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BRASIL
AULA 3
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breve exposição de mapas para pensarmos o desenvolvimento socioespacial
brasileiro.
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Apesar das incongruências em relação aos limites, os territórios
portugueses foram divididos em 17 capitanias hereditárias, conforme nos mostra
o mapa 1. Essas terras foram cedidas a nobres portugueses, que poderiam
passar a seus descendentes, mas não vendê-las, já que pertenciam à Coroa
portuguesa. A intenção era implementar a ocupação do território, tendo em vista
as constantes invasões estrangeiras a este, especialmente por parte dos
franceses. Para isso, era necessário aprisionar os povos indígenas para a
implementação de atividades econômicas como a extração de pau-brasil e com
a agricultura e a indústria da cana-de-açúcar.
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Apesar da curta duração, podemos compreender o sistema de capitanias
hereditárias como que na origem da concentração fundiária, do patrimonialismo
e do coronelismo que marca a nossa formação espacial (Prado Junior, 1974).
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fronteiras naturais que delimitariam ambos os territórios. As bacias hidrográficas
dos rios Amazonas e da Prata foram referências para o estabelecimento dos
limites do litígio, fazendo deste mapa a referência para a assinatura do Tratado
de Madrid (1750). No entanto ele apresentava alguns erros de delimitação de
longitudes:
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Figura 2 – Mapa dos confins do Brasil com as terras da Coroa da Espanha na
América Meridional (1749) – Mapa das Cortes
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que havia vínculos de fidelidade ao rei e relações de trabalho servis, próximas
às encontradas na Europa (Oliveira, 1988). Essa corrente enfrentou críticas de
autores como Caio Prado Junior (1974), que apresenta o Brasil, desde a
colonização, como uma empresa capitalista de Portugal; assim como José de
Souza Martins (2010), que em seu livro O Cativeiro da Terra expõe como no
Brasil a exploração de relações não capitalistas de trabalho – o trabalho escravo
de indígenas e negros, por exemplo – foi fundamental para a industrialização
europeia e para a reprodução do capitalismo em territórios colonizados como o
nosso. Esse sistema de propriedade da terra vigorou até a Independência, em
1822.
2.1 Império
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Assim se inicia um processo de modernização do país, tendo como base
os ideais do liberalismo europeu, apesar da permanência do patrimonialismo e
das relações de favor que constituíam as relações sociais e institucionais no
Estado brasileiro. Nesse contexto, o Barão da Ponte Ribeiro propôs um esforço
de mapeamento das fronteiras do Império brasileiro, dando origem à Carta do
Império do Brazil (1873) (mapa 3). O mapa tinha como função apresentar o país
nas exposições universais, das quais se passou a participar ativamente,
apresentando para o mundo um país capaz de mapear seu próprio território,
atraindo a atenção de investidores estrangeiros e migrantes europeus (Duarte,
2018).
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Esse mapa carrega consigo algumas peculiaridades que nos revelam os
projetos de país contidos em sua elaboração. Em primeiro lugar, cabe destacar
pontos no interior do país, em especial nas bacias dos Rios Xingu e Tocantins,
onde se inscrevem “indígenas selvagens e ferozes”, apresentando os povos que
ali viviam com caráter de animalização e inferiorização por parte das elites
brancas do país. O projeto de modernização aqui posto pregava a eliminação de
todo o fator de “atraso” presentes em partes da população, vistas como entraves
ao desenvolvimento do país e à exploração das riquezas naturais abundantes.
Outra ideia presente nesse mapa é o destaque para a expressão sertões
desconhecidos grafadas na região do Rio Madeira, na província de Mato Grosso.
O sertão, nesse período, é visto como um território ainda não tocado pela
civilização e que necessitava ser dominado para a realização de projetos de
integração do território. Para Moraes (2011), o sertão é definido como um lugar
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Euclides da Cunha em seu Os Sertões (1902). O projeto é intensificar a
integração do país pela construção de obras de infraestrutura, em especial
ferrovias e linhas telegráficas. Há assim o desenvolvimento de um alinhamento
geopolítico ao projeto liberal dos Estados Unidos, então potência emergente na
América, importando ideias pseudocientíficas como a eugenia e o supremacismo
branco como parte do projeto de desenvolvimento (Assis, 2016).
Nesse contexto, surgem as ideias iniciais para a elaboração de uma Carta
do Brasil Republicano, principalmente entre os militares, que, em 1890 criam o
serviço Geográfico do Exército que, junto com o Estado Maior do Exército
formam uma comissão para elaborar a Carta Geral do Brasil. Vastamente
criticada pelo Clube de Engenharia, em especial por sua morosidade e pela
aplicação de técnicas consideradas inadequadas à escala do território brasileiro
– tais como o método da triangulação – propôs-se adequar a confecção da carta
à escala ao milionésimo (1:1.000.000) (mapa 4). Para Duarte (2018, p. 122-3):
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O mapa do Brasil ao milionésimo, lançado em sua versão definitiva em
1922, é um projeto de apagamento, que oculta topônimos e legitima a ocupação
violenta do Estado brasileiro sobre suas periferias internas. E é esse processo
que cria as bases da ideologia nacional que se institui após o Golpe de 1930,
iniciando a ditadura do gaúcho Getúlio Vargas, que vai promover a acelerada
modernização do Estado brasileiro e de sua integração nacional.
