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Ocupação, Tratados e Limites territoriais

Os traços básicos da expansão territorial brasileira envolveram:

 Século XVI: a ocupação de pontos isolados no litoral leste e as entradas


pioneiras nos iniciais da ocupação territorial portuguesa.
 Século XVII: as grandes bandeiras paulistas, que trilharam o Sul e o Centro-
Oeste; a fundação de Belém e as missões jesuítas no Norte e a exploração das
Drogas do Sertão; a fundação da Colônia do Santíssimo Sacramento cujo objetivo
era assegurar a fronteira natural do Prata
 Século XVIII: foi o período de maior presença da coroa, centralização
administrativa, fim das bandeiras e combate às missões jesuítas. Aqui se inaugura
uma maior integração territorial devido ao advento dos centros mineradores das
“Minas Gerais”, de Goiás, e Mato Grosso. Período das monções cuiabanas, que
ligavam Cuiabá a São Paul; consolidação da presença portuguesa em vários rios da
Amazônia e das monções do norte; e também das lutas pela posse da colônia e
tentativas de ocupação territorial no que hoje se divide entre o Estado do Rio
Grande do Sul e o Uruguai.

No que diz respeito a trajetória histórica, por um lado, o império colonial espanhol
estava centralizado em Lima, sede do Vice-Reinado do Peru, na região sul-americana. Este era o
principal porto de saída das riquezas minerais descobertas na serra. As minas de Potosí, no Alto
Peru (atual Bolívia), descobertas em 1545, com suas enormes reservas de prata apenas
contribuiu ainda mais para a fixação da população europeia nas montanhas. A chegada dos
Espanhóis no Planalto de Bogotá, distantes centenas de quilômetros tanto do Pacífico quanto
do Atlantico, com suas terras férteis, clima fresco e ouro também atraíram os europeus às
alturas. Por outro lado, durante mais de dois séculos em vão Portugueses percorreram os
sertões para achar um “outro Peru”, o que não ocorreria até a descoberta de ouro nas Minas
Gerais, Mato Grosso e Goiás. Os espanhóis, então, por acharem riquezas minerais no Vice-
Reinado do Peru não se furtam adentrar território além dos Andes de maneira significativa,
razão esta pela qual os Portugueses vieram a ocupar tanto a região amazônica quanto interior
do que hoje é o Brasil.
No que tange a região amazônica, ainda convém ressaltar razões de geografia fluvial.
Desde o começo do processo de colonização, os portugueses se apossaram das melhores
portas de entrada da planície. Pelo Sul, as trilhas dos bandeirantes e as rotas das monções que
conduzia ao rio Cuiabá ao Guaporé após um breve percurso terrestre. Pelo Norte, a ocupação
da foz do Amazonas. As vantagens geográficas portuguesas eram inversamente proporcionais
aos dos Espanhóis, sendo extremamente difícil o deslocamento para Amazônia a partir da
costa do Pacífico e dos centros urbanos das regiões andinas.
No Cento-Oeste, por estarem mais perto, houve alguma resistência à ocupação
Portuguesa. No atual Paraguai, ocorreram choques entre frentes bandeirantes e as missões.
Ainda assim, resta o questionamento do porquê os espanhóis não terem reforçado
militarmente determinadas regiões, como a zona de Cuiabá, ao conheceram a penetração luso-
brasileira. Apesar de ser possível falar na dificuldade de calcular longitudes á época, faltou
decisão aos espanhóis de não fazer valer a força no momento em que eram mais poderosos.
No contexto do século XVIII, já era um reino enfraquecido por crises e guerras e com a noção
de que não possuíam as condições devidas de povoar o centro do continente.
Já no Sul, o cenário é bastante distinto por se tratar de uma área bem menor e muito
mais importante: Colônia do Santíssimo Sacramento. Sua história se vincula à de Buenos Aires,
a única possessão espanhola do lado atlântico da América do Sul. Foi justamente em torno do
Prata que se deram os conflitos mais importantes. A política de ocupação do atual sul do Brasil
esteve no centro das tentativas portuguesas de estender as fronteiras brasileiras antes da
fundação de Colônia, como o estabelecimento de Laguna em 1676 enquanto núcleo irradiador.
Posteriormente, houve a fundação, em 1737, da colônia militar Jesus, Maria e José (Rio
Grande). Ao nunca terem ocupado efetivamente a região do Uruguai, no entanto, os esforços
não foram o bastante para impedir as ocupações espanholas e o cerco de 1735. Nesta região,
os espanhóis não cederiam e não faltavam motivos dado o risco de contrabando da prata
andina. Muito embora os portugueses houvessem se fixado em Rio Grande, por volta de
meados do século XVIII já não existiam esperanças entre lusitanas de fazer do Rio da Prata a
divisa sul do Brasil. Os espanhóis dominavam maior parte das regiões intermediárias com suas
bases de expansão em Montevidéu e Maldonado. Colônia do Sacramento estava isolada e
dificilmente poderia se tornar uma ponta de lança da ocupação portuguesa

