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Introdução
- Conceito analítico de crime: Fato típico (previsto em lei), ilícito (conduta não aprovada pela
lei) e culpável (capacidade do indivíduo de saber o que estava fazendo).
- Classificação de crimes:
. Simples; Qualificado: Há um elemento adicional que resulta no aumento da pena;
Privilegiado: Há um elemento adicional que resulta na redução da pena. Vale ressaltar que o
crime privilegiado altera o preceito secundário da norma (a pena), e não o primário. Um
exemplo correto dessa categoria é o art. 242 do CP (é um parágrafo único), e um errôneo, é
o art. 155, parágrafo 2º.
. Comum: Qualquer pessoa pode praticar; Próprio: Há um requisito especial necessário para
ser crime (art. 124 CP); Mão Própria: Apenas o sujeito específico pode cometer tal crime (por
exemplo, crime de falso testemunho, art. 342 CP). No crime de mão própria, não admitisse
coautoria, enquanto no próprio, sim.
. Militar; Não Militar.
. Instantâneo; Permanente: Prolonga-se no tempo (sequestro, tráfico de drogas, etc);
Instantâneo de Efeitos Permanentes: Mesmo que a ação seja instantânea, os efeitos são
irreversíveis (homicídio, por exemplo).
. Omissivo impróprio: Comissão por omissão. Ou seja, o crime é deixar de agir para evitar
um resultado concreto (por exemplo, uma mãe que deixa de alimentar o filho); Omissivo
Próprio: A omissão está descrita na lei (art. 135 CP). Apenas o primeiro admite tentativa.
. Consumado (art. 14 CP): “Quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição
legal”; Tentado (art. 14 CP): “Quando, iniciada a execução, não se consuma por
circunstâncias alheias à vontade do agente”; Exaurido: Também chamado de “crime
esgotado plenamente”, acontece após o crime (após o iter criminis, isto é, o processo de
reflexão, atos preparatórios, execução e consumação).
. Ação Única: Há apenas um verbo, uma ação prevista no artigo (como o crime de
homicídio); Ação Múltipla: É o crime que descreve várias condutas no mesmo artigo, ou seja,
é plurinuclear (por exemplo, induzir ou instigar suicídio: basta um ou outro para que o crime
seja praticado).
. Material: Há um resultado concreto, naturalístico; Formal: Não exige a produção do
resultado para que haja crime (como a ameaça, art. 147 CP). No crime formal, o resultado é
possível; Mera Conduta: Descreve apenas a conduta humana, não havendo sequer a
possibilidade de ocorrência de um resultado material (por exemplo, o crime de falso
testemunho, ou o crime de porte ilegal de arma de fogo de uso permitido, onde consuma-se
o crime independentemente da ocorrência de efetivo prejuízo para a sociedade; a
probabilidade de vir a ocorrer algum dano é presumida pelo tipo penal).
. Flagrante (art. 302 CPP): “Considera-se em flagrante delito quem: está cometendo a
infração penal; acaba de cometê-la.” Ressalte-se que em caso de crime permanente, o estado
de flagrância ocorre enquanto não cessar a permanência do ato delituoso (por exemplo, no
crime de sequestro).
. Dano; Perigo.
. Acessório/Parasitário: Exige um crime anterior (como lavagem de dinheiro ou
receptação).
- Categoria: Sujeito (ativo ou passivo); Ação (atua sobre o sujeito passivo ou provem do ativo)
-> recai sobre Objeto ferido (material, como coisa furtada ou pessoa morta; jurídico, como
patrimônio ou direito a vida).
Fato Típico
. Conduta:
- Teoria Naturalista/Causalista/Clássica: A ação é despida de finalidade; Toeira Finalista:
Observa-se a intenção e a finalidade objetivada pelo autor para que possa a conduta ser
imputada ao mesmo, contrapondo-se à Teoria Naturalista; Funcionalismo: Verifica a real
necessidade da pena. Dele, vem o Direito Penal do Inimigo, que estabelece a necessidade
de separar da sociedade, excluindo das garantias e direitos fundamentais, àqueles que o
Estado considere como inimigos, quando necessário (por exemplo, em um cenário bomba
relógio).
- Ação; Omissão; Ausência de Conduta (com exceção de coação física irresistível ou
inconsciência).
. Dolo: É a vontade livre e consciente de exercer o delito (não confundir com consciência
de ilicitude). Há o Dolo Normativo/Colorido/Híbrido, onde entende-se que o dolo é formado
pela vontade livre, consciente, e com discernimento da ilicitude do ato (elemento
normativo), elemento extra esse que passou a integrar a culpabilidade, e não mais a conduta.
- Resultado: Pode ser material, formal ou de mera conduta (resultado normativo).
. Crime Culposo:
- Requer:
. Conduta voluntária;
. Resultado ilícito, não desejado, previsível e evitável;
. Nexo causal;
. Tipicidade (art. 18 CP: apenas há crime culposo se estiver descrito em lei).
- Crime Preterdoloso/Preterintencional: É um crime agravado pelo resultado, no qual o
agente pratica uma conduta anterior dolosa, e desta decorre um resultado posterior culposo.
Há dolo no fato antecedente e culpa no consequente (como uma agressão que resulta em
morte).
- Erro de Tipo (art. 20 CP):
. O indivíduo age de forma putativa, não tem plena consciência do que está fazendo. Pode
ser:
a) Essencial: O crime não é intencional. Pode ser evitável (inescusável), excluindo o dolo e
respondendo pela culpa; ou pode ser inevitável (escusável).
b) Acidental: O crime é intencional. Pode ser erro de objeto (responde-se pelo objeto
atingido); erro de pessoa (responde-se pela vítima desejada/virtual); erro de execução
(ocorre aberratio ictus; art. 73 CP: caso erre a pessoa pretendida e fira a outra,
responde-se pela vítima virtual, e caso atinja ambas, sendo uma dolosa e outra
culposamente, aplica-se apenas uma pena aumentada); erro de resultado diverso do
pretendido (em caso de lesão contra objeto e resultado contra pessoa, responde-se
culposamente pela pessoa); erro de nexo causal (o resultado final apenas acontece por
um erro de interpretação, não excluindo o dolo).
. Nexo Causal:
Sine qua non (sem a/o qual não pode ser): refere-se a uma ação cuja condição ou ingrediente
é indispensável e essencial. Art. 13 CP: “O resultado somente é imputável a quem lhe deu
causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. § 1º:
A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só,
produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou.
- Concausas: São causas concorrentes. Podem ser:
1. Absolutamente independente: São causas paralelas; há a tentativa por um, e a
consumação por outro. Eis os tipos e exemplos:
a. Preexistente: Tício serve veneno para Mévio. Uma hora depois, quando o veneno
começa a fazer efeito, Caio, inimigo de Mévio, aparece e dá-lhe um tiro. Mévio morre
no dia seguinte em razão do veneno. Tício responde por homicídio e Caio por tentativa.
