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CAPITANIAS NO BRASIL logo elevada a categoria de Estado do Maranhão e

Grão-Pará. Em 1654 a Capitania de Pernambuco


passou ao domínio da Coroa porque o seu quarto e
último donatário, Duarte Albuquerque Coelho,
tomara o partido da Espanha, contra Portugal, por
ocasião da Restauração Portuguesa de 1640.

No Extremo-Sul do país, pretendendo a Metrópole


levar os limites do Brasil ao Rio da Prata, fundou na
sua margem esquerda, em 1680, a Nova Colônia do
Santíssimo Sacramento. Contudo, não só a
demarcação de fronteiras, mas também a
exploração das minas deslocara o centro de
interesse econômico mais para o Sul, o que deu
causa, em 1709, à criação de nova Capitania da
Coroa, São Paulo e Minas do Ouro, em 1720 dividida
nas Capitanias de São Paulo e Minas Gerais.
Seguiram-se-lhes, pela mesma razão, a do Rio
Grande de São Pedro, em 1738; a de Goiás, em
1744; a de Mato Grosso, em 1748 e a de Santa
CAPITANIAS DA COROA Catarina, em 1760.
Também chamadas Capitanias Reais. (pertencentes
ao próprio Governo Português), resultaram do Em 1799, quando se iniciou o governo direto do
desmembramento ou da junção de Capitanias Príncipe-Regente D. João, as antigas Capitanias
Hereditárias, por necessidade administrativa ou por Hereditárias, por abandono, compra ou confisco já
abandono dos primitivos donatários, incapazes de se tinham incorporado aos domínios da Coroa,
conter os reiterados ataques dos selvagens e de portanto, naquele fim de centúria, extinto também o
corsários franceses, quase sempre aliados dos Estado do Maranhão eram as seguintes as divisões
naturais da terra. Foram estas as Capitanias da territoriais do Brasil:
Coroa, criadas ainda no século XVI:
Capitanias Gerais
1. Bahia de Todos os Santos, escolhida para sede 1) Grão-Pará; 2) Maranhão; 3) Pernambuco; 4)
do governo-geral. Em 1576 Manuel Coutinho, Bahia de Todos os Santos; 5) Minas Gerais; 6)
herdeiro do primeiro donatário, cedeu-a à Coroa por Goiás; 7) Mato Grosso; 8) Rio de Janeiro; 9) São
um padrão de juros de quatrocentos mil-réis. Paulo.

