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GOIÂNIA
2020
CRÉDITOS INSTITUCIONAIS
Instituição Mantenedora
Organização Cultural Educacional Filantrópica (OCEF)
Instituição Mantida
Faculdade Assembleiana do Brasil (FASSEB)
APRESENTAÇÃO 8
META 8
OBJETIVOS 9
ESTRUTURA DA DISCIPLINA 9
6
MÓDULO IV: ECOTEOLOGIA 105
REFERÊNCIAS 146
7
APRESENTAÇÃO
META
8
OBJETIVOS
ESTRUTURA DA DISCIPLINA
9
MÓDULO I: DIREITOS FUNDAMENTAIS DO SER
HUMANO – CONCEITOS E ELEMENTOS
10
INTRODUÇÃO
11
AULA 1: GÊNESE, EVOLUÇÃO DOS DIREITOS
HUMANOS
META
OBJETIVOS
GÊNESE E EVOLUÇÃO
12
Rousseau e Voltaire. Além de todos estes, ainda podemos elencar alguns
documentos normativos domésticos como a Declaração de Direitos de
Virgínia (1776) e a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão
(1789), frutos da Revolução Francesa (MENEZES; SIQUEIRA, 2018, p.
19).
Corroborando com essa concepção, Silva (2005, p. 553-554) propõe
uma síntese histórico-evolutiva dos direitos humanos a partir da ideia de
direitos naturais. Em suas palavras:
13
Retomando, pode-se afirmar historicamente que os primeiros marcos
do processo de internacionalização dos direitos humanos foram
constituídos pós-Tratado de Versalhes, com a Organização Internacional
do Trabalho (OIT) e a Liga das Nações. Nesse primeiro período, a OIT se
subsidiou na promoção de modelos internacionais que abordavam os
direitos sociais, (condições de trabalho e bem-estar social), prestando
serviço, assim, por meio da minimização da vulnerabilidade humana no
ambiente de trabalho. A Liga das Nações, por sua vez, tratou de incorporar
na sua Carta o paradigma da proteção as minorias. Entretanto, é somente
com o advento (criação) da Organização das Nações Unidas (ONU),
em 1945, que dá-se início aos trabalhos para a elaboração da DUDH
(DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS) que
viria a ser, o primeiro documento internacional direcionado para a
proteção dos direitos humanos (MENEZES; SIQUEIRA, 2018, p.
20).
SÍNTESE DA AULA
14
AULA 2: UMA INTRODUÇÃO CONCEITUAL
META
OBJETIVOS
CAMINHO DE ABERTURA
15
discriminação racial. Se enfatiza então, o direito à existência, a vida, à
integridade física e moral da pessoa e à não-discriminação, em particular a
racial. Estas são normas imperativas da comunidade internacional
(MBAYA, 1997, p.18).
Apesar dos avanços, Lucas (2009, p. 81-82) estabelece um olhar crítico
a perspectiva dos direitos humanos que deve ser considerado. Em suas
palavras:
16
interna, exigem do Estado, ou seja, por meio dele, subsídios em favor dos
menos favorecidos feitas pelos cidadãos mais aquinhoados e, na ordem
internacional, a ajuda dos países ricos àqueles em desenvolvimento com
base em uma obrigação jurídica (MBAYA, 1997, p. 28).
17
Por outro lado, não há como sustentar a diferença fora da
humanidade. Ou seja, é a humanidade a condição mesma para a
diferença. Os direitos humanos, na posição de universais não-
homogeneizadores, precisam justamente reconhecer que existe uma
moralidade que impõe uma reciprocidade de comportamentos a
todos os indivíduos e instituições como condição de possibilidade
para serem freadas as diferenças que conduzem à desigualdade
excludente ou mesmo à homogeneização que inviabiliza o
aparecimento das diferenças comuns à humanidade do homem,
diferenças que devem ser garantidas por fazerem do homem o que
ele é em razão também de sua individualidade, mas desde que sejam
susceptíveis de uma proteção universal. Afastar a diferença,
portanto, é o mesmo que negar as possibilidades do entendimento
humano tratar daquilo que, por sua moralidade, pode ser
universalizado. Quando a diferença é uma marca distintiva do
homem em sua humanidade, uma condição para o exercício da
própria dimensão humana, não se pode confrontar diferenças com
igualdades, mas aproximá-las na exata extensão de sua
complementaridade. Poder-se-ia dizer, inclusive, que a
universalidade, nesse sentido, é assegurada pela comum humanidade
e dignidade do homem, tomadas não de forma abstrata, mas em
razão dos marcos concretos que caracterizam as diferenças típicas
do homem em sua humanidade. Em outras palavras, da mesma
forma que não há um modelo paradigmático do ser humano sob o
viés abstrato, especificamente no que tange à sua relação com o
mundo e com os outros homens, parece sensato admitir que
somente é possível reconhecer essas diversas formas de
manifestação da existência humana quando os indivíduos
compartilham algo em comum que permite entender tais diferenças
como algo inerente à humanidade, a qual, no entanto, somente
deverá ser protegida se não caracterizar o fomento de uma diferença
excludente, prejudicial à específica maneira de ser do homem
histórico em sua universalidade.
18
estabelece os limites do próprio relativismo e do pluralismo, aquilo
que afasta e aproxima os homens entre si em razão do que lhes é
comum.43 Não se trata, portanto, da defesa de uma humanidade
vazia que se concentra apenas na defesa da espécie em sentido
biológico, mas de humanidade que se reconhece no diálogo, no
encontro do homem consigo mesmo, com o outro e com as coisas
em razão de um certo espaço público de entendimentos e de
enfrentamentos. Fernando Savater tem razão quando diz que “tener
humanidad es sentir lo común en lo diferente; aceptar lo distinto sin
ceder a la repulsión de lo extraño”.44 A falta de uma boa razão que
justifique os direitos humanos sem apelos à tradição e à autoridade
poderá fomentar a profusão de relativismos de todas as ordens,
especialmente históricos e valorativos, que importam na negação da
defesa moral de tais direitos, tornando tão cara, pois, a sua afirmação
universal. As necessidades práticas da sociedade contemporânea
tornam particularmente importante o problema da fundamentação
dos direitos humanos para a definição de conceitos, políticas e
instituições que respondam de forma efetiva às violações aos direitos
humanos em escala mundial, caracterizadas como verdadeiros
problemas da humanidade. Essa nova fase social inaugurada pelos
fenômenos globalizantes e localizantes da economia, cultura,
política, guerra, fome, crises ambientais, etc., exige mais dos direitos
humanos, assim como exige mais da história material recente e
futura desses direitos, exigências que cobram, indispensavelmente,
ações políticas e jurídicas em nível mundial, especialmente para se
garantir, pelo direito válido, a conformação de um projeto mais
ousado de humanismo. Pode-se dizer que a agenda mundial dos
direitos humanos dependerá, por exemplo, de como a humanidade
irá projetar suas instituições, de como ultrapassará o nacionalismo e
a soberania estatal, de como estabelecerá limites à economia, enfim,
dependerá essencialmente de como compreender a universalidade e
a brigatoriedade dos direitos humanos no mosaico de dificuldades
que caracteriza a sociedade contemporânea. A universalidade dos
direitos humanos configura-se em uma necessidade para a ação
política e jurídica mundial a ser referenciada por padrões de validade
conforme o direito, que aceita a diferença, mas não qualquer
diferença. Abandonar o universal significa consagrar a
impossibilidade de comunicação entre culturas diferentes[...] o
desafio para a universalidade requer empenho para se escapar da
sedução dos relativismos e força para fazer da universalidade não
um valor entre outros, mas um valor que permite descobrir todos os
outros valores, iguais ou diferentes, que constituem a aventura
humana em sua humanidade.
19
SÍNTESE DA AULA
20
UNIDADE II: DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS
DIREITOS HUMANOS (DUDH) E APORTES
TEÓRICOS
21
AULA 3: UMA INTRODUÇÃO A DECLARAÇÃO
UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS (DUDH)
META
OBJETIVOS
22
essenciais enquanto componentes de um arcabouço jurídico individual
(JUBILUT; LOPES, 2018, p. 9-10).
23
os direitos humanos eram inerentes, por outra parte, já adianta a concepção
contemporânea ao destacar a inerência da dignidade humana e, ao mesmo
tempo, enfatizar o desafio e necessidade de se construir os direitos
humanos, bem como de se estabelecer como um exemplo desse empenho
construtivo (JUBILUT; LOPES, 2018, p.10).
24
Em termos de progresso, um primeiro aspecto a ser enfatizado alude
ao fato de a DUDH inaugurar uma gramática específica em relação à
titularidade dos direitos humanos que destaca a universalidade destes. O
texto da DUDH utiliza em seu escopo maior parte expressões gerais e
abrangentes para abalizar a titularidade dos direitos. É nesse contexto que,
em se tratando dos direitos e liberdades asseguradas o texto utiliza a
expressão ‘todos’, enquanto para as práticas que estão sendo proibidas por
violarem direitos humanos, a palavra utilizada é ‘ninguém’. É de salientar
que nesse momento, ainda não existe uma preocupação com sujeitos em
particular, nem com questões de gênero por exemplo. Nesses aspectos, a
DUDH é fruto de seu tempo e não traz inovações. Mesmo assim, a
consagração da universalidade da titularidade dos direitos humanos é ponto
de proeminência, principalmente ao se vislumbrar a DUDH como matriz
jurídica e axiológica (valorativa) de um sistema de proteção internacional de
direitos humanos (JUBILUT; LOPES, 2018, p.12).
Um segundo fator a ser enfatizado com destaque é o fato de a DUDH
consagrar as duas dimensões de direitos humanos existentes até então, são
elas: os direitos civis e políticos e os direitos econômicos, sociais e culturais.
Essa universalidade de conteúdo em termos das dimensões de direitos é
proeminente e significativa, ao passo que consagra uma abordagem holística
dos direitos humanos, reforçando tanto os direitos de liberdade quanto os
de igualdade, proporcionando, assim, um nexo protetivo mais adequado e
completo aos direitos decorrentes da dignidade humana (JUBILUT;
LOPES, 2018, p. 12-13).
Em terceiro lugar, pode-se afirmar que a DUDH também traz reflexos
e influência às questões dos valores da comunidade internacional. Como já
pontuado, a DUDH consagra uma opção axiológica pela proteção do ser
humano, e nesse aspecto, faz-se matriz axiológica e jurídica de um sistema
internacional de proteção da pessoa humana que surge a partir dela.
