legalidade: - art. 5º XXXIV CF e art. 1º do CP

Princípio da legalidade (gênero) se divide em:

a) Princípio da estrita legalidade: Ao agente só pode ser imputado um crime, se tiver lei.

- Direito fundamental de 1º geração, limita o poder punitivo do estado.

- Clausula pétrea – art. 60, §4º CF.

- Somente lei ordinária ou lei complementar pode agravar crimes e agravar penas.

- É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria relativa a Direito Penal, seja
para beneficiar ou prejudicar o réu. Jurisprudência STF já aceitou para beneficiar o réu
mas a lei diz que nunca pode.

- Inadmissível que lei delegada verse sobre direito penal.

- Não é permitida analogia para prejudicar o réu mas se for pra beneficiar, é aceita.
Tampouco os costumas para criar infrações penais.

- Este princípio é igualmente aplicável as contravenções penais (infração penl) e as medidas


de segurança (sanção penal).

- Legalidade formal: obediência ao devido processo legislativo.

- Legalidade material: respeito aos direitos e garantias do cidadão, as normas


constitucionais e aos tratados internacionais de direitos humanos.

PRECISA TER A LEGALIDADE FORMAL E A MATERIAL SEMPRE.

b) Princípio da anterioridade: Essa lei tem que ser anterior a prática da conduta.

- Também é de 1º geração: para limitar o poder punitivo do Estado (garantia para o


cidadão);

- Também é clausula pétrea.

2) Princípio da taxatividade: norma especifica, precisa prever uma conduta específica e


uma pena específica.
3) Princípio da individualização da pena: a pena precisa ser específica (individualizada).

Este principio deve ser observado nos seguintes planos:

a) Legislativo: ao criar a pena em abstrato;


b) Judicial: aplicação de lei ao fato concreto;
c) Administrativo: execução da pena.
4) P. da personalidade ou da intransferência: Nenhuma pena passa da pessoa do
condenado. Mas os patrimônios podem ser utilizados, no caso de falecimento do
condenado (no caso de indenização, multa...)
5) P. da alteridade: Ninguém será punido por ofender apenas bens jurídicos que
pertençam a si mesmo. Precisa ser bens ALHEIOS.
6) P. da intervenção mínima: O Direito Penal é a ultima ratio na proteção dos direitos. Só
deve atuar quando a criminalização de uma conduta for indispensável para proteger
bens e interesses. Subdivide-se em outros dois princípios: 1. Princípio da
fragmentariedade; 2. Princípio da subsidiariedade.
a) P. da fragmentariedade: Nem todos os ilícitos configuram ilícitos penais. Serão
considerados ilícitos penais os que forem previstos em lei e que atentam contra valores
fundamentais dos indivíduos e da sociedade. Os ilícitos penais são apenas uma parte
de todos os ilícitos que podem ocorrer na vida em sociedade. Somente em relação aos
bens jurídicos mais relevantes é que irá ocorrer a incriminação de uma conduta.

Fragmentariedade às Avessas: Bens jurídicos, antigamente tutelados pela lei penal, que deixam
de interessar ao Direito Penal. Ex.: crime de adultério (art. 240, CP) – Revogado pela Lei n.
11.106/2005. Hoje, o adultério deixou de ser um ilícito penal e passou a ser considerado
apenas um ilícito civil, tutelado no Direito de Família.

b) P. da subsidiariedade: Só será objeto do Direito Penal os ilícitos que não são


suficientemente repreendidos pelos demais ramos do Direito e demais meios de
controle estatal. Em outras palavras, o Direito Penal é o último recurso a ser lançado
pelo Estado. É possível dizer, portanto, que o Direito Penal é subsidiário, pois a sanção
penal só é imposta quando não é possível repreender uma conduta por meio dos
demais ramos do Direito.

7) P. da ofensividade ou lesividade: Não há que se falar em infração penal se a conduta


não causar uma lesão ao bem jurídico tutelado ou, ao menos, o perigo de lesão.

Espiritualização (desmaterialização ou liquefação) de bens jurídicos no Direito Penal: O


Direito Penal passa a se antecipar e punir condutas perigosas que têm potencial de gerar
uma lesão futura. Ex.: crimes ambientais e crimes de perigo abstrato. Trata-se de uma
exceção ao princípio da ofensividade ou lesividade. Exemplo: porte ilegal de arma de fogo.

8) P. da responsabilidade penal subjetiva: A responsabilização penal depende de dolo ou


culpa. Não se admite no Direito Penal a responsabilidade objetiva (independe de culpa
ou dolo) . A responsabilidade penal sempre será subjetiva, ou seja, é preciso a
caracterização do dolo ou da culpa na conduta de uma pessoa para que ela possa ser
responsabilizada penalmente. O dolo pode ser direito ou eventual. Já a culpa pode
advir de negligência, imprudência ou imperícia do agente. Existe uma exceção a esse
princípio, que é o caso da rixa qualificada (vide art. 137, § único, do CP). Nesse crime,
todos os que participam da rixa respondem pela lesão corporal grave ou da morte
praticada pela conduta de um dos rixosos. Trata-se de uma situação em que a
responsabilidade é objetiva.
9) P. da adequação social: Conduta tipificada em lei, mas que não afronta o sentimento de
justiça da coletividade, seja pelos costumes, cultura. Exemplos: colocar brincos em
uma criança recém-nascida (lesão corporal), tatuagem (lesão corporal), circuncisão
(lesão corporal), dentre outros. Natureza jurídica: Causa supralegal de exclusão da
tipicidade (material). Ex.: ato obsceno (art. 233, CP).

Súmula n. 502, STJ: “Presentes a materialidade e a autoria, afigura-se típica, em relação ao


crime previsto no artigo 184, § 2º, do CP, a conduta de expor à venda CDs e DVDs piratas”.
Neste caso não há que se falar em aplicação do princípio da adequação social.

10) P. da isonomia ou igualdade: O Direito Penal se aplica a todos, independentemente de


nacionalidade, classe social, etnia, sexo, idade ou condição. Entretanto, esse princípio
impõe tratamento distinto para quem se encontra em posições diferentes. Ex.: réu
primário e réu reincidente/Lei Maria da Penha (Lei n. 11.340/2006), que protege de
maneira diferente as mulheres.
11) P. da presunção de inocência ou da não culpa: O agente só é considerado culpado
quando transita em julgado a sua sentença penal condenatória. Existem discussões
envolvendo as prisões preventivas e provisórias, pois, no entendimento de alguns, elas
desrespeitam o princípio da presunção de inocência. Entretanto, essa tese não
prosperou no Direito Penal brasileiro. O fato de ninguém ser considerado culpado até o
trânsito em julgado não significa que essa pessoa não possa ser presa.
12) P. do ne bis in idem: Proibição de dupla punição pelo mesmo fato. Também pode ser
chamado de princípio do no bis in idem. O agente não pode ser processado, julgado e
condenado mais de uma vez pela mesma conduta, tampouco pode o mesmo fato ser
considerado em dois momentos distintos da dosimetria da pena.

Este princípio pode ser analisado sob três aspectos: 1. Processual – ninguém pode ser
processado duas vezes pelo mesmo fato; 2. Material – ninguém pode ser condenado duas
vezes pelo mesmo fato; e 3. Execucional – ninguém pode sofrer execução penal duas vezes
por condenações relacionadas ao mesmo fato.

Exceção: CP, Art. 8º A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime,
quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas. O dispositivo acima se aplica aos casos de
extraterritorialidade incondicionada. Um exemplo é o crime praticado contra a vida ou
liberdade do Presidente da República Federativa do Brasil.

Súmula n. 241, STJ: “A reincidência penal não pode ser considerada como circunstância
agravante e, simultaneamente, como circunstância judicial.” Todavia, “inexiste bis in idem
se a pena-base do paciente foi aumentada por força dos maus antecedentes, fazendo-se
referência a determinadas condenações, e, na segunda fase, incidiu a agravante da
reincidência em decorrência de outra condenação diversa.” (HC 359871/SP. Julgamento em
27/09/2016).

Não caracteriza bis in idem:

1. A aplicação da agravante da reincidência (STF, RE 453.000/RS, 03/10/2013).

2. A condenação simultânea por roubo majorado pelo emprego de arma de fogo e por
associação criminosa armada porque cada tipo penal visa à proteção de bem jurídico
específico (patrimônio e paz pública, respectivamente), não havendo relação de
dependência entre elas. (STF, HC 113.413/SP, 12/11/2012).

3. A condenação de roubo circunstanciado pelo concurso de agentes (art. 157, §2º, II)
cumulada com a condenação pelo crime de corrupção de menores (art. 244-B, ECA), na
situação em que um maior de idade pratica o crime patrimonial em conluio com um menor
de idade. São condutas autônomas e independentes, que atingem bens jurídicos distintos
(patrimônio e formação moral do menor). (STJ, HC 362.726/SP, Dje 06/09/2016).

- Não pode ocorrer a imputação do crime de peculato e a aplicação da agravante da


violação de dever inerente a cargo, pois trata-se de uma vedação trazida pelo princípio do
no bis in idem. Isso porque ser funcionário público é elementar do tipo penal do art. 312
do CP.

QUESTÃO: De acordo com o princípio ne bis in idem, o agente não pode ser
responsabilizado por dois ou mais crimes, caso tenha praticado apenas uma única conduta.

A questão acima trata de uma hipótese de crime formal em que, por meio de uma só ação,
o agente praticou dois crimes. Nesse caso, não há que se falar em ne bis in idem e o agente
poderá ser responsabilizado pelas duas condutas.

- Pode ter uma multa penal e outra administrativa pois são esferas distintas. Ne bis in idem
é quando não pode duas punições de um fato NA MESMA ESFERA.

13) Princípio da insignificância: Também conhecido por “criminalidade de bagatela” ou


“infração bagatelar própria”.
Obs.: foi incorporado ao Direito Penal por Claus Roxin, na década de 1960, sob o fundamento de política
criminal. A política criminal é uma espécie de crítica ao Direito posto, ou seja, à norma penal. Essa crítica abarca
principalmente a aplicação da norma penal em determinadas situações. Assim, a ideia do princípio da
insignificância é retirar a punição e dizer que determinada conduta não é um crime, visto que não afeta um
bem jurídico tutelado pelo Direito Penal.

Tipicidade Formal vs Tipicidade Material:

Dentro do fato típico, ainda há um quarto elemento: a tipicidade. Para que haja um fato
típico é necessário que a conduta seja típica, ou seja, que esteja prevista em lei como
crime. Nesse sentido, matar uma pessoa só é crime, pois essa conduta está prevista no art.
121 do Código Penal como crime.

A tipicidade, por sua vez, se divide em formal e material. A tipicidade formal se refere ao
fato típico descrito na norma penal. Haverá a tipicidade formal quando a conduta do
agente se adequa perfeitamente à norma penal. Já a tipicidade material é a efetiva lesão
ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado pela norma penal.

A ideia do princípio da insignificância é que ele será aplicado quando, na conduta do


agente, não houver a tipicidade material. O problema é que, para que exista a tipicidade
material é preciso que exista tanto a tipicidade formal quanto a tipicidade material. Assim,
aplicando a insignificância, é excluída a tipicidade material, que exclui a tipicidade, que
exclui o fato típico e exclui o crime em si. É por esse motivo que se diz que a natureza
jurídica do princípio da insignificância é de causa supralegal de exclusão da tipicidade

CRITÉRIOS DOUTRINÁRIOS DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA

1. Valor do bem:

• Econômico: é possível aplicar o princípio da insignificância quando o bem atingido tem


valor inferior a 10% do salário mínimo; e
• Sentimental: a depender do caso, em que pese o valor econômico do bem ser baixo, não
será possível a aplicação do princípio da insignificância em razão do valor sentimental do
bem para a vítima.

2. Condição econômica da vítima:

• Subtrair um pacote de arroz de um supermercado é diferente de subtrair o mesmo


pacote de arroz de uma família que passa por necessidades.

3. Consequências do crime e modus operandi:

• A depender de como o agente praticou a conduta, não há como se falar em princípio da


insignificância. Ex.: furto de um bem de baixo valor econômico que estava dentro de um
carro, sendo que o agente quebrou a janela do veículo para realizar a subtração.

Requisitos objetivos adotados pela Jurisprudência – Min. Celso de Mello (HC 84.412-0/SP –
29/06/2004 – STF):

a. mínima ofensividade da conduta;


b. nenhuma periculosidade social da ação;
c. reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; e
d. inexpressividade da lesão jurídica provocada.

Já o requisito “nenhuma periculosidade social da ação” significa ausência de violência ou


ameaça. É por isso que o princípio da insignificância não se aplica aos crimes de roubo ou
extorsão.

Requisito subjetivo (análise do perfil do autor)

1) Criminoso habitual: O crime em que mais se aplica o princípio da insignificância é o


furto, pela sua qualidade de não ter violência e grave ameaça.
Ex: O agente vai todo dia no mercado e furta algo, como xampu, sabonete, pães, margarina. O agente está
cometendo pequenos furtos, que se fossem analisados isoladamente poderia ser aplicado o princípio da
insignificância. Contudo, o princípio da insignificância não será um salvo conduto para o criminoso habitual.

É preciso diferenciar o princípio da insignificância do estado de necessidade. O furto


famélico é outra situação. Ex: O agente entra no supermercado e começa a furtar carnes, produtos
alimentícios, porque está passando fome, está prestes a morrer. Ainda que esse agente pratique o
furto que não seja considerado insignificante, ou seja, um furto que deveria responder, que
há tipicidade formal e material, ele poderá ter sua ilicitude excluída em razão do estado de
necessidade. Ao criminoso habitual não poderá se beneficiar do princípio da
insignificância.

