Você está na página 1de 16

Nome: Enailton Alves Borges Júnior

Disciplina: Direito Penal


Temas: Princípios Norteadores do Direito Penal Brasileiro, Teoria Geral do Delito e
Extinção de Punibilidade.
Data: 01/12/2020

PRINCÍPIOS NORTEADORES DO DIREITO PENAL BRASILEIRO

Princípios são valores fundamentais que orientam o legislador e o


aplicador do direito, este no estudo da disciplina e aquele na criação da norma. Eles
norteiam a interpretação e a integração do ordenamento jurídico vigente, sendo que
alguns estão expressamente previstos na Constituição Federal ou leis esparsas e outros
estão implicitamente citados.
A doutrina aponta uma gama de princípios norteadores do Direito
Penal Brasileiro, trataremos aqui dos principais.

1. Princípio da Legalidade

Com previsão no art. 5, XXXIX da Constituição Federal, este é o


princípio que inaugura o Código Penal Brasileiro: “Não há crime sem lei anterior que o
defina e não há pena sem prévia previsão legal”.
Para o mestre Guilherme de Souza Nucci, o princípio da legalidade é
definido como:
Trata-se do fixador do conteúdo das normas penais
incriminadoras, ou seja, os tipos penais, mormente os
incriminadores, somente podem ser criados através de lei
em sentido estrito, emanada do Poder Legislativo,
respeitado o procedimento previsto na Constituição.
(NUCCI, 2014, p. 20/21).

É considerado o princípio “mor” do ordenamento jurídico penal


brasileiro, e tem o objetivo de conferir segurança jurídica aos cidadãos de serem
punidos criminalmente sem fundamentação legal, assim se praticarem ações
consideradas lícitas no tempo no ato praticado não sofrerão imposições de penas
criminais.
1.1 Princípio da Reserva Legal
É um princípio intrínseco ao da legalidade, pois diz que somente a lei,
aqui considerada em sentido estrito, pode definir condutas criminosas e cominar sanções
penais, ou seja, o Direito Penal é reservado à lei. Assim, as demais normativas como
Medida Provisória, Decreto, Lei Delegada, etc. não podem criar crime ou estipular
pena.
Importante mencionar uma exceção elaborada por parte da doutrina e
aceita pelo Supremo Tribunal Federal que determina que Medida Provisória pode tratar
sobre matéria penal, desde que seja benéfica ao réu.
O princípio da Reserva Legal também implica na proibição de edição
de leis de conteúdo impreciso, vagos ou genérico.

2. Princípio da Anterioridade da Lei Penal

Este também é um princípio afeto ao da Legalidade, consubstanciando


que além de ser necessário que a conduta descrita como crime seja especificada em lei,
é preciso que ela seja anterior ao fato praticado, sendo o contrário uma ofensa à
segurança jurídica e garantia individual do cidadão.
Por estar tão adstrito ao Princípio da Legalidade, este é um princípio
implícito no mesmo artigo da Constituição Federal, 5º, XXXIV, permanecendo ambos
interdependentes entre si.
Uma exceção ao princípio da anterioridade é a retroatividade da lei
quando for mais benéfica ao réu, que veremos adiante.

3. Princípio da Retroatividade da Lei Penal mais benéfica

Como vimos é regra que no Direito Penal a conduta criminosa deve


estar em vigor em data anterior ao fato ocorrido, ou seja, a obrigatoriedade da
irretroatividade da lei penal. Contudo, abre-se uma exceção quando o teor da lei for
benéfico ao réu, nesse caso poderá retroagir e favorecer o agente, ainda que já tenha
sentença condenatória transitada em julgado.
No entanto é importante frisar que essa retroatividade não é valida em
norma de cunho estritamente processual, as quais obedecem ao art. 2º do Código de
Processo Penal, o tempus regit actum. Em se tratando de normas híbridas, com
conteúdos penais (materiais) e processuais, elas retroagirão se forem benéficas, no
entanto a coisa julgada deve ser respeitada.

4. Princípio da Fragmentariedade

Determina este princípio que o Direito Penal deve incidir apenas sobre
um fragmento das condutas humanas, somente quando atentarem sobre os bens jurídicos
mais relevantes, partindo da máxima que o Estado protege apenas bens jurídicos mais
importantes, assim deve intervir só nos casos de maior gravidade.

