Você está na página 1de 18

Lucas Cardoso Lima

lucaaslima.llc@gmail.com
077.647.573-81
Lucas Cardoso Lima
lucaaslima.llc@gmail.com
077.647.573-81

1
APOSTILA DE HISTÓRIA DO CEARÁ

CONSIDERAÇÕES E OBSERVAÇÕES

Meu aluno (a), essa apostila foi elaborada com base em


compilados de fontes confiáveis, livros e artigos, além
de órgãos oficiais por parte de Governo, com isso,
muitas dessas informações estão dispostas na internet,
haja vista ser o meio mais democrático de busca de
informações. Com isso, não se espante ao copiar
alguma informação da apostila e ver o texto na internet.
Meu papel como professor é buscar o mais relevante
para você e saber achar tais informações.
Mesma observação serve para as temáticas de
Geografia e História de Fortaleza.
Bons estudos!!!!

Att. Prof. Caio Victor


@caio_victorp

Lucas Cardoso Lima


lucaaslima.llc@gmail.com
077.647.573-81

2
1. O PERÍODO COLONIAL: A OCUPAÇÃO DO
TERRITÓRIO: DISPUTAS ENTRE NATIVOS E
PORTUGUESES; ACESSO À TERRA:
SESMARIAS E A ECONOMIA PECUÁRIA
Formação do território Brasileiro

Tratado de Tordesilhas
Esse tratado foi assinado em 1494, antes mesmo de
Portugal e Espanha desbravem o “novo mundo”, eles já
delimitaram a configuração das Américas.
Tal tratado estabeleceu que Tordesilhas, determinando
que as terras localizadas 370 léguas a Oeste de Cabo
Verde pertenceriam à Espanha e ao leste, a Portugal.
Portugal, ao chegar nas terras “brasileira”, ocuparam
boa parte do litoral nordestino.
A descoberta do Brasil ocorreu no ano de 1500. Todavia,
as novas terras ficaram praticamente abandonadas, até
1530, quando Portugal decidiu colonizar o Brasil.
Martim Afonso comandou a primeira expedição
colonizadora, que partiu de Portugal em dezembro de
1531. Bandeirantismo
A primeira vila que tivemos aqui no Brasil seLucas
chamou Cardoso
de O bandeirantismo
Lima ficou conhecido como marcha para o
Vila de São Vicente, em 1532. A partir desse período, Oeste, que avançou território adentro visando a
lucaaslima.llc@gmail.com
tivemos as primeiras Sesmarias, que eram terras doadas expansão do território e busca de metais preciosos.
077.647.573-81
por Portugal para tomarem posse e produzir atividades É perceptível que tal ação não respeitou o tratado de
de agricultura e pecuária naquele espaço. Tordesilhas, fazendo com que, em 1750, Portugal e
Espanha assinassem um novo acordo chamado de
Capitanias hereditárias Tratado de Madrid, cujo principal objetivo seria
É importante nós falarmos desse tópico, pois as conservação das terras ocupadas até então.
capitanias hereditárias, formadas em 1534, constituíram
a primeira organização política administrativa do Brasil.
Ao todo, o território brasileiro foi divido em 15
capitanias, cujos donos chamavam-se de capitães
donatários, o qual tinham a função de desenvolver
aquela terra, cuidar militarmente e organizá-la.
O sistema de capitanias hereditárias se assemelha com
o que temos hoje, pois o território brasileiro foi
descentralizado, só que tal sistema era difícil de manter,
por óptica dos capitães donatários, fazendo com que a
coroa de Portugal, em 1539, instituísse o Governo-geral
na cidade de Salvador-BA.
O primeiro capitão donatário que distribuiu sesmarias
foi Martin Afonso de Souza. Com essa prática, as
capitanias hereditárias eram também divididas em
partes menores, que eram as sesmarias.
Províncias
Como você sabemos, se não sabe aprende agora, o
Brasil se tornou independente em 1822, fazendo com
que a antiga organização territorial do Brasil que era

3
dividido em capitanias hereditárias, passa-se agora a ser Motivos de Portugal para a colonização
dividida em províncias. A terra recém-descoberta despertava o interesse não
Quando o Brasil nasceu como pais independente, apenas de Portugal, mas também de outras nações. Os
mudou-se a configuração de capitanias para 18 lusitanos enfrentavam ameaças de navios estrangeiros
províncias: Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, que cercavam o litoral brasileiro. Como exemplo, os
Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Paraíba, franceses que haviam fortalecido relações com os
Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, indígenas. Além disso, alguns países não reconheciam o
Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe. Tratado de Tordesilhas.
Resumo Não apenas a ameaça estrangeira de instalar-se no
Brasil, mas também a busca por metais preciosos
Brasil Colônia: Momento histórico que durou de 1530 a contribuíram para a escolha de Portugal em colonizar o
1822 país. A Espanha havia descoberto ouro na América. Com
O Brasil Colônia é o período que compreende os anos de isso, os portugueses criaram a expectativa de encontrar
1530 a 1822. Esse fato histórico foi iniciado com a o brilhante de cor amarela também em solo brasileiro.
primeira expedição realizada por Martim Afonso de
Souza, no litoral brasileiro. A Economia da Época
Para estabelecer a política econômica no Brasil, Portugal
Brasil pré-colonial adotou algumas medidas, como a produção de cana-de-
No período pré-colonial a economia baseava-se na açúcar. Essa escolha foi em razão das experiências bem-
exploração do pau-brasil. Essa atividade consistia na sucedidas de Portugal em outras colônias como São
extração de tinta da madeira para a pintura de tecidos. Tomé, Ilhas de Madeira, Açores e Cabo Verde.
Portanto, essa era a atividade econômica da época. Para O comércio na colônia respeitava a medida do pacto
cortar a madeira, os portugueses davam aos índios colonial que era o direito de exclusividade de
objetos como: quinquilharias, metais, espelhos, colares,
Lucas Cardoso comercialização
Lima entre colônia e metrópole. Os
entre outros. Na história chama-se essa troca portugueses utilizaram, a princípio, como mão de obra
de escambo. lucaaslima.llc@gmail.com
escrava os índios. Estes, no entanto, resistiram e, além
077.647.573-81
disso, a prática era condenada pelos jesuítas. A partir de
Brasil Colônia então, donos de comércios escravizaram negros que
De acordo com a história do Brasil, o marco inicial do vieram da África nos navios-negreiros. Os jesuítas
Brasil Colônia foi o momento em que D. João III reagiram contra a prática de escravidão dos índios.
encaminhou Martim Afonso de Souza, em 1530, para Porém concordavam com a escravidão dos negros.
realizar uma expedição colonizadora no litoral brasileiro.
A finalidade foi estabelecer vilas e dividir lotes de terras Invasão Holandesa
para os donatários (pessoa que administrava terras que A invasão holandesa foi um dos fatos que ameaçou o
recebiam) explorarem metais preciosos e cultivassem domínio português sobre o Brasil. Em 1580 ocorreu a
a cana-de-açúcar. União Ibérica que foi a unificação entre as coroas de
O trabalho de expedição de Martim Afonso de Souza Portugal e Espanha. A Holanda era parceira dos
estendeu-se do litoral de Pernambuco até o rio da Prata. portugueses, porém inimiga dos espanhóis.
Ele fundou no litoral paulista a primeira vila do Brasil, em Os holandeses haviam investido na produção de cana-
1532, denominada de Vila de São Vicente. de-açúcar no Brasil. No entanto, eles foram afastados
A partir de então, Portugal adotou uma medida para dos negócios. Com isso, em 1624 tentaram invadir a
estabelecer o processo de colonização do Brasil: as colônia, no estado da Bahia, permanecendo até 1625.
Capitanias Hereditárias. Essa estratégia consistiu na Outra tentativa de invasão foi em Pernambuco em 1630.
divisão do país em 15 capitanias hereditárias, que eram A presença dos holandeses no Brasil foi firmada a partir
faixas de terras que abrangia o litoral brasileiro até o da chegada de Maurício de Nassau, em 1637 onde ficou
limite estabelecido pelo Tratado de Tordesilhas. Esse até 1644.
era um documento que atestava o acordo entre
Portugal e Espanha sobre os limites das terras História do Ceará
descoberta por ambos. A delimitação do atual território ocupado pelo estado do
Ceará começou com a doação da Capitania Siará em
1535 para Antônio Cardoso de Barros.

