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Eduardo Maia
Giovana Medeiros
Larissa Alvarez
Mateus Andrade
Pedro Gayoso
Janeiro, a qual saíra fortalecida após o processo da abdicação do Imperador e “que não
encontrava opositores, tão esmagadora sua maioria”. Não obstante tal cenário, pouco mais
adiante também começaram os trabalhos para definir a competência de uma regência
permanente, visto que pela maneira que se organizara a provisória, convencia a todos que esta
era inconstitucional.
Não obstante, o cenário regencial é composto de um fato não tão mencionado e nem
tanto levado em consideração quando se pensa a política do Império. Calógeras dá a tal fator o
aspecto de uma revolução, menos de caráter material, como ele aponta na de sete de abril, mas
sim moral. Tinha a configuração de um espírito liberal, que não conseguia ter meio de se
realizar, e o seu principal mecanismo foi a própria legislatura brasileira, sobretudo a partir de
1830. Foi com ela que mudaram os espíritos e através de suas leis que se fez o quanto pode
em favor da liberdade no Brasil. Na visão de Calógeras, o Brasil ficou organizado, no que
tange seus poderes, de forma mais democrática e federalmente; o que nos permite concluir
que a própria experiência da Regência tenha sido o momento mais liberal de todo o Império,
ou até mesmo o seu único momento no qual é possível observar uma configuração mais
liberal.
Tanto foi assim que ficou evidente a forte influência liberal no sentido de adotar uma
postura de federação, diante daqueles que não admitiam reformas descentralizadoras e
exaltados que queriam reduzir ao mínimo o poder central, ao se alargar amplamente as
franquias provinciais. Ademais, no aspecto internacional, tal espírito liberal apontado pelo
autor foi também evidente, na medida em que agora era de suma importância a contribuição
do Parlamento para se celebrar tratados e convenções. No artigo 20 da nova lei definidora da
competência dos Regentes, de 1831, estava disposta a necessidade de aprovação da
Assembleia Geral para tanto ratificar tratados e convenções quanto para, inclusive, declarar
guerra. Todos os atos internacionais passam a ser, até certo ponto, medidas legislativas. Dessa
forma, foi justamente nesse contexto que se instituiu a regência trina permanente, com Costa
Carvalho, João Braulio Muniz e Francisco de Lima e Silva, respectivamente um político do
sul do país, outro do norte e o brigadeiro do exército imperial; uma clara tentativa de se
equilibrar forças políticas do norte e do sul do país assim como a busca pelo controle da
situação e manutenção da ordem pública.
No entanto, o estabelecimento desta regência não resultou de nenhuma forma no fim
da luta política. A proposição de uma monarquia federativa, assim como a sanção da Lei
Preliminar de 1832 (Art. 177 da Constituição) que previa poderes aos deputados para
reformar artigos que diziam respeito a reunião do Senado independentemente da Câmara, a
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Uma conjuntura bastante instável foi criada pelos embates políticos que dividiam o
país que tomavam conta do país. Calógeras deixa transcorrer claramente sua veia nacionalista
e não se mostra grande fã daqueles que visavam à restauração do antigo Imperador. Diante da
falha da regência trina em se firmar como uma autoridade, não só estável como legítima
perante os olhos dos fazedores de política da época, na sua visão, “só as mais enérgicas
medidas poderião salvar o throno e a nação”.
Ainda sim, o que se viu de fato foi que as perturbações à ordem se mantiveram,
sobretudo diante da falha de tentativa do legislativo de promover mudanças na estrutura
política do país. No Rio, as manifestações absolutistas tiveram que ser contidas por meio da
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repressão chefiada por Feijó, durando até 1831 e, em alguns Estados, até 1837. Calógeras
aponta a ebulição política desses períodos como movimentos, sobretudo, com intuito político
e de caráter restaurador em sua maioria. O grupo restaurador absolutista só se dilui de fato
com a morte do Imperador em 1834, quando muitos de seus membros acabaram evoluindo
para o grupo dos moderados, engrossando suas fileiras. Este acabou por ser a grande força
impulsionadora da obra reformista de 1834, que acabou por encontrar somente moderados,
contando aqueles reconciliados com a ordem constitucional, e os exaltados diante de si.
Não obstante, as discordâncias ganharam também outro caráter a partir de então:
conflito entre o geral e o provincial, federalistas e unitaristas. O Ato Adicional de 1834, como
a consolidação de reformas já previstas e pensadas por grupos liberais, até mesmo com um
caráter republicano e pautada em elementos da constituição dos Estados Unidos, acabou por
consolidar como a experiência mais próxima da democracia que se viu no Império. Em
contrapartida, gerou implicações que repercutiriam no próprio futuro da Regência e deu
origem ao principal traço dos anos que o seguiram: instabilidade política. Isto porque,
“com o predomínio corrente de impulsos centrifugos, era tendência das províncias tudo
entender no sentido do aumento de sua própria competência: força dissociadora, em vez de
élo entre os elementos componentes do Imperio.” (ibid., p. 36). Em outras palavras, a
interpretação do Ato fez da agitação um quadro permanente no já perturbado cenário político
brasileiro desde a sua independência e em especial, desde a abdicação de D. Pedro e os abalos
à ordem sucediam-se em vários pontos do país.
Com a proclamação do Ato Adicional, em 1834, que transformava a Regência Trina
em Una, Diogo Antônio Feijó foi eleito pela Assembleia Geral Regente do Império em 1835.
A partir desse primeiro momento, as lutas no Brasil mudaram seu caráter. Nas palavras de
Calógeras (1989),
Já se fazia sentir, todavia, a profunda e duplice evolução política. De um lado, como
no Pará com o coronel Malcher, explodia uma aspiração republicana, que no
extremo oposto do Imperio, no Rio-Grande do Sul, ia animar o movimento politico
mais sério do segundo reinado. De outro, os espíritos verdadeiramente
governamentais começavam a compreender que os excessos da oposição que haviam
movido a D. Pedro I, e ás regências, si tinham tido o grande mérito de haver fundado
os alicerces do governo constitucional e parlamentar, ameaçavam agora,
prolongando-se no mesmo tom, acarretar a desintegração da nacionalidade. Intuição
da inteligência verdadeiramente superior que foi Bernardo Vasconcellos. Aguda
visão de estadista, que dobrado lhe impunha tal dever, nesse momento angustioso
em que o Acto Addicional, indevidamente ampliado, ia tornar-se impulso acelerador
das forças separatistas (p. 47)
sentir enquanto um novo tipo de movimento, mais forte e enraizado ganhava espaço. Foram
os casos dos dois conflitos intestinos mais graves do Brasil: a Cabanagem, no Pará, e a
Farroupilha, no Rio Grande do Sul – mais da última do que da primeira, é bem verdade –
cujos respectivos inícios marcaram de forma crucial o curto período em que Diogo Feijó
permaneceu no poder.
A causa nacional, isto é, a unidade territorial estava em xeque e o novo regente passou
a desenvolver o plano de quando ministro, precisando, concomitantemente, medir forças com
adversários pessoais, sobretudo Bernardo de Vasconcelos, que se tornou o chefe da oposição,
e Honório Hermeto Carneiro Leão. Resistir aos esforços separatistas, resultantes do
federalismo criado pelo Ato a fim de uma união indivisível efetiva consistiu a pedra
fundamental da política administrativa de governo do Padre Regente através da pretensão de
um governo forte, da obediência à lei e da garantia dos direitos.
Feijó destacou-se pela energia e, na defesa da ordem, não media esforços chegando,
inclusive, à violência, sem, contudo, tender à tirania ou ao despotismo. Enxergando a
Revoltada da Cabanagem como uma demonstração de fraqueza do governo, Feijó promoveu
uma forte repressão ao caso:
a 2 de novembro, baixou o decreto que andava bloquear os portos daquela província.