5. Princípio da Subsidiariedade

O Direito Penal deve ser utilizado de maneira subsidiária, ou seja,


quando os demais ramos do Direito não conseguirem tutelar de maneira satisfatória o
bem jurídico, atuando então como ultima ratio no ordenamento jurídico.

6. Princípio da Intervenção Mínima

O Princípio da Intervenção Mínima é uma junção dos dois princípios


citados anteriormente, pois disciplina que o Direito Penal deve ser aplicado apenas
quando for estritamente necessário e somente nos casos mais relevantes.
Sob essa égide podemos refletir que a intervenção penal deve ser a
mínima necessária segundo o juízo da fragmentariedade, no sentido de proteger somente
bem jurídico mais relevante, e da subsidiariedade, quando outro ramo do direito não for
capaz de atuar.

TEORIA GERAL DO DELITO

A Teoria Geral do Delito/Crime é um conjunto de requisitos utilizados para


determinar se um fato é considerado crime ou não. O conceito de crime sob o aspecto
material é considerado toda ação humana que lesa ou expõe a perigo bem jurídico de
terceiro, penalmente tutelado. Sob a perspectiva formal é toda infração penal que a lei
comina pena de detenção ou reclusão.
Analisando sob a ótica analista, observamos que existem algumas
teorias adotadas pelos doutrinadores para entender o que é crime. A teoria quadripartida,
que conceitua o crime como um fato típico, ilícito, culpável e punível; a teoria
tripartida, que é a predominante, na qual o conceito de crime é um fato típico, ilícito e
culpável; e a teoria bipartida, que traz o crime como o fato típico e ilícito, sendo a
culpabilidade um mero pressuposto de aplicação da pena.
Por ser a teoria tripartida a mais aceita doutrinariamente, analisaremos
o crime sob essa ótica.

1. Fato típico

Fato típico é o comportamento humano previsto em lei como um


crime ou como uma contravenção penal. Nos crimes materiais, que são aqueles em que
são exigidos resultados, o fato típico é formado por uma conduta, um resultado, um
nexo causal e a tipicidade. Já nos crimes formais, os que não exigem resultado, embora
seja previsto na lei, o fato típico possui apenas conduta e tipicidade.

1.1 Conduta
Conduta humana é uma ação comissiva (positiva) ou omissão
(negativa), dolosa (o agente quer ou assume o risco de produzir um resultado), ou
culposa (quando o agente não observa o seu dever de cuidado agindo com imprudência,
imperícia ou negligência), sendo que nem todos os tipos de condutas tem relevância
para o direito penal.
Duas teorias estudam o sistema teórico do delito, a Teoria Causal
Naturalista (clássica) e a Teoria Finalista, que é a adotada no Brasil.
Conforme a Teoria Causal, a conduta é a ação humana, o autor deve
ser punido quando simplesmente der causa ao resultado, independentemente de dolo ou
culpa, ou seja, não se verifica a intensão do agente. Esses elementos serão analisados
somente na fase da culpabilidade, eles não pertencem à conduta. Assim, torna o sistema
mais lento e demorado, tendo em vista que a culpa ou o dolo só são analisados após o
enquadramento do crime, causando o rompimento da ordem sistemática.
Já para Teoria Finalista a conduta humana é a ação ou omissão,
consciente e dirigida a uma determinada finalidade, nesse caso analisa-se primeiramente
a vontade e a real intenção do agente, que somente será punido se o fato praticado por
ele for cometido com dolo ou culpa, não pune-se pura e simplesmente a conduta do
acusado, mas somente torna fato típico aquele praticado com dolo ou culpa.