4
Primeira tentativa de colonização do Ceará em 1603 – Os flamengos retornam em 1649, sob o mando do
Pero coelho de Sousa capitão Matias Beck, em busca de minas de prata.
A fundação, contudo, ocorreu em 1603, por Pêro Coelho Erguem no monte Marajaitiba, nas margens do riacho
de Souza, que chamou a colônia de Nova Luzitânia. Pajeú, o forte de Schoonemborch, em torno do qual,
A missão dos bandeiristas era explorar o rio Jaguaribe, depois, iria espontaneamente surgir a atual cidade de
combater piratas, "fazer a paz" com os indígenas e Fortaleza.
tentar encontrar metais preciosos. Partindo da Paraíba, Os holandeses ficam no Ceará até 1654, quando retiram-
à frente de 200 índios "mansos" (já submissos ao se em virtude de sua derrota em Pernambuco e expulsão
conquistador) e de 65 soldados (entre os quais o jovem do Brasil. Sob a liderança do capitão-mor Álvaro de
Martim Soares Moreno), Pero Coelho atingiu pelo litoral Azevedo, os portugueses retomam a colonização e
a serra de Ibiapaba, onde travou combate com os índios mudam o nome do forte para Fortaleza de Nossa
Tabajaras e alguns franceses, então aliados. Derrotando Senhora da Assunção. Bom atentar que por esse período
os adversários, Pero Coelho tentou seguir para o o “Siará” esteve submisso a outras entidades
Maranhão, mas só atingiu o rio Parnaíba (Piauí) pois seus administrativas. Entre 1621 e 1656, foi gerenciado pelo
homens, cansados, maltrapilhos e famintos recusaram- Maranhão. De 1656 a 1799, esteve submetido a
se a prosseguir viagem. Pernambuco. Isso atrapalhou o crescimento material da
O capitão-mor fundou o Forte de São Tiago, às margens capitania.
do Rio Ceará e o povoado de Nova Lusitânia
Pecuária
Martim Soares Moreno - o Fundador do Ceará - 1611 A atividade da Pecuária, de início, era uma atividade
Entre os integrantes do grupo de colonizadores , na secundária. Ajudava na produção da cana de açúcar.
expedição de Pero Coelho, estava Martim Soares É importante frisar que: A pecuária, no Ceará, ajudou no
Moreno, com 17 anos na época. É atribuída a ele a processo de interiorização do nosso território. Os
fundação da região. Habilidoso, o rapaz negociava com
Lucas Cardosocaminhos
Lima que eram traçados pelos viajantes, lembrando
indígenas, de quem conhecia os costumes e a língua. que eram viagens por meio das margens dos rios,
lucaaslima.llc@gmail.com
Em 1611, com a ajuda de índios da região, chefiados por principalmente o rio Jaguaribe, ajudavam a criar
Jacaúna, Moreno fundou às margens do rio 077.647.573-81
Ceará o algumas vilas, que posteriormente viraram cidades no
Forte de S. Sebastião. No ano seguinte, apesar de suas estado do Ceará.
pretensões colonizadoras, foi convocado para combater
os franceses que haviam fundado a França Equinocial no Fatores que levaram o gado migrar para o interior
Maranhão - Aumento populacional no litoral
“A falta de recursos e da atenção da Coroa fizeram com - Aumento do número do gado nas atividades litorâneas
que Moreno se retirasse do Ceará em 1631, dirigindo - A Carta régia (1701), o qual proibiu a criação de gado a
para Pernambuco, onde foi combater os holandeses que 10 léguas do litoral.
então invadiam a América portuguesa. Anos depois, - Falta de terras no litoral para todos
regressou a Portugal, não vindo mais ao Ceará. Na visão - Necessidade do litoral para a cana – de – açúcar.
tradicional, tem-se Moreno como “fundador” do Ceará
– tanto que é homenageado pelo escritor José de Figuras da pecuária
Alencar no livro Iracema, obra de 1865. ” FARIAS - Vaqueiro: Homem livre; pago pelo sistema de
Martins Soares Moreno Fundou o Forte São Sebastião quarteação;

Invasão Holandesa no Ceará Leitura necessária


No ano de 1630, os holandeses invadem Pernambuco na O Ceará nasceu da exclusão da atividade pecuária nas
pretensão de dominar a região açucareira e de áreas litorâneas, especialmente em Pernambuco e
encontrar outras riquezas. Assim, em 1637, tropas Bahia, produtores de açúcar
flamengas conquistam o forte cearense de São Pernambuco direcionou a colonização a partir do norte
Sebastião. do estado- “ Sertão de fora”
De início, contaram os holandeses com o apoio dos Bahia direcionou a partir do sul. – “ Sertão de dentro”
índios. Depois, contudo, a “aliança” se desfez, pois o Assim, durante séculos o Ceará foi uma "civilização do
holandês não se diferenciava do português no mau trato couro", dedicada, sobretudo, à venda de gado e de sua
do índio. Revoltados, em 1644, os nativos atacaram e carne para outras províncias.
destruíram o fortim, trucidando os holandeses.

5
“A penetração e conquista dos sertões aconteceram por como centros charqueadores: Aracati (na foz do rio
duas rotas: sertão-de fora, dominada por Jaguaribe), Acaraú, Sobral (rio Acaraú), Granja e
pernambucanos, vindos pelo litoral, e sertão-de-dentro, Camocim (rio Coreaú).
dominada por baianos. Tais rotas se confluíram no Em tais oficinas, além de trabalhadores livres não
Ceará, com os colonos ocupando o litoral inicialmente e absorvidos pela pecuária, empregou-se mão-de-obra
daí as ribeiras dos rios Jaguaribe e Acaraú. escrava, índia e negra, embora em escala menor.
Os rebanhos bovinos cearenses eram conduzidos pelos O charque traz mudanças socioeconômicas para o
tangerinos para a venda em Pernambuco, Bahia e, Ceará. Verificou-se uma divisão de trabalho na capitania
posteriormente, nas Minas Gerais. Percorriam rudes (áreas para criar gado e áreas para charquear), uma
veredas, chamadas de “estradas sertanejas”. Nos maior integração política, cultural e comercial entre
cruzamentos de muitas destas, surgiram cidades, como sertão e litoral, um crescimento do pequeníssimo
Icó, Quixeramobim e Sobral. mercado interno local, o enriquecimento de um grupo
Em pouco tempo, os sertões cearenses estavam de latifundiários e comerciantes, o crescimento de
conquistados pelos invasores. Para a expansão pastoril, centros urbanos, como Aracati (o principal núcleo
contribuíram: a demanda dos mercados consumidores charqueador e mais importante cidade do Ceará até
do litoral açucareiro e da região mineradora, a facilidade pelo menos a metade do séc. XIX) e uma diversificação
na obtenção de sesmarias e de novas terras, o de produção (comercialização e até exportação de
crescimento vegetativo (mas não qualitativo) dos couro).
rebanhos, as pastagens abundantes (na época das A ocupação do sertão cearense se deu com o gado
chuvas), as vastas áreas sertanejas, o caráter salino do trazido das capitanias vizinhas, principalmente
solo, a exigência de pouco capital e mão-de-obra na Pernambuco e Rio Grande do Norte. Esta colonização ou
montagem da fazenda e o próprio fato do gado se auto- ocupação teve seu início nos vales do rio Jaguaribe e
transportar. Acaraú, sendo estes os pontos essenciais para o
Mas a venda de gado para outras capitaniasLucasnão era tão processo
Cardoso Limade ocupação. Com o crescimento das fazendas
lucrativa assim – o gado emagrecia, perdia-se, morria a produção bovina tomava seu apogeu. Mas dada à
por ataque de feras, era assaltado. Havialucaaslima.llc@gmail.com
ainda o peso escassa população de baixo poder aquisitivo, a produção
dos impostos. Assim, os criadores do gado do 077.647.573-81
litoral de carne excedia a necessidade do mercado local. Assim
passaram, no século XVIII, a vender seus rebanhos na sendo, não era justificável para a acanhada economia do
forma de charque (carne seca salgada ao sol), produzido Ceará que centenas de reses fossem mortas apenas para
nas oficinas ou charqueadas. O charque, além de seu o aproveitamento do couro, produto de destaque da
papel dentro da própria colônia, apresentou destaque colônia. Além do mais, havia necessidade de carne,
também no tráfico de escravos entre o Brasil e os tanto nos engenhos da zona da mata como nas demais
centros comerciais de negros em África, especialmente concentrações populacionais.
Angola”. – FARIAS O problema, de início, foi solucionado com a
comercialização do gado em pé nas feiras
Charqueadas pernambucanas, de Olinda, Igaraçu e Goiana, assim
como na região do Recôncavo Baiano. Deve ser
Charque salientado que, mesmo para Pernambuco, o negócio
não era compensador, uma vez que o gado emagrecia
Fatores que contribuíram para a Charque: diante de tantos dias de longas caminhadas,
-Os ventos constantes e a baixa umidade relativa do ar, debilitando-se a ponto de não ter condições físicas para
-A abundância de sal, o abate. A impossibilidade de concorrer comercialmente
-As barras dos rios acessíveis à navegação de cabotagem com o rebanho oriundo dos sertões da Capitania e de
da época, suas vizinhas faz com que os fazendeiros das áreas
- O grande rebanho cearense e o próprio fato da técnica litorâneas, já a partir da primeira metade do século XVII,
salineira não exigir muitos conhecimentos e nem muito passem a exportar seu gado abatido transformado em
investimento. carne seca salgada e sem couro. Surgiram, assim, no
Ceará, as fábricas de beneficiar carne, as chamadas
As oficinas situavam-se na porção litorânea, próximas Oficinas, Charqueadas ou Feitorias, instaladas nos
aos rios, de onde se levava a carne seca em sumacas a estuários dos rios Jaguaribe, Acaraú e Coreaú,
Recife, Salvador e até o Rio de Janeiro – ali seria estendendo-se depois ao Parnaíba, Piauí e ao Açu, no
alimento para pobres e escravos. Assim, destacaram-se Rio Grande do Norte. As condições geofísicas do litoral

