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DESCRIÇÃO

Apresentação do papel da justiça na história do Brasil republicano desde o seu início, na República das Espadas, até o fim de uma fase, com a organização da ditadura civil-militar.

PROPÓSITO
Examinar a história do direito e da justiça no Brasil entre a Proclamação da República, em 1889, e o fim do governo militar, bem como as leis, objetos de vigorosas disputas sociais e
políticas, além da evolução delas para situações de conflitos sociais armados.

OBJETIVOS

MÓDULO 1

Reconhecer as relações entre justiça e poder durante a história da Primeira República brasileira (1889-1930)

MÓDULO 2

Identificar o aparato jurídico desenvolvido na Era Vargas (1930-1945)

MÓDULO 3

Descrever a jurisdição implantada ao longo do governo militar (1964-1985)

INTRODUÇÃO
Para o início do nosso estudo, saiba o seguinte: onde quer que existam seres humanos vivendo em coletividade, também haverá regras, escritas ou costumeiras, cujo objetivo mais
óbvio é regular justamente esse convívio.

Trata-se da maneira mais sensata e assertiva de dizer o que pode e o que não pode, estabelecendo limites para a liberdade individual. Além disso, é criada e imposta a repetição de
ritos considerados fundamentais para a existência daquela comunidade.

No entanto, as leis, a justiça e o direito não regulam apenas o convívio social: antes de tudo, sua regulação atua sobre o conflito social a partir de interesses desiguais e conflituosos.

As sociedades, sejam elas simples ou complexas, são sempre atravessadas por desigualdades e por grupos que disputam poder político, prestígio social e riqueza material. Os mais
fortes, aqueles que vencem as disputas sociais, tendem também a ter o poder de regular o convívio social nos moldes de seus interesses.

É por isso que, ao longo da história, pessoas foram escravizadas e valores construídos socialmente (como a propriedade privada) foram alçados à condição de um cânone jurídico
sacralizado em forma de lei. Você imagina o porquê disso?

Será a partir dessa perspectiva, que interpreta a justiça, o direito e as leis à luz dos conflitos que atravessam as sociedades humanas, que estudaremos justiça brasileira em três
momentos-chave da história do Brasil:

A Primeira República, entre 1889 e 1930, momento de maior transformação institucional do país, quando a legislação da monarquia foi substituída pela republicana;


A Era Vargas, entre 1930 e 1945, quando foi formado a aparato jurídico que transformou o Estado no centro planejador e executor do desenvolvimento nacional;


A ditadura militar, instituída no Brasil em 1964 e extinta em 1985, na qual foi erguido um aparato jurídico que legitimou a perseguição aos adversários do regime e toda sorte de crimes
contra a humanidade que foram cometidos no período.
MÓDULO 1

 Reconhecer as relações entre justiça e poder durante a história da Primeira República brasileira (1889-1930)

O DILEMA ENTRE REALIDADE E IMAGINAÇÃO JURÍDICA NA PRIMEIRA REPÚBLICA


BRASILEIRA (1889-1930)
Talvez você se recorde das aulas de história do ensino fundamental nas quais a professora fazia uma distinção entre as repúblicas, apontando seus períodos e alguns de seus
personagens. Desse aporte, o importante é saber que o marco da Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, representou — além da destituição da monarquia — o
início da Primeira República (também conhecida como República Velha).

Um dos grandes e importantes personagens desse período histórico brasileiro foi o jurista e político baiano Rui Barbosa (1840-1923). Sua figura é incontornável nos estudos acerca
da história da lei, do direito e da justiça durante a Primeira República brasileira.

Rui Barbosa foi o principal responsável pela redação da Constituição de 1891, que sobreviveria até 1930.

Rui Barbosa tinha uma destacada atuação política desde o final da década de 1860, quando foi eleito deputado pela então província da Bahia. A partir desse momento, ele foi uma
das principais lideranças do Partido Liberal, que, na monarquia brasileira, polarizava a disputa política com o Partido Conservador.

Barbosa era um reformista. Defendia reformas estruturais na monarquia, o que, segundo ele, seria indispensável para a modernização do país. A descentralização político-
administrativa, a separação entre Igreja e Estado, a implantação de eleições diretas e a abolição da escravidão faziam a parte da agenda reformista defendida por ele.

 Rui Barbosa, Brasil. Nota de dez cruzados, 1987.

O modelo para o reformismo barbosiano era a monarquia inglesa. “Reformas para conjurar a revolução” era o lema da ala política liderada por Rui Barbosa. Seu intuito era adaptar a
monarquia aos “novos tempos” para impedir a ruptura revolucionária e a Proclamação da República.

O Establishment político monárquico estava convencido de que a república era uma forma de organização política inferior e potencialmente anárquica, sendo, por isso, inadequada
ao Brasil.

Em discurso proferido no início da década de 1870, Rui Barbosa deixou claro os princípios que orientavam a agenda de reformas estruturais defendida pelo Partido Liberal:

ESTABLISHMENT

Grupo sociopolítico que, exercendo autoridade, controle ou influência, defende seus privilégios.

A CORRENTE SE AVOLUMA E DIA A DIA REDOBRA DE FORÇA: ONTEM POBRE VERTENTE, DEPOIS
REGATO; HOJE RIO MAJESTOSO, AMANHÃ SERÁ OCEANO [...] COMO DIZEM TODOS QUE
VERDADEIRAMENTE SE INTERESSAM PELA SORTE DA NAÇÃO: REFORMAI SEM DEMORA, REFORMAI
RADICALMENTE ESTE SISTEMA CORROMPIDO; ALIÁS, QUANDO PROCURARDES PELAS INSTITUIÇÕES,
ELAS SE TERÃO AFUNDADO NO ABISMO COM O SISTEMA QUE A ELAS SE AGARRANDO, COMO
NOCIVA PARASITA, AS DESCONJUNTAM, E ABALAM EM SEUS FUNDAMENTOS.

BARBOSA, 1987, p. 15-16.


Os anos seguintes mostraram que a monarquia não foi capaz de fazer uma autorreforma na velocidade que as circunstâncias exigiam. Pelo contrário: a década de 1870
acelerou o desgaste das instituições monárquicas.

O fim da Guerra do Paraguai (1864-1870) teve como grande consequência o empoderamento do Exército. Foi a partir de então que ele se tornou força de desestabilização
institucional, o que culminou no golpe militar que efetivamente derrubou a monarquia em novembro de 1889.

Em 1873, no interior de São Paulo, na cidade de Itu, foi fundado o Partido Republicano, evento indicativo de que a monarquia deixava de ser um consenso entre a elite política
brasileira. Cada vez mais lideranças liberais seriam capturadas para a causa republicana.

Como demonstra Christian Lynch (2007), aconteceu exatamente isso com Rui Barbosa. Ele inclusive recusou, em junho de 1889, o convite do Visconde de Ouro Preto para compor
aquele que seria o último governo da monarquia.

Sua ideia era finalmente tentar promover a principal reforma demandada pelas elites políticas e econômicas em ascensão: a federação, o que significava o fortalecimento dos
governos locais sobre a autoridade do governo central.

Porém, como você sabe, já era tarde demais.

