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DIREITO PENAL: TEORIA DO CRIME

PROFESSOR: ENDERSON DANILO SANTOS DE VASCONCELOS

Introdução

. Características do Direito Penal:


- Visa a proteção de bens jurídicos;
- Busca a verdade possível;
- Trabalha contra a violência;
- Possui também penas de prevenção.

. Princípios do Direito Penal:


- Princípio da Legalidade (ou da Reserva Legal): De acordo com o artigo 5º, inciso II, da
Constituição Federal, “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão
em virtude de lei”. Além disso, ninguém pode alegar desconhecimento da lei como
justificativa para a prática de um crime. A lei penal deve ser:
. Estrita (vir do Legislativo Federal; portanto, a em lei em Sentido Amplo é aquela que vai
além desse âmbito);
. Escrita (definida pela escrita, no papel);
. Certa (bem definida e clara);
. Prévia (deve ser bem declarada antes do crime previsto, como diz a expressão “tempus
regit actum”, que significa literalmente “o tempo rege o ato", no sentido de que os atos
jurídicos se regem pela lei da época em que ocorreram; daí vem a irretroatividade da lei
penal, salvo em casos de benefício do réu).
- Principio da Fragmentariedade: O direito penal é a última etapa de proteção do bem
jurídico, ou seja, um crime apenas pode ser criado se os demais ramos do direito não foram
suficientes para a proteção do bem jurídico. O direito penal deve intervir tão somente
quando houver ofensas graves e relevantes a bens jurídicos tutelados.
. Princípio da Intervenção Mínima (ultima ratio).
- Princípio da Ofensividade (ou Lesividade): São apenas passíveis de punição por parte do
Estado as condutas que lesionem ou coloquem em perigo um bem jurídico alheio.
. Princípio da Alteridade: Veda a incriminação de conduta que não ofende nenhum bem
jurídico, e é necessário que a conduta ultrapasse a pessoa do agente e invada o patrimônio
jurídico alheio, ou seja, ninguém pode ser punido por causar mal apenas a si próprio.
- Princípio da Insignificância (ou da Bagatela/Bagatelar): Determina a não punição de
crimes que geram uma ofensa irrelevante ao bem jurídico.
- Princípio da Intranscendência (ou da Pessoalidade): Somente o condenado, e mais
ninguém, poderá responder pelo fato praticado.
- Princípio da Humanidade: Assegura o respeito e a integridade física e moral do preso.
- Princípio da Adequação Social: Preconiza que não se pode reputar criminosa uma conduta
tolerada pela sociedade, ainda que se enquadre em uma descrição típica.
- Princípio da Proporcionalidade: A pena deve ser proporcional ao crime; só podem ser
restringidas a liberdade na estrita medida em que isso seja necessário para salvaguardar
direitos ou interesses constitucionalmente protegidos.
. Vedação ao Excesso: Proíbe que o Estado aja além da conta; que faça mais do que deveria.
. Vedação a Proteção Deficiente: Proíbe que o Estado aja brandamente demais; que faça
menos do que deveria.
- Princípio da Culpabilidade: Não há crime sem culpabilidade (nullum crimen sine culpa).
. Dolo: Intenção de cometer o delito. Há também o dolo eventual, onde o agente não
persegue diretamente o resultado, mas com sua conduta, assume o risco de produzi-lo.
. Culpa: A culpa é o produto da negligência, da imprudência ou da imperícia, sem intenção
direta de cometer o delito. Há também a culpa consciente, que é a culpa com previsão, onde
agente pratica o fato prevendo a possibilidade de ocorrência de um resultado, mas confia em
suas habilidades para que o resultado não ocorra.
- Princípio da Taxatividade: A lei penal deve ser clara e precisa, de forma que o destinatário
da lei possa compreende-la, sendo vedada, portanto, a criação de tipos que contenham
conceitos vagos ou imprecisos.
- Princípio do Contraditório (ou da Ampla Defesa): Todo acusado terá o direito de resposta
contra a acusação que lhe foi feita, utilizando, para tanto, todos os meios de defesa
admitidos.
- Garantismo Penal: Criada pelo jurista e professor italiano Luigi Ferrajoli, o garantismo penal
é uma corrente jurídica que prega o respeito máximo aos direitos fundamentais e às
garantias processuais, a fim de coibir arbitrariedades judiciais e assim, proteger os indivíduos
e os réus. O Estado democrático de direito, onde o poder obrigatoriamente deriva do
ordenamento jurídico, atua como um mecanismo para minimizar o poder punitivo e garantir
ao máximo a liberdade dos cidadãos.
. Estrutura do Crime:
- Fato Típico: Fato concreto que realiza todos os requisitos objetivos contidos na lei penal,
que estão listados abaixo. Caso contrário, não existe configuração de crime, sendo um fato
atípico. Para ser um fato típico, deve haver:
. Conduta (ação ou omissão);
. Resultado;
. Nexo Causal (relação entre conduta e resultado);
. Tipicidade (estar no código penal, ser de fato crime).
- Tipicidade Formal: Configura-se quando a conduta praticada pelo agente se adequa com
perfeição à descrição prevista no ordenamento penal.
- Tipicidade Material: Gera um desvalor relevante a um bem jurídico. A inexistência de
tipicidade material afasta a própria tipicidade, tornando o fato atípico.
- Ilicitude: Ser de fato ilegal. Existem duas situações que criam exceções:
. Legítima Defesa;
. Estado de Necessidade.
- Culpabilidade: A antijuridicidade é o juízo de reprovação da conduta, e a culpabilidade é
o juízo de reprovação sobre o autor da conduta.
. Imputabilidade: Capacidade que tem a pessoa que praticou certo ato, definido como
crime, de entender o que está fazendo.
. Potencial Consciência da Ilicitude: Possibilidade que tem o agente imputável de
compreender a reprovabilidade da sua conduta.
. Exigibilidade de Conduta Diversa: Expectativa social de um comportamento diferente
daquele que foi adotado pelo agente.
- Bipartite e Tripartite: Representa quantos dos três elementos da estrutura do crime
(tipicidade, ilicitude e culpabilidade) são necessários para se configurar um crime.

. Fontes do Direito Penal:


- Materiais (eventos históricos e sociais);
- Formal Direta/Imediata (lei em sentido estrito; define crimes e sanções);
- Formal Indireta/Mediata:
. Costumes: Objetivos (baseados na repetição) e subjetivos (baseados na convicção).
. Princípios Gerais do Direito, Doutrinas e Jurisprudência.
. Quanto a Lei Penal:
- Lei Penal: Caput (enunciado do artigo) + pena.
- Norma: Valoriza o bem jurídico e traz um “mandamento”.
. Norma Primária: Traz a proibição.
. Norma Secundária: Traz o comando ao juiz.
- Normas Penais Incriminadoras: Definem as infrações penais proibindo a prática de
condutas (crimes comissivos) ou impondo a prática de condutas (crimes omissivos), sob a
ameaça expressa e específica de uma pena. Essas normas tem dois preceitos: um preceito
primário, que descreve com objetividade, clareza e precisão, a infração penal, e um preceito
secundário, que representa a cominação abstrata e individualizada da respectiva sanção
penal.
- Normas Penais Não Incriminadoras:
. Interpretativa/Explicativa: Esclarece o conteúdo da norma, como o artigo 327 do Código
Penal.
. Complementar: Delimita a aplicação das leis incriminadoras, como ocorre com o artigo 5º
do Código Penal.
. Integrativa: Viabiliza a tipicidade de alguns fatos originalmente não típicos, como fazem
os artigos 14, II e 29 do Código Penal.
. Permissiva Exculpante: Elimina a culpabilidade, como é o caso da embriaguez (art. 28, §
1º, CP).
. Permissiva Justificante: Torna lícitas condutas ilícitas, como ocorre, por exemplo, com a
legítima defesa (art. 25, CP).
- Norma Penal em Branco: Toda a norma que, ao tipificar um crime, traz no seu corpo um
preceito genérico, indeterminado e incompleto, que precisa de um complemento.
. Norma penal em branco heterogênea (sentido estrito/própria): É aquela norma
complementada por uma determinação da Administração Pública, ou de outra instância
legislativa (portarias, decretos, atos normativos, resoluções, entre outros tipos de
documento).
. Norma penal em branco homogênea (sentido lato/imprópria): Assim como ocorre na
forma heterogênea, aqui também é o preceito primário que recebe complementação. Neste
caso, contudo, a complementação deve ser de mesma natureza jurídica e de mesma fonte
legisladora. Pode ainda ser homogênea homovitelina (complementação está localizada no
mesmo código de origem da norma) ou homogênea heterovitelina (a complementação se
encontra em um código ou ordenamento distinto, como se por exemplo, no Código Penal
houvesse uma dada tipificação, enquanto sua complementação encontra-se em outro
dispositivo legislativo, como o Código Civil ou o Código Florestal).
- Características da Lei Penal:
. Exclusividade: Somente a ela cabe a tarefa de definir infrações penais.
. Imperatividade: Imposta a todos independentemente da vontade do indivíduo.
. Impessoalidade: É abstrata, feita para punir acontecimento futuro e não punir pessoa
determinada.
. Generalidade: Dirige-se a todos em igual situação.
. Temporal: Limita-se ao tempo.

. Interpretação: É baseada em uma lógica do razoável, na ética. A interpretação depende da


cultura, o que pode levar ao problema do preconceito.
- Interpretação quanto ao Sujeito (também chamada de origem):
. Autêntica: É a interpretação dada pelo próprio legislador. Ela pode ser contextual (feita na
própria lei) ou não contextual (feita em outra lei ou na exposição de motivos).
. Jurisprudencial: Basear a interpretação na jurisprudência.
. Doutrinário: Basear a interpretação nos doutos, estudiosos e juristas em suas obras e
pareceres.
- Interpretação quanto ao Modo/Meio:
. Literal/Gramatical/Sintática: Sentido literal das palavras.
. Lógica: Usa-se a lógica.
. Teleológica: Finalidade almejada pela norma.
. Sistemática: Considera que a norma não pode ser vista de forma isolada.
. Histórica: Investigação dos antecedentes da norma.
- Interpretação quanto ao Resultado:
. Declarativa/Declaratória: Aquela que a norma corresponde exatamente àquilo que o
legislador quis dizer, nada suprimindo, nada adicionando.
. Restritiva: A interpretação reduz o alcance da norma para corresponder a vontade do texto
(ocorre apenas com crimes).
. Extensiva: Amplia-se o alcance das palavras para que corresponda à vontade do texto.
- Analogia: Usada na ausência de norma a regular o caso, colmatando-se a lacuna normativa
com a aplicação de outro texto legal que regule outra hipótese semelhante ou idêntica. O
uso da analogia depende de omissão da lei e, por isso, se diz que não é método de
interpretação, mas de integração da lei. “Ubi eadem ratio, ibi idem jus” (onde houver o
mesmo fundamento, haverá o mesmo direito). A analogia pode ser:
. In malam partem, onde adota-se lei prejudicial ao réu.
. In bonam partem, onde adota-se lei benéfica ao réu.
- Interpretação Analógica: Diferentemente da analogia, na interpretação analógica há uma
lei a ser aplicada e interpretada, logo, não há lacuna ou omissão legislativa ou normativa. Há
a necessidade da aplicação desse método quando em parte do próprio texto da lei há uma
fórmula ou conceito genérico que precisa ser interpretado e ter sua norma revelada a partir
do mesmo texto legal. “Ubi eadem legis ratio, ibi eadem” (onde há a mesma razão de ser,
deve prevalecer a mesma razão de decidir). Nesse caso, não se utilizam outras leis para tal
interpretação, extraindo-se conceitos análogos do próprio texto o qual se procura interpretar
(por exemplo, em “Homicídio qualificado; § 2º Se o homicídio é cometido: I - mediante paga
ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe [...]” deve-se usar uma interpretação
analógica para definir esses outros motivos torpes.

Conflitos da Lei Penal

- Abolitio criminis: Extinção do crime devido à publicação de nova lei.


. Descriminalização;
. Lei temporária;
. Descontinuidade Normativa Típica (inverso do Princípio da Continuidade).
- Lei Intermediária: Representa aquela que não era vigente ao tempo do fato e nem ao
tempo do julgamento, porém, vigorou durante o processo criminal. Ela surge no interregno
de tempo entre o fato criminoso e o julgamento, e prevalecerá caso seja mais favorável às
demais leis.
- Lei Excepcional e Lei Temporária: São as exceções que sofrem ultra-atividade, mesmo que
sejam mais prejudiciais ao réu. São elas leis específicas.

. Conflito Aparente de Normas:


- Princípio da Especialidade: Estabelece que a lei especial derroga a geral. Considera se lei
especial aquela que contém todos os requisitos da lei geral e mais alguns chamados
“especializantes”.
- Princípio da Alternatividade: Aplica-se aos crime de conteúdo múltiplo, ou variado, ou
plurinuclear ou tipo plurinuclear (tipo no qual integra se várias condutas, tipo misto
alternativo). Nos crimes plurinucleares, se o sujeito realiza vários verbos no mesmo contexto
fático, responderá por apenas um crime, isto porque, as condutas ou verbos são alternativos.
No tipo misto cumulativo, ao contrário, as condutas não são fungíveis porque atingem bens
jurídicos distintos em suas titularidades.
- Princípio da Subsidiariedade:
. Tácita/Implícita: Ocorre quando um delito menos amplo integra a descrição típica de um
mais amplo. Por exemplo, o furto é subsidiário ao crime de roubo.
. Expressa: “[...], se o fato não constitui crime mais grave.”
. Sem haver todos os elementos de um crime completo, busca-se o subsidiário.
- Princípio da Consunção/Absorção: O fato mais abrangente englobará o menos abrangente.
Em primeiro lugar, no crime progressivo, onde o autor para alcançar um resultado mais
complexo passa necessariamente por um tipo subsidiário (por exemplo, para consumar o
homicídio o agente comete a lesão corporal), o crime do resultado mais complexo absorve o
subsidiário; em segundo, na progressão criminosa, onde a intenção de um delito muda para
um crime mais complexo (como uma agressão corporal que evolui para homicídio), este
último objetivo absorve o menor; e, finalmente, o crime fim absorve o crime meio. Por
exemplo, o estelionato absorve a falsidade, e o furto absorve a invasão de património.

Lei Penal no Tempo e Espaço

. Lei Penal no Tempo:


- Princípio da Atividade: Considera-se o momento do crime quando o agente realizou a ação
ou a omissão típica, e não quando ocorreu o resultado.
- Vigência da Lei Penal:
. Tempus regit actum.
. Extra-Atividade: Aplicação da nova lei penal no passado (novatio legis in mellius, nova lei
que de qualquer modo beneficia o réu).
. Ultra-Atividade: Aplicação da lei penal mesmo após a sua revogação ou cessação de
efeitos.

. Lei Penal no Espaço:


- Lugar -> Ubiquidade = importa os locais da atividade e/ou resultado.
- Princípio da Territorialidade: Estabelece a área geográfica em que um Estado exercerá a
sua soberania.
. Brasil + navios/aeronaves públicas ou a serviço do setor público + navios/aeronaves
brasileiras, públicas ou privadas, em alto mar (ou em espaço aéreo correspondente).
- Extraterritorialidade (art. 7º):
. Incondicional. Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro, os crimes:
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;
b) contra o patrimônio ou a fé pública;
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço;
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil.
. Condicional. Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro, os seguintes
crimes, desde que dentro das condições descritas:
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir;
b) praticados por brasileiro;
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade
privada.
- Condições para tal: entrar o agente no território nacional; ser o fato punível também no
país em que foi praticado; estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira
autoriza a extradição; não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido
a pena; não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta
a punibilidade, segundo a lei mais favorável.
- A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora
do Brasil, se: não foi pedida ou foi negada a extradição; houve requisição do Ministro da
Justiça.
- Art. 8º: A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo
crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas.
Quanto a Crimes

- Conceito analítico de crime: Fato típico (previsto em lei), ilícito (conduta não aprovada pela
lei) e culpável (capacidade do indivíduo de saber o que estava fazendo).
- Classificação de crimes:
. Simples; Qualificado: Há um elemento adicional que resulta no aumento da pena;
Privilegiado: Há um elemento adicional que resulta na redução da pena. Vale ressaltar que o
crime privilegiado altera o preceito secundário da norma (a pena), e não o primário. Um
exemplo correto dessa categoria é o art. 242 do CP (é um parágrafo único), e um errôneo, é
o art. 155, parágrafo 2º.
. Comum: Qualquer pessoa pode praticar; Próprio: Há um requisito especial necessário para
ser crime (art. 124 CP); Mão Própria: Apenas o sujeito específico pode cometer tal crime (por
exemplo, crime de falso testemunho, art. 342 CP). No crime de mão própria, não admitisse
coautoria, enquanto no próprio, sim.
. Militar; Não Militar.
. Instantâneo; Permanente: Prolonga-se no tempo (sequestro, tráfico de drogas, etc);
Instantâneo de Efeitos Permanentes: Mesmo que a ação seja instantânea, os efeitos são
irreversíveis (homicídio, por exemplo).
. Omissivo impróprio: Comissão por omissão. Ou seja, o crime é deixar de agir para evitar
um resultado concreto (por exemplo, uma mãe que deixa de alimentar o filho); Omissivo
Próprio: A omissão está descrita na lei (art. 135 CP). Apenas o primeiro admite tentativa.
. Consumado (art. 14 CP): “Quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição
legal”; Tentado (art. 14 CP): “Quando, iniciada a execução, não se consuma por
circunstâncias alheias à vontade do agente”; Exaurido: Também chamado de “crime
esgotado plenamente”, acontece após o crime (após o iter criminis, isto é, o processo de
reflexão, atos preparatórios, execução e consumação).
. Ação Única: Há apenas um verbo, uma ação prevista no artigo (como o crime de
homicídio); Ação Múltipla: É o crime que descreve várias condutas no mesmo artigo, ou seja,
é plurinuclear (por exemplo, induzir ou instigar suicídio: basta um ou outro para que o crime
seja praticado).
. Material: Há um resultado concreto, naturalístico; Formal: Não exige a produção do
resultado para que haja crime (como a ameaça, art. 147 CP). No crime formal, o resultado é
possível; Mera Conduta: Descreve apenas a conduta humana, não havendo sequer a
possibilidade de ocorrência de um resultado material (por exemplo, o crime de falso
testemunho, ou o crime de porte ilegal de arma de fogo de uso permitido, onde consuma-se
o crime independentemente da ocorrência de efetivo prejuízo para a sociedade; a
probabilidade de vir a ocorrer algum dano é presumida pelo tipo penal).
. Flagrante (art. 302 CPP): “Considera-se em flagrante delito quem: está cometendo a
infração penal; acaba de cometê-la.” Ressalte-se que em caso de crime permanente, o estado
de flagrância ocorre enquanto não cessar a permanência do ato delituoso (por exemplo, no
crime de sequestro).
. Dano; Perigo.
. Acessório/Parasitário: Exige um crime anterior (como lavagem de dinheiro ou
receptação).
- Categoria: Sujeito (ativo ou passivo); Ação (atua sobre o sujeito passivo ou provem do ativo)
-> recai sobre Objeto ferido (material, como coisa furtada ou pessoa morta; jurídico, como
patrimônio ou direito a vida).