6
pastoril do Ceará favoreceram o surgimento daquela Período Imperial
indústria, Brasil Império é o nome dado ao período que se
“ que além de matéria-prima abundante, possuía outros estendeu de 1822 a 1889. A independência do Brasil
fatores locais asseguradores de êxito: ventos constantes marcou o início do período imperial, que foi encerrado
e baixa umidade relativa do ar, favoráveis à secagem e com a Proclamação da República. O período imperial é
duração do produto, existência de sal, cuja importância dividido em três fases: Primeiro Reinado, Período
se não precisa destacar, barras acessíveis à cabotagem Regencial e Segundo Reinado.
da época.” (GIRÃO, 1984)
As povoações de Aracati, Granja, Camocim e Acaraú, Revolução Pernambucana e o Ceará
possuíam as condições exigidas. Ali em toscas oficinas A Revolução Pernambucana, ocorrida em 1817, foi o
passou a ser fabricado um tipo de carne seca, prensada, último movimento separatista do período colonial.
moderadamente salgada e desidratada ao sol e ao Está relacionada com a crise socioeconômica que o
vento, por tempo necessário à sua conservação. As Nordeste atravessava há quase um século em razão da
oficinas instaladas nas embocaduras dos rios permitindo desvalorização do comércio do açúcar e do algodão
um embarque direto do produto das fábricas aos brasileiro no mercado externo. Além disso, a presença
mercados, favoreceram o desenvolvimento das da família real portuguesa no Brasil aumentou o custo
feitorias, que segundo informações extraídas da de vida em virtude da cobrança de impostos, o que
Segunda Audiência da câmara da Vila Aracati, data de 19 causou revolta entre os pernambucanos.
de fevereiro de 1781, as tais oficinas Os ideais republicanos também colaboraram para que a
A documentação existente não indica o nome do revolta acontecesse. O governo local foi tomado pelos
idealizador da técnica, ou seja, um anônimo teve a idéia revoltosos, mas as tropas fiéis ao governo central
genial de industrializar carne desses rebanhos costeiros. conseguiram derrotá-los.
Também não é conhecido o ano de instalação das A participação cearense na “revolução” foi pequena – a
primeiras salgadeiras na Capitania do SiaráLucas
Grande. Cardoso
Os crise Lima
do algodão não atingira intensamente ainda a
documentos são claros quanto ao fabrico dos charques capitania. A elite praticamente não aderiu e as massas
lucaaslima.llc@gmail.com
e a comercialização da carne-seca da região jaguaribana não se mobilizaram. Além disso, o governador do Ceará,
para outros centros, já na segunda década do077.647.573-81
século Inácio de Sampaio, estava pronto para reprimir qualquer
XVIII e surgiram primeiramente no pequeno arraial de movimento contra os interesses da coroa portuguesa.
São José do Porto dos Barros, depois elevada à categoria Somente a família Alencar, na região do Cariri, aderiu ao
de vila com nome de Santa Cruz do Aracati, hoje cidade movimento.
do Aracati. Os Alencar, sob a chefia de Dona Bárbara de Alencar,
apoiaram a revolta, obtendo, de início, a neutralidade
Decadência da Pecuária do capitão do Crato, José Pereira Filgueiras.
-Constantes secas José Martiniano de Alencar (jovem seminarista enviado
- Crescimento da cotonicultura por Pernambuco para “revolucionar” o Ceará), no dia 3
- Competitividade com a pecuária gaúcha. de abril de 1817, em frente à igreja do Crato, proclamou
a República. Dali, marchou para o prédio da Câmara
Referências Municipal, onde, apoiado por alguns “cabras”, depôs às
GIRÃO, Valdelice Carneiro. Oficinas ou Charqueadas no autoridades monárquicas, soltou os presos e içou uma
Ceará, Fortaleza: Secretaria de Cultura e Desporto. 1984 bandeira branca. – FARIAS
MENEZES, Djaci. O Outro Nordeste. Rio de Janeiro: José
Olympio. 1937 SOUSA, Simone de ( Org. ) Uma Nova Confederação do Equador
História do Ceará. Fortaleza: Demócrito Rocha, 2000. A confederação do Equador foi um movimento
republicano, separatista, inspirado nos ideais da
2. O PERÍODO IMPERIAL: O CEARÁ NA revolução francesa.
Em 1817, os cearenses, liderados pela família Alencar,
CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR; apoiaram a Revolução Pernambucana. O movimento,
IMPORTÂNCIA DA ECONOMIA DO que se restringiu ao município do Cariri, especialmente
ALGODÃO; A ESCRAVIDÃO NEGRA NO na cidade do Crato, foi rapidamente sufocado.
CEARÁ. Em 1824, após a independência, foi a vez dos cearenses
das cidades do Crato, Icó e Quixeramobim
demonstrarem sua insatisfação com o governo imperial.

7
Assim eles se aderiram aos revoltosos pernambucanos Foi nesse período que Fortaleza desbancou Aracati do
na Confederação do Equador. posto de cidade principal do Ceará: o algodão substituía
Os fatores que levaram à Confederação do Equador o charque em importância econômica.
foram: Um país recém independente de Portugal; Fatores que favoreceram a cotonicultura no Ceará: o
Ortouga de uma constituição centralizadora, a qual dava clima quente e a regularidade das chuvas (no sentido de
poderes ao imperador; Crise do ciclo da cana-de-açúcar que há uma época certa para o inverno e outra para o
e do algodão. verão), a fertilidade dos solos (praticamente virgens), o
Tais situações geraram no nordeste brasileiro um curto ciclo vegetativo do algodão, a não exigência de
sentimento de insatisfação, desejo de sair da monarquia muitos investimentos na lavoura (facilidade de cultivo,
para republica e uma ânsia de montar uma federação colheita, beneficiamento, etc.). Com isso, não só
autônoma. latifundiários dedicaram-se à atividade, mas também
A confederação do Equador foi um movimento político pequenos proprietários, agregados, moradores e
contra o governo imperial de Dom Pedro I, atrelados a arrendatários. – FARIAS
um sentimento de sair da monarquia e montar uma
república. O movimento nasceu em Pernambuco e Linha Do Tempo Do Algodão
incentivou o Ceará, pois o Ceará era bastante -1820: Crise do algodão (competitividade com o algodão
influenciado por Pernambuco, uma vez que Ceará se Norte Americano, isso levou aos conflitos da Revolução
desmembrou de Pernambuco em 1799. Pernambucana e Confederação do Equador).
Padre Mororó foi um dos principais personagens da -1840: Experimentamos uma leve recuperação
confederação do Equador aqui no Ceará. Em -1860: Auge da produção da cotonicultura, em virtude
Quixeramobim, mobilizou a cidade para resistir à da guerra da secessão
constituição centralizadora. -1880-90: Queda das exportações (volta do algodão
norte americano e queda dos preços do algodão)
Governo do Ceará a época da Confederação do
Lucas Cardoso Lima
Equador Consequências da economia do algodão
-Presidente da Província do Ceará: Costalucaaslima.llc@gmail.com
Barros - Acumulo de capital (nascimento de uma burguesia em
-Autoproclamado presidente republicano que se077.647.573-81
opôs a Fortaleza, isso levou à Belle Époque)
Costa barros: Pedro Figueiras e Tristão Alencar - Investimento em Ferrovias no Ceará
- Ascensão de Fortaleza como cidade mais importante
Motivos para Ceará ter entrado no conflito no Ceará.
- Crise do algodão
- Constituição outorgada A ESCRAVIDÃO NEGRA NO CEARÁ
- Laços parentescos com Pernambuco (Vale lembrar da O Ceará foi a primeira província brasileira a libertar seus
família Alencar e o desmembramento do Ceará de escravos, durante o século XIX.
Pernambuco, em 1799)
Fatores que levaram ao pioneirismo Cearense em
A Derrota libertar os escravos
- Na tentativa de ajudar outros estados, Pedro Filgueiras - O binômio econômico cearense (Pecuária e Algodão)
e Tristão Gonçalves viajaram e acabaram mortos em não necessitavam, em larga escala, da mão de obra
combate escrava. OBS: Eu não estou dizendo que não tinham
- Abandono dos revolucionários escravos no Ceará, tinha sim, o que eu estou dizendo é
que não tinham em expressiva quantidade.
A economia do Algodão - O preço dos cativeiros e dos negros eram altos e vale
O algodão começou a ser cultivado no Ceará num lembrar que o Ceará era pobre. Não era viável manter
período de 1801 a 1900 com objetivo de abastecer os muitos cativeiros
mercados locais e internacionais. - Campanhas e movimentos abolicionistas:
A guerra de secessão norte americana ocorreu no
período de 1861 a 1865, fazendo com que, nesse - Movimento dos Jangadeiros:
período, o Ceará ganhasse um destaque na exportação Lutaram contra o tráfico interprovincial de
de algodão a escalas internacionais, principalmente para Escravo, o qual surgiu após a lei Eusébio de
a Inglaterra. Queiroz – Nome importante: Dragão do Mar
Nessa época, o algodão foi chamado de “ouro branco”.