A conspiração republicana já estava em marcha, sendo movida pela aliança entre militares e civis. Entre os participantes, destacava-se o próprio Rui Barbosa, que assumiu o cargo
de ministro da Economia do governo de Marechal Deodoro da Fonseca (1827-1892). Ele durou apenas dois anos: teve início em novembro de 1889 e terminou em 23 de
novembro de 1891.

Já nos primeiros momentos do governo de Deodoro da Fonseca, estava claro o conflito travado entre militares positivistas e liberais federalistas. Os militares defendiam a
implementação de uma ditadura para modernizar o país. A palavra “modernização” era entendida aqui como industrialização e urbanização.

Já os liberais federalistas, liderados por Rui Barbosa, preferiam a descentralização administrativa e a instituição de uma democracia liberal baseada na representação política e em
eleições diretas.

 Proclamação da República do Brasil, Benedito Calixto, 1893.

Rui Barbosa teve êxito nas disputas internas dentro do governo provisório. Todos os decretos publicados até a promulgação da Constituição, em 24 de fevereiro de 1891, passaram
por sua supervisão direta, tendo ele sido o principal redator do próprio texto constitucional.

Não seria exagerado, portanto, dizer que Rui Barbosa é o pai da estrutura jurídica que vigorou no Brasil ao longo da Primeira República.

Contudo, o próprio Rui Barbosa reconhecia as limitações que essa estrutura jurídica encontrava para, de fato, regular a vida social e política. Após ter rompido com o Marechal
Floriano Peixoto (1839-1895), sucessor de Deodoro da Fonseca, ele se aproximou de lideranças monarquistas. Passando a fazer uma oposição ao governo militar, Barbosa
reconhecia não ser aquela a “república dos seus sonhos”.

A dissonância entre a legislação democrática e liberal e uma realidade social e política autoritária caracterizada pelas práticas oligárquicas e pela violência manifestada no “voto de
cabresto” constitui uma das principais características da Primeira República brasileira.

A CONSTITUIÇÃO DE 1891

Você sabia que esta foi a segunda Constituição do Brasil?

Composta por 91 artigos, ela foi diretamente inspirada pelo modelo da Constituição dos Estados Unidos. O federalismo norte-americano, caracterizado pela grande autonomia dos
governos locais, era muito atraente para as oligarquias brasileiras – principalmente para aquelas diretamente envolvidas com a agroexportação de café, que, na época, era a principal
riqueza brasileira.
O interesse desses grupos era tocar seus negócios com a mínima interferência possível do governo central. Mais do que republicanas, essas oligarquias eram federalistas. Outro
princípio afirmado pela Constituição de 1891 foi a república, rompendo, assim, com a hereditariedade dinástica da monarquia. Agora o país passaria a ser governado por políticos
eleitos para mandados temporários.

O poder do Estado passava a estar dividido em três partes: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, sendo a organização do governo feita no regime presidencialista.

Outro valor liberal consagrado nessa Constituição foi a liberdade individual. Segundo esse princípio, o indivíduo é a célula social básica na qual residem todos os direitos, sendo
a vida, a propriedade e a liberdade os principais entre eles.

Capa da Constituição da República do Brasil de 1891.

Juramento da Constituição, Aurélio de Figueiredo, 1891.

Para o filósofo britânico Isaiah Berlin (1981), a liberdade liberal significa a autonomia do corpo físico dos indivíduos, definindo-se pela ausência de coerções externas ao livre
movimento do corpo.

A Constituição instituiu também o Estado laico, colocando um fim ao padroado, o qual, desde o início da monarquia, fazia da Igreja Católica uma espécie de instituição de Estado. O
voto censitário, adotado pela Coroa, foi abolido.

Mas não se engane: isso não significou, como demonstra José Murilo de Carvalho (1988), a ampliação da população eleitoralmente ativa. Esse fato só ocorreu porque a república
adotara outras restrições ao direito de voto.

Eis alguns exemplos dessas restrições: militares de baixa patente, religiosos submetidos à hierarquia eclesiástica e analfabetos eram considerados cidadãos eleitoralmente ativos.
Isso fez com que a parcela da população habilitada ao voto fosse ainda menor que a dos tempos da monarquia.

O STF E A REPÚBLICA

Na realidade social, essa legislação foi posta em prática em uma sociedade complexa, desigual e atravessada pelas heranças da escravidão. Se você perguntar o que isso gerou,
podemos dizer que ela fez com que o funcionamento das instituições jurídicas ganhasse algumas particularidades.

 Antigo Supremo Tribunal Federal (STF).


Uma delas é o objeto de estudo analisado pelas historiadoras Surama Conde Sá Pinto e Tatiana de Souza Castro (2019). Ambas estudaram pedidos de habeas corpus protocolados
no Supremo Tribunal Federal (STF), a corte superior da justiça brasileira segundo a Constituição de 1891, ao longo da Primeira República.

Segundo as autoras, o tema da relação entre justiça e política oligárquica na Primeira República foi abordado de diferentes formas na bibliografia especializada. Algumas visões
dominantes afirmam que tanto a justiça quanto o Judiciário eram meras extensões das oligarquias, o que se justifica pela falta de autonomia do sistema diante do coronelismo.

 ATENÇÃO

Além disso, outros posicionamentos falam que, com o STF e o Judiciário, o exercício da cidadania estava seguro, havendo até a utilização dos habeas corpus . De acordo com Pinto
e Castro (2019), outra visão mais recente interpreta essa fase, relativizando-a. Segundo tal visão, o Judiciário era visto em várias oportunidades defendendo os direitos da cidadania,
mas, ao mesmo tempo, o STF dificultava o cumprimento dos tais habeas corpus citados.

Como podemos perceber, a questão da autonomia das instituições jurídicas, assim como a capacidade da lei e da justiça em, de fato, regular a vida social e política e se manter
imune às coerções impostas pelas oligarquias, são itens de extrema importância nos estudos especializados da história da justiça no Brasil ao longo da Primeira República.

Surama Pinto e Suzana Castro (2019) colaboram com essa discussão, argumentando que as instituições do Poder Judiciário — notadamente o STF — eram acionadas pela
sociedade civil no sentido da defesa das garantias do estado democrático de direito, um valor liberal por excelência.

No entanto, alegam as autoras, o STF (e a justiça em geral) não pode ser superestimado, pois uma quantidade relevante de pedidos era negada, muitas vezes por pressões políticas.
Ou seja: seria equivocado dizer que a justiça era só um floreio, sem nenhuma capacidade de funcionamento autônomo e plenamente incapaz de garantir direitos previstos no texto
constitucional.

Se isso fosse verdade, as pessoas sequer tentariam apelar à justiça e ao STF. Porém, considerando a tramitação dos pedidos examinados, Surama Pinto e Suzana Castro (2019)
identificam um baixo índice de sucesso para os impetrantes e uma grande porosidade dos ritos legais, o que fazia das pressões um elemento importante para o desfecho dos
processos.
A atuação do STF na Primeira República também é tema de um trabalho desenvolvido por Gladys Sabino Ribeiro (2008). A autora estava interessada em examinar as relações da
corte com duas outras forças: o Poder Executivo e a sociedade civil.