2. São Sebastião do Rio de Janeiro, composta de Capitanias Subalternas:


terras conquistadas aos franceses e tamoios, e 1) São José do Rio Negro; 2) Piauí; 3) Ceará
antes pertencentes à Capitania Hereditária de São (autônoma a partir de 1799; 4) Rio Grande do Norte;
Vicente. 5) Paraíba (também autônoma a partir de 1799); 6)
Espírito Santo; 7) Santa Catarina; 8) Rio Grande de
3. Paraíba, composta de terras pertencentes às São Pedro (elevada em 1807 a Capitania Geral com
Capitanias Hereditárias do Rio Grande e de o nome de São Pedro do Rio Grande).
Itamaracá, igualmente conquistadas aos selvagens,
frequentemente auxiliados pelos franceses nas lutas Após a chegada do Príncipe-Regente D. João ao Rio
contra os luso-brasileiros. Situada em zona de Janeiro, ganharam autonomia as Capitanias do
abandonada pelo; primitivos donatários, sua Espírito Santo, Piauí, Rio Grande do Norte e Santa
conquista ultimou- se no governo de Manuel Barreto. Catarina. Mais tarde, elevado o Brasil a categoria de
Reino Unido aos de Portugal e Algarve, fundaram-se
4. Rio Grande, formada de terras também mais duas Capitanias Hereditárias: Alagoas e
conquistadas aos selvagens e franceses, e antes Sergipe d"El Rei. A Capitania de São José do Rio
pertencentes às Capitanias Hereditárias do Negro foi depois suprimida e restaurada como
Maranhão (lª e 2ª), do Ceará e do Rio Grande, Província do Amazonas, criando-se também , por
abandonadas pelos primitivos donatários. Sua essa época, a Província do Paraná. A divisão
conquista ultimou-se no governo de D. Francisco de administrativa do período colonial, pouco modificada
Sousa, o último do século XVI. no Império, acrescentar-se-iam, na República, os
Territórios e Distrito Federal, bem assim os estados
CAPITANIAS DA COROA NOS SÉCULOS XVII e do Acre e da Guanabara.
XVIII
Durante o século XVI tinham-se criado no Brasil CAPITANIAS HEREDITÁRIAS
quatro Capitanias da Coroa: Bahia de Todos os Em setembro de 1532 D. João III mandou carta a
Santos, São Sebastião do Rio de Janeiro, Paraíba e Martim Afonso de Sousa, em que lhe comunicava
Rio Grande. Em princípios do século XVII fundaram- decisão de dividir a nova terra em tema colonial que
se mais três Capitanias Reais: Ceará, Maranhão,
consistia dividir as extensas porções de terra em
Capitania, sistema colonial que consisti na doação Destarte, por Capitanias Hereditárias
de terras a particulares,ilustres marinheiros e verdadeiramente se entendem as que D. João III
grandes soldados, fidalgos da Casa Real e altos instituiu entre 1534 e 1536, em execução ao plano
funcionários do Reino, dispostos a correr riscos da que anunciara a Martim Afonso de Sousa em 1532.
empresa colonizadora. Nos seus 'Capítulos de História Colonial' resume
"Quando se fala em doação, escreve Pombo, parece assim as disposições das cartas de doação pelas
realmente que se tratam de propriedade territorial; e quais se instituíram as Capitanias Hereditárias no
não é isso; o que se fazia. Não é a terra que o Brasil: “Os donatários seriam de juro e herdade
soberano doava, mas o benefício, uma parte do senhores de suas terras, teriam jurisdição civil e
usufruto apenas. E tanto assim que, na própria carta criminal, com alçada até cem mil-réis na primeira,
de doação, concedia também o rei, mediante certas com alçada no crime até morte natural para
condições, um pequeno prazo de terras ao escravos, índios, peões e homens livres, para
donatário; e estas, sim, como propriedade plena, pessoas de mor qualidade até dez anos de degredo
imediata e pessoal" A adoção do novo regime ou cem cruzados de pena; na heresia (se o herege
decorria de motivos ponderáveis: Portugal, país fosse entregue pelo eclesiástico), traição, sodomia,
pequeno e pobre, achava-se exaurido. Diz Pedro a alçada iria até morte natural, qualquer que fosse a
Calmon: “Era negra a situação financeira de D. João qualidade do réu, dando-se apelação ou agravo
III, atenazado pela desvalorização das especiarias, somente se a pena não fosse capital. Os donatários
pelos infortúnios da Índia, pelos gastos do Estado e podiam fundar vilas, com termo, jurisdição, insígnias,
incessante aumento de sua responsabilidade de ao longo das costas e rios navegáveis; seriam
além-mar, no trágico e longínquo Oriente" Por outro senhores das ilhas adjacentes até distância de dez
lado, continuava o contrabando aberto de pau-brasil, léguas da costa; os ouvidores, os tabeliães do
especialmente pelos franceses, que mostravam público e judicial seriam nomeados pelos respectivos
cada vez mais ousados a ponto de estabelecerem donatários, que poderiam livremente dar terras de
companhias para maior segurança de suas sesmarias. exceto à própria mulher ou ao filho
operações organizando-se inclusive, para herdeiro. Para os donatários poderem sustentar seu