A 4, outro, diz Eugenio Egas, dispensando subir á presença imperial as sentenças de
morte pronunciadas por crimes cometidos depois de 6 de janeiro de 1835 nas
províncias revoltadas; aos militares passiveis da mesma pena, mandava fosse
executada; cessaria o regimen de rigor quando completamente pacificada a região e
restabelecida a ordem. (ibid., p. 56)
Sem dúvidas, a Revolta Farroupilha também consistia num ponto fraco, na verdade,
num ponto ainda mais grave para a unidade do país. Isto porque a situação naquela região era
mais delicada, constituída por outros elementos e exigia maior cautela por parte do Regente;
não podia ser reprimida como a primeira. Escreveu Feijó ao Marquês de Barbacena:
O que mais me assusta é o Rio Grande. Mandei para presidente o mesmo José de
Araujo Ribeiro e este até hoje ainda não se dignou a escrever-me uma linha,
desembarcando no Rio Grande, onde se diz esperava respostas de officios de Porto-
Alegre para deliberar-se, e consta que, crescendo a anarchia, já duvidava-se de
acceital-o emquanto a assembléa provincial não resolvesse (ibid., p. 58)
Devido ao trato diferenciado dado pelo Regente à Revolta do Rio Grande, marcado
pela hesitação e por tentativas de conciliação, surgiu a ideia de uma suposta simpatia, quiçá de
conveniência entre Feijó e os rebeldes (ibid., p. 60) o que, claro, serviu de estímulo à já forte
oposição do governo. Acusado pela oposição de permitir uma anarquia no Império, de
fraqueza pela demora em suas decisões, sem conseguir aliciar adeptos e tratado com
hostilidade por seus adversários, cada pequeno ou grande erro de Feijó era aproveitado pela
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oposição. Com a morte de seu principal aliado político, Evaristo Veiga, desprovido de
consistente apoio político, e dominado por uma paralisia, o primeiro chefe do Poder
Executivo devidamente eleito na história do Brasil renunciou – não sem antes nomear o
senador pernambucano Pedro de Araújo Lima como titular na pasta do Império garantindo,
desse modo, Araújo Lima como seu sucessor à Regência.
Tendo sido mal interpretado de fato em suas atitudes ou simplesmente usado pelas alas
conservadoras que exigiam a estabilidade sócio-política necessárias para satisfazer o interesse
das elites agrárias do país, fato é que a política centralizadora de Feijó evitou o
desmembramento do imenso território nacional, contrariando a ação das forças centrífugas
próprias à época. Revelou, também, ideias de profunda expressão liberal, como as de extinção
do tráfico africano, de imigração europeia, de abolição do celibato clerical e de outras
reformas avançadas para o tempo.
Contudo, tal reconhecimento não foi o prestado pelos homens da época de maneira
geral, como pode ser visto o publicado no Sete de Abril de 28 de setembro: “O Snr. Feijó é
hoje só lembrado como um furacão, que deixou ruina, como um terremoto, que acabou o
Imperio, que ele recebeo unido e abandona lacerado.” (ibid., p. 73)
E não finalizadas aí, as constantes mudanças de regência no período 1822-1823 e
movimentos revolucionários e separatistas marcam a ausência de poder central forte que
gerava uma crise de autoridade do governo regente. Tal crise de autoridade estimulava
movimentos revolucionários ou independentistas, tais como a Sabinada e a Balaiada, em uma
situação que, segundo Calógeras, beirou a anarquia (ibid., p. 78).
O ambiente político era caótico, de violência crescente, abusos de poder, estupros e
assassinatos que assolavam o país de Norte a Sul. As disputas políticas regionais por um
poder real limitado apenas realimentavam as conturbações do momento, bem como a fraqueza
dos indivíduos escolhidos para os cargos de tomadas de decisão tanto na esfera nacional
quanto na estadual impedia que as medidas necessárias fossem tomadas a fim de solucionar as
duas maiores urgências: “(...) restaurar o conceito de autoridade, garantir a integridade
nacional.” (p. 81).
A partir da falta de controle político e consequente risco à integridade territorial e ao
País como um todo, iniciou-se um debate acerca de precariedade da Constituição vigente e a
necessidade de novas leis que conferissem relativa autonomia aos Estados para que pudessem
resolver seus problemas, sem, contudo, destituir o governo central de influência e força
necessárias para manter a união. Porém, tais propostas esbarravam na Lei Interpretativa do
Ato Adicional que, basicamente, revogava alguns dos aspectos mais federalistas do já
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declarado maior antes dos 18 anos sem incorrer em revoluções ou golpes. Desse modo,
mesmo com o apoio de personalidades influentes, a proposta de Hollanda Cavalcanti de
antecipação da maioridade foi derrotada nas duas Casas.
A derrota não significava rejeição à maioridade, pelo contrário, a antecipação era o
sentimento e a vontade geral da nação, inclusive dos parlamentares. O problema não era mais
a antecipação da maioridade, mas como ela se daria. Liberais a desejavam imediatamente,
enquanto governistas e conservadores pretendiam atuar somente por vias legais e com longos
prazos. Nas palavras do conservador Bernardo Pereira de Vasconcellos: “(...) ainda hoje
votaria pela maioridade do senhor D. Pedro II, mas com limitações e com suficientes
garantias para o trono e para o país.” (ibid., p. 105).
Com as posições políticas bem definidas e dificilmente mutáveis, foram precisas
veementes declarações vindas do presidente do Senado, o marquês de Paranaguá, e
principalmente de um dos fundadores do regime independente, José Clemente Pereira, em
favor da antecipação da maioridade pela via golpista. Seguindo tais declarações, “(...) quase
se fez a maioridade por aclamação.” (p. 104) e, claramente, o jogo virara a favor do golpe da
maioridade em detrimento de investidas constitucionais.
Convenção breve, na qual se acordou apresentar a proposta de antecipação da
maioridade ao Imperador, a qual foi prontamente aceita e jurada já no dia seguinte. Curioso
notar que todos os parlamentares reconheceram sua posse, ainda que fosse inconstitucional, o
que comprova o interesse final comum a todos pela maioridade, oficialmente realizado pelas
palavras do presidente do Senado, marquês de Paranaguá.
Calógeras também trata da questão religiosa, que aparecia como um ingrediente
ainda mais explosivo no contexto imperial. Em virtude das convicções políticas de Diogo
Feijó, criava-se conflito com o poder da Igreja no jovem Império Brasileiro, transparecendo
sua postura desobediente em relação ao sacerdócio, voltada para os conceitos regalistas
portugueses. Feijó, portanto, portou-se mais como um chefe de Estado do que um sacerdote,
procurando despojar sua classe de seus antigos privilégios e influências no país.
Com visões liberais, ao apoiar o regalismo – sistema político que sustentava os direitos
dos reis de interferir na vida interna da Igreja – Feijó explicitava uma vontade que, segundo
ele, seria benéfica para a Igreja do Brasil: o fim do celibato. Segundo Calógeras, Feijó
pensava ser quase que impossível manter-se o celibato clerical, dada as condições de raça e
clima do Brasil, que favoreceriam violações constantes das leis disciplinares eclesiásticas e
levariam a uma queda de prestígio moral do sacerdócio antes as camadas mais populares. Ao
assumir esse risco, Feijó tentava manter a Igreja livre de escândalos, tornando-a uma entidade
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vinda dos Irmãos Morávios, protestantes, para que se dedicassem à educação indígena, e
angariar apoio para uma
intervenção poderosa para com a Santa Sé, pela qual se conclua conciliatoriamente,
o negocio da nomeação e da confirmação dos bispos do império do Brazil, que a
tanto tempo pende com desar de ambas as côrtes, autorizando a V. EX. (o marquês)
para asseverar que o governo do Brazil tratará quanto antes de reestabelecer a antiga
disciplina da igreja, si acaso a mesma Santa Sé continuar a recusar-se a actos de tão
manifesta justiça, e política. (ibid., p.147).
também pouco conhecida. Neste momento, até mesmo os domínios locais eram trabalhados
com dificuldade. Além dos desentendimentos que aconteciam entre os próprios governantes
provincianos.
