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NOÇÕES FUNDAMENTAIS

1. Introdução: O direito surge das necessidades fundamentais das sociedades humanas, que são
reguladas por ele como condição essencial à sua própria sobrevivência.
O fato social que contraria o Direito forja o ilícito jurídico, cuja forma mais séria é o ilícito penal, que
atenta contra os bens mais importantes da vida social. Contra a prática desses fatos o Estado
estabelece sanções, procurando tornar invioláveis os bens que protege.
2. Funções do Direito Penal: A primeira delas é a indispensável proteção de bens jurídicos
essenciais, protegendo de modo legítimo e eficaz os bens jurídicos fundamentais do indivíduo e da
sociedade.
Bem, em sentido amplo, é qualquer coisa – objeto material ou imaterial – que satisfaz uma necessidade
humana, é tudo que tem valor para o ser humano, que se apresenta como digno, útil ou necessário.
Dentre o imenso número de bens existentes, aqueles mais essenciais receberão proteção pela via do
Direito Penal, pois se apresentam como bens jurídico-penais essenciais. Como informa Alice Bianchini,
“o direito penal só deve atuar na defesa dos bens jurídicos imprescindíveis à coexistência pacífica dos
homens (princípio da exclusiva proteção de bens jurídicos)”, “o que concede ao direito penal um caráter
fragmentário. Os bens jurídico-penais essenciais devem ter referência explícita ou implícita na ordem
constitucional
Assim, deve ser rechaçada a ação legislativa que outorgue proteção a bens que não sejam
constitucionalmente amparados e uma lei penal anterior só poderá ser recepcionada quando houver
uma congruência desta com a norma constitucional, ou seja, quando a lei penal tutelar bem jurídico
protegido pela Constituição.
Ademais, o Estado só fará incidir a sanção penal quando verificar a indispensabilidade da proteção a
ser dada ao bem jurídico essencial, ou seja, a necessidade concreta de proteção pela via sancionatória
penal. Não é só pelo fato de ocorrer a violação do bem jurídico essencial que incidirá a sanção penal,
pois essa somente ocorrerá quando for indispensável. Ultima ratio
BIANCHINI, Alice. Pressupostos materiais mínimos da tutela penal
NOÇÕES FUNDAMENTAIS
A segunda função do Direito Penal é a função garantidora ou de garantia. A garantia se expressa
na proteção da dignidade do indivíduo supostamente autor de um delito frente ao Estado, ficando
este adstrito a atuar somente de acordo com a legalidade e a cumprir os princípios garantidores do
Direito Penal elencados na Carta Constitucional e legislação inferior.
É verdadeiro que o Estado, por meio do Direito Penal e de sua sanção, tem em vista assegurar a
manutenção do ordenamento jurídico, mas também é certo que essa atuação não pode ser efetuada
de qualquer forma para proteger a convivência dos seres humanos em sociedade. São necessários
limites, que são por outro lado garantias consagradas à dignidade, vida e liberdade das pessoas.
Pacto social de Rosseau
Nota: Direito penal do inimigo; Garantismo Penal. Guantánamo
Se a função de GARANTIA for tomada em sentido amplíssimo, é possível fazer a constatação lógica
de que ela engloba a função de INDISPENSÁVEL proteção de bens jurídicos essenciais, pois
funciona como uma garantia individual apenas sofrer sanção penal nos casos onde for indispensável
a proteção do bem essencial. Assim, na nossa visão, não é possível uma oposição ou delimitação
estanque entre as duas funções, ambas se complementando na busca de um sistema constitucional
que seja garantidor da dignidade humana. Somente deve-se limitar a liberdade de atuação junto á
sociedade quando for indispensável à proteção dos bens jurídicos essenciais.
Aníbal Bruno: o Direito Penal é um sistema jurídico de dupla face, que protege a sociedade contra a