A causa concorrente foi o disparo, e a efetiva, o veneno.
b. Concomitante: Ao mesmo tempo que Tício envenenava Mévio, Caio deu um disparo
nele. Mévio morreu em razão do disparo. Caio responde por homicídio e Tício por
tentativa.
c. Superveniente: Tício ministrara veneno em Mévio. Antes desse fazer efeito, Mévio,
sofreu um acidente automobilístico e morreu em razão do acidente, causa efetiva que
é absolutamente independente e posterior ao veneno (causa concorrente), e por logo,
superveniente. Tício responde por tentativa.
. Excludentes de Licitude:
De acordo com a Teoria da Indiciariedade (ratio cognoscendi), a existência do fato típico
gera uma presunção de que é também ilícito. Segundo o art. 23 CP, não há crime quando é
cometido em “estado de necessidade; legítima defesa; estrito cumprimento de dever legal
ou no exercício regular de direito”, sendo que o agente responderá pelo excesso doloso ou
culposo.
- Legítima Defesa (art. 25): “Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente
dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de
outrem.”
- Estado de Necessidade (art. 24): “Considera-se em estado de necessidade quem pratica o
fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade [(salvo culpa)], nem podia
de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era
razoável exigir-se. § 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a
pena poderá ser reduzida de um a dois terços.”
- Consentimento do Ofendido: Configura-se quando a vítima, titular do bem jurídico violado,
concorda com a lesão ou perigo de lesão praticada por alguém. Só é válido quando a pessoa
que concorda com a violação é a única titular do bem jurídico.
. É uma clausula supralegal (não encontra previsão legal no ordenamento jurídico
brasileiro).
. O consentimento deve ser válido, prévio e expresso, e o ofendido, capaz, para que haja
excludente de ilicitude.
. O consentimento deve ser dado a um bem jurídico disponível. A integridade física é um
bem disponível desde que as lesões sofridas sejam consideradas leves. Caso sejam lesões
graves ou gravíssimas, o consentimento do ofendido não afastará a ilicitude. Lesões leves ou
culposas vão requerer representação.
- Descriminante Putativa: Modalidade resultante de erro de fato, de modo a dar ao agente
a impressão falsa da realidade e fazê-lo supor a existência de situação de fato que tornaria a
ação legítima. Se for inevitável ter acreditado, há excludente de ilicitude. Se fosse evitável,
responderá por crime culposo.
. Culpabilidade:
É o juízo de reprovação sobre aquele que praticou fato típico, julgando o entendimento e a
autodeterminação do autor. O autor responde pelo que fez, e não pelo que é (direito penal
do fato). Verifica-se a potencial consciência da ilicitude, isto é, a possibilidade que tem o
agente imputável de compreender a reprovabilidade da sua conduta
- Erro de Proibição: Ocorre quando o agente não compreende um fato como ilícito ou o
enxerga como permitido.
- Valoração Paralela na Esfera do Profano: A utilização de elementos não jurídicos para
avaliar se, no momento da conduta, o agente tinha condições para ter conhecimento da
ilicitude de sua conduta.
- Necessidade de Sansão Penal: Pode requerer uma pena ou medida de segurança (em caso
de incapazes de ficar em sociedade), sendo internação ou tratamento.
- Elementos da Imputabilidade:
. Causas da Imputabilidade:
a. Anomalia psíquica (art. 26 CP): “É isento de pena o agente que, por doença mental ou
desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da
omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-
se de acordo com esse entendimento. A pena pode ser reduzida de um a dois terços,
se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento
mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter
ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.” Em intervalos
de lucidez, há crime completo. Em caso de sonambulismo, nem se quer há conduta
(tipicidade). Pode haver com a anomalia psíquica a absolvição sumária imprópria, que
ocorre quando o juiz isenta o agente de pena, mas o vincula a uma medida de
segurança. O juiz aplica o Sistema Vicariante/Unitário, ou seja, uma medida de
segurança contra o incapaz.
b. Menores de 18 anos (art. 27 CP): “Os menores de 18 anos são penalmente
inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial.”
c. Emoção e paixão (art. 28 CP): Não exclui a imputabilidade penal.
d. Embriaguez (art. 28 CP): “A embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou
substância de efeitos análogos” não exclui ilicitude. É isento de pena o agente que por
embriaguez completa involuntária era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente
incapaz. Em caso de incapacidade relativa, a pena pode ser reduzida de 1 a 2/3. Caso
se torne incapaz devido a escolha, onde põe-se voluntariamente em estado de
imputabilidade, há actio libera in causa, e responde-se normalmente.
- Exigibilidade de Conduta Diversa: É o estado de necessidade, a coação moral irresistível e
obediência hierárquica (com exceção de ordens manifestadamente ilegais), ou seja,
situações que não se poderia exigir uma conduta diferente da adotada pelo agente.
. Quanto a tentativa:
- Desistência voluntária e arrependimento eficaz (Pote de Ouro, art. 15 CP): “O agente que,
voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado se produza,
só responde pelos atos já praticados.”
- Arrependimento posterior (Pote de Prata, art. 16 CP): “Nos crimes cometidos sem
violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento
da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois
terços.”
- Crime Impossível (art. 17 CP): “Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do
meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.”
- Do Concurso de Pessoas:
. Art. 29 CP: Quem concorre para o crime incide na pena, na medida de sua culpabilidade.
Em participação de menor importância (partícipe que auxilia, instiga, induz), há redução da
pena de 1/3 a 1/6. Se algum concorrente quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á
aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido
previsível o resultado mais grave.
- Tipos de tentativa: Branca/Incruenta: O agente não conseguiu nem mesmo atingir o objeto
pretendido. Ex.: Ao atirar, as balas se desviaram da vítima; Vermelha/Cruenta: O agente
conseguiu atingir o objeto, mas não conseguiu consumar o delito. Ex.: A bala somente
perfurou o braço da vítima; Perfeita/Acabada: O agente utilizou todos os meios que estavam
ao seu alcance, e mesmo assim não consumou o crime. Ex.: O agente lesionou a vítima com
socos e disparou 4 tiros na mesma, mas foi preso em flagrante antes que a vítima pudesse
vir a falecer. Imperfeita/Inacabada: O agente não consegue utilizar todos os seus meios de
execução para a prática delituosa. Ex.: O agente tem como desferir 5 tiros, mas só consegue
1, pois é preso em flagrante.
DIREITO PENAL: SANÇÃO PENAL
PROFESSOR: MARCELO LUIZ SEIXAS CABRAL
Introdução às Sanções
- Sanção significa uma “retribuição”. Ela pode ser: a) punitiva; b) premial. Ela começou como
conhecemos no direito romano.
- Finalidade da pena: O Brasil adora a teoria mista (também chamada de eclética ou
intermediária), que diz que a pena tem a função de retribuir e prevenir/evitar.
- Princípios orientadores das penas: Segundo Robert Alexy (Alemanha, 1945 – hoje), um
princípio é um mandado (ordem) de otimização. Normalmente, não é escrito. São princípios
orientadores das penas:
1. Princípio da dignidade da pessoa humana. Art. 5º CF, inciso XLVII: “Não haverá penas: a)
de morte, salvo em caso de guerra [...]; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d)
de banimento, e; e) cruéis.