Calógeras retoma a questão do governo muito violento, que mantinham os governados
sob uma administração sanguinária e monstruosa. Rozas, federalista, não era muito diferente
disso, os benefícios que trouxe nem sempre se sobrepujaram à violência de seu governo,
como vemos
A saliencia que lhes deram os acontecimentos, á duração maior de seu poder, se
deve o maior clamor que os condemnou, e que fez injustamente olvidar que
obedeciam aos processos daquella phase histórica, e peor ainda, escureceu os
benefícios, grandes muitos delles, que lhes coube prestar. (ibid., p. 165).
Os mais próximos a Rozas o viam como orgulhoso da conquista da paz com o Brasil.
No entanto, em ambientes onde se concentravam lideranças mais locais, a ideia nutrida do
mesmo era de um líder falho. Acreditavam também que a “aspiração argentina” não tinha
mais fundamento e, em breve, cairia.
Os caudilhos Rozas e Lavalle cessaram as hostilidades num acordo, mas que logo foi
rompido, por conta da discordância das províncias em aceitar as mudanças propostas. E, ao
longo do ano de 1829, Rozas cada vez mais ganhava força
Sua influência nas relações político-territoriais da América Latina fora bem marcada e
seus esforços para fazer ainda melhor para primeiro a “província de Buenos-Aires e depois
toda a Republica Argentina” (ibid., p. 169) eram os maiores. Finalmente ao aceitar o
reconhecimento popular, Rozas empossou-se do cargo de brigadeiro-general. Ao final de seu
governo, fora reeleito; no entanto, além de recusar, não poderia mais continuar no comando e
nomeou d. Juan Ramon Balcarce ao cargo. Balcarce tratou de trabalhar na expansão do país,
protegendo-se de mais revoltosos do Sul. No intento da união de forças contra o Brasil, bem
como as intenções do novo governante em tomar o Uruguai como parte das Províncias-
Unidas, os laços entre os dois Estados do Prata se fortaleciam e “cambiavam os homens,
alteravam-se os acontecimentos, mas cooperavam sempre” (ibid., p. 171). Neste mesmo
momento, Calógeras destaca uma perseguição que acontecia dos federais argentinos aos
unitários, que fugiam principalmente para Paysandú, inflando a população do Uruguai.
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Contudo, como forma de manter a neutralidade uruguaia, foi emitida nota de autonomia
internacional, que tirava das costas do novo Estado à responsabilidade oficial do
“acolhimento” de refugiados unitários, mantendo também a aliança com a Argentina.
Balcarce buscou formas de continuar o governo de Rozas mantendo, assim, o apoio
popular, mas apresentou, desde o início, a intenção de posicionar-se mais firmemente em
relação ao Uruguai, causando atritos entre os governos. Além disso, mostrou insatisfação com
o domínio caudilho na região, além de ter nomeado Enrique Martinez, que além de
estrangeiro, insatisfez o povo em relação ao seu “nepotismo insensato e sem limites” (ibid., p.
173). Não houve oportunidade de destruição política de Rozas, já que logo foram tomadas
medidas de pressão sobre Balcarce, forçando sua destituição do cargo. Neste novo momento,
com Viamonte à frente das representações argentinas, as “manobras opposicionistas”
prosseguiram, o que o autor coloca como uma busca pela estabilidade ao sul do continente,
que só seria alcançada através da monarquia. Percebemos a tendência de Pandiá Calógeras na
vanglória à monarquia, colocando-a como chave para a solução das questões cisplatinas. Cita
os esforços de Rivadavia, líder dos unitários, na Europa, em disseminar os preceitos
monárquicos no sul, com um emblemático projeto de “monarchias hispano-americanas”
(ibid., p 175). No entanto, não houve nenhum esboço de aprovação dos governos.
Com o desejo de Viamonte em sair do poder, menciona-se a volta de Rozas, que se
recusa por conta da conjuntura política da época. Havia a necessidade de um governo forte e
coeso. Como tentativa, Manuel Vicente de Maza é chamado ao governo, mas as hostilidades
só pioram e os enfrentamentos agora davam-se a mão armada. Para o apaziguamento, é
nomeado o Gal. Quiroga no mesmo ano, que logo é morto. Há uma tentativa de aproximação
de d. Lopez, governador de Santa Fé, aos federalistas, mas nada consegue. Não havia mais
como esperar, como bem observa Calógeras, era preciso “vencer a anarquia” que havia se
instalado. Em meio a tanto caos político, não restou dúvidas à Sala dos Representantes em
reeleger, unanimemente, Rozas, além de toda a aprovação da sociedade através de plebiscito
requerido pelo próprio, onde notamos “(...) que o governo então iniciado era o legitimo
representante da vontade nacional, e que esta o instituira precisamente para exercer missão
energica de repressão da anarchia.” (ibid., p. 179). A partir daí, Rozas declarou guerra aos
unitários, dando início a uma trajetória sanguinária e truculenta.
Neste ponto, Calógeras aponta para os ocorridos no Uruguai, traçando um paralelo
histórico aos perturbados tempos vividos em Buenos Aires. Sua observação inicial é de que a
história em Montevidéu caminhava diferente, com menos violência. Em 1828, decidiu-se que
o novo Estado do Uruguai teria um chefe unido e assim fora escolhido um neutro, o general
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José Rondeau, que tivesse articulação suficiente para apaziguar a truculência entre os dois
caudilhos. No início, nota-se muita instabilidade no comando das Relações Exteriores e da
Guerra, em que há uma troca incessante de comandos. Além disso, nota-se também
instabilidade nas decisões da Constituinte, com conflitos partidários. Contudo, não demora os
países vizinhos aprovarem o texto constitucional uruguaio. Com o pedido de renúncia de
Rondeau e os agitos no Legislativo, Rozas “aproveitava o pretexto para intervir no Uruguay”
(ibid., p. 182) – no intuito de reincorporar a Banda Oriental à sua federação –, além de ir à
busca de seu principal objetivo por lá: os unitários. Estes, sob a “proteção” de Rivera, fizeram
com que Rozas se aliasse à Lavalleja, aliança que se fortaleceu ainda mais após a vitória de
Rivera contra Lavalleja, em 1830, para a presidência da república uruguaia.
No contexto internacional, descreve o autor, muita inquietação, principalmente da
Espanha, com a possibilidade iminente de perder totalmente o controle sobre suas colônias.
Os europeus inquietaram-se e se não colônias, pretendiam ao menos tentar estabelecer uma
corrente de monarquias hispano-americanas. Apesar de hesitar, Calógeras nota um perfil
político e social muito semelhante nas repúblicas da bacia do Prata: desde a necessidade de
independência, migrações, da maneira de manifestação das insatisfações sociais, até a
necessidade de uma unidade nacional, uma forma para aquilo que pretendiam chamar de
pátria. Além disso, também há muita colaboração entre todos os envolvidos no processo,
como o apoio rio grandense às revoluções uruguaias. Como disse, “concorriam todos estes
factores para tornar pesada a atmosphera politica da antiga Cisplatina” (ibid., p. 187).
Com o caos instalado, Lavalleja pareceu o único capaz de reestabelecer a ordem e
Garzón, presidente do Senado, com o afastamento de Rivera, se nomeou novo presidente. As
revoltas em Montevidéu não paravam e logo se percebeu a ligação de Lavalleja aos
federalistas argentinos, “bem como as dos unitários com Rivera” (p. 188), e neste ponto a
guerra civil se instala impiedosa. Rozas, apoiando Lavalleja, não pretendia dar poder o
suficiente para ele, ou então perderia a chance de domínio no Uruguai. Rozas pretendia deixar
o novo Estado “empobrecido pela lucta civil, incapaz de resistencia” (ibid., p. 189). Há
menção à possível intervenção brasileira, através de líderes militares do Rio Grande, mas em
manobras políticas é mostrado aos riveristas que o Brasil encontrava-se em neutralidade na
luta. A aproximação entre os dois grupos antes mencionados fez com que movimentos
revoltosos iniciados por Rivera fossem abortados. No entanto, Calógeras aponta para uma
nítida aliança entre Brasil e Buenos Aires, a favor de Lavalleja, mas que não eram possíveis
de prova e não demorou para que Uruguai e Brasil firmassem acordo de solidariedade dentro
da América do Sul.