Fato Típico

. Conduta:
- Teoria Naturalista/Causalista/Clássica: A ação é despida de finalidade; Toeira Finalista:
Observa-se a intenção e a finalidade objetivada pelo autor para que possa a conduta ser
imputada ao mesmo, contrapondo-se à Teoria Naturalista; Funcionalismo: Verifica a real
necessidade da pena. Dele, vem o Direito Penal do Inimigo, que estabelece a necessidade
de separar da sociedade, excluindo das garantias e direitos fundamentais, àqueles que o
Estado considere como inimigos, quando necessário (por exemplo, em um cenário bomba
relógio).
- Ação; Omissão; Ausência de Conduta (com exceção de coação física irresistível ou
inconsciência).
. Dolo: É a vontade livre e consciente de exercer o delito (não confundir com consciência
de ilicitude). Há o Dolo Normativo/Colorido/Híbrido, onde entende-se que o dolo é formado
pela vontade livre, consciente, e com discernimento da ilicitude do ato (elemento
normativo), elemento extra esse que passou a integrar a culpabilidade, e não mais a conduta.
- Resultado: Pode ser material, formal ou de mera conduta (resultado normativo).
. Crime Culposo:
- Requer:
. Conduta voluntária;
. Resultado ilícito, não desejado, previsível e evitável;
. Nexo causal;
. Tipicidade (art. 18 CP: apenas há crime culposo se estiver descrito em lei).
- Crime Preterdoloso/Preterintencional: É um crime agravado pelo resultado, no qual o
agente pratica uma conduta anterior dolosa, e desta decorre um resultado posterior culposo.
Há dolo no fato antecedente e culpa no consequente (como uma agressão que resulta em
morte).
- Erro de Tipo (art. 20 CP):
. O indivíduo age de forma putativa, não tem plena consciência do que está fazendo. Pode
ser:
a) Essencial: O crime não é intencional. Pode ser evitável (inescusável), excluindo o dolo e
respondendo pela culpa; ou pode ser inevitável (escusável).
b) Acidental: O crime é intencional. Pode ser erro de objeto (responde-se pelo objeto
atingido); erro de pessoa (responde-se pela vítima desejada/virtual); erro de execução
(ocorre aberratio ictus; art. 73 CP: caso erre a pessoa pretendida e fira a outra,
responde-se pela vítima virtual, e caso atinja ambas, sendo uma dolosa e outra
culposamente, aplica-se apenas uma pena aumentada); erro de resultado diverso do
pretendido (em caso de lesão contra objeto e resultado contra pessoa, responde-se
culposamente pela pessoa); erro de nexo causal (o resultado final apenas acontece por
um erro de interpretação, não excluindo o dolo).

. Nexo Causal:
Sine qua non (sem a/o qual não pode ser): refere-se a uma ação cuja condição ou ingrediente
é indispensável e essencial. Art. 13 CP: “O resultado somente é imputável a quem lhe deu
causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. § 1º:
A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só,
produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou.
- Concausas: São causas concorrentes. Podem ser:
1. Absolutamente independente: São causas paralelas; há a tentativa por um, e a
consumação por outro. Eis os tipos e exemplos:
a. Preexistente: Tício serve veneno para Mévio. Uma hora depois, quando o veneno
começa a fazer efeito, Caio, inimigo de Mévio, aparece e dá-lhe um tiro. Mévio morre
no dia seguinte em razão do veneno. Tício responde por homicídio e Caio por tentativa.
A causa concorrente foi o disparo, e a efetiva, o veneno.
b. Concomitante: Ao mesmo tempo que Tício envenenava Mévio, Caio deu um disparo
nele. Mévio morreu em razão do disparo. Caio responde por homicídio e Tício por
tentativa.
c. Superveniente: Tício ministrara veneno em Mévio. Antes desse fazer efeito, Mévio,
sofreu um acidente automobilístico e morreu em razão do acidente, causa efetiva que
é absolutamente independente e posterior ao veneno (causa concorrente), e por logo,
superveniente. Tício responde por tentativa.

2. Relativamente independente: A causa efetiva do resultado depende (ainda que


indiretamente) do comportamento concorrente.
a. Preexistente: Mévio, portador de hemofilia, é vítima de um golpe de faca executado
por Caio. O ataque para matar produziu lesão leve, mas em razão da doença
preexistente (causa concorrente) acabou sendo suficiente para matar a vítima. Caio
deve responder por homicídio consumado, com base no art. 13 CP.
b. Concomitante: Caio dispara contra Mévio, e este, ao perceber a ação do agente, tem
um colapso cardíaco e morre. Causa efetiva: Colapso cardíaco. Causa concorrente: O
disparo. Caio vai responder por homicídio consumado (pois se for eliminada a conduta
de fulano, a vítima teria falecido? Não! Logo, o resultado é imputável à Caio).
c. Superveniente: Pode ser: 1: Que por si só produziu o resultado. Caio atirou em Mévio.
Esse é socorrido para um hospital, contudo o hospital pegou fogo e Mévio morreu em
decorrência do incêndio. Ou ainda, após levar o tiro, a ambulância de Mévio sofre um
capote, e morre no acidente. Aqui, o disparo foi mera causa concorrente, pois era
imprevisível sua morte pelo fogo ou acidente; 2: Que NÃO por si só produziu o
resultado: Caio atira em Mévio, esse é socorrido, mas morre em função de erro
médico, ou de uma infecção hospitalar. O tiro foi a causa concorrente, mas o erro
médico ou a infecção é um desdobramento previsível, mesmo que não tenha sido
imaginado pelo agente. Dessa forma, Caio deverá responder por homicídio doloso
consumado e o médico por homicídio culposo.

. Excludentes de Licitude:
De acordo com a Teoria da Indiciariedade (ratio cognoscendi), a existência do fato típico
gera uma presunção de que é também ilícito. Segundo o art. 23 CP, não há crime quando é
cometido em “estado de necessidade; legítima defesa; estrito cumprimento de dever legal
ou no exercício regular de direito”, sendo que o agente responderá pelo excesso doloso ou
culposo.
- Legítima Defesa (art. 25): “Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente
dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de
outrem.”
- Estado de Necessidade (art. 24): “Considera-se em estado de necessidade quem pratica o
fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade [(salvo culpa)], nem podia
de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era
razoável exigir-se. § 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a
pena poderá ser reduzida de um a dois terços.”
- Consentimento do Ofendido: Configura-se quando a vítima, titular do bem jurídico violado,
concorda com a lesão ou perigo de lesão praticada por alguém. Só é válido quando a pessoa
que concorda com a violação é a única titular do bem jurídico.
. É uma clausula supralegal (não encontra previsão legal no ordenamento jurídico
brasileiro).
. O consentimento deve ser válido, prévio e expresso, e o ofendido, capaz, para que haja
excludente de ilicitude.
. O consentimento deve ser dado a um bem jurídico disponível. A integridade física é um
bem disponível desde que as lesões sofridas sejam consideradas leves. Caso sejam lesões
graves ou gravíssimas, o consentimento do ofendido não afastará a ilicitude. Lesões leves ou
culposas vão requerer representação.
- Descriminante Putativa: Modalidade resultante de erro de fato, de modo a dar ao agente
a impressão falsa da realidade e fazê-lo supor a existência de situação de fato que tornaria a
ação legítima. Se for inevitável ter acreditado, há excludente de ilicitude. Se fosse evitável,
responderá por crime culposo.

. Culpabilidade:
É o juízo de reprovação sobre aquele que praticou fato típico, julgando o entendimento e a
autodeterminação do autor. O autor responde pelo que fez, e não pelo que é (direito penal
do fato). Verifica-se a potencial consciência da ilicitude, isto é, a possibilidade que tem o
agente imputável de compreender a reprovabilidade da sua conduta
- Erro de Proibição: Ocorre quando o agente não compreende um fato como ilícito ou o
enxerga como permitido.
- Valoração Paralela na Esfera do Profano: A utilização de elementos não jurídicos para
avaliar se, no momento da conduta, o agente tinha condições para ter conhecimento da
ilicitude de sua conduta.
- Necessidade de Sansão Penal: Pode requerer uma pena ou medida de segurança (em caso
de incapazes de ficar em sociedade), sendo internação ou tratamento.
- Elementos da Imputabilidade:
. Causas da Imputabilidade:
a. Anomalia psíquica (art. 26 CP): “É isento de pena o agente que, por doença mental ou
desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da
omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-
se de acordo com esse entendimento. A pena pode ser reduzida de um a dois terços,
se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento
mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter
ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.” Em intervalos
de lucidez, há crime completo. Em caso de sonambulismo, nem se quer há conduta
(tipicidade). Pode haver com a anomalia psíquica a absolvição sumária imprópria, que
ocorre quando o juiz isenta o agente de pena, mas o vincula a uma medida de
segurança. O juiz aplica o Sistema Vicariante/Unitário, ou seja, uma medida de
segurança contra o incapaz.
b. Menores de 18 anos (art. 27 CP): “Os menores de 18 anos são penalmente
inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial.”
c. Emoção e paixão (art. 28 CP): Não exclui a imputabilidade penal.
d. Embriaguez (art. 28 CP): “A embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou
substância de efeitos análogos” não exclui ilicitude. É isento de pena o agente que por
embriaguez completa involuntária era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente
incapaz. Em caso de incapacidade relativa, a pena pode ser reduzida de 1 a 2/3. Caso
se torne incapaz devido a escolha, onde põe-se voluntariamente em estado de
imputabilidade, há actio libera in causa, e responde-se normalmente.
- Exigibilidade de Conduta Diversa: É o estado de necessidade, a coação moral irresistível e
obediência hierárquica (com exceção de ordens manifestadamente ilegais), ou seja,
situações que não se poderia exigir uma conduta diferente da adotada pelo agente.

. Quanto a tentativa:
- Desistência voluntária e arrependimento eficaz (Pote de Ouro, art. 15 CP): “O agente que,
voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado se produza,
só responde pelos atos já praticados.”
- Arrependimento posterior (Pote de Prata, art. 16 CP): “Nos crimes cometidos sem
violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento
da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois
terços.”
- Crime Impossível (art. 17 CP): “Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do
meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.”
- Do Concurso de Pessoas:
. Art. 29 CP: Quem concorre para o crime incide na pena, na medida de sua culpabilidade.
Em participação de menor importância (partícipe que auxilia, instiga, induz), há redução da
pena de 1/3 a 1/6. Se algum concorrente quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á
aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido
previsível o resultado mais grave.
- Tipos de tentativa: Branca/Incruenta: O agente não conseguiu nem mesmo atingir o objeto
pretendido. Ex.: Ao atirar, as balas se desviaram da vítima; Vermelha/Cruenta: O agente
conseguiu atingir o objeto, mas não conseguiu consumar o delito. Ex.: A bala somente
perfurou o braço da vítima; Perfeita/Acabada: O agente utilizou todos os meios que estavam
ao seu alcance, e mesmo assim não consumou o crime. Ex.: O agente lesionou a vítima com
socos e disparou 4 tiros na mesma, mas foi preso em flagrante antes que a vítima pudesse
vir a falecer. Imperfeita/Inacabada: O agente não consegue utilizar todos os seus meios de
execução para a prática delituosa. Ex.: O agente tem como desferir 5 tiros, mas só consegue
1, pois é preso em flagrante.
DIREITO PENAL: SANÇÃO PENAL
PROFESSOR: MARCELO LUIZ SEIXAS CABRAL

Introdução às Sanções

- Sanção significa uma “retribuição”. Ela pode ser: a) punitiva; b) premial. Ela começou como
conhecemos no direito romano.
- Finalidade da pena: O Brasil adora a teoria mista (também chamada de eclética ou
intermediária), que diz que a pena tem a função de retribuir e prevenir/evitar.
- Princípios orientadores das penas: Segundo Robert Alexy (Alemanha, 1945 – hoje), um
princípio é um mandado (ordem) de otimização. Normalmente, não é escrito. São princípios
orientadores das penas:
1. Princípio da dignidade da pessoa humana. Art. 5º CF, inciso XLVII: “Não haverá penas: a)
de morte, salvo em caso de guerra [...]; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d)
de banimento, e; e) cruéis.
2. Princípio da legalidade. Art. 5º CF, inciso XXXIX: “Não há crime sem lei anterior que o
defina, nem pena sem prévia cominação legal.”
3. Princípio da retroatividade da lei penal benéfica. Art. 5º CF, inciso XL: “A lei penal não
retroagirá, salvo para beneficiar o réu.”
4. Princípio da personalidade (ou da intranscendência). Art. 5º CF, inciso XLV: “Nenhuma
pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a
decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra
eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido.” Art. 107 CP: “Extingue-se a
punibilidade: I - pela morte do agente.”
5. Princípio da individualização da pena. Cada responsável pelo crime receberá punição
individualizada, de acordo com suas características pessoais.
6. Princípio da proporcionalidade. A pena deve ser proporcional ao crime. É um princípio
primeiramente reservado ao legislador, e, posteriormente, ao juiz.
. Penas:
- Há dois tipos de penas:
. PPL (pena privativa de liberdade). Aqui, há a reclusão (a mais grave), a detenção e a prisão
simples (esta última apenas aplicada a contravenções penais). O tipo/regime de pena a ser
usado será decidido pela letra da lei.
. PRD (pena restritiva de direito). É um tipo de pena alternativa (juntamente com a multa).
A principal característica da pena restritiva de direito é sua substitutividade (uma outra
opção) quanto a prisão.
- Dentro da infração penal, temos o crime/delito e a contravenção penal (ou crime anão).
- Regime de cumprimento de pena: Pode ser fechado, semiaberto e aberto (onde a pena é
cumprida na “casa de albergado”).
- Art. 33: “A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semiaberto ou aberto.
A de detenção, em regime semiaberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a
regime fechado. [...] § 2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma
progressiva, segundo o mérito do condenado [...].”
- Art. 59 (considerado o mais importante art. do CP): “O juiz, atendendo à culpabilidade, aos
antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias
e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá [...]: I - as
penas aplicáveis [...]; II - a quantidade de pena aplicável [...]; III - o regime inicial de
cumprimento da pena privativa de liberdade; IV - a substituição da pena privativa da
liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível.”
- Reincidência: É reincidente o indivíduo que foi definitivamente condenado por outro crime,
desde que ainda dentro do período depurador (5 anos contados do transito em julgado da
condenação, ou da decisão que julga extinta a pena).

. Regime inicial para o cumprimento da pena:


. São regras para a escolha do regime inicial do cumprimento da pena:
1. Quantidade de pena. Art. 33, § 2º: “As penas privativas de liberdade deverão ser
executadas em forma progressiva, segundo o mérito do condenado, observados os seguintes
critérios [...]:”
a) pena superior a 8 anos: início no regime fechado (obrigatório/cogente).
b) pena superior a 4 anos e não maior que 8 anos: pode ter início no regime semiaberto
(exceto em reincidência).
c) pena igual ou inferior a 4 anos: pode ter início no regime aberto (exceto em reincidência).
2. Circunstâncias judiciais. Art. 33, § 3º: “A determinação do regime inicial de cumprimento
da pena far-se-á com observância dos critérios previstos no art. 59 [...].”
- Quando presentes requisitos favoráveis ao condenado, ele poderá progredir no
cumprimento de sua pena; e se os requisitos forem desfavoráveis, ocorrerá a regressão.
- A reclusão pode ser cumprida em regime fechado, semiaberto e aberto. Na detenção e
prisão simples, não há o regime fechado no início da pena. É possível um condenado punido
com detenção ser encontrado em regime fechado, mas apenas por regressão. Na prisão
simples, não pode haver regressão ao regime fechado, apenas do aberto ao semiaberto.
- Súmula Vinculante 59: “É impositiva a fixação do regime aberto e a substituição da pena
privativa de liberdade por restritiva de direitos quando reconhecida a figura do tráfico
privilegiado (art. 33, § 4º, da Lei 11.343/06) e ausentes vetores negativos na primeira fase da
dosimetria (art. 59 do CP), observados os requisitos do art. 33, § 2º, alínea c, e do art. 44,
ambos do CP.”
. Art. 115, LEP: “O Juiz poderá estabelecer condições especiais para a concessão de regime
aberto, sem prejuízo das seguintes condições gerais e obrigatórias: I - permanecer no local
que for designado, durante o repouso e nos dias de folga; II - sair para o trabalho e retornar,
nos horários fixados; III - não se ausentar da cidade onde reside, sem autorização judicial; IV
- comparecer a Juízo, para informar e justificar as suas atividades, quando for determinado.”

. Requisitos para a substituição da pena (arts. 43 e seguintes):


1. A pena de prisão não pode ser superior a 4 anos;
2. O crime não pode ter sido praticado com violência ou grave ameaça à pessoa;
3. O réu não pode ser reincidente em crime doloso (o juiz ainda pode aplicar a substituição
se a reincidência não for específica e a medida for socialmente recomendável);
4. A substituição sempre será possível no caso de crimes culposos;
5. As circunstâncias judiciais do art. 59 devem ser favoráveis (culpabilidade, antecedentes,
conduta social, personalidade do agente, motivos, circunstâncias e consequências do crime
e comportamento da vítima).
Art. 44, § 2º: “Na condenação igual ou inferior a um ano, a substituição pode ser feita por
multa ou por uma pena restritiva de direitos; se superior a um ano, [...] pode ser substituída
por uma pena restritiva de direitos e multa ou por duas restritivas de direitos.”
Art. 43: “As penas restritivas de direitos são:
I - prestação pecuniária;
II - perda de bens e valores;
III - limitação de fim de semana;
IV - prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas;
V - interdição temporária de direitos;
VI - limitação de fim de semana.”
Art. 45, § 1º: “A prestação pecuniária consiste no pagamento em dinheiro à vítima, a seus
dependentes ou a entidade pública ou privada com destinação social, de importância fixada
pelo juiz, não inferior a 1 (um) salário mínimo nem superior a 360 (trezentos e sessenta)
salários mínimos. O valor pago será deduzido do montante de eventual condenação em ação
de reparação civil, se coincidentes os beneficiários”
Art. 82, § 2º CPC: “A sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor as despesas que
antecipou.”

. Pena de multa (art. 49):


A pena é calculada em dias-multa, cada um sendo fixado em, no mínimo, 1/30 do salário
mínimo, e no máximo 5 salários mínimos. São no mínimo 10 e no máximo 360 dias-multa.
- No caso de ser necessário, a pena de multa poderá ser triplicada.
- A multa, bem como a perda de bens e valores, colabora com o FUNPEN (Fundo
Penitenciário Nacional), diferentemente da prestação pecuniária, que é paga aos afetados.
- A lei de tóxicos (lei 11.343/06) prevê no mínimo 500 e no máximo 1500 (ou 4000?) dias
multa, além da possibilidade de multiplicação do valor por 10 vezes, quando houver
necessidade.

. Fixação da pena de prisão (art. 68):


O cálculo da pena é um processo trifásico. São as fases:
1º. Critérios do art. 59. São as chamadas “circunstâncias judiciais”. Calcula a pena-base, e é
a única fase obrigatória.
2º. Agravantes e atenuantes. O aumento da pena por essas circunstâncias não está
quantificado ou padronizado em lei. Assim como o 1º critério, a pena não pode superar o
limite indicado pela pena.
3º. Causas de aumento e diminuição da pena. Aqui, está expresso o quanto se deve
aumentar a pena via frações, podendo ultrapassar o limite descrito na pena.
. Circunstâncias Judiciais (elementos do art. 59; 1ª etapa para a fixação da pena):
. não há critério matemático legal/jurisprudencial p/ fixação, apenas doutrinários (ex.: 1/6
ou 1/8 para cada circunstância negativa); há alta discricionariedade. (STF/STJ)
. apenas 1 vetorial negativo pode maximizar a pena (STF/STJ).
. não se admite compensação de circunstâncias (diferente de agravantes/atenuantes),
exceto o comportamento da vítima, que apenas pode ser neutro ou favorável ao réu (STJ,
REsp 1.847.745/2020).

- Culpabilidade: É o grau de censurabilidade ou reprovação presente no caso concreto.