1.2 Resultado
A conduta humana para ter relevância para o direito penal deve ter
uma consequência naturalística, modificando o estado natural de algo, e para que isso
ocorra, prescinde de um fenômeno chamado resultado.
A teoria majoritariamente adotada quanto ao resultado é a Teoria
Naturalística, segundo a qual será atribuído o resultado a toda pessoa que praticou uma
determinada conduta e dessa conduta ocasionou um resultado crime. Não se atribui ao
agente praticante da conduta as causas resultantes de fatos supervenientes, sendo que a
omissão para que o resultado não ocorra é punível ao agente que não a observar, nos
termos do art. 13 do Código Penal Brasileiro.
Apenas nos crimes materiais (ex. crime de homicídio) que se exige um
resultado naturalístico, nos crimes formais e de mera conduta não é exigido esse
resultado. Nos crimes formais (ex. crime de extorsão) o resultado naturalístico pode
acontecer, mas não tem relevância para o Direito Penal, nos crimes de mera conduta
(ex. crime de invasão de domicílio) esse resultado sequer é possível acontecer.
Vale lembrar que o resultado jurídico, que é a lesão ao bem jurídico
tutelado sempre estará presente em todos os tipos de crime, assim, pode haver crime
sem resultado naturalístico, mas não há crime sem resultado jurídico.

1.3 Nexo de causalidade


O artigo 13 do Código Penal dispõe que “o resultado, de que depende
a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a
ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.” Assim, o nexo de
causalidade é o vínculo que une a conduta do agente ao resultado naturalístico.
A teoria adotada como regra para o nexo de causalidade é a Teoria da
Equivalência dos Antecedentes Causais (conditio sine qua non), que conceitua causa do
crime toda conduta sem a qual o resultado não teria ocorrido, ou seja, retirando-se
determinada conduta o crime não teria ocorrido. Seguindo somente essa premissa é
possível chegar a inúmeras causas, inclusive o nascimento do agente, tornando-a assim
irrazoável. Para filtrar essa situação deve-se então levar em consideração o dolo, assim é
causa apenas aquelas que forem indispensáveis para o resultado, além de ser prevista ou
querida pelo autor.

1.4 Tipicidade
Conforme a doutrina tradicional existe a tipicidade formal e a
tipicidade material, sendo aquela a adequação da conduta do agente a uma normal penal
definida como crime e esta a ocorrência de uma ofensa significativa ao bem jurídico
protegido pela norma penal.
Ocorre que nem sempre a conduta do agente se amoldará
perfeitamente ao tipo penal, daí adentramos à adequação típica, a qual é considerada
imediata (direta) quando a conduta do agente é perfeitamente descrita na lei penal
incriminadora, contrariamente, temos a adequação típica mediata (indireta) em que a
conduta não corresponde exatamente ao que diz o tipo, fazendo-se necessário a
utilização de uma norma de extensão, como ocorre nos crimes tentados, nos quais são
conjugados os tipos penais, por exemplo.
Dessa forma, é importante destacar que para ocorrer a tipicidade é
necessário o preenchimento tanto do requisito formal, quanto do material, assim mesmo
que determinada conduta esteja perfeitamente descrita no tipo penal e não atingir (lesão
ou exposição à risco) significativamente o bem jurídico tutelado não será passível de
punição, como ocorre nos casos de aplicação do princípio da insignificância.

2. Ilicitude

Quando determinada conduta é considerada um fato típico, ela


presumivelmente é considerada também ilícita. Neste ponto, é imprescindível o
conhecimento das causas excludentes de ilicitude, que são genericamente; estado de
necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal e exercício regular de
direito.
2.1 Estado de Necessidade
Essa causa de exclusão da ilicitude está prevista no art. 24 do Código
Penal Brasileiro:
Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem
pratica o fato para salvar de perigo atual, que não
provocou por sua vontade, nem podia de outro modo
evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas
circunstâncias, não era razoável exigir-se. 

Com a análise desse artigo verificamos que no Brasil é adotada a


teoria unitária de estado de necessidade, que estabelece que o bem jurídico protegido no
estado de necessidade deve ser de valor igual ou superior ao bem jurídico sacrificado,
afastando-se assim a ilicitude da conduta praticada pelo agente.
É necessário o preenchimento de alguns requisitos para que o estado
de necessidade seja configurado:
 a situação de perigo não pode ter sido criada voluntariamente pelo
agente;
 perigo atual;
 salvar direito próprio ou alheio;
 o agente não pode ter o dever jurídico de enfrentar o perigo;
 conhecimento da situação justificante (o agente deve saber que
está agindo em estado de necessidade).
Quanto à conduta do agente, ele deve ser inevitável e proporcional,
ou seja, o bem jurídico só seria salvo daquela forma e por aquele meio.
É importante o aprendizado quanto aos tipos de estado de
necessidade, o qual será real, quando a situação de perigo realmente existe; e putativo,
quando a situação de perigo é imaginária. Será também agressivo, quando é afetado
bem jurídico de terceiro que não provocou a situação de perigo, e defensivo, quando é
sacrificado bem jurídico de quem provocou a situação de perigo.