2. Princípio da legalidade. Art. 5º CF, inciso XXXIX: “Não há crime sem lei anterior que o
defina, nem pena sem prévia cominação legal.”
3. Princípio da retroatividade da lei penal benéfica. Art. 5º CF, inciso XL: “A lei penal não
retroagirá, salvo para beneficiar o réu.”
4. Princípio da personalidade (ou da intranscendência). Art. 5º CF, inciso XLV: “Nenhuma
pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a
decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra
eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido.” Art. 107 CP: “Extingue-se a
punibilidade: I - pela morte do agente.”
5. Princípio da individualização da pena. Cada responsável pelo crime receberá punição
individualizada, de acordo com suas características pessoais.
6. Princípio da proporcionalidade. A pena deve ser proporcional ao crime. É um princípio
primeiramente reservado ao legislador, e, posteriormente, ao juiz.
. Penas:
- Há dois tipos de penas:
. PPL (pena privativa de liberdade). Aqui, há a reclusão (a mais grave), a detenção e a prisão
simples (esta última apenas aplicada a contravenções penais). O tipo/regime de pena a ser
usado será decidido pela letra da lei.
. PRD (pena restritiva de direito). É um tipo de pena alternativa (juntamente com a multa).
A principal característica da pena restritiva de direito é sua substitutividade (uma outra
opção) quanto a prisão.
- Dentro da infração penal, temos o crime/delito e a contravenção penal (ou crime anão).
- Regime de cumprimento de pena: Pode ser fechado, semiaberto e aberto (onde a pena é
cumprida na “casa de albergado”).
- Art. 33: “A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semiaberto ou aberto.
A de detenção, em regime semiaberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a
regime fechado. [...] § 2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma
progressiva, segundo o mérito do condenado [...].”
- Art. 59 (considerado o mais importante art. do CP): “O juiz, atendendo à culpabilidade, aos
antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias
e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá [...]: I - as
penas aplicáveis [...]; II - a quantidade de pena aplicável [...]; III - o regime inicial de
cumprimento da pena privativa de liberdade; IV - a substituição da pena privativa da
liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível.”
- Reincidência: É reincidente o indivíduo que foi definitivamente condenado por outro crime,
desde que ainda dentro do período depurador (5 anos contados do transito em julgado da
condenação, ou da decisão que julga extinta a pena).
- Concurso formal/ficcional (art. 70): “Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão,
pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se a mais grave das penas cabíveis ou,
se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade.
As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes
concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo anterior.
Parágrafo único. Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do art. 69 deste
Código.”
Ao aplicar as penas, o juiz, obrigatoriamente, fará isso de forma individual. Ou seja, fixará
uma pena para cada crime, mesmo que tenha que escolher apenas uma.
Pode ainda ser dividido entre concurso formal homogêneo (ocorre o mesmo tipo de crime;
ex.: homicídios culposos do art. 302 CTB*) ou concurso formal heterogêneo (por meio de
uma única conduta, o agente pratica 2 ou mais crimes diferentes; ex.: homicídio de mulher
que o réu sabia que estava grávida, ou seja, homicídio + aborto; observa-se que, não havendo
ciência da gravidez, ainda pode ser aplicada as consequências, do art. 59).
. Concurso formal próprio/perfeito: Ocorre nas hipóteses de crimes resultantes de um
único desígnio/vontade. A pena é fixada com elevação de 1/6 até 1/2. Atenção: No caso de
o cálculo da pena por essa regra do concurso formal for prejudicial ao condenado, ela é
abandonada, e as penas passam a ser somadas (concurso material benéfico; ex.: tiro que
vara vítima, e causa 1 morte e 1 lesão, sendo que a lesão não era intencional, mas previsível
-> homicídio = 6 anos, e lesão corporal grave = 3 meses -> não haverá elevação de pena, mas
sim a cumulação).
. Concurso formal impróprio/imperfeito: Os crimes são resultado de desígnios autônomos,
ou seja, vontades diferentes (ocorre apenas em crimes dolosos). As penas são somadas,
como no concurso material (ex.: um corintiano que vara 2 são paulinos, intencionalmente,
para economizar munição).
- Crime continuado (art. 71): “Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão,
pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira
de execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação
do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se
diversas, aumentada, em qualquer caso, de 1/6 a 2/3.
Parágrafo único. Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou
grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a
conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias,
aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo,
observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste Código.”
. Tempo: O espaçamento entre um crime e outro deve ser de, no máximo, 30 dias (STF/STJ).
- Preferência: os crimes continuados são julgados em um processo único. Se existirem
processos distintos para cada crime, a continuidade delitiva pode ser reconhecida na fase da
execução formal, por meio do procedimento chamado unificação de penas.
. Lugar: Mesmo município ou em comarcas próximas. Ex.: taxista que pratica estelionato
(art. 171) continuamente pela mesma cidade, dizendo que marcador zerou e cobrando valor
mais alto do que deveria.
. Maneira de execução: Deve ser semelhante (não precisa ser idêntica; mas há diversos
casos interessantes no STJ), e os crimes devem ser da mesma espécie (STF e STJ, embora STJ
tenha precedentes contrários).
Ex.: operador de caixa que furta (art. 155) todos os dias dinheiro da loja; não importa se
rouba a noite ou de manhã, pois é semelhante; mas se um ladrão de celular furta o objeto
em cima de uma mesa, mas no dia seguinte tem que destruir alguma proteção para conseguir
pegar outro objeto, pode ser tratado como crimes diferentes (furto qualificado, art. 155, §
4º, I).
. Teoria mista (objetivo-subjetiva): Necessita de requisitos objetivas (pluralidade de
condutas/crimes da mesma espécie; condições semelhantes de tempo, lugar e execução) e
subjetivos (unidade de desígnios; liame subjetivo de que o crime subsequente foi
continuação do antecedente, pois caso contrário, há mera habitualidade na prática de
crimes. “A unidade de desígnios é requisito para a caracterização da continuidade delitiva,
uma vez que foi adotada por este Tribunal a teoria mista (objetivo-subjetiva).” RHC
150.666/STF.
. Baseia-se na teoria da ficção jurídica (por políticas criminais, visando atenuar a pena; STF,
HC 91.370).
. Súmula 711/STF: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime
permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.”
. Súmula 659/STJ: “A fração de aumento em razão da prática de crime continuado deve ser
fixada de acordo com o número de delitos cometidos, aplicando-se 1/6 pela prática de duas
infrações, 1/5 para três, 1/4 para quatro, 1/3 para cinco, 1/2 para seis e 2/3 para sete ou mais
infrações.” Em caso de estupro de vulnerável: REsp 2.029.482.
. Crime continuado qualificado/específico: Parágrafo único.
. Súmula 605/STF (já superada, por ser anterior a reforma de 1984): “Não se admite
continuidade delitiva nos crimes contra a vida.”