2) Militar, Delegados de Polícia, Policiais, Juiz, Promotor: Pode ser aplicado o princípio da
insignificância a depender do caso, mas, em regra, não, pois a reprovabilidade do
comportamento desses agentes é alta.

3) É possível a aplicação do P. da Insignificância a reincidentes? Já houve jurisprudência


dispondo que o princípio da insignificância não se aplica a reincidente e há teoria que
defende que não deve ser aplicada a um reincidente. Atualmente, prevalece que o
princípio da insignificância é possível de ser aplicado a um reincidente.
A reincidência não impede, por si só, que o juiz da causa reconheça a insignificância penal da conduta, à luz dos
elementos do caso concreto (Informativo 793 do STF, HC 123108, julgado em 03/08/2015 e STF - HC 155.920/MG –
27/04/2018)

O Delegado de Polícia pode aplicar o P. da Insignificância diante de uma situação flagrancial?


Há uma grande polêmica em relação a esse assunto. As duas correntes são fortes e ainda não
há uma definição em relação a qual corrente deve ser adotada em uma prova objetiva. 1ª
Corrente) NÃO. 2ª Corrente) SIM.

• Aplicação do Princípio da Insignificância

FURTO: Aplica-se a insignificância. Entretanto, é importante observar: 1) Não se leva em


consideração somente o valor da res furtiva. Deve ser analisado o caso concreto. O valor da res
furtiva é o valor do bem material. 2) STJ tem negado a aplicação do P. da Insignificância quando
o valor do bem subtraído é superior a 10% do salário mínimo vigente à época dos fatos. Se for
abaixo desse valor, analisa-se o caso concreto (STJ, AgRg no Resp 1.558.547/MG, 19/11/2015)
3) Furto com ingresso na residência da vítima – não aplicação em razão da violação da
intimidade (STF, HC 106.045, 19/06/2012) O furto no interior de residência geralmente será um
furto qualificado, pelo arrombamento ou destruição de obstáculo. Ex: A casa da vítima está
aberta e o agente entra e furta os bens que estão no interior da residência. Nesse caso, o
agente praticou furto simples. FURTO NOTURNO, EM REGRA NÃO SE APLICA. PODE SER
APLICADO APENAS ANALISANDO O CASO CONCRETO.

RESTITUIÇÃO DE BENS FURTADOS À VÍTIMA: Não gera, por si só, a aplicação do princípio da
insignificância (STJ, HC 213.943/MT, 05/12/2013). O agente, porém, terá a pena diminuída em
razão do arrependimento posterior (art. 16, CP). A restituição da coisa à vítima não tem nada a
ver com o princípio da insignificância. Ao agente será aplicado um outro instituto, que é o
arrependimento posterior.

FURTO QUALIFICADO: Em regra, não é aplicado. Eventualmente, excepcionalmente, a


depender do caso concreto, é possível aplicar o princípio da insignificância ao furto qualificado

Não se aplica o P. da Insignificância aos seguintes crimes:

1) Roubo, extorsão e demais crimes cometidos com violência ou grave ameaça. Não será
aplicado em razão da periculosidade social da ação.

2) Crimes previstos na lei de drogas (Lei n.º 11.343/06) – STJ, HC 240.258/SP, 06/08/2013

3) Crimes contra a fé pública (ex.: moeda falsa e falsidade documental)

4) Crime de contrabando (art. 334-A, CP) – STJ, AgRG no Resp 1472745/PR, 01/09/2015 O
crime de contrabando visa proteger não somente os impostos, mas a saúde pública e
segurança pública.

Ex: O agente importa sem autorização cigarros. Ele pratica crime de contrabando. Há uma
exceção: no crime de contrabando se a pessoa entra no país com uma caixa de remédio sem
autorização, mas é em pouca quantidade, para uso pessoal, o princípio da insignificância pode
ser aplicado.

5.Estelionato contra o INSS e o FGTS

6) Crimes relacionados a violência doméstica


7) Crimes contra a Administração Pública: Se há um crime contra a administração pública,
como peculato, corrupção passiva, não será aplicado o princípio da insignificância. O STF
entende que, a depender da situação, é possível aplicar o princípio da insignificância aos
crimes contra a administração pública mas em regra não – súmula 599 stj.

Aplicação do Princípio da Insignificância:

1) Crimes contra a ordem tributária (Lei 8.137/90) e descaminho (art. 334, CP) – valor
pacífico no STJ e STF: Até R$ 20.000,00
2) Apropriação indébita previdenciária e sonegação de contribuição previdenciária
3) Crimes ambientais – A doutrina é contrária, mas a jurisprudência admite a aplicação
deste princípio, após uma rigorosa análise. STJ, AgRg no AREsp 654.321/SC,
09/06/2015 e STF HC 112563/SC, 21/08/2012. Deve ser feita a análise do caso
concreto.

A questão da posse e do porte de armas de fogo e munições:

1) Não se aplica o princípio da insignificância ao posse ou porte de arma de fogo, seja de


calibre permitido ou restrito e ainda que não acompanhado de munição.

A Lei n. 10.826 dispõe que ao agente que possui ou porta arma de fogo ilegalmente sem a
devida autorização não será aplicado o princípio da insignificância. A Lei n. 10.826 também
incrimina a conduta do agente que possui ou porta munições. A jurisprudência começou a
entender que, em algumas situações, é possível que o agente tenha munição, mas são
poucas e não estão acompanhadas de arma de fogo. Então, em alguns casos, a
jurisprudência admite a aplicação do princípio da insignificância à posse ou ao porte de
munições irregularmente.

2) No que concerne a posse ou porte de munições, desacompanhadas de arma de fogo,


tanto o STF quanto o STJ tem entendido que, a depender do caso concreto e da
quantidade de munições, é possível aplicar o P. da Insignificância. STJ É FAVOR. STF É
CONTRA.

É possível a aplicação do princípio da insignificância aos atos infracionais? O ato infracional é a


conduta típica praticada por um menor de idade. O menor de idade não pratica crime, aquele
que tem menos de 18 anos é inimputável e a ele não pode ser aplicado um crime. Ex: Um
menor de 18 anos subtrai um pacote de biscoito do supermercado. Nesse caso, o menor
praticou um ato infracional análogo ao crime de furto. É possível a aplicação do princípio da
insignificância aos atos infracionais

Infração bagatela imprópria ou princípio da insignificância imprópria: No princípio da


insignificância imprópria há crime, com fato típico, ilícito e culpável. Há um fato criminoso que
foi praticado, entretanto, em virtude de um acontecimento posterior, a pena se torna
desnecessária, não há interesse do Estado em punir a pessoa. Quando o Estado perde o
interesse em punir a pessoa é chamado de extinção de punibilidade. Ex1: pagamento do tributo em
crimes tributários materiais. Se é praticado um crime tributário material, mas depois é efetuado o pagamento do
imposto que foi sonegado, o Estado extingue a punibilidade. Ex2: perdão judicial pelo homicídio culposo do próprio
filho. Foi praticado um crime de homicídio culposo, mas as consequências do crime são tão graves que a incidência
da pena se torna desnecessária

De acordo com a doutrina clássica, existe somente uma fonte formal imediata do Direito Penal,
que é a lei. O que vai ao encontro do princípio da reserva legal, princípio da estrita legalidade,
no qual somente o que está previsto em lei pode ser crime.
As leis penais classificam-se em:

1) Incriminadoras: leis que irão incriminar uma pessoa.

a. Completas ou perfeitas: possuem todos os elementos da conduta criminosa. Exemplo: o


crime de roubo, art. 157 do Código Penal, não necessita de nenhuma complementação para
entender o que se afirma no artigo.

b. Incompletas ou imperfeitas: normas penais que exigem complementação. Essa


complementação poderá ser por meio de outra norma penal ou outra lei, eventualmente
poderá ser pela complementação de um ato normativo, como também pela complementação
por ato do juiz. Nesses casos, temos duas possiblidades. Se a exigência de complementação é
de outra norma, lei ou ato administrativo, haverá o que a lei chama de norma penal em
branco. Contudo, se essa complementação penal exigida é um ato do juiz, será denominada de
tipo penal aberto

2) Não incriminadoras

a. Permissivas justificantes: causas excludentes de ilicitude. Aqui podemos incluir também as


normas penais específicas, como por exemplo o caso do art. 128 do Código Penal, que permite
o aborto daquela pessoa que sofreu o crime de estupro.

b. Permissivas exculpantes: retiram a culpabilidade ou a imputabilidade. Exemplo: a


menoridade penal.

c. Interpretativas: explicam o significado de outras normas penais. Exemplo: art. 327 do Código
Penal que define o conceito de funcionário público para fins penais.

d. De extensão ou integrativa: necessárias para incriminar condutas específicas. Assim, por


exemplo, nos casos de quem tentar matar uma pessoa e não conseguir concretizar o crime por
razões alheias a sua vontade, para incidir norma penal sobre a tentativa de homicídio será
necessária a combinação do art. 121 com o art. 14, II, do Código Penal.

TIPO PENAL ABERTO: Depende da interpretação, da valoração do julgador no caso concreto


para que determinada conduta seja incriminada. Exemplo: art. 246 (abandono intelectual) –
Deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária de filho em idade escolar. Diante da
imputação de denúncia do Ministério Público, em razão do art. 246 do CP, o caso deverá ser
julgado pelo juiz a fim de verificar se houve justa causa para que os responsáveis deixassem de
prover à instrução primária de filho em idade escolar. Assim sendo, há a necessidade da
valoração do juiz.

LEI PENAL EM BRANCO: Tema que tem sido muito cobrado em provas e que precisa de uma
atenção especial. Quando se fala em lei penal em branco, é necessário entender que são
normas penais que exigem uma complementação de uma lei ou de um ato administrativo, mas
se não houver essa complementação, passa a ser uma lei sem qualquer efeito prático. Desse
modo, a lei penal em branco é norma penal que depende de complemento para que possua
validade no ordenamento jurídico. O preceito primário da norma é incompleto e exige
complementação de outra lei ou de ato da Administração Pública. O jurista alemão Franz von
Liszt a definia como “corpo errante em busca de alma”. A normal penal em branco classifica-se
em:

Obs: As provas de concurso já têm cobrado as demais nomenclaturas da norma penal em


branco heterogênea: em sentido estrito ou própria.
1) Norma penal em branco heterogênea (em sentido estrito ou própria):

O complemento da norma penal possui natureza jurídica diversa e não emana do legislador,
mas de fonte de produção distinta (atos administrativos). Qualquer norma penal
incriminadora deve estar prevista em lei, porém, se for uma norma penal em branco, sua
complementação pode ser proveniente de um ato administrativo. Exemplo: substâncias que
são proibidas para fins de aplicação da Lei de Drogas (Lei n. 11.343/2006). O complemento
encontra-se em portaria da Anvisa e do Ministério da Saúde.

2) Norma penal em branco homogênea (em sentido amplo ou imprópria) : O complemento


da norma penal possui a mesma natureza jurídica e emana da mesma fonte de produção
(do mesmo órgão legislativo). Desse modo, o complemento estará previsto em lei. Divide-
se em norma penal em branco homogênea homovitelina e norma penal em branco
homogênea heterovitelina.

Diante da norma penal em branco homogênea tanto homovitelina como heterovitelina, a


natureza jurídica do complemento será uma lei. Quanto ao diploma legislativo, na
homovitelina a complementação encontra-se no mesmo diploma legislativo que a norma
penal incriminadora, e na heterovitelina a complementação encontra-se em diploma
legislativo distinto da norma penal incriminadora. Exemplo: CP, art. 312 (peculato) e demais
crimes praticados por funcionário público contra a Administração Pública – CP, art. 327. O
artigo 312 é praticado por funcionário público, e só é possível identificar funcionário público
pela definição que o art. 327 traz, assim ambos os artigos são normas penais em branco
homogêneas homovitelinas. CP, art. 169, parágrafo único, I (apropriação de tesouro) – CC, art.
1.264 (definição de tesouro). O crime de apropriação de tesouro está previsto no art. 169 do
Código Penal, porém a definição de tesouro é feita no art. 1.264 do Código Civil, por isso trata-
se de uma norma penal em branco homogênea heterovitelina.

3) Norma penal em branco ao avesso (às avessas, inversa, ao revés, invertida): A


complementação é exigida pelo preceito secundário da norma penal e não pelo preceito
primário. Exemplo: arts. 1º a 3º da Lei n. 2.889/1956 – Lei do Genocídio.
4) Norma penal em branco ao quadrado: A norma penal exige complementação e esta, por
sua vez, também requer complementação. Exemplo: art. 38 da Lei n. 9.605/1998 (crimes
ambientais) – “Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente,
mesmo que em formação, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção.” As áreas
de preservação permanente estão relacionadas na Lei n. 12.651/2012 (Código Florestal),
que, por sua vez, requer nova complementação por ato do Chefe do Poder Executivo.
5) Norma penal em branco de fundo constitucional: O complemento da norma penal
encontra-se na Constituição Federal. Exemplo1: homicídio qualificado contra autoridades
e agentes de segurança (art. 121, Par. 2º, inciso VII, CP). Os integrantes dos órgãos de
segurança pública estão descritos nos artigos 142 e 144, da CF/88. Exemplo2: art. 246, CP
(abando no intelectual) – o conceito de “instrução primária” encontra-se no art. 208, I, da
CF/88.

INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL

CARACTERÍSTICAS DA LEI PENAL

1. Exclusividade: somente a lei define infrações penais (crimes e contravenções) e comina


sanções penais (penas e medida de segurança). A exclusividade está ligada ao princípio da
reserva legal ou estrita legalidade. Somente as leis penais é que podem incriminar condutas e
prever sanções.

2. Anterioridade: a lei penal só pode ser aplicada caso se encontre em vigor antes da prática da
infração penal.

3. Imperatividade: deve ser obedecida. O descumprimento acarreta a aplicação de pena ou


medida de segurança.

4. Generalidade: aplica-se a todos, indistintamente.

5. Impessoalidade: descreve abstratamente fatos futuros. Não descreve fatos passados, fatos
concretos, tampouco pessoas. Exceção: leis de anistia e abolitio criminis, pois aplicam- -se a
fatos concretos e passados.

INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL: Ponto muito cobrado em provas e que merece atenção.

• Conceito: interpretar é alcançar o verdadeiro entendimento de uma determinada situação,


logo, é buscar o real significado do texto legal.

• Hermenêutica jurídica: ciência que fará o estudo da interpretação da lei penal.

• Exegese: atividade de interpretar.

Formas de interpretação da lei penal:

a. Quanto ao sujeito

1) Autêntica (legislativa): feita pelo próprio legislador com a finalidade de esclarecer uma
determinada norma. Exemplo: CP, art. 327 (conceito de funcionário público). O próprio legislador é quem traz
uma norma para explicar esse conceito.

2) Doutrinária: exercida pelos doutrinadores. Exemplo: a exposição de motivos do Código


Penal, pois trata-se de um legislador explicando quais as doutrinas utilizadas para a produção
da lei penal.

3) Judicial: também chamada de jurisprudencial, é exercida pelos juízes e tribunais.


Atualmente a interpretação judicial, em algumas situações, terá força vinculante. Fato que permite a interpretação
judicial vinculando o poder público, o que é muito importante, porque a interpretação judicial não necessariamente
é a interpretação autêntica do que o legislador havia compreendido para determinada situação. A partir do
momento que os tribunais superiores editam uma súmula vinculante e vinculam todos os demais órgãos do
Judiciário e da Administração Pública, tem-se uma hipótese de interpretação vinculante da norma penal.
A interpretação autêntica pode ser contextual ou posterior. A contextual é quando a norma
interpretativa é editada junto com a norma original, é o caso do Código Penal, art. 327, que
traz o significado de funcionário público. O legislador edita uma lei e ao mesmo tempo traz
uma norma explicativa com a interpretação autêntica na referida norma editada. Na posterior,
o legislador edita uma lei e posteriormente edita outra lei, que eventualmente alterará essa
anterior, para as devidas interpretações do que havia sido previsto.

A interpretação autêntica posterior possui eficácia retroativa (ex tunc), ainda que seja mais
gravosa ao réu. Exemplo: suponha que exista uma norma penal que incrimine determinada
conduta, porém a conduta exige uma interpretação porque não está bem esclarecida. Passado
um ano, o legislador edita uma nova lei para explicar aquela conduta incriminada
anteriormente. Neste meio tempo, entre a edição da norma incriminadora e essa nova norma
penal que trouxe essa interpretação autêntica, foi praticada a conduta. Nesse caso, essa nova
norma pode ser aplicada ao agente, vez que a norma penal incriminadora já existia. O que vem
a existir agora é interpretação autêntica de uma norma penal que já existia, assim, pode ser
aplicada a fatos anteriores a sua vigência, ainda que para prejudicar o réu.

b.Quanto aos meios ou métodos

1) Gramatical (literal, sintática ou filológica): considera literalmente a norma e suas palavras.

2) Lógica (teleológica): destina-se a cumprir a finalidade da lei.

c. Quanto ao resultado

1) Declaratória: a letra da lei corresponde exatamente àquilo que o legislador quis dizer.

2) Extensiva: a lei informa menos do que deseja, ou seja, é preciso ampliar a compreensão da
lei. Exemplo: o art. 159 do CP traz a conduta de extorsão mediante sequestro. Contudo, no art.
148 há o crime de sequestro ou cárcere privado. Suponha que ocorra um crime de extorsão
mediante cárcere privado, neste caso é possível incidir ao agente o crime de extorsão mediante
sequestro e extorsão mediante cárcere privado.

3) Restritiva: a lei informou mais do que deseja.


Obs: Interpretação progressiva (adaptativa, evolutiva): busca trazer a lei para os dias atuais, de acordo com as
mudanças na sociedade, e ajusta a lei à realidade atual. Exemplo: conceito de ato obsceno para fins da prática do
crime do art. 233, CP

ANALOGIA E INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA

LEI PENAL: Interpretação analógica e analogia são conceitos bem distintos e bastante cobrados
em prova.

INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA: A interpretação analógica ocorre quando a norma penal traz


uma fórmula casuística seguida de uma fórmula genérica. A interpretação analógica é admitida
no Direito Penal brasileiro tanto para beneficiar quanto para prejudicar o réu. A analogia só
terá aplicação no Direito Penal brasileiro in bonam partem, ou seja, se for para beneficiar o réu.
Já a interpretação analógica não. Ela vai ter aplicação tanto para beneficiar quanto para
prejudicar o réu. Quando se utiliza a interpretação analógica no Direito Penal brasileiro?
Quando o legislador trouxer uma fórmula específica, seguida de uma fórmula genérica.
Exemplos: Fórmula casuística e fórmula genérica Homicídio qualificado – CP, Art. 121, § 2º: I –
mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe... Se o réu pratica um
homicídio mediante paga ou promessa de recompensa tem-se uma fórmula casuística.

Fórmula casuística – o legislador previu expressamente as hipóteses de homicídio qualificado


mediante paga ou promessa de recompensa. Mas após ele prever essas duas modalidades de
homicídio qualificado, ele traz uma fórmula genérica (= ou por outro motivo torpe). Ou seja,
homicídio praticado mediante paga e promessa de recompensa é motivo torpe. Entretanto, o
que o legislador dispõe é basicamente o seguinte: não se pode prever todas as hipóteses de
motivos torpes. Existem vários motivos torpes, e isso vai depender de uma análise pelo
Judiciário. Como não há como prevê-los na lei, coloca-se uma fórmula casuística e outra
genérica. Através da interpretação analógica, o Judiciário pode aplicar a qualificadora do
motivo torpe a situações que não estão expressas em lei, mas se encaixam nessa classificação,
utilizando a fórmula genérica que o legislador trouxe, e adequando outras condutas ao motivo
torpe. Para fazer a interpretação analógica, aplica-se em outras situações o que o legislador
considerou como insidioso, como cruel, como meio que possa resultar em perigo comum.

ANALOGIA (TAMBÉM CHAMADA DE INTEGRAÇÃO ANALÓGICA E APLICAÇÃO ANALÓGICA):


Não é uma forma de interpretação da lei, mas sim uma forma de integração do Direito. A
analogia é utilizada diante da existência de uma lacuna legal (vácuo legislativo). Não se pode,
por meio da analogia, trazer uma conduta e incriminar essa conduta, porque a analogia, se
fosse assim aplicada, desrespeitaria o princípio da legalidade. Então, só é possível se valer da
analogia no Direito Penal para beneficiar o réu, nunca para prejudicá-lo.

Obs: Sempre que houver esses nomes – integração analógica e aplicação analógica – será
analogia. A interpretação analógica NÃO tem sinônimos.

CONFLITO APARENTE DE NORMAS PENAIS

CONFLITO APARENTE: Para a ocorrência do conflito aparente deve haver, portanto: 1. Unidade
de fato. 2. Pluralidade de leis ou normas penais de mesma hierarquia e vigentes à época do
fato. Somente com a presença desses dois requisitos acima, é que se tem a existência do
conflito aparente de normas penais. Devem ser normas de mesma hierarquia, porque se forem
de hierarquias distintas, aplica-se o chamado critério hierárquico.

Finalidades da solução do conflito aparente:

1. Evitar o bis in idem. 2. Manter a coerência do Direito Penal.

Não se pode aplicar duas normas a um mesmo fato. Não há qualquer segurança jurídica para o
cidadão que será julgado se duas normas puderem ser aplicadas ao caso dele. São necessários
princípios para solucionar isso.

Para solucionar o conflito, a doutrina estabeleceu princípios.

Princípios para solução do conflito aparente de normas penais:

1. Consunção. 2. Alternatividade. 3. Subsidiariedade. 4. Especialidade (lei especial revoga


a lei geral).
CONFLITO APARENTE DE NORMAS PENAIS:

Subsidiariedade (lex primaria derogat legi subsidiarie): No princípio da subsidiariedade só se


aplica a norma subsidiária se não conseguir aplicar a norma principal, a norma mais grave. Na
subsidiariedade, busca-se aplicar ao agente a norma mais grave. Se a norma mais grave se
aplica ao fato praticado pelo agente, excelente. Se não for aplicável, conta-se com uma norma
subsidiária, que vai ser uma norma mais ampla e que será uma norma mais branda, que não é
tão grave quanto a norma principal.

1) Norma primária, mais grave, deve prevalecer sobre a norma subsidiária, mais branda.

2) A norma subsidiária está inserida na norma principal.


Obs.: não confundir o princípio da especialidade com o princípio da subsidiariedade. No princípio da especialidade,
aplica-se a norma que é mais especial, a norma que é específica ao caso, e essa norma específica possui mais
elementares do que a norma geral. No princípio da subsidiariedade, tenta-se aplicar uma norma principal, que
possui mais elementos; se não for aplicável, procura-se aplicar a norma subsidiária. No princípio da especialidade
não importa se a norma especial é mais grave ou mais branda – aplica-se a norma especial. Já no princípio da
subsidiariedade, quer-se aplicar a norma mais grave, que é mais gravosa ao réu, subsidiariamente, se não for
possível aplicar a norma geral, aplica-se a norma subsidiária, que é mais branda. No princípio da especialidade, a
norma especial, muitas vezes, vai ser mais branda, outras vezes vai ser mais grave. Já no princípio da subsidiariedade
a norma subsidiária sempre será mais branda, vai ter uma pena menor que a norma principal.

3) A norma subsidiária age como “soldado de reserva”, devendo ser aplicada quando não
estiverem presentes todas as elementares da norma principal.

4) Ao contrário do princípio da especialidade, a aplicação do princípio da subsidiariedade se


dará mediante análise do caso concreto.
Obs.: no princípio da subsidiariedade, analisa-se o caso concreto para ver se a conduta praticada pelo agente
poderia se aplicar a norma mais grave.

Há duas formas de subsidiariedade: expressa e tácita.

Perigo para a vida ou saúde de outrem Art. 132: Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e
iminente: Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave. Outro crime que
vai trazer perigo para a vida ou saúde de outrem é o do art. 251 do Código Penal, o crime de
explosão. O crime de explosão tem a pena de reclusão de três a seis anos. Se alguém gera
perigo para a vida ou saúde de outra pessoa por meio de uma explosão, não responde pelo
artigo 132, o agente vai responder pelo artigo 251 do CP. Logo, nesse caso, analisando o caso
concreto, é possível dizer que o art. 251 é a norma principal e o art. 132 é a norma subsidiária
e, nesse caso, expressamente subsidiária.

Subsidiariedade tácita • O fato típico mais grave é aplicado em detrimento do fato típico
menos grave, o qual integra a descrição típica do primeiro. • Na subsidiariedade tácita não está
expressamente previsto em lei que aquela norma é uma norma subsidiária.
Constrangimento ilegal Art. 146. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver
reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela
não manda: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. Extorsão Art. 158. Constranger alguém, mediante
violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer,
tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. São dois tipos
penais muito semelhantes. A diferença é que no constrangimento ilegal, este constrangimento mediante violência
ou grave ameaça, não tem intuito de obtenção de uma vantagem econômica ilícita. Já na extorsão há a intenção de
obter essa indevida vantagem econômica. Tenta-se aplicar a extorsão, que é mais grave. Quando se está diante de
um caso em que o agente constrangeu alguém mediante violência ou grave ameaça, a não fazer o que a lei manda,
ou a fazer o que a lei não manda, porém sem intuito financeiro, intuito econômico, não é possível aplicar a extorsão
a esse agente. Se não se consegue aplicar a extorsão – a norma principal – é preciso aplicar a norma subsidiária.
Portanto o constrangimento ilegal é uma norma subsidiária em relação à extorsão.

Consunção ou absorção (lex consumens derogat legi consumptae) • A norma mais grave e
abrangente absorve a norma menos grave abrangente. • O crime-fim absorve o crime-meio. •
Afasta-se o bis in idem, uma vez que o fato menos amplo seria punido separadamente do fato
mais amplo, do qual é integrante.

1ª Hipótese – Crime Complexo: Crimes que resultam da fusão de dois ou mais tipos penais.
Exs.: Roubo = Furto (porque há uma subtração) + Constrangimento ilegal ou ameaça ou
violência ou lesão corporal. Não se aplica furto + outro crime porque o Código Penal previu um
tipo penal que vai abranger esses dois tipos penais. Se se aplica roubo, a pena é de quatro a
dez anos de reclusão. Se se aplica constrangimento ilegal, a pena é de um ano, se se aplica
furto, a pena máxima é de quatro anos. O crime complexo pode ser mais grave que a soma dos
dois tipos penais que o formam. Os crimes de furto e de constrangimento ilegal são absorvidos
pelo crime de roubo Extorsão mediante sequestro = Sequestro ou cárcere privado + Extorsão.
Obs.: parte da doutrina discorda que o crime complexo seja uma hipótese de princípio da
consunção, uma vez que não há conflito se a própria lei criou um tipo penal específico,
resultante da fusão de dois ou mais tipos penais.