2.2 Legítima Defesa


É prevista no art. 25 do Código Penal:

Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando


moderadamente dos meios necessários, repele injusta
agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.

Nesse caso o agente deve praticar a legítima defesa para repelir


alguma agressão, preenchendo-se certos requisitos: agressão injusta; agressão atual ou
iminente; agressão contra direito próprio ou de terceiro; reação proporcional, os meios
utilizados devem ser suficiente e necessário para repelir a injusta agressão; e o
conhecimento da situação justificante, ou seja a intenção de defesa.
A legítima defesa sucessiva é permitida, quando o agente agredido
injustamente acaba utilizando-se excessivamente dos meios de defesa para repelir a
injusta agressão, o que é proibido, fazendo com que o agressor, inicialmente, possa
utilizar-se da legítima defesa, ou seja, parte do agressor em direção à vítima, sendo
assim a vítima a prejudicada neste conflito.
Importante lembrar-se da inclusão do parágrafo único ao artigo 25 do
CP, pela Lei do pacote anticrime, que dispõe: “Observados os requisitos previstos
no caput deste artigo, considera-se também em legítima defesa o agente de segurança
pública que repele agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém durante a
prática de crimes.”

2.3 Estrito Cumprimento do Dever Legal

Ocorre quando o fato típico é praticado em cumprimento com o dever


que o agente tem previsto em lei, como ocorre com policiais que tem o dever de manter
a ordem pública. Pode ser aplicada a particulares e não somente a funcionários públicos.

2.4 Exercício regular de direito

Essa excludente é aplicada quando determinada conduta é descrita


como crime, mas é considerada um direito ao agente de praticá-la, um exemplo disso é
o que ocorre nas lutas de MMA, quando praticado dentro dos limites estabelecidos.

3. Culpabilidade

A Culpabilidade no entendimento doutrinário, “é o juízo de


reprovação pessoal que se realiza sobre a conduta típica e ilícita praticada do agente”,
assim, podemos também complementar dizendo que este juízo de reprovação necessário
para que possamos auferir se o agente sabia das consequências de sua conduta, se tal
fato praticado, pode ser imputado a ele e se existia outra forma ou meio para que ele
deixasse de cometer tal conduta. (GRECO, 2006, p. 418).
3.1 Imputabilidade

A conduta ilícita e típica praticada por um indivíduo deve ser por este
responsabilizado, assim, para que se possa imputar tal conduta a determinado individuo,
antes devemos verificar se essa conduta poderá ou não ser a ele imputada.
Os artigos 26 e 27 do Código Penal preveem as hipóteses em que não
haverá responsabilização do agente pelo fato praticado:

Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença


mental ou desenvolvimento mental incompleto ou
retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão,
inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato
ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois
terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde
mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou
retardado não era inteiramente capaz de entender o
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com
esse entendimento.
Art. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos são
penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas
estabelecidas na legislação especial.

A partir da análise desses artigos podemos concluir que a


imputabilidade consiste na lucidez do agente no momento da ação (conduta humana),
caso o agente pratique algum ato não estando ciente de que tal ato gerará consequências
jurídicas, ou seja, não puder reconhecer o caráter ilícito da conduta, não poderá ser
responsabilizado pelo fato.

3.2 Potencial Consciência Sobre a Ilicitude do Fato

A Potencial Consciência Sobre a Ilicitude do Fato consiste na


verificação das condições em que o agente praticou determinada ação a fim de extrair se
do momento em que o fato foi praticado, se o agente poderia ou teria como entender ou
conhecer da ilicitude do ato antijurídico e típico.
O artigo 21 do Código Penal faz uma ligeira distinção entre o
desconhecimento da lei e a falta do conhecimento sobre a ilicitude do fato, é sabido que
ninguém deve escusar-se do conhecimento da lei, haja visto o princípio da publicidade
dos autos, mas essa regra poderá haver uma exceção quando o agente não conhece da
ilicitude do fato, diferentemente seria do desconhecimento da lei. (GRECO, 2006, p.
448).