resistência armada: basta lembrar que em março de estado e a lei de nobreza, eram-lhes concedidas dez
1532 a Feitoria portuguesa de Pernambuco fora léguas de terra ao longo da costa, de um a outro
atacada e tomada pelos tripulantes da nau Le extremo da Capitania, livres ou isentas de qualquer
Pèlerine, que a substituíram por um fortim bem direito ou tributo exceto o dizimo, distribuídas em
guarnecido (este fortim fora depois,retomados pelos quatro ou cinco lotes, de modo a intercalar-se entre
portugueses, quando um ataque de Pêro Lopes de um e outro pelo menos a distância de duas léguas: a
Sousa, que teria condenado a morte vinte e um dos redízima (1/10 da dízima) das rendas pertencentes à
seus defensores e levando trinta prisioneiros. Tudo Coroa e ao Mestrado (da Ordem de Cristo); a vintena
somado,mais o desejo que tinha D. João III de do pau-brasil (declarado monopólio real, como as
propagar a fé católica em terras habitadas por especiarias), depois de forro de todas as despesas;
indígenas, a solução aparente eram as Donatarias, a dizima do quinto pago à Coroa, por qualquer sorte
que assim também se chamavam as Capitanias de pedraria, pérolas, aljôfares, ouro, prata, coral,
Hereditárias. Não era novo o sistema: usara-o cobre, estanho, chumbo ou outra qualquer espécie
Portugal no povoamento das ilhas desertas do de metal; todas as moendas d’água,marinhas de sal
Oceano Atlântico, descobertas durante o século XV: e quaisquer outros engenhos de qualquer qualidade
Madeira, Porto Santo, Açores, Cabo Verde e São que na Capitania e governança se viessem a fazer;
Tomé; e mesmo no Brasil já se ensaiara o regime, as pensões pagas pelos tabeliães; o preço das
quando, em 1504,D. Manuel I doara a Ilha de São passagens dos barcos nos rios que pedissem; certo
João, ou da Quaresma, ao armador Fernão de número de escravos que poderiam ser vendidos no
Noronha, ou Loronha, cujo nome, depois Reino, livres de todos os direitos; a redizima dos
modernizado para Fernando de Noronha prevaleceu direitos pagos pelos gêneros exportados etc".
na designação do arquipélago situado a 50 léguas
das costas do país. Em 1522 o próprio D. João III Quanto aos forais que acompanhavam as cartas de
confirmara a doação, “a fim de que o donatário na doação, diz ainda Capistrano de Abreu: “Os forais
ilha lançasse gado e a rompesse e aproveitasse, asseguravam aos solarengos: sesmarias com a
segundo lhe aprouvesse, obrigando-se ao tributo do imposição única do dízimo pago ao Mestrado de
quarto e dízimo”. Essa foi, na verdade, a primeira Cristo; permissão de explorar as minas, salvo o
Capitania Hereditária no Brasil; tanto que em 1559 a quinto real; aproveitamento do pau-brasil dentro do
Regente D. Catarina, governante de Portugal na próprio pais; liberdade de exportação para o Reino,
menoridade de D. Sebastião, confirmou a doação em exceto de escravos, limitados a numero certo, e
favor de outro Fernão de Noronha, neto do primeiro. certas drogas defesas (pau-brasil, especiarias, etc.);
Contudo, esclarece Varnhagen, seus donatários não direitos preferenciais que os protegeriam da
mandaram colonos, nem inverteram na ilha concorrência estrangeira; entrada livre de
cabedais, porquanto, anos depois estava deserta, mantimentos, armas, artilharia, pólvora, salitre,
somente no século XVII aparecendo notícias de seu enxofre, chumbo e quaisquer coisas de munições de
povoamento”.
guerra; liberdade de comunicação entre umas e 14. Santana, do 40 léguas, da Ilha do Mel até 28°20'
outras Capitanias do Brasil.” da latitude sul, nas alturas de Laguna, também
doada a Pêro Lopes de Sousa.
Criaram-se no Brasil 14 Capitanias Hereditárias,
divididas em 15 lotes que se distribuíram a 12 Além dessas quinze, mais três pequenas donatarias
donatários. Ao longo do litoral, entre os atuais foram criadas no século XVI: Ilha da Trindade, ao
Estados do Maranhão e Santa Catarina, assim se largo da costa do Espírito Santo, doada, em 1539, a
repartiu o país: Belchior Camacho. Ilha de Itaparica, sesmaria na
Capitania da Bahia de Todos os Santos,
1. Primeira do Maranhão, de 50 léguas de costa, transformada, em 1556, em Donataria concedida a
entre a Abra de Diogo Leite e o Cabo de Todos os D. Antônio de Ataíde, l° Conde da Castanheira.
Santos, doada a Aires da Cunha, que se associou ao Peroaçu, Paraguaçu ou Recôncavo da Bahia, antes
escritor João de Barros. sesmaria na Bahia de Todos os Santos, doada, em
1556, a D. Álvaro da Costa, como prêmio pelos seus
2. Segunda do Maranhão, de 75 léguas, entre o esforços nas lutas contra os indígenas.
Cabo de Todos os Santos e o Rio da Cruz (hoje
Camocim), concedida a Fernando Álvares de À exceção de São Vicente e Pernambuco, não
Andrade. alcançaram êxito as Capitanias em geral, sendo que
em alguns lotes então distribuídos não houve sequer
3. Ceará, de 40 léguas, entre o Rio da Cruz e a Angra começo de povoamento. Não obstante, em várias