SE, POR UM LADO, A CORTE SUPREMA BRASILEIRA ESTAVA INSERIDA NO PROJETO DE


MODERNIZAÇÃO, CIVILIZAÇÃO E ORGANIZAÇÃO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO; POR OUTRO,
CONTESTAVA DECISÕES E PEDIDOS DO EXECUTIVO E PROCURAVA UM ESPAÇO DE ATUAÇÃO
PRÓPRIO. NESTE ÚLTIMO SENTIDO, ACOLHIA PLEITOS POPULARES NÃO SÓ REATIVOS, MAS TAMBÉM
PROPOSITIVOS.

ALÉM DISSO, DAVAM VOZ A INTERPRETAÇÕES SOBRE DIREITOS QUE PARTIAM DE VIVÊNCIAS
POPULARES. A POPULAÇÃO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO JULGAVA AS SUAS DEMANDAS À LUZ
DAS SUAS EXPERIÊNCIAS COTIDIANAS E DE UM ENTENDIMENTO DO DIREITO À LIBERDADE QUE, SE
NÃO SUPLANTAVA, DIALOGAVA COM O DIREITO DE PROPRIEDADE E, SOBRETUDO, COM OS DIREITOS
RELATIVOS ÀS LIBERDADES INDIVIDUAIS.

RIBEIRO, 2008, p. 101-102.

Tal como fizeram Surama Pinto e Suzana Castro (2019), Gladys Sabino Ribeiro (2008) complexifica o lugar da justiça na dinâmica social e política da Primeira República brasileira.
Seu sistema, afinal, é apresentado como dotado de alguma autonomia para contrariar os interesses oligárquicos que, na época, dominavam o Poder Executivo.

Ao mesmo tempo, podemos perceber que a sociedade civil possuía alguma capacidade de organização a ponto de ocasionalmente obter algum sucesso na imposição de suas
demandas. Ela chegou até mesmo a influenciar, a partir dos repertórios da cultura popular, a atuação dos magistrados reunidos no STF.

Esses estudos, portanto, desconstroem a imagem caricata da Primeira República, na qual as oligarquias rurais tinham um poder supremo sobre todas as instituições e reinavam
olimpicamente diante de uma sociedade civil amorfa e passiva.

Como pudemos perceber, essa caricatura não se sustenta em estudos mais cuidadosos que, longe de negar o enorme poder das oligarquias cafeicultoras na época, nos mostram um
cenário mais complexo. A justiça, afinal, gozava em tal cenário de alguma autonomia, enquanto a sociedade civil era uma força relevante nas disputas travadas no campo jurídico.

Essa relevância da sociedade civil fica ainda mais evidente na década de 1920, era marcada por grande agitação social e pelo desgaste do pacto político que sustentou a Primeira
República.

Você sabia que esse período é chamado de “a grande instabilidade” e que ficou conhecido por sua grande instabilidade social?

As historiadoras Marieta Ferreira e Surama Conde Sá Pinto (2019) argumentam que esse período foi marcado por uma grande instabilidade social, econômica e política.

No que se refere ao viés econômico, a década de 1920 foi um período de instabilidade. Seus primeiros anos são marcados pela baixa dos preços internacionais do café, havendo
graves resultados na economia brasileira, como a alta da inflação e crise fiscal sem precedentes. Mas também ocorreu uma expansão do setor cafeeiro. Segundo as historiadoras
(2019), “passados os primeiros momentos de dificuldades, o país conheceu um processo de crescimento expressivo que se manteve até a Grande Depressão em 1929”.

Posteriormente, houve uma diversificação da agricultura, o desenvolvimento das atividades industriais, a expansão de empresas e o surgimento de novos estabelecimentos ligados à
indústria de base. Esse foi um importante sinal da complexificação da economia brasileira.

Em concomitância a essas mudanças, ocorreu a ampliação dos setores urbanos e o crescimento das camadas médias da classe trabalhadora, assim como uma ampliação de
interesses das elites econômicas. “Em seu conjunto, essas transformações funcionariam como elementos de estímulo a alterações no quadro político [questionando] as bases do
sistema oligárquico da Primeira República”, explicam Ferreira e Pinta (2006, p. 1-2).

A grande instabilidade

O ano de 1922 foi emblemático da crise estrutural e do esgotamento do pacto oligárquico efetivado pela “política dos governadores”. Houve vários eventos de crise nesse ano:

A “reação republicana” que marcou as eleições de 1922, as mais acirradas em muito tempo e disputadas entre Arthur Bernardes (1875-1955), candidato das oligarquias, e Nilo
Peçanha, representando as oposições.

A revolta de oficiais de baixa patente do Exército realizada no Rio de Janeiro, no Forte de Copacabana, evento de fundação do “Tenentismo”, que marcou o retorno dos militares a
uma postura de maior intervencionismo político.

A Semana de Arte Moderna realizada em São Paulo, que verbalizou, no plano da estética, as insatisfações com aquele estado de coisas.

Os conflitos se agudizariam ainda mais nos anos seguintes, resultando em uma ruptura institucional em 1930, logo depois das eleições presidenciais disputadas entre Júlio Prestes
(1842-1946), candidato das oligarquias dominantes, e Getúlio Vargas (1882-1954), que era da oposição.

As eleições, expostas a toda sorte de manipulações e fraudes, como era comum na Primeira República, deram a vitória para Júlio Prestes. No entanto, a frente ampla de opositores
— formada por militares, oligarquias dissidentes e classes médias – chamada de “Aliança Liberal” não aceitou o resultado e pôs em marcha um levante armado conhecido como
“Revolução de 1930”.

Teve início, assim, outro momento da história política e institucional brasileira que ficou conhecido como “Era Vargas”. Essa era foi caracterizada por profundas transformações
institucionais e jurídicas. É sobre essas transformações que nos debruçaremos no próximo módulo.
Um especialista falará neste vídeo sobre a transição política entre a Primeira República e o chamado Período Vargas

VERIFICANDO O APRENDIZADO

MÓDULO 2

 Identificar o aparato jurídico desenvolvido na Era Vargas (1930-1945)

TRANSFORMAÇÕES NA JUSTIÇA, NO DIREITO E NAS LEIS DURANTE OS


GOVERNOS DE GETÚLIO VARGAS

 Getúlio Vargas, presidente do Brasil entre 1930 e 1945 e de 1951 a 1954.

O político gaúcho Getúlio Vargas governou o Brasil em duas ocasiões:


1930-1945:

O período conhecido como a “Era Vargas” foi caracterizado por profundas transformações jurídico-institucionais na estrutura do Estado brasileiro.

1951-1954:

Na segunda ocasião, houve um “governo democrático”.

Nosso objetivo é estudar com cuidado a história da justiça, da lei e do direito nesses dois momentos, buscando entender suas relações tanto com as disputas políticas quanto com a
competição pelo controle do Estado nacional e das riquezas do país.

Segundo o historiador Boris Fausto (1997), a Revolução de 1930 deu origem ao “Estado de compromisso”, um indicativo de que a coalização que formou a aliança liberal e garantiu o
sucesso da rebelião comandada por Getúlio Vargas era muito ampla. Isso exigia da liderança do movimento grande habilidade em coordenar e combinar interesses.