8
- Pressão da Burguesia: campanhas pela família Nogueira Accioly, nos anos 1896 a 1912. “
abolicionistas, inspiradas nos ideais da FARIAS”
Revolução Francesa: Sociedade libertadora
Cearense. Para essa configuração, foi de fundamental importância
a política dos Governadores.
Contexto:
No século XIX, um movimento de grande importância Gestões de Accioly
aconteceu no Ceará: a campanha abolicionista, que Marcada por abusos, autoritarismos, nepotismos e
aboliu a escravidão no estado em 25 de março de 1884, modernização no estado.
antes da Lei Áurea, que é de 1888. Foi, portanto, o
primeiro estado brasileiro a abolir a escravatura. Dentro 1ª gestão (1896-1900)
do Ceará, o primeiro município a abolir a escravatura foi - Atritos com Rodolfo Teófilo por conta das vacinações
Acarape, que depois do evento, passou a ser chamado na população
de Redenção. O abolicionismo foi favorecido pela pouca - Criação da Academia de Direito do Ceará, porem foi
importância da escravidão na economia cearense muito criticada pelo descaso com a educação básica
relativamente às outras regiões do Brasil. - Secas
Um cearense se destacou nessa época: o jangadeiro
Francisco José do Nascimento que se recusou a 2ª gestão (1904 – 1908)
transportar escravos em sua jangada. José do - Obs: de 1900 a 1904, quem comandou o Ceará foi
Nascimento ficou conhecido como Dragão do Mar Pedro Borges, bode expiatório de Accioly.
(atualmente nome de um centro cultural em Fortaleza). - Atritos com os comerciantes locais, uma vez que
Inicia-se na segunda metade do século XIX, tendo a sua Accioly favorecia os grandes vendedores.
mais atuante sociedade abolicionista sido fundada em - Secas e aumento de tributos
1880, a Sociedade Cearense Libertadora. Junto com as
Lucas Cardoso Lima
ações da Sociedade Libertadora, que congregava 3ª gestão (1908 – 1912)
principalmente a elite econômica elucaaslima.llc@gmail.com
intelectual, o - Implementação da Sede do IFOCS em Fortaleza
077.647.573-81
pioneirismo cearense foi possível graças, sobretudo, à - Crescimento econômico
coragem de um homem de origem humilde, pardo, - Protestos
jangadeiro e abolicionista: Francisco José do - Política das salvações (Hermes da Fonseca) e passeata
Nascimento, o Dragão do Mar ou Chico da Matilde. Em das crianças (declínio de Accioly)
25 de março de 1884, o presidente da província, o
baiano Sátiro Dias, declarou a libertação de todos os Em 1910, Hermes da Fonseca foi eleito presidente do
escravos do Ceará, tornando o estado o primeiro a abolir Brasil com um objetivo de salvar os estados das mãos
a escravidão no país, quatro anos antes da Lei Áurea. dos oligarcas, fato esse que ficou conhecido como
Assim, em janeiro de 1883, Acarape (atual Redenção) “política das salvações”. Com isso, em 1912, a oposição
passou para a história nacional como o primeiro núcleo cearense (opositores ao oligarca Nogueira Accioly),
urbano a libertar seus negros. Fortaleza deu liberdade a lançaram a candidatura de Franco Rabelo para o
seus cativos em 24 de maio de 1883. Finalmente, a 25 governo, tendo ocorrido diversos conflitos, entre eles a
de março de 1884, promulgou-se lei inviabilizando a “passeata da criança”, uma passeata que diversas
escravidão na província – embora existam registros de crianças foram mortas. Em consequência disso, Accioly
cativos no Ceará em datas posteriores. renunciou ao cargo, entrando como líder do governo,
Franco Rabelo, o qual foi deposto dois anos depois por
3. O CEARÁ E A “REPÚBLICA VELHA”: A um episódio que ficou conhecido como sedição de
Juazeiro.
POLÍTICA OLIGÁRQUICA: CORONELISMO E O governo de Pedro Borges (1900-04), eleito para
CLIENTELISMO; MOVIMENTOS SOCIAIS desmascarar Accioly, acabou sendo uma continuidade
RELIGIOSOS E “BANDITISMO” da oligarquia. Accioly foi ainda reeleito para dois
mandatos, em 1904 e 1908, respectivamente. Isso
A Oligarquia Acciolina intensificou as ações dos oposicionistas, integrados por
Entendemos como Oligarquia Acciolina, o período em oligarcas dissidentes do esquema governista, por
que o Ceará foi dominado pelo grupo político liderados burgueses, pela classe média, por populares e até por
coronéis.

9
Sedição de Juazeiro população no interior do Nordeste vivia em condição de
Conflito entre Franco Rabelo Versus Padre Cícero, Floro pobreza e estava sujeita aos interesses das poucas
Bartolomeu e Accioly famílias poderosas que governavam. Essas poucas
Tal fato liga-se ao fracasso nacional da “política das famílias poderosas usavam de seu poderio econômico
salvações” – o presidente Hermes da Fonseca, Pinheiro para conquistar poderio político e transformavam a
Machado e as oligarquias articularam revoltas armadas política em um palco de troca de interesses, fazendo
nos estados, visando derrubar os governos com que a população mais carente não tivesse acesso a
“salvacionistas” no poder. Assim caiu Franco Rabelo, o nenhum tipo de benesse.
“salvador” cearense, eleito em 1912, após o fim da Desavenças eram resolvidas por meio das armas, uma
oligarquia acciolina.-FARIAS vez que a justiça só atendia aos poderosos. Do ponto de
vista econômico, a situação da população nordestina era
O Caldeirão de pobreza e o trabalho do povo era intensamente
O Caldeirão foi uma comunidade religiosa e coletiva explorado. O sofrimento das famílias se tornava maior
surgida no Crato sob a liderança do beato Zé Lourenço e nos períodos de seca, que atrapalhava a obtenção do
destruída em 1936 pelo governo de Menezes Pimentel, sustento via agricultura e criação de animais. Esse
com o apoio da Igreja e dos latifundiários. cenário propiciava o surgimento do banditismo, e foi
exatamente assim que o cangaço se consolidou. Os
Banditismo cangaceiros eram grupos de bandidos que
Entre os séculos 19 e meados do 20, um tipo específico perambulavam pelo interior do Nordeste, promovendo
de banditismo se desenvolveu no sertão nordestino: o ataques e saques por onde passavam. Eles se
cangaço deslocavam pela Caatinga e evitavam grandes
Para isso, contavam com o isolamento do sertão, com o confrontos. Obtinham suas armas por meio do saque
tradicional descaso e a incompetência das autoridades contra as forças policiais e se juntavam em pequenos
constituídas, bem como com a conivência Lucasou proteção grupos.
Cardoso Eram vistos como heróis por parte da população
Lima
de vários chefes políticos locais, os grandes e recebiam ajuda de algumas pessoas conhecidas como
lucaaslima.llc@gmail.com
proprietários rurais, conhecidos como "coroneis” coiteiros
História do cangaço O cangaço existiu a partir do077.647.573-81
século
19, mas atingiu o auge entre o início do século 20, Fortaleza na Belle Époque
marcado pela ação do bando de Antonio Silvino, e a A elite formada notadamente por comerciantes e
década de 1940, quando foi morto o cangaceiro Corisco, profissionais liberais vindos de outras regiões brasileiras
no interior da Bahia. Entre a atuação dos dois, destacou- e do exterior ajudou a promover mudanças importantes
se aquele que tornou-se a personificação do cangaço, em Fortaleza. De influência europeia e guiada por ideais
por ser o líder de uma quadrilha que atuou por quase de civilidade, esse contingente teve atuação destacada.
duas décadas em diversos estados do Nordeste: O período da vida da cidade compreendido entre as
Virgulino Ferreira da Silva, o célebre Lampião últimas décadas do século XIX e as primeiras do século
"Lampião foi o mais famoso chefe cangaceiro que existiu XX, que foi amplamente influenciado pelas ideias de
no país e teve atuação entre 1922 e 1938. Ele era de uma modernidade estética e comportamental,
família de posição razoável, mas que se viu despossuída especialmente francesas, ficou conhecido como Belle
de tudo por uma disputa de terras. Lampião liderou um Époque.
grupo de homens que aterrorizou o interior do Nordeste Como explica Sebastião Rogério Ponte, Belle Époque é
com seus saques. Foi morto em uma emboscada, em um “termo francês cunhado para traduzir a euforia
1938 européia com as novidades decorrentes da revolução
"O cangaço é entendido pelos historiadores como um científico-tecnológica (1850-1870 em diante). Com
fenômeno de banditismo que se espalhou pelo Nordeste efeito, esse período, momento fundante do nosso
brasileiro a partir do século XIX, sendo muito atuante mundo contemporâneo, é marcado por um intenso
por boa parte da primeira metade do século XX. O fluxo de mudanças que não só produziu transformações
surgimento do cangaço é explicado pelo contexto social, de ordem urbana, política e econômica, como também
político e econômico dessa região. Entraves da afetou profundamente o cotidiano e a subjetividade das
sociedade brasileira, como a desigualdade social, a pessoas, alterando seus comportamentos e condutas,
pobreza e a falta de acesso à Justiça e a outros serviços seus modos de perceber e de sentir”.
fornecidos pelo Estado, foram fundamentais para o Segundo Rogério Ponte, "no que toca a Fortaleza, o
surgimento do cangaço. Isso porque boa parte da processo remodelador que significou sua inserção na