dos Negros, doada a Antônio Cardoso de Barros. delas se fundaram vilas e povoados que
contribuíram, de modo mais ou menos eficaz, para o
4. Rio Grande, de 100 léguas, entre a Angra dos malogro das tentativas de invasão do território por
Negros e a Baía da Traição, também concedida a piratas estrangeiros. Quase que invariavelmente
João de Barros. atenazados pela falta de recursos materiais para um
trabalho contínuo e demorado; carecendo dos meios
5. Itamaracá, de 30 léguas, entre a Baía da Traição indispensáveis para combater eficazmente a
e o Rio Iguaçu, doada a Pêro Lopes de Sousa. pirataria estrangeira, a hostilidade dos índios e a
ação dos criminosos favorecidos pelo direito de
6. Pernambuco, também chamada Nova Lusitânia, homizio (quando alguém cometia um delito numa
de 60 léguas, entre os Rios Igaraçu e São Francisco, Capitania, não podia ser preso numa outra, para
outorgada a Duarte Coelho. onde fugisse), ainda assim conseguiram os
donatários proporcionar ao futuro país, além de um
7. Bahia de Todos os Santos, de 50 léguas, entre o princípio de defesa do território, a base da sua
Rio São Francisco e a Ponta do Padrão, doada a população agropecuária pelo povoamento com
Francisco Pereira Coutinho. sesmeiros, e a riqueza econômica da indústria
açucareira. Escreve Rocha Pombo: “Decerto que
8. Ilhéus, de 50 léguas, entre a Bahia de Todos os nem todos puderam levar com igual fortuna a sua
Santos e o Rio Santo Antonio, doada a Jorge de tarefa. Mas nenhum deles deixou por si mesmo ou
Figueiredo Correia. por preposto) de tomar muito a sério a sua obra na
América. Muitos, como Duarte Coelho, Pêro de Gois,
9. Porto Seguro, de 50 léguas de costa, entre os Rios Pêro de Campo e outros, entravam aqui de alma
Santo Antonio e Mucuri, concedida a Pêro do Campo aberta, num vivo entusiasmo pela terra. Outros,
Tourinho. como Francisco Pereira Coutinho, Vasco Fernandes
Coutinho, Aires da Cunha, tiveram a pagar com o
10. Espírito Santo, de 50 léguas, entre os Rios sacrifício da própria vida aquela temeridade de vir
Mucuri e Itapemirim, outorgada a Vasco Fernandes para aqui afrontando tão desabridamente o destino.
Coutinho.
É justo, pois, que recordemos hoje aqueles heróis,
11. São Tomé, do. 30 léguas entre os baixos dos que ficaram na obscuridade do seu papel, e quantas
Pargos (Itapemirim) e Rio Macaé, doada a Pêro de vêzes do infortúnio, sem uma lembrança que vale
Góis. por eles na terra, que foram os primeiros a desbravar
para as multidões que depois vieram.” Vigentes no
12. São Vicente, de 100 léguas de costa em dois Brasil durante dois séculos e meio, até sua total
lotes: o primeiro, entre os Rios Macaé e Curupacé ou extinção, devida ao Ministro Marquês de Pombal, as
Juqueriquerê com 55 léguas; o segundo, do Rio de Capitanias Hereditárias tiveram sua
São Vicente à Ilha do Mel, à entrada da Baia de complementação no regime do governo-geral, criado
Paranaguá, com 45 léguas, doada á Martim Afonso por D.João III, em 1548.
de Sousa.
Bahia de Todos os Santos.
13. Santo Amaro, de 10 léguas, encravada na Quando Francisco Pereira Coutinho chegou à sua
Capitania anterior, entre os Rios Curupacé e de São Donataria ali encontrou uma verdadeira colônia de
Vicente, concedida a Pêro Lopes de Sousa. portugueses e espanhóis, que viviam em perfeitas
relações com os indígenas, todos sob o ascendência sucessão foi nomeado governador-geral e até
de Diogo Álvares Correia, o Caramuru. chegou a embarcar rumo ao Brasil em 1588, mas
Estabelecendo-se na povoação já fundada, erigiu-a aqui não chegou a desembarcar. Sempre
Pereira Coutinho em vila e capital da Donataria, administrada por prepostos dos titulares, não
espalhando-se em colonos pelas vizinhanças. obstante progrediu relativamente bem: fornecia
Durante seis anos tudo andou bem: aplicaram-se os farinha de mandioca e gado à capital, sendo também
moradores ao trabalho, fundaram-se engenhos, boa produtora de açúcar. Sua principal povoação era
desenvolveu-se a cultura da cana-de-açúcar, a do São Jorge dos Ilhéus.
algodão, a do tabaco e de outros gêneros; cresceu o
numero de imigrantes e ampliou-se o povoamento, Itamaracá.
explorando-se aquela parte do litoral até quase o Embora donatário de três Capitanias, Itamaracá,
sertão. Mas, passados os primeiros tempos, Santo Amaro e Santana, não cuidou Pêro Lopes de
dissenções entre os colonos e lutas contra os Sousa de nenhuma delas, pois faleceu em naufrágio
indígenas forçaram o capitão-mor com sua gente a nas costas africanas. Cabendo à sua viúva Isabel de
fugir para as Capitanias de Ilhéus e Porto Seguro. Gamboa, providenciar a respeito. Nomeou ela para
Cerca de um ano depois, julgando pacificados os Itamaracá um lugar-tenente, João Gonçalves, que
ânimos, lá foi buscá-los o Caramuru; de volta à logo entrou em dissensões com Duarte Coelho,