3.3 Exigibilidade de Conduta Diversa

Com brilhantismo, Rogério Greco conceitua a exigibilidade de


conduta diversa como “a possibilidade que tinha o agente de, no momento da ação ou da
omissão, agir de acordo com o direito, considerando-se a sua particular condição de
pessoa humana.” (GRECO, p. 456).
É possível compreender que com a Exigibilidade de Conduta Diversa,
nasceu a inexigibilidade de conduta diversa, que alude que não se pode exigir conduta
diversa do agente, quando outra não poderia ser a sua conduta, assim o agente pratica
um fato típico antijurídico, mas não poderia praticar outra conduta senão aquela que
praticou.

4. Punibilidade

A punibilidade é para a doutrina, o ato de imputar a alguém a pena em


abstrato em que a lei cominou, assim, a punibilidade é o exaurimento da analise da
teoria tripartite do crime, pois é a partir de toda analise dessa teoria que chegaremos a
punibilidade do agente, do contrário, caso não seja a conduta praticada pelo agente
através da analise do fato típico, antijuridicidade e da culpabilidade considerado crime,
extingue-se a punibilidade do agente, dessa forma, não será a ele imputada a pena em
que a lei em abstrato cominou para a conduta por ele praticada.
Jesus (2005, p. 157) aduzindo sobre a punibilidade como sendo o
Exercício do jus puniend estatal vai dizer que “pena não é um momento precursor de
iter criminis, ou seja, o caminho do crime, mas o efeito jurídico de comportamento
típico, ilícito, sendo culpado o sujeito”, dessa forma, como sendo o efeito jurídico de
uma conduta típica, ilícita e culpável, não se pode aceitar que a punibilidade seja
agregada a teoria analítica do crime, e sim é aceitável que a mesma seja somente um
exaurimento da analise tripartida do crime, ou seja, a imputação da pena.
EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE

A extinção da punibilidade acontece quando, verificada alguma das


hipóteses extintivas de punibilidade previstas na legislação brasileira, não há mais como
se impor ao réu ou condenado a sanção cominada ou aplicada. Ou seja, não há mais
interesse punitivo estatal e o indivíduo não pode mais sofrer sanções.
Como bem trazido por Cezar Bitencourt, a punição é uma
consequência da conduta típica, antijurídica e culpável. Contudo, após a prática do fato
delituoso, podem ocorrer hipóteses aptas a impedir a eventual aplicação ou execução da
respectiva sanção.
Na lição de Fragoso:
Há situações, no entanto, que extinguem a punibilidade,
fazendo desaparecer a pretensão punitiva ou o direito
subjetivo do Estado à punição. Subsiste nesses casos, a
conduta delituosa. O que desaparece é a possibilidade
jurídica de imposição de pena.”

Assim, verificada alguma das hipóteses extintivas de punibilidade


previstas na legislação brasileira, não há mais como se impor ao investigado, ao réu ou
ao condenado a sanção cominada ou aplicada. Afirmar que morre o interesse punitivo
estatal significa dizer que não pode mais ser imposta qualquer sanção contra o
indivíduo.
No art. 107 do Código Penal são previstas sete hipóteses ainda
vigentes de extinção da punibilidade, sendo elas: a morte do agente, a anistia, graça ou
indulto, a abolitio criminis, a prescrição, a decadência ou a perempção, a renúncia ao
direito de queixa ou o perdão aceito, a retratação do agente e o perdão judicial. Outras
previsões também estão espalhada pelo ordenamento jurídico brasileiro