Quanto mais reprovável, maior será a pena.
- Antecedentes.
. Súmula 444/STJ: “É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso
para agravar a pena-base.”
. o juiz pode afastar mau antecedente antigo (STF e STJ; prazo de 10 anos). O STJ tem
decisões mais flexíveis, de 9 e 8 anos.
- Conduta social: É o comportamento do agente em sociedade; no convívio social.
. crime cometido com o agente foragido ou em liberdade por progressão de regime autoriza
a negativação; mentir em interrogatório, não trabalhar/estudar e vício em drogas não
justifica.
- Personalidade do agente: Trata-se do comportamento do indivíduo com terceiros; se ele,
em suas relações, respeita os padrões mínimos. Se refere a aspectos morais e psicológicos.
. não é necessária perícia médica.
- Motivos do crime: É o móvel (motivo) do agente que o levou a prática do crime. Em caso
de motivo banal ou ruim, a pena pode ser elevada. Em caso de motivo louvável ou justificável,
pode diminuir, ou até inexistir (como no furto famélico, que é o roubo de produtos devido à
necessidade urgente e relevante, como para saciar a fome).
- Circunstâncias.
- Consequências.
. é válido o a mensuração da repercussão internacional p/ majoração (inf. 786/23, STJ).
- Comportamento da vítima: Embora o crime não possa de modo algum ser justificado, há
casos em que a vítima, com o seu comportamento, contribui ou facilita o agir criminoso: por
seu comportamento temerário ou descuidado, facilita ou até estimula a atuação do
criminoso.
. Circunstâncias agravantes e atenuantes (2ª etapa para a fixação da pena):
- Agravantes (art. 61): São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não
constituem ou qualificam o crime:
I - a reincidência;
. caracteriza reincidência: crime + crime, crime + contravenção, contravenção +
contravenção; não caracteriza: contravenção + crime.
II - ter o agente cometido o crime:
a) por motivo fútil (de pequena importância; desproporcional) ou torpe (que causa
nojo);
b) para facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de
outro crime;
c) à traição (quebra de confiança), de emboscada (agente oculto p/ surpreender a
vítima), ou mediante dissimulação (ocultar intenções), ou outro recurso que dificultou ou
tornou impossível a defesa do ofendido;
d) com emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro meio insidioso ou cruel,
ou de que podia resultar perigo comum;
e) contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge;
f) com abuso de autoridade (responsabilidade sobre outrem) ou prevalecendo-se de
relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, ou com violência contra a mulher
na forma da lei específica;
g) com abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo, ofício, ministério ou
profissão;
h) contra criança, maior de 60 anos, enfermo ou mulher grávida;
. é agravante de natureza objetiva (STJ, AgRg no HC 798.897/2023).
i) quando o ofendido estava sob a imediata proteção da autoridade;
j) em ocasião de incêndio, naufrágio, inundação ou qualquer calamidade pública, ou
de desgraça particular do ofendido;
l) em estado de embriaguez preordenada (embriaguez causada para que o agente
pratique o crime).
. Agravantes no caso de concurso de pessoas (art. 62): A pena será ainda agravada em
relação ao agente que:
I - promove ou organiza a cooperação no crime ou dirige a atividade dos demais
agentes;
II - coage ou induz outrem à execução material do crime;
III - instiga ou determina a cometer crime alguém sujeito à sua autoridade ou não
punível em virtude de condição ou qualidade pessoal;
IV - executa ou participa de crime, mediante paga ou promessa de recompensa.

- Atenuantes (art. 65): São circunstâncias que sempre atenuam a pena:


I - ser o agente menor de 21, na data do fato, ou maior de 70 anos, na data da sentença;
II - o desconhecimento da lei;
III - ter o agente:
a) cometido o crime por motivo de relevante valor social ou moral (é mais importante
do que os motivos do art. 59);
b) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime, evitar-
lhe ou diminuir-lhe as consequências, ou ter, antes do julgamento, reparado o dano;
c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de
autoridade superior, ou sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da
vítima;
d) confessado espontaneamente, perante a autoridade (delegado ou juiz), a autoria do
crime (confessio est regina probationum, ou “a confissão é a rainha das provas”);
. e o juiz utilizar a confissão pré-processual para fundamentar a sentença de
condenação (não é obrigado), incide a atenuante da confissão (vide súmula 545/STJ). Pode
incidir já no flagrante.
. confissão qualificada (confissão + tese de defesa): STF não admite incidência de
atenuante; STJ diverge.
. Súmula 630/STJ: “A incidência da atenuante da confissão espontânea no crime de
tráfico ilícito de entorpecentes exige o reconhecimento da traficância pelo acusado, não
bastando a mera admissão da posse ou propriedade para uso próprio.” Todavia, confessar
furto em crime de roubo faz incidir a atenuante.
e) cometido o crime sob a influência de multidão em tumulto, se não o provocou.
. crime multitudinário (de multidão ou de autoria coletiva).
- As causas agravantes e atenuantes podem concorrer, desde que não colidam (ex.: não
podem provocar bis in idem, seja em benefício ou em malefício do réu).
- Circunstâncias preponderantes (art. 67): “No concurso de agravantes e atenuantes, a pena
deve aproximar-se do limite indicado pelas circunstâncias preponderantes, entendendo-se
como tais as que resultam dos motivos determinantes do crime, da personalidade do agente
e da reincidência.” No conflito entre agravantes e atenuantes, o juiz dará prevalência às
circunstâncias preponderantes (reincidência e menoridade relativa; dentre as duas, a
reincidência é ainda mais importante, especialmente a específica).
- A média de aumento por agravante tende a ser 1/6 na jurisprudência do STJ, sendo que
agravante que extrapole o patamar concretamente justificada.

. Causas de aumento e diminuição da pena (3ª etapa para a fixação da pena):


- Art. 121, § 1º: “Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social
ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da
vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.”
- Art. 14: Diz-se o crime: II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por
circunstâncias alheias à vontade do agente. Parágrafo único - Salvo disposição em contrário,
pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a
dois terços.
- Art. 121, § 7º: “A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o
crime for praticado: [...]”

. Concurso de crimes (arts. 69 a 71):


É quando mediante uma ou mais condutas (ações ou omissões), são praticados dois ou mais
crimes.
. Resumo: cúmulo material: concurso material (art. 69) e formal impróprio (art. 70, 2ª
parte); exasperação: formal próprio (art. 70) e crime continuado (art. 71).
- Concurso material/real (art. 69): “Quando o agente, mediante mais de uma ação ou
omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as
penas privativas de liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa de
penas de reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquela.”
Pode ainda ser dividido entre concurso material homogêneo (ocorre quando o agente,
mediante duas ou mais condutas, pratica dois ou mais crimes idênticos, que são aqueles
previstos no mesmo tipo/art. penal) ou concurso material heterogêneo (envolve tipos penais
diferentes).

- Concurso formal/ficcional (art. 70): “Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão,
pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se a mais grave das penas cabíveis ou,
se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade.
As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes
concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo anterior.
Parágrafo único. Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do art. 69 deste
Código.”
Ao aplicar as penas, o juiz, obrigatoriamente, fará isso de forma individual. Ou seja, fixará
uma pena para cada crime, mesmo que tenha que escolher apenas uma.
Pode ainda ser dividido entre concurso formal homogêneo (ocorre o mesmo tipo de crime;
ex.: homicídios culposos do art. 302 CTB*) ou concurso formal heterogêneo (por meio de
uma única conduta, o agente pratica 2 ou mais crimes diferentes; ex.: homicídio de mulher
que o réu sabia que estava grávida, ou seja, homicídio + aborto; observa-se que, não havendo
ciência da gravidez, ainda pode ser aplicada as consequências, do art. 59).
. Concurso formal próprio/perfeito: Ocorre nas hipóteses de crimes resultantes de um
único desígnio/vontade. A pena é fixada com elevação de 1/6 até 1/2. Atenção: No caso de
o cálculo da pena por essa regra do concurso formal for prejudicial ao condenado, ela é
abandonada, e as penas passam a ser somadas (concurso material benéfico; ex.: tiro que
vara vítima, e causa 1 morte e 1 lesão, sendo que a lesão não era intencional, mas previsível
-> homicídio = 6 anos, e lesão corporal grave = 3 meses -> não haverá elevação de pena, mas
sim a cumulação).
. Concurso formal impróprio/imperfeito: Os crimes são resultado de desígnios autônomos,
ou seja, vontades diferentes (ocorre apenas em crimes dolosos). As penas são somadas,
como no concurso material (ex.: um corintiano que vara 2 são paulinos, intencionalmente,
para economizar munição).

- Crime continuado (art. 71): “Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão,
pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira
de execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação
do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se
diversas, aumentada, em qualquer caso, de 1/6 a 2/3.
Parágrafo único. Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou
grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a
conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias,
aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo,
observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste Código.”
. Tempo: O espaçamento entre um crime e outro deve ser de, no máximo, 30 dias (STF/STJ).
- Preferência: os crimes continuados são julgados em um processo único. Se existirem
processos distintos para cada crime, a continuidade delitiva pode ser reconhecida na fase da
execução formal, por meio do procedimento chamado unificação de penas.
. Lugar: Mesmo município ou em comarcas próximas. Ex.: taxista que pratica estelionato
(art. 171) continuamente pela mesma cidade, dizendo que marcador zerou e cobrando valor
mais alto do que deveria.
. Maneira de execução: Deve ser semelhante (não precisa ser idêntica; mas há diversos
casos interessantes no STJ), e os crimes devem ser da mesma espécie (STF e STJ, embora STJ
tenha precedentes contrários).
Ex.: operador de caixa que furta (art. 155) todos os dias dinheiro da loja; não importa se
rouba a noite ou de manhã, pois é semelhante; mas se um ladrão de celular furta o objeto
em cima de uma mesa, mas no dia seguinte tem que destruir alguma proteção para conseguir
pegar outro objeto, pode ser tratado como crimes diferentes (furto qualificado, art. 155, §
4º, I).
. Teoria mista (objetivo-subjetiva): Necessita de requisitos objetivas (pluralidade de
condutas/crimes da mesma espécie; condições semelhantes de tempo, lugar e execução) e
subjetivos (unidade de desígnios; liame subjetivo de que o crime subsequente foi
continuação do antecedente, pois caso contrário, há mera habitualidade na prática de
crimes. “A unidade de desígnios é requisito para a caracterização da continuidade delitiva,
uma vez que foi adotada por este Tribunal a teoria mista (objetivo-subjetiva).” RHC
150.666/STF.
. Baseia-se na teoria da ficção jurídica (por políticas criminais, visando atenuar a pena; STF,
HC 91.370).
. Súmula 711/STF: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime
permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.”
. Súmula 659/STJ: “A fração de aumento em razão da prática de crime continuado deve ser
fixada de acordo com o número de delitos cometidos, aplicando-se 1/6 pela prática de duas
infrações, 1/5 para três, 1/4 para quatro, 1/3 para cinco, 1/2 para seis e 2/3 para sete ou mais
infrações.” Em caso de estupro de vulnerável: REsp 2.029.482.
. Crime continuado qualificado/específico: Parágrafo único.
. Súmula 605/STF (já superada, por ser anterior a reforma de 1984): “Não se admite
continuidade delitiva nos crimes contra a vida.”
. Crime continuado formal: No caso do crime continuado, também se aplica o concurso
material benéfico.
- Multas no concurso de crimes (art. 72): “No concurso de crimes, as penas de multa são
aplicadas distinta e integralmente.”

. Limite de pena:
- Na redação original da lei 8.072/90, a lei dos crimes hediondos, os crimes poderiam apenas
ser cumpridos no regime fechado. Não existia progressão de pena. Porém, isso foi alterado
após julgamento de 2006 do STF (HC 82.959-S), e apenas o regime inicial de crimes hediondos
passa a ser fechado (lei 11.464/07).
- Art. 75: “O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior
a 40 anos.”, redação de 2019. Se o condenado praticar novos crimes enquanto encarcerado
e for condenado, se fará uma nova unificação de pena, e assim, o limite de 40 anos pode ser
superado. Ex.: um criminoso condenado a 50 anos ficará preso por 40 anos; ao cumprir 20
anos de prisão, comete novo crime e é condenado em mais 15 anos; faz-se nova unificação
da pena -> faltavam 20 anos na prática, mas ele ainda devia 30 anos, portanto, passa a dever
45.
- Progressão de pena (súmula 715, STF): “A pena unificada para atender ao limite [...]
determinado pelo art. 75 do Código Penal, não é considerada para a concessão de outros
benefícios, como o livramento condicional ou regime mais favorável de execução.” Ou seja,
para fins de progressão e outros benefícios, o cálculo de pena usado será o total original, que
pode exceder os 40 anos.

. Sursis (suspensão condicional da pena):


É um benefício secundário, no qual a PPL fica suspensa por um período denominado como
“período de prova”.
Art. 77 (sursis simples): A execução da PPL poderá ser suspensa, de 2 a 4 anos (período de
prova), desde que:
I - a PPL não seja superior a 2 anos;
II - o condenado não seja reincidente em crime doloso (condenação anterior de pena
exclusivamente de multa ou por crime culposo não impede a concessão do benefício);
III - as circunstâncias judiciais do art. 59 devem ser favoráveis;
IV - não seja cabível a substituição da PPL por PRD.
§ 2º: A execução da PPL, não superior a 4 anos, poderá ser suspensa, por 4 a 6 anos, desde
que o condenado seja maior de 70 anos (sursis etário), ou caso razões de saúde (sursis
humanitário) justifiquem a suspensão (em ambos os casos, analisam-se a condição na hora
da sentença).
Art. 78: Durante o prazo da suspensão, o condenado ficará sujeito à observação (será vigiado
pelo Estado) e ao cumprimento das condições estabelecidas pelo juiz.
§ 1º: No primeiro ano do prazo, deverá o condenado prestar serviços à comunidade (art.
46) ou submeter-se à limitação de fim de semana (art. 48).
Art. 80: A suspensão não se estende às PRD nem à multa (assim como a substituição da PRD
não se estende à multa).

. Revogação obrigatória
Art. 81: A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário:
I - é condenado, em sentença irrecorrível, por crime doloso superveniente;
II - não efetua, sem motivo justificado (não é motivo justificado não ter dinheiro), a
reparação do dano ou o pagamento da pena de multa;
III - descumpre a condição do § 1º do art. 78 (prestação de serviços à comunidade ou
limitação de fim de semana no primeiro ano).

. Prorrogação do período de prova:


§ 2º: Se o beneficiário está sendo processado (ação penal, que não é mera investigação) por
outro crime ou contravenção, considera-se prorrogado o prazo da suspensão até o
julgamento definitivo.

. Cumprimento das condições:


Art. 82: Expirado o prazo sem que tenha havido revogação, considera-se extinta a pena
privativa de liberdade.

. Efeitos da condenação:
São efeitos que ocorrem quando o réu é definitivamente condenado.
- Efeitos penais principais: imposição da pena (pena ou m.s. de s.i.) e posterior execução.
- Efeitos penais secundários (possíveis): condição de reincidência e maus antecedentes,
impossibilidade de ANPP, livramento condicional revogado, interrupção do prazo
prescricional, revogação do sursis etc.
* prescrição da pretensão punitiva: encerra os efeitos penais e extrapenais, e afasta
interesse recursal que objetive absolvição (STJ/2020).
* prescrição da pretensão executória: encerra o efeito principal (pena), mas subsistem os
secundários (penais e extrapenais).
* antes da repercussão e consequências da Operação Lava-Jato (2014 – 2021), havia a
possibilidade de prisão em 2ª instância, o que não existe mais, pois a prisão nesse estágio
estaria afrontando o art. 5º, incisos LIV, LVII e LXI da CF/88, estando em desarmonia com a
presunção de inocência.
- Efeitos extrapenais da condenação (genéricos):
1. Tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime (art. 91, I)
- a sentença serve como título executivo (torna certa a obrigação de indenizar, na
debeatur); pode ter valor mínimo fixado (art. 387, IV, CPP; depende de pedido
expresso na inicial e instrução probatória específica, exceto em dano moral em
violência doméstica, onde passa a ser in re ipsa).
- liquidação e discussão do valor real (quantum debeatur): juízo civil
2. A perda em favor da União (confisco), ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de
boa-fé, dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico,
alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito; e do produto do crime ou de
qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a prática do
fato criminoso (art. 91, II). Segundo a lei 11.343/06, os bens utilizados na traficância
serão confiscados pelo Estado (cap. IV)
Art. 243, CF: “As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem
localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na
forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de habitação
popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções
previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5º. Parágrafo único. Todo e
qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins e da exploração de trabalho escravo será confiscado e reverterá
a fundo especial com destinação específica, na forma da lei.”
3. Suspensão dos direitos políticos (ativo, que é ser votado, e passivo, que é votar)
enquanto durarem os efeitos da condenação criminal (art. 15, III, CF). Presos
provisórios (que estão em situação de prisão em flagrante, a prisão temporária ou a
prisão preventiva) podem votar.
4. Condenação definitiva é motivo para demissão por justa causa, desde que não haja
substituição da PPL por PRD ou sursis (art. 482, alínea D, CLT).

- Efeitos extrapenais da condenação (específicos): São efeitos que devem ser


motivadamente declarados na sentença pelo juiz (art. 92, parágrafo único).
1. A perda de cargo, função pública ou mandato eletivo: quando aplicada PPL por tempo
igual ou superior a 1 ano, em crimes praticados com abuso de poder ou violação de
dever para com a Administração Pública; ou quando for aplicada PPL por tempo
superior a 4 anos, nos demais casos. Ou seja, quando não houver vínculo com o
trabalho do servidor público (art. 92, I).

. Medida de segurança:
Relembrando, há duas espécies de infração penal: o crime (delito) e a contravenção penal
(crime anão). E há dois tipos de sanções: a pena (reclusão, detenção e prisão simples) e a
medida de segurança.
Art. 26: “É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental
incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.”
Ou seja, são “incapazes”. O menor de 18 anos é incapaz, porém, tem previsão legal específica
(lei 8.069/90), na qual sofre “medida socioeducativa”. Sendo maior de 18 anos, e se
enquadrando nas previsões do art. 26, o agente também é considerado incapaz, e este
incapaz que é objeto da sanção de medida de segurança.
- Medida de segurança: Trata-se de uma espécie de sanção penal aplicável aos inimputáveis
e semi-imputáveis, que praticam infrações penais e sejam perigosos. Ou seja, existe devido
a periculosidade do agente.

. Espécies de medidas de segurança (art. 96):


I – Medida de segurança detentiva: Internação em hospital de custódia e tratamento
psiquiátrico ou, à falta, em outro estabelecimento adequado. Ocorre em crimes apenados
com reclusão (art. 97).
II – Medida de segurança restritiva: Consiste em tratamento ambulatorial. Pode ocorrer
em crimes apenados com detenção (art. 97).
Parágrafo único: Extinta a punibilidade, não se impõe medida de segurança nem subsiste
a que tenha sido imposta.
. Prazo (art. 97, § 1º): A internação/tratamento ambulatorial será por tempo
indeterminado, perdurando enquanto não for averiguada, mediante perícia médica, a
cessação de periculosidade. O prazo mínimo deverá ser de 1 a 3 anos. Súmula 527, STJ: “O
tempo de duração da medida de segurança não deve ultrapassar o limite máximo da pena
abstratamente cominada ao delito praticado.”
. Perícia médica (art. 97, § 2º): A perícia médica realizar-se-á ao termo do prazo mínimo
fixado e deverá ser repetida de ano em ano, ou a qualquer tempo, se o determinar o juiz da
execução. Destaca-se que o juiz não é obrigado a seguir o laudo médico-psiquiátrico.