Nas palavras do autor...

A possibilidade de concretização do Estado de compromisso é dada, porém, pela inexistência de oposições radicais no interior das classes dominantes e, em seu âmbito, não se
incluem todas as forças sociais.

O acordo se dá entre as várias frações da burguesia: as classes médias — ou pelo menos parte delas — assumem maior peso, favorecidos pelo crescimento do aparelho do Estado,
mantendo, entretanto, uma posição subordinada.

À base da margem do compromisso básico fica a classe operária, pois o estabelecimento de novas relações com a classe não significa qualquer concessão política apreciável.

FAUSTO, 1997, p. 136-137.

Todos os atos jurídicos colocados em prática nos primeiros anos do governo de Getúlio Vargas culminaram na Constituição de 1934, que formalizou a situação política à qual ele
ascendera quatro anos antes. No entanto, como demonstra Ângela de Castro Gomes (1997), essa conciliação de interesses não se deu sem conflitos.

Havia relações conflituosas, sobretudo, entre as oligarquias dissidentes que questionavam a hegemonia de São Paulo na geopolítica nacional e os oficiais do Exército de baixa
patente. Cabe ressaltar que esses oficiais, conhecidos como “tenentes”, demandavam modificações estruturais na organização da sociedade brasileira, como, por exemplo, o
incentivo à industrialização, à urbanização e à centralização administrativa.

Você já ouviu falar de um movimento denominado Tenentismo?

TENENTISMO

Leremos um trecho extraído da obra de Ângela Castro Gomes (1997, p. 26) para entendermos, de forma mais clara, o propósito desse “movimento”:

“De uma forma muito esquemática, o que estava em jogo era uma diretriz de organização institucional do Estado do Brasil. Os tenentes, por exemplo, procuraram emprestar ao
Estado uma orientação claramente centralizadora, de reforço dos poderes intervencionistas da União, inclusive na área econômica e social.

A execução dessa proposta deveria estar pautada em padrões técnicos de administração, sendo sua eficácia garantida por um regime político forte. Isto é, pela permanência da
ditadura como meio de sanear costumes e redefinir os ideais da nação.

Dessa forma, os setores revolucionários do Tenentismo, ao mesmo tempo que despolitizaram o campo político — transformando-a em atividade administrativa, particularmente nas
esferas estaduais e municipais —, defendiam um modelo de Estado nitidamente antiliberal, na medida que a crítica à oligarquia se confundia com a crítica ao liberalismo utópico e
desvirtuador da República Velha.

Já os setores oligárquicos divergentes insistiam na manutenção das prerrogativas da autonomia estadual e na limitação dos poderes da União, enfim, na defesa do federalismo como
ponto-chave da organização política do País. Lutavam, por conseguinte, pela defesa dos princípios políticos liberais que respaldaram e possibilitaram a hegemonia desse grupo ao
tempo da Primeira República”.

A CONSTITUIÇÃO DE VARGAS

Vamos acompanhar a evolução da justiça no Brasil?

São Paulo, estado que mais perdeu com a Revolução de 1930, se levantou em armas contra o governo de Getúlio Vargas. A “Revolução Constitucionalista” foi uma guerra civil que,
em 1932, exigia uma nova Constituição para o país.
Entre os principais atos jurídicos do governo provisório de Getúlio Vargas, podemos destacar os seguintes:

A criação dos ministérios do Trabalho e da Educação em 1930, o que traduziu os interesses daquele governo em romper com a tendência federalista/oligárquica da Primeira
República e concentrar poderes no que se referia aos trabalhadores e ao ensino.

A promulgação do Código Eleitoral em 1932, cujo objetivo era modernizar as eleições, otimizar a representação e aumentar o tamanho da população eleitoralmente ativa. Vejamos
algumas das principais novidades trazidas por ele:

o Criação da Justiça Eleitoral;

o Adoção do voto secreto;

o Imposição da obrigatoriedade do voto;

Concessão do direito de voto e do direito de se candidatar às mulheres maiores de 21 anos.

Como já sabemos, as eleições eram o principal objeto de críticas à Primeira República. O voto aberto, os currais eleitorais e a ausência de justiça eleitoral autônoma as colocavam
sob constante suspeição, fazendo delas uma máquina de dominação oligárquica – e não uma prática de representação política efetiva.

Não seria exagerado dizer, portanto, que a “questão eleitoral” era um dos poucos pontos consensuais entre as diversas forças que formaram a Aliança Liberal, coalizão que levou
Getúlio Vargas ao poder em 1930. O próprio Vargas, discursando em 15 novembro de 1933, deixava claro como a reforma eleitoral era um compromisso incontornável:

O GOVERNO REVOLUCIONÁRIO, RESPONSÁVEL PELO SANEAMENTO DOS COSTUMES POLÍTICOS


CONTRA OS QUAIS A NAÇÃO SE REBELOU, NÃO PODERIA COGITAR DE REORGANIZÁ-LA
CONSTITUCIONALMENTE ANTES DE APARELHÁ-LA PARA MANIFESTAR, DE MODO SEGURO E
INEQUÍVOCO, A SUA VONTADE SOBERANA. A REFORMA ELEITORAL QUE ERA, PARA MIM,
COMPROMISSO DE CANDIDATO [...] TORNOU-SE IMPOSIÇÃO INADIÁVEL AO ASSUMIR A CHEFIA DO
GOVERNO PROVISÓRIO.

VARGAS, 1933.

Até então, podemos perceber que, mesmo com toda essa reformulação político-administrativa, era urgente a promulgação de uma nova Constituição, especialmente depois da
rebelião paulista de 1932.

A nova Constituição, outorgada em julho de 1934, trazia a centralização político-administrativa como argumento principal, destoando contundentemente da lógica federalista, que,
como já estudamos, atravessava o texto constitucional de 1891.

O que estava em jogo, na verdade, era outra visão do Brasil, segundo a qual a sociedade civil seria amorfa e desorganizada, enquanto os governos locais (estaduais e municipais)
estariam completamente dominados por interesses oligárquicos sem nenhum compromisso com o interesse nacional.

Por conta disso, a solução para o desenvolvimento do país seria um governo central forte, personalizado pelo presidente da República e pretensamente portador do “verdadeiro
interesse nacional”.
Ao analisar o texto constitucional de 1934, Ângela de Castro Gomes (1997) argumenta que ele trouxe a figura do Estado “forte” e “fechado”, cuja participação política se daria pelo
sindicato. Em contraponto, a autora afirma que já havia defensores de um Estado “moderno”, entendendo que a democracia, para ser exercida, necessita de participação ampla.

Outra característica importante da Constituição de 1934 foi a definição da cidadania em função da atividade laboral.

 RESUMINDO

O modelo de cidadão ideal que começava a ser construído pelo texto constitucional – também presente nas constituições seguintes pela política de propaganda do governo – era o
trabalhador urbano, formalizado e vinculado ao sindicato de sua categoria.

 Passeatas sindicais do período.

Os diversos sindicatos, por sua vez, estavam vinculados diretamente ao Estado por meio do Ministério do Trabalho. A carteira de trabalho cada vez mais se tornava símbolo da
honestidade, prova de que cidadão não era dado à vadiagem.