Tratados mais importantes

1. Tratado de paz entre os Países Baixos e Portugal (06/agosto/1661)


 Firmado entre a Republica das Sete Províncias Unidas dos Países Baixos e Portugal na
Haia (Paz de Haia);
 Os holandeses reconheceram formalmente a perda de suas possessões no Nordeste
do
 Brasil e na costa ocidental africana (São Tome e Luanda), em troca de uma indenização
 de 4 milhões de cruzados, da devolução da sua artilharia, da cessão do Ceilão e das
ilhas Molucas, e de privilégios sobre o comercio açucareiro.

2. Tratado Provisional de Lisboa (07/maio/1681)


 Firmado entre Portugal e a Espanha;
 Devolvida a Portugal a Colônia do Sacramento (fundada por Portugal em
22/janeiro/1680 e conquistada pela Espanha em 07/agosto/1680).

3. Tratado Provisional e Suspensivo de Lisboa (04/março/1700)


 Firmado entre Portugal e a Franca;
 Declarou indefinida a posse das terras entre o Forte do Macapá e o rio Oiapoque (ou
 Vicente Pinzon);
 Estipulou a demolicao do Forte do Macapa e do Forte do Araguari, e a retirada de tudo o que
neles houvesse;
 Jamais foi cumprido formalmente pela Coroa portuguesa, em virtude de instruções
secretas em contrário, transmitidas ao Governo e Capitão General do Para, Fernão
Carrilho.

4. 1o Tratado de Utrecht (11/abril/1713)


 Firmado entre a Grande Aliança (Inglaterra, Holanda e Áustria) e a Franca (Luís XIV),
derrotada no contexto da Guerra de Sucessão Espanhola (1701-13). Pretendia
estabelecer um sistema político estável, baseado no equilíbrio de poder entre aquelas
potencias.
 Com o apoio da Inglaterra, Portugal (D. Joao V) obtém, pelo artigo VIII do Tratado, que
a Franca desista de suas pretensões as terras do Cabo Norte, e que o rio Oiapoque (ou
Vicente Pinzon) passe a ser fronteira entre a Guiana Francesa e do Brasil;
 A partir deste Tratado estreita-se a relação entre Portugal e a Inglaterra, em processo
idêntico ao que ocorrera entre a Espanha e a Franca. Deste modo, as nações ibéricas
conseguirão manter os respectivos domínios coloniais face a rivalidade anglo-francesa
durante todo o século XVIII, até o Congresso de Viena (1815).

5. 2o Tratado de Utrecht (06/fevereiro/1715)


 Firmado entre Portugal e a Espanha, encerrando o conflito luso-espanhol;
 A Espanha devolveu a Portugal a Colônia do Sacramento (reconquistada em 1705 pela
 Espanha).
 Armistício entre Portugal e a Espanha (02/setembro/1737).
 Firmado entre Portugal e a Espanha;
o Acordava o armistício entre as duas Coroas pela Colônia do Sacramento,
sitiada por forças espanholas desde 03/outubro/1735.