Bahia, naufragou o navio em que viajava Coutinho e donatário de Pernambuco. Progrediu com alguns
a sua comitiva; sobrevivendo ao naufrágio, engenhos de açúcar e teve povoação um tanto
recolheram-se à Ilha de Itaparica e ali foram mortos florescente, a Vila da Conceição (hoje
pelos selvagens (1547). No ano seguinte D. João III desaparecida), ao sul da Ilha de Itamaracá, que deu
escolheu essa Capitania para sede do governo- nome à Capitania.
geral, dada a sua posição quase central na costa
brasileira; e em 1576 o herdeiro natural, Manuel Maranhão (1ª) e (2ª).
Coutinho, cedeu-a definitivamente à Coroa por um Liga-se a sorte desta Capitania à do Maranhão (2ª)
padrão de juros de 400$000. e à do Rio Grande. Associando-se os seus
donatários, Aires da Cunha e João de Barros (que
Ceará. recebera também a do Rio Grande) ao donatário da
No decurso do século XVI não houve ensaios de segunda do Maranhão, Fernando Álvares de
colonização nesta Capitania. Seu donatário, Antônio Andrade, organizaram eles uma expedição de 10
Cardoso de Barros, só veio ao Brasil em 1549, na navios e 900 homens, que, sob o comando de Aires
companhia do primeiro governador, Tomé de Sousa. da Cunha veio ao Brasil em 1535. Tocou em
Viajando para a Metrópole em 1556, no mesmo Pernambuco, onde recebeu auxílio de Duarte
navio em que ia D. Pêro Fernandes Sardinha, com Coelho, velejando depois para o Norte; atingindo
este foi morto pelos caetés, quando do naufrágio que Aires da Cunha as costas do Rio Grande do Norte,
sofreram na costa alagoana. que constituía o seu lote juntamente com João de
Barros, encontrou forte oposição dos potiguares, que
Espírito Santo. ali se tinham aliado a franceses contrabandistas de
Vasco Fernandes Coutinho chegou a fundar duas pau-brasil. Resolveu então tentar melhor sorte,
vilas na sua Capitania: Espírito Santo (depois dirigindo-se a terras do terceiro sócio, Fernando
chamada Vila Velha) e Nossa Senhora da Vitória, Álvares de Andrade, mas naufragou e pereceu com
nas quais montou engenhos de açúcar e deu outras toda a tripulação. Em 1554 Luís de Melo da Silva de
providências para a continuidade da colonização. novo tentou o povoamento do Maranhão, mas
Contudo, logo entrou em sérias dissensões com o fracassou. Abandonada pelos portugueses, nela
principal dos sesmeiros, Duarte de Lemos, como na do Rio Grande andaram os franceses a
agravadas por ferozes ataques de índios. pilhar com desenvoltura, fato que determinou a
Desanimado, transferiu o senhorio a um seu filho e conquista oficial de ambas as donatarias no século
homônimo, que por sua vez o deixou à sua mãe, seguinte.
viúva do primeiro donatário, Luísa Grinalda ou
Grimaldi; também esta se retirou logo para a Pernambuco ou Nova Lusitânia.
Metrópole, ficando na Donataria o Capitão Miguel de Duarte Coelho chegou à sua Capitania em março de
Azeredo. De Vasco Fernandes Coutinho diz o 1535, ali encontrando uns começos de povoação no
historiador Frei Vicente do Salvador que morreu Porto dos Marcos e em Igaraçu. Instalou-se
pobremente em Lisboa, sem “um lençol seu em que primeiramente neste segundo núcleo; depois,
o amortalhassem”. procurando local mais aprazível e seguro para se
estabelecer definitivamente, atingiu, perto da entrada
Ilhéus. ou barra do Pernambuco, uma colina a que os índios
Jorge de Figueiredo Correia não cuidou davam o nome de Marim, ou Mair-i, que significa,
pessoalmente de sua Capitania, nem o fez um seu segundo Varnhagen, água ou rio dos franceses, e
filho homônimo; outro filho e herdeiro, Jerônimo isto indica que foram eles que ali primeiramente se
Figueiredo de Alarcão, vendeu-a ao antigo sesmeiro estabeleceram. Desalojando os índios aldeados
Lucas Giraldes, comerciante italiano de Lisboa, cujo naquelas terras, no que teria sido auxiliado por um
filho, Francisco, quinto donatário por ordem de certo Vasco Lucena, português que, como o
Caramuru, desde muito vivia entre os selvagens, pau-brasil, contudo, logo entrou em atrito com os
mandou edificar uma praça forte, capela e outros colonos, que o prenderam e remeteram a Portugal,
edifícios, bem assim casario para os colonos. Diz sob a acusação de heresia, seu herdeiro, de nome
Rocha Pombo: “Com muita solicitude empenhou-se Fernão, passou a Capitania à irmã, Leonor, que a
Duarte Coelho em organizar a colônia, instituindo vendeu a D.João de Lencastre, l° Duque de Aveiro.
uma ordem perfeita nas duas povoações (a de Marim Continuamente atacada pelos aimorés, ali só se
e a de Igaraçu, onde deixara uma guarnição), e pode manter a Vila de Porto Seguro, sede da
regulando principalmente a vida econômica da Donataria e ponto de partida das primeiras entradas
Capitania. Todo o seu cuidado consistiu em formar a que se dirigiram ao sertão brasileiro. Seu último
propriedade agrária, e em prescrever certas regras donatário foi D. Pedro Dinis de Lencastre.