Sindicalizado, esse cidadão trabalhador constituía a célula fundamental da representação política dada justamente por intermédio dos sindicatos. Era o princípio da “representação
classista” típica de uma “república sindicalista”.

O governo constitucional de Getúlio Vargas nasceu sob uma situação de grande polarização ideológica, sendo uma manifestação nacional da situação política internacional da época.

De um lado, à direita do espectro ideológico, estava a Ação Integralista Brasileira (AIB), liderada pelo jornalista Plínio Salgado, claramente inspirada nos governos fascistas que
ascenderam na Europa na década de 1930; do outro, à esquerda, a Aliança Nacional Libertadora (ANL), capitaneada pelo comunista Luís Carlos Prestes (1808-1990), que mantinha
diálogos estreitos com o Partido Comunista soviético.

Sobre essa polarização ideológica, Ângela de Castro Gomes (1997) argumenta que os dois movimentos foram cruciais para as transformações políticas sofridas após 1934.
Transcorria um grande caos político.

Primeiramente, houve repressão policial a operários e, em seguida, ampliada a jornalistas, intelectuais e até parlamentares. Como se não bastassem esses acontecimentos, em abril
de 1935, completa Gomes (1997, p. 35), “a Lei de Segurança Nacional fortalecera os poderes do presidente da República tão cuidadosamente controlados pela Carta de 1934”.

 Propaganda do Estado Novo (Brasil) mostra Getúlio Vargas ao lado de crianças, 1938.

O que percebemos hoje com clareza é que o governo chefiado por Getúlio Vargas soube manipular com muita astúcia esse cenário de polarização ideológica. Ele utilizou os dois
grupos como espantalhos para justificar uma escalada autoritária que culminaria no golpe civil-militar que instituiu, em 1937, a ditadura do Estado Novo.

No mesmo ano de 1935, graças à eclosão da chamada “intentona comunista”, o governo acionou prerrogativas da Lei de Segurança Nacional (LSN) para fechar a ALN, prendendo
seus principais líderes.

Esse episódio incluiu o casal Luís Carlos Prestes e Olga Benário Prestes. Ambos foram acusados de liderar uma conspiração golpista cujo objetivo seria implantar uma ditadura
comunista no Brasil, algo que jamais foi comprovado.

Ainda em 1935, o Congresso Nacional, depois do fechamento da ANL, aprovou a decretação do estado de sítio, que seria prorrogado sucessivamente até meados de 1937. Foi
somente nesse ano — após inúmeras prisões de deputados e senadores, crises internas em alguns importantes governos estaduais e com a campanha presidencial próxima — que o
Congresso finalmente negou um novo pedido de renovação do estado de sítio proposto por Vargas.
 Prestes no Tribunal de Segurança, 1937.

A essa altura, o establishment político já se articulava visando às eleições que aconteceriam em 1938. As chapas já estavam até formadas.

A disputa se daria entre Armando de Sales Oliveira (1887-1945), representando os interesses das oligarquias de São Paulo, e José Américo de Almeida (1887-1980), que
representava as oligarquias dissidentes que articularam a Revolução de 1930.

Com o apoio de lideranças militares e, notadamente, do general Góis Monteiro (1887-1956), Getúlio Vargas liderou um autogolpe continuísta. Esse golpe suspendia a Constituição de
1934 e implantava uma ditadura civil-militar que duraria oito anos, de 1937 a 1945.

No plano da justiça, houve a transição drástica de uma estrutura jurídica de coloração liberal democrática para uma de claro perfil autoritário. Mobilizemos novamente as reflexões de
Ângela de Castro Gomes (1997): segundo a autora, esse golpe selou qualquer discussão acerca dos questionamentos políticos da época.

Percebamos que, para Gomes (1997), todo o trabalho constitucional realizado pela luta das oligarquias do Centro-Sul foi deixado de lado. O Estado Novo foi um verdadeiro retrocesso
das lutas anteriores, chegando a ser mais autoritário que o movimento tenentista.

Ao longo dos primeiros anos do Estado Novo, pode-se perceber o esforço do regime em se legitimar por meio de dispositivos jurídicos responsáveis por instaurar uma nova
legalidade. A Constituição de 1937 ficou conhecida como “Polaka” pelo fato de ser inspirada pela Constituição polonesa, que era de matriz fascista.

Mas se engana quem acha que o Estado se aliou ao integralismo de Plínio Salgado. Em 1937, em uma operação semelhante àquela que havia perseguido a ALN, o governo ditatorial
também reprimiu a AIB sob a acusação de conspiração.

As principais características da “Polaka” foram:

1
2
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5

Regulamentação de uma estrutura corporativa em que empregadores e empregados estão submetidos ao controle ou à proteção do Estado;

Estabelecimento da censura prévia a imprensa, cinema e rádio por meio do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP);

Pena de morte para os crimes contra a ordem pública e organização do Estado;

Proibição da greve e do lock-out (paralisação do trabalho por iniciativa do empregador);

5
Organização de uma justiça do trabalho para mediar os conflitos entre patrões e empregados.

REFORMAS DO ESTADO NOVO

Somam-se à Constituição de 1937 outros atos que passariam a formar a estrutura jurídica do Estado Novo.

Entre eles, podemos destacar alguns bem importantes:

LEI Nº 1402, DE 1939


Estabeleceu normas para o funcionamento das organizações sindicais, definindo que cada categoria profissional somente poderia ter um sindicato oficial, o qual, por sua vez, seria o
responsável por intermediar as negociações entre os sindicalizados e o Estado.

CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS TRABALHISTAS (CLT), EM 1940


Estabeleceu a regulação oficial dos direitos dos trabalhadores urbanos. Destacaremos a seguir alguns desses direitos:

Proibição da diferenciação salarial por motivos de sexo, idade, nacionalidade e Estado civil;

Instituição do salário-mínimo;

Redução da jornada de trabalho para oito horas diária;

Proibição do trabalho para menores de 14 anos;

Criação do repouso semanal remunerado, das férias remuneradas e da indenização em caso de demissão por justa causa;

Regulamentação da assistência média e dentária ao trabalhador e à gestante.

CRIAÇÃO DO DEPARTAMENTO ADMINISTRATIVO DOS SERVIÇOS PÚBLICOS (DIP)


O DIP tinha o objetivo de pôr fim ao caráter político de recrutamento do funcionalismo público e basear as contratações no sistema e mérito por meio de concursos ou provas de
habilitação competitivos para qualquer candidato a funcionário público.

CRIAÇÃO DA COMPANHIA SIDERÚRGICA NACIONAL (CSN), DA COMPANHIA VALE DO RIO DOCE E DA


HIDRELÉTRICA PAULO AFONSO
A intenção era fortalecer a infraestrutura produtiva da economia brasileira e iniciar um processo de mudança naquilo que, na época, era conhecido como “vocação agrícola da
economia nacional”.

 ATENÇÃO

Não basta apenas enumerar as ações jurídicas: precisamos entender qual tipo de projeto político inspirava essas leis.