2ª Hipótese – Crime Progressivo (crimes de ação de passagem) O dolo do agente é voltado para
um resultado que, necessariamente, passa por outro tipo penal. O ato final (dolo) consome os
atos anteriores. Ex.: "A" utiliza uma arma de corte para ceifar a vida de B. Assim, o golpeia
repetidas vezes na região do tórax, até que consegue alcançar seu objetivo. Durante a prática
desse crime foi praticado também o crime de lesão corporal (art. 129 do CP). Porém o agente
só vai responder pelo resultado que ele causou, bem como pelo dolo dele, pela sua intenção. O
homicídio é o que se conhece por crime progressivo. Para que seja praticado o homicídio, o
agente necessariamente vai ter que passar por uma lesão corporal. O crime-fim absorve o
crime meio.

3ª Hipótese – Progressão Criminosa Ex.: "A" pretende gerar lesões corporais em B e, para
tanto, desfere socos em sua face. Após alcançar seu intento, altera seu dolo e continua
desferindo socos com a finalidade de tirar sua vida. "A" responderá apenas pelo crime de
homicídio, não responde pelas lesões corporais. Ambos foram praticados no mesmo contexto
fático, e houve uma progressão criminosa. O crime-fim, o crime mais grave, absorve o crime-
meio, o crime menos grave. O dolo do agente é voltado para um crime menor. Todavia, após
consumá-lo, substitui seu dolo para alcançar um resultado mais grave.

Princípio da consunção: o crime menos grave vai passar a ser um crime-meio (que é a lesão
corporal) e será absorvido pelo crime-fim, o agente vai responder somente pelo seu intento
final, o crime de homicídio.

4ª Hipótese – Fatos Impuníveis O crime-meio é absorvido pelo crime-fim. Ex.: furto em interior
de residência (art. 155, CP) absorve o crime de violação de domicílio (art. 150, CP). Se o agente
entra na residência da vítima, ele pratica o crime de violação de domicílio. Mas ele entrou na
residência da vítima não com a intenção de violar o domicílio, mas como um meio para a
prática de um crime-fim: o furto em interior de residência. Ele não responderá pela violação de
domicílio, ele vai responder somente pelo resultado final, pelo dolo que ele tinha, o crime-fim,
que é o furto.

5ª Hipótese – Pós-fatos impuníveis Nova ofensa praticada contra o bem jurídico, mas que fazia
parte do dolo inicial do agente. Pode ser considerado um exaurimento do crime praticado e,
por isso, não será punido. Ex.: João subtrai um aparelho celular com a finalidade de vendê-lo e
obter lucro. Assim, após o furto, anuncia e consegue vender o referido aparelho. A venda para
um terceiro de boa-fé é mero exaurimento, fazia parte do intento inicial do agente, ou era uma
decorrência lógica. Não faz parte do iter criminis mas faz parte do mesmo contexto, então não
se imputa um crime específico, um crime à parte a esse agente.

LEI PENAL NO TEMPO

• Regra: Tempus regit actum – aplica-se a lei vigente ao tempo da conduta (ato). O tempo rege
o ato. • Entretanto, excepcionalmente e sempre em benefício do réu, poderá haver a aplicação
de leis que não estavam vigentes à época dos fatos. • Retroatividade da lei penal benéfica
(abolitio criminis e novatio legis in mellius).

Retroatividade da Lei Penal Benéfica Constituição Federal (CF) Art. 5º, XL – a lei penal não retroagirá,
salvo para beneficiar o réu. Artigo 9º da Convenção Americana sobre Direitos Humanos Ninguém pode ser
condenado por ações ou omissões que, no momento em que forem cometidas, não sejam delituosas, de acordo
com o direito aplicável. Tampouco se pode impor pena mais grave que a aplicável no momento da perpetração do
delito. Se depois da perpetração do delito a lei dispuser a imposição de pena mais leve, o delinquente será por isso
Numa determinada data é praticada a conduta A, típica, com pena de reclusão
beneficiado.
prevista de 4 a 8 anos. Passado algum tempo, surge uma nova lei, Lei Y, que dispõe que a
conduta A agora tem pena de 2 a 4 anos de reclusão. O julgamento do agente será em data
posterior e a lei a ser aplicada deverá ser a Lei Y. A conduta foi praticada num momento em
que a lei era mais grave, mas quando ele foi julgado tinha surgido uma lei penal mais branda
que beneficiou a situação do agente. Numa outra situação, o agente já tinha sido julgado
quando a nova lei, mais branda, surgiu e comina a conduta A com pena de 2 a 4 anos de prisão.
O agente já tinha sido condenado, a sentença é irrecorrível, ele já está cumprindo pena há 4
anos. Mesmo já estando na fase de execução a pena, o agente será beneficiado. A lei benéfica
retroage, aplica-se a fatos ocorridos antes da sua vigência.

a) Abolitio criminis (Resulta na extinção da punibilidade ): Uma conduta que era


considerada crime, não é mais. Código Penal Art. 2º Ninguém pode ser punido por fato que lei
posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença
condenatória. Parágrafo único. (...) Art. 107. Extingue-se a punibilidade: III – pela retroatividade de lei que
não mais considera o fato como criminoso; São duas as condições para abolitio criminis:
revogação do tipo penal e supressão material da conduta (a conduta que era
considerada crime, deixa de ser).

Princípio da continuidade normativa (continuidade típico-normativa)

• Alteração geográfica (topográfica) do tipo penal.

• O tipo penal é revogado, entretanto, a conduta descrita passa a ser disciplinada por outro
tipo penal. Ex.: atentado violento ao pudor (art. 214, CP) – revogado pela Lei n.
12.015/2009 Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele
se pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal: Pena – reclusão, de seis a dez anos. C

código Penal, artigo 213, estupro. Não confundir abolitio criminis com a continuidade
típico-normativa quando ocorre a revogação do tipo penal, mas a conduta descrita nesse
tipo penal passa a ser regulada, tipificada por outro tipo penal.

b) Novatio legis in mellius/lex mitior/lei penal benéfica – lei que visa beneficiar a situação
do réu.

A Conduta A é uma conduta típica e impõe uma pena de reclusão de 1 a 4 anos sob
vigência da Lei X. Passado um tempo, entra em vigor a Lei Y, revogando a Lei X e impondo
uma pena de reclusão de 1 a 3 anos para a Conduta A. Como a Lei Y melhora a situação do
réu, ela será aplicada retroativamente, mesmo que a sentença do réu já tenha sido
transitada em julgado durante a vigência da lei anterior.

• Lei posterior benéfica foi publicada, mas ainda não se encontra em vigor. Poderia ser
aplicada durante o período de vacatio legis para beneficiar o réu? NÃO.

Suponha que o agente tenha praticado a Conduta A sob vigência da Lei X, tendo pena
máxima de reclusão de 20 anos. Antes do julgamento surge a Lei Y, que determina que a
conduta A tenha pena de reclusão de 10 anos. No entanto, a Lei Y tem um período de
vacatio legis de 1 ano e o julgamento do réu acontecerá antes desse prazo.
Como a Lei Y ainda não estava em vigor no dia do julgamento, o réu será julgado de acordo
com a Lei X. Somente quando a Lei Y entrar em vigor é que será desconstituída a coisa
julgada, sendo realizada uma revisão criminal para que seja imposta uma pena de acordo
com a nova determinação

• E quando houver dúvida se a nova lei beneficia ou prejudica o réu? Entende a doutrina
que o próprio réu pode ser consultado para escolher aquela lei que entende lhe ser mais
favorável.

EFEITOS DA ABOLITIO CRIMINIS


Código Penal, art. 2º Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando
em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. Parágrafo único. (…)

• Efeito Principal/Primário: imposição da sanção penal;

• Efeitos Secundários de Natureza Penal: reincidência, configuração de maus antecedentes


etc.;

• Efeitos Extrapenais: artigos 90 e 91, CP.

Obs: A abolitio criminis beneficiará o réu somente em razão dos efeitos penais da sentença
condenatória, não excluindo os efeitos extrapenais – obrigação de reparação do dano, por
exemplo

EFEITOS DA NOVATIO LEGIS IN MELLIUS


Código Penal, art. 2º, (…) Parágrafo único. A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se
aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.

Obs.: esse parágrafo único aplica-se tanto aos casos de novatio legis in mellius quanto aos
de abolitio criminis.

RETROATIVIDADE DA LEI PENAL Qual o juízo competente para aplicar a abolitio criminis e
a lei mais favorável?

1) Durante o inquérito policial e durante a ação penal que se encontre na em primeira


instância – Compete ao juiz natural do 1º grau de jurisdição;

2) Durante ação penal que se encontre em fase de recurso – Compete ao Tribunal;

3) Durante a fase de execução da pena, após o trânsito em julgado da condenação criminal


– Compete à Vara de Execuções Criminais, conforme súmula 611 do STF. Súmula 611, STF

4) Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao juízo das execuções a


aplicação da lei mais benigna.

Lex tertia – A 3ª Lei (combinação de leis penais)

Para beneficiar o réu, é possível combinar duas leis penais? Ex.: Lei “A” – pena de reclusão
de 2 a 4 anos, sem multa Lei “B” – pena de reclusão de 1 a 3 anos, com multa
Segundo o entendimento majoritário predominante, a combinação de leis penais não é
admissível. Nesse caso, portanto, a Lei B será aplicada, por ser mais benéfica, aplicando-se
também a pena de multa.

RETROATIVIDADE DA LEI PENAL BENÉFICA VS IRRETROATIVIDADE DA LEI PENAL GRAVOSA


AO RÉU
Art. 5º, XL – “a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”.

Novatio Legis In Pejus – Não Retroage:

Uma lei que determina que essa Conduta A passa a ser crime não pode retroagir para
alcançar fatos ocorridos antes de sua entrada em vigor.

Notavio Legis In Mellius – Retroage: Uma lei nova benéfica ao réu retroage, alcançando
fatos ocorridos antes de sua entrada em vigor

Ultratividade da Lei Penal: O conceito de extratividade da lei penal divide-se em duas


espécies: a retroatividade e a ultratividade.

A lei penal mais benéfica tem aplicação aos fatos ocorridos durante sua vigência mesmo
após sua revogação.

A Conduta A é praticada sob a vigência da Lei X, que determina que essa conduta tem pena
de reclusão de 1 a 3 anos. Posteriormente, a Lei Y passa a determinar que a Conduta A tem
pena de reclusão de 3 a 6 anos, sendo, portanto, irretroativa. O julgamento do réu ocorrerá
após a entrada em vigor da Lei Y, mas a Lei X será aplicada, pois o fato ocorreu antes que a
Lei Y entrasse em vigor. Desse modo, a Lei X terá aplicação aos fatos ocorridos em sua
vigência mesmo após sua revogação – sendo considerada ultra-ativa. A ultratividade,
portanto, está ligada à irretroatividade. Quando há irretroatividade em uma lei, há também
a ultratividade em outra lei.

Obs.: a ultratividade é uma aplicação da regra O Tempo Rege o Ato.

CRIME CONTINUADO VS CRIME PERMANENTE:


Crime continuado: previsto no art. 71, CP. É quando dois ou mais crimes ou ações da
mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar e modo de execução, os subsequentes
são considerados continuação do primeiro. Nesse caso, o réu responderá por apenas um
crime, com exasperação de 1/6 a 2/3 da pena.

Crime permanente: É um crime cuja consumação se prolonga no tempo – um sequestro,


por exemplo.

SÚMULA 711, STF: A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime
permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.

Supondo que um crime continuado ou permanente comece a ser praticado durante a


vigência de uma lei mais branda, caso seja criada uma nova lei, mais gravosa, o réu será
julgado considerando-se a nova lei.

LEI EXCEPCIONAL OU TEMPORÁRIA

Código Penal, Art. 3º A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas
as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência.

Lei Temporária – lei que possui vigência pré-determinada (a própria lei determina o tempo de
sua duração). Ex.: A Lei 12.663/2012 (vigência até 31/12/2014) e a Lei 13.284/2016 (vigência
até 31/12/2016), que traziam condutas criminosas para proteger bens materiais e imateriais da
FIFA e da Organização dos Jogos Olímpicos.

As leis temporárias criminalizam um fato apenas durante um período determinado. Caso a


conduta seja praticada durante o período de vigência da lei temporária, pode ocorrer de o
julgamento acontecer somente após sua vigência. Nesse caso, se fosse aplicada a
retroatividade da lei, o agente ficaria impune.

Lei Excepcional – lei editada em razão de algum evento excepcional (anormal). Ex.: calamidade
pública, guerra, período de racionamento. Assim como as leis temporárias, as leis excepcionais
também têm um prazo de vigência – 10m enquanto perdurar a situação excepcional.