Contudo, para além dessa significativa plataforma protetiva, a DUDH traz
implicações valorativas para o Direito Internacional como um todo (e não
apenas para os direitos humanos) e também para os direitos nacionais
(JUBILUT; LOPES, 2018, p.13).
25
Os 70 anos e o futuro da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em:
https://revistacult.uol.com.br/home/wp-content/uploads/2018/12/8ff125b6-c164-
4a4b-87a6 93d54773310c.jpg
26
FÓRUM CRÍTICO
27
inspirou a maioria das constituições nacionais na positivação dos
direitos da cidadania. Modificou o sistema “westfaliano” das
relações internacionais, que tinha como atores exclusivos os Estados
soberanos, conferindo à pessoa física a qualidade de sujeito do
Direito além das jurisdições domésticas. Lançou os alicerces de uma
nova e profusa disciplina jurídica, o Direito Internacional dos
Direitos Humanos, descartando o critério de reciprocidade em favor
de obrigações erga omnes. Estabeleceu parâmetros para a aferição
da legitimidade de qualquer governo, substituindo a eficácia da força
pela força da ética. Mobilizou consciências e agências,
governamentais e não governamentais, para atuações solidárias,
esboçando uma sociedade civil transnacional e transcultural como
possível embrião de uma verdadeira comunidade internacional.
SÍNTESE DA AULA
28
AULA 4: DEFINIÇÕES TEÓRICAS DE DIREITOS
HUMANOS
META
OBJETIVOS
INTRODUÇÃO AO CONCEITO
29
PARA APROFUNDAR NO ASSUNTO
30
América. Desde então, faz-se importante ponderar que os direitos
humanos se situam num combate de ideias, se estabelecendo como o
baluarte de um processo de vigilância do espírito diante das pressões dos
poderes estabelecidos, dos hábitos mentais, dos modos de governo
herdeiros de ordens mais antigas (MBAYA, 1997, p. 20).
31
aos direitos humanos liberais, eles se modificam na passagem para o Estado
social. Nesse aspecto, mesmo os direitos liberais subjetivos “necessitam ser
interpretados” como “direitos políticos” e serem completados pelos
direitos de participação social e de participação política (LOHMANN,
2013, p.87-88).
Em todos os seus trabalhos teóricos posteriores, Habermas preserva
essa perspectiva legal-política para tratamento e tematização dos direitos
humanos. Nesse enquadramento, o filósofo exibe esse princípio de
tematização também conceitualmente, acentuando que o conceito
“direito”, na expressão “direitos humanos”, deve ser entendido como
conceito jurídico.
Pensando o conceito
32
PARA APROFUNDAR NO ASSUNTO
FÓRUM CRÍTICO
33
SÍNTESE DA AULA
34
MÓDULO II: CIDADANIA E ÉTICA
35
INTRODUÇÃO
36
AULA 5: CIDADANIA – HISTÓRIA E
EPISTEMOLOGIA
META
OBJETIVOS
1 HISTÓRIA E EPISTEMOLOGIA
37
perspectiva que envolve a condição de acesso/participação do cidadão aos
direitos sociais (educação, saúde, segurança, previdência) e econômicos
(salário justo, emprego). Direitos que proporcionam ao cidadão o
desenvolvimento de suas potencialidades, incluindo a de participar de
forma ativa, organizada e consciente da vida coletiva no Estado (LIMA;
MENEZES JUNIOR; BRZEZINSKI, 2017, p. 2482).
2 CONCEITUANDO CIDADANIA
1Nesse sentido, entendemos ser necessária uma historiografia para melhor compreensão
do que vem a ser a luta constante de direitos que conduzam à cidadania plena. (LIMA;
MENEZES JUNIOR; BRZEZINSKI, 2017, p. 2483).
38
como o fator que mais contribuiu para a evolução das poleis. Essas
alterações foram sentidas em todos os níveis da sociedade, da economia e
da política (RESENDE FILHO; CÂMARA NETO, s/d).
Em se tratando da Grécia antiga, época em que o regime aristocrático
imperava, a cidadania se confundia/relacionava com o conceito de
naturalidade/etnicidade. O cidadão, portanto, era considerado como tal
quando nascido em terras gregas, o qual poderia usufruir de todos os
direitos políticos. Os estrangeiros, por sua vez, não eram incluídos nessa
categoria social. Proibidos de ocuparem-se da política, dedicavam-se às
atividades mercantis. Entretanto, com o passar do tempo, operou-se uma
redistribuição do poder político. Os estrangeiros foram então admitidos na
categoria de cidadão, abolindo-se a escravidão por dívidas (RESENDE
FILHO; CÂMARA NETO, s/d, s/p).
Mais do que indicar uma reformulação do conceito, esse processo de
incorporação do estrangeiro no conceito de cidadania, revelava reflexos de
transformação estruturais. Além de ampliação do quadro de cidadãos, as
póleis gregas vivenciaram um deslocamento do controle político e jurídico.
Há um processo de popularização do poder, ainda que incipiente, no qual
a aristocracia, em determinado e estruturado grau, cede espaço favor das
Assembleias e dos conselhos com participação popular. Contudo
permaneciam os critérios de distinção social, por meio dos quais se limitava
o acesso às Magistraturas mais altas, polarizando o poder político 2
(RESENDE FILHO; NETO, s/d, s/p).
Algo importante a se perceber é que apesar dessas mudanças, fatores
de ordem social e política, persistiam em vincular o termo cidadania ao
exercício da participação política (CARDOSO apud FILHO; CÂMARA
NETO, s/d). Mesmo com esse pleno direito assegurado e a existência de
um regime democrático, a cidadania figurava de forma tímida, sobretudo
quando voltada ao campo efetivo das decisões políticas. Algo para se
pensar. Dentro de um regime ainda elitista, muitos ditos cidadãos, cercados
por restrições econômicas e valores ligados à família, permaneciam
completamente alienados e tolhidos na expressão de atos políticos
(ARENDT apud RESENDE FILHO; CÂMARA NETO, s/d).
2 Como exemplos dessa polarização, podemos citar as classes censitárias criadas pelo
legislador Sólon, no século VI a.C., e a submissão da Assembléia do povo a um Conselho
cujos membros provinham da velha aristocracia, embora esta decisão não tenha durado
muito tempo. (CARDOSO apud RESENDE FILHO; CÃMARA NETO, s/d).
39
Em Roma, o espectro social relacionado à cidadania não era diferente.
Sociedade escravagista, fundamentada nas “gens” (famílias), era dominada
pelos patrícios, os quais detinham a cidadania e os direitos políticos. Por
sua vez, à plebe, constituída de romanos não nobres e de estrangeiros, a
estes não cabia qualquer tipo de direito. Este quadro alterou-se aos poucos,
possibilitando o acesso à cidadania a todos os romanos de nascimento,
mesmo que fossem escravos libertos. Apesar desse avanço, uma manobra
da Aristocracia para preservar o controle político restringiu, novamente, o
acesso à cidadania. Apenas as mais altas magistraturas, entre elas o Senado
e o Patriciado, poderiam usufruir dos privilégios dessa posição (RESENDE
FILHO; CÂMARA NETO, s/d, s/p).
Para conseguirem tal fato, os patrícios aproveitaram-se da tradição
mítico-religiosa, proveniente das origens de Roma, a qual lhes reservava o
monopólio da comunicação com os deuses. Dessa forma, pôde esta camada
social criar e manter as magistraturas ao seu bel prazer. Só em momentos
posteriores, uma parcela de cidadãos enriquecidos conseguiu alterar esse
cenário. Contudo, a plebe, se reservava somente o direito à representação.
Mesmo assim, esse direito só foi conquistado depois de conflitos políticos
estendidos até o século III a.C., com a criação de instituições propriamente
plebeias, como o Tribunato e a Assembleia da Plebe (CARDOSO apud
RESENDE FILHO; CÂMARA NETO, s/d)3.
PARA PENSAR
40
A partir dessas informações, podemos concluir que:
41
difusão dos valores culturais para todos (LIMA; MENEZES
JUNIOR; BRZEZINSKI, 2017, p. 2483-2485);
2. A concepção de cidadania na linha histórica, já no século XX, ganha
uma importante contribuição com o britânico Thomas Humphrey
Marshall (1893-1981), principalmente em Citizenship and social
class (Cidadania e classe social, 1950): trata-se de um conceito liberal
contemporâneo de cidadania, composto pelo elemento civil e
político. Define que o exercício da cidadania somente será atingido
quando houver observância aos direitos humanos em seus
diferentes âmbitos (econômico, civil, social e coletivo). Distingue as
dimensões da cidadania com base em uma sequência desenvolvida
na realidade inglesa: no século XVIII, são apresentados os direitos
civis, ou seja, os direitos fundamentais à vida, liberdade,
propriedade e igualdade. O século seguinte, por meio de muitos
debates e disputas, consolida os direitos políticos – aqueles que
permitem a participação de uma parcela da população na vida
política do Estado através do exercício do voto. A conquista dos
direitos sociais só se dá no século XX, fruto das reivindicações de
pessoas que se viram excluídas da riqueza coletiva e se valeram dos
direitos estabelecidos anteriormente para se organizarem em
movimentos e partidos para a busca de melhorias nas condições de
vida. São considerados direitos sociais a educação pública, o
trabalho, um salário justo, a saúde, a aposentadoria, entre outros
(LIMA; MENEZES JUNIOR; BRZEZINSKI, 2017, p. 2485).
42
SUGESTÃO DE AUDIÊNCIA
SÍNTESE DA AULA
43
AULA 6: O CRISTÃO E A CIDADANIA
META
OBJETIVOS
1 PROBLEMAS E DESAFIOS
[...] a cidadania não nasce da noite para o dia, ela precisa ser
conquistada pelos indivíduos que compõem uma nação, sem
reserva. Como a população evangélica constitui uma parcela
significativa desta nação, cabe sua participação na construção desta
cidadania em curso, afim de segundo Ramos [...] construir uma
sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento
nacional; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as
desigualdades sociais e regionais, promover o bem de todos, sem
preceitos de origem, raça, sexos, cor, idade e quaisquer outras
formas de descriminação - Constituição, Art 3º dos Princípios
Fundamentais. (OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2009, p. 4).
44
1- Promover a superação da dicotomia: cristão versus cidadão:
Uma ação pastoral junto à comunidade, com vistas à formação de
sujeitos cidadãos, deve contribuir para a superação da dicotomia
entre ser cristão e ser cidadão.
2- Promover o desenvolvimento de uma fé cidadã:
Segundo Castro a fé cidadã e “a fé vista na perspectiva da ação, como
fé participativa, que ativa a consciência ética do cristão, abrindo-lhe
a possibilidade de inserção (testemunho) no espaço público”.