agressão do indivíduo e protege o indivíduo contra os possíveis excessos de poder da sociedade na
prevenção e repressão dos fatos puníveis
NOÇÕES FUNDAMENTAIS
3. Conceito (Frederico Marques): direito penal é o conjunto de normas que ligam ao crime, como
fato, a pena como consequência, e disciplinam também as relações jurídicas daí derivadas, para
estabelecer a aplicabilidade das sanções penais e a tutela do direito de liberdade em face do poder
de punir do Estado.
Tal ramo do Direito descreve determinadas condutas sociais considerados crimes, sendo o Estado
responsável pelo direito de punir tais atos mediante os critérios preestabelecidos, objetivando
desestimular os indivíduos a descumprirem as normas e de readaptar o indivíduo ao convívio social.
4. Características do Direito Penal:
I – Ramo do Direito Público: por este regular as relações o indivíduo com a sociedade pertence ao
Direito Público, vez que o sujeito que comete um crime estabelece uma relação jurídica entre ele e o
Estado. O Direito Público é o conjunto de normas de natureza pública, com forte atuação do Estado,
de caráter social e organizacional da sociedade. Exemplos: Constitucional, Administrativo e Tributário
Política criminal (conjunto sistemático de princípios e regras através dos quais o Estado promove a
luta de prevenção e repressão das infrações penais), ex. ANPP E Lei Maria da Penha
II - Ciência normativa: faz-se um estudo acerca das normas. O objeto desta ciência é o conjunto de
preceitos legais que se refere à conduta dos cidadãos, bem como às consequências jurídicas
advindas do não-cumprimento de suas determinações.
NOÇÕES FUNDAMENTAIS
III – Ciência valorativa: porque a proibição legislativa de uma determinada conduta, através da norma
penal, importa em uma valoração negativa que conduz à criminalização da mesma.
IV - Ciência finalista: tem como objetivo proteger a sociedade defendendo os bens jurídicos
fundamentais
V - Sancionador (e não constitutivo) porque a antijuridicidade do injusto é uma só: a infração é a todo
o ordenamento jurídico, pois a contrariedade se refere ao direito e não somente à ordem penal.
Assim, o Direito Penal não cria bens jurídicos, mas apenas acrescenta proteção a bens que, de toda
forma, já são protegidos por outros setores do ordenamento.
CLASSIFICAÇÕES DO DIREITO PENAL
1. Direito Penal objetivo e subjetivo.
Subjetivo: ou simplesmente ius puniendi (direito de punir), é o direito (poder-dever) de punir os
cidadãos que cometem crimes. Esse poder-dever é de titularidade exclusiva do Estado.
Objetivo: é o próprio ordenamento jurídico-penal, correspondendo à sua definição.
O subjetivo tem limites no próprio objetivo. Não há um ius puniendi ilimitado, pois a norma penal cria
direitos subjetivos para o estado e para o cidadão, pois este tem o direito subjetivo de liberdade, que
consiste em não ser punido senão de acordo com as normas ditadas pelo Estado.
2. Direito Penal Comum e Especial: O melhor critério para distinguir Direito Penal comum e Direito
Penal especial é a consideração dos órgãos que devem aplicá-los jurisdicionalmente: se a norma
penal objetiva pode ser aplicada através da justiça comum (estadual ou federal), sua qualificação
será a de Direito Penal comum; se, no entanto, somente for aplicável por órgãos especiais,
constitucionalmente previstos, trata-se de norma penal especial. Atendendo a esse critério teremos,
no Brasil, Direito Penal comum, Direito Penal Militar e Direito Penal Eleitoral.
A distinção entre Direito Penal comum e Direito Penal especial não deve ser confundida com
legislação penal comum – Código Penal – e com legislação penal especial, também conhecida como
legislação extravagante, que é constituída pelos demais diplomas legais.
CLASSIFICAÇÕES DO DIREITO PENAL

