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Figura 1 - Planisfério de Cantino (1502)
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O sistema das capitanias donatárias consistia na concessão
da ampla jurisdição dos novos territórios que estavam inseridos na
órbita do domínio da Coroa portuguesa, e tinham seu regime jurídico
disposto nas cartas de doação e nas cartas de foral, instrumentos
do sistema político-administrativo aplicado no reino (MERÊA,
1924, p. 171-72). No contexto da expansão ultramarina, a adoção
do referido regime atendia às diferentes necessidades da Coroa no
que diz respeito aos problemas imediatos de defesa, colonização
dos territórios e exploração dos recursos por meio de investimentos
privados dos capitães donatários.
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de Barros, nomeado provedor mor da Fazenda do Brasil em 1549;
Fernão Álvares de Andrade, tesoureiro-mor do reino; e, por fim,
João de Barros, feitor da Casa da Índia (AZEVEDO, 1924; GALLO,
1999). Estes nomes estão no quadro abaixo seguidos das informações
de cada doação:
Vasco Fernandes
Espírito Santo 01/06/1534 07/10/1534 50
Coutinho
Jorge de Figueiredo
Ilhéus 26/06/1534 01/04/1535 50
Correia
Martim Afonso de
São Vicente 20/01/1535 06/10/1534 100
Sousa
Itamaracá
Pero Lopes de
Santana 21/01/1535 06/10/1534 50 + 30
Sousa
Santo Amaro
1º lote no Rio
João de Barros Grande 08/03/1535 11/03/1535 50 + 25
1º lote no Maranhão
2º lote no Rio
Grande
Aires da Cunha s/d 11/03/1535 50 +25
2º lote no
Maranhão
Fernão Álvares de
Maranhão s/d s/d 75
Andrade
Antônio Cardoso de
Ceará 19/11/1535 20/11/1535 40
Barros
Pero de Góis São Tomé 28/01/1536 29/02/1536 30
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ou Décadas da Ásia. Os primeiros volumes das Décadas foram
publicados por volta de 1550 e apresentam diversos relatos sobre os
episódios das conquistas portuguesas na Ásia. Os registros de Barros
indicavam a escrita de uma história praticamente oficial de um alto
funcionário da Coroa sobre a atuação dos agentes portugueses que se
deslocaram para assumir importantes missões no Oriente. Homem
da corte, burocrata e homem das letras de reconhecida erudição,
comprovada por sua intensa atividade literária: novelas de cavalaria,
manuais pedagógicos, panegíricos, diálogos moralizantes, além
de ter escrito a primeira gramática da língua portuguesa em 1540
(BUESCU, 1996).
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de corregedor da comarca de Entre-Tejo-e-Odiana (Alentejo). Já no
fim da carreira, o pai de João de Barros desempenhou a função de
juiz de fora em Évora, nomeado em 1499 (FARIA, 1777). Lopo de
Barros entregou seu filho aos cuidados do mordomo mor da Casa
Real, D. João de Menezes, como parte de uma estratégia diante
da dinâmica social e burocrática de inserção nos quadros da Casa
Real. Escolha esta que surtiu efeito, pois João de Barros cresceu
na corte graças à condição de morador da Casa Real, teve acesso a
uma ampla e sólida formação erudita por meio das aulas dos mestres
contratados pelo rei para ensinar na escola do Paço. Tal formação
incluía o aprendizado da língua latina e grega, matemática, letras,
lógica, retórica, humanidades, entre outros saberes (FARIA, 1777).
Charles Boxer sugere que os vários anos em que Barros viveu na
Corte lhe possibilitaram melhores vantagens intelectuais comparadas
a uma formação de cunho exclusivamente universitária em Portugal,
pois, neste período, o nível da universidade portuguesa estava aquém
das demais universidades da Europa (2002).
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João de Barros desempenhou todas as funções descritas acima no
tempo em que esteve à frente do posto de feitor da Casa da Índia por
mais de três décadas, cargo que ocupou de 1533 a 1567.
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anos. Devido ao grau de importância deste cargo para as atividades de
fiscalização, compra e venda de carregamentos, Barros não poderia
sair de Lisboa rumo ao Brasil para tentar pessoalmente tomar posse
das capitanias. Após as duas tentativas, não há notícia de uma terceira
expedição financiada por Barros, fato que contribuiu para a ideia de
que o capitão donatário teria abandonado suas capitanias e com isso
a “terra dos potiguaras” consta no rol das capitanias primárias cuja
“colonização se malogrou” como afirmou Varnhagen, sobre esses casos
(1975), e que se perpetuou na historiografia, principalmente baseado
na ideia do abandono da capitania por parte do capitão donatário.
Esta concepção está presente em obras consideradas clássicas para a
historiografia potiguar (POMBO, 1922; LYRA, 2008), mas também
encontrou um contra ponto em outra obra graças ao contato com
os documentos publicados por António Baião (CASCUDO, 1955),
observação que não encontrou eco em outros estudos.
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claro que o donatário manteve procuradores no Brasil que arrecadavam
os pagamentos das licenças para exploração do porto e cuidavam dos
seus interesses como donatário, “[...] Seus procuradores nesta terra
arrecadavam as ditas licenças em dinheiro, escravos e em búzios que
por isso se dava que também os ditos procuradores davam as ditas
licenças para o dito porto” (BAIÃO, 1917, p. 340). Tal informação
agrega um novo elemento para a análise da constituição territorial da
capitania que, como visto no quadro historiográfico, quase sempre
foi retratada como completamente abandonada pelo donatário.
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como homem influente na Corte e detentor de um dos cargos mais
importantes da administração ultramarina.
Considerações finais
Referências bibliográficas
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do Renascimento. Revista Oceanos, nº 27. Lisboa: Comissão
Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses
para assinalar o V centenário do seu nascimento. Julho/Setembro de
1996.
39
SANTOS, Maria Emília Madeira. Os africanos e o mar:
conhecimento e prática à época da chegada dos portugueses. África:
Revista do Centro de Estudos Africanos. USP, 20- 21,1997/1998, p.
79-92.
SERRÃO, José Vicente. População e rede urbana nos séculos XVI-
XVIII. In: César Oliveira (dir.) História dos municípios e do poder
local (dos finais da Idade Média à União Europeia). Lisboa: Círculo
dos Leitores, 1996.
VARNHAGEN, Francisco Adolfo de. História Geral do Brasil –
Antes da sua separação e independência de Portugal; revisão e notas
de J. Capistrano de Abreu, Rodolfo Garcia. Tomo Primeiro. - 9ª ed.
São Paulo: Edições Melhoramentos, 1975.