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Por fim, depois de toda agitação, em Assembleia Geral, novas eleições são realizadas
e, unanimemente eleito, d. Manuel Oribe alcança a chefia do Executivo. E, ao contrário do
que se pensava – que daria continuidade ao seu antecessor, Rivera –, vem ainda mais
sanguinário e alia-se a Rozas e Lavalleja, incentivando uma futura intervenção do Brasil nos
conflitos uruguaios.
Dando continuidade às questões do sul do continente, Calógeras busca detalhar
mais as relações entre Brasil e Uruguai. Neste contexto, sobre os desdobramentos das alianças
que eram formadas na região cisplatina e o auxílio brasileiro aos estrangeiros, publicava-se
relatos no Jornal do Comércio da época. Essas notícias expunham a inclusão dos assuntos
cisplatinos na agenda do Brasil, o que era encarado com surpresa e repulsa no país. Dizia-se
que essas notícias incitariam a animosidade por parte dos orientais.
Naquela época, Lavalleja decidiu se rebelar contra o governo do Estado Oriental do
Uruguai. Lavalleja precisava, então, do apoio brasileiro, que veio a conseguir por meio da
promessa de ligação do território uruguaio ao território brasileiro. Alguns entusiastas
acreditaram que ganhariam com essa ligação e apoiaram sua ideia. Contudo, apesar desse
apoio, Lavalleja nunca cumpriu sua promessa. Houve uma reviravolta no cenário e a
preocupação era de que a província do Rio Grande se unisse ao Uruguai. Prometiam-se terras
e gados aos que ajudassem na independência do Rio Grande, tornando a possível separação
pauta da Assembleia Provincial.
Bento Gonçalves era um que desejava a união à Cisplatina, no entanto tinha influência
somente no Rio Grande. Enquanto a disputa se intensificava no sul, o governo se mostrava
neutro, apesar de as decisões tomadas por alguns subalternos demonstrarem apoio a um dos
lados do movimento. A notícia que circulava na capital era de que a revolta no Rio Grande
contava com a ajuda de países vizinhos.
A situação interna do Uruguai com a eleição do presidente estava desestabilizada e
houve a cisão entre Rivera e Oribe. Enquanto isso, na Argentina, o presidente Rozas se
preocupava em avançar para a outra margem do Prata, a fim de mostrar sua força de
intervenção na Cisplatina – as divergências entre os dois países se acirravam. Houve em 1836
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1821, foi criada uma lei argentina que estendia o serviço da guarda nacional aos estrangeiros
possuidores de bens ou instalados em oficinas, casas de varejo ou casa de atacado, desde que
tivessem mais de dois anos de residência no país. Nenhum protesto tinha sido feito por parte
dos franceses até o ano de 1830.
Neste ano, um cônsul da França em Buenos Aires, exigiu que seus patrícios fossem
isentos de tal incumbência, mas nada aconteceu e apenas em 1837, o vice-cônsul chamado
Aimé Roger reiniciou a discussão, alegando que se o governo não lhe deferisse o pedido, a
França usaria dos meios necessários para que os seus interesses e a sua dignidade fossem
respeitados. De acordo com o autor, a atitude de Aimé aliada a sua insistência ao enviar uma
nova nota grosseira e logo após se retirar da região alegando que sua missão tinha sido
concluída, demonstra que este agiu como instrumento de provocação consciente. Provocação
esta, não necessariamente, do governo francês, mas das forças navais em contato íntimo com
os franceses do Uruguai associados aos movimentos locais de luta entre Oribe e Rivera (ibid.,
p. 223).
Independente dessa atitude, o governo de Buenos Aires afirmou que desejava
sinceramente manter relações cordiais com o governo de Luiz Philippe, mas, de fato, somente
com a negociação de um tratado se alcançaria um acordo, assim como tinha feito a Grã-
Bretanha em 1825. Ainda assim, Leblanc tentou intimidar Rozas, dirigindo-o uma nota,
pedindo agora a suspensão da lei em relação aos franceses e o reconhecimento do direito de
indenização. Recebeu uma reposta na mesma linha das anteriores.
Diante disso, a resposta francesa, em 1838, foi declarar o posto de Buenos Aires, bem
como todo o litoral argentino, no trecho fluvial, em estado de bloqueio pelas forças navais
francesas, que aguardavam as providências que se julgassem convenientes para situação da
isenção ao serviço militar. O governo protestou e afirmou ser o bloqueio fora das regras
designadas pelo direito internacional. Não passíveis mais de conversa, ambos os lados
partiram para operações hostis, apesar desse encaminhamento da situação promover,
naturalmente, o empobrecimento da população, bem como ao próprio governo. O “ditador”
Rozas logo tomou as providências restritivas indispensáveis. O apoio da nação à atitude de
Rosas era quase unânime.
A negociação foi, então, mediada pela Grã-Bretanha, e tinha três objetivos principais:
restabelecer a harmonia entre os dois países em divergência, prosseguir com a situação de não
convocar os franceses ao serviço militar e, por fim, realocar Roger ao seu posto em Buenos
Aires. A proposta foi aceita de imediato por Mandiville, ministro inglês, e foi vista com bons
olhos pro Roger. No entanto, este consultou seus aliados antes de acatar oficialmente a
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proposta, o que acabou com a possibilidade de cessar hostilidades: não convinha aos aliados
de Roger a pacificação, visto que os conflitos e o apoio francês eram necessários ao sucesso
de seus projetos. Esses projetos eram: derrubar os federalistas e fortalecer os unitários a fim
de que Lavalle e seus aliados da Comissão Argentina de Montividéo cooperassem em
eliminar o governo hostil a Rivera.
O vice-cônsul não compreendeu que, ao ouvi-los, subordinava os interesses da França,
que acabou por servir ao vai e vem das lutas partidárias dos caudilhos platinos. Assim, a
França acabou por se associar ao conflito de Rozas e Rivera, tornando-se parte da guerra. No
início do conflito, eram os interesses nacionais que estavam em jogo e precisavam ser
protegidos; com o desenrolar do conflito, eram os franceses estabelecidos na Argentina e no
Uruguai que estavam sob ameaça. Antes, era apenas um bloqueio; agora, além deste, forças
francesas defendiam Montevidéu. (ibid., p. 235).
Envolvida profundamente nesse processo, a França forneceu recursos, meios de
transporte, armas e munições, bem como parte de suas tropas. É interessante notar que Roger
fez uma viagem à Paris, em meado de 1838, e convenceu o gabinete a aprovar o bloqueio e
operações anexas. No entanto, segundo Pandiá Calógeras, colaborar com os adversários do
Rozas, fornecendo tudo o que foi dito acima, era colocar os franceses em uma posição
ridícula.
Apesar do bloqueio francês, que se estendeu até 29 de outubro de 1840, de alguma
forma, ter prejudicado o governo de Rozas – “Causou estagnação da economia e privou o
governo das vitais receitas alfandegárias; desestabilizou o sistema federalista e deu novo
fôlego as dissidentes do litoral e do interior; e levou Rozas a governar com uma autocracia
ainda maior” (BETHELL, 2001, p. 658) –, este teve pouca força militar para se tornar
decisivo. Além disso, Rozas tinha um grande apoio da massa que considerava os invasores
como “os mercenários dos abomináveis franceses” (ibid., p. 238).