3. Direito Penal material e formal.


Material: é representado pela lei penal, que define as condutas típicas e estabelece sanções.
Formal: é o Direito Processual Penal, que determina as regras de aplicação do direito penal material.
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO PENAL

Segurança Jurídica: um dos principais alicerces do Estado Democrático de Direito, confere


estabilidade e certeza nas relações jurídicas e proporciona a previsibilidade das consequencias
jurídicas das condutas praticadas pelos membros da coletividade.
I - Legalidade ou reserva legal (art. 5°, XXXIX, CF): não há crime sem lei que o defina; não há pena
sem cominação legal. Visa assegurar a segurança jurídica, crime de lesa majestade.
II - Anterioridade da lei (art. 5°, XXXIX CF e art. 1°, CP): não há crime sem lei anterior que o defina;
não há pena sem prévia cominação legal
III - Irretroatividade da lei penal mais severa (art. 5°, XL, CF e art. 2°, CP): lei posterior mais severa é
irretroativa; a posterior mais benéfica é retroativa; a anterior mais benéfica é ultra-ativa
IV - Proibição da analogia “in malam partem”: proíbe a adequação típica por semelhança entre fatos
V - Fragmentariedade: só tutela os bens mais importantes. E, dentre eles, não os tutela de todas as
lesões, intervém somente nos casos de maior gravidade, protegendo um fragmento dos interesses
jurídicos, reservando a atuação deste para os casos indispensáveis, onde realmente se revelam
insuficientes as tutelas extrapenais. Assim, protege os bens jurídicos essenciais, e não quaisquer
bens, e ainda, somente contra determinadas configurações de agressão.
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO PENAL
VI - Intervenção mínima (ultima ratio): busca restringir ou impedir o arbítrio do legislador, no sentido
de interferir nas relações protegendo bens que não sejam vitais à manutenção da sociedade e busca
evitar a definição desnecessária de crime e a imposição de penas injustas, desumanas ou cruéis. A
criação de tipo deve obedecer à imprescindibilidade e a aplicação do Direito Penal deve ser realizada
nos casos relevantes, Ex.s: Manter casa de prostituição; Masoquismo e fraude civil
V - Ofensividade: cuida das condutas que causem efetiva lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico,
não sendo suficiente que a conduta seja imoral ou pecaminosa
VI – Princípio da insignificância ou crime de bagatela: sustenta ser vedada a atuação penal do Estado
quando a conduta não é capaz de lesar ou no mínimo de colocar em perigo o bem jurídico tutelado
pela norma penal. Destina-se a efetuar uma interpretação restritiva da lei penal, diminuindo o seu
alcance, eis que a lei penal é muito abrangente.
O direito penal só deve intervir nos casos de lesões de certa gravidade, reconhecendo a atipicidade
nas hipóteses de perturbações mínimas
VII - Da culpabilidade (Nullum crimen sine culpa): a pena só pode ser imposta a quem, agindo com
dolo ou culpa e merecendo juízo de reprovação cometeu um fato típico e antijurídico. O juízo de
culpabilidade repudia a responsabilidade penal objetiva (aplicação da pena sem dolo, culpa e
culpabilidade)
VIII - Humanidade: o réu deve ser tratado como pessoa humana, arts 1°, III, 5°, III, XLVI
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO PENAL