Segundo a historiadora Eli Diniz (1997, p. 80), seu primeiro aspecto seria o fortalecimento do Executivo como uma condição para restaurar a autoridade nacional e garantir o poder de
Estado contra a ação desagregadora do privatismo e do localismo, tendências típicas da política brasileira antes de 1930.

Todos esses dispositivos jurídicos, portanto, verbalizavam a seguinte interpretação sobre o Brasil: um Estado centralizado e forte era fundamental para o desenvolvimento do país.
Essa teoria política foi desenvolvia pelo jurista fluminense Oliveira Vianna (1883-1951), que comandou a burocracia do Estado Novo.

Oliveira Vianna era um profundo estudioso do funcionamento do Estado brasileiro. Em 1918, publicou seu primeiro livro, o ensaio Populações meridionais do Brasil, considerado até
hoje um texto canônico na tradição do pensamento social brasileiro. Ao ajudar a desenhar a estrutura burocrática do Estado Novo, ele tinha em mente certa concepção de “Estado
corporativo”, muito em voga na cultura jurídica ocidental na década de 1930.

 SAIBA MAIS

O modelo de Estado corporativo de Oliveira Vianna, cujo papel de representação política e de relação entre Estado e sociedade é realizado primordialmente pelo assento de
representantes de classe nos órgãos estatais, constitui o centro do trabalho intelectual desenvolvido pelo autor. Foi com essa visão que ele pôde desenvolver sua defesa do Estado
Novo nos seguintes livros: Problemas de direito corporativo (1938); O idealismo da Constituição (1939), em sua segunda edição; e, por fim, Problemas de direito sindical (1943).

O Estado novo foi arquitetado como um regime autoritário e modernizador que deveria durar muitos anos. No entanto, seu tempo de vida acabou sendo curto, não chegando a
completar oito anos.

Os problemas do regime resultaram mais da inserção do Brasil no quadro das relações internacionais que das condições políticas internas do país. Essa inserção impulsionou as
oposições e abriu caminho para divergências no interior do governo.

Após a entrada na guerra, personalidades de oposição começaram a explorar a contradição existente entre o apoio do Brasil às democracias e a ditadura de Vargas. No âmbito do
governo, pelo menos, uma figura se mostrou francamente favorável a uma abertura democrática: Oswaldo Aranha (1894-1960), então ministro das Relações Exteriores.
 RESUMINDO

Segundo o historiador Antônio Mendes Almeida (1997, p. 228), a situação vivida era contraditória, uma vez que, no próprio país, havia situações semelhantes às combatidas na
guerra. Sendo assim, “a luta da força expedicionária brasileira nos campos europeus deveria ser complementada a nível interno por uma luta contra a ditadura getulista”.

O desmonte do aparelho repressor foi marcado por importantes transformações jurídico-institucionais. Destacaremos seis delas a seguir:

Convocação de eleições gerais para dezembro de 1945.

O retorno do sistema partidário, agora formado por partidos nacionais.

União Democrática Nacional (UDN), composta pelos adversários de Getúlio Vargas.

Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), que contava com a proteção política de Vargas.

Partido Social Democrático (PSD), formado por político que apoiavam Vargas.

Partido Comunista Brasileiro (PCB), sob a liderança de Luís Carlos Prestes.

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RETORNO À DEMOCRACIA

 Posse de Eurico Gaspar Dutra como presidente da República, Autor Desconhecido.

Aparentemente colaborando com a transição democrática, Getúlio Vargas autorizou a formação das chapas que concorreriam às eleições de 1945. Eram três os principais
candidatos:

Brigadeiro Eduardo Gomes (1896-1981). Candidato pela UDN

General Eurico Gaspar Dutra (1883-1974). Candidato pela coligação PTB/PSD

Iedo Fiuza (1894-1975), que contava com o apoio formal de Getúlio Vargas. Candidato pelo PCB

 Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal

A oposição pressionou até que, em 30 de outubro de 1945, Getúlio Vargas foi intimado por uma junta militar a renunciar. A presidência da República foi entregue interinamente a
José Linhares, então ministro do STF.

Dessa maneira, todo o processo de redemocratização, incluindo a Constituição de 1946, se daria sem a presença de Getúlio Vargas. No entanto, Eurico Gaspar Dutra, seu ungido,
venceu a eleição presidencial de 1950, demonstrando que, mesmo exilado em sua fazenda no interior do Rio Grande do Sul, o ex-ditador ainda contava com grande força política.
 Selo impresso pelo Brasil mostra Getúlio Vargas e João Pessoa por volta de 1930.

As principais características do governo de Eurico Gaspar Dutra foram a promulgação da Constituição de 1946, que restabeleceu o modelo da democracia liberal burguesa vigente
antes de 1930. Isso reduziu o poder do Estado, aboliu a representação classista e promoveu o acirramento da Guerra Fria e a cassação do registro do PCB .

Com a promulgação da nova Constituição, completou-se o processo de redemocratização. O Brasil voltava a ser formalmente uma democracia liberal burguesa, dando início ao
período conhecido como “experiência democrática”. Esse período se estendeu até 1964, quando a democracia brasileira foi vítima de outra intervenção golpista.

Entre 1945 e 1954, a cena política brasileira foi marcada pelo conflito entre dois modelos de desenvolvimento.

De um lado, aquilo que se convencionou chamar de “entreguismo”, representado, sobretudo, pela UDN e baseado na proposta de promover o desenvolvimento nacional graças à
associação com os capitais internacionais. Do outro, estava o que aprendemos a chamar de “nacional-desenvolvimentismo”, que propunha um desenvolvimento nacional
independente do capital externo.

Buscava-se uma base na indústria pesada, no melhoramento da infraestrutura produtiva do país e na aliança com os trabalhadores urbanos.

 Eurico Gaspar Dutra, presidente do Brasil (1946-1951).

Os conflitos entre esses dois projetos de desenvolvimento se deram nos quadros da Guerra Fria. O relacionamento entre os militares e a política foi outro elemento de instabilidade
nas relações políticas do período.

Getúlio Vargas retornou à cena política em 1950, quando disputou e venceu as eleições presidenciais. Chefiando um governo de coalizão, que contou até com o apoio de lideranças
da oligarquia paulista, como Ademar de Barros, Vargas tentou lavar sua imagem, livrando-se da pecha de ditador e agindo como um líder democrático.

 ATENÇÃO

Vale ressaltar que Vargas não abandonou a agenda econômica nacionalista, industrializante e sensível aos direitos dos trabalhadores urbanos. O ano de 1953 foi emblemático dessa
agenda por conta da fundação da Petrobras, empresa estatal cuja finalidade era monopolizar a exploração do petróleo, e da inserção do 13° salário no conjunto das leis trabalhistas.

A atuação do governo contrariou interesses internacionais e do próprio empresariado nacional, radicalizando os conflitos herdados da década de 1930, o que levou à crise do suicídio
de Getúlio Vargas no ano de 1954.