3- Promover no espaço litúrgico-celebrativo reflexão sobre
cidadania:
Cabe ao/a pastor/a, oportunizar nos espaços cúlticos-celebrativos
momentos para reflexões sobre as angústias e alegrias, derrotas e
vitórias do povo, no sentido de ajudar na construção de uma fé
cidadã.
4- Promover a educação para cidadania em âmbito
eclesiástico:
A Igreja possui estruturalmente muitos espaços de educação: Escola
Dominical, Culto de Estudos, entre outros são exemplos de
seguimentos que constituem espaços privilegiados para a formação
de sujeitos cidadãos.
5- Promover parcerias com instituições para elaboração de
projetos cidadãos:
A igreja pode estabelecer parceria com organismos, igrejas
evangélicas irmãs, terceiro setor, ONGs e até o próprio governo,
para promover programas de cunho social e cidadania.
6- Promover a participação dos cristãos nas gestões
Democráticas:
As cidades aparecem como espaço privilegiado para a vivência da fé
e a construção de uma cultura democrática, onde se possa exercer
plenamente a cidadania, “repensar a cidade, como local prioritário
da missão e da vivência de uma fé cidadã, e um dos objetos da
Pastoral da Cidadania”.
45
acerca de uma Teologia da Cidadania a partir de elementos oriundos da
Teologia luterana: a) ser cidadão; b) viver como cidadão; c) perseverar como
cidadão; d) servir como cidadão; e) ser um cidadão cristão.” Abaixo
podemos ver a elaboração ético-teológica de von Sinner sobre estes
aspectos:
Primeiro elemento:
Segundo elemento:
Terceiro elemento:
46
na esperança, e pecador in re, na verdade, como diria Lutero. Antes
de ser um pessimismo, como alguns pensaram, considero essa visão
realista. Isso significa, também, que a confiança conforme exposto
acima não pode ser uma confiança ingênua, mas cautelosa e
informada. Para os cristãos, sempre há desconfiança diante dos seres
humanos, tanto de si mesmos quanto de outros, de acordo com sua
consciência do poder do pecado. De qualquer forma, sendo capaz
de aguentar ambiguidade como parte intrínseca da vida, pode-se
perseverar como cidadão/ã. (SINNER apud ZEFERINO; BOFF,
2017, p. 159-160).
Quarto elemento:
Quinto elemento:
47
Estado secular, i.e., neutro em assuntos da religião. Contudo, a
distinção de papéis ainda importa hoje para evitar uma intromissão
indevida de ambos os lados’ É ‘um desafio para qualquer cidadão
cristão servir a Deus sob dois regimentos, o espiritual e o secular’.
(SINNER apud ZEFERINO; BOFF, 2017, p. 160).
SÍNTESE DA AULA
48
UNIDADE IV: ÉTICA - EPISTEMOLOGIA E
CRISTIANISMO
49
AULA 7: ÉTICA - EPISTEMOLOGIA E ELEMENTOS
META
OBJETIVOS
1 O CONCEITO DE ÉTICA
50
Como uma primeira definição poderíamos dizer que “Ética ou filosofia
da moral pode ser conceituada como a parte da filosofia que se ocupa com
a reflexão a respeito dos fundamentos da vida moral” (Cotrim apud
FIGUEIREDO, 2008, p.1-2).
Importante saber que o legado histórico do conceito de ética vem de
longe. Em síntese, data de aproximadamente 500 a 300 anos a.C., época que
remete aos áureos tempos do pensamento e filosofia grega. Foi nesse
período que se construíram ideias, definições, conceitos e teorias acerca da
ética que se estabelecem como fundamento do pensamento humano no
campo da moral até os dias atuais. Dentro desta celebre galeria de
pensadores estão, Sócrates, Platão e Aristóteles, filósofos responsáveis, pela
análise e reflexão sobre o agir do homem (VALLS apud FIGUEIREDO,
2008, p. 2).
A reflexão filosófica regada neste campo brotou de uma indagação a
respeito da natureza do bem moral, na busca de um princípio absoluto de
conduta humana. Embora se tenha atribuído a Sócrates o início dessa
reflexão, pode-se afirmar que a primeira apresentação sistemática da Ética
se encontra em Aristóteles. Em sua obra Ética a Nicômaco, o filósofo grego
formulou grande parte dos problemas que seriam pauta posterior para os
filósofos morais, a saber: relação entre as normas e os bens; relação entre a
ética individual e a social; classificação das virtudes; exames da relação entre
a vida teórica e a vida prática, dentre outros (FIGUEIREDO, 2008, p.1-2).
51
À luz do pensamento aristotélico, a ética seria um elemento humano
que conduziria as ações humanas em relação às chamadas virtudes (boas
ações) e dos vícios (más ações). Em Aristóteles essas virtudes (boas ações)
seriam de cunho intelectual (conhecimento teórico – resultante do ensino)
e moral (conhecimento prático – adquirido pelos hábitos). Dentro dessa
compreensão surge sua definição de ética como “Ética (ήδίά), isto é, ciência
dos costumes (ηθοζ)” (FIGUEIREDO, 2008, p. 2).
A palavra ética presente em nossa cultura deriva do grego Ethos. Nessa
língua, possui duas grafias: ηθοζ (êthos) e εθοζ (éthos). Essa dupla grafia
remete a diversidade de significados da expressão. (CUBELLES apud
FIGUEIREDO, p. 2). Esses dois termos, por sua vez, podem ser
entendidos em três sentidos: “morada” ou “abrigo”, “caráter ou índole” e
“hábitos” ou “costumes” (FIGUEIREDO, 2008, p. 2).
Conforme Figueiredo (2008), o termo grego ηθοζ (êthos), quando
escrito com “eta” (η) inicial, possui dois sentidos: morada, caráter ou índole.
Nessa sistematização:
4 Usava-se, primeiramente, na poesia grega com referência aos pastos e abrigos onde os
animais habitavam e se criavam. Mais tarde, aplicou-se aos povos e aos homens no sentido
de seu país. Depois, por extensão, à morada do próprio homem (Aranguren apud, p.2), isto
é, refere-se a uma habitação que é íntima e familiar, é o “lar”, um lugar onde o homem
vive. (FIGUEIREDO, 2008, p.3).
52
como uma forma de vida no sentido preciso da palavra, isto é,
diferenciando-se da simples maneira de ser. (Aranguren apud
FIGUEIREDO, 2008, p. 3).
Por sua vez, o segundo termo grego que remete a ética, εθοζ (éthos),
quando escrito com épsilon (ε) no início da palavra é traduzido por
“hábitos” ou “costumes” (FERRER apud FIGUEIREDO, 2008, p. 3). Este
é o éthos social. Significa hábitos, costumes, tradições. Refere-se aos atos
concretos e particulares, por meio dos quais os seres humanos articulam
suas ações, na vida particular e cotidiana, realizam seus projetos de vida.
Em síntese, há uma tensão entre os conceitos subjacentes nos termos
gregos: ηθοζ (êthos) e εθοζ (éthos). Esta tensão, segundo Aranguren,
[...] sem contradição entre êthos como caráter e éthos como hábitos,
definiria o âmbito conceitual da idéia central da ética. Razão pela
qual, tanto na concepção clássica quanto na moderna, a ética ocupa-
se constantemente dos atos morais e dos hábitos no sentido de
virtudes e vícios. As virtudes podem ser classificadas pela forma de
aquisição: intelectuais e morais. As virtudes intelectuais são
53
resultados do ensino, são muito artificiais, por isso precisam de
experiências e tempo para formar o caráter. As virtudes morais são
adquiridas pelo hábito, costumes ou experiência. Não são inatas, são
adquiridas pelo exercício da práxis, com o convívio social, ou seja,
com a disposição de viver com ou conviver com os outros.
(ARANGUREN apud FIGUEIREDO, 2008, p. 3-4).
[...] a ética pode ser entendida como a ciência da reta ordenação dos
atos humanos desde os últimos princípios da razão (kathein).
Estamos, portanto, diante de uma ciência prática, que trata de atos
práticos. É a razão da filosofia da prática. É a forma que configura a
matéria (atos humanos). Por isso, é importante saber que a ética não
se ocupa do irracional, como sugerem algumas interpretações, senão
do racional prático, intentando saber o específico da moral em sua
razão filosófica. Isto é, a razão das escolhas de uma determinada
conduta e os fundamentos da tomada de decisão. Dessa concepção
e do entendimento de que ações humanas podem ser abordadas por
uma perspectiva psicológica, biológica ou filosófica, deduz-se que a
“ética” se ocupa da reflexão filosófica relativa à conduta humana sob
o prisma dos atos morais. Ela vai examinar a natureza dos valores
morais e a possibilidade de justificar seu uso na apreciação e na
orientação de nossas ações, nas nossas vidas e nas nossas
instituições. (Skorupsk apud FIGUEIREDO, 2008, p. 4).
PARA PENSAR
54
A ética filosófica é uma metalinguagem que fala da práxis humana,
tentando descobrir a razão pela qual se deve fazer algo, considerando os
valores morais estabelecidos em cada sociedade (Cubelles apud
FIGUEIREDO, 2008, p.4).
PARA FIXAR
55
anunciando-lhes as consequências (KORTE apud FIGUEIREDO,
2008, p. 7).
PARA CONHECIMENTO
56
De acordo com Geisler (2010) das seis visões básicas sobre ética, duas
negam a existência de leis morais absolutas de forma objetiva. Das duas, o
antinomismo nega todas as leis morais, tanto gerais quanto universais, e o
generalismo, por outro lado, nega somente as leis morais universais, mas
mantém as leis gerais. Em outras palavras, para os generalistas, existem
algumas leis morais objetivas que são obrigatórias na maior parte do tempo,
mas não necessariamente em todo o tempo. As outras quatro visões são
formas variadas de absolutismo.
Dentre elas, só o situacionismo acredita em apenas um absoluto, as
demais acreditam em dois ou mais absolutos. Destas últimas, o absolutismo
não qualificado defende a ideia de que os princípios morais absolutos nunca
são conflitantes, ao passo que as outras duas visões acreditam que algumas
vezes eles são conflitantes. Das duas visões que acreditam que os princípios
morais são às vezes conflitantes, o absolutismo conflitante afirma que nós
somos responsáveis por fazer o menor de dois males, mas culpados por
qualquer um dos que deixamos de obedecer. Por outro lado, o absolutismo
graduado diz que nossa responsabilidade é obedecer ao maior mandamento
entre os dois, e, por consequência, nós não somos culpados por não seguir
o mandamento menor que conflita com o maior (GEISLER, 2010, p.19-
20).