IX - Proporcionalidade da pena (da proibição de excesso): a pena deve ser medida pela culpabilidade
do autor. Tem dupla face: a) proibição ao excesso; b) impede a proteção insuficiente de bens
jurídicos
X - Estado de inocência (presunção de inocência): ninguém será culpado até o trânsito em julgado de
sentença penal condenatória (art. 5°, LVII, CF)
XI - Igualdade: todos são iguais perante a lei, o delinqüente não pode ser discriminado em razão de
cor, sexo, religião, etc
XI – Individualização da pena (art. 5º, XLVI, CF)
XII - “Ne bis in idem”: Pode ser extraído do art. 8º, 4 do Pacto de São José da Costa Rica ninguém
pode ser punido duas vezes pelo mesmo fato, 2 significados: 1°: penal material: não pode sofrer 2
penas pelo mesmo crime; 2°: processual: não pode processar e julgar duas vezes pelo mesmo fato.
XII - Princípio da alteridade: O direito penal se ocupa com condutas que excedam o âmbito do
próprio sujeito. Punição de condutas que causem dano a terceiros. Ninguém pode ser punido por
causar mal a si próprio, autolesão não é punível.
FONTES DO DIREITO PENAL
Fonte tem o sentido de se verificar donde provém a norma de direito. Dividem-se em Fontes Materiais
ou de produção e Fontes Formais ou de conhecimento.
1. Fontes de produção: refere-se ao órgão encarregado de elaborar a norma penal. No Brasil o titular
é a União (art. 22, I, CF).
2. Fontes formais ou de conhecimento correspondem à exteriorização do Direito Penal. Estas são
classificadas em
a) Fonte formal imediata: lei em sentido genérico.
b) Fontes formais mediatas (costumes e princípios gerais do direito)
3. Lei Penal: é a única forma de exteriorizar o conteúdo do direito penal, somente a lei pode definir
uma conduta como criminosa. Assim, via de regra a norma penal descreve uma conduta ilícita e
impõe uma sanção. Teoria de BINDING: o legislador se vale de uma técnica diferente para elaborar a
norma penal, na lei o que estão expressos são o comportamento ilícito e a pena. O mandamento o
qual o Estado quer que seja respeitado é retirado de uma reflexão da norma, ex: matar alguém;
subtrair para si ou para outrem.
A norma penal incriminadora deve ser elaborada de forma que o cidadão saiba qual conduta é ilícita,
a forma de cometimento é forma aberta, mas qual comportamento é criminoso deve ser bem
determinado.
Divide a norma penal em Preceito primário (aquele que trás o comportamento ilícito) e Preceito
secundário (é a pena a quem praticar tal comportamento).
FONTES DO DIREITO PENAL

