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UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI – URCA

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS - CURSO DE DIREITO


DISCIPLINA: FILOSOFIA JURÍDICA
PROFESSOR: RENO FEITOSA

RESENHA

ANANIAS, Petrus. SANTOS, João Paulo de Faria. Rompimentos e Continuidades: a


história do Brasil com uma história rotineira de rupturas. In: GONTIJO, Lucas de
Alvarenga; MAGALHÃES, José Luiz Quadros de; MORAIS, Ricardo Manoel de
Oliveira [Orgs.]. Rompimento democrático no Brasil: teoria política e crise das
instituições públicas. 2 ed. Belo Horizonte: Editora D’Plácido, 2017.

O artigo Rompimentos e Continuidades: a história do Brasil com uma


história rotineira de rupturas foi escrito por Patrus Ananias (professor de Direito e
Deputado Federal por Minas Gerais) e João Paulo de Faria Santos (advogado da
União e professor de Direito na Universidade de Brasília). O artigo tem opor objetivo
revisitar a história nacional com o fim de analisar e buscar compreender a série de
rupturas que ocorrem desde a independência em 1822.

Primeiro, observa-se no período do Império três grandes rupturas: em


1823, na dissolução da primeira Assembleia Constituinte da Pátria, em 1840, com o
Golpe da Maioridade, e em 1889, com a dissolução do regime monárquico na sua
mais alta popularidade. Em seguida, a pesquisa se volta para o período republicano,
conhecido por ser conturbado e com crises cotidianas, que se refletem em rupturas
existentes nos pouco mais de 100 anos desse regime. Assim, o artigo levanta a
hipótese de que no Brasil o que se apresenta como exceção é, na verdade, a regra.

Seguindo essa análise histórica, é realizada uma análise jurídica que


envolve os processos de rupturas constitucionais, de modo mais específico, os que
se concretizaram em período republicano e sobre como essas rupturas foram, ao
longo do tempo, se confirmando como algo normal. Chegando ao ponto de um
impeachment, que iniciava mais um processo de ruptura.

A ideia recorrente de que o período imperial foi estabelecido com grande


estabilidade é uma falácia. Segundo os autores, a afirmação do Segundo Reinado
“se deu em um processo conhecido como ‘golpe’ da maioridade” (p.140),
vivenciando “6 anos sob estado de guerra declarada contra o Paraguai (1864-1870)
e seu fechamento se deu sob ruptura igualmente brusca” (p.140). O próprio
processo de independência é uma ruptura, por um golpe do Imperador Pedro I que,
com as forças militares, rompeu a Assembleia Constituinte de 1823.

Nessa análise, os autores concluem que o processo de independência


brasileira se mostra incompleta e parcial, pois só se concretiza de modo pleno
quando incorpora tanto a dimensão formal jurídico-política, quando a basilar da
emancipação econômica e cultural. Assim, “o que bem começou com a égide de
uma Assembleia Constituinte termina com uma Constituição imposta, que colocava
o Imperador acima da Constituição e das leis, por meio do Poder Moderador”
(p.143).

Até mesmo a Proclamação da República vem desses processos de


ruptura. O 15 de novembro estava muita mais relacionado com o fim formal da
escravidão no ano anterior. A abolição, ainda que tardia, promoveu o distanciamento
e mesmo a ruptura de antigos senhores de escravos, proprietários de grandes
extensões de terras. De modo que a abolição se limitou ao ato formal de 13 de maio
de 1888, sem nenhuma preocupação posterior para com o progressivo acesso a
direitos e deveres dos escravos.

Assim como no período imperial, o início da República era de aparente


estabilidade. No entanto, esse viés profundamente conservador que não abria
perspectivas de mudanças servia para calar qualquer oposição e revoltas populares,
como aconteceu com o Revolta de Canudos e a Guerra do Contestado.

A primeira Constituição republicana brasileira não apresentava nada que


abrangesse a nova perspectiva que emergia no século XIX: as questões sociais, do
trabalho, das classes e dos pobres. Sendo uma Constituição totalmente pautada no
liberalismo econômico, diante “da emergência dos valores do socialismo, da
socialdemocracia, da democracia-cristã que levaram ao Estado de Bem-Estar Social
no século XX” (p.145). Isso refletiu também sobre o Código Civil de 1916.

Além do atraso constitucional e jurídico da ordem republicana, tivemos, em


plena sintonia com a ordem jurídica dissociada da realidade, a fase áurea do
coronelismo, das eleições corrompidas, a privatização do Estado Brasileiro. É,
durante esse período, que desmandes e rupturas institucionais passam a ser
rotineiros na história nacional. Desse modo, a República Venha forjava uma
legalidade aparente que não convencia. O período tido por estável contabilizou mais
de 6 anos completos de Estado de Sítio decretados oficialmente com sistema
constitucional suspenso.

Isso, até a Revolução de 1930 que desencadeou o fim da República Velha


e a Constituição de 1934. Ela durou pouco, pois em 1937 Getúlio Vargas outorga
nova Constituição. A história, assim, se desenvolve, passando pelo período de
regime militar em 1964, que após muitos anos, se encerra e desencadeia a
Constituição de 1988, em vigor até os dias atuais.

A Constituição bem exprimiu as diferenças e os conflitos presentes no


Brasil e que demandavam processos permanentes. Incorporou o paradigma do
Estado Democrático de Direito fundado nos direitos fundamentais e aberto às
exigências do desenvolvimento em suas várias dimensões e da justiça social. Se via
um apontamento para um Estado de Bem-Estar Social. Nesses últimos 28 anos, se
viu uma estabilidade, invertendo a lógica de rupturas. Que, segundo os autores,
retornou com o impeachment de Dilma Rousseff.

No entanto, para os autores, não cabe declarar o fim da história com esses
fatos analisados, antes, cabe aprender a resiliência e a forma de se tornar invencível
mesmo diante de constantes ataques e rupturas no sistema que deveria buscar o
bem-estar social. Mesmo que parece uma realidade ainda muito distante, sempre
deve ter esse movimento de ousadia e luta.

O artigo, assim, apresenta uma análise bem detalhada da história


brasileira, de modo a levar o leitor a compreender onde estamos e incentivar a
buscar chegar num Estado brasileira mais coerente na justiça e na sociedade.

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