Rozas conseguiu sufocar a maioria dos levantes contra o seu governo e aos poucos
impor a cada uma das províncias do Leste governantes aliados, dependentes ou fracos. Essa
conquista reflete a grande preocupação rozista com a questão militar, mas também demonstra
a fraqueza da união de elementos tão heterogêneos em um mesmo grupo, buscando objetivos,
de certa forma, diferentes. Era a França querendo indenizações e favores aos seus nacionais;
os unitários querendo vencer Rozas e derrubar os federalistas; Rivera aceitando o auxílio, mas
visando separar algumas províncias da Confederação, com o objetivo último de constituir a
solução uruguaia (ibid., p. 227). Era possível que essa coalizão desse errado. E foi o que
aconteceu.
19
Assim, a vitória de Rozas foi reconhecida no Prata, na América inteira, bem como na
Europa. Em 29 de Outubro de 1840, França e Argentina fizeram as pazes. Isso representou
não só o triunfo argentino, mas também a injusta agressão promovida pelos subalternos de
1838 (ibid., p. 239). A paz com a França desiludiu todos os demais oponentes ao governo
Rozas. Os esforços dos seus inimigos não conseguiram apagar sua imagem, que era
dominante no cenário político do Prata.
No entanto, é importante destacar que o bloqueio francês acabou dando origem a
diversos movimentos rebeldes no Uruguai e províncias argentinas que buscavam derrubar o
governo e tensionou as relações entre Rivera e Lavalle e o próprio Rozas, o que configura o
quadro de instabilidade da região platina.
Durante a década de 1930, quando Calógeras está escrevendo, a política platina é
marcada pelo personalismo que, segundo ele, é uma clara herança do elemento que marcava
toda a planície do pampa no século anterior: os agrupamentos em torno de um proprietário de
terras (as chamadas haciendas) que, por sua vez, possuíam um valor social dependente da
personalidade do tal proprietário. Além das haciendas, outros elementos podem ser
considerados determinantes para a uniformização das condições sociais e políticas na região
do estuário do Rio da Prata. Dentre elas, a grande similaridade das populações e a
característica geográfica da região de coxilhas, um terreno elevado que se estende em
planícies.
Contudo, diferente do que se pode imaginar, as semelhanças entre os pampas do que
hoje chamamos de Argentina, Uruguai e Brasil não foi um gerador de estabilidade ou
cooperação entre eles. Basta analisar de forma sucinta a história da região para obter essa
percepção: Em 1776, a região do Uruguai, que ainda era colônia, tornou-se parte do Vice-
Reinado do Prata. Entre 1810 e 1814, José Artigas liderou uma insurreição armada e dominou
Montevidéu. Porém, a Argentina derrotou Artigas em 1816. Já em 1817, o Uruguai foi
ocupado por forças luso-brasileiras e em 1821 por ele anexado sob o nome de Província
Cisplatina. Em 1825, a independência uruguaia foi declarada por um grupo liderado por
Lavalleja que, com a ajuda de tropas argentinas, expulsou os brasileiros em 1827. No ano
seguinte, com o apoio da Inglaterra, o Uruguai reafirmou sua independência através do
supracitado Tratado do Rio de Janeiro que, indispensável citar, não especificava por onde
deveriam correr os limites deste país.
A partir desse breve relato dos fatos, confirma-se a ideia central de Pandiá Calógeras
de que a política do Brasil recém independente, para ser de fato compreendida, deve ser
estudada em conjunto com as políticas da Argentina e do Uruguai. Por se consistir em uma
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interesse de Buenos Aires. Esse é justamente o motivo de intervenção das potências europeias
no teatro mencionado.
Se aproveitando desse momento, o importante Rivera entra em cena, principal chefe
da República Oriental do Uruguai, que visava aniquilar Rozas e criar um grande Estado do
Uruguai, incluindo as províncias de Corrientes e Entre-Rios, que faziam parte da
Confederação Argentina, do Paraguai, que havia pertencido ao Vice-Reino do Prata, porém
era independente há 30 anos e o Rio Grande, que pertencia ao Império brasileiro. Após a
derrota de Lavalleja, julgou que era o momento de agir e embora tolhido ao ameaçar o Rio
Grande, e com o grande auxílio de Rosas, ainda conseguiu o apoio da província de Corrientes.
Num movimento bastante oportuno as tropas do General Paz invadiram a província de Entre-
Rios, porém não pode se manter na província por muito mais tempo, pois se viu isolado e foi
obrigado a abandonar a província após a assinatura do Tratado de Galarza em abril de 1942.
Com isso abrindo espaço para um maior domínio da aliança, por parte de Rivera.
Rozas divulgou falsas informações sobre o tamanho e estado de suas tropas,
fazendo com que Rivera atacasse e fosse pego de surpresa, sendo desbaratado pelas tropas
bem treinadas de Oribe. A batalha conhecida por Arroio-Grande foi decisiva para o futuro da
Confederação Argentina, pois as significativas perdas deram início à mudança de rumos do
conflito.
Ainda assim, a luta entre os unitaristas e os federalistas se arrastava, em parte pela
estagnação e ausência de batalhas decisivas, em parte porque uma solução final via armas não
era pensada nem pelo governo uruguaio, nem pela Comissão Argentina. O governo uruguaio
não dispunha de forças suficientes para pôr fim à guerra, enquanto do lado argentino
argumentava-se que a busca era pelo enfraquecimento de Rozas, sem, contudo, haver
exposição da ideia de separação de Entre-Rios e Corrientes, projeto fracassado em sua
origem, dado a falta do fundamental apoio do general Paz.
A luta pareceu a se encaminhar para um fim apenas quando se aventou a possibilidade
de uma intervenção anglo-francesa que se daria em um momento de desespero uruguaio. No
entanto, o combinado de forças européias que chegou a região o fez sob o título de missão de
paz, embora o objetivo real fosse claramente a manutenção da paz pela força, caso necessário.
Tal situação impôs a Confederação Argentina um dilema: “(...) ou subscrevia as pretensões
dos intitulados mediadores, ultrajantes como eram; ou sujeitava-se às consequências
duríssimas, com que haviam sido por assim dizer castigadas as nações obstinadas da Ásia e da
América.” (ibid., p. 526).
Em face da rejeição argentina em suspender o bloqueio imposto ao Uruguai, os
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haviam estreitado as suas relações com Rozas. No entanto, a desconfiança era tão grande que
tudo era pretexto para se produzir e reproduzir boatos. Toda essa situação se deve à
exacerbação das relações com o Império do Brasil, nas quais os intuitos da missão do
Marquês de Abrantes foram deturpados ao se alegar que o Brasil queria se associar à aliança
franco-inglesa no Prata com a intenção de produzir uma intervenção julgada como
dominadora da liberdade da Confederação.
Diante desses sentimentos de desconfiança, o ministro Cayrú respondeu que os planos
seguidos pelo Brasil para cooperar com a pacificação do Sul nada tinha de belicoso e que um
meio para estabelecer a paz nessa região seria a independência do Uruguai. Apesar do
esclarecimento dos mal entendidos, as desconfianças e boatos em relação ao Brasil persistiam.
É interessante notar a posição de apoio do autor ao Brasil nessa situação de receio e
suspeita em relação a este país. Ele chega a falar em seu livro que esses boatos não levavam
em conta, não faziam justiça aos terríveis perigos que o Brasil corria com essas lutas na região
do Prata, nas quais, devido à contiguidade territorial e à solidariedade dos grupos que se
digladiavam, o Brasil se via involuntariamente envolvido (ibid., p. 552).
A Argentina era considerada a grande defensora das liberdades sul-americanas; sendo
assim, menosprezava o Império. Rozas criava dificuldades enormes às forças imperiais no Rio
Grande do Sul, auxiliando os insurretos. Foi assim que para corrigir essa situação, a
diplomacia do Barão de Caxias muito cooperou – modificou as alianças, fazendo do elemento
rozista um colaborador em vez de um adversário; mas mesmo assim, não conseguiu alterar o
ambiente de desconfianças contra o Império.