Contudo, há leis que trazem princípios e formas de aplicação das normas incriminadoras, sem conter
nenhum comportamento ilícito, por isso as normas penais dividem-se em:
I - Incriminadoras: trazem os comportamentos ilícitos e as consequentes penas. Estão todas na parte
especial do CP e demais leis
II - Permissivas: autorizam a prática de certas condutas que estão tipificadas como crimes, excluem a
ilicitude (justificantes) ou a culpabilidade (exculpantes), exs: arts. 23, 24 e 25; 26, caput e 28, §1º
III - Explicativas: esclarecem o conteúdo das outras ou delimitam sua aplicação, exs: arts. 10 a 12; 327
4. NORMA PENAL EM BRANCO: são aquela que há a necessidade de complementação para que se
possa compreender o âmbito de aplicação de seu preceito primário, isto é, definição da conduta
(preceito primário) criminosa reclama a complementação, seja de outra lei, seja por ato administrativo
Classificam-se em:
A) Normas penais em branco em sentido lato (Homogênea): o complemento é determinado pela
mesma fonte de produção da norma incriminadora. As fontes são homogêneas, ex: art.s 236 e 237, CP
B) Normas penais em branco em sentido estrito (heterogênea): o complemento deriva de uma norma
emitida por outra fonte de produção, ex: art. 33, Lei 11.343/06; art. 268, CP
FONTES DO DIREITO PENAL
C) Lei penal em branco de fundo constitucional: o complemento constitui-se em norma constitucional.
Ex: art246, CP a instrução primária está no art 208, I, CF e o art. 121, §2º, VII é complementado
pelos arts. 142 e 144, CF
FONTES FORMAIS MEDIATAS
I - Costume: é o conjunto de normas de comportamento a que pessoas obedecem de maneira
uniforme e constante pela convicção de sua obrigatoriedade.
Espécies:
• Contra legem: é aquele que contraia a lei, mas não tem o condão de revogá-la, ex. Jogo do
bicho;
• Secundum legem (absorvidos pela lei): trazem regras sobre a interpretação e aplicação de certa
lei, ex. art. 134 – desonra própria
• Praeter legem (além da lei): integram as normas penais não incriminadoras, notadamente para
possibilitar o surgimento de causas supralegais de exclusão da ilicitude ou culpabilidade, ex.
circuncisão dos judeus
O costume não tem força para revogar uma lei ou criar delitos, para estes casos é imprescindível a
existência de uma lei. O costume é utilizado de interpretação do direito penal, ex: reputação, decoro,
ato obsceno.
II - Princípios Gerais do Direito: são premissas éticas extraídas da legislação, do ordenamento jurídico.
O direito penal fica sujeito às influencias desses princípios, estabelecidos com a consciência ética do
povo em determinada civilização, ex: mãe que fura a orelha da filha.
Interpretação da lei penal
1. Conceito: interpretação consiste em extrair o significado e a extensão da norma em relação á
realidade. Dirige-se à vontade da lei, em função de todo o ordenamento jurídico. È procurar
descobrir aquilo que ela tem a nos dizer com a maior precisão possível.
2. Espécies de interpretação
I - Quanto ao sujeito que faz:
A) Autêntica: a interpretação é feita pelo órgão que elaborou a lei. Pode ser Contextual (o legislador
faz a interpretação no próprio texto da lei), ex: art. 327, CP, 150,§4º. Posterior: é realizada pelo
legislador após a entrada da lei interpretada em vigor, esta para ser considerada norma
interpretativa deve limitar-se a esclarecer pontos obscuros, se inovar o assunto será tida como lei
nova com conteúdo próprio e autônomo. A norma de interpretação, afastando a incerteza acerca
da compreensão e extensão do dispositivo contido em lei anterior tem efeito ex tunc; retroage a
partir da vigência da lei que visa interpretar. Contudo, se trouxer fatos novos e modificar as
disposições preexistentes, não será norma interpretativa e somente retroagirá se não for mais
gravosa.
B) Doutrinária: realizada pelos escritores de direito, em seus comentários às leis. Embora seja
extremamente importante para verificar as falhasse acertos da lei não é de obediência obrigatória.
C) Judicial: é a que deriva dos órgãos judiciários. Os juízes não aplicam simplesmente o texto da lei,
eles vão modelando a lei através do contato diário com os fatos, ensejando a formação de
preceitos novos em que seu significado é pautado em regras da vida social. Precedente,
jurisprudência e súmula
Interpretação da lei penal

II - Quanto aos meios empregados


A)Gramatical ou literal: vale-se do significado das palavras, exemplo: não se pode entender homicídio
se desconhecer o significado da palavra alguém. Esta interpretação não é suficiente, pois podemos
ter conclusões que afrontem o sistema, é imprescindível buscar a finalidade da norma.
B) Lógica ou teleológica: busca apurar a vontade ou intenção objetivada na lei, aquilo a que ela se
destina regular. Nesta investiga-se os motivos que determinam o preceito, as necessidades e o
princípio superior que lhe deram origem (ratio legis) por fim analisa as circunstâncias do momento
em que se originou a lei (occasio legis). Elementos da interpretação
• Ratio legis: fim prático que é alcançado pela consideração do bem ou interesse jurídico que visa
proteger.
• Sistemático: compara o preceito interpretado com os das outras normas que regulam o mesmo
assunto
• Histórico: procura a origem da lei, estuda sua evolução e modificações antes de cuidar do exame
dos aspectos de que se reveste no texto atual.
Interpretação da lei penal