Outra perspectiva importante abordada por Geisler (2010, p.17) diz
respeito à teorização de uma bipartição de categorias que englobam a ética.
A saber:
57
(GEISLER, 2010, p.18).
SUGESTÃO DE AUDIÊNCIA
SÍNTESE DA AULA
58
AULA 8: ÉTICA CRISTÃ
META
OBJETIVOS
1 ÉTICA CRISTÃ
5 Deus não limitou sua revelação às Escrituras; ele também se revelou, de forma geral,
através da natureza (Rm 1.19-20; 2.12-14). Deve-se, assim, esperar que existam
semelhanças e justaposições entre a revelação natural e a sobrenatural de Deus visto que
seu caráter moral não muda. (GEISLER, 2010, p.15).
59
A ética cristã tem a forma de um mandamento divino. Um dever
ético é algo que nós temos de fazer; é uma prescrição divina. É claro
que os imperativos éticos que Deus dá estão alinhados com seu
caráter moral imutável. Em outras palavras, Deus deseja que se faça
o que é certo em concordância com seus próprios atributos morais.
“Sede santos, porque eu sou santo”, foi o mandamento de Deus para
Israel (Lv 11.45). “Sede, pois, perfeitos, assim como perfeito é o
vosso Pai celestial” (Mt 5.48), Jesus disse aos seus discípulos. “É
impossível que Deus minta” (Hb 6.18), assim, nós também não
devemos mentir. “Deus é amor” (1Jo 4.16), e Jesus disse, “amarás o
teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22.39). Em suma, a ética cristã
baseia-se na vontade de Deus, e Deus nunca deseja algo que seja
contrário ao seu caráter moral imutável. (GEISLER, 2010, p. 15-16).
A partir do fato de que o caráter moral de Deus não muda (Ml 3.6; Tg
1.17), chega-se à conclusão de que as obrigações morais derivadas de sua
natureza são absolutas.
Isso significa que são obrigatórias a todas as pessoas e em todos os
lugares. De fato, nem tudo o que Deus deseja flui, necessariamente, de sua
natureza imutável. Algumas coisas estão meramente em conformidade com
sua natureza, mas fluem independentes de sua vontade6.
6 Por exemplo, Deus escolheu aplicar um teste de obediência moral a Adão e a Eva,
proibindo-os de comerem o fruto de uma árvore específica (Gn 2.16-17). Embora para
Adão e Eva tenha sido moralmente errado desobedecer a esse mandamento específico
feito por Deus, nos dias de hoje nós não estamos obrigados a obedecê-lo, pois aquele
mandamento, embora estivesse baseado na vontade de Deus, não fluía necessariamente de
sua natureza. Por outro lado, o mandamento de Deus para não derramar sangue humano
(Gn 9.6) foi instituído antes de a Lei ter sido dada a Moisés, quando a Lei foi dada a Moisés
(Ex 20.13) e também nos tempos posteriores à Lei de Moisés (Rm 13.9). Assim, entende-
se que matar é uma atitude errada em todos os tempos, em todos os lugares e para todas
as pessoas. Isto é verdadeiro porque os seres humanos são criados à “imagem de Deus”
(Gn 1.27; 9.6), o que inclui uma semelhança moral com Deus. (Cl 3.10; Tg 3.9) (GEISLER,
2010, p. 16).
60
Qualquer coisa que se relacione com o caráter moral imutável de Deus
constitui-se em um absoluto moral. Isso inclui obrigações morais tais como:
santidade, justiça, amor, honestidade e misericórdia. Outros mandamentos
que fluem da vontade de Deus, mas não, necessariamente, de sua natureza,
são também obrigatórios para o cristão, embora não sejam absolutos. Em
outras palavras, eles precisam ser obedecidos porque Deus os prescreveu,
mas ele não os prescreveu para todas as pessoas, em todos os tempos e em
todos os lugares. Por outro lado, deveres morais absolutos são obrigatórios
a todas as pessoas, em todos os tempos e em todos os lugares (GEISLER,
2010, p.16).
61
IMPORTANTE
62
Com o intuito de compreender os impulsos do pensamento de Barth
para a ética cristã hoje, Zeferino e Boff (2017, p. 152-155) demonstram seis
elaborações sintéticas de suas análises dos textos de Barth. A saber:
Primeira elaboração
Segunda elaboração
Terceira elaboração
63
vez, aponta para a plenitude desta revelação em Jesus Cristo [...]
Dessa forma, Barth insere no sentido do texto veterotestamentário
a totalidade do significado da revelação de Deus, e coloca este ponto
de partida como fundamento último do fazer teológico. Com isso,
refuta qualquer Teologia cristã que não parta dessa revelação crística.
Assim, o centro do primeiro mandamento é Jesus Cristo, Deus
revelado, pois ele é a palavra eterna de Deus que encarna
historicamente e dá o real sentido de toda a existência e de toda a
Escritura. (BARTH apud ZEFERINO; BOFF, 2017, p.153).
Quarta elaboração
Para Barth, dizer Evangelho e Lei faz todo sentido, pois a realidade
da lei encontra seu real significado sob a perspectiva do Evangelho,
sendo que ambos só podem ser compreendidos sob a luz da palavra
de Deus. A palavra eterna de Deus, por sua vez, denuncia a
profundidade do pecado humano, pois foi necessário que esta se
tornasse carne e assumisse a humanidade completa e, com isso, o
castigo do pecado, para que a vontade de Deus para com o ser
humano pudesse ser cumprida. A vontade de Deus é o contrário do
pecado. Este último é o distanciamento de Deus, é o viver sem
Deus, ou seja, é o viver humano que confia em si mesmo para a
salvação. Já a vontade de Deus consiste no reconhecimento de sua
graça, a qual só é possível ao ser humano por meio de Jesus Cristo,
a palavra eterna de Deus que é ao mesmo tempo o conteúdo do
Evangelho, que é a graça de Deus. Assim, era necessário que a graça
de Deus se tornasse carne para que o ser humano entoasse seu sim
para a graça de Deus. A lei, por sua vez, é a forma pela qual o
Evangelho se apresenta, tendo como sua chave de leitura o próprio
Deus encarnado, que cumpriu a lei por meio do amor. A lei, ou seja,
o mandamento de Deus, possui seu significado na graça de Deus,
que é o próprio Cristo, portanto, a graça de Deus cumpriu a lei. Esta
lei se resume na obediência concretizada em amor. Entende Barth
ter sido necessário que Deus cumprisse a lei por meio de Jesus Cristo
e, assim, vencesse o castigo do pecado, o que é anunciado na
ressurreição. A morte não pôde deter a graça encarnada de Deus.
(BARTH apud ZEFERINO; BOFF, 2017, p. 153-154).
Quinta elaboração
64
e obedecer ao mandamento de Deus. O mandamento de Deus surge
na medida em que Deus se revela em sua graça. Na aliança de Deus
com o ser humano, é o próprio Deus que cumpre a aliança
totalmente, pois Deus é ser humano em Jesus Cristo, ele é Senhor e
Servo. Diante da ação de Deus, cabe ao homem a glorificação da
ação doacional de Deus. O ser humano é colocado dentro da aliança
em Jesus Cristo, sendo chamado a conformar-se à ética de Deus.
Em Jesus Cristo, toda a existência recebe seu fundamento e sua
devida dimensão. Ele mesmo é o Criador, o Reconciliador e o
Redentor, e o ser humano faz parte disso em Cristo (BARTH apud
ZEFERINO; BOFF, 2017, p.154-155).
Sexta elaboração
65
SÍNTESE DA AULA
66
MÓDULO III: APONTAMENTOS PARA UMA
ECOTEOLOGIA
67
INTRODUÇÃO
68
AULA 9: BIOÉTICA - GÊNESE E PRISMA HISTÓRICO
META
OBJETIVOS
1 ORIGEM DO TERMO
7 Esse texto “foi encontrado por Rolf Löther, da Universidade de Humboldt, de Berlim, e
divulgado por Eve Marie Engel, da Universidade de Tübingen, também da Alemanha”
(GOLDIM, 2006, p. 86).
8 Fritz Jahr, em 1927, já havia proposto, segundo suas próprias palavras, um imperativo
bioético: “Respeita, em princípio, cada ser vivo como uma finalidade em si e trata-o como
tal, na medida do possível”. (GOLDIM, 2006, p. 88).
69
já se propunha uma perspectiva da Bioética como sendo um “panorama
sobre as relações éticas dos seres humanos para com os animais e as
plantas” (Fritz apud GOLDIM, 2006, p. 88). Essa inclusão das plantas na
discussão Bioética, mesmo com a distância temporal do termo proposto
por Fritz Jahr é ainda altamente inovadora, mesmo nos dias atuais
(GOLDIM, 2006, p. 88).
Anteriormente, a criação do termo Bioética era atribuída a Van
Rensselaer Potter, devido a publicação de um artigo em 1970, no qual
caracteriza a biotética como a ciência da sobrevivência. Na primeira fase de
seu postulado Potter designou a Bioética como Ponte, no sentido de ser o
caminho para relação entre as ciências e as humanidades que asseguraria a
possibilidade do futuro (GOLDIM, 2006, p. 86).
Em termos históricos, podemos afirmar que a Bioética teve outra
origem paralela em língua inglesa. No mesmo ano (1970) em que Potter
desenvolveu sua conceituação, André Hellegers utilizou o termo Bioética
para denominar estudos recentes que estavam sendo propostos no campo
biológico da reprodução humana9.
Potter, em contrapartida, no fim da década de 1980, passou a enfatizar
a característica interdisciplinar e abrangente da Bioética, denominando-a de
global. Em síntese, sua pretensão era restabelecer o foco original da
Bioética, incluindo as questões de medicina e saúde, não restringindo a
abrangência do termo a essa área, mas ampliando o pensamento aos novos
desafios ambientais. Dentro de seu itinerário de pesquisa, Potter, em 1998,
redefiniu a Bioética como sendo uma Bioética profunda (deep bioethics).
Nesse contexto, mais uma ciência entra em diálogo com a elaboração da
referência bioético: a ecologia. Para qualificar a Biotética como Bioética
profunda, Potter se apropria da qualificação de ecologia profunda proposta
por Arne Ness (GOLDIM, 2006, p. 86). Ao tom de definição de Potter a
Bioética profunda é “‘a nova ciência ética’, que combina humildade,
responsabilidade e uma competência interdisciplinar, intercultural, que
potencializa o senso de humanidade” (POTTER apud GOLDIM, 2006, p.
86).