Características:

a) Autorrevogáveis – a própria lei temporária determina a data de sua revogação; a lei


excepcional traz em seu texto a informação de que terá validade enquanto perdurar a situação
que a determinou.

b) Ultra-ativas – leis temporárias e excepcionais serão aplicadas aos fatos ocorridos em sua
vigência mesmo após terem sido revogadas. A lei penal benéfica é ultra-ativa, porque depois
surge uma lei mais gravosa, que é irretroativa. No caso das leis temporárias e excepcionais, no
entanto, essa ultratividade é gravosa – são ultra-ativas ainda que para prejudicar o réu.
LEI PENAL INTERMEDIÁRIA

Considerando a linha do tempo acima, o réu, tendo praticado a Conduta A durante a vigência
da Lei X, e sendo julgado apenas durante a vigência da Lei Z, será julgado de acordo com a Lei Y,
pois esta é a mais benéfica entre a conduta praticada e o julgamento.

É a lei benéfica que teve vigência após a prática do ato, porém foi revogada antes do
julgamento do réu. O STF entende que a lei intermediária pode ser utilizada para beneficiar o
réu. (STF, RE 418876, 04/06/2004)

TEMPO DO CRIME – LUGAR DO CRIME

TEMPO DO CRIME: TEORIAS

O estudo do tempo do crime é saber em que momento se considera praticado determinado


delito. Existem três teorias para responde quando é considerado o tempo do crime:

1) Teoria da atividade: considera-se praticado o crime no momento da ação ou da omissão.

2) Teoria do resultado: considera-se praticado o crime no momento em que ocorre a


consumação do delito.

3) Teoria mista ou da ubiquidade: o momento do crime é tanto o da conduta quanto o do


resultado.

A teoria considerada pelo Código Penal brasileiro é a teoria da atividade. Isto está no art. 4º
do Código Penal: Art. 4º Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja
o momento do resultado.

Como decorrência da adoção da teoria da atividade temos que:

1) Será aplicada a lei penal vigente ao tempo da conduta , a menos que venha a surgir
novatio legis in mellius;

Portanto, se no meio tempo entre a ação e o resultado, surge uma nova lei gravosa ao réu, ela
não será aplicada, porque o tempo do crime foi praticado na conduta. Entretanto, se a nova lei
vir a beneficiar o réu, novatio legis in mellius, diminuindo o tempo de reclusão, por exemplo,
aplica-se essa nova lei benéfica, em razão da regra da retroatividade da lei penal. Ex: atirou em
alguém e durante o tempo que a pessoa tava no hospital, a lei agravou a pena, aplica-se a pena
durante a ação, pois a lei é mais gravosa, se fosse para beneficiar, aplicaria.

2) É no momento da conduta que se apura a imputabilidade do agente.

Marcelo, um dia antes de completar 18 anos, disfere facadas contra João. No dia seguinte João
morre. Nessa situação, embora o resultado tenha ocorrido quando Marcelo completou 18 anos
de idade, o momento da conduta foi quando ele ainda tinha 17 anos. Portanto, Marcelo não
será responsabilizado pelo homicídio, porque a ação ou a omissão ocorreu quando ele era
menor de idade, mas responderá por um ato infracional análogo ao crime de homicídio.
Obs.: no que concerne o termo inicial da prescrição, o Código Penal (art. 111, I) adotou a teoria
do resultado.

LUGAR DO CRIME: TEORIAS

Para se saber onde ocorreu o crime, também se estudam as teorias. São as mesmas teorias do
estudo do tempo do crime. Então, tempo do crime e lugar do crime tem teorias com os
mesmos nomes, tentando explicar cada uma das situações. Entretanto, a teoria aplicável a
cada uma delas é diferente. Em relação ao tempo do crime, aplica-se a teoria da atividade. Já
em relação ao lugar do crime, aplica-se a teoria mista ou da ubiquidade.
Art. 6º Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como
onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.

Teorias

1) Teoria da atividade: lugar do crime é aquele em que foi praticada a conduta.

2) Teoria do resultado: lugar do crime é aquele em que se produziu ou deveria produzir-se o


resultado.

3) Teoria mista ou da ubiquidade: lugar do crime é tanto aquele em que ocorreu a conduta,
bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. Portanto, o lugar do crime,
para o Código Penal brasileiro, é tanto o lugar em que aconteceu ação, bem como o lugar onde
ocorreu o resultado.

A relevância do lugar do crime se dá nos crimes a distância, nos quais a conduta é praticada em
determinado país e o resultado se produz em outro. Se a conduta é praticada no Brasil, mas o
resultado se verifica em outro país, aplica-se a lei penal brasileira. Se a conduta é praticada em
outro país, mas o resultado se verifica no Brasil, ou deveria se verificar no Brasil, pode-se
aplicar a lei penal brasileira.

Macete:

Lugar do crime, será a teoria da

Ubiquidade

Tempo do crime, será a teoria da

Atividade

Territorialidade

CÓDIGO PENAL Art. 5º. Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito
internacional, ao crime cometido no território nacional.

O Código Penal adota o Princípio da Territorialidade. Logo, o que se considera o território


nacional?

1) Território físico: espaço terrestre, marítimo, aéreo, incluindo rios, lagos, baías, ilhas e tudo
que o compõe.

2) Mar territorial e seu espaço aéreo correspondente: faixa de 12 milhas marítimas de largura,
medidas a partir da linha de baixa-mar do litoral continente e insular.
Obs.: alguns doutrinadores têm o entendimento de que seriam 200 milhas náuticas, o
correspondente à Zona Exclusiva de Exploração Econômica. Entretanto, o mais pacífico é de
que seriam 12 milhas náuticas.

3) Território brasileiro por extensão (território jurídico): Art. 5º, § 1º, CP

EXCEÇÕES
CÓDIGO PENAL Art. 5º. Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito
internacional, ao crime cometido no território nacional.

O princípio aplicável à Lei penal no espaço é o princípio da territorialidade. Entretanto,


excepcionalmente, em respeito a convenções, tratados e regras de direito internacional, é
possível que haja crimes praticados em outros países, mas nos quais, mesmo assim, será
aplicada a Lei penal brasileira. Igualmente, é possível que haja crimes dentro do território
nacional, nos quais não se aplicará a Lei penal brasileira. As duas principais situações de
exceção serão apresentadas a seguir. Nelas, é aplicado o princípio da territorialidade
temperada (ou mitigada).

Princípio da Territorialidade Temperada (ou mitigada) A teoria da territorialidade não é uma


territorialidade absoluta, porque existem exceções. Portanto, adota-se, no Direito Penal
Brasileiro, a teoria da territorialidade temperada (ou mitigada). Isto, em razão de convenções,
regras e tratados de direito internacional. São as exceções:

1) Crimes cometidos no exterior que serão responsabilizados de acordo com a Lei penal
brasileira – regras da extraterritorialidade (Art. 7º, CP)

2) Situações que estrangeiros cometem infrações penais no território brasileiro e não lhes será
aplicada a Lei penal brasileira - Imunidades diplomáticas e de chefes de Estado

Exemplo: se um diplomata estrangeiro agredir a esposa em território brasileiro, não será


imputado a ele a Lei Maria da Penha. Ele responderá de acordo com as regras penais de seu
país.

Obs.: embaixadas não são extensão do país que representam. Apesar de invioláveis, em regra,
os crimes praticados em embaixadas estrangeiras localizadas no Brasil terão aplicação da lei
penal brasileira, salvo convenção ou tratado internacional. Portanto, quem possui imunidade é
a pessoa, não o território da embaixada.

Pulo do gato: Se em provas de concurso aparecer escrito apenas “princípio da territorialidade”,


estará correto. Entretanto, se fizerem referência a um “princípio da territorialidade absoluta”,
estará errado.
CÓDIGO PENAL Art. 5º. Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito
internacional, ao crime cometido no território nacional. § 1º – Para os efeitos penais, consideram-se como extensão
do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro
onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade
privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar. § 2º – É também
aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade
privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas
em porto ou mar territorial do Brasil.

Obs.: no §1º, é o território nacional por extensão, que será conhecido como território jurídico.
Essas embarcações ou aeronaves não necessariamente estarão no Brasil, mas a elas serão
aplicadas as leis penais brasileiras, porque estas serão consideradas território nacional por
extensão.

- Às embarcações brasileiras de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro, onde quer


que se encontrem, será aplicada a Lei penal brasileira.

- A embarcações ou aeronaves brasileiras, de natureza privada ou mercante, também poderá


ser aplicada a lei penal brasileira nas seguintes situações:

• Se estiverem no Brasil (território, espaço aéreo correspondente ou no mar territorial);

• Se estiverem no alto mar e no espaço aéreo correspondente.

- A embarcações e aeronaves estrangeiras de natureza privada, será aplicada a lei penal


brasileira desde que elas estejam dentro do Brasil ou do mar territorial do Brasil.

ATENÇÃO: Se, por exemplo, é cometido crime de estupro em um avião estrangeiro de natureza
pública, a Lei penal brasileira não se aplica. Já se o avião é de natureza privada, a Lei penal
brasileira se aplicará. Se, dentro de um avião brasileiro de natureza privada, ocorre um crime
de homicídio quando este sobrevoava território francês, em regra, não se aplicará a Lei penal
brasileira. Isto, porque esta aeronave, em que pese, ser brasileira, era de natureza privada e
estava sobrevoando outro país. Entretanto, o Art. 7º, do Código Penal, estabelece que, nessa
situação, poderá ser aplicada a Lei penal brasileira se, cumpridos alguns requisitos, este crime
não seja julgado na França. Neste caso, aplica-se a Lei penal brasileira, não em razão da
territorialidade, mas sim da extraterritorialidade.

EXTRATERRITORIALIDADE
São situações em que crimes são praticados fora do território nacional, mas que mesmo assim
será aplicada a Lei penal brasileira. O Art. 7º do Código Penal traz o rol dos crimes aos quais,
mesmo que tenham sido praticados no exterior, pode-se aplicar a Lei penal brasileira.
CÓDIGO PENAL Art. 7º. Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro:

I – os crimes: a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; b) contra o patrimônio ou a fé pública da


União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia
mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; c) contra a administração pública, por quem está a seu
serviço; d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil;

§ 1º – Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou
condenado no estrangeiro.
II – os crimes: a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; b) praticados por brasileiro; c)
praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território
estrangeiro e aí não sejam julgados.

Obs.: o art. 7º estabelece um rol de crimes no inciso I e um rol de crimes no inciso II. A
diferenciação se dará nos parágrafos. Dentro do inciso I, tem-se a extraterritorialidade
incondicionada. Dentro do inciso II, tem-se a extraterritorialidade condicionada.

§ 2º – Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes
condições:

Obs.: essas condições são cumulativas.

a) entrar o agente no território nacional;

b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;

Obs.: ser o fato punível também no país em que foi praticado é chamado de dupla tipicidade.
Então nos crimes de extraterritorialidade condicionada, só poderá punir o crime se no outro
país também for crime.

c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição;

Obs.: as regras de extradição estão todas previstas na Lei de Migração, Lei n. 13.445/2017.

d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena;

Obs.: a letra “d” é a condição que vai impedir a aplicação do art. 8º mencionado
anteriormente.

e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a
punibilidade, segundo a lei mais favorável.
Art. 8º. A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou
nela é computada, quando idênticas.

Artigo 7º, Inciso I, do Código Penal: extraterritorialidade incondicionada

Obs.: portanto se há um crime contra o a patrimônio ou a fé pública de administração direita


ou indireta: extraterritorialidade incondicionada. Um exemplo de crime contra a fé pública
seria a falsificação de moeda (real brasileiro) em país estrangeiro. Um exemplo de crime contra
o patrimônio seria danificar propositalmente algum equipamento da embaixada brasileira.
e) contra a administração pública, por quem está a seu serviço;
Obs.: são crimes funcionais os crimes praticados por funcionários públicos contra a
administração pública.

Art. 8º. A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime,
quando diversas, ou nela é computada.

PULO DO GATO: Em provas de concurso é comum afirmar que o art. 8º está relacionado com a
extraterritorialidade condicionada, mas isso está errado. O art. 8º só é aplicável a situações de
extraterritorialidade incondicionada. Isso, porque, se por acaso houver um crime em que o
sujeito já foi condenado no estrangeiro, e estivermos diante de um crime de
extraterritorialidade condicionada, não se pode aplicar a lei penal brasileira.

Artigo 7º, Inciso II, do Código Penal: extraterritorialidade condicionada


Art. 7º. (...) II – os crimes:

a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir;

Obs.: alguns dos crimes para os quais o Brasil celebrou tratados internacionais são: tráfico de
drogas e tráfico de pessoa.
b) praticados por brasileiro; c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de
propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados.

Obs.: em todas essas situações, só é possível aplicar a lei penal brasileira se forem cumpridas as
condições cumulativas do Art. 7º, §2º, do Código Penal.

Princípios que explicam as hipóteses da extraterritorialidade condicionada:

Crime praticado por estrangeiro contra brasileiro, fora do Brasil? A lei penal brasileira pode
alcançá-lo?
Sim, mas além das condições do art. 7º, §2º, do CP, devem estar presentes as condições do
parágrafo terceiro. Por isso que a doutrina chama de extraterritorialidade hiper condicionada.

CÓDIGO PENAL Art. 7º (...) § 3º – A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra
brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: a) não foi pedida ou foi negada a
extradição; b) houve requisição do Ministro da Justiça.

EFICÁCIA DA SENTENÇA ESTRANGEIRA

É importar uma sentença penal condenatória estrangeira para o Brasil.


Art. 9º. A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na espécie as mesmas consequências,
pode ser homologada no Brasil para: I – obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos
civis; II – sujeitá-lo a medida de segurança.