Nos dez anos seguintes, a instabilidade política cresceria ainda mais, resultando no golpe civil-militar de 1964, que instaurou a ditadura militar no Brasil. Verificamos que, ao longo de
seus vinte e um anos de existência, esse regime montou uma estrutura jurídica autoritária e fez da justiça uma arma contra os direitos humanos fundamentais.
CONTINUIDADES DA JUSTIÇA A PARTIR DA REDEMOCRATIZAÇÃO: DESAFIOS E
MANUTENÇÕES
Um especialista abordará neste vídeo as continuidades da justiça desde a denominada redemocratização.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

MÓDULO 3

 Descrever a jurisdição implantada ao longo do governo militar (1964-1985)

JUSTIÇA, DIREITO E LEIS NA DITADURA MILITAR BRASILEIRA (1964-1985)


Em 1980, o cientista político uruguaio René Armand Dreifuss publicou o livro que se tornaria uma referência nos estudos especializados sobre a história da ditadura militar
brasileira.

Estamos falando da monumental obra 1964: a conquista do Estado. Você já deve ter ouvido falar dela ou até mesmo a lido, certo?

Esse texto apresentava a seguinte tese: a intervenção militar que derrubou o Presidente João Goulart foi um “golpe civil-militar”, já que ela foi o resultado das conspirações planejadas
entre grupos civis e militares.

 Ideia do conceito liberdade de expressão ou decisão censurada.

Ou seja, ainda que o Exército tenha sido efetivamente o autor institucional do golpe, o ato e o regime inaugurados por ele contaram, em alguma medida, com a conivência de setores
da sociedade civil.

A categoria “golpe civil-militar” é fundamental para a nossa reflexão, pois nos permite pensar como a justiça, o direito e a lei foram usados pelos governos militares para sustentar um
projeto de Estado autoritário, contando, para isso, com o apoio de algumas lideranças jurídicas e políticas da sociedade civil.
Mas o que seria um “Estado autoritário”?

O cientista político italiano Mario Stoppino (1992, p. 94) nos ajuda a entender tal conceito: “são regimes que privilegiam a autoridade governamental e diminuem de forma mais ou
menos radical o consenso, concentrando o poder político nas mãos de uma só pessoa ou de um só órgão e colocando em posição secundária as instituições representativas”.

Stoppino (1992, p. 94) aponta ainda que a “penetração-mobilização” da sociedade é limitada, havendo uma fronteira precisa entre Estado e sociedade. Existe, de um lado, um
pluralismo partidário suprimido, por exemplo; e de outro, grupos que mantêm sua autonomia. Nessa conjuntura, o governo passa a ocupar a função de árbitro, já que ele encontra
limites para seu poder.

Outro dado é que o controle da educação e dos meios de comunicação encontra certos limites em relação à interferência governamental, alastrando-se no impacto de médio e longo
prazo, embora ele permita, por exemplo, certo nível de oposição.

A oposição e a autonomia dos subsistemas políticos são, portanto, reduzidas à expressão mínima, enquanto as instituições destinadas a representar a autoridade de baixo para cima
são aniquiladas ou substancialmente esvaziadas.

Mas essa autoridade política autoritária, capaz de se impor sobre a sociedade civil, também precisa de um arcabouço jurídico que lhe dê uma aparência de legitimidade.

A preocupação com a legitimidade foi constante ao longo da história da ditadura militar brasileira. Durante a maior parte de seu período de vigência, ela manteve o Congresso
Nacional funcionando, ainda que de maneira bipartidária. O bipartidarismo era formado pelo partido do governo, a Aliança Renovadora Nacional (Arena), e por uma oposição
moderada e constantemente constrangida, o Movimento Democrático Brasileiro (MDB).

 Brasília, quadra 700, Asa Sul.

Os primeiros quatro anos da ditadura, entre 1964 e 1968, foram marcados por disputas que delinearam o perfil do regime. A princípio, havia a expectativa de que a intervenção de
1964 seria apenas saneadora e que os militares devolveriam o poder aos civis, permitindo a realização de eleições presidenciais já em 1965.

Era essa a expectativa de Carlos Lacerda (1914-1977), político fluminense e aliado de primeiro momento do golpe civil-militar. No entanto, o desenrolar dos acontecimentos levou à
vitória de outro projeto: uma ditadura militar instituída e alinhada aos EUA na conjuntura da Guerra Fria.

Podemos dizer então que a ditadura, em seus primeiros momentos, teve três preocupações prioritárias:

A retirada do jogo político de lideranças ligadas ao governo de João Goulart. Essa jogada não se tratou apenas de um acerto de contas com o trabalhismo getulista, mas também da
consolidação da nova ordem de poder e da preparação política para o saneamento econômico.

Desde o governo de Juscelino Kubitschek (1955-1960), as contas públicas estavam desequilibras em virtude dos investimentos desenvolvimentistas e da ampla legislação trabalhista.
Nesse sentido, foi necessária a adoção de uma agenda de ajuste fiscal que se mostrou bastante impopular.

Para equilibrar as contas, o governo pôs em prática o Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG), que tinha o objetivo de reduzir as despesas públicas e aumentar a
arrecadação. O sucesso do PAEG esteve diretamente associado ao autoritarismo político, que reprimiu os esforços de oposição da sociedade civil.

 Tumulto em manifestação estudantil contra a ditadura militar brasileira.

O historiador Carlos Fico (2004) argumenta que a montagem da engrenagem político-institucional da ditadura durou anos. Para ele, é nítida a presença de um projeto “repressivo,
centralizado, coerente” no governo de Castelo Branco.

O regime prosseguiu a partir de então, e seus governos variavam da linha dura aos mais moderados. Essa alta patente de oficiais acreditava que toda movimentação identificada com
o comunismo (ou assim entendida) deveria ser eliminada. Somente assim o país seria elevado a seu máximo.

Nesse contexto, conforma-se ...


[...] O EMBATE QUE CONTRAPORIA A LINHA DURA AOS MODERADOS (OU CASTELISTA). [...] DE FATO,
FOI AINDA NO GOVERNO DE CASTELO BRANCO QUE SURGIU A “FORÇA AUTÔNOMA”, UM GRUPO DE
OFICIAIS SUPERIORES QUE SUPUNHAM SER POSSÍVEL LEVAR O PAÍS AO SEU DESTINO DE
GRANDEZA, DESDE QUE FOSSEM ELIMINADOS TODOS OS “ÓBICES” QUE, NAQUELA FASE DA
GUERRA FRIA, ERAM IDENTIFICADOS COM O COMUNISMO OU COM O QUE FOSSE ENTENDIDO COMO
TAL.

FICO et al., 2004. p. 72.

Os primeiros anos do regime também foram caracterizados pela edificação de seu aparato jurídico, o que daria aos governos militares autoridade para reprimir a sociedade civil e
perseguir adversários políticos.

Listaremos alguns desses atos jurídicos:

ATO INSTITUCIONAL N° 1 (9 DE ABRIL DE 1964)


Delineou os fundamentos da LSN, que seria publicada em março de 1967, e permitiu ao governo cassar direitos políticos por um prazo de dez anos, além de suspender a
Constituição por seis meses.

ATO INSTITUCIONAL N° 2 (27 DE OUTUBRO DE 1965)


Foi formulado como uma resposta ao resultado das eleições realizadas no início de outubro de 1965, nas quais a oposição ao regime conseguiu importantes vitórias. As principais
determinações do AI-2 foram o aumento do poder do chefe do Executivo, a extinção do pluripartidarismo e a regulamentação das eleições indiretas para o cargo de presidente e vice-
presidente da República.