O que se vivia na região era, em resumo, desconfianças, intrigas e receios mútuos,
bem como os sofrimentos locais decorrentes das lutas no Uruguai, fomentadas pelas tropas da
intervenção franco-inglesa, coniventes com os seus parceiros riveristas ou oribristas.
As divergências transformaram-se em contestação, que levaram ao recomeço de uma
série de discussões sobre o assunto. Como preliminar tinha o fato de que seria impossível para
os governos aliados ali representados reconhecer o general Oribe como presidente Oriental.
A Grã-Bretanha tinha renunciado a ideia de se criar pela força direitos e possessões
nas margens do caudal, pois saberia desenvolver suas riquezas e influência na zona. Já a
França não tinha desistido de fincar na região a sua bandeira, em concorrência àquela. Ao
contrário do diplomata inglês, o diplomata francês queria ou uma completa vitória
diplomática, ou um rompimento que permitiria intervir no caudal de modo mais poderoso do
que a França tinha feito até então.
Devido às muitas divergências e à postura da França, a Grã-Bretanha retirou o seu
24
apoio por meio de uma carta enviada do ministro britânico a Oribe. Deste modo, a França
ficava sozinha em campo, o que facilitou o estabelecimento do protetorado francês em
Montevidéu. Nesse contexto de influência francesa na região, a qual a imprensa francesa
insinuava malversações de Rivera com os auxílios do governo francês, que a vida pública de
Rivera terminou, resultando em seu exílio. Com seu afastamento de Montevidéu, acaba a sua
intervenção na política platina. Quando a Grã-Bretanha retirou-se da intervenção e o
enfraquecimento de Rivera foi se acentuando em Montevidéu, iniciaram-se os sucessos
armados em Corrientes que iriam modificar a face da coalizão. No entanto, o conflito
prosseguiu com outros personagens. Madariaga sofreu uma grande derrota que acabou com
suas forças e o forçou a se render. Assim, em 1847, o coronel Virasoro foi eleito governador,
e essa província foi reincorporada à Confederação Argentina.
Não cessava, contudo, a forte campanha anti-rozista dirigida pelos militares. Apesar
de toda essa conspiração, a Argentina permanecia, agora, unida e pacificada, tendo a
possibilidade do seu governo desenvolver-se em paz sob o comando de Rozas. Entretanto, o
perfeito equilíbrio característico do governo de Rozas em todo esse tempo veio a mudar.
Segundo Calógeras, pode-se dizer que em 1848, ano que representou o apogeu de seu poder,
foi marcado também pelo começo da alteração do seu estado moral (p. 566). Nesse mesmo
ano, datam os principais erros de sua política externa. Suas ações começaram a demonstrar o
descaso pela vida humana, o qual pode ser evidenciado, apesar de não se ter provas
concludentes, pelo assassinato de D. Florencio Varella em março de 1848. Da mesma forma,
acusou-se Oribe de vários assassinatos ocorridos em Montevidéu. Isso representou quão
grande eram os rancores partidários.
As conversas seguiam com fervor com objetivo das partes de cessar o bloqueio da
região do Prata. Calógeras ressalva que era de grande valia para os uruguaios o
reconhecimento da autoridade de Oribe como presidente legítimo da República Oriental do
Uruguai, sendo a retirada das tropas argentinas e a anistia geral secundárias no processo
político da região Cisplatina, a fim de equiparar as forças na arena política do cone sul (p.
569).
Já no lado da Confederação, em Buenos Aires, Rozas estava atento aos movimentos
do Império brasileiro, que se preparava para enfrentar a Confederação, mesmo sendo seus
recursos bélicos improvisados “febrilmente”, pois as forças armadas brasileiras ainda não
estavam organizadas a ponto de ostentarem uma guerra declarada (ibid., pp. 570, 578). Além
disso, Rozas, apesar de ser um “bom católico”, resolveu enfraquecer os laços argentinos com
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a Santa Sé, pois suas leis consolidadas e condutas morais cerceavam a liberdade do governo
argentino (ibid., p. 571).
Os acontecimentos na Europa não passaram despercebidos na questão da Cisplatina.
Com a revolução liberal de 1848 na França, Alphonse de Lamartine condenou a intervenção e
a forma como a crise platina se desenrolou, apoiando o procedimento da Argentina em buscar
sair da (suposta) vocação do Império monárquico brasileiro de ser “o gigante da América do
Sul” às custas dos vizinhos. Do outro lado do canal da Mancha, a Inglaterra enviou o
“cavalheiro Henry Southern”, que não foi recebido por Rozas, apesar do caráter de visita
amistosa, uma vez que a Inglaterra não deu satisfações sobre sua interferência contra a
Confederação. Apesar disso, foi ordenado ao representante argentino em Londres que
convidasse grandes empresas britânicas para explorar, por quinze anos, os recursos de “todas
as ilhas e costas da Patagônia” para quitar as dívidas do governo argentino junto a bancos
ingleses por conta de empréstimos que datam de 1824 (ibid., pp. 571- 572).
Estando as potências europeias dispostas a resolver (ou ajudar na resolução)
pacificamente a contenda no Prata, não poderia se dizer o mesmo para o Brasil. A conflituosa
fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai era uma questão ainda controversa, pois
muitos brasileiros cultivavam as terras férteis do pampa uruguaio e do contato concreto de
Oribe com os estancieiros da região, sendo desde 1849 frequentes tais conflitos. Sendo assim,
o Brasil buscou arranjos políticos e alianças para se prevenir do iminente embate com as
forças do “ditador de Buenos Aires”. Dentro dessa ótica de alianças, o Brasil uniu-se às forças
que lutavam contra Rozas e firmou um relevante acordo ofensivo e defensivo com Uruguai e
a província de Entre-Rios, em maio de 1851 (ibid., pp. 573-576).
Vale destacar o cenário de guerra que se esquadrinhava. Em Buenos Aires, a opinião
pública inflamava movimentos (de arruaça) populares em consonância com a diretriz do
congresso argentino de difamar e deturpar o Império brasileiro, expansionista e que galgava
para alcançar a preeminência na América do Sul. Ou seja, o discurso era preparado para jogar
a população argentina contra o Brasil, mas, efetivamente, Rozas não conseguia mobilizar o
plantel de tropas necessário para o combate a porvir. Por outro lado, o Império preparava-se
ativamente para a luta e direcionava os militares de alta patente (com destaque para John
Grenfell a frente da marinha e o conde de Caxias como cérebro das forças aliadas) para suas
funções de liderança à frente dos contingentes a serem mobilizados. Nas palavras de
Calógeras, “no Rio, tudo se preparava para luta” (ibid., pp. 576- 577).
A figura de Urquiza é bastante exposta pelo autor, pois era uma peça do xadrez da
Cisplatina que agia em aliança com o Brasil, mas não era de se confiar plenamente. Isso ficou
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negociações acertadas, que envolviam Portugal, não contaram com a presença lusitana para
defender seus interesses.
Ao final e ao cabo, Portugal foi impelido a restituir à França seus territórios
guianenses até o rio Oiapoque de maneira imediata a partir da mediação inglesa. Contudo,
apesar da evolução das tratativas, o descontentamento de D. João com o imbróglio invocado
pela França e não restituiu Cayenne por desconfiar das intenções dos franceses em não
respeitar os limites estipulados e acertados. A partir disso, Luis XVIII enviou o conde de
Luxemburgo para o Rio de Janeiro para convencer as autoridades portuguesas aqui
erradicadas da necessidade de resolução do caso. Após cinco meses do envio do conde,
Francisco de Brito fora enviado a Paris a encontrar-se com o conde Richelieu, pois o impasse
parecia insolúvel. A mediação da Inglaterra fora requisitada e, mais uma vez, sir Charles
Stuart foi envolvido pela Coroa Britânica para elucidar as questões de política externa do
Império. As negociações continuavam a se arrastar a ponto de Richelieu contestar tal
procrastinação fazendo uma ameaça manifesta para solucionar o caso das fronteiras da Guiana
com revelia de retomar Cayenne com o emprego da força bruta belicosa. Em suma, o que
precisava era definir o quão longe ao Oeste do Oiapoque a fronteira guianense ficava e isso
demandou diversos estudos cartográficos de emissários portugueses e franceses à área (ibid.,
pp. 247-249).