. Sentença contra inimputável e semi-imputável:


- inimputável: sentença absolutória imprópria (medida de segurança).
- semi-imputável: condenação (imposição de PPL/PRD com redução ou de medida de
segurança).

. Ação penal:
Inicialmente, a ação penal é primeira acusada ao juiz, desde que haja prova de materialidade
de que o crime ocorreu e indícios de autoria de que aquele é o responsável. A petição inicial
ao juiz pode ser pública ou privada:
- Ação penal pública (art. 100, § 1º): É emitida uma denúncia pelo Ministério Público (MP).
Pode ser uma ação incondicionada (não depende da vontade de qualquer parte para ocorrer)
ou condicionada (depende da representação da vítima contra o réu, ou de requisição do
Ministério da Justiça, que é braço do Poder Executivo).
. Art. 46, CPP: “O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu preso, será de 5
dias, contado da data em que o órgão do MP receber os autos do inquérito policial, e de 15
dias, se o réu estiver solto ou afiançado. [...]”
- Ação penal privada: É emitida uma queixa-crime do querelante (ofendido) contra o
querelado (autor do crime).
. Ação privada subsidiária da pública (art. 5º, LIX, CF): Ocorre quando o MP não atua no
prazo devido. O ofendido ou representante pode ingressar diretamente com a ação penal.
. Art. 100, § 4º: “No caso de morte do ofendido ou de ter sido declarado ausente por
decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou de prosseguir na ação passa ao cônjuge,
ascendente, descendente ou irmão.”
DIREITO PENAL: CRIMES CONTRA A
PESSOA E O PATRIMÔNIO
PROFESSOR: MARCELO LUIZ SEIXAS CABRAL

Dos crimes contra a pessoa

. Do crime contra a vida: homicídio:


- Homicídio simples:
Art. 121: “Matar alguém: Pena - reclusão, de seis a vinte anos.” Por definição, o homicídio
simples é todo homicídio que não seja privilegiado ou qualificado.
. Objetividade jurídica (objeto/bem jurídico protegido pelo crime): A vida.
. Objeto material (pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta): A vítima específica.
. Sujeito ativo (aquele que quiser e puder praticar o crime; quem será responsabilizado): O
autor e coautor e o partícipe (na medida de sua responsabilidade).
. Elemento subjetivo: É o dolo (vontade livre e consciente de produzir o resultado
criminoso) ou culpa. Há dois tipos de dolo:
- dolo direto/determinado: o agente busca causar especificamente o resultado.
- dolo indireto/indeterminado: não buscou diretamente o resultado, mas este estava em
sua linha de raciocínio; era possível e previsível, e mesmo assim o fez. Pode ser subdividido
em: dolo eventual (o agente não quer o resultado, por ele previsto, mas assume o risco de
produzi-lo) e o dolo alternativo (o agente deseja, indistintamente, um ou outro resultado;
sua intenção se destina, com igual intensidade, a produzir um entre vários resultados
previstos como possíveis; ex.: tentar atirar em um desafeto para de matar ou ferir).
- dolo geral (erro sucessivo ou aberratio cause): O agente, pensando já ter consumado o
crime, realiza outra conduta, e essa segunda conduta é a que de fato efetiva a consumação
do crime, sem o conhecimento do autor do crime. O que vale é o dolo inicial. (ex.: homem
espanca esposa, até o ponto que acreditou estar morta. joga o corpo em um lago, mas ao ser
encontrado, a causa da morte foi afogamento)
. Consumação do homicídio: se consuma quando é atingido o resultado “morte”. É um
crime material (possui um resultado naturalístico).
- Crime formal: Há um resultado, mas não é necessário para que ocorra crime (ex.:
extorsão mediante sequestro). Também há o crime de mera conduta, onde a mera prática
já é o crime, não requerendo resultado (ex.: invasão de domicílio).
. Tentativa do homicídio: O crime não é consumado por circunstâncias alheias à vontade
do agente.
- Tentativa perfeita/acabada (ou crime falho): O agente executa o crime até o fim, mas
não obtém o resultado final. Utilizou todos os meios que estavam ao seu alcance, e mesmo
assim não consumou o crime.
- Tentativa imperfeita/inacabada: Não conseguiu executar todos os atos necessários a
tempo. (ex.: atirou na vítima, que não morreu. ao tentar atirar de novo, a arma emperra.
tentas matar na coronhada, mas a viatura chega antes)
- Tentativa branca/incruenta: A vítima nem mesmo é atingida (ex.: errou todos os
disparos). Mesmo assim, há crime, pois será analisado o dolo do agente.
- Tentativa vermelha/cruenta: O agente atingiu a vítima, mas não conseguiu consumar o
delito (ex.: a bala somente perfurou o braço da vítima).
- Autoria colateral/conjunta: Ocorre quando duas ou mais pessoas querem cometer o
mesmo crime concomitantemente, porém, uma desconhecendo a vontade da outra,
contribuem para o resultado criminoso. A diferença para o concurso de pessoas é que no
primeiro é necessário que atuem com intenção de contribuir. O resultado produzido por um
não pode ser atribuído aos demais. Quando identificado aquele que produziu o resultado,
este terá sua responsabilidade por crime consumado, enquanto aos demais autores, por
tentativa. Caso não seja possível identificar o criador final do resultado, todos recebem pena
de crime tentado. (ex.: dois assassinos armam uma emboscada ao mesmo tempo para fulano,
e atiram ao mesmo tempo)

- Homicídio impossível:
Há impropriedade absoluta do objeto material ou ineficácia absoluta do meio, não sendo
possível consumar o crime, e, portanto, não podendo ser punido. (ex.: matar cadáver, ou
matar alguém batendo com um rolo de papel higiênico)

- Homicídio privilegiado (caso de diminuição de pena):


“§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral,
ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o
juiz pode [na verdade, deve] reduzir a pena de um sexto a um terço.”
. Homicídio emocional: Necessita de : I – violenta emoção; II – provocação injusta do
ofendido, e; III – reação imediata.
- Violenta emoção: A pessoa precisa estar completamente dominada pela violenta
emoção logo após a injusta provocação. É diferente de estar influenciado por violenta
emoção (art. 65, III, c; atenuante), caso que não necessita de ser imediato. (ex.: ao ser
injustamente provocado, você apenas comete crime contra o provocador uma semana
depois, influenciado pela violenta emoção. se estivesse dominado, e não influenciado,
cometeria o ato de imediato)
. Relevante valor moral: Ocorre quando o agente cometeu o crime por interesses próprios,
havendo vínculo entre o agente e a vítima. (ex.: eutanásia; matar para aliviar a dor de outro)
. Relevante valor social: Ocorre quando o agente cometeu o crime por interesses coletivos,
humanitários e/ou patrióticos. Não há vínculo entre o agente e a vítima. (ex.: homem que
mata criminoso que ronda o bairro e atormenta a vizinhança)
. Eutanásia (em sentido estrito ou ativa) e ortotanásia (por omissão) se enquadram como.
Já a distanásia não é crime, e mistanásia depende do contexto.

- Homicídio qualificado:
“§ 2° Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II - por motivo fútil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou
cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou
torne impossível a defesa do ofendido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime;
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino;
VII - contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da CF, integrantes do sistema
prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em
decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até
terceiro grau, em razão dessa condição;
VIII - com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido;
IX - contra menor de 14 anos:
Pena - reclusão, de 12 a 30 anos.”
. Mediante recompensa: Sendo no mínimo ofertada a recompensa, nem é necessário que
haja a tradição para que seja considerada esta qualificação. Tanto o contratante quanto o
contratado incorrem no homicídio qualificado.
. Motivo torpe: É um motivo repugnante, desprezível, que causa indignação na sociedade.
. Motivo fútil: É aquele de pequena importância, quando se constata uma
desproporcionalidade.
. Meio insidioso e cruel: Insidioso é o meio fraudulento, usado para praticar o crime sem
que a vítima perceba (ex.: veneno). Já o meio cruel é aquele que provoca na vítima um
intenso e desnecessário sofrimento físico ou mental (ex.: veneno tbm kk; fogo).
- veneno: Qualquer substância mineral, vegetal ou animal (ou seja, qualquer substância)
que em contato com o organismo seja capaz de matar. Apenas se considera veneno o que é
objetivamente veneno. (ex.: embora dar açúcar para um diabético ou remédio para alérgico
possa o matar, nesses casos, a substância não é normalmente um veneno)
- fogo;
- asfixia: É o impedimento da função respiratória, e pode ocorrer pro: 1. esganadura
(impedimento da função respiratória por meio de força muscular, dos pés ou mãos); 2.
enforcamento (ocorre mediante o uso de um laço, acionado pelo peso da vítima); 3.
estrangulamento (o impedimento se dá por laço acionado por força diversa do peso da
vítima); 4. sufocação (a vítima tem vias respiratórias tampadas ou tórax comprimido); 5.
afogamento; 6. confinamento (ocorre asfixia por falta de oxigênio no local que a vítima é
colocada).
- tortura: meios que causam longo e desnecessário sofrimento na vítima.
- perigo comum: ocorre quando há riscos p/ terceiros (diferentemente de danos).
* havendo ausência de motivo (ou caso o motivo não tenha sido descoberto), considera-se
apenas como homicídio simples.
* Súmula 27 do TJDFT: “Presentes duas ou mais qualificadoras no delito, uma deve ser
utilizada para fins de tipificação do crime qualificado e as demais na dosimetria da pena, seja
na pena-base, seja como circunstância agravante, se prevista legalmente como tal, vedado o
bis in idem.”
. Arma de fogo restrita vs. proibida: Restrita é quanto ao calibre, e proibida é sem o registro;
irregular.
- Feminicídio: Art. 121, § 2°: “Se o homicídio é cometido: [...] VI - contra a mulher por razões
da condição de sexo feminino.” (Incluído pela lei 13.104/15; é homicídio qualificado)
§ 2º-A: “Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve:
I - violência doméstica e familiar; II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.”
§ 7º: “A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 até a metade se o crime for praticado:
I - durante a gestação ou nos 3 meses posteriores ao parto;
II - contra pessoa maior de 60 anos, com deficiência ou com doenças degenerativas que
acarretem condição limitante ou de vulnerabilidade física ou mental [ou seja, deve-se ter 60
anos + deficiência ou doença, embora haja teses minoritárias contrárias]
III - na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima;
IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e III do
caput do art. 22 da lei 11.340/06 [Lei Maria da Penha; nesse caso, há o crime de
descumprimento e o crime de homicídio, embora haja a tese da consunção ou crime meio]”.

- Homicídio contra menor de 14 anos: Art. 121, § 2°: “Se o homicídio é cometido: [...] IX -
contra menor de 14 anos.” (Incluído pela lei 14.344/22; é homicídio qualificado)
§ 2º-B: “A pena do homicídio contra menor de 14 anos é aumentada de:
I - 1/3 até a metade se a vítima é pessoa com deficiência ou com doença que implique o
aumento de sua vulnerabilidade;
II - 2/3 se o autor é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro,
tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tiver
autoridade sobre ela.”
. Causa de aumento de pena em homicídio de menor ou de idoso: Art. 121, § 4º: “[...] Sendo
doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 se o crime é praticado contra pessoa menor
de 14 ou maior de 60 anos.”
[Caso haja apenas como qualificador o homicídio de menor, não pode ser aplicado esta causa
de aumento da pena. Porém, caso haja 2 qualificadores (ex.: homicídio torpe e contra
menor), pode-se usar o qualificador torpe e a causa de aumento de homicídio de menor de
14 anos.]

- Causa de aumento de pena por milícia privada (art. 121, § 6º): “A pena é aumentada de
1/3 até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de
serviço de segurança, ou por grupo de extermínio.”
- Homicídio culposo: Art. 121, § 3º: “Se o homicídio é culposo: Pena - detenção, de 1 a 3
anos.”
. Aumento de pena em homicídio culposo (§ 4º): “No homicídio culposo, a pena é
aumentada de 1/3 se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou
ofício [ou seja, imperícia], ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não
procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante.”
. Perdão judicial (§ 5º): “Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar
a pena, se as consequências de a infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que
a sanção penal se torne desnecessária.”
O juiz emite uma sentença declaratória de extinção da punibilidade (vide art. 107, IX). O juiz
primeiro deve reconhecer a existência do crime e que tal agente fora culpado, mas ele sequer
calcula a pena.

. Do crime contra a vida: induzimento, instigação ou auxílio a suicídio ou a automutilação:


Art. 122: “Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a praticar automutilação ou prestar-
lhe auxílio material para que o faça: Pena - reclusão, de 6 meses a 2 anos.”
. induzir: é dar a ideia, colocar na cabeça da vítima.
. instigar: é incentivar a ideia que a vítima já tem.
. apenas o caput admite tentativa; as formas qualificadas abaixo não, pois dependem de
resultado.
§ 1º: Se da automutilação ou da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza
grave ou gravíssima [...]: Pena - reclusão, de 1 a 3 anos.
§ 2º: Se o suicídio se consuma ou se da automutilação resulta morte: Pena - reclusão, de 2
a 6 anos.
§ 3º: A pena é duplicada: I - se o crime é praticado por motivo egoístico, torpe ou fútil [exs.:
matar amigo rico para se beneficiar de alguma maneira; por vingança]; II - se a vítima é menor
[entre 14 e 18 anos] ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência
[deve ter mais de 18 anos].
§ 4º: A pena é aumentada até o dobro se a conduta é realizada por meio da rede de
computadores, de rede social ou transmitida em tempo real.
§ 5º: Aumenta-se a pena em metade se o agente é líder ou coordenador de grupo ou de
rede virtual.
§ 6º: Se resulta em lesão corporal de natureza gravíssima e é cometido contra menor de 14
anos ou contra quem, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário
discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer
resistência, responde o agente pelo crime descrito no art. 129, § 2º.
§ 7º: Se resulta em morte e é cometido contra menor de 14 anos ou contra quem não tem
o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode
oferecer resistência, responde o agente pelo crime de homicídio.

. Infanticídio:
Art. 123: “Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou
logo após: Pena - detenção, de dois a seis anos.”
- é crime próprio [e não de mão própria, pois admite concurso de pessoas]
- o estado puerperal pode durar de instantes a dias; é comprovado por laudo médio
psiquiátrico.
- caso não haja apenas influência, mas a mulher esteja completamente dominada por esse
estado, não tendo ciência alguma de seus atos, ela é inimputável, conforme o art. 26.
- Partícipe em crime de infanticídio:
. Posição minoritária: O estado puerperal é condição personalíssima, e não se comunica
entre os envolvidos. A mulher responderá por infanticídio, e outra pessoa envolvida, por
homicídio. (Nelson Hungria, que se retratou posteriormente)
. Posição majoritária: O estado puerperal deve se comunicar entre os envolvidos, e,
portanto, todos responderão pelo mesmo crime de feminicídio. (Edgar Magalhaes Noronha)
- Nesse sentido, art. 30: “Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter
pessoal, salvo quando elementares do crime.”
- Vide erro quanto a pessoa (art. 20, § 3º): A regra é que as pessoas respondam pelos seus
atos a título de dolo. Se houver erro quanto a pessoa, o agente responderá como se tivesse
praticado o crime contra a pessoa correta. (ex.: corno que mata vizinha achando ser sua ex)

. Aborto:
- Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento:
. Art. 124: “Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: Pena -
detenção, de um a três anos.” Aqui sujeito passivo é o Estado, que tem o interesse no
nascimento com vida do produto da concepção.
- Aborto provocado por terceiro:
. Art. 125: “Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de três a
dez anos.” O sujeito passivo aqui é tanto o interesse do Estado, como no art. 124, como
também a mulher grávida.
. Art. 126: “Provocar aborto com o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de um a
quatro anos.”
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de 14 anos,
ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave
ameaça ou violência.”
- Aborto qualificado:
. Art. 127: “As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas em 1/3, se,
em consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre
lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe
sobrevém a morte.
- Aborto legal/permitido:
. Art. 128: “Não se pune o aborto praticado por médico:
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante (aborto necessário); [é obrigatório,
a gestante ou 3º não pode fazer recusa]
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante
ou, quando incapaz, de seu representante legal (aborto no caso de gravidez resultante de
estupro; aborto sentimental, humanitário, ético ou piedoso).”
. Aborto anencefálico: A gestante tem liberdade para decidir se interrompe a gravidez caso
seja constatada a anencefalia do feto (condição caracterizada pela ausência parcial do
encéfalo e da calota craniana, que corresponde à morte cerebral). Fonte: ADPF 54, STF.
* [pode-se dizer que a objetividade jurídica do aborto é esse interesse do Estado, ou ainda,
que é a vida de maneira indireta; no caso do art. 125, também é a integridade física da
gestante, que também é sujeito passivo]
- aborto eugênico/eugenésico, microcefálico, e o econômico/miserável/social: todos crimes.
. Dos crimes contra a pessoa: lesão corporal:
- Lesão corporal leve:
Art. 129: “Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de 3
meses a 1 ano.”
- integridade física: é preciso deixar marcas no corpo da vítima.
- saúde: é a importunação que causa problemas que não são de ordem física, mas sim de
ordem psicológica ou nervosa.

- Lesão corporal de natureza grave:


Art. 129, § 1º: Se resulta:
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 dias;
. significa que a vítima não pode exercer suas atividades cotidianas, profissionais ou do lar,
por período maior que 30 dias.
II - perigo de vida;
. ocorre perigo efetivo e concreto que ocorreu em decorrência da lesão, atestado por laudo
médico.
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
. há a redução da capacidade funcional da vítima; prejuízo de algum dos 5 sentidos ou de
funções desenvolvidas pelos órgãos corporais (respiração, locomoção, reprodução, etc).
IV - aceleração de parto:
. deve apenas acelerar o momento parto, torna-lo precoce. O feto ainda nasce com vida.
Pena - reclusão, de 1 a 5 anos.

- Lesão corporal de natureza gravíssima:


Art. 129, § 2°: Se resulta:
I - Incapacidade permanente para o trabalho;
. lesão que torne a pessoa absolutamente incapaz de exercer qualquer trabalho.
II - enfermidade incurável;
. há necessidade de ausência de funcionamento.
III perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
. há necessidade de ausência de funcionamento do órgão, membro ou função de maneira
completa.
IV - deformidade permanente;
V - aborto:
Pena - reclusão, de 2 a 8 anos.

- Lesão corporal seguida de morte:


Art. 129, § 3°: “Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o
resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo: Pena - reclusão, de 4 a 12 anos.”

- Lesão corporal privilegiada (causa de diminuição da pena):


Art. 129, § 4°: “Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou
moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da
vítima, o juiz pode reduzir a pena de um 1/6 a um 1/3.”
. Substituição da pena (§ 5°): O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a
pena de detenção pela de multa:
I - se a lesão for privilegiada;
II - se as lesões são recíprocas;
III - se a lesão for culposa (§ 8º).
. Lesão corporal culposa (§ 6°): “Se a lesão é culposa: Pena - detenção, de 2 meses a 1 ano.”
- Aumento de pena (§ 7º): Aumenta-se a pena de 1/3 se ocorrer qualquer das hipóteses
do § 4º (sendo culposo, se decorre de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou
ofício; se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima; não procura diminuir as
consequências do seu ato; foge para evitar prisão em flagrante) do art. 121.