. Crime continuado formal: No caso do crime continuado, também se aplica o concurso
material benéfico.
- Multas no concurso de crimes (art. 72): “No concurso de crimes, as penas de multa são
aplicadas distinta e integralmente.”
. Limite de pena:
- Na redação original da lei 8.072/90, a lei dos crimes hediondos, os crimes poderiam apenas
ser cumpridos no regime fechado. Não existia progressão de pena. Porém, isso foi alterado
após julgamento de 2006 do STF (HC 82.959-S), e apenas o regime inicial de crimes hediondos
passa a ser fechado (lei 11.464/07).
- Art. 75: “O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior
a 40 anos.”, redação de 2019. Se o condenado praticar novos crimes enquanto encarcerado
e for condenado, se fará uma nova unificação de pena, e assim, o limite de 40 anos pode ser
superado. Ex.: um criminoso condenado a 50 anos ficará preso por 40 anos; ao cumprir 20
anos de prisão, comete novo crime e é condenado em mais 15 anos; faz-se nova unificação
da pena -> faltavam 20 anos na prática, mas ele ainda devia 30 anos, portanto, passa a dever
45.
- Progressão de pena (súmula 715, STF): “A pena unificada para atender ao limite [...]
determinado pelo art. 75 do Código Penal, não é considerada para a concessão de outros
benefícios, como o livramento condicional ou regime mais favorável de execução.” Ou seja,
para fins de progressão e outros benefícios, o cálculo de pena usado será o total original, que
pode exceder os 40 anos.
. Revogação obrigatória
Art. 81: A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário:
I - é condenado, em sentença irrecorrível, por crime doloso superveniente;
II - não efetua, sem motivo justificado (não é motivo justificado não ter dinheiro), a
reparação do dano ou o pagamento da pena de multa;
III - descumpre a condição do § 1º do art. 78 (prestação de serviços à comunidade ou
limitação de fim de semana no primeiro ano).
. Efeitos da condenação:
São efeitos que ocorrem quando o réu é definitivamente condenado.
- Efeitos penais principais: imposição da pena (pena ou m.s. de s.i.) e posterior execução.
- Efeitos penais secundários (possíveis): condição de reincidência e maus antecedentes,
impossibilidade de ANPP, livramento condicional revogado, interrupção do prazo
prescricional, revogação do sursis etc.
* prescrição da pretensão punitiva: encerra os efeitos penais e extrapenais, e afasta
interesse recursal que objetive absolvição (STJ/2020).
* prescrição da pretensão executória: encerra o efeito principal (pena), mas subsistem os
secundários (penais e extrapenais).
* antes da repercussão e consequências da Operação Lava-Jato (2014 – 2021), havia a
possibilidade de prisão em 2ª instância, o que não existe mais, pois a prisão nesse estágio
estaria afrontando o art. 5º, incisos LIV, LVII e LXI da CF/88, estando em desarmonia com a
presunção de inocência.
- Efeitos extrapenais da condenação (genéricos):
1. Tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime (art. 91, I)
- a sentença serve como título executivo (torna certa a obrigação de indenizar, na
debeatur); pode ter valor mínimo fixado (art. 387, IV, CPP; depende de pedido
expresso na inicial e instrução probatória específica, exceto em dano moral em
violência doméstica, onde passa a ser in re ipsa).
- liquidação e discussão do valor real (quantum debeatur): juízo civil
2. A perda em favor da União (confisco), ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de
boa-fé, dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico,
alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito; e do produto do crime ou de
qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a prática do
fato criminoso (art. 91, II). Segundo a lei 11.343/06, os bens utilizados na traficância
serão confiscados pelo Estado (cap. IV)
Art. 243, CF: “As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem
localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na
forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de habitação
popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções
previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5º. Parágrafo único. Todo e
qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins e da exploração de trabalho escravo será confiscado e reverterá
a fundo especial com destinação específica, na forma da lei.”
3. Suspensão dos direitos políticos (ativo, que é ser votado, e passivo, que é votar)
enquanto durarem os efeitos da condenação criminal (art. 15, III, CF). Presos
provisórios (que estão em situação de prisão em flagrante, a prisão temporária ou a
prisão preventiva) podem votar.
4. Condenação definitiva é motivo para demissão por justa causa, desde que não haja
substituição da PPL por PRD ou sursis (art. 482, alínea D, CLT).
. Medida de segurança:
Relembrando, há duas espécies de infração penal: o crime (delito) e a contravenção penal
(crime anão). E há dois tipos de sanções: a pena (reclusão, detenção e prisão simples) e a
medida de segurança.
Art. 26: “É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental
incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.”
Ou seja, são “incapazes”. O menor de 18 anos é incapaz, porém, tem previsão legal específica
(lei 8.069/90), na qual sofre “medida socioeducativa”. Sendo maior de 18 anos, e se
enquadrando nas previsões do art. 26, o agente também é considerado incapaz, e este
incapaz que é objeto da sanção de medida de segurança.
- Medida de segurança: Trata-se de uma espécie de sanção penal aplicável aos inimputáveis
e semi-imputáveis, que praticam infrações penais e sejam perigosos. Ou seja, existe devido
a periculosidade do agente.
. Ação penal:
Inicialmente, a ação penal é primeira acusada ao juiz, desde que haja prova de materialidade
de que o crime ocorreu e indícios de autoria de que aquele é o responsável. A petição inicial
ao juiz pode ser pública ou privada:
- Ação penal pública (art. 100, § 1º): É emitida uma denúncia pelo Ministério Público (MP).
Pode ser uma ação incondicionada (não depende da vontade de qualquer parte para ocorrer)
ou condicionada (depende da representação da vítima contra o réu, ou de requisição do
Ministério da Justiça, que é braço do Poder Executivo).
. Art. 46, CPP: “O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu preso, será de 5
dias, contado da data em que o órgão do MP receber os autos do inquérito policial, e de 15
dias, se o réu estiver solto ou afiançado. [...]”
- Ação penal privada: É emitida uma queixa-crime do querelante (ofendido) contra o
querelado (autor do crime).
. Ação privada subsidiária da pública (art. 5º, LIX, CF): Ocorre quando o MP não atua no
prazo devido. O ofendido ou representante pode ingressar diretamente com a ação penal.
. Art. 100, § 4º: “No caso de morte do ofendido ou de ter sido declarado ausente por
decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou de prosseguir na ação passa ao cônjuge,
ascendente, descendente ou irmão.”
DIREITO PENAL: CRIMES CONTRA A
PESSOA E O PATRIMÔNIO
PROFESSOR: MARCELO LUIZ SEIXAS CABRAL
- Homicídio impossível:
Há impropriedade absoluta do objeto material ou ineficácia absoluta do meio, não sendo
possível consumar o crime, e, portanto, não podendo ser punido. (ex.: matar cadáver, ou
matar alguém batendo com um rolo de papel higiênico)
- Homicídio qualificado:
“§ 2° Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II - por motivo fútil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou
cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou
torne impossível a defesa do ofendido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime;
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino;
VII - contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da CF, integrantes do sistema
prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em
decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até
terceiro grau, em razão dessa condição;
VIII - com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido;
IX - contra menor de 14 anos:
Pena - reclusão, de 12 a 30 anos.”