Notadamente, “Cayenne era o centro de invasão francesa na bacia do Amazonas”
desde 1726 e Calógeras evidencia uma série de planos e estratégias traçadas por
desbravadores franceses pela área. Esse era o maior receio de Portugal em relação ao território
brasileiro pouco povoado, de difícil e desconhecido acesso e com limites móveis o tempo
todo. Mesmo a convenção assinada por d. João em 1817 e por Luís XVIII em 1818 não
diminuía a preocupação com a região, ainda mais após a instabilidade na província do Pará ter
exposto a ausência do governo central do Rio de Janeiro para a gerência do estado. “Dessa
exploração resultou maior efervescência na exaltação de Cayenne por se apoderar do
Amazonas”, tendo sido desenvolvido assim, uma política invasora colonial com viés
imperialista pró-França para a conquista da margem setentrional do Amazonas, ou parte dela
(ibid., pp. 250- 252).
Os anos passaram-se e a indefinição quanto à fronteira continuava sem ser resolvida.
O diplomata do Brasil em Paris, Luiz Moutinho de Lima Alvares da Silva, demonstrava uma
inabilidade política inconcebível se tratando da delicadeza do assunto; por diversas vezes, era
enganado pelos franceses. A inércia política referida de Moutinho fez com que fosse
substituído por José Araújo Ribeiro. A guinada veio a partir dos políticos brasileiros no Rio.
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Esses fatores colaboraram para o consenso boliviano, em 1834, aos planos uruguaios
de formação de uma liga hispano-americana para impor limites ao Brasil. A província
boliviana com uma agitação anti-brasileira mais contundente era, devido aos eventos
destacados, Chiquitos, que em 1836 e 1837 descumpriu acertos territoriais feitos entre Bolívia
e Brasil.
No entanto, em 1838, o ministro de estrangeiros da Bolívia, Maciel Monteiro, aceitou
negociar com o diplomata brasileiro Duarte da Ponte Ribeiro questões territoriais, a fim de
encerrar as querelas entre os países vizinhos, o que foi realizado com sucesso.
A questão da fronteira boliviana fomentou o debate sobre a necessidade – e a
dificuldade – de se fixar as fronteiras do Império, ainda mais diante de questões territoriais
que geraram problemas com a Guiana francesa, ao Norte, com a própria Bolívia, a Oeste, e a
questão do Uruguai, ao Sul. Uma das principais dificuldades para a proposta de definição de
fronteiras era o fato de haver diversos pontos de conflito entre o Império e os vizinhos, ou
mesmo rebeldes nacionais, que Calógeras pontua: “Rio-Grande e Banda Oriental, Corrientes,
Entre-Rios, e Buenos Aires” (ibid., p. 275). Os conflitos do Sul chegaram a afetar, inclusive,
os acertos entre Brasil e Bolívia: o plenipotenciário que negociaria os termos do tratado
definitivo de limites entre Brasil e Bolívia, em 1838, não chegara a este país, vindo de Buenos
Aires, o que, para Maciel Monteiro, impediu o início de tais negociações. O resultado, nas
palavras de Calógeras, foi que “continuou aberta a fronteira, sem demarcação, desde o
Oceano até ao Javary” (ibid., p. 276), acrescentando que a Maioridade encontrou problemas
neste estado.
Além das querelas fronteiriças com a Bolívia e na região do Oiapoque, Calógeras
também aborda o que chamou de “única derrota sofrida pelo Brasil na fixação de seus limites,
quando proclamada a República” (ibid., p. 277): a sua fronteira norte, com a Guiana, que, de
todos os casos controversos na fixação de seus limites, era justamente o que menos parecia ser
fonte de imbróglio.
A disputa pela região da Guiana era histórica, havendo relatos de entrada portuguesa
no território em 1619. Com isso, antes da referida área fronteiriça ser colocada em litígio pelo
governo inglês, a totalidade dos países que já haviam se manifestado em relação a região
nunca contestou o domínio português. Espanha, Holanda, França, Colômbia e Venezuela
sempre entenderam que a região do Pirará e a oeste do Rapununi pertenciam a Portugal.
Inclusive a Inglaterra, “que mais tarde reclamaria, era das primeiras a respeitar os títulos de
posse de Portugal e depois do Brasil, seu sucessor.” (ibid., p. 279).
Vale salientar que existem
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Até 1840, era completa e unânime por parte dos outros países o reconhecimento sobre
a posse do Brasil em relação à região litigiosa, devido a documentos e atos públicos dos
governos. Após essa data, com a conclusão da expedição do prussiano Roberto Schomburgk,
a Inglaterra passa a pleitear a posse da região. O que chama a atenção nesse fato é que durante
a primeira parte da expedição de Schomburgk, até 1938, sua opinião era que a região do
Pirará e a região leste do Rio Rapununi eram possessões portuguesas. Desse momento em
diante começa a evolução das ideais. Baseado, por ignorância, no princípio do res nullius, que
em tradução literal significa “coisa de ninguém”, desconhecia completamente os antecedentes
históricos e geográficos da região.
A missão exploratória começou a causar certo embaraço junto às autoridades
brasileiras, que começou a perceber a intenção inglesa de ocupar uma região. A pretensão
inglesa era tamanha que “aliciavam” tribos independentes a não se submeterem a autoridade
brasileira.
Em 1841, por conta da expulsão de um missionário inglês que aliciava os índios,
houve uma expedição inglesa, que exigia a expulsão do destacamento brasileiro na região do
Pirará, que a coroa inglesa já entendia como região de sua jurisdição. Apesar do intenso
contato diplomático entre as duas nações, o Brasil não conseguiu fazer valer a sua soberania
na região que, afastada dos grandes centros, não era de tanta importância como outras e “a
primeira providência era evitar um conflito, que poderia criar situações irreparáveis, entre
duas nações de recursos inteiramente desproporcionais.” (ibid., p. 297). Isso fica bastante
evidente pela postura aquiescente do governo imperial brasileiro, face às violações de
territórios sofridas na região contestada, evitando, assim, qualquer tipo de conflito com os
invasores. Ao Brasil restava apenas protestar junto às autoridades inglesas.
Calógeras (1989) critica a postura inglesa que, de maneira irredutível, fazia valer seus
interesses (tendo, no mesmo período, por exemplo, bloqueado o porto de Buenos Aires para
forçar uma trégua entre a Argentina e o Uruguai):
O Brasil ainda em plena guerra civil no Sul e saindo apenas revoltas da Cabanagem,
Balaida e Sabinada; pobre e fraco, quase deserto, tinha de resistir a Grã-Bretanha,
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prepotente e audaz, rainha dos oceanos, senhora de bloquear seus portos, e assim
extinguir a vida econômica do país, a mais forte e temida nação da Europa. Num
ponto apenas, lhe era superior o Império americano, no direito dominical da região
que ia ser invadida. (p. 298).
Para o Brasil, a situação ainda se agravava mais, pois através da moderação em sua
política, tentava alcançar seu interesse na região, porém mantendo íntimas relações com o
Império britânico, que era o seu principal parceiro econômico e financiador. Mesmo entre
autoridades inglesas restava certa parcela de dúvida sobre o direito a posse da região. Apesar
da intensa troca diplomática e dos insistentes protestos brasileiros, nada impediu a coroa
britânica de ocupar militarmente a região litigiosa para fazer cumprir seus interesses na
região. Posteriormente outros territórios foram inclusos na questão litigiosa, como Contigo e
Tacutú, e, para evitar uma retaliação britânica, foi sendo aceito pelo Brasil. No final das
contas, com todos os insistentes protestos brasileiros, foi criada uma zona de neutralidade,
onde os dois países tentavam ajustar os marcos fronteiriços: a Inglaterra, para fazer valer sua
vontade e o Império americano, sedento por território, para manter sua ocupação histórica da
região.