- Lesão corporal de natureza doméstica:


Art. 129, § 9º: “Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou
companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o
agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: Pena - detenção, de 3
meses a 3 anos. (Redação dada pela lei 11.340/06)
. Em caso de lesões graves (§ 10): Nos casos de lesão grave, gravíssima ou lesão seguida de
morte, se as circunstâncias são as indicadas no § 9º, aumenta-se a pena em 1/3. (Incluído
pela lei 10.886/04)
. Contra deficiente (§ 11): Na hipótese do § 9º, a pena será aumentada de um terço se o
crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência. (Incluído pela lei 11.340/06)

- Causas de aumento de lesão corporal:


. Aumento de pena (§ 7º): Aumenta-se a pena de 1/3 se ocorrer qualquer das hipóteses
dos § 4º (sendo doloso, se o crime é praticado contra menor de 14 ou maior de 60 anos) e
6º (se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de
segurança, ou por grupo de extermínio) do art. 121.
. Contra agente de segurança pública (art. 129, § 12): Se a lesão for praticada contra
autoridade ou agente de segurança pública (arts. 142 e 144, CF), integrantes do sistema
prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência
dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em
razão dessa condição, a pena é aumentada de 1/3 a 2/3. (Incluído pela lei 13.142/15)
. Contra mulher (art. 129, § 13): Se a lesão for praticada contra a mulher, por razões da
condição do sexo feminino: Pena - reclusão, de 1 a 4 anos. (Incluído pela lei 14.188/21)

. Dos crimes contra a pessoa: periclitação da vida e da saúde:


- Perigo de contágio venéreo:
Art. 130: “Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a
contágio de moléstia venérea (DST), de que sabe ou deve saber que está contaminado: Pena
- detenção, de 3 meses a 1 ano, ou multa.”
. não pode ser algo permanente. Por exemplo, caso transmita AIDS, que é considerada
doença permanente (enfermidade incurável), responde-se por lesão gravíssima (art. 129, §
2°, II).
. a consumação independe de efetivo contágio da vítima (eventual lesão culposa ficaria
absorvida).
§ 1º Se é intenção do agente transmitir a moléstia: Pena - reclusão, de 1 a 4 anos, e multa.
. caso resulte lesão grave/gravíssima ou lesão seguida de morte, responde pelo 129, nos §s
respectivos; ou pelo 121, em caso de morte.
§ 2º Somente se procede mediante representação.
Vide art. 234-A: Nos crimes contra a dignidade sexual, a pena é aumentada: (Incluído pela
lei 12.015/09) IV - de 1/3 a 2/3, se o agente transmite à vítima doença sexualmente
transmissível de que sabe ou deveria saber ser portador [...]. (Redação dada pela lei
13.718/18)

- Perigo de contágio de moléstia grave:


Art. 131: “Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está
contaminado, ato capaz de produzir o contágio: Pena - reclusão, de 1 a 4 anos, e multa.”
. exclui-se o dolo eventual (há apenas dolo direto). Se culposamente transmite a doença,
responde por lesão culposa.
. caso resulte lesão grave/gravíssima ou lesão seguida de morte, responde pelo 129, nos §s
respectivos; ou pelo 121, em caso de morte.

- Perigo para a vida ou saúde de outrem:


Art. 132: “Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente: Pena - detenção,
de 3 meses a 1 ano, se o fato não constitui crime mais grave.”
. é crime de perigo concreto (deve-se provar o perigo).
. devido a subsidiariedade expressa, não incide concurso formal.
Parágrafo único. A pena é aumentada de 1/6 a 1/3 se a exposição decorre do transporte de
pessoas para a prestação de serviços em estabelecimentos de qualquer natureza, em
desacordo com as normas legais. (Incluído pela lei 9.777/98)
. deve haver o dolo de estar em desacordo com as normas e de expor ao perigo.
. Estatuto da Pessoa Idosa (lei 10.741/03): Art. 99: “Expor a perigo a integridade e a saúde,
física ou psíquica, da pessoa idosa, submetendo-a a condições desumanas ou degradantes
ou privando-a de alimentos e cuidados indispensáveis, quando obrigado a fazê-lo, ou
sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado: (Redação dada pela lei 14.423/22) Pena –
detenção de 2 meses a 1 ano e multa.
§ 1º Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena – reclusão de 1 a 4 anos.
§ 2º Se resulta a morte: Pena – reclusão de 4 a 12 anos.”
- Abandono de incapaz:
Art. 133: “Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e,
por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono: Pena -
detenção, de 6 meses a 3 anos.
§ 1º - Se do abandono resulta lesão corporal grave:
Pena - reclusão, de 1 a 5 anos.
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de 4 a 12 anos.”
. sujeito passivo: qualquer pessoa incapaz de se gerir, devido a idade ou doença. É
incapacidade real (não se confunde com a civil).
. sujeito ativo: é crime próprio (apenas certas pessoas em situações específicas podem
comete-lo). É aquele que tem a obrigação de zelar pelo incapaz (obrigação essa que decorre
de lei ou de contrato).
. Causas de aumento de pena:
§ 3º - As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um 1/3:
I - se o abandono ocorre em lugar ermo;
. deve ser relativamente ermo, ou configurará meio de homicídio.
II - se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima.
III - se a vítima é maior de 60 anos. (Incluído pela lei 10.741/03)
. Estatuto da Pessoa com Deficiência (lei 13.146/15): Art. 90: “Abandonar pessoa com
deficiência em hospitais, casas de saúde, entidades de abrigamento ou congêneres: Pena -
reclusão, de 6 meses a 3 anos, e multa.
Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem não prover as necessidades básicas de
pessoa com deficiência quando obrigado por lei ou mandado.”

- Exposição ou abandono de recém-nascido:


Art. 134: “Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria: Pena -
detenção, de 6 meses a 2 anos.”
. se o agente é notoriamente desonesto, afasta-se o fim de preservação da honra.
. pressupõe-se que o nascimento da criança tenha sido sigiloso.
. deve ser praticado pela mãe infiel ou pai adulterino biológico.
. caso não presente os requisitos acima, responde-se pelo art. 133.
§ 1º Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - detenção, de 1 a 3 anos.
§ 2º Se resulta a morte: Pena - detenção, de 2 a 6 anos.

- Omissão de socorro:
Art. 135: “Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança
abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e
iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública: Pena -
detenção, de 1 a 6 meses, ou multa.”
. criança: é menor de 12 anos (ECA).
. apenas no caso de grave e iminente perigo há perigo concreto (onde deve-se provar a
existência), sendo nos demais casos presumível o perigo (iuris et de iure).
. subsiste o crime com resistência, exceto se impossibilitar a atuação.
. é crime omissivo próprio (não admite o conatus).
Parágrafo único: A pena é aumentada de metade, se resulta lesão corporal de natureza
grave, e triplicada, se resulta a morte.
. Código de Trânsito Brasileiro (lei 9.503/97): Art. 304: “Deixar o condutor do veículo, na
ocasião do sinistro, de prestar imediato socorro à vítima, ou, não podendo fazê-lo
diretamente, por justa causa, deixar de solicitar auxílio da autoridade pública: (Redação dada
pela Lei 14.599/23) Penas - detenção, de 6 meses a 1 ano, ou multa, se o fato não constituir
elemento de crime mais grave.
Parágrafo único. Incide nas penas previstas neste artigo o condutor do veículo, ainda que a
sua omissão seja suprida por terceiros ou que se trate de vítima com morte instantânea ou
com ferimentos leves. [a doutrina alega inaplicabilidade do parágrafo, exceto no caso de
ferimentos leves, pois supressão por 3ºs ou vítima morta exclui a exigência de socorro]
. não é aplicado ao condutor que tenha provocado morte ou lesão culposa (pois pagará por
estas, que constituem delito mais grave; art. 302, § 1º, III e art. 303, § 1º, do CTB).
. a norma é direcionada ao condutor que se envolveu em acidente sem culpa.

- Condicionamento de atendimento médico-hospitalar emergencial:


Art. 135-A: “Exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer garantia, bem como o
preenchimento prévio de formulários administrativos, como condição para o atendimento
médico-hospitalar emergencial: Pena - detenção, de 3 meses a 1 ano, e multa.” (Incluído pela
Lei 12.653/12).
Parágrafo único. A pena é aumentada até o dobro se da negativa de atendimento resulta
lesão corporal de natureza grave, e até o triplo se resulta a morte.
. caso de emergência: implicam risco imediato; caso de urgência: são resultantes de
acidentes pessoais ou de complicações no processo gestacional. (art. 32-C da lei 9.656/98,
que dispõe sobre os planos e seguros privados de assistência à saúde , com redação da lei
11.935/09)
. caso a exigência seja para atendimento médico de urgência, aplica-se o art. 135.
. apenas é cometido em hospitais particulares (e jamais pela pessoa jurídica).
. Estatuto da Pessoa Idosa (lei 10.741/03): Art. 103: “Negar o acolhimento ou a permanência
da pessoa idosa, como abrigada, por recusa desta em outorgar procuração à entidade de
atendimento: (Redação dada pela Lei 14.423/22) Pena – detenção de 6 meses a 1 ano e
multa.

- Maus-tratos:
Art. 136: “Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou
vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de
alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou
inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina: Pena - detenção, de 2 meses
a 1 ano, ou multa.”
. crime de ação múltipla (tipo misto alternativo) e de forma vinculada.
. haverá crime único caso múltiplas condutas sejam cometidas no mesmo contexto fático
com a mesma vítima.
. tentativa apenas admitida na forma comissiva.
§ 1º Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de 1 a 4 anos.
§ 2º Se resulta a morte: Pena - reclusão, de 4 a 12 anos.
§ 3º Aumenta-se a pena de 1/3, se o crime é praticado contra menor de 14 anos. (Incluído
pela Lei 8.069/90)
. Estatuto da Pessoa Idosa: Art. 99: “Expor a perigo a integridade e a saúde, física ou psíquica,
da pessoa idosa, submetendo-a a condições desumanas ou degradantes ou privando-a de
alimentos e cuidados indispensáveis, quando obrigado a fazê-lo, ou sujeitando-a a trabalho
excessivo ou inadequado: (Redação dada pela Lei 14.423/22) Pena – detenção de 2 meses a
1 ano e multa.
§ 1º Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena – reclusão de 1 a 4 anos. § 2º
Se resulta a morte: Pena – reclusão de 4 a 12 anos.”
. ECA: Art. 232: “Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a
vexame ou a constrangimento: Pena – detenção de 6 meses a 2 anos.”
. Lei de Tortura (Lei 9.455/97): Art. 1º: “Constitui crime de tortura: [...] II - submeter alguém,
sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso
sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter
preventivo. Pena – reclusão, de 2 a 8 anos.”
. se diferencia do crime de maus-tratos (crime de perigo), por ser crime de dano.
. a lei revogou o art. 233 do ECA: “Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade,
guarda ou vigilância a tortura [...]”
. Crimes Ambientais (Lei 9.605/98): Art. 32: “Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou
mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos: Pena -
detenção, de 3 meses a 1 ano, e multa.
§ 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo,
ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos.
§ 1º-A Quando se tratar de cão ou gato, a pena para as condutas descritas no caput deste
artigo será de reclusão, de 2 a 5 anos, multa e proibição da guarda. (Incluído pela Lei
14.064/20)
§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal.”
. vide ADPF 640: vedado o abate de animais apreendidos em situação de maus-tratos.

- Rixa:
Art. 137: “Participar de rixa, salvo para separar os contendores: Pena - detenção, de 15 dias
a 2 meses, ou multa.”
. deve ter ao menos 3 pessoas participando ativamente da rixa.
Parágrafo único. Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se, pelo fato
da participação na rixa, a pena de detenção, de 6 meses a 2 anos.
. ocorre responsabilidade penal objetiva.

. Dos juizados especiais criminais (JECRIM):


Lei 9.099/95: “Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes togados ou togados e
leigos, tem competência para a conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais
de menor potencial ofensivo, respeitadas as regras de conexão e continência.
(Redação dada pela lei 11.313/06) [...]
Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta
lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2
anos, cumulada ou não com multa. (Redação dada pela lei 11.313/06)”

. Dos crimes contra a honra:


- Calúnia:
Art. 138: “Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime: Pena -
detenção, de 6 meses a 2 anos, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga.
§ 2º - É punível a calúnia contra os mortos.”
- a ação penal nos crimes contra a honra é de iniciativa privada (queixa-crime).
- a lei exige que na procuração, que instrui a queixa-crime, conste, ao menos
resumidamente, a narrativa do fato criminoso.
- a calunia protege a honra objetiva (a visão dos outros sobre a pessoa), portanto, tanto
pessoas físicas quanto jurídicas podem ser vítimas.
- pode apenas ocorrer por dolo, ou seja, caso saiba que o fato é falso, e mesmo assim faça a
acusação/alegação. Caso prove que acreditava que o fato seria verdadeiro (erro de tipo), não
há crime (o fato se torna atípico).
- o fato imputado deve ser crime, ou seja, imputar contravenção penal não é calúnia, mas
sim difamação.
- Exceção da verdade: É quando você prova que de fato a acusação da calúnia foi verdadeira.
Art. 138, § 3º: “Admite-se a prova da verdade, salvo:
I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado
por sentença irrecorrível;
II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no inciso I do art. 141 (contra o
Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro);
III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença
irrecorrível.”

- Difamação:
Art. 139: “Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação: Pena - detenção,
de 3 meses a 1 ano, e multa.”
- também protege a honra objetiva.
- deve haver o dolo de imputar fato ofensivo a reputação da vítima.
- pouco importa se o fato imputado é falso ou verdadeiro, diferentemente da calúnia, no
qual precisa ser conscientemente falso.
- Exceção da verdade: Em regra, não é cabível, pois pouco importa se o fato é verdadeiro ou
falso. Todavia, há uma exceção:
Art. 139, parágrafo único: “A exceção da verdade somente se admite se o ofendido é
funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções.”
- Exceção de notoriedade: É alegada a falta de potencial ofensivo da conduta, uma vez que
o fato imputado já seria público. Não é uma defesa aceita no direito brasileiro.
Mesmo assim, CPP, art. 523: “Quando for oferecida a exceção da verdade ou da notoriedade
do fato imputado, o querelante poderá contestar a exceção no prazo de dois dias, podendo
ser inquiridas as testemunhas arroladas na queixa, ou outras indicadas naquele prazo, em
substituição às primeiras, ou para completar o máximo legal.”
. Lei de Crimes de Abuso de Autoridade (Lei 13.869/19): Art. 38: “Antecipar o responsável
pelas investigações, por meio de comunicação, inclusive rede social, atribuição de culpa,
antes de concluídas as apurações e formalizada a acusação: Pena - detenção, de 6 meses a 2
anos, e multa.”

- Injúria:
Art. 140: “Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: Pena - detenção, de 1 a
6 meses, ou multa.”
- protege-se a honra subjetiva da vítima, que é dividida entre a dignidade (atributos morais)
e decoro (atributos físicos ou intelectuais).
- por proteger a honra subjetiva, pessoa jurídica não pode ser vítima de injúria,
diferentemente de calúnia e difamação, que protegem a honra objetiva.
- Perdão judicial: Art. 140, § 1º: “O juiz pode deixar de aplicar a pena:
I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria;
II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.”
- Injúria real: Art. 140, § 2º: “Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua
natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes (humilhantes): Pena - detenção,
de 3 meses a 1 ano, e multa, além da pena correspondente à violência.” Trata-se de concurso
formal de crimes, no caso de violência. Caso seja concurso de vias de fato e injúria, as vias de
fato são absorvidas pela injúria.
- Injúria qualificada: Art. 140, § 3º: “Se a injúria consiste na utilização de elementos
referentes a religião ou à condição de pessoa idosa ou com deficiência: Pena - reclusão, de
1 a 3 anos, e multa.” (Redação dada pela lei 14.532/23)
. Lei do Racismo (Lei 7.716/89): Art. 2º-A: “Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o
decoro, em razão de raça, cor, etnia ou procedência nacional. (Incluído pela Lei 14.532/23)
Pena: reclusão, de 2 a 5 anos, e multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada de metade se o crime for cometido mediante concurso
de 2 ou mais pessoas.”
. ADO 26: homofobia e transfobia é equiparada ao crime de racismo.
. Estatuto da Pessoa Idosa (Lei 10.741/03): Art. 96: “Discriminar pessoa idosa, impedindo ou
dificultando seu acesso a operações bancárias, aos meios de transporte, ao direito de
contratar ou por qualquer outro meio ou instrumento necessário ao exercício da cidadania,
por motivo de idade: Pena – reclusão de 6 meses a 1 ano e multa.
§ 1º Na mesma pena incorre quem desdenhar, humilhar, menosprezar ou discriminar pessoa
idosa, por qualquer motivo.
§ 2º A pena será aumentada de 1/3 se a vítima se encontrar sob os cuidados ou
responsabilidade do agente.
§ 3º Não constitui crime a negativa de crédito motivada por superendividamento da pessoa
idosa. (Redação dada pela Lei 14.423/22)”
. Lei de Discriminação aos Portadores de HIV (Lei 12.984/14): Art. 1º: “Constitui crime
punível com reclusão, de 1 a 4 anos, e multa, as seguintes condutas discriminatórias contra
o portador do HIV e o doente de aids, em razão da sua condição de portador ou de doente: I
- recusar, procrastinar, cancelar ou segregar a inscrição ou impedir que permaneça como
aluno em creche ou estabelecimento de ensino de qualquer curso ou grau, público ou
privado; II - negar emprego ou trabalho; III - exonerar ou demitir de seu cargo ou emprego;
IV - segregar no ambiente de trabalho ou escolar; V - divulgar a condição do portador do HIV
ou de doente de aids, com intuito de ofender-lhe a dignidade; VI - recusar ou retardar
atendimento de saúde.”
. Desacato: Art. 331: “Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela:
Pena - detenção, de 6 meses a 2 anos, ou multa.”
. proferida injúria in officio, é desacato; entendo que o mesmo em caso de propter officium.
. Código Eleitoral (Lei 4.737/65): Art. 326: Injuriar alguém, na propaganda eleitoral, ou
visando a fins de propaganda, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: Pena - detenção até
6 meses, ou pagamento de 30 a 60 dias-multa.
§ 1º O juiz pode deixar de aplicar a pena: I - se o ofendido, de forma reprovável, provocou
diretamente a injúria; II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.
§ 2º Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou meio
empregado, se considerem aviltantes: Pena - detenção de 3 meses a 1 ano e pagamento de
5 a 20 dias-multa, além das penas correspondentes à violência.”
. Competência: Mesmo que divulgada pela internet, é de competência estadual. Caso seja
injúria racial (ou homofóbica/transfóbica) em rede social de abrangência internacional, é de
competência federal (CCs 163.420 e 191.970, 2020 e 2022, STJ).
. Imunidades: Pode incidir aos deputados (federais e estaduais), senadores, vereadores e aos
advogados.
Art. 53, CF: “Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de
suas opiniões, palavras e votos.” Art. 27, § 1º, CF: “Será de quatro anos o mandato dos
Deputados Estaduais, aplicando- sê-lhes as regras desta Constituição sobre sistema eleitoral,
inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de mandato, licença, impedimentos e
incorporação às Forças Armadas.” Art. 29, VIII, CF: “Inviolabilidade dos Vereadores por suas
opiniões, palavras e votos no exercício do mandato e na circunscrição do Município.” Art.
133, CF: “O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus
atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei.”