. Mediante recompensa: Sendo no mínimo ofertada a recompensa, nem é necessário que
haja a tradição para que seja considerada esta qualificação. Tanto o contratante quanto o
contratado incorrem no homicídio qualificado.
. Motivo torpe: É um motivo repugnante, desprezível, que causa indignação na sociedade.
. Motivo fútil: É aquele de pequena importância, quando se constata uma
desproporcionalidade.
. Meio insidioso e cruel: Insidioso é o meio fraudulento, usado para praticar o crime sem
que a vítima perceba (ex.: veneno). Já o meio cruel é aquele que provoca na vítima um
intenso e desnecessário sofrimento físico ou mental (ex.: veneno tbm kk; fogo).
- veneno: Qualquer substância mineral, vegetal ou animal (ou seja, qualquer substância)
que em contato com o organismo seja capaz de matar. Apenas se considera veneno o que é
objetivamente veneno. (ex.: embora dar açúcar para um diabético ou remédio para alérgico
possa o matar, nesses casos, a substância não é normalmente um veneno)
- fogo;
- asfixia: É o impedimento da função respiratória, e pode ocorrer pro: 1. esganadura
(impedimento da função respiratória por meio de força muscular, dos pés ou mãos); 2.
enforcamento (ocorre mediante o uso de um laço, acionado pelo peso da vítima); 3.
estrangulamento (o impedimento se dá por laço acionado por força diversa do peso da
vítima); 4. sufocação (a vítima tem vias respiratórias tampadas ou tórax comprimido); 5.
afogamento; 6. confinamento (ocorre asfixia por falta de oxigênio no local que a vítima é
colocada).
- tortura: meios que causam longo e desnecessário sofrimento na vítima.
- perigo comum: ocorre quando há riscos p/ terceiros (diferentemente de danos).
* havendo ausência de motivo (ou caso o motivo não tenha sido descoberto), considera-se
apenas como homicídio simples.
* Súmula 27 do TJDFT: “Presentes duas ou mais qualificadoras no delito, uma deve ser
utilizada para fins de tipificação do crime qualificado e as demais na dosimetria da pena, seja
na pena-base, seja como circunstância agravante, se prevista legalmente como tal, vedado o
bis in idem.”
. Arma de fogo restrita vs. proibida: Restrita é quanto ao calibre, e proibida é sem o registro;
irregular.
- Feminicídio: Art. 121, § 2°: “Se o homicídio é cometido: [...] VI - contra a mulher por razões
da condição de sexo feminino.” (Incluído pela lei 13.104/15; é homicídio qualificado)
§ 2º-A: “Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve:
I - violência doméstica e familiar; II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.”
§ 7º: “A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 até a metade se o crime for praticado:
I - durante a gestação ou nos 3 meses posteriores ao parto;
II - contra pessoa maior de 60 anos, com deficiência ou com doenças degenerativas que
acarretem condição limitante ou de vulnerabilidade física ou mental [ou seja, deve-se ter 60
anos + deficiência ou doença, embora haja teses minoritárias contrárias]
III - na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima;
IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e III do
caput do art. 22 da lei 11.340/06 [Lei Maria da Penha; nesse caso, há o crime de
descumprimento e o crime de homicídio, embora haja a tese da consunção ou crime meio]”.
- Homicídio contra menor de 14 anos: Art. 121, § 2°: “Se o homicídio é cometido: [...] IX -
contra menor de 14 anos.” (Incluído pela lei 14.344/22; é homicídio qualificado)
§ 2º-B: “A pena do homicídio contra menor de 14 anos é aumentada de:
I - 1/3 até a metade se a vítima é pessoa com deficiência ou com doença que implique o
aumento de sua vulnerabilidade;
II - 2/3 se o autor é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro,
tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tiver
autoridade sobre ela.”
. Causa de aumento de pena em homicídio de menor ou de idoso: Art. 121, § 4º: “[...] Sendo
doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 se o crime é praticado contra pessoa menor
de 14 ou maior de 60 anos.”
[Caso haja apenas como qualificador o homicídio de menor, não pode ser aplicado esta causa
de aumento da pena. Porém, caso haja 2 qualificadores (ex.: homicídio torpe e contra
menor), pode-se usar o qualificador torpe e a causa de aumento de homicídio de menor de
14 anos.]
- Causa de aumento de pena por milícia privada (art. 121, § 6º): “A pena é aumentada de
1/3 até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de
serviço de segurança, ou por grupo de extermínio.”
- Homicídio culposo: Art. 121, § 3º: “Se o homicídio é culposo: Pena - detenção, de 1 a 3
anos.”
. Aumento de pena em homicídio culposo (§ 4º): “No homicídio culposo, a pena é
aumentada de 1/3 se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou
ofício [ou seja, imperícia], ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não
procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante.”
. Perdão judicial (§ 5º): “Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar
a pena, se as consequências de a infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que
a sanção penal se torne desnecessária.”
O juiz emite uma sentença declaratória de extinção da punibilidade (vide art. 107, IX). O juiz
primeiro deve reconhecer a existência do crime e que tal agente fora culpado, mas ele sequer
calcula a pena.
. Infanticídio:
Art. 123: “Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou
logo após: Pena - detenção, de dois a seis anos.”
- é crime próprio [e não de mão própria, pois admite concurso de pessoas]
- o estado puerperal pode durar de instantes a dias; é comprovado por laudo médio
psiquiátrico.
- caso não haja apenas influência, mas a mulher esteja completamente dominada por esse
estado, não tendo ciência alguma de seus atos, ela é inimputável, conforme o art. 26.
- Partícipe em crime de infanticídio:
. Posição minoritária: O estado puerperal é condição personalíssima, e não se comunica
entre os envolvidos. A mulher responderá por infanticídio, e outra pessoa envolvida, por
homicídio. (Nelson Hungria, que se retratou posteriormente)
. Posição majoritária: O estado puerperal deve se comunicar entre os envolvidos, e,
portanto, todos responderão pelo mesmo crime de feminicídio. (Edgar Magalhaes Noronha)
- Nesse sentido, art. 30: “Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter
pessoal, salvo quando elementares do crime.”
- Vide erro quanto a pessoa (art. 20, § 3º): A regra é que as pessoas respondam pelos seus
atos a título de dolo. Se houver erro quanto a pessoa, o agente responderá como se tivesse
praticado o crime contra a pessoa correta. (ex.: corno que mata vizinha achando ser sua ex)
. Aborto:
- Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento:
. Art. 124: “Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: Pena -
detenção, de um a três anos.” Aqui sujeito passivo é o Estado, que tem o interesse no
nascimento com vida do produto da concepção.