Obs.: a medida de segurança é aplicável ao inimputável, àquela pessoa que é doente mental,
que não tinha o discernimento para a prática do ato e nem podia determinar- -se de acordo
com esse entendimento. Logo, fala-se de uma pessoa que praticou um crime sem ter o
discernimento para isso. Como essa pessoa não é um agente culpável, não se poderá imputar a
ela uma pena. Portanto, o direito penal se vale de medidas de segurança.

O presente artigo não tem aplicação aos crimes de extraterritorialidade incondicionada,


previstos no artigo 7º, inciso I, CP, uma vez que, nestes casos, o agente deve ser punido
segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro.
Art. 9º. (...) Parágrafo único. A homologação depende: a) para os efeitos previstos no inciso I, de pedido da parte
interessada; b) para os outros efeitos, da existência de tratado de extradição com o país de cuja autoridade judiciária
emanou a sentença, ou, na falta de tratado, de requisição do Ministro da Justiça.

Súmula 420, STF “Não se homologa sentença proferida no estrangeiro sem prova do trânsito em julgado.”

Essa súmula traz uma segunda condição em relação à homologação dessa sentença penal
condenatória estrangeira: ela tem que estar transitada em julgado.

Portanto, são duas as condições para a homologação de sentença estrangeira:

1) a sentença tem que produzir as mesmas consequências no Brasil (Art. 9º do Código Penal), e

2) trânsito em julgado da sentença estrangeira (Súmula 420, STF).

A QUEM COMPETE A HOMOLOGAÇÃO DA SENTENÇA ESTRANGEIRA?

Ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) – Art. 105, I, “i”, CF/88, que deverá fazer um mero exame
formal, referente aos requisitos do artigo 788 do CPP. Essa homologação gera um título
executivo judicial.

O STJ não vai entrar no mérito da causa, não vai analisar se efetivamente aquela pessoa que foi
condenada praticou crime ou não. Os Ministros do STJ vão simplesmente analisar os critérios
formais que estão previstos no Código de Processo Penal.

Depois que o STJ homologa a sentença estrangeira no Brasil, pode-se executar diretamente.
Então, não se homologa a sentença estrangeira para que, então, surja um processo de
conhecimento ou uma ação de cobrança. Será simplesmente a execução de um título judicial.
ATENÇÃO: Antigamente, essa competência era do Supremo Tribunal Federal. Entretanto a
Constituição Federal foi alterada. Hoje a competência é do Superior Tribunal de Justiça.

Reincidência
Art. 63. Verifica-se a reincidência quando o agente comete novo crime, depois de transitar em julgado a sentença
que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior.

No Brasil, a reincidência ocorre da seguinte maneira: se um agente praticou um crime no dia


19/09/19, é condenado no dia 20/04/20, sendo que a sentença já transitou em julgado, e volta
a cometer um novo crime no dia 20/09/2020, ele será reincidente.

Já se o primeiro crime foi praticado em outro país, sendo condenado no exterior, tendo
também transitado em julgado, e depois comete um novo crime no Brasil, ele também será
reincidente.

Para fins de configuração da reincidência, é necessário homologar sentença condenatória


transitada em julgado proveniente do exterior?

Não! Nem o art. 9º, nem o art. 63, dispõem sobre isso. Portanto a jurisprudência decidiu que
não é necessária a homologação da sentença penal estrangeira para que seja configurada a
reincidência do réu. Não é necessário homologar, mas é necessário provar que o agente foi
condenado no estrangeiro. A sentença estrangeira deve ser traduzida, porque deve estar no
vernáculo brasileiro, e apresentada em juízo.

CONTAGEM DE PRAZO NO DIREITO PENAL


Art. 10. O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário
comum.

A contagem de prazo de Direito Penal é diferente da contagem de prazo de Direito Processual


Penal. São regras distintas e formas que não podem ser confundidas. O calendário comum é
também chamado de calendário gregoriano. O Direito Penal é também chamado de Direito
Material.

Nos prazos de Direito Penal, será incluído o dia de início. Termo inicial do prazo penal: qualquer
que seja a fração do dia, será computado como um dia inteiro.

Se foi decretada a prisão temporária de um sujeito que foi preso na terça-feira, sendo que essa
prisão temporária aconteceu às 23 horas e 59 minutos da terça-feira, ainda assim se
contabilizará a terça-feira como o dia de início. O prazo da prisão temporária é de cinco dias.
Então, no quinto dia esse agente deve ser solto. A dúvida é se ele deve ser solto na meia noite
do sábado ou do domingo. Ele deve ficar preso até as 23 horas e 59 minutos de sábado, vindo a
ser solto à meia noite de domingo, para que sejam cumpridos os cinco dias da prisão.

Outro detalhe importante é que, quando se fala em prazo de Direito Penal, não importa o dia
de início e o dia de fim. Não importa se o dia de início é um dia útil e não importa se o dia final
é um dia útil. Os prazos ocorrerão independentemente de ser um dia útil ou não útil.

ATENÇÃO: No Direito Processual Penal, diferentemente do Direito Penal, não é incluído o dia
de início.

CONTAGEM DE PRAZO NO DIREITO DE PROCESSO PENAL


Art. 798. Todos os prazos correrão em cartório e serão contínuos e peremptórios, não se interrompendo por férias,
domingo ou dia feriado. §1º Não se computará no prazo o dia do começo, incluindo-se, porém, o do vencimento.

No que tange aos prazos de Direito Penal, nos quais será aplicada a regra do art. 10, temos os
prazos relacionadas a: prisão, decadência (perda do direito de ação pelo ofendido, se verifica
no Direito Penal em relação a crimes de ação penal privada), prescrição (perda do direito de
punir do Estado em razão do tempo decorrido da prática do crime), livramento condicional e
duração da pena. Essas situações têm em comum que o quanto antes começar a contar o
prazo, melhor para o réu.

Já nos prazos de Direito Processual Penal, é interessante para o réu que eles sejam mais longos,
porque ele terá um prazo maior para interpor recurso. Portanto, tanto no Direito Penal, quanto
no Direito Processual Penal, os prazos beneficiarão o réu a depender da situação.

ATENÇÃO: O calendário comum também pode ser chamado de gregoriano, mas se em provas
de concurso aparecer “calendário forense”, estará errado.

ATENÇÃO: Em bancas de concurso menores, entende-se que, quando se fala que incluirá o dia
do começo do prazo, exclui-se o dia do vencimento. Entretanto não há esse dispositivo no
Código Penal.

PRAZO EM DIAS

Quando se fala em prazo em dias, a contagem é feita dia a dia. Exemplo: No caso de uma
prisão temporária em crime hediondo, o prazo é de 30 dias. Se o agente for preso no dia 12 de
fevereiro, em um ano que não é bissexto, ele será solto no dia 13 de março. Se essa prisão foi
executada no dia 12 de dezembro, ela finalizará no dia 10 de janeiro. Portanto 30 dias não é um
mês. Um mês pode ter 28, 30 ou 31 dias.

PRAZO EM MESES

Quando se tem prazo em meses ou anos, será contado até o dia anterior ao dia em que foi
iniciado o prazo. Exemplo: se o sujeito for preso no dia 15 de dezembro e condenado a pena de
reclusão de um mês, essa prisão será executada até o dia 14 de janeiro. É o dia anterior ao dia
da prisão.

PRAZO EM ANOS
Quando se tem prazo em meses ou anos, será contado até o dia anterior ao dia em que foi
iniciado o prazo. Exemplo: se o sujeito foi condenado a 3 anos de prisão, o prazo vai se iniciar
no dia 1º de julho de 2019 e finalizará no dia 30 de junho de 2022.

ATENÇÃO: Algumas bancas de concurso afirmam que exclui-se, no Direito Penal, o dia do
vencimento. Isso não é uma verdade, mas algumas bancas têm marcado como correto, devido
ao prazo em meses e anos. Se aparecer essa assertiva na prova, marque como correto.

FRAÇÕES NÃO COMPUTÁVEIS DA PENA


art. 11. Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de direitos, as frações de dia, e, na pena de
multa, as frações de cruzeiro.

Obs.: pode-se trocar cruzeiro por reais, que é a moeda padrão atual

Obs.: frações de dia são horas, minutos e segundos

Exemplo: Se o juiz estabelece uma multa de R$ 500,89; os 89 centavos serão desprezados. Se


na primeira fase da dosimetria da pena o juiz estabelece a pena-base em 10 dias, mas há uma
causa de aumento de pena, o juiz, então, decretará um aumento de pena de 1/3. Da conta 10 +
1/3 = 13,3333..., serão desprezadas as frações de dia, isto é, as horas.

Legislação especial
Art. 12. As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de
modo diverso

O que o art. 12 dispõe que as disposições gerais do Código Penal brasileiro serão aplicáveis a
todas as leis penais especiais, a todas as leis penais extravagantes, a menos que essas leis
tragam dispositivos específicos. Se elas trouxerem dispositivos específicos, aplica-se o princípio
aplicado no conflito aparente de normas: o princípio da especialidade.

Exemplo: Lei de Contravenções Penais. Existe a tentativa no Código Penal brasileiro (Art. 14, II).
Essa disposição da tentativa se aplicará a todas as leis especiais penais, a todas as leis
extravagantes penais. Entretanto a Lei de Contravenções Penais dispõe que a tentativa de
contravenção não será punida. É uma disposição específica dessa lei. As leis especiais podem
se contrapor ao Código Penal brasileiro.

TEORIA GERAL DO CRIME

1) Infração penal: A infração penal é um gênero da qual o crime é uma espécie. Há três
conceitos de Infração Penal, três perspectivas para o estudo do Direito Penal:

• Conceito Material: Toda ação ou omissão ou toda a conduta que gera intolerável lesão ou
perigo de lesão a bem jurídico penalmente tutelado. A vida, por exemplo, é um bem
jurídico ao qual a sociedade dá uma grande importância, logo, ele será penalmente
tutelado. O patrimônio é um bem jurídico penalmente relevante. A coisa pública é um bem
penalmente relevante. Todos esses bens que a sociedade eleva devem ser tutelados pelo
Direito Penal. O Conceito Material também aborda a relevância jurídico-penal.

• Conceito Formal ou Legal: Toda ação ou omissão ou toda a conduta rotulada como crime
ou contravenção pelo legislador, sob imposição de sanção penal. Esse conceito é, na
perspectiva do legislador, o conceito legal. É aquela conduta incriminada pelo legislador e
que sofrerá uma sanção penal caso seja praticada.
- No Conceito Material a ótica é da sociedade, da comunidade.

- O crime de adultério foi revogado em 2005. Nos anos imediatamente anteriores, o


adultério poderia ser considerado uma infração penal de acordo com o Conceito Material?
Ainda era considerado um crime para a sociedade? Não, poderia se falar em ilícito civil,
mas para a sociedade como um todo, não era um bem jurídico que deveria ser penalmente
tutelado, porém para o Conceito Legal o adultério permaneceu como crime, era uma
conduta penalmente relevante até 2005. Em regra, o Conceito Material de Infração Penal
caminha junto com o Conceito Formal ou Legal, mas é possível que em algumas situações
haja um descompasso entre um e outro.

• Conceito Analítico: Dos três conceitos, é o mais importante. O Conceito Analítico são os
elementos que integram a estrutura do crime. Para se chegar à conclusão de que uma
determinada conduta é um crime, é necessário passar por algumas etapas, verificar se
todos os elementos daquela conduta estão presentes para que aquela conduta seja
configurada como crime. Por exemplo, matar é crime, mas matar por legítima defesa não é
crime.

Os elementos que integram a estrutura do crime são:

• Fato típico (conduta, resultado, nexo causal, tipicidade);

• Ilicitude – não existem elementos dentro da ilicitude porque ela é presumida, o que
existem são excludentes de ilicitude a exemplo da legítima defesa, estrito cumprimento do
dever legal, estado de necessidade, exercício regular do direito;

• Culpabilidade – (imputabilidade, exigibilidade de conduta diversa, potencial consciência


da ilicitude.

Uma polêmica em torno desse Conceito Analítico é se o crime é bipartido, tripartido ou


quadripartido.

O fato típico, a ilicitude e a culpabilidade são elementos do crime; para a Teoria Tripartite a
culpabilidade será elemento do crime, mas para a Teoria Bipartide apenas o fato típico e a
ilicitude, sendo a culpabilidade um pressuposto de aplicação da pena, não há necessidade
de existir culpabilidade para configurar um crime. Existe ainda uma terceira teoria, a Teoria
Quadripartite, que incluiria ainda a punibilidade.

No Brasil adota-se a Teoria Finalista e esta teoria permite tanto a adoção da Bipartite (fato
típico e ilicitude – culpabilidade é um pressuposto de aplicação da pena) quanto da
Tripartite (fato típico, ilicitude e culpabilidade).

A Teoria Quadripartite não é adotada majoritariamente no Brasil: a punibilidade é um


pressuposto de aplicação de pena, não é um elemento do crime.

Infração Penal O ordenamento jurídico brasileiro adota o sistema dualista ou binário ou


dicotômico ou bipartido da infração penal, dividindo-a em:

1) Crime (ou delito)

2) Contravenção Penal (crime anão, delito liliputiano) Para o crime, há a imposição de


penas de reclusão ou de detenção, cumulativamente ou não com multa. Para a
contravenção penal há imposição de prisão simples ou somente de multa.
Na contravenção, a prisão simples é uma pena de prisão, uma restrição de liberdade, sem
rigor penitenciário, que será cumprida ou em regime aberto ou em regime semiaberto.