9Hellegers se utilizou do termo biotética “ao criar o Instituto Kennedy de Ética, então
denominado de Joseph P. and Rose F. Kennedy Institute of Ethics” (GOLDIM, 2006, p.
86).
70
VOCÊ SABIA?
71
“momentos” bem determinados. A essas quatro etapas, agregaremos mais
uma considerando a obra de Fritz Jahr. São elas:
Etapa do embrião epistemológico: quando em 1927, Fritz Jahr se utiliza
pela primeira vez a expressão Bioética;
72
À luz do que foi posto podemos dizer que a Bioética, nasceu dentro de
uma proposta de inserção vital, em que outros participantes do ecossistema,
plantas e animais passaram a fazer parte da reflexão ética, já realizada para
os seres humanos. Em um momento posterior, se agrega a reflexão a
própria terra, o solo em que pisamos, além dos elementos da natureza e,
sobretudo o nosso planeta passa a ser foco de reflexão. Uma discussão que
se amplia a cada passo em que se pensa acerca do tema. Em um contexto
mais recente, a abordagem ecológica da Bioética propõe uma visão
integradora do ser humano e a natureza como um todo. Essas relações e
estruturas de pensamento demonstram a complexidade que envolve o
termo Bioética. Este não pode ser visto de forma simplificada e restrita. Ao
contrário, só pode ser desvendada em sua ampla complexidade teórica e
prática (GOLDIM, 2006, p. 87).
SÍNTESE DA AULA
73
AULA 10: BIOÉTICA - CONCEITOS E
DESDOBRAMENTOS
META
OBJETIVOS
1 PANORAMA CONCEITUAL
10Um deles é o que entende a bioética como um campo aplicado aos conflitos morais em
saúde. Na América Latina, há uma preferência pelos temas relacionados à reprodução
biológica, à pesquisa com seres humanos e ao fim da vida. (DINIZ, 2008, p. 207).
74
Bioética aponta para um conjunto de investigações e atividades
pluridisciplinares, com o objetivo de em síntese, resolver questões de ordem
ética provocadas pelo progresso das tecnociências biomédicas (VIEIRA,
2000, p.197). De acordo com Garrafa (2005, p. 10-11), a conotação original
do termo:
Essa definição, por sua vez, nos remete, uma vez mais, a complexidade
do quadro teórico em que se constrói as definições de Bioética. Como já
75
postulado dentro do quadro histórico de desenvolvimento da temática,
atualmente, a Bioética se apresenta como:
Algo importante a ser dito é que alguns autores dão um passo a mais
nessa elaboração. Um exemplo paradigmático está em Schramm ao concluir
que a própria ética (que o autor chama de “ética natural”) em sua gênese
tem um fundamento biológico (GARRAFA, 2005, p.14). Sob essa
perspectiva, “a legitimação do agir ético só seria uma elaboração secundária
de algo que de fato pertence à biologia humana [...] Podemos afirmar,
portanto, que toda ética é, antes e fundamentalmente, uma Bioética”
(SCHRAMM apud GARRAFA, 2005, p. 14).
76
2 SISTEMATIZAÇÃO E ABRANGÊNCIA DO CONCEITO
77
1. À exclusão social; às discriminações de gênero, raça, sexualidade e
outras;
2. Os temas da equidade, da universalidade e da alocação, distribuição
e controle de recursos econômicos em saúde;
3. Os direitos humanos e a democracia, de modo geral, e suas
repercussões na saúde e na vida das pessoas e das comunidades; o
aborto; a eutanásia12.
12 Enquanto outros autores preferem colocar estas duas últimas situações entre os temas
“emergentes” ou de “limites”, parece ser mais adequado classificá-las como persistentes, a
partir de sua conotação histórica, uma vez que se enquadram entre aquelas situações que
se mantém teimosamente na pauta da comédia humana desde os tempos do Antigo
Testamento. (GARRAFA, 2005, p.17-18).
13 Como já haviam antecipado Fritz Jahr e Van Rensselaer Potter. (GOLDIM, 2006, p. 88).
78
Atualmente, discutir apenas a preservação do ambiente natural
passou a ser uma tarefa difícil e até mesmo ultrapassada. A
diferenciação entre objetos artificiais e objetos naturais, que pode
parecer imediata e sem ambiguidade, na realidade não o é. Essas
diferenças não são nem imediatas nem estritamente objetivas,
tamanho o grau da intervenção humana e das inter-relações
existentes. A preservação apenas de ambientes naturais intocados
por si só os tornaria artificiais, pois, ao protegê-los, estariam sendo
impostas barreiras artificiais de acesso e utilização. As reservas e
parques naturais são exemplos dessa ambiguidade entre o natural e
o artificial, entre o natural e o naturalizado (Lenoir). Na área da
saúde, essa questão também está cada vez mais presente. Distinguir
os processos de ação naturais do organismo humano dos
provocados por intervenções externas a ele pode ser difícil e, em
determinadas situações, impossível. As intervenções, quando
avaliadas de uma perspectiva ecológica, deixam de ter apenas uma
conotação individual, passando a merecer uma discussão com as
demais pessoas direta ou indiretamente envolvidas14.
14
A ética da razão comunicativa de Karl-Otto Apel deu uma importante contribuição
nesse sentido. Ao levar em conta as consequências diretas e indiretas das ações realizadas
e por utilizar o discurso argumentativo exercido por todos os indivíduos para obter normas
consensuais, torna-os corresponsáveis por todas as ações. (GOLDIM, 2006, p. 88).
79
Bioética. Imagem ilustrativa. Disponível em:
https://cultura.estadao.com.br/blogs/crop/top/350x199/estado-da-arte/wp-
content/uploads/sites/426/2018/12/editing2.jpg
PARA PENSAR
80
COM A PALAVRA QUEM ENTENDE DO ASSUNTO
81
SUGESTÃO DE AUDIÊNCIA
SÍNTESE DA AULA
82
UNIDADE VI: ECOLOGIA - HISTÓRIA, CONCEITOS
E PROBLEMAS.
83
AULA 11: ECOLOGIA - HISTÓRICO, COMPONENTES
E CONCEITOS
META
OBJETIVOS
1 HISTÓRIA E EVOLUÇÃO
84
Malthus chamou atenção para o conflito entre as populações em
expansão e a capacidade da Terra de fornecer alimento”;
2. “Raymond Pearl (1920), A. J. Lotka (1925), e Vito Volterra (1926)
desenvolveram as bases matemáticas para o estudo das populações,
o que levou a experiências sobre a interação de predadores e presas,
as relações competitivas entre espécies e o controle populacional.
O estudo da influência do comportamento sobre as populações foi
incentivado pelo reconhecimento, em 1920, da territorialidade dos
pássaros”;
3. “Os conceitos de comportamento instintivo e agressivo foram
lançados por Konrad Lorenz e Nikolaas Tinbergen, enquanto V. C.
Wynne-Edwards estudava o papel do comportamento social no
controle das populações”.
4. “No início e em meados do século XX, dois grupos de botânicos,
um na Europa e outro nos Estados Unidos, estudaram
comunidades vegetais de dois diferentes pontos de vista. Os
botânicos europeus se preocuparam em estudar a composição, a
estrutura e a distribuição das comunidades vegetais, enquanto os
americanos estudaram o desenvolvimento dessas comunidades, ou
sua sucessão. As ecologias animal e vegetal se desenvolveram
separadamente até que os biólogos americanos deram ênfase à
inter-relação de comunidades vegetais e animais como um todo
biótico. Alguns ecologistas se detiveram na dinâmica das
comunidades e populações, enquanto outros se preocuparam com
as reservas de energia”;
5. “Em 1920, o biólogo alemão August Thienemann introduziu o
conceito de níveis tróficos, ou de alimentação, pelos quais a energia
dos alimentos é transferida, por uma série de organismos, das
plantas verdes (produtoras) aos vários níveis de animais
(consumidores)”;
6. “Em 1927, C. S. Elton, ecologista inglês especializado em animais,
avançou nessa abordagem com o conceito de nichos ecológicos e
pirâmides de números. Dois biólogos americanos, E. Birge e C.
Juday, na década de 1930, ao medir a reserva energética de lagos,
desenvolveram a ideia da produção primária, isto é, a proporção na
qual a energia é gerada, ou fixada, pela fotossíntese”.
7. “A ecologia moderna atingiu a maioridade em 1942 com o
desenvolvimento, pelo americano R. L. Lindeman, do conceito
trófico-dinâmico de ecologia, que detalha o fluxo da energia através
85
do ecossistema. Esses estudos quantitativos foram aprofundados
pelos americanos Eugene e Howard Odum. Um trabalho
semelhante sobre o ciclo dos nutrientes foi realizado pelo
australiano J. D. Ovington. O estudo do fluxo de energia e do ciclo
de nutrientes foi estimulado pelo desenvolvimento de novas
técnicas -- radioisótopos, microcalorimetria, computação e
matemática aplicada -- que permitiram aos ecologistas rotular,
rastrear e medir o movimento de nutrientes e energias específicas
através dos ecossistemas. Esses métodos modernos deram início a
um novo estágio no desenvolvimento dessa ciência -- a ecologia dos
sistemas, que estuda a estrutura e o funcionamento dos
ecossistemas” (CASSINI, 2005, p. 2-3).
86
alimentares em todos os habitats, por menores que sejam esses conjuntos
específicos de condições físicas que cercam um grupo de espécies. As
cadeias alimentares costumam ser complexas, e várias cadeias se
entrecruzam de diversas maneiras, formando uma teia alimentar que
reproduz o equilíbrio natural entre plantas, herbívoros e carnívoros. Os
ecossistemas tendem à maturidade, ou estabilidade, e ao atingi-la passam de
um estado menos complexo para um mais complexo. Essa mudança
direcional é chamada sucessão. Sempre que um ecossistema é utilizado, e
que a exploração se mantém, sua maturidade é adiada. A principal unidade
funcional de um ecossistema é sua população. Ela ocupa um certo nicho
funcional, relacionado a seu papel no fluxo de energia e ciclo de nutrientes.
Tanto o meio ambiente quanto a quantidade de energia fixada em qualquer
ecossistema são limitados. Quando uma população atinge os limites
impostos pelo ecossistema, seus números precisam estabilizar-se e, caso
isso não ocorra, devem declinar em consequência de doença, fome,
competição, baixa reprodução e outras reações comportamentais e
psicológicas. Mudanças e flutuações no meio ambiente representam uma
pressão seletiva sobre a população, que deve se ajustar. O ecossistema tem
aspectos históricos: o presente está relacionado com o passado, e o futuro
com o presente. Assim, o ecossistema é o conceito que unifica a ecologia
vegetal e animal, a dinâmica, o comportamento e a evolução das
populações.