- Aborto provocado por terceiro:
. Art. 125: “Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de três a
dez anos.” O sujeito passivo aqui é tanto o interesse do Estado, como no art. 124, como
também a mulher grávida.
. Art. 126: “Provocar aborto com o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de um a
quatro anos.”
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de 14 anos,
ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave
ameaça ou violência.”
- Aborto qualificado:
. Art. 127: “As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas em 1/3, se,
em consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre
lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe
sobrevém a morte.
- Aborto legal/permitido:
. Art. 128: “Não se pune o aborto praticado por médico:
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante (aborto necessário); [é obrigatório,
a gestante ou 3º não pode fazer recusa]
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante
ou, quando incapaz, de seu representante legal (aborto no caso de gravidez resultante de
estupro; aborto sentimental, humanitário, ético ou piedoso).”
. Aborto anencefálico: A gestante tem liberdade para decidir se interrompe a gravidez caso
seja constatada a anencefalia do feto (condição caracterizada pela ausência parcial do
encéfalo e da calota craniana, que corresponde à morte cerebral). Fonte: ADPF 54, STF.
* [pode-se dizer que a objetividade jurídica do aborto é esse interesse do Estado, ou ainda,
que é a vida de maneira indireta; no caso do art. 125, também é a integridade física da
gestante, que também é sujeito passivo]
- aborto eugênico/eugenésico, microcefálico, e o econômico/miserável/social: todos crimes.
. Dos crimes contra a pessoa: lesão corporal:
- Lesão corporal leve:
Art. 129: “Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de 3
meses a 1 ano.”
- integridade física: é preciso deixar marcas no corpo da vítima.
- saúde: é a importunação que causa problemas que não são de ordem física, mas sim de
ordem psicológica ou nervosa.
- Omissão de socorro:
Art. 135: “Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança
abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e
iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública: Pena -
detenção, de 1 a 6 meses, ou multa.”
. criança: é menor de 12 anos (ECA).
. apenas no caso de grave e iminente perigo há perigo concreto (onde deve-se provar a
existência), sendo nos demais casos presumível o perigo (iuris et de iure).
. subsiste o crime com resistência, exceto se impossibilitar a atuação.
. é crime omissivo próprio (não admite o conatus).
Parágrafo único: A pena é aumentada de metade, se resulta lesão corporal de natureza
grave, e triplicada, se resulta a morte.
. Código de Trânsito Brasileiro (lei 9.503/97): Art. 304: “Deixar o condutor do veículo, na
ocasião do sinistro, de prestar imediato socorro à vítima, ou, não podendo fazê-lo
diretamente, por justa causa, deixar de solicitar auxílio da autoridade pública: (Redação dada
pela Lei 14.599/23) Penas - detenção, de 6 meses a 1 ano, ou multa, se o fato não constituir
elemento de crime mais grave.
Parágrafo único. Incide nas penas previstas neste artigo o condutor do veículo, ainda que a
sua omissão seja suprida por terceiros ou que se trate de vítima com morte instantânea ou
com ferimentos leves. [a doutrina alega inaplicabilidade do parágrafo, exceto no caso de
ferimentos leves, pois supressão por 3ºs ou vítima morta exclui a exigência de socorro]
. não é aplicado ao condutor que tenha provocado morte ou lesão culposa (pois pagará por
estas, que constituem delito mais grave; art. 302, § 1º, III e art. 303, § 1º, do CTB).
. a norma é direcionada ao condutor que se envolveu em acidente sem culpa.
- Maus-tratos:
Art. 136: “Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou
vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de
alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou
inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina: Pena - detenção, de 2 meses
a 1 ano, ou multa.”
. crime de ação múltipla (tipo misto alternativo) e de forma vinculada.
. haverá crime único caso múltiplas condutas sejam cometidas no mesmo contexto fático
com a mesma vítima.
. tentativa apenas admitida na forma comissiva.
§ 1º Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de 1 a 4 anos.
§ 2º Se resulta a morte: Pena - reclusão, de 4 a 12 anos.
§ 3º Aumenta-se a pena de 1/3, se o crime é praticado contra menor de 14 anos. (Incluído
pela Lei 8.069/90)
. Estatuto da Pessoa Idosa: Art. 99: “Expor a perigo a integridade e a saúde, física ou psíquica,
da pessoa idosa, submetendo-a a condições desumanas ou degradantes ou privando-a de
alimentos e cuidados indispensáveis, quando obrigado a fazê-lo, ou sujeitando-a a trabalho
excessivo ou inadequado: (Redação dada pela Lei 14.423/22) Pena – detenção de 2 meses a
1 ano e multa.
§ 1º Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena – reclusão de 1 a 4 anos. § 2º
Se resulta a morte: Pena – reclusão de 4 a 12 anos.”
. ECA: Art. 232: “Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a
vexame ou a constrangimento: Pena – detenção de 6 meses a 2 anos.”
. Lei de Tortura (Lei 9.455/97): Art. 1º: “Constitui crime de tortura: [...] II - submeter alguém,
sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso
sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter
preventivo. Pena – reclusão, de 2 a 8 anos.”
. se diferencia do crime de maus-tratos (crime de perigo), por ser crime de dano.
. a lei revogou o art. 233 do ECA: “Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade,
guarda ou vigilância a tortura [...]”
. Crimes Ambientais (Lei 9.605/98): Art. 32: “Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou
mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos: Pena -
detenção, de 3 meses a 1 ano, e multa.
§ 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo,
ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos.
§ 1º-A Quando se tratar de cão ou gato, a pena para as condutas descritas no caput deste
artigo será de reclusão, de 2 a 5 anos, multa e proibição da guarda. (Incluído pela Lei
14.064/20)
§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal.”
. vide ADPF 640: vedado o abate de animais apreendidos em situação de maus-tratos.
- Rixa:
Art. 137: “Participar de rixa, salvo para separar os contendores: Pena - detenção, de 15 dias
a 2 meses, ou multa.”
. deve ter ao menos 3 pessoas participando ativamente da rixa.
Parágrafo único. Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se, pelo fato
da participação na rixa, a pena de detenção, de 6 meses a 2 anos.
. ocorre responsabilidade penal objetiva.
- Difamação:
Art. 139: “Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação: Pena - detenção,
de 3 meses a 1 ano, e multa.”
- também protege a honra objetiva.
- deve haver o dolo de imputar fato ofensivo a reputação da vítima.
- pouco importa se o fato imputado é falso ou verdadeiro, diferentemente da calúnia, no
qual precisa ser conscientemente falso.
- Exceção da verdade: Em regra, não é cabível, pois pouco importa se o fato é verdadeiro ou
falso. Todavia, há uma exceção:
Art. 139, parágrafo único: “A exceção da verdade somente se admite se o ofendido é
funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções.”
- Exceção de notoriedade: É alegada a falta de potencial ofensivo da conduta, uma vez que
o fato imputado já seria público. Não é uma defesa aceita no direito brasileiro.