Contravenção penal

Infração penal é o gênero, do qual crime e contravenção penal são espécies. Alguns
doutrinadores consideram o delito como sinônimo de infração penal (o gênero). Na ampla
maioria da doutrina o entendimento é de que o delito não é sinônimo de infração penal,
mas sinônimo de crime. Como definir o que é crime e o que é contravenção? Trata-se de
decisão do legislador. Será uma distinção feita pelo próprio legislador. Uma infração penal
que hoje é uma contravenção poderá se transformar num crime se assim decidir o
legislador. Trata-se, portanto, de uma distinção axiológica (de valor).

SUJEITOS DO CRIME

• Sujeito Ativo: O indivíduo que pratica a infração penal. Pode ser qualquer pessoa física
capaz com idade igual ou superior a 18 anos.

Obs.: se o sujeito tiver menos de 18 anos e praticar a conduta definida como homicídio,
não praticará infração penal, praticará um ato infracional análogo ao crime de homicídio.

O Sujeito Ativo pode ser dividido em:

Autor – indivíduo que pratica o crime de forma direta.

O autor é aquele que pratica o verbo núcleo do tipo penal. Todas as infrações penais
previstas no ordenamento jurídico brasileiro trazem uma conduta, trazem um verbo, ainda
que esse verbo seja um verbo omissivo, por exemplo, omitir socorro, ainda que seja uma
inação trata-se de um verbo. Todos os tipos penais contam com uma conduta.

Partícipe e autor mediato – indivíduo que pratica o crime de forma indireta.

O Partícipe é aquele que presta qualquer contribuição relevante para o crime sem praticar
o verbo núcleo do tipo penal. O autor mediato também é o indivíduo que pratica o crime
de forma indireta. O autor mediato usa uma pessoa não culpável (alguém que não tenha
culpabilidade) como instrumento do crime.

Qual dos dois terá a pena maior, o autor ou o partícipe? Depende. Muitas vezes é possível
que o partícipe tenha uma pena superior ao autor do crime praticado em concurso de
pessoas.

Sujeito Ativo – Denominações

1) Agente; 2) Ofensor, agressor; 3) Investigado – no âmbito da investigação policial; 4)


Indiciado – no âmbito do inquérito policial; 5) Acusado – no âmbito da ação penal; 6)
Condenado – após o trânsito em julgado da ação penal; 7) Criminoso e delinquente –
no âmbito do estudo da criminologia.

Essas denominações não são muito utilizadas em Direito Penal.

• Crime comum – não exige condição ou qualidade específica do sujeito ativo. Qualquer
pessoa pode praticar o crime.
• Crime próprio – para ser sujeito ativo deste delito, é necessária uma qualidade ou
condição especial ao agente. Quem não detém tal qualidade estará incapacitado de
cometer o referido crime (por exemplo, infanticídio, crimes funcionais).

• Crime de mão-própria – além de exigir uma qualidade ou condição especial ao agente, a


prática do crime não pode ser delegada a outrem. É uma infração penal de conduta
infungível (por exemplo, art. 342 do Código Penal).

Pessoa jurídica pode ser sujeito ativo de crime?

Teoria da ficção jurídica (Savigny): pessoa jurídica não é real e não possui vontade própria,
logo não pode ser sujeito ativo de crime. A PJ pode ser responsabilizada administrativa,
tributária e civilmente, mas não pela prática de infração criminal. - Essa teoria não é
adotada no Brasil no que concerne ao Direito Penal

Teoria da realidade, orgânica, ou da personalidade real (Gierke): pessoa jurídica é um ente


com autonomia, vontade própria e que não se confunde com seus membros. Logo, detém
direitos e obrigações. - Essa é a teoria adotada no Brasil.

Há duas correntes dentre os que adotam a teoria da personalidade real:

1ª) PJ não pode ser sujeito ativo de infração penal. Principais argumentos:

a) Impossibilidade de aplicar pena privativa de liberdade.

b) PJ não possui vontade própria, tampouco consciência própria, logo não é um ser
imputável.

2ª) PJ pode ser sujeito ativo de infração penal. Principais argumentos:

a) Como ente autônomo, a PJ possui consciência própria e capacidade de compreender o


caráter ilícito da conduta.

b) O Direito Penal pode aplicar penas distintas das privativas de liberdade, a exemplo das
penas de multa, restritiva de direitos e de prestação de serviços à comunidade.

Constituição Federal (CF) Art. 173. § 5º A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos dirigentes
da pessoa jurídica, estabelecerá a responsabilidade desta, sujeitando-a às punições compatíveis com sua
natureza, nos atos praticados contra a ordem econômica e financeira e contra a economia popular.

Essa norma constitucional ainda não foi regulada de forma infraconstitucional – existe a
previsão constitucional, mas não há uma lei infraconstitucional que regule esses crimes.
Hoje, no Brasil, ainda que haja previsão de crimes praticados contra a ordem econômica,
financeira ou de economia popular, nenhuma pessoa jurídica será punida: podem ser
punidas administrativamente ou civilmente, mas não são punidas.

Constituição Federal (CF) Art. 225. § 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da
obrigação de reparar os danos causados.

Lei n. 9.605/1998 (Lei de Crimes Ambientais) Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas
administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida
por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da
sua entidade. Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas,
autoras, coautoras ou partícipes do mesmo fato.
Responsabilização penal da pessoa jurídica por crimes ambientais Ao imputar uma
infração penal à pessoa jurídica, esta também deve ser obrigatoriamente imputada a
uma pessoa física? Não. O STJ e o STF não mais adotam a teoria da dupla imputação. (STJ,
RMS 39.173-BA, julgado em 6/8/2015, Info 566 e STF, RE 548181/PR, julgado em 6/8/2013,
Info 714). Logo, não se faz obrigatória a imputação do crime a uma pessoa física para que a
pessoa jurídica seja penalmente responsabilizada. Obviamente, porém, se for possível
identificar a pessoa física responsável, esta também deverá ser responsabilizada.

• Sujeito Passivo: Titular do bem jurídico protegido pela lei penal, o qual é violado em
razão da prática da conduta criminosa pelo sujeito ativo. Pode ser qualquer pessoa, física
ou jurídica, ainda que incapaz ou destituída de personalidade jurídica. Ademais, o
nascituro também pode ser sujeito passivo (aborto). O conceito de Sujeito Ativo é bem
mais restrito do que o conceito de Sujeito Passivo.

. Para o Sujeito Passivo não há essa limitação: pode ser maior de idade, menor de idade,
idoso, pessoa não mais imputável, pessoa sem culpabilidade – qualquer pessoa pode ser
Sujeito Passivo num crime, até mesmo o feto.

Pessoas mortas e animais não podem ser sujeitos passivos de infrações penais.

Existe crime de calúnia contra os mortos (art. 130, § 2º do Código Penal) e crime de
vilipêndio de cadáver (art. 212 do Código Penal).

Nesses crimes o morto não será o Sujeito Passivo? Nos crimes de calúnia contra os mortos,
o Sujeito Passivo são os familiares, aqueles que têm a sua honra objetiva atacada. No
vilipêndio a cadáveres a vítima não é o corpo, é um crime vago, um crime que ataca toda a
coletividade, um desrespeito aos mortos. No crime de furto contra cadáveres, por
exemplo, de joias com as quais o de cujus foi enterrado, as vítimas, os Sujeitos Passivos são
os familiares, os herdeiros dos mortos. Os mortos não são sujeitos de direito e não são
Sujeitos Passivos de crime.

Com relação aos animais existem os crimes ambientais, os crimes de maus tratos contra
animais, os crimes contra a fauna. Na ocorrência de crimes contra animais o Sujeito Passivo
é toda a coletividade, são crimes vagos, os crimes aos quais não se pode atribuir um
Sujeito Passivo específico.

Podem existir dois Sujeitos Passivos:

• Constante, mediato, formal, geral, indireto

É o Estado, uma vez que tem interesse na manutenção da paz pública e ordem social. Será
sujeito passivo em todos os crimes. E nos casos de Ação Penal Privada? Se A pratica uma
injúria contra B, o Estado também será o Sujeito Passivo Mediato? Sim, o Estado sempre
será Sujeito Passivo em toda e qualquer prática de infração penal, será Sujeito Passivo
Mediato e eventualmente também será o Sujeito Passivo Imediato.

• Eventual, imediato, material, particular, acidental, direto

É o titular do bem jurídico protegido pela lei penal e atingido pela conduta criminosa. Se
divide em:

a) Comum – se o tipo penal não exige uma qualidade específica do sujeito passivo.
b) Próprio – o tipo penal exige uma qualidade específica do sujeito passivo. Por exemplo:
infanticídio (art. 123, CP).

Outros conceitos importantes são o do Bicomum e do Bipróprio. Será Bicomum quando


tanto o Sujeito Ativo quanto o Sujeito Passivo praticarem um crime comum. Será Bipróprio
quando tanto da ótica do Sujeito Ativo quanto da do Sujeito Passivo for um crime próprio.
Como exemplo de Bipróprio há o infanticídio, que será praticado pela mãe e terá como
Sujeito Passivo o filho ou a filha

Crimes vagos: São crimes cujo sujeito passivo é indeterminado, destituído de


personalidade jurídica. Nos crimes vagos o sujeito passivo é a coletividade. Não confundir
Crimes Vagos com Sujeito Passivo desconhecido.

Pode alguém ser sujeito ativo e passivo simultaneamente de um crime? A ampla doutrina
entende que não, com base no princípio da alteridade. Ex.: crime de fraude contra seguro
(art. 171, Par. 2º, V, CP), autoacusação falsa (art. 341, CP), lesão corporal recíproca (art.
129, CP).

O princípio da alteridade dispõe que não há crime, não há infração penal se a conduta não
transcender o Sujeito Ativo. No ordenamento jurídico brasileiro só haverá crime, infração
penal, se a conduta do agente transcender a sua própria pessoa, se bens jurídicos alheios
forem atingidos. Atingir bens jurídicos próprios não constitui crime.

OBJETOS DO CRIME

Bem, objeto ou pessoa contra a qual se dirige o crime

1) Objeto material: Pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta criminosa. Ex.: homicídio
(pessoa humana), furto (res furtiva – coisa alheia móvel).

Todo crime possui objeto material? Não. Nem todo crime possui objeto material, a exemplo
dos crimes de mera conduta (porte de arma de fogo – art. 14, ED), crimes omissivos próprios
(omissão de socorro, art. 135, CP).

2) Objeto jurídico: Interesse ou bem jurídico protegido pela norma penal. Ex.: homicídio
(vida humana), furto (patrimônio)

Todo crime possui objeto jurídico? Sim. Todo crime vai atingir algum bem jurídico.

CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES

1) Classificação legal: Denominação conferida pela própria lei, ou seja, o nome atribuído
pela lei ao crime. A classificação legal é também conhecida como nomem iuris ou
rubrica marginal. Ex.: a classificação legal de matar alguém é homicídio. No Código
Penal e na Legislação Especial, em cima de cada tipo penal há um nome, o nomem
iuris, que é justamente a classificação legal, é o nome do delito trazido pelo próprio
legislador.

É possível existir crime sem classificação legal? Sim. Quem faz a classificação legal é o
legislador. Há situações nas quais o legislador edita uma lei com uma conduta criminosa
impondo uma sanção penal, mas não traz uma rubrica marginal, não traz um nomem iuris.
Como exemplo, art. 319-A do Código Penal chamado de Prevaricação Imprópria, mas quem
denomina de Prevaricação Imprópria não é a lei, é a doutrina porque no art. 319 há a
Prevaricação e no 319-A, que não tem nomem iuris, a doutrina denomina Prevaricação
Imprópria. Especialmente na Legislação Especial e na Legislação Extravagante há condutas
criminosas que não necessariamente contam com uma classificação legal.

2) Classificação doutrinária: Características das infrações penais elaboradas pelos


estudiosos do Direito Penal. A classificação doutrinária é diferente da classificação
legal: a classificação legal traz o nome do crime, naqueles onde não há classificação
legal, a doutrina atribui um nome àquele crime: nomem iuris atribuído pela doutrina. A
classificação doutrinária é quando a doutrina agrupa infrações penais de acordo com
determinadas categorias, com determinadas características.

1) Crime material x crime formal x crime de mera conduta

• Crime material (causal) – Infração que gera modificação no mundo exterior (resultado
naturalístico) e que só se consuma quando tal resultado é obtido. Ex.: homicídio, furto, roubo
(súmula 582, STJ).

O resultado naturalístico é a alteração no mundo exterior em razão da conduta praticada pelo


agente. O agente A quando mata B, o resultado naturalístico é a morte de B. Quando o agente
A rouba B, a inversão da posse produziu um resultado naturalístico. Para que se consuma um
crime material é necessário um resultado naturalístico. No crime material, se o agente não
alcança o resultado naturalístico, ele apenas responde pela tentativa.

• Crime formal (de consumação antecipada, de resultado cortado) – A conduta descreve uma
mudança no mundo exterior (resultado naturalístico), entretanto, não é necessária sua
ocorrência para a consumação do delito. O crime formal consuma-se com a conduta e não com
o resultado.

Qual a diferença entre crime material e crime formal? No crime material é necessário o
resultado naturalístico para a consumação do crime. No crime formal o resultado naturalístico
não é necessário para a consumação do crime. Exemplos: Extorsão – Súmula 96, STJ: o crime
de extorsão consuma-se independentemente da obtenção da vantagem indevida.