6. Tratado de Madri (13/janeiro/1750)


 Firmado entre Portugal (D. Joao V / Tomas da Silva Teles / Alexandre de Gusmão) e a
Espanha (D. Fernando VI / Carvajal e Lancaster / Maria Barbara de Braganca) parar
definir os limites entre as respectivas colônias sul-americanas;
 Sucedeu a Bula “Inter Coetera” (1493), o Tratado de Tordesilhas (1494), a Capitulação
de Saragoça (1529), o Tratado Provisional de Lisboa (1681), e o Tratado de Utrecht
(1715);
 Defendido pelo brasileiro Alexandre de Gusmão (o “avo” dos diplomatas brasileiros),
considerando que, além do Tratado de Tordesilhas nunca ter sido demarcado,
o As bandeiras de apresamento, especialmente durante a Uniao Ibérica (1580-
1640), e as de prospecção mineral, alargaram o território brasileiro além do
meridiano de Tordesilhas;
o A presença portuguesa na bacia do rio da Prata tornou-se ostensiva, a partir
do estabelecimento da Colônia do Sacramento (1680).
 Baseou-se no Mapa das Cortes, privilegiando a utilização de rios e montanhas para
demarcação dos limites;
 Consagrou o princípio do direito privado romano do “uti possidetis, ita possideatis”
(quem possui de fato, deve possuir de direito), delineando os contornos aproximados
do Brasil atual;
 Portugal entregava a Colônia do Sacramento a Espanha (art. XIII), recebendo os
territórios do Sul, pela linha de [Monte] Castilho Grande, as nascentes do rio Ibicui, as
Missões, a margem direita do rio Guaporé e cedendo os territórios ocidentais do rio
Japurá ao rio Amazonas e a navegação do rio Ica (art. XIV); em caso de guerra entre as
Coroas de Portugal e da Espanha, na Europa, os seus vassalos na América do Sul
permaneceriam em paz (art. XXI).

7. Tratado de El Pardo (12/fevereiro/1761)


 Firmado entre Portugal (D. Jose I) e a Espanha (D. Carlos III) durante o desenrolar da
Guerra dos Sete Anos (1756-1763);
 Contexto da celebração do “Pacto de Família” (15/agosto/1761), que uniu os Bourbon
da Franca, da Espanha, de Napoles e de Parma e acirrou a tensão entre Portugal e a
Espanha, levando a “Guerra Fantástica” ou “Guerra do Pacto de Família”;
 Face as dificuldades nos trabalhos de demarcação de limites – ao norte, na Amazonia,
e ao Sul, com a Guerra Guaranítica (1753-56), Portugal se recusou a tomar posse do
território conflagrado dos Sete Povos das Missões, e se negou a devolver a Colônia do
Sacramento a Espanha;
 Anulou as disposições do Tratado de Madri (1750), e deixou em suspenso as questões
de limites no Brasil.

8. Tratado de Paris (10/fevereiro/1763)


 Firmado entre a Inglaterra e a Franca, colocando fim a Guerra dos Setes Anos (1756-
63);
 A Franca cedeu a Inglaterra as terras do Canada, o vale do rio Ohio e a margem
esquerda do rio Mississipi, abdicando de qualquer pretensão na Índia;
 A Espanha cedeu a Inglaterra a Florida;
 Em virtude deste Tratado de Paz, Portugal recebeu de volta a Colônia do Sacramento,
conquistada pelos espanhóis desde 30/outubro/1762 (que, entretanto, permanecem
em posse de outras áreas no Rio Grande);

9. Tratado de San Ildefonso (1 de Outubro 1777)


 Firmado entre Portugal (D.Maria I) e a Espanha (Carlos III);
 A região da bacia do Prata, que na banda espanhola se mantivera como uma
dependência do Vice-Reino do Peru, a partir de 1776 e levada a Vice-Reino.Com isso,
até então dependente economicamente da rota de abastecimento do Pacifico
(Espanha via Panama, Oceano Pacifico e Chile), passa a utilizar a rota Atlantica para o
escoamento dos seus produtos (couros e charque). E nesse contexto que ocorre, em
1777, uma nova invasão espanhola que, sob o comando de D. Pedro de Cevallos,
destruiu as fortificações da Colônia do Sacramento, obstruindo o seu porto, e
conquistou a ilha de Santa Catarina (03/junho);
 Restabeleceu as linhas gerais do Tratado de Madri (1750) para a região Norte do Brasil;
na região Sul, onde a presença militar espanhola era mais forte, a Colônia do
Sacramento, o território das Missões e parte do atual Rio Grande do Sul foram cedidos
à Espanha, em troca da restituição da ilha de Santa Catarina a Portugal.