10
belle époque teve como base econômica as grandes 4. O PERÍODO 1930/1964: O CEARÁ
exportações de algodão, através de seu porto, a partir
da década de 1860. Daí em diante, a capital cearense
DURANTE O ESTADO-NOVO;
acumulou capital, expandiu-se em todos os sentidos – REPERCUSSÕES DA REDEMOCRATIZAÇÃO;
comercial, populacional, espacial, cultural etc. – e “INDÚSTRIA DA SECA”: DNOCS E SUDENE
tornou-se, ainda no final do século XIX, o principal
centro urbano do Ceará e um dos oito primeiros do O CEARÁ NOS ANOS TRINTA
Brasil. Empolgados com esse crescimento, a burguesia Em 1930, Getúlio Vargas chegava à Presidência da
enriquecida com as vendas do algodão, negociantes República através duma “revolução”. Iniciava-se uma
estrangeiros radicados na cidade, médicos e demais nova era para o País: leis trabalhistas, industrialização de
elites políticas e intelectuais procuraram modernizar a base, centralismo político, etc.
cidade por meio de reformas e empreendimentos que a Vitoriosa a “Revolução” de 30, passaram os Estados a
alinhassem aos padrões materiais e estéticos das serem governados por interventores – indicados por
grandes metrópoles ocidentais." Getúlio e escolhidos entre os tenentes e civis que
"Fortaleza inicia sua belle époque na década de 1880 haviam apoiado o golpe varguista. Com o objetivo de
mesmo, absorvendo com imediatez algumas inovações afastar os governadores adeptos às oligarquias da
que acabavam de despontar nos centros de referência, republica velha e colocar em pratica algumas medidas
o que demonstra o estreito contato que a capital tinha centralizadoras da Era Vargas.
com a Europa." No Ceará, após o afastamento das oligarquias da
primeira república, foi nomeado interventor o médico
A cidade incorporou equipamentos urbanos (bondes, Fernandes Távora (1931), que governou por pouco
fotografia, telégrafo, telefone, praças, boulevards e tempo, pois continuou com as práticas políticas do
cafés) que causaram sensação. O Passeio Público, no período histórico anterior. Távora, na realidade, era um
Centro, foi um deles. Com jardins floridos, árvores
Lucas Cardosodissidente
Lima das oligarquias “caídas” em 30.
frondosas, lagos artificiais, estátuas de deuses O segundo interventor cearense foi Roberto Carneiro de
lucaaslima.llc@gmail.com
mitológicos e visão privilegiada do mar, o espaço virou Mendonça (1931-34), que procurou conciliar os
ponto de encontro das elites, sendo passarela077.647.573-81
para o “revolucionários” de 1930 com os oligarcas da Velha
desfile de elegantes e cenário de sociabilidade. República. Durante seu mandato, em 1932, ocorreu uma
forte seca e alguns cearenses foram mandados para São
Em 1875, o engenheiro pernambucano Adolfo Herbster Paulo, a fim de que combater a revolução
elabora um plano urbanístico, objetivando disciplinar a constitucionalista.
expansão da cidade através do alinhamento de suas ruas Em 1933, convocaram-se eleições para uma Assembleia
e da abertura de novas avenidas. Constituinte, o que ensejou a reorganização dos
Os lucros do algodão, no entanto, reduzir-se-iam com a partidos locais. Os tenentes e liberais apoiadores da
recuperação da cotonicultura norte-americana na “Revolução” de 30 fundaram o Partido Social-
década de 1870. Com isso, o Ceará entrou no século XX Democrático (PSD), enquanto as tradicionais
em difícil situação econômica. Curiosamente, foi o oligarquias, junto com segmentos conservadores da
algodão encalhado e os capitais acumulados do Igreja, reuniram-se na Liga Eleitoral Católica (LEC)
comércio que possibilitaram a instalação das pequenas
primeiras fábricas têxteis cearenses. “O terceiro interventor foi Felipe Moreira Lima (1934-
Mas se Fortaleza conhecia algum progresso material, o 35), que realizou uma gestão agitada. Aliado ao PSD, não
mesmo não se podia dizer dos sertões, onde imperava conseguiu evitar que a LEC vencesse as eleições para
ainda a violência, a arbitrariedade e a exploração da deputado estadual de 1934 e elegesse, indiretamente,
massa pelos latifundiários. Os camponeses sofriam os no ano posterior, o novo governador do estado,
males da concentração da terra. Grupos de jagunços a Menezes Pimentel. Dessa forma, as antigas oligarquias
serviço de potentados lutavam por terra e influência cearenses da primeira república retomavam o poder.
política, massacrando inocentes. Imperava a Menezes Pimentel administrou o Ceará por 10 anos,
impunidade.- FARIAS entre 1935 e 1937, como governador legal, e entre 1937
e 1945, como interventor do Estado Novo. Foi um
movimento de muita violência e autoritarismo.” –
FARIAS