Corrupção de menores – Súmula 500, STJ: “A configuração do crime do art. 244-B do ECA
independe da prova da efetiva corrupção do menor, por se tratar de delito formal.”

• Crime de mera conduta – O tipo penal apenas descreve uma conduta, sem a previsão de
resultado naturalístico. Jamais vai gerar esse tipo de resultado. Ex.: violação de domicílio (art.
150, CP), porte de arma de fogo (Lei n. 10.826/2003)

Todo crime possui resultado? Depende. Todo crime (material, formal ou de mera conduta)
possui resultado jurídico, que é a violação do bem jurídico tutelado pela norma penal. Por
outro lado, nem todo crime possui resultado naturalístico.

2) Quanto ao sujeito ativo:

• Crime comum – Pode ser praticado por qualquer pessoa. Não exige uma característica
específica do sujeito ativo. Ex.: homicídio, furto, extorsão.
• Crime próprio (especial) – Exige uma característica ou condição especial do sujeito ativo. Ex.:
crimes funcionais (corrupção passiva, peculato), infanticídio, furto de coisa comum (art.156 do
Código Penal).

• Crime de mão própria (de ação pessoal, de conduta infungível) – Além de exigir uma
característica ou condição especial do agente, só pode ser cometido por este, sem a
possibilidade de delegar a conduta. Exige-se sua atuação pessoal. Ex.: falso testemunho, falsa
perícia.

O crime de mão própria não admite coautoria, mas admite a participação.

CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES

Crime simples e complexos

• Crime simples – delito formado por apenas um tipo penal. Ex.: furto, homicídio.

• Crime complexo – delito que resulta da fusão de dois ou mais tipos penais. Ex.: 1: roubo
(lesão corporal ou constrangimento ilegal + furto). Ex.: 2: extorsão mediante sequestro
(extorsão + sequestro)

A extorsão é um crime simples, e o sequestro também é um crime simples, mas havendo a


junção de dois tipos penais para formar um terceiro crime, esse terceiro crime é chamado de
crime complexo. No crime complexo aplica-se o princípio da consunção porque o crime fim vai
absorver o crime meio. O crime complexo é assim denominado em sentido estrito, existe
também o crime complexo em sentido amplo.

- Sentido estrito: Um tipo penal mais outro tipo penal formando um crime complexo.

- Sentido amplo: um tipo penal mais uma conduta, em tese, lícita, formando um crime
complexo em sentido amplo. Essa conduta lícita não configura um tipo penal, mas a soma de
outro tipo penal com uma conduta (em tese, lícita), forma o crime complexo em sentido
amplo. Por exemplo, artigo 339 (denunciação caluniosa) onde o tipo penal é a calúnia (art. 138)
e a conduta, em tese, lícita, é noticiar um fato à autoridade pública.

• Crime ultra complexo – crime complexo que possui uma qualificadora ou causa de aumento
de pena prevista num tipo penal específico. Ex.: roubo praticado com emprego de arma de
fogo (art. 157, § 2º-A, I, CP)

Crimes instantâneos e permanentes

• Crime instantâneo – delito de consumação imediata, isto é, a consumação ocorre em um


momento determinado, sem se prolongar no tempo. Ex.: furto, roubo.

• Crime permanente – delito se consuma ao longo do tempo. A consumação do crime ocorre


reiteradamente, enquanto o agente o pratica. Ex.: extorsão mediante sequestro, posse de arma
de fogo.

Nos crimes permanentes o auto de prisão em flagrante pode ocorrer a qualquer momento:
enquanto houver a permanência do delito, o agente pode sofrer a prisão em flagrante.

A Súmula 711 do Supremo Tribunal Federal (STF) é aplicável aos crimes permanentes. Se
durante a permanência do sequestro surgir uma nova lei, uma novatio legis in pejus, uma lei
mais gravosa ao réu, esta nova lei gravosa será aplicável àquele crime permanente, ainda que
venha a prejudicar a situação do réu porque o crime teve início antes da vigência dessa lei. Essa
nova lei, em que pese ser gravosa ao réu, deverá ser aplicada a este crime permanente.

ATENÇÃO: Existem crimes eventualmente permanentes, a exemplo do furto de energia elétrica


(art. 155, §3º, CP). Trata-se de crimes, em regra, instantâneos, mas que podem se prolongar no
tempo, de acordo com a vontade do agente.

• Crime instantâneo de efeitos permanentes – a consumação ocorre em momento específico, a


exemplo do que ocorre nos crimes instantâneos. Todavia, os efeitos do delito se prolongam no
tempo. Ex.: adulteração de sinal identificador de veículo automotor (art. 311, CP), homicídio
consumado, bigamia (art. 235, CP).

Os crimes instantâneos de efeitos permanentes seguem a regra dos crimes instantâneos: os


efeitos são permanentes, mas a consumação, os atos executórios não estão sendo realizados,
portanto, não há lugar para prisão em flagrante.

• Crime a prazo – só haverá a consumação do delito após transcorrido o tempo legalmente


determinado. Ex.: lesão corporal grave que resulta incapacidade para as ocupações habituais,
por mais de 30 dias (art. 129, §1º, I, CP), apropriação de coisa achada (art. 169, II, CP). Nos
crimes a prazo a lei determina um tempo, um prazo, para que ele se consume. Os atos
executórios são praticados no momento, mas a consumação só ocorre depois de ocorrido
determinado prazo previsto em lei.

• Crime habitual – é exigida a reiteração de atos para que haja a consumação do delito. Não se
admite a tentativa. Ex.: curandeirismo. Se a conduta A for praticada apenas uma vez e não for
repetida, não há crime habitual, não há consumação desse delito. O crime habitual exige a
prática reiterada dos atos.
Art. 284. Exercer o curandeirismo:
I – prescrevendo, ministrando ou aplicando, habitualmente, qualquer substância;
II – usando gestos, palavras ou qualquer outro meio;
III – fazendo diagnósticos:
Pena – detenção, de seis meses a dois anos.

Os crimes habituais não admitem a tentativa porque enquanto há a prática de apenas uma
conduta, não há crime. É necessário que haja uma segunda conduta para que se consuma: se
tentar praticar a segunda conduta e esta não se consumar, não configurará crime habitual.

Crime unissubjetivo e plurissubjetivo

• Crime unissubjetivo (unilateral, monossubjetivo, de concurso eventual) – delito que pode ser
praticado por um ou por vários agentes, em concurso de pessoas.
• Crime plurissubjetivo (plurilateral, de concurso necessário) – delito que só pode ser praticado
em concurso de agentes (coautores ou partícipes). Ex.: associação criminosa (art. 288, CP, pelo
menos 3 agentes), rixa (art. 137, CP, pelo menos 3 agentes). É impossível uma pessoa praticar
esse crime sozinha. É necessário que conte, pelo menos, com mais uma pessoa, alguns crimes
exigirão três ou mais agentes para que este delito esteja configurado.

Obs: No crime de organização criminosa, da Lei n. 12.850/13, serão exigidos, pelo menos, 4
agentes

Uma pessoa se associa a mais duas para a prática criminosa. Essas duas pessoas são menores
de 18 anos, menores de idade. É possível, para a prática de um crime plurissubjetivo, que haja
um agente imputável em conluio com agentes inimputáveis? Esses agentes inimputáveis
podem ser contabilizados para que se caracterize um crime plurissubjetivo?

Sim, eles serão contabilizados. O concurso não é de agente, mas de pessoas, não sendo
requisito serem coautores ou partícipes. Em pessoas inclui-se o agente inimputável.

O crime de furto simples estabelece penas de 1 a 4 anos de reclusão. O crime de furto


qualificado pelo concurso de pessoas (art. 155 § 4º, inciso IV do Código Penal) – uma das
hipóteses qualificadoras do furto é o concurso de pessoas. Para que haja um crime
plurissubjetivo é necessário que, pelo menos, um dos agentes seja imputável.

• Crime eventualmente coletivo – trata-se de delito unissubjetivo que, praticado em concurso


de agentes, gera aumento de pena ou qualificadora (ex.: furto qualificado, art. 155, §4º, IV, CP;
roubo majorado (art. 157, §2º, II, CP).

Um agente poderia praticar o furto sozinho, porque o furto é um crime unissubjetivo de


concurso eventual. Entretanto, quando esse agente se associa a mais uma pessoa para que,
juntos, pratiquem um crime de furto, este será um furto qualificado, mesmo que um dos
agentes seja menor de idade.

No roubo majorado, se um agente se une a outro agente para praticar um roubo, há a hipótese
de roubo circunstanciado (art. 157, § 2º Inciso II do Código Penal), mesmo que um dos agentes
seja menor de idade. Tanto o furto quanto o roubo são crimes unissubjetivos, podem ser
praticados por uma pessoa. Quando vierem a ser praticados por dois ou mais agentes,
resultarão num furto qualificado e num roubo majorado. Isso se aplica a qualquer crime que
tenha o concurso de pessoas como uma qualificadora ou uma majorante do crime, quando
será aplicada a ideia de crime eventualmente coletivo.
As regras para o crime eventualmente coletivo são as mesmas regras aplicadas aos crimes
plurissubjetivos.

Crime de dano e de perigo

• Crime de dano – delito que gera efetiva lesão ao bem jurídico tutelado pela norma penal. Ex.:
lesão corporal, homicídio, crimes patrimoniais.
• Crime de perigo – consuma-se com a exposição do bem jurídico a perigo. Dividem-se em:

a) Crime de perigo concreto: deve haver a efetiva comprovação do risco ao bem jurídico. Ex.:
crime de explosão (art. 251, CP)
b) Crime de perigo abstrato ou presumido: basta a mera conduta, uma vez que a lei a presume
perigosa. Não requer um risco concreto ao bem jurídico tutelado pela norma penal. Ex.: tráfico
de drogas, porte de arma.

O crime de perigo abstrato ou presumido ofende o princípio da lesividade, que é um princípio


do Direito Penal brasileiro: só há crime quando uma conduta efetivamente atacar e provocar
dano ao bem jurídico ou, pelo menos, um perigo concreto àquele bem jurídico. Deve haver a
lesão ou o perigo de lesão para que haja um crime. Alguns doutrinadores consideram que, por
essa razão, o crime de perigo abstrato ou presumido não deveria existir no Direito Penal
brasileiro.

Crime unissubsistente e plurissubsistente


• Crime unissubsistente – a conduta é praticada mediante somente uma ação. Não se admite o
fracionamento dos atos de execução. Desta forma, os crimes unissubsistentes não admitem a
tentativa. Ex.: injúria, difamação, ameaça, quando cometidos verbalmente.
• Crime plurissubsistente – a conduta pode ser fracionada. Há mais de uma ação com o intuito
de consumar o delito. Admite a tentativa. Ex.: homicídio.

O iter criminis tem uma fase de cogitação (fase interna que nunca é alcançada pelo Direito
Penal), atos de preparação (em regra o Direito Penal não pune, mas excepcionalmente é
possível a punição), atos executórios ou execução e consumação do crime.
Em que momento do iter criminis é analisado o crime unissubsistente e o plurissubsistente?

Dentro dos atos executórios que, se forem praticados mediante uma ação, originam um crime
unissubsistente, se forem praticados dentro de duas ou mais ações originam um crime
plurissubsistente.
Crime plurissubsistente é aquele que se consuma com a prática de mais de um ato, como, por
exemplo, o estelionato.
O crime unissubsistente não admite tentativa porque ele só tem uma única ação: quando o
agente começa a realizar o crime, este já finalizou. Não há como romper os atos executórios
porque é somente uma ação.
Para que houvesse a tentativa, a punição pela tentativa, seria necessário um crime que se
tivesse iniciado nos atos executórios, mas que a consumação não tenha ocorrido por razões
alheias à vontade do agente. C
rime unissubsistente é aquele que se consuma com a prática de um único ato, por exemplo: a
injúria verbal.

Crime comissivo, omissivo e de conduta mista

• Crime comissivo ou de ação – o tipo penal descreve uma conduta positiva, uma ação.
• Crime omissivo ou de omissão – delito cometido por meio de uma conduta negativa, uma
inação. O agente deixa de fazer algo que a lei o obrigava e que era possível realizar. Exemplo:
omissão de socorro.

Art. 135 – Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou
extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos,
o socorro da autoridade pública.

Obs: É possível que dentro do mesmo tipo penal tenhamos condutas comissivas e omissivas:

Prevaricação: Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra


disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal: Pena – detenção,
de três meses a um ano, e multa.

Os crimes omissivos subdividem-se em:


a) Crimes omissivos próprios ou puros: O próprio tipo penal descreve a conduta omissiva.
Ex.: omissão de socorro (art.135), omissão de notificação de doença: Os crimes omissivos
próprios podem ser praticados por qualquer pessoa e são unissubsistentes (conduta
praticada mediante somente 1 ato) e não admitem a tentativa. Ademais, em regra, serão
crimes dolosos, mas a lei prevê algumas hipóteses de culposos (ex.: omissão de cautela,
art. 13, da lei 10.826/03)
b) Crimes omissivos impróprios ou comissivos por omissão : O tipo penal apresenta uma
conduta comissiva (positiva, ação), mas o agente produz o resultado naturalístico por meio
de uma omissão que viola seu dever jurídico de agir.
Quem tem o dever jurídico de agir?
§ 2º – quem tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; quem de outra forma, assumiu a
responsabilidade de impedir o resultado; quem, com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do
resultado.

Crimes omissivos próprios vs crimes omissivos impróprios

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