. Disposições comuns dos crimes contra a honra (art. 141 ao 145):


- Causas de aumento de pena: Art. 141: As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se
de 1/3, se qualquer dos crimes é cometido:
I - contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro;
II - contra funcionário público, em razão de suas funções; (Redação dada pela lei 14.197/21)
III - na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação;
IV - contra criança, adolescente, pessoa maior de 60 anos ou pessoa com deficiência, exceto
na hipótese prevista no § 3º do art. 140. (Redação dada pela lei 14.344/22)
§ 1º Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa, aplica-se a pena
em dobro. (Redação dada pela lei 13.964/19)
§ 2º Se o crime é cometido ou divulgado em quaisquer modalidades das redes sociais da
rede mundial de computadores, aplica-se em triplo a pena. (Incluído pela lei 13.964/19)

- Exclusão do crime de injúria ou difamação: Art. 142: Não constitui injúria ou difamação
punível:
I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador;
. vide desacato (art. 331).
. ocorre apenas em processos judiciais, nunca em administrativos ou diversos.
II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando inequívoca
a intenção de injuriar ou difamar;
III - o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou informação
que preste no cumprimento de dever do ofício. (por ex., delegado acusando alguém de má
índole em uma denúncia, ou o juiz transcrevendo palavrões que constam nos autos do
processo na sentença)
Parágrafo único - Nos casos dos incisos I e III, responde pela injúria ou pela difamação quem
lhe dá publicidade.

- Retratação: Art. 143: O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da


calúnia ou da difamação, fica isento de pena.
. é ato unilateral do querelado, não dependendo da concordância do querelante.
. não há possibilidade de retratação na injúria.
Parágrafo único. Nos casos em que o querelado tenha praticado a calúnia ou a difamação
utilizando-se de meios de comunicação, a retratação dar-se-á, se assim desejar o ofendido,
pelos mesmos meios em que se praticou a ofensa. (Incluído pela lei 13.188/15)

- Explicações: Art. 144: “Se, de referências, alusões ou frases, se infere calúnia, difamação
ou injúria, quem se julga ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele que se recusa a
dá-las ou, a critério do juiz (na verdade, da parte autora), não as dá satisfatórias, responde
pela ofensa (no caso, tem-se contra si ação penal iniciada).”

- Tipo de ação: Art. 145: Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante
queixa, salvo quando, no caso do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal. [nesse
caso, passa a ser ação penal pública condicionada a representação da vítima, caso seja lesão
leve. Em caso de lesão grave/gravíssima, passa a ser ação penal pública incondicionada.]
Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no caso do inciso I
do art. 141 (contra o Presidente da República ou chefe de governo estrangeiro), e mediante
representação, no caso do inciso II do art. 141 (contra funcionário público, em razão de suas
funções), bem como no caso do § 3º do art. 140 (injúria qualificada; utilização de elementos
referentes a religião ou à condição de pessoa idosa ou com deficiência). (Redação dada pela
lei 12.033/09)
. Súmula 714, STF: “É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do MP,
condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de
servidor público em razão do exercício de suas funções.”

. Dos crimes contra a liberdade individual: contra a liberdade pessoal.


- Constrangimento ilegal:
Art. 146: “Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver
reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei
permite, ou a fazer o que ela não manda: Pena - detenção, de 3 meses a 1 ano, ou multa.”
. a ilegitimidade da pretensão pode ser: absoluta (o agente não tem direito a
ação/omissão); ou relativa (tem direito mas a vítima não pode ser compelida).
. não há crime quando o constrangimento objetiva impedir a realização de ação/omissão
proibida em lei (excludente de ilicitude); mas tentar evitar realização de ato meramente
imoral ainda caracteriza.
. a grave ameaça não precisa ser injusta (ao contrário do art. 147).
. sujeito passivo: qualquer pessoa dotada de capacidade de autodeterminação.
. Aumento de pena:
§ 1º As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, quando, para a execução do crime,
se reúnem mais de três pessoas, ou há emprego de armas.
. se a união de 4 ou mais pessoas for estável e permanente, haverá concurso material entre
constrangimento ilegal simples e associação criminosa (art. 288).
. os crimes de posse/porte ilegal de arma de fogo (art. 12/14 da Lei 10.826/03) não são
absorvidos, havendo concurso material.
§ 2º Além das penas cominadas, aplicam-se as correspondentes à violência.
§ 3º Não se compreendem na disposição deste artigo:
I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu
representante legal, se justificada por iminente perigo de vida;
II - a coação exercida para impedir suicídio.
. suicídio não é crime, mas é conduta ilícita.
. Lei de Crimes de Abuso de Autoridade (Lei 13.869/19): Art. 13: “Constranger o preso ou o
detento, mediante violência, grave ameaça ou redução de sua capacidade de resistência, a:
I - exibir-se ou ter seu corpo ou parte dele exibido à curiosidade pública; II - submeter-se a
situação vexatória ou a constrangimento não autorizado em lei; III - produzir prova contra si
mesmo ou contra terceiro: Pena - detenção, de 1 a 4 anos, e multa, sem prejuízo da pena
cominada à violência.”
Art. 24: “Constranger, sob violência ou grave ameaça, funcionário ou empregado de
instituição hospitalar pública ou privada a admitir para tratamento pessoa cujo óbito já tenha
ocorrido, com o fim de alterar local ou momento de crime, prejudicando sua apuração: Pena
- detenção, de 1 a 4 anos, e multa, além da pena correspondente à violência.”
. Estatuto da Pessoa Idosa: Art. 107: “Coagir, de qualquer modo, a pessoa idosa a doar,
contratar, testar ou outorgar procuração: (Redação dada pela Lei 14.423/22) Pena – reclusão
de 2 a 5 anos.”
. CDC (Lei 8.078/90): Art. 71: “Utilizar, na cobrança de dívidas, de ameaça, coação,
constrangimento físico ou moral, afirmações falsas incorretas ou enganosas ou de qualquer
outro procedimento que exponha o consumidor, injustificadamente, a ridículo ou interfira
com seu trabalho, descanso ou lazer: Pena – Detenção de 3 meses a 1 ano e multa.”
. Lei de Tortura: Art. 1º: “Constitui crime de tortura: I - constranger alguém com emprego de
violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental: [...] b) para provocar
ação ou omissão de natureza criminosa [...] Pena - reclusão, de 2 a 8 anos.”
. responderá por tortura e pelo crime causado (mas não responderá em caso de
contravenção).

- Intimidação sistemática (bullying):


Art. 146-A: “Intimidar sistematicamente, individualmente ou em grupo, mediante violência
física ou psicológica, uma ou mais pessoas, de modo intencional e repetitivo, sem motivação
evidente, por meio de atos de intimidação, de humilhação ou de discriminação ou de ações
verbais, morais, sexuais, sociais, psicológicas, físicas, materiais ou virtuais: (Incluído pela Lei
14.811/24) Pena - multa, se a conduta não constituir crime mais grave.”
. Intimidação sistemática virtual (cyberbullying): “Parágrafo único. Se a conduta é realizada
por meio da rede de computadores, de rede social, de aplicativos, de jogos on-line ou por
qualquer outro meio ou ambiente digital, ou transmitida em tempo real: Pena - reclusão, de
2 anos a 4 anos, e multa, se a conduta não constituir crime mais grave.”

- Ameaça:
Art. 147: “Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico,
de causar-lhe mal injusto e grave: Pena - detenção, de 1 a 6 meses, ou multa.
Parágrafo único. Somente se procede mediante representação.”
. ameaçar é promessa de mal injusto, grave e futuro (corrente majoritária; contra:
Damásio).
. sujeito passivo: pessoa certa e determinada capaz de compreender o caráter intimidatório
da ameaça.
. Lei Maria da Penha: incide se o crime envolver relação doméstica e familiar contra mulher
(enquadra-se como violência psicológica, art. 7º da Lei 11.340/06).
. elemento subjetivo: dolo de intimidar, sendo irrelevante a intenção de realizar ou não o
alegado; tentativa possível, exceto em caso de ameaça verbal.
- deve haver seriedade na ameaça; embriaguez pode retirar a credibilidade da ameaça,
tornando fato atípico.

Dos crimes contra o patrimônio

- Patrimônio: É o complexo de direitos de uma pessoa dotados de valor econômico.


- Coisa vs. bem: Coisa é tudo o que existe objetivamente, com exceção do homem,
enquanto bens são coisas que, por serem úteis e raras, são suscetíveis de apropriação e
contêm valor econômico, sendo materiais ou imateriais. Coisa é gênero, do qual bem é
espécie.
- Propriedade x posse x detenção (no âmbito civil): Propriedade é o direito real (total ou
parcial) sobre o patrimônio; o poder de usar, gozar e dispor da coisa como quiser. Posse é o
exercício de fato, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade (art. 1.196,
CC). Detenção ocorre quando alguém, achando-se em relação de dependência para com
outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas (o
detentor exerce sobre o bem não uma posse própria, mas uma posse em nome de outrem;
art. 1.198, CC).
. Ao tomar patrimônio que está na posse de alguém que não seja o proprietário de fato, a
vítima direta do crime é o possuidor/detentor, e a vítima indireta, o proprietário.

. Do crime contra o patrimônio: furto:


- Furto simples:
Art. 155: “Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, de 1 a 4
anos, e multa.”
- Teoria da amotio/apprehensio: A consumação do furto ocorre no momento em que a coisa
subtraída passa para o poder do agente, ainda que por breve espaço de tempo (teoria da
inversão da posse). Para esta corrente (correta), não é necessário que o agente fique com a
posse mansa e pacífica (teoria da posse mansa e pacífica). A coisa é retirada da esfera de
disponibilidade da vítima (inversão da posse), mas não é necessário que saia da esfera de
vigilância da vítima. Nesse sentido:
. Súmula 582, STJ: “Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem
mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em seguida
à perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo prescindível a
posse mansa e pacífica ou desvigiada.” Entende-se o mesmo para o furto.

. Causa de aumento de pena (art. 155, § 1º): “A pena aumenta-se de 1/3, se o crime é
praticado durante o repouso noturno.” Incide apenas se este momento do dia facilitou o
crime, como mediante invasão de domicílio silenciosamente durante a noite. Considera-se
noite ao cair do último raio de sol, e dia ao surgir do primeiro.
. Furto de energia (§ 3º): “Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra
que tenha valor econômico.”
. Furto de uso: Ocorre quando, no furto, há ausência do ânimo do agente em obter a coisa
para si ou para outrem, fazendo-se necessário que a coisa seja restituída no mesmo estado
em que foi retirada e no mesmo lugar de onde foi retirada. São requisitos: o objetivo de fazer
uso momentâneo da coisa e sua devolução voluntária em sua integralidade. É conduta
atípica. [ex.: pegar motoca pra dar um rolê monstro sem permissão, mas devolver com a
mesma quantidade de gasolina e sem danos a coisa]

- Furto privilegiado:
Art. 155, § 2º: “Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode
substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de 1/3 a 2/3, ou aplicar somente
a pena de multa.”
- réu primário: sem condenação penal anterior transitada em julgado.
- pequeno valor: coisa de até 1 salário mínimo vigente no momento do ato (entendimento
pacífico do STJ).
. observa-se o valor objetivo (real), e não o subjetivo (pessoal; não admite-se valor
sentimental).
. princípio da insignificância/bagatela: ocorre quando a ofensividade é mínima/irrisória, ao
ponto de não justificar a punição do agente e a movimentação do judiciário. Decorre da
doutrina e jurisprudência, e o STJ entende que o valor para a possível aplicação do princípio
em crime de furto é de até 10% do salário mínimo vigente no momento do ato. O STF
considera incompatível com o princípio crimes mediante violência ou grave ameaça à pessoa;
tráfico de drogas; e crimes de falsificação. E ao STJ, a mínima ofensividade da conduta;
ausência de periculosidade social; reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; e a
inexpressividade da lesão jurídica provocada.
. em caso de continuidade delitiva, o valor para fins de concessão do privilégio ou do
reconhecimento da insignificância é a soma dos bens subtraídos (STJ).
- Furto privilegiado qualificado (súmula 511, STJ): “É possível o reconhecimento do
privilégio previsto no § 2º do art. 155 do CP nos casos de crime de furto qualificado, se
estiverem presentes a primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a qualificadora
for de ordem objetiva.”

- Furto qualificado:
Art. 155, § 4º: A pena é de reclusão de 2 a 8 anos, e multa, se o crime é cometido:
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
III - com emprego de chave falsa;
IV - mediante concurso de 2 ou mais pessoas.
§ 4º-A: A pena é de reclusão de 4 a 10 anos e multa, se houver emprego de explosivo ou de
artefato análogo que cause perigo comum. (Incluído pela lei 13.654/18; é crime hediondo)
§ 4º-B: A pena é de reclusão de 4 a 8 anos e multa, se o furto mediante fraude é cometido
por meio de dispositivo eletrônico ou informático, conectado ou não à rede de
computadores, com ou sem a violação de mecanismo de segurança ou a utilização de
programa malicioso, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo. (Incluído pela lei
14.155/21)
. § 4º-C (causas de aumento de pena): A pena prevista no § 4º-B, considerada a relevância
do resultado gravoso, aumenta-se: (Incluído pela lei 14.155/21)
I - de 1/3 a 2/3, se o crime é praticado mediante a utilização de servidor mantido fora do
território nacional;
II - de 1/3 ao dobro, se o crime é praticado contra idoso ou vulnerável.
§ 5º: A pena é de reclusão de 3 a 8 anos, se a subtração for de veículo automotor que venha
a ser transportado para outro Estado ou para o exterior. (Incluído pela lei 9.426/96)
§ 6º: A pena é de reclusão de 2 a 5 anos se a subtração for de semovente domesticável de
produção (animal de produção), ainda que abatido ou dividido em partes no local da
subtração. (Incluído pela lei 13.330/16)
§ 7º: A pena é de reclusão de 4 a 10 anos e multa, se a subtração for de substâncias
explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação,
montagem ou emprego. (Incluído pela lei 13.654/18)

. Do crime contra o patrimônio: roubo:


- Roubo próprio:
Art. 157: “Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou
violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de
resistência: Pena - reclusão, de 4 a 10 anos, e multa.”
. Roubo impróprio (§ 1º): “Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa,
emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do
crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro.”
. Tentativa: apenas em caso de roubo próprio.
. Violência própria: física. Violência imprópria: quaisquer outros meios sub-reptícios (ex.:
uso do “boa noite, Cinderela”)
. Simulação de arma configura roubo? Prevalece que sim, devido a grave ameaça.

- Causas de aumento de pena:


Art. 157, § 2º: “A pena aumenta-se de 1/3 até metade: [...]
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade. (incluído pela lei
9.426/96; é crime hediondo)
VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca.” (Incluído pela
lei 13.964/19)
. Arma branca é todo objeto, sendo próprio ou impróprio.
§ 2º-A: “A pena aumenta-se de 2/3:
I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo. [...]” (Incluído pela lei
13.654/18; )
. Arma de fogo é qualquer arma que arremessa/atira projéteis.
§ 2º-B: “Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo de uso
restrito ou proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo.” (Incluído pela
lei 13.964/19; é crime hediondo)
§ 3º Se da violência resulta: (Redação dada pela lei 13.654/18; crime hediondo)
I - lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 a 18 anos, e multa;
II - morte, a pena é de reclusão de 20 a 30 anos, e multa.

Dos crimes contra a propriedade imaterial

- Bens imateriais: Bens incorpóreos dotados de valor econômico.


- Propriedade intelectual: Relação jurídica entre autor e sua obra, seja em função da criação
(direitos morais) ou da circulação (direitos patrimoniais).
- Fundamentos:
Art. 5º, CF: IX: “É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de
comunicação, independentemente de censura ou licença.” XXVII: Aos autores pertence o
direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos
herdeiros pelo tempo que a lei fixar.”
Art. 216, CF: “Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e
imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade,
à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se
incluem: I - as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as criações
científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais
espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de
valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
§ 1º O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o
patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e
desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação. [...] § 3º A lei
estabelecerá incentivos para a produção e o conhecimento de bens e valores culturais. § 4º
Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na forma da lei.

. Violação de direito autoral:


Art. 184: “Violar direitos de autor e os que lhe são conexos: (Redação dada pela Lei
10.695/03) Pena - detenção, de 3 meses a 1 ano, ou multa.”
- é norma penal em branco homogênea/lato sensu (vide Lei 9.610/98, dos Direitos Autorais)
- autor é a pessoa física criadora de obra literária, artística ou científica (art. 11, LDA).
Pertencem ao autor os direitos morais e patrimoniais sobre a obra que criou (art. 12).
- direitos conexos: relativos aos direitos de artistas interpretes ou executantes, produtores
fonográficos e empresas de radiodifusão (ou artistas, gravadoras de disco e emissoras de
rádio e TV. Editoras gráficas e musicais se equiparam aos autores (segundo Eliane Y. Abrão,
em 2002).
- objetividade jurídica: propriedade imaterial; objeto material: obra
literária/artística/científica; consumação: crime formal.
- Causas de exclusão de tipicidade:
Art. 46: “Não constitui ofensa aos direitos autorais:
I - a reprodução: a) na imprensa diária ou periódica, de notícia ou de artigo informativo,
publicado em diários ou periódicos, com a menção do nome do autor, se assinados, e da
publicação de onde foram transcritos; b) em diários ou periódicos, de discursos pronunciados
em reuniões públicas de qualquer natureza; c) de retratos, ou de outra forma de
representação da imagem, feitos sob encomenda, quando realizada pelo proprietário do
objeto encomendado, não havendo a oposição da pessoa neles representada ou de seus
herdeiros; d) de obras literárias, artísticas ou científicas, para uso exclusivo de deficientes
visuais, sempre que a reprodução, sem fins comerciais, seja feita mediante o sistema Braille
ou outro procedimento em qualquer suporte para esses destinatários;
II - a reprodução, em um só exemplar de pequenos trechos, para uso privado do copista,
desde que feita por este, sem intuito de lucro;
III - a citação em livros, jornais, revistas ou qualquer outro meio de comunicação, de
passagens de qualquer obra, para fins de estudo, crítica ou polêmica, na medida justificada
para o fim a atingir, indicando-se o nome do autor e a origem da obra;
IV - o apanhado de lições em estabelecimentos de ensino por aqueles a quem elas se
dirigem, vedada sua publicação, integral ou parcial, sem autorização prévia e expressa de
quem as ministrou;
V - a utilização de obras literárias, artísticas ou científicas, fonogramas e transmissão de rádio
e televisão em estabelecimentos comerciais, exclusivamente para demonstração à clientela,
desde que esses estabelecimentos comercializem os suportes ou equipamentos que
permitam a sua utilização;
VI - a representação teatral e a execução musical, quando realizadas no recesso familiar ou,
para fins exclusivamente didáticos, nos estabelecimentos de ensino, não havendo em
qualquer caso intuito de lucro;
VII - a utilização de obras literárias, artísticas ou científicas para produzir prova judiciária ou
administrativa;
VIII - a reprodução, em quaisquer obras, de pequenos trechos de obras preexistentes, de
qualquer natureza, ou de obra integral, quando de artes plásticas, sempre que a reprodução
em si não seja o objetivo principal da obra nova e que não prejudique a exploração normal
da obra reproduzida nem cause um prejuízo injustificado aos legítimos interesses dos
autores.”
Art. 47: “São livres as paráfrases e paródias que não forem verdadeiras reproduções da obra
originária nem lhe implicarem descrédito.”
Art. 48: “As obras situadas permanentemente em logradouros públicos podem ser
representadas livremente, por meio de pinturas, desenhos, fotografias e procedimentos
audiovisuais.”