Mesmo assim, CPP, art. 523: “Quando for oferecida a exceção da verdade ou da notoriedade
do fato imputado, o querelante poderá contestar a exceção no prazo de dois dias, podendo
ser inquiridas as testemunhas arroladas na queixa, ou outras indicadas naquele prazo, em
substituição às primeiras, ou para completar o máximo legal.”
. Lei de Crimes de Abuso de Autoridade (Lei 13.869/19): Art. 38: “Antecipar o responsável
pelas investigações, por meio de comunicação, inclusive rede social, atribuição de culpa,
antes de concluídas as apurações e formalizada a acusação: Pena - detenção, de 6 meses a 2
anos, e multa.”
- Injúria:
Art. 140: “Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: Pena - detenção, de 1 a
6 meses, ou multa.”
- protege-se a honra subjetiva da vítima, que é dividida entre a dignidade (atributos morais)
e decoro (atributos físicos ou intelectuais).
- por proteger a honra subjetiva, pessoa jurídica não pode ser vítima de injúria,
diferentemente de calúnia e difamação, que protegem a honra objetiva.
- Perdão judicial: Art. 140, § 1º: “O juiz pode deixar de aplicar a pena:
I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria;
II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.”
- Injúria real: Art. 140, § 2º: “Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua
natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes (humilhantes): Pena - detenção,
de 3 meses a 1 ano, e multa, além da pena correspondente à violência.” Trata-se de concurso
formal de crimes, no caso de violência. Caso seja concurso de vias de fato e injúria, as vias de
fato são absorvidas pela injúria.
- Injúria qualificada: Art. 140, § 3º: “Se a injúria consiste na utilização de elementos
referentes a religião ou à condição de pessoa idosa ou com deficiência: Pena - reclusão, de
1 a 3 anos, e multa.” (Redação dada pela lei 14.532/23)
. Lei do Racismo (Lei 7.716/89): Art. 2º-A: “Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o
decoro, em razão de raça, cor, etnia ou procedência nacional. (Incluído pela Lei 14.532/23)
Pena: reclusão, de 2 a 5 anos, e multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada de metade se o crime for cometido mediante concurso
de 2 ou mais pessoas.”
. ADO 26: homofobia e transfobia é equiparada ao crime de racismo.
. Estatuto da Pessoa Idosa (Lei 10.741/03): Art. 96: “Discriminar pessoa idosa, impedindo ou
dificultando seu acesso a operações bancárias, aos meios de transporte, ao direito de
contratar ou por qualquer outro meio ou instrumento necessário ao exercício da cidadania,
por motivo de idade: Pena – reclusão de 6 meses a 1 ano e multa.
§ 1º Na mesma pena incorre quem desdenhar, humilhar, menosprezar ou discriminar pessoa
idosa, por qualquer motivo.
§ 2º A pena será aumentada de 1/3 se a vítima se encontrar sob os cuidados ou
responsabilidade do agente.
§ 3º Não constitui crime a negativa de crédito motivada por superendividamento da pessoa
idosa. (Redação dada pela Lei 14.423/22)”
. Lei de Discriminação aos Portadores de HIV (Lei 12.984/14): Art. 1º: “Constitui crime
punível com reclusão, de 1 a 4 anos, e multa, as seguintes condutas discriminatórias contra
o portador do HIV e o doente de aids, em razão da sua condição de portador ou de doente: I
- recusar, procrastinar, cancelar ou segregar a inscrição ou impedir que permaneça como
aluno em creche ou estabelecimento de ensino de qualquer curso ou grau, público ou
privado; II - negar emprego ou trabalho; III - exonerar ou demitir de seu cargo ou emprego;
IV - segregar no ambiente de trabalho ou escolar; V - divulgar a condição do portador do HIV
ou de doente de aids, com intuito de ofender-lhe a dignidade; VI - recusar ou retardar
atendimento de saúde.”
. Desacato: Art. 331: “Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela:
Pena - detenção, de 6 meses a 2 anos, ou multa.”
. proferida injúria in officio, é desacato; entendo que o mesmo em caso de propter officium.
. Código Eleitoral (Lei 4.737/65): Art. 326: Injuriar alguém, na propaganda eleitoral, ou
visando a fins de propaganda, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: Pena - detenção até
6 meses, ou pagamento de 30 a 60 dias-multa.
§ 1º O juiz pode deixar de aplicar a pena: I - se o ofendido, de forma reprovável, provocou
diretamente a injúria; II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.
§ 2º Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou meio
empregado, se considerem aviltantes: Pena - detenção de 3 meses a 1 ano e pagamento de
5 a 20 dias-multa, além das penas correspondentes à violência.”
. Competência: Mesmo que divulgada pela internet, é de competência estadual. Caso seja
injúria racial (ou homofóbica/transfóbica) em rede social de abrangência internacional, é de
competência federal (CCs 163.420 e 191.970, 2020 e 2022, STJ).
. Imunidades: Pode incidir aos deputados (federais e estaduais), senadores, vereadores e aos
advogados.
Art. 53, CF: “Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de
suas opiniões, palavras e votos.” Art. 27, § 1º, CF: “Será de quatro anos o mandato dos
Deputados Estaduais, aplicando- sê-lhes as regras desta Constituição sobre sistema eleitoral,
inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de mandato, licença, impedimentos e
incorporação às Forças Armadas.” Art. 29, VIII, CF: “Inviolabilidade dos Vereadores por suas
opiniões, palavras e votos no exercício do mandato e na circunscrição do Município.” Art.
133, CF: “O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus
atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei.”
- Exclusão do crime de injúria ou difamação: Art. 142: Não constitui injúria ou difamação
punível:
I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador;
. vide desacato (art. 331).
. ocorre apenas em processos judiciais, nunca em administrativos ou diversos.
II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando inequívoca
a intenção de injuriar ou difamar;
III - o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou informação
que preste no cumprimento de dever do ofício. (por ex., delegado acusando alguém de má
índole em uma denúncia, ou o juiz transcrevendo palavrões que constam nos autos do
processo na sentença)
Parágrafo único - Nos casos dos incisos I e III, responde pela injúria ou pela difamação quem
lhe dá publicidade.
- Explicações: Art. 144: “Se, de referências, alusões ou frases, se infere calúnia, difamação
ou injúria, quem se julga ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele que se recusa a
dá-las ou, a critério do juiz (na verdade, da parte autora), não as dá satisfatórias, responde
pela ofensa (no caso, tem-se contra si ação penal iniciada).”
- Tipo de ação: Art. 145: Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante
queixa, salvo quando, no caso do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal. [nesse
caso, passa a ser ação penal pública condicionada a representação da vítima, caso seja lesão
leve. Em caso de lesão grave/gravíssima, passa a ser ação penal pública incondicionada.]
Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no caso do inciso I
do art. 141 (contra o Presidente da República ou chefe de governo estrangeiro), e mediante
representação, no caso do inciso II do art. 141 (contra funcionário público, em razão de suas
funções), bem como no caso do § 3º do art. 140 (injúria qualificada; utilização de elementos
referentes a religião ou à condição de pessoa idosa ou com deficiência). (Redação dada pela
lei 12.033/09)
. Súmula 714, STF: “É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do MP,
condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de
servidor público em razão do exercício de suas funções.”