III - Quanto ao resultado


A) Declarativa: é meramente declarativa quando a eventual dúvida se resolve pela correspondência
entre a letra e a vontade da lei, sem aumentar ou diminuir o sentido, ex: art. 141, III, CP: várias
pessoas. É 2 ou 3. Qdo o CP quis dizer 2 ele falou expressamente, então entende-se como sendo
na presença de 3 pessoas.
B) Restritiva: o texto da lei diz mais do que o pretendido por sua vontade. Restringe o alcance das
palavras da lei, ex: art. 28, II, a embriaguez patológica é aplicada no art. 26.
C) Extensiva: amplia-se o alcance das palavras da lei para que achemos a vontade da norma, ex:
art.159 fala em extorsão mediante sequestro deve abranger também o cárcere privado.; Art. 235
Bigamia.
Há um corrente que defende a impossibilidade de realizar interpretação extensiva em normas penais
incriminadoras.
Com a interpretação busca-se verificar a vontade da lei, e somente após o trabalho interpretativo é
que se verificará se a interpretação é extensiva ou restritiva, podendo em ambos os casos aplicar
no direito penal. Contudo, se após a interpretação restar dúvidas acerca da vontade da lei, vigora o
in dúbio pro reo.
Interpretação da lei penal
3. Interpretação progressiva: é a que se faz adaptando a lei às necessidades e concepções do
presente. Como o direito é uma ciência em constante evolução devemos adaptar o alcance da
norma conforme as novas realidades, para que não precisemos alterar o direito a toda hora, ex:
Doença mental e coisa alheia – são interpretados de acordo com o progresso da psiquiatria e da
indústria.
4. Interpretação analógica: ocorre toda vez que uma cláusula genérica segue a uma fórmula casuística,
devendo entender-se que aquela só compreende os casos análogos aos mencionados por esta, ex:
art. 121, §2º, IV (surpresa da vítima); art. 28, II; art. 171, caput.
Distinção entre interpretação analógica e analogia: reside na vontade da lei, naquela pretende a
vontade da norma abranger os casos semelhantes aos por ela regulados. Enquanto nesta não é
pretensão da lei aplicar o seu conceito aos casos análogos, tanto que silencia a respeito, mas o
intérprete assim o faz, suprindo a lacuna.
5. ANALOGIA: significa aplicar a uma hipótese não regulada por lei, a legislação de um caso
semelhante.
• In malam partem: é aquela pela qual aplica-se ao caso omisso uma lei incriminadora que disciplina
um caso semelhante.
• In bonam partem: aplica-se ao caso omisso uma lei favorável ao réu, regradora de caso semelhante
EFICÁCIA DA LEI PENAL

Nascimento da lei
• Sanção: dar aprovação, ratificar. O Presidente da República aprova e confirma uma lei
• Promulgação (assinatura): atesta-se a existência da lei e se determina a todos que a observem
• Publicação: ato pelo qual se torna conhecida de todos, impondo sua obrigatoriedade. Diário Oficial
Art. 1º, LINDB: salvo disposição em contrário a lei entra em vigor em todo o país 45 dias depois de
publicada.
Se a lei prevê prazo maior ou menor respeita-se este prazo e a este dá-se o nome vacatio legis – tem
duas finalidade: tornar a norma conhecida por todos e Os operadores e a quem ela interessa
possam se preparar.
Morte da lei: compreende a revogação que será feita por outra lei e pode ser total (ab-rogação) ou
parcial (derrogação)
• A revogação pode ser expressa ou tácita
• Expressa: quando no texto da nova lei faz menção à revogação das leis anteriores, art. 75, Lei
11343/06
• Tácita: nova lei que trata do mesmo assunto de maneira diversa ou regula inteiramente a matéria
precedente.
EFICÁCIA DA LEI PENAL
Via de regra as leis nascem sem prazo definido, pode haver as leis excepcionais e temporárias.
I - Temporária: trazem no texto o prazo de vigência, ex: CPMF
II - Excepcionais: não trazem o prazo de vigê4ncia, mas condicionam a sua eficácia à duração das
condições que a determinam (guerra, inundação, epidemia), ex: Inundação em SC
Elas são autorrevogaveis, não necessitam de lei posterior.
Eficácia das leis penais temporárias e excepcionais – Ultratividade (art. 3º, CP): São aplicadas para
os casos praticados durante sua vigência, ainda que mais prejudiciais
Conflito das leis penais no tempo: como a lei pode ser revogada, instauram-se situações de conflito
e eles são verificados quando uma lei nova entra em vigor durante a persecução penal ou
execução da pena. A regra geral é da prevalência da lei que se encontrava em vigor quando da
prática do fato - tempus regit actum. Execeção é a extra-atividade que consiste na capacidade da
lei penal de se movimentar no tempo regulando fatos ocorridos durante a sua vigência, masmo
após ter sido revogada (ultra-atividade), ou de retroagir no tempo a fim de regular situações
aneriores à sua vigência (retroatividade). Princípios que regem a extra-atividade:
• Princ. Da irretroatividade da lei penal mais severa: só é utilizada para os fatos praticados durante
sua vigência
• Princ. Da retroatividade da lei penal mais benigna: aplica-se para o passado e para o futuro
EFICÁCIA DA LEI PENAL