Em síntese, Cassini (2005, p. 8), define, propõe uma conceituação de
ecossistema como um:
87
COM A PALAVRA QUEM ENTENDE DO ASSUNTO
88
2 AS ECOLOGIAS
89
Guattari pretende lançar fundamentos para recomposição das práticas
sociais e individuais. Para atingir essa meta ele propõe três rubricas
complementares – a ecologia social, a ecologia mental e a ecologia
ambiental, sob a égide de uma ecosofia (GUATTARI apud MURAD, 2019,
p. 68).
Em seu ensaio sobre Ecologia e ecoteologia Murad (2019, p. 68) atenta
para a realidade de que “o modelo de compreensão de Guattari é bem mais
complexo do que aparentam os simples termos”. Nesse aspecto, o autor
sistematiza as três ecologias propostas por Guattari da seguinte maneira:
90
2.3 Ecologia social
A ecologia social estimula “um investimento afetivo e pragmático em
grupos humanos de diversos tamanhos” para reconstruir, de forma nova, o
tecido social. Um ponto programático primordial da ecologia social consiste
na transição da sociedade capitalista da era da mídia para a pós-mídia, como
“reapropriação da mídia por uma multidão de grupos-sujeito, capazes de
gerila numa via de ressingularização” (GUATARRI apud MURAD, 2019, p.
69).
91
3 ECOLOGIA PROFUNDA
92
5. “A atual interferência humana no mundo não-humano é excessiva
e a situação está piorando aceleradamente”;
6. “As políticas precisam ser mudadas. As mudanças políticas afetam
as estruturas básicas da economia, da tecnologia e da ideologia. A
situação que resultará desta alteração será profundamente diferente
da atual”;
7. “A mudança ideológica ocorrerá no apreciar da qualidade de vida
[...], em vez da adesão a padrões de vida mais elevados. Haverá uma
consciência profunda da diferença entre o grande (quantidade) e o
importante (qualidade)”;
8. “Aqueles que subscrevem os princípios precedentes têm a
obrigação de tentar implementar, direta ou indiretamente, as
mudanças necessárias” (NAESS e SESSIONS apud MURAD, 2019,
p. 72).
SUGESTÃO DE AUDIÊNCIA
93
SÍNTESE DA AULA
94
AULA 12: PANORAMA E PROBLEMÁTICA
ECOLÓGICA
META
OBJETIVOS
95
Reimer (2011) delimeia bem essa crise a partir do paradigma da
modernidade. Nas palavras do autor:
96
clara, expressando-se em muitas manifestações fenomênicas de crise
e desajustes ambientais. Ainda que a ciência e a técnica já estivessem
em condições de frear as nefastas intervenções no ambiente, a taxa
de degradação do ambiente natural tem aumentado acima da taxa de
crescimento populacional. O homem retira da natureza matérias
primas acima da capacidade de regeneração sistêmica da natureza.
Estima-se que a taxa de extinção de espécies naturais cresce na
mesma proporção do crescimento da população. A comunidade
humana em seu conjunto se revela como sujeito ativo de uma lógica
ecocida. Salvo algumas honráveis exceções, por onde passam, os
humanos, na sua ânsia por vida, por pressões econômicas e fatores
históricos, por satisfação de desejos limitados e de desejos
ilimitados, interferem, destroem e poluem o ambiente.
Desmatamento, desertificação do solo poluição dos mananciais são
facetas de uma crise ambiental de proporções globais. Estes
desajustes do ambiente vão gerando perceptíveis mudanças
climáticas, às quais os humanos são chamados a se ajustar cada vez
mais, demandando ciência e sabedoria. Hoje se discute se as facetas
da crise ou dos desajustes ambientais, tais como a chuva ácida, o
aquecimento do planeta e os câmbios climáticos têm causas
antrópicas ou não. Isto é, discute-se se o homem e sua forma de
organização e de produção são responsáveis por tais fenômenos
catastróficos ou se a própria natureza se organiza ciclicamente com
efeitos nefastos sobre parte dos seres que ocupam o planeta.
97
um desequilíbrio ecológico. Em síntese, o desequilíbrio ecológico pode ser
dividido em dois fatores, sendo eles: Fatores Naturais de Desequilíbrio e
Fatores de Desequilíbrio induzidos pelo Homem. Dentro dessa divisão os
Fatores Naturais de Desequilíbrio podem ser compreendidos como:
98
Diante dos Fatores de desequilíbrio ambiental, sobretudo, os induzidos
pelo homem, podemos dizer que a crise ambiental é uma crise que reflete
em espelho a própria humanidade e suas escolhas. Temos a necessidade
diante disso, de dar um passo a mais, dos sintomas para os motivos
(MURAD, 2019, p. 67).
Diante desse quadro, Guridi (apud MURAD, 2019, p. 67) aponta tres
grandes sintomas da crise ambiental:
1. Esgotamento de recursos renováveis e suas consequências para a
humanidade;
2. Redução da biodiversidade e destruição de ecossistemas; aumento
da poluição em diversas formas;
3. Risco de grandes desastres associados ao poder militar (energia
nuclear, armas químicas e biológica.
99
inegável que, na situação atual, os desequilíbrios ambientais são
consequências da intervenção desenfreada dos humanos no
ambiente (REIMER, 2009, p. 301-302).
PARA PENSAR
100
2 O PROBLEMA DA PERDA DA BIODIVERSIDADE
101
VOCÊ SABIA?
102
c) “Uso de híbridos e monoculturas na agroindústria e nos programas
de reflorestamento”;
d) “Contaminação do solo, água, e atmosfera por poluentes; e
Mudanças climáticas. As inter-relações das causas de perda de
Biodiversidade com a mudança do clima e o funcionamento dos
ecossistemas apenas agora começam a ser vislumbradas”.
Dentro desse contexto, Cassini (2005, p. 34, grifos nossos) elenca três
razões principais que justificam a preocupação com a conservação da
diversidade biológica:
103
PARA REFLETIR
SÍNTESE DA AULA
104
MÓDULO IV: ECOTEOLOGIA
105
INTRODUÇÃO
Caro estudante. Espero que tenha chegado bem até aqui. Estamos
adentrando no último módulo de nossa disciplina. Nas próximas linhas
textuais, trataremos de uma temática candente no meio teológico e, por
conseguinte, na sociedade contemporânea. Falaremos sobre a Ecoteologia.
Nesse empreendimento, faremos uma viagem conceitual, histórica e crítica
em relação aos principais aspectos presentes nessa corrente teológica
moderna. Convidamos-te à uma jornada exploratória que certamente trará
colorações e elementos novos para o seu conhecimento e prática teológica.
Este módulo contém duas unidades com duas aulas cada uma, são elas:
106
AULA 13: CONCEITOS E FUNDAMENTOS
META
OBJETIVOS
1 HISTÓRIA E CARACTERÍSTICAS
107
natureza’ ou ‘salvar o planeta’. Não se trata de uma empreitada
redentora. De destruidores os humanos não se transformam em
salvadores num passe de mágica. Trata-se, porém, de envidar
esforços, pessoais e coletivos, para diminuir os efeitos danosos da
ação antrópica no ambiente. Essa é a margem de manobra possível
e passível a nós humanos. Isso, contudo, requer uma mudança de
olhar; requer um ‘caminho mental’, como em outros tempos foi
proposto pelo físico Fritjof Capra (2000). O humano necessita rever
as regras de conduta (economia) em relação ao seu oikos, à ‘casa’,
em suas várias dimensões: micro, meso, macro (ecologia). Trata-se
de uma demanda ética de cuidado. Dentro desta, de questões morais
e, assim, de ordem teológica.
15 Dentre suas obras, destaca-se Ecotheology: Voices from South and North, 1994”
(MURAD, 2019, p. 81-82). Nesse aspecto, “as teses de Lynn White (2007), referentes à
crítica ao antropocentrismo e sua origem no cristianismo foram somente um catalisador
da ecoteologia. (MURAD, 2019, p. 82).
108
das principais causas históricas da crise ecológica atual” (GURIDI
apud MURAD, 2019, p. 82).
2. “A ecoteologia foi historicamente modelada pelo encontro da
reflexão teológica e a crescente consciência ecológica. Essa nova
consciência penetrou na teologia, como também em outras áreas do
conhecimento e em práticas e crenças humanas. Está permeando a
educação, a economia, as artes, o planejamento urbano e os hábitos
cotidianos”.
3. “A ecoteologia se desenvolveu muito nos últimos anos, com uma
quantidade razoável de autores e publicações. Suscitaram-se
perguntas, como: diante da crise ecológica atual, quais são as
mudanças necessárias no olhar teológico sobre o mundo? qual o
papel da prática cristã, neste contexto? como o cristianismo pode
contribuir para uma mudança de mentalidade e de comportamento?
quais seriam as fontes teológicas para realizar esta revisão da teoria
e da prática cotidiana? como articular corretamente a sensibilidade
ecológica com as nossas convicções de fé?”.
4. “A ecoteologia realiza uma dupla tarefa hermenêutica: a crítica a
partir da fé cristã, e a crítica da própria formulação que esta adquiriu
na história. Os termos que melhor descrevem os objetivos que a
ecoteologia assumiu nas últimas décadas são: revisão, recuperação,
transformação e aprofundamento”. Nesse contexto podemos dizer
que:
a) A ecoteologia propugna uma ética ambiental, mas não se reduz
a ela. Visa explicar “como e porque a sensibilidade ecológica é
essencial para os crentes e uma parte nuclear de sua fé”.
b) A ecoteologia “analisa a crise ecológica a partir de sua dimensão
religiosa. Nesse empenho, revisa a compreensão de Deus, de
criação e do lugar do ser humano. Exerce simultaneamente a
dupla função de crítica e reconstrução” (GURIDI apud
MURAD, 2019, p. 82).
5. “Os teólogos e as teólogas exploram distintos caminhos e
concretizam objetivos para ativar o diálogo entre a teologia cristã e
a sensibilidade ecológica, tais como: - Redefinir a noção de domínio
e reinterpretar a pretensa tarefa de administrar o mundo,
encomendada por Deus à humanidade em Gn 1”. Nesse contexto,
conforme Guridi (apud MURAD, 2019, p. 83), é tarefa da
ecoteologia:
109
a) “Buscar novas metáforas e conceitos para expressar a
causalidade divina (relação de Deus com a criação) e o vínculo
do ser humano com as outras criaturas”;
b) “Inspirar práticas ecológicas amigáveis”;
c) “Explicitar paradigmas bíblicos e outras tradições teológicas
que ofereçam uma compreensão da realidade distinta do
dualismo grego e da estratificação hierárquica dos seres”;
d) “Acentuar o valor intrínseco de todas as criaturas, que tem sua
origem em Deus”;
e) “Propor um conjunto de princípios éticos e critérios práticos
para o discernimento de pessoas e de comunidades, em vista de
novas formas de vida”.