- Ameaça:
Art. 147: “Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico,
de causar-lhe mal injusto e grave: Pena - detenção, de 1 a 6 meses, ou multa.
Parágrafo único. Somente se procede mediante representação.”
. ameaçar é promessa de mal injusto, grave e futuro (corrente majoritária; contra:
Damásio).
. sujeito passivo: pessoa certa e determinada capaz de compreender o caráter intimidatório
da ameaça.
. Lei Maria da Penha: incide se o crime envolver relação doméstica e familiar contra mulher
(enquadra-se como violência psicológica, art. 7º da Lei 11.340/06).
. elemento subjetivo: dolo de intimidar, sendo irrelevante a intenção de realizar ou não o
alegado; tentativa possível, exceto em caso de ameaça verbal.
- deve haver seriedade na ameaça; embriaguez pode retirar a credibilidade da ameaça,
tornando fato atípico.
. Causa de aumento de pena (art. 155, § 1º): “A pena aumenta-se de 1/3, se o crime é
praticado durante o repouso noturno.” Incide apenas se este momento do dia facilitou o
crime, como mediante invasão de domicílio silenciosamente durante a noite. Considera-se
noite ao cair do último raio de sol, e dia ao surgir do primeiro.
. Furto de energia (§ 3º): “Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra
que tenha valor econômico.”
. Furto de uso: Ocorre quando, no furto, há ausência do ânimo do agente em obter a coisa
para si ou para outrem, fazendo-se necessário que a coisa seja restituída no mesmo estado
em que foi retirada e no mesmo lugar de onde foi retirada. São requisitos: o objetivo de fazer
uso momentâneo da coisa e sua devolução voluntária em sua integralidade. É conduta
atípica. [ex.: pegar motoca pra dar um rolê monstro sem permissão, mas devolver com a
mesma quantidade de gasolina e sem danos a coisa]
- Furto privilegiado:
Art. 155, § 2º: “Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode
substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de 1/3 a 2/3, ou aplicar somente
a pena de multa.”
- réu primário: sem condenação penal anterior transitada em julgado.
- pequeno valor: coisa de até 1 salário mínimo vigente no momento do ato (entendimento
pacífico do STJ).
. observa-se o valor objetivo (real), e não o subjetivo (pessoal; não admite-se valor
sentimental).
. princípio da insignificância/bagatela: ocorre quando a ofensividade é mínima/irrisória, ao
ponto de não justificar a punição do agente e a movimentação do judiciário. Decorre da
doutrina e jurisprudência, e o STJ entende que o valor para a possível aplicação do princípio
em crime de furto é de até 10% do salário mínimo vigente no momento do ato. O STF
considera incompatível com o princípio crimes mediante violência ou grave ameaça à pessoa;
tráfico de drogas; e crimes de falsificação. E ao STJ, a mínima ofensividade da conduta;
ausência de periculosidade social; reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; e a
inexpressividade da lesão jurídica provocada.
. em caso de continuidade delitiva, o valor para fins de concessão do privilégio ou do
reconhecimento da insignificância é a soma dos bens subtraídos (STJ).
- Furto privilegiado qualificado (súmula 511, STJ): “É possível o reconhecimento do
privilégio previsto no § 2º do art. 155 do CP nos casos de crime de furto qualificado, se
estiverem presentes a primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a qualificadora
for de ordem objetiva.”
- Furto qualificado:
Art. 155, § 4º: A pena é de reclusão de 2 a 8 anos, e multa, se o crime é cometido:
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
III - com emprego de chave falsa;
IV - mediante concurso de 2 ou mais pessoas.
§ 4º-A: A pena é de reclusão de 4 a 10 anos e multa, se houver emprego de explosivo ou de
artefato análogo que cause perigo comum. (Incluído pela lei 13.654/18; é crime hediondo)
§ 4º-B: A pena é de reclusão de 4 a 8 anos e multa, se o furto mediante fraude é cometido
por meio de dispositivo eletrônico ou informático, conectado ou não à rede de
computadores, com ou sem a violação de mecanismo de segurança ou a utilização de
programa malicioso, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo. (Incluído pela lei
14.155/21)
. § 4º-C (causas de aumento de pena): A pena prevista no § 4º-B, considerada a relevância
do resultado gravoso, aumenta-se: (Incluído pela lei 14.155/21)
I - de 1/3 a 2/3, se o crime é praticado mediante a utilização de servidor mantido fora do
território nacional;
II - de 1/3 ao dobro, se o crime é praticado contra idoso ou vulnerável.
§ 5º: A pena é de reclusão de 3 a 8 anos, se a subtração for de veículo automotor que venha
a ser transportado para outro Estado ou para o exterior. (Incluído pela lei 9.426/96)
§ 6º: A pena é de reclusão de 2 a 5 anos se a subtração for de semovente domesticável de
produção (animal de produção), ainda que abatido ou dividido em partes no local da
subtração. (Incluído pela lei 13.330/16)
§ 7º: A pena é de reclusão de 4 a 10 anos e multa, se a subtração for de substâncias
explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação,
montagem ou emprego. (Incluído pela lei 13.654/18)
. Atentado violento ao pudor (art. 214; revogado pela Lei 12.015/09): “Constranger alguém,
mediante violência ou grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele se pratique ato
libidinoso diverso da conjunção carnal: Pena - reclusão de 2 a 7 anos.”
* não houve seu abolitio criminis, mas sim continuidade normativo-típica (princípio da
continuidade típico-normativa).
* no código militar, apenas houve tal unificação pós-Lei 14688/23.
. Posse sexual mediante fraude (art. 215; reformulado pela Lei 12.015/09, agora “violação
sexual mediante fraude”): Redação original: “Ter conjunção carnal com mulher honesta,
mediante fraude: Pena - reclusão, de 1 a 3 anos.” Pós- Lei 11.106/05: “Ter conjunção carnal
com mulher, mediante fraude: Pena - reclusão, de 1 a 3 anos.”
Parágrafo único: “Se o crime é praticado contra mulher virgem, menor de 18 e maior de 14
anos: Pena - reclusão, de 2 a 6 anos.”
* mulher honesta: mulher cuja conduta, sob o ponto de vista da moral sexual da época, era
irrepreensível; aquela que ainda não rompeu com o mínimo de decência exigido pelos “bons
costumes”.
Termos, expressões e outros:
. Bibliografia e exemplos:
- CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal.
- MASSON, Cleber. Direito Penal.
- GRAU, Eros. Por que Tenho Medo dos Juízes.
- DE JESUS, Damásio. Direito Penal – Parte Geral.
- BITENCOURT, Cesar. Código Penal Comentado.
- NUCCI, Guilherme. Manual de Direito Penal.
- Nelson Hungria Hoffbauer (Brasil, 1891 – 1969).
- Caso dos Irmãos Naves (Brasil, 1937).
- Caso Evandro (1992, Guaratuba/PR).