especiais para as relações entre os moradores.
Criou o tombamento das terras, e o registro civil das Santana.
famílias e dos indivíduos que entrassem na Pertencente o benefício desta Capitania aos
Capitania com ânimo de nela estabelecer-se, e para donatários da de Itamaracá, permaneceram suas
isso instalando um edifício especial, a cargo do terras abandonadas até fins do século XVI.
próprio almoxarifado régio, a fim de que as notas e
certificados valessem no Reino. Organizou as Santo Amaro.
justiças; proveu à administração local, criando Por estar encravada na de São Vicente, prosperou
almotacerias, e dando regimentos para todos os um pouco esta Capitania, cujos donatários foram os
serviços, e superintendendo ele próprio, com mesmos da de Itamaracá e Santana.
prudência e discernimento, a tudo quanto
interessasse à vitalidade das suas povoações.” Em São Tomé.
1537 a povoação de Marim foi constituída O Donatário Pêro de Góis, antigo companheiro de
oficialmente em vila, com o nome de Olinda, Martim Afonso de Sousa e morador de São Vicente,
proveniente, segundo Frei Vicente do Salvador, da fundou a Vila da Rainha junto ao Rio Managé
exclamação de “um galego, criado de Duarte Coelho, (atualmente Itabapoana), posteriormente atacada e
porque, andando com outros por entre o mato, completamente destruída pelos goitacases. Em 12-
buscando o sítio onde se edificasse, achando este, 5-1548 Luís de Góis, irmão do donatário, escrevia ao
que é um monte alto, disse com exclamação e Rei D. João III: “Senhor, se com tempo e brevidade
alegria: “Ó linda!” . O filólogo Leite de Vasconcelos V.A. não socorre a estas Capitanias e costas do
diz que Olinda provém do árabe 'Al-hind', que apenas Brasil, ainda que nós percamos as vidas e fazendas,
significa a espada. Em princípios do século XVI já V.A. perderá a terra... Socorra V. A., e com braço
havia em Portugal um lugar chamado Olinda, donde forte, que tudo há mister, e se não mover a terra e os
certamente se originou o nome da antiga capital inconvenientes acima ditos, haja V.A. piedade de
pernambucana. Fundada Olinda, progrediu muitas almas cristãs.” O segundo donatário desta
rapidamente a colônia, tomando largo incremento a Capitania, Gil de Góis, filho do primeiro, despendeu
lavoura e a criação de gado; em poucos anos se inúteis esforços para estabelecer nova povoação,
desenvolveu a cultura do fumo, do algodão e a em Pargo.
indústria do açúcar, artigos desde logo exportados
para o Reino e para as outras capitanias. Tendo São Vicente.
ampliado o povoamento e praticamente explorado Embora sem a presença do seu donatário, Martim
todas as riquezas da Capitania, retornou Duarte Afonso de Sousa, e governada por prepostos
Coelho à Europa (morreu em Lisboa, em 1554), tomados por sua mulher e procuradora, Ana
deixando aqui como lugar-tenente um seu cunhado, Pimentel, progrediu consideravelmente, no início,
Jerônimo de Albuquerque, e levando todos os filhos, esta Capitania. A partir do engenho de açúcar
Duarte e Jorge, nascidos já no Brasil. Da Capitania construído por Martim Afonso quando da expedição
de Pernambuco ou Nova Lusitânia diz Helio Vianna: colonizadora de 1530-1532 (engenho denominado
“Favorecida pela maior proximidade da Europa; do Senhor Governador, depois dos Armadores e
possuindo muito pau-brasil nas matas litorâneas e afinal de São Jorge dos Erasmos, por ter passado à
excelentes terras adaptáveis ao cultivo da cana-de- posse de um rico alemão de nome Erasmo Schetz),
açúcar; beneficiada, acima de tudo, por donatários e cresceu a povoação com a montagem de outros
povoadores à alma de sua missão de pioneiros, foi a engenhos por novos colonos, que iam fundando
capitania de Pernambuco a mais importante do núcleos de povoamento em vários pontos do litoral e
Brasil, durante o século XVI.” Com efeito, ao findar o do planalto, entre os quais Todos os Santos, ou
século XVI, Pernambuco contava com mais de 60 simplesmente Santos, fundado por Brás Cubas,
engenhos e vivia intensamente a importante fase da antigo companheiro de Martim Afonso e fundador da
História do Brasil conhecida por Ciclo do Açúcar. primeira Casa de Misericórdia do Brasil e talvez da
América. Assim descreve Frei Gaspar da Madre de
Porto Seguro. Deus a fundação de Santos: “ ...com esmolas e
O Donatário Pêro do Campo Tourinho era um rico adjutórios dos confrades, edificou uma igreja com o
proprietário em Viana e quando veio para o Brasil título de Nossa Senhora da Misericórdia, e junto a ela
trouxe todos os seus haveres, a família e muitos um hospital com o apelido de Santos, à imitação de
colonos. Plantou cana, (construiu engenhos e cortou outro que, em Lisboa, tinha o mesmo nome. Este
título, que somente era próprio do hospital, depressa
se comunicou à povoação e, daí por diante, entraram 3. Nossa Senhora da Conceição de Itanhaém.