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TEMA 3 – FORMAÇÃO TERRITORIAL DO BRASIL DA ERA VARGAS ATÉ O FIM
DO PERÍODO DEMOCRÁTICO (1945-1964)
Após 1930, com o golpe que dá o poder a Getúlio Vargas, as antigas elites
agrárias paulistanas e mineiras passam a perder espaço para um impulso de
industrialização do país. A crise internacional do capitalismo traz a necessidade
de refazer-se a estrutura produtiva a nível global. Com o objetivo de estar mais
próximas de matérias-primas e de potenciais mercados consumidores e, para
além disso, usufruir de uma força de trabalho mais barata que a europeia, inicia-
se um processo de transferência de plantas produtivas industriais para países
periféricos, como o nosso. No entanto, para que isso ocorresse, era necessário
criar as condições econômicas, sociais e estruturais para atrair o capital
internacional.
Nesse contexto, funda-se o Instituto de Geografia e Estatística (IBGE), em
1932, e a Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB), em 1934. As duas
organizações surgem dos embates pós-golpe de 1930, e cursos de Geografia
são criados nas universidades das grandes capitais. O conhecimento do território
tinha, nesse momento, o objetivo de inserir o país, ainda considerado atrasado,
ao mundo tido como moderno. Recortar o Brasil em cinco regiões é a tentativa
de possibilitar a construção de um projeto de país ligado às paisagens e às
riquezas naturais do país, a serem exploradas (Moraes, 2011). As noções de
que somos um país miscigenado e de que há uma democracia racial começam
aqui. É nesse período que grande parte das indústrias de base e da urbanização
do país acontecem, com grande impulso no pós Segunda Guerra Mundial.
Grandes projetos de infraestrutura no setor de energia, mineração e
transportes – a exemplo da criação de empresas estatais como a Companhia
Siderúrgica Nacional (CSN), Companhia Vale do Rio Doce – visavam criar a
base para a instalação de uma indústria nacional, mas sobretudo internacional,
que poderia contar com equipamentos viabilizados pelo Estado para sua
instalação. Trata-se de um período de modernização autoritária e forçada, com
a perseguição de oposições políticas, conforme exposto na literatura pela trilogia
Os subterrâneos da liberdade, escritos por Jorge Amado em 1953.
As fortes tensões internas e o engajamento na Segunda Guerra Mundial
enfraquecem o governo Vargas, que se abre para uma democracia ainda
incompleta, já que mantém partidos na ilegalidade enquanto permanece o
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discurso desenvolvimentista. Juscelino Kubitschek (1956-61) efetiva a instalação
da indústria automobilística no país e a transferência da capital para Brasília, no
Distrito Federal, com a intenção de interiorizar a ocupação do país que até então
vivia majoritariamente na faixa litorânea e afastar-se das tensões políticas das
grandes cidades como Rio de Janeiro e São Paulo (Costa, 2008).
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energia, rodovias e lavouras. Os incidentes envolvendo os deslocamentos
forçados na terra indígena do Xingu e a criação de reformatórios indígenas, onde
havia torturas e trabalho forçado, são mostras de como se pretendia criar uma
coesão nacional em torno de um Estado extremamente autoritário e
centralizador (Oliveira, 1988). No entanto, setores da geografia, em especial
após a década de 1970, influenciados por autores marxistas, passam a atuar de
maneira a se contrapor a essa visão de espaço e território. É quando surge a
Geografia Crítica.
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foi a eclosão de um movimento que vinha se gestando há mais tempo
e que havia uma fermentação extremamente bem orquestrada. Não
foi obra do acaso nem foi erupção espontânea. Não houve apenas
gratuidade. Havia um grupo de geógrafos brasileiros preocupados
com a geografia brasileira dispostos a mudar o seu rumo no sentido
acadêmico, na construção de uma nova teoria geográfica, uma
posição que fosse também ao mesmo tempo, política e acadêmica,
dentro da geografia […] Eu fui instrumental a este movimento.
NA PRÁTICA
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geografia, pensar as relações étnico-raciais e suas tensões na sociedade é,
também, pensar medidas para a redução dessa situação e ampliar o caráter
democrático do país.
FINALIZANDO
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REFERÊNCIAS
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MUNICÍPIO DE ATÍLIO VIVACQUA. Disponível em:
<https://www.pmav.es.gov.br/>. Acesso em: 10 set. 2021.
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