110
COM A PALAVRA QUEM ENTENDE DO ASSUNTO
VOCÊ SABIA?
111
Diagramação ecoteológica.
Disponível em: https://image.slidesharecdn.com/oqueeecoteologiaversaodidatica
190708143902/95/o-que-e-ecoteologia-versao-didatica-2 638.jpg?cb=1562596836
2 MÉTODO E CONTRIBUÇÕES
112
Nesse sentido, a ecoteologia tem um duplo objetivo:
113
adquire um valor espiritual. Critica-se assim a visão moderna que
“desencantou” todos os seres”.
3. “Rejeita-se a perspectiva depredadora do mercado, que considera
as comunidades de vida (seres abióticos e bióticos) como meros
“recursos” a serem apropriados pelos “donos da Terra”, visando
produção, consumo e descarte”.
4. “Revaloriza-se a comunhão com o ecossistema e redescobre-se sua
dimensão sacramental”.
Em suma:
114
PARA REFLERIR
SUGESTÃO DE AUDIÊNCIA
115
SÍNTESE DA AULA
116
AULA 14: ELEMENTOS PARA UMA ECOTEOLOGIA
BÍBLICA
META
OBJETIVOS
117
Entretanto, de acordo com Murad (2019, p. 85), “a missão da ecologia
exige mais do que recuperar os elementos da Bíblia e da Tradição eclesial,
que foram esquecidos ou ignorados no correr do tempo”. Nesse sentido, a
terminologia ‘ecoteologia’ em sua proposta e conteúdo propõe um salto
hermenêutico. Basicamente:
118
de usinas nucleares. Há sintonia também com as eventuais causas dos
desajustes ambientais. No caso das catástrofes há, em geral, questões de
ordem natural, isto é, a natureza se manifesta, em sua dinâmica própria,
com fenômenos relacionados ao ecossistema Terra. Mas também há
questões de ordem antrópica, isto é, dimensões relativas à intervenção
humana no ambiente global.
Essa realidade sinaliza o que os autores chamam de uma consciência
ecológica planetária ou cósmica. Nas palavras de Reimer e Richter Reimer
(2010, p. 70):
119
nas ações do cotidiano. O hábito tem grande efeito pedagógico! O
velho dualismo corpo-alma, com a negativa da corporeidade, e esta
ainda associada ao feminino, precisa ser superado em prol de uma
visão holística, integral do ser humano em sintonia e convivência
com toda a criação (REIMER, 2011, p .20-21).
18Os humanos são seres de combustão. Alimentam-se de outras formas de vida para a
própria manutenção. As intervenções, contudo, podem ser diferentemente moduladas. A
“pegada humana” sobre o ambiente pode ser mais pesada ou mais leve. Depende do modo
como se pisa. Há formas mais predatórias de organizar a vida em sociedade e há formas
menos predatórias. No fundo depende do exercício de sabedoria. Pode começar com um
simples ato de reciclagem, podendo culminar em ações mais efetivas na mudança de
hábitos de consumo. Se o capitalismo, o agronegócio, etc. são o “satã do ambiente”, os
consumidores são clientes deste satã, acelerando a depredação (REIMER, 2011, p. 21).
120
expressa a dimensão de “trabalho árduo”, expressando, portanto, a
noção de necessária e penosa intervenção no ambiente. O “guardar”
(hebraico: shamar) é um exercício de responsabilidade e cuidado.
Trata-se de um mandato que exige por parte da pessoa a sabedoria
de perceber-se integrante do todo da criação com a tarefa de zelar
para que a natureza, e com isso também a humanidade, se mantenha,
para além do tempo presente, em suas próprias bases ecossistêmicas,
estendendo-se como dádiva continuada do criador em favor das
futuras gerações.
121
misericórdia”. Dessa forma, “natureza e humanidade estão
incluídas no plano redentor de Deus para toda a sua criação”.
(REIMER, 2011, p. 23-24)19.
19 Há muitas narrativas da prática e do ensino de Jesus Cristo que podem ser aqui
lembradas. A parábola do bom samaritano (Lc 10.25-37) se presta muito bem a essa
indicação, obviamente com uma interpretação expansiva. A história é conhecida: um
homem maltratado está deitado à beira do caminho. Duas pessoas passam e desviam do
caminho. Um terceiro passante, “vendo-o, compadeceu-se dele” (v. 33). A interpretação
extensiva, quase alegórica, consiste em substituir no texto o “homem ferido” por “natureza
maltratada”, ou, então, entender o homem ferido como extensão de “criação”. Esta criação
caída geme, em ores, em correntes de exploração humana, aguardando a redenção e a
manifestação plena dos filhos de Deus.” (REIMER, 2011, p. 23-24).
122
VOCÊ SABIA?
123
ambiental” (SILVA, 2010, p.138). Acerca desse ponto reflexivo
Silva (2010, p. 138-139) é enfático:
124
caminho de aproximação, de convergência ou, pelo menos, uma
sintonia, a mais afinada possível, com o objetivo de aferir a
mensagem ou o sentido ecológico dos referidos textos. A sintonia
também pode acontecer em termos de diálogo crítico com os textos
e suas propostas. (REIMER; RICHTER REIMER, 2010, p. 69-70).
125
quem passa, pássaros ou gente. Essa sabedoria faz parte do ensino
de Jesus e está relacionada à experiência que Ele teve com a terra.
Aponta também para a liberdade que deve brotar da terra, bem
como para a confiança que devemos ter em Deus. Observai os
corvos; eles não semeiam, nem ceifam, não têm despensa nem
celeiros; todavia Deus os sustenta [...] Observai os lírios do campo;
eles não fiam, nem tecem. Contudo, vos afirmo que nem Salomão,
em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. Ora, se Deus
veste assim a erva que hoje está no campo e amanhã é lançada no
forno, quanto mais se tratando de vós, gente de pequena fé! (Lc
12,24-28). Jesus fala da terra de tal maneira que nos ensina que ela
não existe para ser explorada nem ter seus frutos acumulados, como
nos mostra a parábola do latifundiário ganancioso e avarento (Lc
12,13-21). A ansiedade pelo acúmulo, em vez de gerar vida e
satisfação, gera morte e perdição; seu resultado é a exploração e a
falta de comida para a grande maioria do povo. Jesus, ao contrário,
aposta na gratuidade da vida para as aves do céu, os lírios do campo
e todas as criaturas, entre elas, as pessoas. Dentro desse contexto, a
missão e a participação nesse projeto de gratuidade é o compromisso
com o Reino de Deus e a sua Justiça. (REIMER; RICHTER
REIMER, 2010, p. 79-80).
Esse compromisso, por sua vez, preconiza que os seres humanos serão
saciados em suas necessidades e viverão em harmonia com o todo da
Criação de Deus (Lc 12,31) (REIMER; RICHTER REIMER, 2010, p. 80).
Nesse sentido, a sabedoria de Jesus transparecida nas suas parábolas
promove ensinamentos importantes. A saber:
126
Todos esses elementos, vistos extraídos a partir de um olhar crítico para
o texto e para os autores do texto, indicam o conteúdo da espiritualidade
ecológica inerente aos textos do Novo Testamento, e, por conseguinte do
corpus bíblico. Acerca disso Reimer e Richter Reimer (2010, p. 80)
pontuam que:
PARA PENSAR
127
Espiritualidade Ecológica.
Disponível em: http://fiosdegaia.com.br/wp-content/uploads/2017/06/educacao-
espiritualidade-2-1024x512.jpg
SÍNTESE DA AULA
128
UNIDADE VIII: CLÁSSICOS DA ECOTEOLOGIA
129
AULA 15: MATRIZES TEÓRICAS - TEILHARD DE
CHARDIN E JÜRGEN MOLTMANN
META
OBJETIVOS
1 TEILHARD DE CHARDIN
130
trevas; havia o Fogo [..] É a luz preexistente que, paciente e
infalivelmente, elimina nossas sombras. Nós, criaturas, somos, por
nós mesmos, a Sombra e o Vazio. E vós [..] Espírito ardente, Fogo
fundamental e pessoal. Aconteceu. O Fogo, mais uma vez, penetrou
a Terra. Não caiu ruidosamente sobre os cimos, como o raio em seu
esplendor. O Senhor forçaria as portas para entrar em sua própria
casa? Sem tremor, sem trovão, a chama iluminou tudo por dentro.
Desde o coração de menor átomo até a energia das leis mais
universais. Naturalmente invadiu, individualmente e em seu
conjunto, cada elemento, cada força, cada ligação do nosso Cosmo.
E este, espontaneamente, [...] se inflamou. Toda a matéria doravante
está encarnada, meu Deus, pela vossa Encarnação. (CHARDIN apud
MURAD, 2009, p. 288-289).
131
Teilhard de Chardin.
Imagem disponível em:
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Teilhard-de-Chardin-660x350-
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%20de%20Chardin&ved=2ahUKEwj97ef7lffnAhUFG7kGHb0WDjAQMygCegUIAR
DdAQ
2 JÜRGEN MOLTMANN
132
à teologia]20. Em sua obra Moltmann preconiza um modelo por ele
denominado de doutrina social da Trindade, na qual se aponta as relações
das pessoas divinas entre si, com a humanidade e com a criação de forma
geral21. (PORTO, 2018, p. 65).
É a partir de suas ponderações trinitárias que Moltmann expande suas
perspectivas em relação à totalidade da criação. Nesse aspecto, um
elemento teológico significativo retomado por Moltmann é o termo
περιχώρησις [perichôrêsis]. Essa palavra grega denota “rotação”,
“movimento de um para o outro”, “abranger”, “abraçar”. Historicamente,
Gregório de Nazianzo teria sido o primeiro a usar o termo teologicamente.