11
Ceará e o Estado Novo (1937-45) O Ceará na república liberal-democrática (1945-64)
Vale a pena entender o contexto geral do Brasil durante Lembrando que , durante o estado novo (1937-1945), o
o Estado Novo, seus pormenores e características, Ceará foi comandado pelo interventor Menezes
assim, adequaremos essa realidade para o Ceará. Pimentel que foi nomeado por Vargas.
No periodo da 2ª guerra mundial, o Brasil envolveu-se
"Estado Novo é como ficou conhecida a ditadura no conflito, resultando na criação de uma base aerea
instaurada por Getúlio Vargas entre os anos de 1937 e norte americana em Fortaleza-CE, o qual geral uma onda
1945. Teve forte influência de ideais fascistas, até de protestos da população contra o Nazismo. Ao mesmo
mesmo na Constituição, que iniciou institucionalmente tempo, uma intensa propaganda governamental
o período e foi apelidada de polaca, porque foi inspirada influenciava os sertanejos a migrar para a Amazônia e
nas leis da Polônia e Itália. explorar látex nos seringais da região num “esforço de
guerra”. Milhares de cearenses foram para o norte em
O anticomunismo e o nacionalismo também eram busca de “tempos novos”.
fortes, assim como a propaganda a favor do governo, No Ceará, como no restante do Brasil, as manifestações
por meio do Departamento de Imprensa e Propaganda contra o nazismo passaram a criticar igualmente a
(DIP). Por outro lado, foi nesse período que foi ditadura getulista, resultando no desmoronamento do
promulgada a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), Estado Novo.
a Justiça do Trabalho foi criada, bem como diversas Com isso, os opositores do interventor Menezes
estatais, e o salário mínimo foi instituído. O Brasil Pimentel criaram a União Democrática Nacional (UDN),
também participou da Segunda Guerra Mundial, ao lado enquanto Menezes criava o Partido Social Democrático
dos “Aliados”, uma vez que recebemos incentivos (PSD),em segundo plano, organizou-se o Partido Social
financeiros norte americano e pelo fato de um navio Progressista (PSP).
brasileiro ter sido atacado. Lucas CardosoCom aLima
demissao de Menezes e ascoligações da UDN e
PSP, em 1947, elegeram como governador Faustino
Contexto do Estado novo no Ceará lucaaslima.llc@gmail.com Albuquerque.
077.647.573-81
Durante o estado novo, o Ceará estava sendo governado Lembrando que nos períodos de 1945-1964, foi marcado
pelo interventor Menezes Pimentel. Foi um governo por fragilidades dos grupos políticos, quando, nas
marcado por autoritarismos, perseguições a grupos de eleições, os governadores não conseguiam eleger seu
esquerdas, além de prisões daqueles que se opunham sucessor, fazendo com que a oposição vencesse. Os dois
ao regime de Vargas. principais partidos do período, UDN e PSD, alternam-se
no poder.
Um dos pontos principais a se ater na história do Ceará,
durante esse período, é o contexto da segunda guerra Industria das Secas
mundial no Ceará.
Departamento nacional de obras contra as secas
2º Guerra mundial e o Ceará (DNOCS)
O Brasil e o Ceará entraram nesse conflito em 1942. Foi Órgão criado em 1909, vinculado ao Ministério da
implementada uma base militar norte americana em Viação e Obras Públicas, com o nome de Inspetoria de
Fortaleza, onde hoje fica localizado o bairro do Pici. Obras contra as Secas. Em 1919, passou a chamar-se
Inspetoria Federal de Obras contra as Secas (IFOCS) e,
Além da implementação da base militar, houve uma em 1945, recebeu o nome atual.
mudança nos modos de vida da cidade, adequando-se
ao estilo de vida norte americano, haja vista a presença Período 1909-1930
deles aqui em Fortaleza.
Outro fator importante é o que ficou conhecido como A criação da IFOCS resultou da insatisfação com o modo
“exército da borracha”. Foi um período de intensa como vinha sendo encaminhado o combate contra as
migração interna do Ceará para Amazônia, uma vez que secas no Nordeste desde 1877. Durante a administração
a borracha era matéria prima primordial durante a do presidente Francisco de Paula Rodrigues Alves (1902-
segunda guerra, porém, muitos cearenses morreram 1906), quando foi desencadeada a campanha de
durante esse trabalho, houve rompimentos familiares. erradicação da febre amarela e de outras moléstias
epidêmicas no Rio de Janeiro, tomou corpo a idéia de

12
que também seria possível erradicar o flagelo da seca. Período pós-1930
Assim, em 1904, foram criadas várias comissões federais
temporárias para tratar do problema, como a Comissão A participação da Paraíba na Aliança Liberal e a
de Estudos e Obras contra os Efeitos das Secas e a contribuição dos estados nordestinos em geral na
Comissão de Perfuração de Poços. Essas comissões Revolução de 1930 foram recompensadas com a
revelaram-se contudo incapazes de produzir uma nomeação do paraibano José Américo de Almeida para
solução integrada para a região, confirmando a o Ministério da Viação e Obras Públicas, o que trouxe
necessidade de uma agência unificada e permanente novo dinamismo para a IFOCS. Ao mesmo tempo, a seca
que, entre outras coisas, eliminasse os abusos prolongada de 1931 a 1932 levou o governo a dotar a
praticados na distribuição de recursos. Muitas vezes, os inspetoria de recursos adicionais. Em 1932, as despesas
recursos destinados à luta contra as secas eram na da IFOCS atingiram quase 10% da receita federal, contra
verdade utilizados para consolidar a influência política menos de 1% nos anos anteriores.
dos chefes do interior.
Os financiamentos diminuíram após esse período, mas
Instalada em 1909, a inspetoria teve como primeiro prosseguiram as obras de construção de represas e
diretor o engenheiro de minas Arrojado Lisboa, que rodovias. Até 1930, a capacidade de acumulação em 92
reuniu uma equipe de engenheiros, agrônomos, açudes públicos alcançava 625 milhões de metros
botânicos, pedologistas, geólogos e hidrólogos, além de cúbicos. Na década de 1930, essa capacidade foi
vários técnicos estrangeiros, numa primeira tentativa de quadruplicada, com 31 novas represas postas em
estudar o meio físico semi-árido do Nordeste. Além de serviço.
examinar as potencialidades e os limites do solo, da água
e da flora nativa, essa equipe deveria examinar a A partir de 1940, começou a ser questionada a política
possibilidade de adaptação de outras espécies na região. de construção de obras públicas como reservatórios,
Os estudos realizados não levaram Lucas em conta, poçosLima
Cardoso e rodovias, que ofereciam apenas uma solução
entretanto, a estrutura socioeconômica do Nordeste. hidráulica à seca. Foi com a publicação nesse ano de um
lucaaslima.llc@gmail.com
Por outro lado, Arrojado Lisboa lançou-se à construção artigo de José Augusto Trindade, primeiro diretor do
de barragens nos estados do Ceará, Paraíba 077.647.573-81
e Rio serviço de pesquisa da IFOCS, que o problema da
Grande do Norte. desapropriação dos latifúndios situados nas bacias
irrigáveis dos grandes açudes públicos passou a ser um
A inspetoria não correspondeu ao que dela se esperava dos principais pontos de debate na avaliação das
no desempenho de suas funções. Na grave seca de 1915, dificuldades do Nordeste. Para Trindade, a irrigação
verificou-se que o Nordeste enfrentava as mesmas deveria corrigir o equilíbrio social em favor do pequeno
dificuldades anteriores à criação do órgão, cuja falta de proprietário e do meeiro, as principais vítimas das secas.
dinamismo seria a conseqüência da escassez de verbas A necessidade de uma reforma fundiária passou assim a
e da burocratização. constar do elenco de soluções para a região, ao mesmo
tempo em que se fortalecia a visão de que só o
Durante o governo de Epitácio Pessoa (1919-1922), além desenvolvimento econômico e a melhoria dos níveis de
de alterar seu nome, a inspetoria empenhou-se na bem-estar social poderiam tornar o Nordeste menos
execução de obras de grande porte, contratando firmas vulnerável à seca.
de engenharia estrangeiras para a construção de
estradas e portos. Para assegurar o apoio financeiro Em 1945, a IFOCS passou a chamar-se Departamento
permanente à IFOCS, foi criado o Fundo Especial para Nacional de Obras contra as Secas.
Obras de Irrigação de Terras Cultiváveis do Nordeste,
constituído basicamente de 2% da receita anual da Ao final da década de 1940, os programas federais para
União e de contribuições dos estados nordestinos. o Nordeste sofreram modificações com o
estabelecimento de duas agências de desenvolvimento
A administração de Artur Bernardes (1922-1926) de recursos — a Comissão do Vale do São Francisco
interrompeu as obras iniciadas no governo anterior e (CVSF) e a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco
aboliu o fundo especial. Enfrentando graves problemas (CHESF). O interesse foi deslocado da parte setentrional
financeiros, Bernardes desenvolveu uma política de do Nordeste para a área cortada pelo curso médio e
contenção de gastos que atingiu seriamente o Nordeste. inferior do São Francisco, e o DNOCS entrou numa fase
de atuação restrita.