1. Pela morte do agente – art. 107, I, do Código Penal

Consubstanciado pelo princípio da pessoalidade ou personalidade da


pena, traduzido no art. 5º, XLV, da Constituição, o sistema jurídico que não admite que
as penas possam passar da pessoa do condenado, assim a morte do investigado, acusado
ou condenado extingue a punibilidade.
É importante deixar claro, porém, que nenhuma pena pecuniária de
natureza criminal – multa ou prestação pecuniária – persiste à morte do agente.
Contudo, cumpre enfatizar que, caso a morte se dê após ao trânsito em julgado da
sentença condenatória, já nasceu o dever de indenizar consequente da condenação
criminal. Portanto, este será transmitido aos eventuais herdeiros no limite de suas
respectivas heranças.
Por outro lado, caso a morte do agente ocorra antes do trânsito em
julgado da sentença penal condenatória, o dever de indenizar não será certo. É possível
o seu reconhecimento, mas a partir de ação indenizatória própria na esfera cível a
discutir a responsabilidade pela prática do ato ilícito e o dever de indenizar dos
sucessores.

2. Anistia, Indulto Coletivo e Indulto Individual (Graça) – Art.


107, II, do Código Penal

A anistia é uma forma de indulgência estatal referente a fatos


delituosos. Com exceção dos crimes hediondos (art. 5º, XLIII), todos os crimes podem
ser anistiado. A anistia é criada por lei federal e a sua entrada em vigor produz
imediatamente os efeitos em relação aos crimes já praticados. É uma norma de natureza
penal, não incriminadora e retroativa, extingue os efeitos penais, subsistindo, eventuais
efeitos civis.
O indulto se dirige a indivíduos determinados ou não com condenação
transitada em julgado, podendo ser coletivo ou individual – este, anteriormente
denominado de graça (como ainda trazido no Código Penal). O indulto não rescinde a
sentença condenatória e tem efeito apenas sobre a execução da pena. Compete ao
Presidente da República, na forma do art. 84, XII e parágrafo único da Constituição
Federal, a concessão do indulto.

3. Abolitio Criminis – Art. 107, III, do Código Penal

Sempre que uma lei penal nova descriminalizar uma conduta até então
definida como crime, ela produzirá efeitos em relação aos que respondem a inquéritos,
processos judiciais ou cumprem pena pela sua prática, decretando-se a extinção da
punibilidade, nos termos do parágrafo único do art. 2º do Código Penal.
4. Prescrição – art. 107, IV, do Código Penal

Podemos dividir a prescrição em duas espécies gerais: a prescrição da


pretensão punitiva e a prescrição da pretensão executória. Na primeira, o Estado perde a
possibilidade de impor uma sanção penal. O órgão acusador, em decorrência dela, perde
o interesse de agir. Pode se dar antes do oferecimento da denúncia/queixa ou durante o
processo, até o trânsito em julgado da sentença penal.
Já na prescrição da pretensão executória, ela se dá em relação ao
cumprimento da pena imposta. Já existe a condenação transitada em julgada, contudo,
pela demora no início da execução da pena, ocorre a prescrição. Nesse caso, o Estado
perde a possibilidade de executar a sanção, mas persistem os demais efeitos da
condenação.

5. Decadência – art. 107, IV, do Código Penal

Aplicável exclusivamente em relação a direitos exercíveis por


particulares nas ações penais privada e pública, respectivamente aos de oferecer queixa
e de representar contra quem se atribui a autoria do fato criminoso (“autor do fato”).
O art. 103 do Código Penal estabelece o prazo padrão de seis meses
para o exercício do direito de queixa e de representação, contado do dia em que a vítima
veio saber quem é o autor do fato definido como crime. Uma vez expirado o prazo sem
a propositura da queixa nos crimes de ação penal privada ou da representação nos de
ação penal pública condicionada, ocorre a decadência e, assim, a extinção da
punibilidade.

6. Perempção – art. 107, IV, do Código Penal

A perempção ocorre nas ações penais privadas que já foram propostas.


O art. 60 do Código de Processo Penal traz as hipóteses de reconhecimento da
perempção, traduzindo a todas elas a presunção de que o querelante (titular da ação
penal privada) não possui mais o real interesse em ver o querelado condenado,
evidenciado pela inércia ou pela negligência.
7. Renúncia ao direito de queixa ou perdão do ofendido – art.
107, V, do Código Penal

A renúncia é um ato unilateral do ofendido e que se dá antes da


propositura da queixa. Ela ocorre fora do processo, podendo ser expressa (mediante
declaração do ofendido) ou tácita, mediante a prática de um ato incompatível com o
exercício do direito de queixa.
O perdão do ofendido, também verificado apenas nas ações penais
privadas, é um obstáculo à continuidade da ação penal já proposta, podendo se dar até o
trânsito em julgado. O perdão concedido antes da queixa não é perdão, mas renúncia.
Ao contrário da renúncia, ele é bilateral, ou seja, depende da proposta pelo querelante e
do aceite pelo querelado. Se o querelado recusar o perdão, segue a ação penal.