Contudo, nota-se que foi João Damasceno que o utilizou trinitariamente,
indicando uma interpenetração recíproca entre o Pai, o Filho e o Espírito
Santo. Sob essa perspectiva, pela περιχώρησις [perichôrêsis], pode-se
entender que Deus se relaciona com a criação, habitando-a22. (PORTO,
2018, p. 66)
De acordo com Murad (2009, p. 291-295), essa realidade pode ser vista
na obra ‘Dios en la creación: doctrina ecológica de la creación’ escrita por Moltmann
na qual o teólogo propõe oito diretrizes para uma doutrina ecológica da
criação: a saber:
133
(MOLTMANN apud MURAD, 2009, p. 292)23. Sob essa perspectiva, a
doutrina da criação com enfoque ecológico “abandona o pensamento
analítico, com suas distinções de sujeito e objeto, em favor de uma forma
de pensar nova, comunicativa e integradora. Resgata o antigo conceito da
razão como órgão perceptor e participativo.” (MURAD, 2009, p. 292) 24
3. O sábado da criação
Basicamente, “a criação se consuma no sábado e ele é a consumação
do mundo vindouro” (MURAD, 2009, p. 292). Nesse sentido, “o sábado é
23 Em suma, algumas ciências modernas propõem que “se compreende e entende muito
melhor os objetos e os estados de coisas quando se lhes vê em suas relações e coordenações
com seu meio ambiente e entorno respectivos, incluindo o observador humano. Uma
compreensão integral será menos precisa que o segmentador conhecimento de domínio,
mas terá maior riqueza de relações. (MOLTMANN apud MURAD, 2009, p. 292).
24 O que acontece então? Mudam os interesses que guiam o conhecimento. Já não se
conhece para dominar, mas para participar, para integrar-se nas relações recíprocas. O
pensamento integrador e totalizante pretende introduzir essa totalidade, essa comunhão
na aliança, tomar consciência dela e aprofundá-la. O método de uma doutrina ecológica da
criação inclui vários acessos à comunhão da criação: tradição, experiência, ciência,
sabedoria, dedução e intuição. Utiliza símbolos (e não somente conceitos), que configuram
o inconsciente e regulam a consciência. Por fim, incorpora a imaginação criativa e prenhe
de esperanças nos âmbitos do possível e do futuro. (MURAD, 2009, p. 291).
134
o que bendiz, santifica e revela ao mundo como criação de Deus.”
(MOLTMANN apud MURAD, 2009, p. 292)25
4. Preparação messiânica da criação para o Reino
Em síntese, “a encarnação supõe e consuma a criação”. Indo além do
princípio clássico sobre natureza e graça, Moltmann propõe que “a graça
não aperfeiçoa, mas prepara a natureza para a glória eterna. Graça não é
perfeição da natureza, mas preparação messiânica do mundo para o Reino
de Deus” (MOLTMANN apud MURAD, 2009, p. 292)26.
5. Criação no Espírito
Aqui, de acordo com Moltmann (apud MURAD, 2009, p. 293), se
estabelece a premissa de que “a criação é um acontecimento trinitário: o Pai
cria pelo Filho no Espírito. Consequentemente, a criação foi realizada por
Deus, conformada por meio de Deus e existe em Deus [...] O Espírito leva
o termo a atuação do Pai e do Filho”. Em suma, “tudo quanto é, existe e
vive sob o permanente afluxo das energias e possibilidades do Espírito
cósmico” (MOLTMANN apud MURAD, 2009, p. 293) 27. Nesse sentido,
25 Na tradição cristã, o Deus que repousa, que faz festa, que se regozija com sua criação
passou a segundo plano. Ora, no repouso do sábado o mundo é percebido como criação
de Deus. Cada sábado interrompe o tempo do trabalho, aponta para o ano sabático (no
qual se restabelecem as relações primigênias entre os humanos e com a natureza, segundo
a Aliança) que alude à esperança do tempo do messias. A partir da ressurreição, celebra-se
o primeiro dia da semana como o dia messiânico. (MOLTMANN apud MURAD, 2009, p.
292).
26 Isso porque a graça de Deus é visível na ressurreição de Cristo; e sua ressurreição é o
começo da nova criação do mundo. Ou seja, temos um esquema tríplice, regido pela glória.
Assim, a glória consuma a natureza e a graça e configura já aqui a relação entre ambas. O
fundamento intrínseco da criação não é a aliança histórica de Deus, mas o Reino de Deus
vindouro da glória, prometido e garantido mediante esta aliança. A condição cristã como
tal é somente um caminho messiânico para uma possível e futura consumação da condição
humana. Esta visão messiânica liberta os grandes binários teológicos (natureza e graça,
liberdade e necessidade, aliança e criação, condição cristã e condição humana) de sua pura
contraposição e o relativizam (MOLTMANN apud MURAD, 2009, p. 292).
27 O fundamento bíblico para a criação no Espírito é o Salmo 104, 29s: Escondes teu rosto
e se aniquilam, retiras teu sopro e expiram, e ao pó retornam. Envias teu sopro e são
criadas, e renovas a face da terra. Assim, “as criaturas são criadas com o afluxo permanente
do Espírito divino, existem no Espírito e são renovadas mediante ele”. Se o Espírito Santo
é derramado sobre toda criatura, então a fonte da vida está presente em tudo o que é e
vive. As criaturas manifestam a presença da divina fonte da vida. Ora, o Espírito cria a
comunhão de todas as criaturas com Deus e entre elas mesmas. Então, a existência, a vida
135
“compreende-se a realidade criada em chave energética e a consideramos
como possibilidade realizada do Espírito divino” (MURAD, 2009, p. 293).
e o tecido das relações recíprocas subsistem no Espírito: nele vivemos, nos movemos e
existimos (At 17,28). Aqui há uma mudança de perspectiva. Superando a teoria
mecanicista, vemos que as relações são tão primigênias como as coisas. Ora, tudo existe,
vive e se move em outros, com outros, para outros, nas conexões cósmicas do Espírito
divino. Da e na comunhão do Espírito divino nascem os modelos e simetrias, os
movimentos e os ritmos, os campos e os conglomerados materiais da energia cósmica. O
‘ser’ da criação no Espírito é, pois, a cooperação, e as conexões manifestam a presença do
Espírito na medida em que permitem conhecer a harmonia global. Não se trata de
panteísmo, pois o Espírito de Deus atua introduzindose no mundo sem confundir-se com
ele. Este mundo está aberto ao futuro do Reino da glória, que renovará, unirá e consumará
a terra e o céu. O Espírito que cria, também conserva, renova e leva à consumação.
(MOLTMANN apud MURAD, 2009, p. 293).
28 Na fé judaica, afirma-se a diferença entre Deus e o mundo. Javé não é mundano e o
mundo não é divino. Deus não se manifesta nas forças e ritmos da natureza, mas na história
e na aliança. Não se permite venerar as forças da fertilidade como forças divinas. Javé se
contrapõe a Baal. Deus está na transcendência. Mas, hoje, é necessário captar e ensinar a
imanência de Deus no mundo. “Deus não é somente o criador do mundo, mas também o
Espírito do universo”. A criação é obra das mãos de Deus, distinta d’Ele, mas também
presença diferenciada de Deus Espírito, presença do Uno nos muitos. Na rede relacional
de Deus com suas criaturas, há relações unilaterais, que dizem respeito somente a Deus:
criar, conservar, sustentar e consumar. E há outras que são recíprocas e configuram uma
cósmica comunhão de vida entre Deus e suas criaturas: inabitar, compadecer, participar,
acompanhar, suportar, deleitar e glorificar. (MURAD, 2009, p. 294).
136
pericorese (compenetração recíproca), afirma-se que “tudo o que vive, vive
em uma forma especificamente sua, nos outros, com os outros, dos outros
e para os outros”.
Jürgen Moltmann.
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137
SÍNTESE DA AULA
138
AULA 16: A ECOTEOLOGIA DE LEONARDO BOFF
META
OBJETIVOS
1 BIOGRAFIA
139
construção do diálogo entre religiosidade e meio ambiente. Para o
autor é necessário estabelecer uma consciência ecológica, de caráter
ético-teológico que seja perfeitamente capaz de entender que
teologicamente falando, o ser homem está no centro da criação, mais
não está sozinho. A humanidade só será humanidade de verdade, se
estiver profundamente comprometido em unidade com o planeta
terra.
Leonardo Boff.
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boff%2F4662&tbnid=mhaEXZqzVojTcM&vet=12ahUKEwjW3ZWQl_fnAhW9K7kG
Hem6CmYQMygBegUIARDnAQ..i&docid=aXCuQbmShy74jM&w=389&h=439&q=l
eonardo%20boff&ved=2ahUKEwjW3ZWQl_fnAhW9K7kGHem6CmYQMygBegUIA
RDnAQ
140
2 SÍNTESE ECOTEOLÓGICA BOFFIANA
29Se tudo é relação e nada existe fora da relação, então a lei mais universal é a sinergia, a
colaboração, a solidariedade, a comunhão e a irmandade universais” [...], pois a lei de
Darwin da seleção natural por meio da sobrevivência do mais forte deve ser completada
por uma visão mais ampla [..] Caso contrário, os dinossauros reinariam até hoje. (BOFF
apud PORTO, 2018, p. 68-69).
141
3. Por fim, “a Terra passa a ser entendida como Gaia, um
superorganismo vivo que “possui um equilíbrio bem sutil entre seus
elementos físico-químicos” (BOFF apud PORTO, 2018, p. 68).
Entretanto, se estabelece o alerta de que a Terra está doente. “Ela
pode eliminar a vida humana – se esta não converter suas ações
destrutivas em cuidado por toda a vida e os ecossistemas que a
garantem - para continuar em curso” (BOFF apud PORTO, 2018,
p. 68-69).
142
mental e profunda ou integral. Na obra em que reúne os elementos
centrais de seu pensamento, por ocasião dos 80 anos de vida,
Leonardo se refere aos “caminhos da ecologia integral”: a ecologia
ambiental, que reporta à qualidade de vida, a ecologia político-social,
que diz respeito à sustentabilidade, a ecologia mental (novas mentes
e corações), e a ecologia integral-espiritual, pois somos parte do
universo.
143
VOCÊ SABIA?
Hipótese de Gaia
SUGESTÃO DE AUDIÊNCIA
144
SÍNTESE DA AULA
145
REFERÊNCIAS
DINIZ, Débora. Bioética e gênero. Revista Bioétic, a 2008 16 (2): 207, 16.
146
LEFORT, Claude. Pensando o político. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991,
p.249-295.
147
PORTO, Roberto Carlos Conceição. Ecoteologia: uma questão de teologia
pública. Revista Caminhando v. 23, n. 2, p. 59-79, jul./dez. 2018. PORTO,
2018,
SILVA, Elias Gomes da. Religiosidade e meio ambiente: das críticas dos
ambientalistas à construção de uma ecoteologia. Revista Eletrônica Espaço
Teológico. vol. 4, n.6, jun/dez, 2010, pp. 132-140.
148
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
149
SCHAEFFER, Francis A. Poluição e morte do homem. São Paulo: Cultura
Cristã, 2003.
150
MINICURRÍCULO DO AUTOR
151
152