Todos esses fatos vieram à tona após a solicitação por parte da república brasileira da
arbitragem do Rei da Itália, já no início do século XX, para a resolução dessa questão
fronteiriça. Visto que o Brasil não teve a sua solicitação acatada, isso foi considerado a maior
derrota brasileira na delimitação fronteiriça.
CAP 11
Convém a tratar a grande herança brasileira da era colonial;questão essa que tem
profundas implicações para o Império, tanto no que tange ao se aspecto interno quanto na
condução da politica exterior do Brasil no século de XIX. Assim, o tráfico de escravos e a
escravidão se tornou quase que uma verdadeira saga na política brasileira, que acaba por
deixar de ser uma manha terrivel na história brasileira, sobretudo pela maneira como o
processo foi conduzido. Pandiá faz assim uma análise do de algumas questões que cercaram o
processo de abolição do tráfico de escravos e suas implicações, muito embora a própria
questão da escravidão fique no segundo. Não só se percebe que as críticas do período a
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escravidão ficavam mais em segundo plano diante do problema principal que se entendia
como o tráfico negreiro em si, mas como também o próprio Calógeras demonstra maior
espírito crítico para com o próprio tráfico.
injustas do referido tratado, primeiro com o auxílio do Dr. José Araujo Ribeiro e
subsequentemente com o Marquês de Barbacena.
Com o fracasso da negociação empreendida por Dr. Ribeiro, Barbacena fora
incumbido de obter a revogação do antigo artigo 19 e a sua consequente substituição em um
novo artigo, em que fossem levados em consideração os direitos de importação de
mercadorias de luxo, vinhos, dentre outros. Contudo, as recomendações evidenciavam a falta
de entendimento, por parte do governo brasileiro, do tratado: “Os 15% referem-se só aos
gêneros de producção, ou manufactura ingleza: ora, não sendo os vinhos, aguardentes, azeites
e vinagres, de producção ingleza, é claro que podemos argumentar os direitos sobe taes
gêneros sem licença ingleza.” (ibid., p. 376). A falsa persuasão do governo brasileiro, que
dava ao tratado uma extensão inexistente, levou a Grã-Bretanha a querer uma compensação
por uma concessão que nunca existiu de fato, como: a permanência da tarifa de 15% sobre os
gêneros principais e manufaturas e a prorrogação do tratado por mais 10 anos. A posição
brasileira, seguindo conselho de Barbacena, foi a de não concordância com os termos
impostos, combatendo ao menos o regime de nação mais favorecida da Inglaterra.
O autor, ao prosseguir em sua análise, mostra a relutância da Câmara em aceitar a
renovação desse e de possíveis outros tratados no sistema que se convencionou chamar a
política injusta de tratados. Posteriormente, em 1836, o tratado de comércio e navegação feito
com Portugal chega à Câmara. Miguel Calmon, da Comissão de diplomacia, deu parecer
favorável ao tratado, afirmando que o mesmo abria “um mercado novo de três milhões de
consumidores aos nossos productos, que pagariam um terço a menos dos direitos aduaneiros,
a troco de egual concessão feita aos productos portuguezes no Brasil.” (ibid., p. 380). Porém,
em virtude da hostilidade existente no meio brasileiro contra portugueses e da própria questão
da renovação do tratado de 1827 com a Inglaterra, o mesmo acabou sendo reprovado na
Câmara.
A reprovação do referido tratado deixa, portanto, claro que o legislativo não estava
disposto a renovar os tratados comerciais, salvo as cláusulas referentes à paz e amizade. Isto
levou a promoção da Independência tributária brasileira nos anos posteriores, em especial, na
regência. Os tratados que prosseguiram foram os artigos perpétuos do texto franco-brasileiro e
os convênios com a Inglaterra de 1826 sobre a extinção do trafico e o de 1827 sobre o
comércio e navegação. A efetivação da recusa à concessão de novos tratados demonstra,
portanto, a nova postura externa do país, após anos de dependência econômica em relação à
política de tratados advinda da independência.
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das regências, que se tornara “um ministério de família, com os dois irmãos Andrada, e os
dois irmãos Cavalcanti” (p. 419).
Além disso, o autor afirma que não só a Maioridade, mas também a conquista da paz
eram os elementos fundamentais para a manutenção do Império. Em suas palavras “(...) a
salvação da Independência, da unidade e da monarquia dependia do restabelecimento da
autoridade, da pacificação dos espíritos tanto quanto da tranquilidade material, da confiança
pública nos homens incumbidos pelos próprios fatos de executar tal programa (ibid., p. 418)”.
Isso era visto em um contexto de conflitos nos diferentes cantos do Brasil independente.
Fossem conflito separatistas, por questões de fronteira ou até mesmo de cunho absolutistas, é
importante considerar que os embates entre as forças do Império e seus inimigos era visto
como algo que poderia enfraquecer a unidade do Império. Havia, portanto, um medo latente
na elite política imperial de que acontecesse com o Brasil o mesmo que acontecera com os
vizinhos, caudilhistas: a fragmentação territorial e política, além do abandono da monarquia
em prol da república.
Um dos conflitos mais importantes da época era o que acontecia no Rio Grande do
Sul, onde os farrapos buscavam separar sua província do Império, transformando-a em uma
república independente. Temia-se que a rebelião do sul tivesse ligações com o caudilhismo
platino, e defendia-se que deveria haver guerra para manter a província sulista como parte do
Império brasileiro. Apesar disso, Calógeras destaca que, mesmo que o Império analisasse suas
condições militares para dissolver o movimento, procurava-se oferecer uma reintegração
daquela província ao Império por meios pacíficos, sem derramamento de sangue, apelando,
por exemplo, ao sentimento nacional.
Foram tais “desordens” – com destaque à cabanada, no Pará – que fizeram o nome de
Soares de Andréa: com mãos de ferro, comandou o esmagamento de diversos movimentos
locais, o que o tornou o escolhido do regente Feijó para a missão de pacificar o Sul. O país
precisava ser reanimado, em termos imperiais, visto que além do movimento farroupilha,
outros abalavam a unidade do Império. Entre estes movimentos, Calógeras destaca a balaiada
que, em 1839, foi um famoso, cruel e sangrento episódio da história brasileira. Este episódio
terminou, em 1840, com o surgimento do coronel Luiz Alves de Lima e Silva, responsável
pelo massacre dos insurgentes da balaiada, o que lhe garantiu a conquista do título de barão de
Caxias – chegando, em 1870, após vitórias no Paraguai, ao título de Duque de Caxias.
Havia uma relação direta entre as posições políticas no Rio de Janeiro e a maneira
como seria trabalhado o conflito no Sul. As divergências em relação à Maioridade existiam,
sob outra forma, também quanto à maneira de resolver o problema no Sul: enquanto os irmãos
Andradas eram favoráveis a negociações com os rebeldes, Aureliano de Sousa Coutinho
acreditava na vitória pelas armas – posição seguida pelo jovem imperador. As inúmeras
discordâncias entre os setores liberais e conservadores do Congresso levaram a sérios
problemas neste, inclusive a formação de um movimento de oposição que criou um conselho
de Estado. Este conselho, que tinha como um de seus líderes o ex-regente Diogo Feijó, foi um
dos pontos de inflamação que o Império precisava controlar. Essas querelas políticas
perturbaram a ordem tanto em São Paulo quanto em Minas Gerais, e trouxeram de volta a
figura do barão de Caxias que, entre os sucessos no Maranhão e a missão no Sul, fui o
encarregado de conter as manifestações em SP e MG.
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Referências