13
poços e os aparelhou para o bombeamento destinado a
A seca de 1951 colocou mais uma vez em discussão a fins agropecuários; construiu sete usinas hidrelétricas,
política federal em relação ao Nordeste. Ao mesmo com 10.666cv e 650km de linhas de transmissão;
tempo em que eram feitas acusações de incapacidade e construiu 8.760km de estradas de rodagem, e preparou
corrupção ao DNOCS, tomava corpo a tese do 78 campos de pouso para aviões de pequeno e médio
desenvolvimento econômico, em detrimento da solução porte.
hidráulica. Nesse momento foi criado o Banco do http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-
Nordeste do Brasil S.A. tematico/departamento-nacional-de-obras-contra-as-
secas-dnocs
O DNOCS continuou a atuar, embora com uma imagem
já totalmente desfavorável. A seca de 1958, uma das A criação da Sudene
mais severas e com um dos mais elevados números de A Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste,
refugiados, apresentou-se como uma prova indiscutível criada pela Lei no 3.692, de 15 de dezembro de 1959, foi
de que toda a política até então executada havia sido uma forma de intervenção do Estado no Nordeste, com
inócua. Ainda assim, o DNOCS recebeu novos recursos o objetivo de promover e coordenar o desenvolvimento
para enfrentar a situação. Foram retomadas as obras de da região. Sua instituição envolveu, antes de mais nada,
construção da represa de Orós, iniciadas no governo de a definição do espaço que seria compreendido como
Epitácio Pessoa, e novo impulso foi dado aos programas Nordeste e passaria a ser objeto da ação governamental:
de assistência à construção de pequenos açudes os estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do
particulares, à utilização dos açudes públicos para a Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e
geração de energia elétrica, à perfuração de poços e ao parte de Minas Gerais. Esse conjunto, equivalente a
abastecimento de água. Foi também confiada ao DNOCS 18,4% do território nacional, abrigava, em 1980, cerca
nesse ano a construção de uma rodovia ligando de 35 milhões de habitantes, o que correspondia a 30%
Fortaleza a Brasília, numa extensão de 1.600km.
Lucas Cardosoda população
Lima brasileira.
Entretanto, a imagem do órgão junto àlucaaslima.llc@gmail.com
opinião pública A criação da Sudene resultou da percepção de que,
era cada vez mais negativa. O DNOCS era visto 077.647.573-81
como mesmo com o processo de industrialização, crescia a
uma instituição que se aproveitava das secas para diferença entre o Nordeste e o Centro-Sul do Brasil.
manipular verbas de forma corrupta, favorecendo o Tornava-se necessário, assim, haver uma intervenção
enriquecimento ilícito de políticos e fazendeiros da direta na região, guiada pelo planejamento, entendido
região, realizando obras “fantasmas” e forjando como único caminho para o desenvolvimento.
pagamentos a trabalhadores inexistentes. As acusações Como causa imediata da criação do órgão, pode-se citar
chegaram a provocar a abertura de uma comissão uma nova seca, a de 1958, que aumentou o desemprego
parlamentar de inquérito (CPI). rural e o êxodo da população. Igualmente relevante foi
uma série de denúncias que revelaram os escândalos da
Por fim, o descrédito do DNOCS levou o governo a "indústria das secas": corrupção na administração da
buscar uma solução mais radical para o Nordeste, ajuda dada pelo governo federal através das frentes de
criando em 1959 a Superintendência de trabalho, existência de trabalhadores fantasmas,
Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). O DNOCS construção de açudes nas fazendas dos "coronéis" etc.
passou a ser controlado por essa nova agência. Ou seja, denunciava-se que o latifúndio e seus coronéis
– a oligarquia agrária nordestina – tinham capturado o
Num balanço de suas atividades, de sua criação até 1970 Departamento Nacional de Obras Contra as Secas
o DNOCS atuou numa área de 949.578km2, abrangendo (DNOCS), criado em 1945, da mesma forma como
os estados de Minas Gerais, Bahia, Sergipe, Alagoas, anteriormente tinham dominado a Inspetoria de Obras
Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Contra as Secas, de 1909.
Piauí. Construiu 246 represas públicas, acumulando 113 O organizador das Ligas Camponesas Francisco Julião, de
bilhões de metros cúbicos de água, e cooperou na terno escuro, com Zezé da Galiléia, um dos líderes do
construção de 594 represas particulares, com movimento. Pernambuco, 8 out. 1959No esforço de
capacidade para mais de 1,3 bilhão de metros cúbicos; criação da Sudene estiveram presentes empresários
organizou 148 serviços de abastecimento de água; industriais, políticos interessados no desenvolvimento
colocou em ação 820km de canais de irrigação industrial da região, representantes de forças populares
beneficiando 12 mil hectares de terras; perfurou 7.135 e de esquerda - como Francisco Julião, das Ligas

14
Camponesas -, além de membros da Igreja envolvidos ditadura impusesse a repressão e a perseguição aos seus
em ações de combate à pobreza - como D. Eugênio Sales opositores políticos.
e D. Helder Câmara. Todas essas forças se uniram contra
aqueles que defendiam o latifúndio, tinham tomado O AI-1 não anulou a Constituição de 1946, mas realizou
conta do DNOCS e eram contra a criação do novo órgão. modificações pontuais na Carta Constitucional do país.
A Sudene pode ser tomada assim como exemplo Ele deu poderes para que o governo de Castello Branco
empírico da divisão existente na sociedade brasileira, realizasse inúmeros expurgos tanto nos meios militares
segundo as análises produzidas pelo ISEB. quanto nos meios civis. O historiador Boris Fausto fala
Anísio Teixeira(à direita) e Celso Furtado (filme: que, em números conservadores, a repressão iniciada a
180/5/40A-41)A Sudene foi criada como uma autarquia partir do AI-1 resultou no expurgo de cerca de 1400
subordinada diretamente à Presidência da República, e pessoas da burocracia civil e cerca de 1200 nas Forças
sua secretaria executiva coube a Celso Furtado. De 1959 Armadas.
a 1964, Celso Furtado foi responsável pela estratégia de O Ato Institucional nº 2 foi decretado no final de 1965 e
atuação do órgão, definida a partir do diagnóstico foi uma resposta da insatisfação que existia nas Forças
apresentado em seu livro A operação Nordeste, de Armadas com o governo de Castello Branco. O
1959. presidente brasileiro era enxergado como muito
A partir de 1964 a Sudene foi incorporada ao Capa do moderado, e as pressões levaram o presidente a
Livro ¨A Operação Nordeste¨ de Celso Furtado com a endurecer mais ainda o regime. O AI-2 fortaleceu o
conferência por ele proferida no curso sobre problemas poder do Executivo e decretou que a escolha dos
brasileiros, promovido pelo ISEB antes da criação da presidentes aconteceria a partir de eleições indiretas.
Sudene. Rio de Janeiro, 1959novo Ministério do Interior, O Ato Institucional nº 3 foi decretado em fevereiro de
e sua autonomia, seus recursos e objetivos foram 1966 e estipulou o sistema bipartidário no país. Houve
enfraquecidos e deturpados. A Sudene foi fechada em então o surgimento da Aliança Renovadora Nacional
maio de 2001, a partir de denúncias deLucas que estava (Arena)
Cardoso e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB),
Lima
favorecendo clientelas. este conhecido como oposição consentida. O AI-3, além
Órgão criado para diminuir as diferençaslucaaslima.llc@gmail.com
entre o disso, decretou que eleições para governadores e
077.647.573-81
Nordeste e o Sul-Sudeste, a Sudene falhou, segundo a prefeitos também seriam indiretas.
análise do sociólogo Francisco de Oliveira. O número de Outros destaques que podem ser feitos a respeito do
empregos industrias criado foi insuficiente para resolver governo de Castello Branco foi a criação do Serviço
os problemas estruturais da região, os padrões de Nacional de Informação (SNI), além da Lei de Segurança
miséria foram mantidos, e as migrações não cessaram. Nacional e o decreto do AI-4, que autorizou a redação
Em termos de concentração de renda, nada mudou. de uma nova Constituição para o Brasil, outorgada em
https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/JK/artigos/Econ março de 1967. No entanto, o enfraquecimento de
omia/Sudene Castello Branco nas Forças Armadas resultou na escolha
de Artur Costa e Silva como o novo presidente do país.

5. OS GOVERNOS MILITARES E O “NOVO” Era da Ditadura e o Ceará


Plácido Castelo foi eleito pela Assembleia Legislativa em
CORONELISMO; A “MODERNIZAÇÃO 1966. Durante seu governo houve perseguição política a
CONSERVADORA” deputados e várias manifestações com a prisão e tortura
de estudantes e trabalhadores, tendo ocorrido inclusive
Governo militares atentados a bomba em Fortaleza. Criado o BANDECE e a
O marechal Humberto Castello Branco (Cearense) foi o pavimentação da rodovia CE-060, a rodovia "do
primeiro presidente brasileiro durante o período da algodão". Também tem início as obras do estádio
Ditadura Militar. Seu governo iniciou-se a partir da Castelão.
escolha do marechal para presidente em eleição indireta Durante o governo de César Cals se sucedeu o auge da
realizada em 11 de abril de 1964 e estendeu-se até 1967. repressão militar. Vários cearenses de esquerda
Castello Branco já assumiu o governo com o Brasil regido estiveram envolvidos na Guerrilha do Araguaia. Cals
pelo decreto conhecido como Ato Institucional nº 1. O procurou governar tecnocraticamente, formando sua
AI-1, como também se chama esse ato, cumpria própria facção política rompendo com Virgílio Távora.
exatamente o objetivo de justificar a deposição de João No mandato de seu sucessor, Adauto Bezerra (mandato
Goulart e de criar o aparato jurídico para permitir que a de 1975 a 1978) não acontecem grandes mudanças.