- Violação de direito autoral qualificada:


§ 1º Se a violação consistir em reprodução [ou produção] total ou parcial, com intuito de
lucro direto ou indireto, por qualquer meio ou processo, de obra intelectual, interpretação,
execução ou fonograma [e videograma], sem autorização expressa do autor, do artista
intérprete ou executante, do produtor, conforme o caso, ou de quem os represente: Pena -
reclusão, de 2 a 4 anos, e multa.
§ 2º Na mesma pena do § 1º incorre quem, com o intuito de lucro direto ou indireto,
distribui, vende, expõe à venda, aluga, introduz no País, adquire, oculta, tem em depósito,
original ou cópia de obra intelectual ou fonograma reproduzido com violação do direito de
autor, do direito de artista intérprete ou executante ou do direito do produtor de fonograma,
ou, ainda, aluga original ou cópia de obra intelectual ou fonograma, sem a expressa
autorização dos titulares dos direitos ou de quem os represente.
* súmula 502/STJ: “Presentes a materialidade e a autoria, afigura-se típica, em relação ao
crime previsto no art. 184, § 2º, do CP, a conduta de expor à venda CDs e DVDs piratas.”
§ 3º Se a violação consistir no oferecimento ao público, mediante cabo, fibra ótica, satélite,
ondas ou qualquer outro sistema que permita ao usuário realizar a seleção da obra ou
produção para recebê-la em um tempo e lugar previamente determinados por quem formula
a demanda, com intuito de lucro, direto ou indireto, sem autorização expressa, conforme o
caso, do autor, do artista intérprete ou executante, do produtor de fonograma, ou de quem
os represente: Pena - reclusão, de 2 a 4 anos, e multa.
. Atipicidade da forma qualificada:
§ 4º O disposto nos §§ 1º , 2º e 3º não se aplica quando se tratar de exceção ou limitação
ao direito de autor ou os que lhe são conexos, em conformidade com o previsto na Lei
9.610/98 (Lei dos Direitos Autorais), nem a cópia de obra intelectual ou fonograma, em um
só exemplar, para uso privado do copista, sem intuito de lucro direto ou indireto [exclusão
de tipicidade do artigo inteiro].
* vide arts. 46, 47 e 48.
* inexiste aplicação do princípio da adequação social (STF/STJ).
. Ação penal nos crimes contra a propriedade intelectual:
Art. 186: “Procede-se mediante: (Redação dada pela Lei 10.695/03) I - queixa, nos crimes
previstos no caput do art. 184; II - ação penal pública incondicionada, nos crimes previstos
nos §§ 1º e 2º do art. 184; III - ação penal pública incondicionada, nos crimes cometidos em
desfavor de entidades de direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de
economia mista ou fundação instituída pelo Poder Público; IV - ação penal pública
condicionada à representação, nos crimes previstos no § 3º do art. 184.”
- caput: ação penal privada (exceto: incondicionada em prejuízo de entidade pública).
- §§ 1º e 2º: sempre pública incondicionada.
- § 3º: pública incondicionada (exceto: incondicionada em prejuízo de entidade pública).
* Súmula 574/STJ: “Para a configuração do delito de violação de direito autoral e a
comprovação de sua materialidade, é suficiente a perícia realizada por amostragem do
produto apreendido, nos aspectos externos do material, e é desnecessária a identificação
dos titulares dos direitos autorais violados ou daqueles que os representem.”
. Lei 9.609/98 (proteção da propriedade intelectual de programa de computador): Art. 12:
“Violar direitos de autor de programa de computador: Pena - Detenção de 6 meses a 2 anos
ou multa.
§ 1º Se a violação consistir na reprodução, por qualquer meio, de programa de computador,
no todo ou em parte, para fins de comércio, sem autorização expressa do autor ou de quem
o represente: Pena - Reclusão de 1 a 4 anos e multa.
§ 2º Na mesma pena do parágrafo anterior incorre quem vende, expõe à venda, introduz no
País, adquire, oculta ou tem em depósito, para fins de comércio, original ou cópia de
programa de computador, produzido com violação de direito autoral.
§ 3º Nos crimes previstos neste artigo, somente se procede mediante queixa, salvo:
I - quando praticados em prejuízo de entidade de direito público, autarquia, empresa
pública, sociedade de economia mista ou fundação instituída pelo poder público;
II - quando, em decorrência de ato delituoso, resultar sonegação fiscal, perda de
arrecadação tributária ou prática de quaisquer dos crimes contra a ordem tributária ou
contra as relações de consumo.
§ 4º No caso do inciso II do parágrafo anterior, a exigibilidade do tributo, ou contribuição
social e qualquer acessório, processar-se-á independentemente de representação.”
* a Lei 9610/98 determina no art. 7º, § 1º, que haja tratamento específico aos softwares.
. Dos crimes contra o privilégio de invenção, contra as marcas de indústria e comércio e de
concorrência desleal.
Todos revogados do CP (arts. 187 a 196) pela Lei 9279/96 (dos direitos e obrigações
inerentes a propriedade industrial). Os crimes contra a propriedade industrial são agora
regrados pela referida lei nos arts. 183 a 195.
DIREITO PENAL: CRIMES CONTRA A
DIGNIDADE SEXUAL
PROFESSOR: MARCELO LUIZ SEIXAS CABRAL

Original de 1940: “Título VI - Dos crimes contra os costumes.”


Pós-Lei 12.015/09: “Título VI - Dos crimes contra a dignidade sexual.”
- A dignidade sexual decorre da dignidade da pessoa humana; consiste no direito de exigir
respeito na sua vida sexual, bem como respeitar as opções sexuais alheias.

Dos crimes contra a liberdade sexual

Liberdade sexual: É o direito de dispor do próprio corpo como bem entender.


- Estupro:
Art. 213: “Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal
ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: (Redação pela Lei
12.015/09) Pena - reclusão, de 6 a 10 anos.”
- objetividade jurídica: liberdade sexual + integridade corporal ou liberdade individual.
- constranger: forçar, coagir, tolher a liberdade.
- meios de execução:
. violência: emprego de força física contra a vítima, bem como um efetivo ato de agressão.
. grave ameaça: promessa de mal injusto e grave, que pode ser direcionado a vítima (grave
ameaça direta) ou a 3ª pessoa (g. a. indireta).
* Cleber Masson: Não é necessário que seja injusto, diferentemente do art. 147.
- conjunção carnal: introdução completa ou incompleta do pênis na vagina (critério
restritivo).
* João Mestieri também menciona o critério amplo (cópula comum e anal) e amplíssimo
(qualquer equivalente do ato, como o sexo oral).
- ato libidinoso: demais formas de relação sexual (sexo oral, anal etc).
* antigamente, havia separadamente o estupro (exclusivamente conjunção carnal) e o
crime de atentado violento ao pudor (outro ato libidinoso).
- concurso material em crime de conjunção carnal + ato libidinoso:
. corrente majoritária: em um mesmo contexto, ocorrendo ambos os atos, haverá crime
único, pois trata-se de tipo misto alternativo. STF e STJ.
. corrente minoritária: trata-se de tipo misto cumulativo, por haver múltiplas condutas no
mesmo tipo penal. P. ex., Vicente Greco Filho (e o Marcelão).
. corrente crítica: trata-se de crime simples, e não misto; haveria apenas um núcleo
(“constranger”) que se relaciona com os atos de “ter conjunção carnal” e “praticar ou
permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso”. Cleber Masson.
- estupro por omissão: possível.
* ex.: mãe que se omite a sinais e pedidos reiterados de filha que alega sofrer abusos do
pai, ou que presencia o ato e nada faz, mesmo tendo o dever legal.
- sujeito ativo/passivo do crime: crime comum/geral, ou ainda crime bicomum (o sujeito
ativo e passivo podem ser qualquer pessoa). Antes, era bipróprio (apenas podia ser cometido
por homem contra mulher).
* em caso de conjunção carnal, trata-se de crime próprio (p. ex., se em no polo ativo tem-
se um homem, no passivo se terá necessariamente uma mulher, e vice-versa).
* defendendo ser crime de mão própria: Rogério Greco.
* estupro no matrimônio: ato típico atualmente (atípico à poucos anos).
* estupro de prostitutas: ato típico atualmente (doutrina anterior sustentava ser atípico,
ou no mínimo menos severo).
* estupro coletivo: se cometido mediante concurso de 2 ou mais agentes (coautoria ou
participação), a pena é aumentada de 1/3 a 2/3 (art. 226, IV, a). Em caso de revezamento
(curra), ocorre concurso em continuidade delitiva (art. 71).
* exceção dos vulneráveis: se cometido contra menor de 14 anos ou com alguém que, por
enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do
ato ou que não pode oferecer resistência, há estupro de vulnerável (art. 217-A). Se é
cometido contra vítima menor de 18 ou maior de 14 anos, é estupro qualificado (art. 213, §
1º).
* no caso de vítima de exatos 14 anos (data de seu aniversário), incidiria estupro
simples/art. 213, caput (má técnica legislativa da Lei 12.015/09); Damásio defende
excepcional interpretação in mala partem, considerando-se estupro qualificado.
* transexuais: apenas no tocante a ato libidinoso.
* estupro contra índios: Lei 6001/73, art. 59: “No caso de crime contra a pessoa, o
patrimônio ou os costumes [lê-se dignidade sexual], em que o ofendido seja índio não
integrado ou comunidade indígena, a pena será agravada de 1/3.”
* coautoria funcional (divisão de funções) e coautoria normal (todos os envolvidos praticam
o ato sexual): em ambos os casos, ambos praticam o crime de estupro (Marcelo).
- elemento subjetivo: dolo + finalidade especial.
* estupro corretivo: se cometido para controlar o comportamento social ou sexual da
vítima, a pena é aumentada de 1/3 a 2/3 (art. 226, IV, b).
- consumação: crime material/causal (consuma-se com o início da pratica do ato). Admite-se
tentativa (é possível o fracionamento do iter criminis).
* Damásio: considera crime de mera conduta.
* concurso com perigo de contágio venéreo (art. 130): apenas se for exposição; em caso
de transmissão efetiva, art. 234-A: “Nos crimes previstos neste Título a pena é aumentada:
[...] IV - de 1/3 a 2/3, se o agente transmite à vítima doença sexualmente transmissível de
que sabe ou deveria saber ser portador [...].”
* inseminação artificial: tipifica constrangimento ilegal (art. 146).
* palavra da vítima em crimes sexuais: assume maior relevância (supervaloração) como
prova. “A jurisprudência desta Corte Superior é no sentido de que, em crimes de natureza
sexual, à palavra da vítima deve ser atribuído especial valor probatório, quando coerente e
verossímil, pois, em sua maior parte, são cometidos de forma clandestina, sem testemunhas
e sem deixar vestígios.” (AgRgAREsp 1594445/SP, 2020) Mesmo assim, apenas e
exclusivamente a palavra da vítima não é suficiente, havendo “necessidade de que a versão
apresentada por ela deva guardar sintonia com as demais provas apresentadas, a fim de que
se possa atribuir a devida credibilidade.” (desembargador Ulysses Gonçalves Junior, TJ/SP)
Discordando: Cleber Masson.
* vide síndrome da mulher de Potifar.
* tentativa não consumada de conjunção (objetivo do dolo), mas com ato libidinoso
consumado, importa em tentativa de estupro; a prática de ato libidinoso importa tentativa,
e não crime consumado, quando funcionar como “prelúdio do coito”; STF, HC 100314, 2009.
- ação penal: pública incondicionada (pré-Lei 13718/18, era condicionada).
* termo inicial da prescrição antes de transitar em julgado a sentença final (pretensão
punitiva; art. 111): “A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a
correr: I - do dia em que o crime se consumou; II - no caso de tentativa, do dia em que cessou
a atividade criminosa; III - nos crimes permanentes, do dia em que cessou a permanência;
[...] V - nos crimes contra a dignidade sexual [...] da data em que a vítima completar 18 anos,
salvo se a esse tempo já houver sido proposta a ação penal.” (Redação pela Lei 14.344/22)
. Estupro qualificado pelo resultado (crimes preterdolosos):
§ 1º: “Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18
ou maior de 14 anos: Pena - reclusão, de 8 a 12 anos.”
§ 2º: “Se da conduta resulta morte: Pena - reclusão, de 12 a 30 anos.”
* vide possibilidade de estupro seguido de morte + vilipêndio de cadáver (art. 212).
* quando se emprega violência/grave ameaça no intuito de estuprar a vítima e ela vem a
óbito, o crime de estupro está consumado, mesmo sem a ocorrência de qualquer ato
libidinoso, pois decorre da “conduta”.

. Atentado violento ao pudor (art. 214; revogado pela Lei 12.015/09): “Constranger alguém,
mediante violência ou grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele se pratique ato
libidinoso diverso da conjunção carnal: Pena - reclusão de 2 a 7 anos.”
* não houve seu abolitio criminis, mas sim continuidade normativo-típica (princípio da
continuidade típico-normativa).
* no código militar, apenas houve tal unificação pós-Lei 14688/23.
. Posse sexual mediante fraude (art. 215; reformulado pela Lei 12.015/09, agora “violação
sexual mediante fraude”): Redação original: “Ter conjunção carnal com mulher honesta,
mediante fraude: Pena - reclusão, de 1 a 3 anos.” Pós- Lei 11.106/05: “Ter conjunção carnal
com mulher, mediante fraude: Pena - reclusão, de 1 a 3 anos.”
Parágrafo único: “Se o crime é praticado contra mulher virgem, menor de 18 e maior de 14
anos: Pena - reclusão, de 2 a 6 anos.”
* mulher honesta: mulher cuja conduta, sob o ponto de vista da moral sexual da época, era
irrepreensível; aquela que ainda não rompeu com o mínimo de decência exigido pelos “bons
costumes”.
Termos, expressões e outros:

- Abolitio criminis: Transformação de um fato típico em atípico, onde determinada conduta