a chamar-lhe Porto de Santos” , e, depois, Situada ao sul de São Vicente, resultou de uma
simplesmente Santos. Seguiram-se-lhe Santo André questão judicial entre os herdeiros de Martim Afonso
da Borda do Campo, São Paulo do Campo de de Sousa. Primeiramente, teve o seu beneficio a
Piratininga, Nossa Senhora da Conceição de Condessa de Vimieiro, D. Mariana de Sousa da
Itanhaém e Iguape, Ilha Grande de Angra dos Reis, Guerra.
não obstante os continuados ataques dos índios
instigados pelos franceses, e os quais ocorreram até 4. Nossa Senhora do Rosário de Paranaguá,
cerca de 1570; os guaianases perturbaram diversas resultante da mesma questão judicial, levantada pelo
vezes a vida de São Paulo, que incorporou os l° Marquês de Cascais, herdeiro das Capitanias de
moradores de Santo André; e ante a séria ameaça Santana, São Vicente e Itamaracá.
dos tamoios, Nóbrega e Anchieta tiveram de
pacificá-los em Iperoig, hoje Ubatuba. Nos seus 5. Ilha de Santa Catarina, concedida por D. Afonso
primórdios, sofrerá a Capitania um ataque dos VI, em 1664, a Agostinho Barbalho Bezerra e da qual
espanhóis de Iguape, que chegaram a saquear São também não se conhecem providências
Vicente, mas foram afinal repelidos por forças do administrativas.
comando de Pêro de Góis e Francisco Pinto.
Posteriormente, também corsários ingleses 6. Rio da Prata, lote na foz do Rio da Prata, para o
atacaram os portos vicentinos: Eduardo Fenton, em norte, concedido também a descendentes de
1583; Cavendish, entre 1591 e 1592. A Capitania de Salvador Correia de Sá, sem nenhum resultado
São Vicente, segundo observa Almeida Prado, “ prático.
divergiu desde os seus primórdios das demais do
Brasil, pelo fato de dirigir os seus filhos para o interior No Estado do Maranhão
da colônia, ao invés de medrar na orla costeira
dependente do oceano”. Realmente, a descoberta 1. Cumá ou Cumã, também chamada Tapuitapera e
de ouro de lavagem na Capitania, e a crescente situada nos limites de São Luís; tinha sede na Vila
importância das bandeiras de caça ao índio fariam, de Alcântara e foi doada a Antônio Coelho de
de São Vicente, a entrada principal do Sul, do Oeste Carvalho.
e do Centro da Colônia, ainda desconhecidos.
Falecendo Martim Afonso de Sousa em 1571, 2. Caeté ou Gurupi, entre os Rios Turiaçu e Caeté,
herdou a Capitania seu filho Pêro Lopes de Sousa, em terras dos atuais estados do Maranhão e Pará,
que morreu em lutas contra os mouros na Península. concedida a Álvaro de Sousa.
O terceiro donatário foi Lopo de Sousa, também
herdeiro de Itamaracá, Santo Amaro e Santana. 3. Cametá ou Camutá, situada à margens do Rio
Tocantins e doada a Feliciano Coelho de Carvalho.
CAPITANIAS HEREDITÁRIAS NOS SÉCULOS
XVII e XVIII 4. Cabo do Norte, em terras pertencentes ao atual
Ao terminar o século XVI existiam no Brasil apenas Território Federal do Amapá, concedida, em 1637, a
onze Capitanias Hereditárias: Fernando de Noronha, Bento Maciel Parente.
Itamaracá, Pernambuco ou Nova Lusitânia,
Paraguaçu ou Recôncavo da Bahia, Itaparica, Ilhéus, 5. Ilha Grande de Joanes ou Marajó, doada a Antônio
Porto Seguro, Espirito Santo, São Tomé, São de Sousa de Macedo.
Vicente e Santo Amaro, incluindo as terras de
Santana,ainda despovoadas. No século XVII dividiu- 6. Xingu, à margem direita do rio deste nome, doada
se o país em dois Estados: o Estado do Brasil por D.Pedro II, em 1685, a Gaspar de Abreu de
propriamente dito, e o Estado do Maranhão, com Freitas, que a destinou ao seu filho Luís; porém, sem
governo separado. Em ambos esses Estados nenhum resultado prático.
criaram-se então mais doze Capitanias Hereditárias,
assim distribuídas: No século XVIII, por determinação de D. João V e do
Marquês de Pombal não mais se concederam
No Estado do Brasil Capitanias Hereditárias; e por compra, abandono ou
1. Rio Grande (atual Rio Grande do Norte), que até confisco, extinguiram-se as ainda existentes. São
fins do século XVI fora Capitania da Coroa; Vicente, Santo Amaro e Nossa Senhora do Rosário
concedida a Francisco Barreto, que a destinara à sua de Paranaguá, anexas também as terras de
filha com o título de condado; não se conhece Santana, foram adquiridas pela Coroa ao 2º Marquês
nenhuma providência administrativa tomada pelo de Cascais: a transferência, iniciada em 1701)
donatário. (quando D. João V ali criou a nova Capitania Real de
São Paulo e Minas do Ouro), ultimou-se em 1711,
2. Campos dos Goitacases. Composta de terras mediante o pagamento de 44.000 cruzados ao
antes pertencentes à Capitania de São Tomé, então donatário.
extinta; dividida em dois lotes, foi concedida a
descendentes de Salvador Correia de Sá.
Pernambuco passou ao domínio da Coroa em 1654,
por ter o seu quarto e último donatário, Duarte de
Albuquerque Coelho, tomado o partido da Espanha,
contra Portugal, quando da restauração portuguesa
de 1640.