10. Tratado de Badajoz (05/junho/1801)


 Tratado de paz firmado entre Portugal (D.Maria I) e a Espanha, aliada a Franca;
 Contexto das Guerras Napoleônicas: Portugal e invadido por um exército espanhol,
aliado a Franca (“Guerra das Laranjas”);
 Acordou a paz entre Portugal e a Espanha, com cessação das hostilidades e evacuação
de tropas do território português, sob as seguintes condições: fechamento dos portos
portugueses a Inglaterra; a manutenção, pela Espanha, da praça-forte conquistada de
Olivença (1801), na Península Ibérica; na América do Sul, Portugal permaneceu em
poder dos territórios conquistados (as Missões e parte do atual Rio Grande do Sul),
fixando a fronteira sul do Brasil na linha Quarai-Jaguarão-Chuí. A Espanha continuou
na posse de Sacramento;
 Não ratificou o Tratado de Santo Ildefonso (1777), nem determinou restabelecer o
status quo ante bellum;
 Não ratificado pela Franca no prazo estipulado (art. IX), e substituído pelo Tratado de
Madri (29/09/1801), imposto por Napoleão de modo ainda mais contrário a Portugal;
 Tratado de Fontainebleau (1807) entre Franca e Espanha e a subsequente invasão
franco-espanhola a Portugal implicaram na anulação de Badajoz, ao violar a paz (art.
IV). Diante disso, d. Joao, no Rio de Janeiro, considera “nulos e de nenhum vigor” os
Tratados de Badajoz e Madri de 1801 e declara guerra a Franca em 1808, meses após
sua chegada, dando ordens para a invasão de Caiena.
 A soberania portuguesa sobre Olivença seria reconhecida pelo do Congresso de Viena,
mas a retirada espanhola nunca foi cumprida.

Cenário do último quartel do século XVIII

A economia brasileira se apresentava como uma constelação de sistemas em que


alguns se articulavam entre si e outros permaneciam isolados. Dois polos principais se
destacaram: a economia do açúcar e a do ouro. A partir disso, três principais centros
econômicos se interligavam
 Eixos interligados (frouxamente) através do Rio São Franscisco:
o Núcleo açucareiro: a este se articulava a pecuária sulina
o Núcleo mineiro: a este se articulava o interior da pecuária sulina, que
se estendia de São Paulo ao Rio Grande.
 Centro semi autônomo:
o Maranhão: articulava-se à região açucareira através da periferia
pecuária.
 Centro autônomo
o Pará: vivia exclusivamente da economia extrativa florestal organizada
pelos jesuítas com base da exploração da mão-de-obra indígena.

O único que conheceu efetiva prosperidade foi região do Maranhão dado a cuidadosa
atenção oferecida pelo governo português nos tempos do Marques de Pombal cujas criação de
uma companhia de comércio buscou financiar o desenvolvimento da região. A modificação do
mercado mundial de produtos tropicais ocasionada pelas guerras de independência dos EUA e
revolução industrial inglesa. O algodão era um produto tropical que crescia em intensidade
devido a demanda da crescente indústria têxtil inglesa. Em paralelo, o arroz também outro
produto visado por ser consumido principalmente no sul da Europa. A produção maranhense
encontrou condições adequada para se desenvolver e se capitalizar adequadamente. Com
exceção do núcleo maranhense, todo o resto da economia colonial atravessou uma etapa de
sérias restrições nas ultimas décadas do século
Ainda assim, um conjunto de fatores externos no começo do século XIX oferece a
colônia uma circunstancial prosperidade. Se juntou aos reflexos da guerra de independência
dos EUA sob a região maranhense os impactos da revolução francesa sobre as possessões
coloniais francesas – sobretudo com o colapso da economia açucareira nas Antilhas Francesas
proporcionado pela revolução haitiana. Além disso, somou-se as consequências das guerras
napoleônicas para a desarticulação do império colonial espanhol devido ao bloqueio e contra
bloqueio no continente Europeu. O valor das exportações de açúcar mais que duplicou no
período e a procura pelo algodão ao qual se dedicou a produção do nordeste, seguindo a
região do Maranhão. Todos os produtos da colônia se beneficiaram de elevações temporária
de preço. Uma prosperidade que, no entanto, era precária e dependente de condições
anormais do mercado mundial de produtos tropicais.

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