antes tipificada como crime perde a tipicidade em razão de novo fato. Cessa-se, aqui,
também o inquérito policial (a investigação da polícia judicial/civil).
- Acordo de não persecução penal (ANPP): O novo dispositivo demostra a tendência do
judiciário brasileiro a um modelo de justiça consensual negociada, buscando evitar o
encarceramento de quem comete infrações de menor gravidade, confessa o erro e, se
possível, o repara.
- Ação de execução fiscal: É o instrumento por meio do qual o credor – no caso, a Fazenda
Pública – tenta receber o que tem direito.
- Animus furandi: É a intenção de ter a coisa para si ou para outrem.
- Animus jocandi: Significa “vontade de brincar”; ocorre nos casos em que alguém profere
palavras/comentários desagradáveis e ofensivos, mas em tom de brincadeira. Exclui o dolo
dos crimes contra a honra, que exigem o animus injuriandi vel diffamandi (intenção de
insultar ou difamar).
- Arma própria e imprópria: A arma própria é aquela criada para ataque e defesa, como o
revólver, pistola, espada. A arma imprópria é qualquer instrumento criado com finalidade
diversa, mas pode ser utilizado para ataque e defesa, como um taco de baseball ou faca de
cozinha.
- Atestado vs. certidão de óbito: O atestado é emitido por um médico para comprovar a
morte de uma pessoa, enquanto a certidão é emitida por um cartório de registro civil. Esta
segunda depende da apresentação da primeira.
- Autópsia ou necrópsia: O correto é necrópsia. Autópsia vem do grego: auto (por si mesmo
ou pessoalmente - e não de si mesmo) + psia (ação de ver ou examinar). Significa “analisar
por si mesmo”, ou “analisar pessoalmente”. Necropsia também vem do grego: necro (morte,
morto ou cadáver) + psia (ação de ver ou examinar). Ou seja, algo como “analisar o cadáver”.
- Bem jurídico: Valor ou interesse de alguém que é protegido por lei.
- Certidão de dívida ativa (CDA): É um título emitido pelo governo que comprova a dívida
do contribuinte. É considerada como dívida ativa qualquer valor tributário e não tributário
que o contribuinte não pagou.
- Coculpabilidade (e às avessas): Consiste na ideia de divisão da responsabilidade entre o
delinquente excluído socialmente e o Estado pelo cometimento do delito, em razão da
omissão deste em promover as mesmas oportunidades sociais a todos os cidadãos. Não há
previsão nem vedação legal (vide arts. 59 e 66).
Já a coculpabilidade às avessas se manifesta sob dois enfoques: a) no abrandamento à
sanção de delitos praticados por pessoa com alto poder econômico/social (como em crimes
de cifra dourada; colarinho branco, contra a ordem econômica e tributária etc.), e; b) na
tipificação de condutas que só podem ser praticadas por pessoas marginalizadas (como
ocorre nas contravenções de vadiagem (art. 59) e a revogada mendicância (art. 60)).
- Coisa de pequeno valor: Para a caracterização do furto privilegiado, coisa de pequeno
valor, no entendimento majoritário, é aquela que não ultrapassa um salário mínimo.
- Concorrência de crime: Art. 29: “Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide
nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade.” Aqui, o cumplice (termo não
usado no jurídico brasileiro) equivaleria ao de participe, em regra.
- Constituição analítica: São constituições cujo conteúdo é extenso, que tratam de matérias
que vão além da organização básica do Estado. O Brasil adere a esse tipo, e também é
principiológica (uma constituição em que há predominância dos princípios, normas
caracterizadas por elevado grau de abstração).
- Constituição revogada: Quando uma nova constituição for criada, todas as leis que forem
incompatíveis com a nova ordem jurídica, inclusive da constituição antiga, serão
automaticamente revogadas. Trata-se do fenômeno da não recepção. Ou seja, não são
tratadas como inconstitucionais, pois eram constitucionais ao seu tempo. Apenas não foram
recebidas. Por outro lado, havendo compatibilidade, a norma será recepcionada, podendo
até receber uma nova roupagem. Por essa razão, afirma-se que não é admitida a teoria da
inconstitucionalidade superveniente do ato normativo.
- Contagem de prazo penal e prazo processual penal: Contagem de prazo penal (art. 10 CP):
“O dia do começo inclui-se do cômputo do prazo”. Contagem do prazo processual penal
(tempo que se tem para cumprir um ato processual; art. 798 CPP): “Não se computará no
prazo o dia do começo, incluindo-se, porém, o do vencimento; O prazo que terminar em
domingo ou dia feriado considerar-se-á prorrogado até o dia útil imediato.”
. Súmulas do STF: “Quando a intimação tiver lugar na sexta-feira, ou a publicação com efeito
de intimação for feita nesse dia, o prazo judicial terá início na segunda-feira imediata, salvo
se não houver expediente, caso em que começará no primeiro dia útil que se seguir”, e “No
processo penal, contam-se os prazos da data da intimação, e não da juntada aos autos do
mandado ou da carta precatória ou de ordem.”
- Costume: É a reiteração de uma conduta (elemento objetivo) em face da convicção de sua
obrigatoriedade (elemento subjetivo).
- Crime preterdoloso/preterintencional: Existe um crime inicial doloso e um resultado final
culposo. Agravação pelo resultado (art. 19): “Pelo resultado que agrava especialmente a
pena, só responde o agente que o houver causado ao menos culposamente.”
- Crime de tendência interna transcendente (ou de intenção): O sujeito ativo quer um
resultado dispensável para a consumação do delito. O tipo subjetivo é composto pelo dolo e
por elemento subjetivo especial (finalidade transcendente).
No crime de resultado cortado (ou antecipado) o agente espera que o resultado externo,
querido e perseguido (que se situa fora do tipo) se produza sem a sua intervenção direta (ex:
extorsão mediante sequestro, cuja vantagem desejada – o pagamento do resgate – não
precisa concretizar-se (pois o delito já se consumou com a privação da liberdade da vítima),
mas, se vier a concretizar-se, o será por fato de outrem – no caso, dos familiares, ao pagarem
o resgate).
No crime mutilado de dois atos (ou tipos imperfeitos de dois atos) o agente quer alcançar
por ato próprio o resultado fora do tipo (ex: falsificação de moeda, que supõe a intenção de
uso ou de introdução na circulação do dinheiro falsificado); é aquele em que o sujeito pratica
um delito, com finalidade de obter um benefício posterior (ex: falsidade documental para
cometer estelionato).
No crime de crime de tendência (ou de atitude pessoal), determinadas ações podem ser
consideradas criminosas ou lícitas a depender da intenção do agente ao praticá-las; em que
a conduta será típica se a inclinação interna do agente se revelar no sentido da prática
criminosa (ex: palavra lançada contra alguém pode caracterizar o crime de injúria ou o
simples exercício do direito de crítica, a depender da intenção do emissor).
- Crime habitual: Demandam uma habitualidade no seu exercício para a concretização do
delito; a pluralidade de condutas é um elemento do tipo penal. Ex.: art. 311 (adulteração de
sinal identificador de veículo), § 3º: “Praticar as condutas de que tratam os incisos II ou III do
§ 2º deste artigo no exercício de atividade comercial ou industrial.”; Art. 282 (exercício ilegal
da medicina ); art. 229 (casa de prostituição).
- Custos legis: Significa “fiscal da lei”; são os responsáveis por fiscalizar o cumprimento das
leis e garantir que a decisão tomada pelo juiz ou autoridade administrativa esteja de acordo
com a lei. Normalmente, é associado ao MP.
- Delito de acumulação: Condutas que apenas se cumulativas serão consideradas ofensas
aos bens jurídicos protegidos e legalmente relevantes.
- Direito penal objetivo: Conjunto de normas penais positivadas, isto é, constitui-se do
conjunto de preceitos legais que regulam o exercício de jus puniendi (direito de punir) pelo
Estado, definindo crimes e cominando as respectivas sanções penais. O Direito Penal objetivo
está formado por dois grandes grupos de normas: por normas penais não incriminadoras
que estão, em regra, localizadas na Parte Geral do Código Penal, estabelecendo pautas para
o exercício do jus puniendi, e por normas penais incriminadoras, dispostas na Parte Especial
do Código Penal, definindo as infrações penais e estabelecendo as correspondentes sanções.
- Direito penal subjetivo: É o direito de punir (jus puniendi), cuja titularidade exclusiva
pertence ao Estado.
- Docimasia hidrostática de Galeno: Investiga o aparelho respiratório do cadáver de um
recém-nascido para constatar nele a presença (ou não) de ar. Caso tenha respirado, ele
nasceu de fato.
- Dolo objetivo e subjetivo: O dolo objetivo é a simples prática da infração legal, tendo ou
não vontade ou ciência do ato. Já o dolo subjetivo é a intenção e ciência do ato em si. No
direito penal, existe apenas o dolo subjetivo, enquanto o objetivo existe, por exemplo, no
direito administrativo.
- Erro de tipo (art. 20 CP): “O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui
o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei.”
- Erro de fato: Interpretação equivocada do evento ou dos fatos.
- Estupro de vulnerável no STJ: Súmula 593: “O crime de estupro de vulnerável se configura
com a conjunção carnal ou prática de ato libidinoso com menor de 14 anos, sendo irrelevante
eventual consentimento da vítima para a prática do ato, sua experiência sexual anterior ou
existência de relacionamento amoroso com o agente.” Pode ocorrer distinguishing em caso
de constituição de família (REsp 1.919.722, desde que haja consentimento dos pais e não
haja gritante diferença de idade (vide exceção de Romeu e Julieta, tese defensiva minoritária
que alega 5 anos de diferença máxima).
- Exumação (art. 163 CPP): Ocorre quando você precisa realizar um exame cadavérico (ou
mesmo repeti-lo), quando o corpo já foi inumado (sepultado).
- Exame: Art. 158 e 167, CPP: “Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o
exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.
Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios, a
prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.” Havendo vestígios, há o exame direto, e caso
não, o indireto, que é a coleta dos vestígios através do raciocínio, com base em testemunhas
e outras provas cabíveis em direito.
- Extorsão espiritual: O STJ entende em certo precedente (REsp 1.299.021, citado no
AgRg/AREsp 1.009.662) que é possível reconhecer como extorsão a “ameaça de mal
espiritual”, por atuar no psicológico da vítima.
- Falso testemunho: Art. 342: “Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como
testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo,
inquérito policial, ou em juízo arbitral; Pena - reclusão, de 2 a 4 anos, e multa; [...] § 2º: O
fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente
se retrata ou declara a verdade.”
CPP: Art. 203: “A testemunha fará, sob palavra de honra, a promessa de dizer a verdade do
que souber e Ihe for perguntado [...]”; Art. 206: “A testemunha não poderá eximir-se da
obrigação de depor. Poderão, entretanto, recusar-se a fazê-lo o ascendente ou descendente
[...], o cônjuge [...], o irmão e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do acusado [...]”; Art. 208: “Não
se deferirá o compromisso a que alude o art. 203 [...] as pessoas a que se refere o art. 206.”
Quanto ao réu: O réu tem o direito garantido de permanecer em silêncio em seu
interrogatório, sem que isso o prejudique ou seja interpretado em seu desfavor (art. 186
CPP). Também tem o direito de não produzir provas contra si mesmo (art. 8º, nº 2, alínea,
Convenção Americana de Direitos Humanos). Sendo assim, o réu pode sim mentir em
interrogatório judicial e policial aos fatos que lhe foram atribuídos, entretanto, se o réu
atribuir a culpa para outra pessoa, estará imputando falsamente a prática do crime à terceiro.
Também não pode mentir sobre sua qualificação, cometendo crime de falsa identidade (RE
640.139; art. 307 CP).
- Funcionário público: Segundo o art. 327: “Considera-se funcionário público, para os efeitos
penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou
função pública.” Todavia, a expressão não foi recepcionada pela CF/88, sendo usada apenas
a expressão “servidor público” [que segundo minhas pesquisas, se refere ao servidor público
em sentido estrito, isto é, os servidores estatutários e titulares de cargos públicos, o que
excluiria agentes políticos e estagiários].
- Fidedigno: Digno de crédito.
- Forro com prerrogativa de função: O titular de certos cargos se submete a investigação,
processo e julgamento por órgão judicial previamente designado, que não é o mesmo para
as pessoas em geral.
- In dubio, pro reo: Expressão latina que diz que em caso de dúvida, sempre favorecer o réu.
Isso retoma a presunção de inocência (todos são inocentes, até que se prove o contrário).
- Individualização da Pena: Consiste em aplicar o direito a cada caso concreto, levando-se
em conta suas particularidades, o grau de lesividade do bem jurídico penal tutelado, bem
como os pormenores da personalidade do agente.
- Internação compulsória (lei 10.216/2001): Art. 6º: “A internação psiquiátrica somente será
realizada mediante laudo médico circunstanciado que caracterize os seus motivos. Parágrafo
único. São considerados os seguintes tipos de internação psiquiátrica: [...] III - internação
compulsória: aquela determinada pela Justiça.” Art. 9º: “A internação compulsória é
determinada, de acordo com a legislação vigente, pelo juiz competente, que levará em conta
as condições de segurança do estabelecimento, quanto à salvaguarda do paciente, dos
demais internados e funcionários.”
- Instituto do perdão judicial: É um instituto através do qual o juiz, embora reconhecendo a
coexistência dos elementos subjetivos que constituem o delito, deixa de aplicar a pena desde
que apresente determinadas circunstâncias excepcionais previstas em lei e que tornam
desnecessária a imposição da sanção.
- Juri popular: É assegurado na CF/88 no art. 5º, XXXVIII: “É reconhecida a instituição do júri,
com a organização que lhe der a lei, assegurados: a) a plenitude de defesa; b) o sigilo das
votações; c) a soberania dos veredictos; d) a competência para o julgamento dos crimes
dolosos contra a vida.” É composto por 7 membros, que não precisam seguir a lei penal.
Julgam apenas casos de homicídio, indução/instigação/auxílio ao suicídio, infanticídio,
aborto e crimes conexos. (ex.: réu mata Jão, que o chifrou. após o ato, averigua aparelho-
relógio “hello kitty” no corpo da vítima. mesmo não havendo tal animus furandi de início,
toma o objeto do cadáver. sendo o ato inicial homicídio, o furto configura crime conexo, que
será julgado pelo júri.)
- Lato sensu e stricto sensu: Sentido lato (ou sentido amplo) de um conceito indica uma vista
mais geral do mesmo, enquanto o sentido estrito remete para uma definição mais particular.
- Lei 8.069/90 (estatuto da criança e do adolescente; ECA) e as infrações de menores: O
menor (abaixo de 18 anos) não comete crime, mas sim ato infracional. Também não sofre
pena, mas sim medida socioeducativa. A corrupção de menores está presente no art. 244-B.
Art. 2º: “Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até 12 anos de idade
incompletos, e adolescente aquela entre 12 e 18 anos de idade.” Art. 103: “Considera-se ato
infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal.” Art. 104: “São
penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às medidas previstas nesta
Lei. Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser considerada a idade do adolescente
à data do fato.” Art. 105: “Ao ato infracional praticado por criança corresponderão as
medidas previstas no art. 101.”
- Lei 9.099/95 (lei do juizado especial).
- Lei 11.340/06 (lei Maria da Penha): O STJ editou a Súmula 542, fixando que “a ação penal
relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência doméstica contra a mulher é
pública incondicionada” – ou seja, a propositura da ação fica a cargo do Ministério Público e
não depende de representação da vítima (ver também art. 16 da lei). Apenas na Lei Maria da
Penha, o processo por agressão leve não requer representação.
- Lei 11.343/06 (lei de tóxicos) e o porte de drogas: Institui o Sistema Nacional de Políticas
Públicas sobre Drogas (SISNAD). Portar drogas para consumo pessoal tem sanção de
“advertência sobre os efeitos das drogas, prestação de serviços à comunidade e medida
educativa de comparecimento à programa ou curso educativo”, durante 5 meses (ou 10, em
caso de reincidência), e, em caso de recusa, o juiz pode submetê-lo a “admoestação verbal”
e/ou multa.
- Lex gravior e novatio legis in pejus: “Lei mais grave” e “lei nova prejudicial”.
- Mandato: É uma espécie de contrato, em que uma pessoa (mandatário) recebe poderes
de outra (mandante), para, em nome e por conta desta, praticar atos ou administrar
interesses (ver art. 653 CC). A procuração é o instrumento pelo qual se oficializa o mandato.
Contudo, há também a existência de mandato verbal.
- Medidas protetivas: São ordens judiciais concedidas com a finalidade de proteger um
indivíduo que esteja em situação de risco, perigo ou vulnerabilidade.
- Ministérios Públicos: O Ministério Público da União (MPU) se subdivide em: Ministério
Público Federal (MPF); Ministério Público do Trabalho (MPT); Ministério Público Militar
(MPM), e; Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). O chefe do MPU e
MPF é o Procurador-Geral da República (PGR). E como o mais comum, há o Ministério Público
Estadual (MPSP, por ex.), que tem como chefe o Procurador-Geral de Justiça (PGJ).
- Multa pendente e extinção de punibilidade: Não se admite a declaração da extinção da
punibilidade pelo cumprimento integral da pena privativa de liberdade quando pendente o
pagamento da multa criminal. Ou seja, na hipótese de condenação concomitante a pena
privativa de liberdade e multa, o inadimplemento da sanção pecuniária impede o
reconhecimento da extinção da punibilidade (segue-se o STJ o entendimento da ADI 3.150
do STF, ressalvando, porém, que em caso de impossibilidade do pagamento, não será
impedido o reconhecimento da extinção).
- Non bis in idem: O sujeito não pode ser punido duas vezes pelo mesmo ato.
- Panoptismo (ou Pan-óptico): termo utilizado para designar uma penitenciária ideal,
concebida pelo filósofo e jurista inglês Jeremy Bentham em 1785, que permite a um único
vigilante observar todos os prisioneiros, sem que estes possam saber se estão ou não sendo
observados.
- Partícipe/Participante: Aquele que tem envolvimento menor, que ajuda na prática do
crime, mas não realiza o ato principal.
- Preceito primário e secundário: O primeiro contém a descrição de uma conduta, a
descrição da infração penal em si. E o segundo a individualidade da pena aplicável à conduta
descrita no preceito primário.
- Princípio da continuidade normativo-típica: Manutenção do caráter proibido da conduta,
porém, com o deslocamento do conteúdo criminoso para outro tipo penal.
- Princípio da insignificância em contrabando, descaminho e moeda falsa: Tema Repetitivo
1143: “O princípio da insignificância é aplicável ao crime de contrabando de cigarros quando
a quantidade apreendida não ultrapassar 1.000 maços, seja pela diminuta reprovabilidade
da conduta, seja pela necessidade de se dar efetividade à repressão ao contrabando de vulto,
excetuada a hipótese de reiteração da conduta, circunstância apta a indicar maior
reprovabilidade e periculosidade social da ação.” Também pode incidir na importação de
medicamentos em pequena quantidade para uso pessoal.
No descaminho, pode ocorrer no valor de até 10K (segundo a lei) e 20K (portarias, usadas
pelas cortes superiores), afastado se houver reiteração da conduta.
Não se aplica o princípio da insignificância nos crimes de moeda falsa (STJ/STF).
- Prisão temporária e preventiva: A prisão temporária (lei 7.960/89) dura 5 dias (prorrogável
por mais 5) e ocorre apenas durante a investigação policial, usada para que as autoridades
coletem provas. Ela é cabível quando: for imprescindível para as investigações do inquérito
policial; o indicado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos necessários ao
esclarecimento de sua identidade; houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova
admitida na legislação penal, de autoria ou participação do indiciado nos crimes de
homicídio, sequestro, roubo, estupro, tráfico de drogas, crimes contra o sistema financeiro,
entre outros.
Já a prisão preventiva (art. 311 CPP) não tem duração pré-definida. Pode ser decretada em
qualquer fase da investigação policial ou da ação penal, quando houver indícios que liguem
o suspeito ao delito. Ela em geral, é pedida para proteger o inquérito ou processo, evitando
que o réu o atrapalhe, e para evitar que o réu continue a atuar fora da lei, bem como evitar
sua fuga.
- Prolação da sentença: Marco temporal que define aplicação do CPC.
- Representação: Pedir para a justiça atuar contra o réu; defesa do direito ou interesse
alheio. O representante age em nome do representado. Por outras palavras, atua em nome
alheio, na defesa de um direito alheio.
- Sentença (art. 203, § 1º CPC): É o pronunciamento em que o juiz encerra o processo na 1ª
instância. Art. 204 CPC: “Acórdão é o julgamento colegiado proferido pelos tribunais.”
- Sistema progressivo irlandês: Visa a ressocialização do preso, passando, anteriormente a
sua soltura, por flexibilizações.
- Súmula: Resumo da jurisprudência predominante de determinado tribunal.
- Súmula vinculante: Enquanto a súmula trata-se da pacificação jurisprudencial que um
tribunal (STJ ou STF) tem a respeito da interpretação e aplicação de uma norma jurídica
qualquer, a súmula vinculante, além de trazer a pacificação jurisprudencial, também obriga.
- Status quo ante: Pode ser traduzido como “a situação anterior”.
- Título executivo: É o documento que se apresenta perante um juiz para se requerer a
execução de uma dívida ou obrigação a que se comprometeu o devedor. É um documento
capaz de embasar uma execução judicial (processo que visa o cumprimento de uma
obrigação). O título executivo judicial é formado mediante atuação jurisdicional, enquanto o
extrajudicial é formado pelas partes envolvidas, como um cheque não pago (título de crédito,
que é um documento que representa uma responsabilidade de pagamento de uma dívida).
- Teoria das janelas quebradas: Alega que sinais visíveis de crimes e desordem social criam
um ambiente urbano que encoraja mais crimes e desordem.
- Teoria do risco: Para a qual toda pessoa que exerce alguma atividade cria um risco de dano
para terceiros, e deve ser obrigada a repará-lo, ainda que sua conduta seja isenta de culpa.
- Trânsito em julgado: Refere-se ao momento em que uma decisão se torna definitiva, não
podendo mais ser objeto de recurso.
- Tribunal do Júri: Órgão do Poder Judiciário responsável pelo julgamento de crimes dolosos
contra a vida.
- Ultima ratio: O Direito Penal é usado apenas em último caso, tem um limite definido
(Princípio da Fragmentariedade e Princípio da Subsidiariedade).
- Vias de fato: É uma infração penal encontrada na lei das contravenções penais (lei
3.688/41), que ameaça à integridade física através da pratica de atos de ataque ou violência
contra pessoa, desde que não resulte em lesões (marcas) corporais. São, por exemplo, os
atos agressivos de provocação praticados contra alguém.
- Vida uterina: Vida intrauterina/ultrauterina é o feto no útero. Caso morra antes ou
durantes o parto (ou melhor, caso não tenha respirado), é considerado “natimorto”, com
registro específico.
- Vingança: Não há especificação ao crime de vingança. Ao meu entender, pode tanto ser
usado como motivo torpe (agravante; fonte de jurisprudência e doutrinas) quanto poderia
ser um atenuante (por ex., alguém influenciado por violenta emoção devido a injusta
provocação da vítima).
- Vitimologia: É estudo da vítima quanto à sua personalidade, do ponto de vista biológico,
psicológico e social, e de sua proteção social e jurídica, bem como dos meios de vitimização
e sua inter-relação com o vitimizador.
- Síndrome da mulher de Potifar: Conduta de falsa acusação de crimes sexuais.
- “Subtração patrimonial sempre tem multa.”
- “Costumes não criam crimes, mas são usados para a interpretação.”
- “O direito penal não trabalha com probabilidade ou presunção.”
- “Redução da pena não se confunde com progressão do regime.”
- “Para haver de fato crime praticado por alguém, o Código de Processo Penal (decreto-lei
3.689/41) diz que são necessárias provas de que o crime de fato aconteceu, bem como
indícios de culpa de determinada pessoa. Logo, o processo inicia-se já adiantado.”
- “A expressão ‘estado de necessidade’ equivale a ‘estado de perigo’, pela doutrina
majoritária.”
- “Tipicidade é previsão do crime na lei, e ilicitude é o fato ser antijurídico.”
- “Sem processo, sem investigação.”
- “O juiz pode criar penas.”
- “A sentença requer: relatório, fundamentação e dispositivo.”
- “O termo correto é vigendo.”
- “Primeiro, o autor deve provar.”
- “Qualquer dúvida no processo levará o juiz a absolver o réu.”
- “Há as provas adquiridas no tribunal, durante o julgamento, e pelos documentos.”
- “Vítima = ofendido.”
- “Em alguns casos, o STF pode ser a única instância.”
- “O MP costuma ser o acusador, salvo exceções.”
- “Latrocínio não vai para o júri, pois a intenção primária era o roubo e a morte foi mero
obstáculo.”
- “Crime de mesma espécie = crime do mesmo artigo.”
- “Se a pena é aumentada, a multa é aumentada igualmente.”
- “A progressão de pena consiste no tempo + bom comportamento.”
- “Existe o juiz das execuções criminais, ou da execução da pena.”
- “A imputabilidade impede a reincidência e maus antecedentes.”
- “Crime culposo apenas existe se for indicado; o dolo é a regra geral.”
- “Sempre se usa o meio social para definir parâmetros sobre o que é comum e razoável.”
- “Homicídio de mulher grávida: se o agente sabia da gravidez, comete homicídio + aborto.
Se não sabia, não pode ser punido [em penal, apenas há dolo subjetivo, não objetivo; e se
era possível que soubesse, pode incidir o dolo eventual, a depender do caso concreto].”

. Bibliografia e exemplos:
- CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal.
- MASSON, Cleber. Direito Penal.
- GRAU, Eros. Por que Tenho Medo dos Juízes.
- DE JESUS, Damásio. Direito Penal – Parte Geral.
- BITENCOURT, Cesar. Código Penal Comentado.
- NUCCI, Guilherme. Manual de Direito Penal.
- Nelson Hungria Hoffbauer (Brasil, 1891 – 1969).
- Caso dos Irmãos Naves (Brasil, 1937).
- Caso Evandro (1992, Guaratuba/PR).

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