A Capitania do do Espírito Santo passou ao domínio


da Coroa em 1718, mediante o pagamento de
40.000 cruzados ao seu ultimo titular, Cosme Rolim
de Moura.

Fernando de Noronha reverteu à Coroa no reinado


de D. João V, e a Capitania de Porto Seguro foi
confiscada ao último Duque de Aveiro, acusado de
tentativa de regicídio.

As demais foram adquiridas pela Coroa aos seus


respectivos titulares e posteriormente incorporadas a
territórios de Capitanias Reais já existentes: Ilha de
Joanes, ou Marajó, comprada a Luís de Sousa
Macedo, 3º Barão da Ilha Grande de Joanes;
Cametá e Cumã ou Tapuitapera, adquiridas ao
Donatário Francisco de Albuquerque Coelho de
Carvalho; Caeté ou Gurupi, vendida à Coroa pelo
Porteiro-Mor Manuel Antônio de Sousa e Melo;
Itamaracá e Itaparica, obtidas ao 2º Marquês de
Louriçal, descendente dos Marqueses de Cascais;
Paraguaçu ou Recôncavo da Bahia, adquirida ao
Armeiro-Mor D. José da Costa e Sousa; Ilhéus,
obtida de D. Antônio José de Castro; Campos dos
Goitacases, adquirida ao 4° Visconde de Asseca;
Nossa Senhora da Conceição de Itanhaém, vendida
pelo 5° Conde da Ilha do Príncipe.

Texto organizado pelo Departamento Editorial das


Edições Melhoramentos com redação de Brasil
Bandecchi, Leonardo Arroyo e Ubiratan Rosa em
"Novo Dicionário de História do Brasil", Editora
Melhoramentos, São Paulo, 1970, excertos pp.135-
143. Digitalizado, adaptado e ilustrado por Leopoldo
Costa.

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