15
Adauto volta-se politicamente para o interior com a - PLAMEG II- Continuar a modernização conservadora
criação de uma secretaria de assuntos municipais. com obras de cunho industrial
Renuncia seu mandato para se eleger deputado federal. - Criação do distrito industrial de Maracanaú
O vice-governador Waldemar Alcântara toma posse e
termina o mandato. Modernização conservadora
Vista do litoral de Fortaleza na década de 1980 vendo-se O golpe de 1964 reforçou a tendência de centralização
o monumento ao Interceptor oceânico. política e administrativa nos
Virgilio Távora retorna ao governo em 1979 sendo o Executivos federal e estadual, facilitando os acordos de
último eleito indiretamente e resgata seu primeiro cúpulas. Decisões administrativas seriam tomadas de
governo com a criação do PLAMEG II. Inicia a forma mais discricionária referente à alocação de
industrialização da região noroeste do Ceará e cria o recursos e investimentos para as diversas regiões do
PROMOVALE (projetos de irrigação) e sua esposa, a Estado. Estavam criadas, sob a liderança de Virgílio, as
primeira dama Luiza Távora implementa projetos sociais condições de implantação de um projeto de
como a Central de Artesanato do Ceará. Seu governo foi modernização conservadora.
marcado pela ausência, quase que total, de oposição na O processo de modernização do Ceará teve início na
Assembléia, nomeações aproximadas de 16.000 pessoas segunda metade do século XX partindo das propostas
para cargos públicos e várias greves. defendidas e executadas por Virgílio Távora. Virgílio
Gonzaga Mota foi eleito pelo voto popular tomando Távora é o principal formulador do projeto de
posse em 1983 e rompe com os coronéis anteriores para modernização executado no Ceará. Isso se opõe à
criar seu próprio grupo político. Seu rompimento posição que indica Virgílio como um político tradicional,
rendeu-lhe ataques do regime militar com a suspensão um autêntico coronel da política nordestina.
de verbas federais. Então, fala-se de Modernização conservadora no Ceará
como sendo o início de uma série de investimento em
O CEARÁ DOS CORONÉIS (1963 –1982): Lucas Cardoso obrasLima
e infraestrutura, além de industrialização no
Ceará, iniciada durante a gestão de Virgílio Távora, com
1.CORONÉIS DO EXÉRCITO BRASILEIRO:lucaaslima.llc@gmail.com
Virgílio Távora, incentivos da própria SUDENE e do BNB.
César Cals e Adauto Bezerra; 077.647.573-81
OBS: Desde o início da modernização conservadora
2. O bipartidarismo no Ceará: ARENA (apoio à ditadura iniciada por Virgílio na década de 1960, TODOS os
civil-militar) e MDB (oposição à ditadura); demais governantes deram continuidade à
modernização
Características de cada coronel

César Cals (1971-1975) 6. A “NOVA” REPÚBLICA: OS “GOVERNOS


- Gestão marcada por autoritarismos
- Criação da SEI (Serviço estadual de Informação) –
DAS MUDANÇAS”.
colher informações
A Nova República começa no Ceará com a eleição de
- Criação da Coelce
Maria Luiza para o cargo de prefeita de Fortaleza em
1986. Foi a primeira prefeita de capital estadual eleita
Adalto Bezerra (1975 – 1978)
pelo Partido dos Trabalhadores e o primeiro político do
- Construção de rodovias ligando áreas produtoras de
sexo feminino a ser eleito para esse cargo após o regime
algodão ao litoral
militar. A insatisfação com a política praticada durante a
- Saneamento básico na capital
ditadura militar e o movimento de redemocratização
- Criação da UECE
impulsionam as transformações no poder político, com
a decadência da hegemonia tradicional do coronelismo.
Virgílio Távora (1979 – 1982)
Gonzaga Mota deixa o governo com pagamentos
- Vale lembrar que essa é a segunda gestão de Virgílio; a
atrasados ao funcionalismo e descontrole nas contas
primeira se deu no início da ditadura militar
públicas, mas seu candidato, o empresário Tasso
- Criação da secretaria de comunicação (objetivar a
Jereissati, consegue se eleger com a promessa de
centralização de informações e controle da publicidade
modernizar a administração pública, afastando-se do
- Obras assistencialistas para conter a tensão social no
clientelismo dos governos anteriores; promover a
estado

16
austeridade fiscal; e desenvolver a economia estadual. A Cruzado, da crise e decadência das “velhas” elites
nova gestão passa a se autodenominar "Governo das chefiadas pelos coronéis e contando com o apoio e
Mudanças".[8] Nas duas décadas seguintes, Jereissati e simpatia de amplos segmentos sociais (até das
seus aliados passam a deter a hegemonia política no esquerdas), derrota o candidato do PFL (dissidente do
Estado, e rapidamente perdem a aliança com partidos PDS, atual DEM), coronel Adauto Bezerra.
mais à esquerda, como o PT e o PCdoB.[6] Encontrando o Estado em lastimável situação financeira,
Tasso, sob o lema “Governo das Mudanças”, buscou
Ciro Gomes, então prefeito de Fortaleza, se candidata moralizar a máquina pública, diminuindo o nepotismo e
em 1990 ao cargo de governador com o apoio de Tasso o empreguismo – embora achatando o salário dos
e é eleito. Com a abertura do mercado brasileiro, o servidores públicos e tenha com estes uma relação de
Ceará recebe os primeiros carros importados da marca atritos.
russa Lada. Os "Governos das Mudanças" priorizam o Visando dar ao governo uma “gestão técnica”, o
aumento dos investimentos públicos e privados em “Governo das Mudanças” elimina a intermediação de
infraestrutura e nos setores industrial e de serviços, “políticos profissionais”, sobretudo na primeira gestão
enquanto o agropecuário permanece à margem. (1987-91), o que lhe trouxe certo isolamento da
Politicamente, há uma relativa diminuição de poder dos sociedade civil e a acusação de autoritário. Em pouco
"coronéis", com ampliação do poder do grande tempo, ganhou forte oposição, mesmo daqueles que o
empresariado. O saneamento das contas estaduais - haviam apoiado na eleição (daí o grupo tassista ter
atingido, em parte, pela diminuição das despesas com o deixado o PMDB e entrado no PSDB). O Cambeba
funcionalismo público através de demissões e (Palácio do Governo e sinônimo dos partidários de
achatamentos salariais - garantem superávits entre Tasso) procurou descredenciar essa oposição
1988 e 1994, mas com a consolidação do Plano Real chamando-a genericamente de “forças do atraso”,
volta-se a uma predominância de déficits. elementos “corporativistas”, pessoas de “interesses
Nas palavras do professor Airton de Farias: Lucas Cardoso contrariados”.
Lima
“Em 1986, Tasso Jereissati era eleito governador do
lucaaslima.llc@gmail.com
Ceará, derrotando os três famosos coronéis do Ceará,
Adauto, Vírgílio e César, e inaugurando uma nova 077.647.573-81
etapa
política no estado.
Mas tal fato não foi ocasional. Na realidade, enquadra-
se dentro de um projeto político burguês-capitalista,
com origens no ano de 1978, quando “jovens
empresários” assumiram o controle do Centro Industrial
Cearense (CIC). Até aquela data, a chefia do CIC era
ocupada pelo presidente da Federação das Indústrias do
Estado do Ceará (FlEC).
Esses “jovens empresários”, como Beni Veras, Tasso
Jereissati, Amarílio Macedo, Sérgio Machado e Assis
Machado Neto, tornam o CIC um centro de debates e
gestam uma candidatura ao governo. Embora tenha o
CIC de início mantido boas relações com os coronéis (por
exemplo, apoiaram a candidatura de Gonzaga Mota ao
governo em 1982), criticavam duramente o excessivo
intervencionismo do Estado na economia, a corrupção,
o clientelismo e outros problemas da máquina pública,
pregando uma gestão “moderna”, (neo) liberal no Ceará
e empresarial para “acabar com a miséria”.
A oportunidade para os “jovens empresários”
assumirem o governo dar-se-ia em 1986. O então
governador Gonzaga Mota (PMDB), já rompido com
seus “padrinhos políticos” (os coronéis), resolveu apoiar
um nome do CIC para concorrer a sua sucessão: Tasso
Jereissati. Este, valendo-se do sucesso nacional do Plano

17

Você também pode gostar