Hipóteses de conflito de leis penais no tempo


I - abolitio criminis: art. 2º, CP: desconsidera uma conduta como sendo criminosa. Reclama a
revogação total do preceito penal, e não somente de uma norma singular referente a um fato, ex.
art 240 e readequação do art. 214, CP. É ultrativa e retroativa
II - novatio legis incriminadora: passa a considerar crime uma conduta até então lícita, ex: financiar o
tráfico é ultrativa
III - novatio legis in pejus: prejudica a situação do criminosos: durante o IP, a ação penal ou durante a
pena, ex: lei 8.072/90, aumento de pena, maior prazo para progressão de regime
IV - novatio legis in melius: melhora a situação do criminosos, é retroativa e ultrativa, ex: usuário de
droga.
As duas últimas não tipificam uma conduta, somente melhoram ou pioram a situação do réu, não
muda o crime.
Nota: Combinação de leis? pode o juiz utilizar parte de uma lei e parte de outra lei, revogadora da
anterior.  
EFICÁCIA DA LEI PENAL
Teorias do tempo do crime: o Brasil adotou no art 4º, CP a teoria da atividade.
Teorias:
A) Atividade: considera-se o momento da ação ou omissão como o tempo do crime ainda que outro
seja o do resultado, ex: atira com 17 e a vítima morre depois de um mês. Falar do crime
permanente.
B) Resultado: tempo do crime é o do momento do resultado da conduta
C) Mista: considera crime tanto o momento da ação qto do resultado.
EFICÁCIA DA LEI PENAL
Conflito aparente de normas: algumas leis são independente entre si, outras se coordenam, de forma
que se integram e se excluem reciprocamente. Parece em alguns casos que duas normas regulam o
mesmo fato.
Princípios que regem o conflito aparente de normas
• Especialidade: uma norma é especial a outra geral quando possui em sua definição legal
todos os elementos típicos desta, e mais, alguns, de natureza objetiva e subjetiva. Lei
especial prefere a lei geral, ex: infanticídio, CTB (lesão corporal e homicídio)
• Subsidiariedade: ocorre quando a lei define como crime um fato incluído por em outro delito
mais grave, como qualificadora, agravante, causa de aumento de pena, ou, inclusive, modo
de execução. Há subsidiariedade entre duas leis penais quando de trata de estágios ou
graus diversos de ofensa a um mesmo bem jurídico, de forma que a ofensa mais ampla e
mais grave engloba a menos ampla. Pode ser expressa: arts. 129, §3º e ; Tácita:
constrangimento ilegal em relação ao estupro; violação de domicílio
• Consunção: ocorre a relação consuntiva ou de absorção quando um fato definido por uma
norma incriminadora é meio necessário ou normal fase de preparação ou de execução do
outro crime, bem como constitui conduta anterior ou posterior do agente cometida com a
mesma finalidade prática atinente àquele crime. Progressão criminosa; crime progressivo,
Atos anteriores (LCP, art 25 – ter gazua) e fatos posteriores (vender a res furtiva)
impuníveis
• Alternatividade: norma que prevê vários fatos alternativamente, como modalidades de um
mesmo crime, só é aplicável uma vez, ainda que os fatos sejam praticados sucessivamente.

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