8. Retratação do agente – art. 107, VI, do Código Penal

Constitui-se em desfazer o ato ilícito praticado, produz efeito nos


crimes de calúnia, difamação e falso testemunho. O querelado desfaz a calúnia ou a
difamação, ou refaz o seu depoimento a restabelecer a verdade. Apresenta limitação
temporal para a sua ocorrência – antes da sentença.

9. Perdão judicial – art. 107, IX, do Código Penal

Desde o advento do art. 13 da Lei 9.807/99 e da Operação Lava Jato,


o perdão judicial passou a ter maior relevância, uma vez que é utilizado como moeda de
troca nas negociações envolvendo colaboradores e o Ministério Público em crimes
praticados por organizações criminosas.
Nesse caso a Autoridade Judiciária deixar de aplicar a pena cominada,
reconhece a tipicidade, antijuridicidade e culpabilidade, mas julga extinta a punibilidade
em virtude do perdão. Ela não produz efeitos condenatórios.

10. Outras causas de exclusão da punibilidade


Outra hipótese de reconhecimento de extinção da punibilidade se dá
pelo decurso de lapso temporal de condição imposta ao acusado ou ao condenado. A
suspensão condicional do processo, prevista no art. 89 da Lei 9.099, impõe um
período de prova ao denunciado que, uma vez transcorrido com o cumprimento de
condições impostas pelo Ministério Público e homologadas pela Autoridade Judiciária,
ao seu final importará na extinção da punibilidade.
Da mesma forma, no caso de suspensão condicional da pena, sursis,
o decurso do período de prova – lapso temporal em que se impõem condições ao
condenado para que ele não seja preso, como prestação de serviços à comunidade –
extingue a punibilidade. Persiste os efeitos da sentença penal condenatória, mas não a
necessidade de recolhimento do condenado.
No caso de livramento condicional, o condenado é colocado em
liberdade antes do término da pena aplicada, nas formas do art. 83 do Código Penal,
mediante condições impostas pela Autoridade Judiciária (art. 85). A partir daí, ele terá
direito à liberdade que poderá ser revogada a qualquer tempo pela condenação por
crime anterior ou por novo crime. Satisfeitas as condições e não revogado o livramento,
ao final do período o condenado terá extinta a punibilidade, no que diz respeito ao
interesse do Estado no cumprimento da pena privativa de liberdade. Persistem os
demais efeitos da condenação.
Nos crimes contra a ordem tributária, o pagamento integral do
tributo devido, a qualquer tempo, extingue a punibilidade – HC 116.828, STF.
No caso do peculato culposo, art. 312, §2º, do Código Penal, se o
acusado reparar o dano causado até a prolação de sentença irrecorrível, será extinta a
punibilidade.
Por fim, temos a extinção da punibilidade pelo cumprimento da
pena, que é a forma mais comum de extinção da punibilidade. O art. 66, II, da Lei de
Execuções Penais, estabelece que compete ao juiz da execução declarar extinta a
punibilidade. É importante também trazer o entendimento do Superior Tribunal de
Justiça referente ao não pagamento da pena de multa como hipótese que não obsta a
extinção da punibilidade.
Referências Bibliográficas

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil - 1988. São Paulo: Saraiva,


2019.
CAPEZ, Fernando, Direito Penal, Parte Geral 6ª edição, 2003. São Paulo;
JESUS, Damásio E. de. Direito Penal – parte geral. v. , 28ª ed. São Paulo: Saraiva;
DECRETO Lei nº 2.848/41 – Código Penal Brasileiro, poderá ser encontrado em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm (Acessado em
dez de 2020);
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal. 6. ed. Editora RT: São
Paulo,2010.

Você também pode gostar