ATO INSTITUCIONAL N° 3 (5 DE FEVEREIRO DE 1966)


Seu principal objetivo era regular as eleições e o funcionamento da política formal. O AI-3 estabeleceu o bipartidarismo, segundo o qual seriam reconhecidos dois partidos políticos
oficiais: a Arena, o partido do governo, e o MDB, que seria a oposição institucional.

O AI-3 ainda determinou que as escolhas dos governadores dos estados e dos prefeitos das capitais se dariam por indicação. Os governadores seriam indicados pelo presidente da
República; os prefeitos das capitais, pelos governadores.

ATO INSTITUCIONAL N° 4 (7 DE DEZEMBRO DE 1966)


Suspendeu definitivamente a Constituição e convocou uma Assembleia Nacional Constituinte originária para a elaboração de uma nova.

Todos esses atos institucionais prepararam o caminho para a promulgação de uma nova Constituição, o que aconteceu em 1967. A nova Carta suspendeu o texto constitucional
vigente à época, que, como sabemos, datava de 1946 e estava fundada nos valores da democracia liberal.

Eis algumas das principais características da Constituição de 1967:

Concentra no Poder Executivo na maior parte do poder de decisão;

Confere somente ao Executivo o poder de legislar em matéria de segurança e orçamento;

Estabelece eleições indiretas para presidente com mandato de cinco anos;

Apresenta tendência à centralização, embora pregue o federalismo;

Estabelece a pena de morte para crimes de segurança nacional;

Restringe ao trabalhador o direito de greve;

Amplia a justiça militar;

Abre espaço para a decretação posterior de leis de censura e banimento.

Uma vez passado esse primeiro momento, o regime, já tendo o perfil institucional e jurídico edificado, passava a cumprir outra etapa. Teve início, desse modo, o segundo momento da
história da ditadura, que se arrastaria até 1974. Alguns autores o chamam de “terrorismo de Estado” e anticomunismo. Foram anos marcados por muita violência.

A ditadura reprimiu ainda mais a oposição, especialmente os grupos que se organizavam na luta armada. As necessidades de violência institucional eram tão grandes que o regime
implementou, em 1968, outro Ato Institucional. Tratava-se do AI-5, o mais temido deles.
 Imagem do Quartel do 1º BPE, sede do DOI-CODI Rio de Janeiro.

Na prática, o AI-5 foi uma nova Constituição devido à sua amplitude, fortalecendo mais o poder repressor do Estado do que havia feito a Carta de 1967.

O AI-5 conferiu poderes extraordinários ao presidente da República, cassou o privilégio de foro, suspendeu o direito de votar e ser votado nas eleições sindicais, proibiu atividades ou
manifestação sobre assuntos de natureza política e suspendeu o direito ao habeas corpus .

A obra do AI-5 foi completada pela Emenda Constitucional de 1969. O grupo que chegou ao poder em 1967, sob a liderança de Alberto Costa e Silva, estava convencido de que a
Constituição de 1967 ainda era muito branda e inadequada para o combate às oposições ao regime.

Como podemos perceber, a justiça foi um campo de exercício do autoritarismo da ditadura. A justiça militar, que teve suas competências alargadas, foi especialmente estratégica para
os objetivos da ditadura.

É contraditório que houvesse, no grupo que exercia o poder, uma perspectiva predominante a combinar a consciência de que uma “contrarrevolução” contra um inimigo de classe era
necessária à noção segundo a qual certas reformas precisavam ser empreendidas para que a sociedade brasileira se ajustasse à “modernidade” capitalista, ou seja, aos parâmetros
políticos do capitalismo internacional.

Essa contradição, frisa Lemos (2004, p. 284-285), permeou todos os elementos da sociedade brasileira e resultou em um papel tríplice imputado à Justiça Militar. Órgão central do
aparato de coerção jurídica, ela teve um papel estratégico como instrumento auxiliar no esforço de legitimação do regime e, por fim, constituiu uma arena de confronto entre correntes
militares que disputavam a primazia do regime.

Em 1974, teve início o governo de Ernesto Geisel (1907-1996), que colocou, pela primeira vez, o tema da distensão do regime em pauta. As novas lideranças acreditavam que era
necessário começar a organizar e controlar a transição, devolvendo progressivamente o poder aos civis.

Era a transição “lenta, gradual e legal” da qual falava Geisel.

Nesse período de desmonte da ditadura, que se arrastou por longos 11 anos em um processo não linear, descontínuo e cheio de idas e vindas, foram formuladas diversas leis que
reverteram a legislação autoritária que vinha sendo instituída desde o AI-1, de abril de 1964.

O processo de desmonte do aparelho militar pode ser examinado a partir de diferentes perspectivas: a interna, em relação às Forças Armadas; e a externa, na qual se tornam
importantes as relações com as lideranças políticas civis.

Dentro das Forças Armadas, as lideranças mais próximas a Geisel tiveram de enfrentar a resistência dos militares reunidos no grupo que, já na época, era chamado de “linha dura”.
Ele era comandado principalmente por Silvio Frota (1910-1996), então ministro da Guerra. Em virtude dessas disputas internas, o processo de abertura, portanto, foi descontínuo,
sendo marcado por idas e vindas e atravessado por crises políticas.

DESTACAREMOS ALGUNS ATOS JURÍDICOS QUE MARCARAM O PROCESSO DE ABERTURA DO


REGIME:

Em 1979, foi decretada a Lei Federal n° 6.767.


Ela extinguiu o bipartidarismo e instituiu o pluripartidarismo. Foi a partir disso que surgiram partidos, como o PFL, o PMDB e o PT, que seriam protagonistas na cena política da
nova ordem democrática inaugurada pela Constituição de 1988.
Também foi promulgada em 1979 a Lei nº 6.683.
Essa lei decretou a “anistia ampla, geral e irrestrita”, prevendo a imputabilidade dos crimes cometidos durante a ditadura tanto pela oposição como pelos agentes do Estado.
Tratava-se de um pacto já visando à nova ordem política que começava a ser desenhada.

Em 1982, foram restauradas as eleições diretas para o cargo de governador de Estado.

Em 1983, foi decretada a Emenda Constitucional n° 5.


De autoria do deputado Dante de Oliveira, ela propunha o restabelecimento das eleições presidenciais. A tramitação da “Emenda Dante de Oliveira” no Congresso Nacional foi
marcada por uma grande mobilização social conhecida como “Diretas Já”.

 Movimento “Diretas Já”, 1983.

Você com certeza já leu sobre esse movimento nos livros de história.

As ruas das principais capitais brasileiras foram ocupadas pelas pessoas que reivindicavam o direito de votar para o cargo de presidente da República. Apesar disso, a Emenda Dante
de Oliveira foi derrotada no Congresso Nacional.

Por conta disso, as eleições de 1985 ainda foram realizadas de forma indireta. Mas, ainda assim, as “Diretas Já” mostraram que não havia mais volta: a ditadura dava seus últimos
suspiros.

Entre finais da década de 1970 e início dos anos 1980, portanto, foi aprovado um conjunto de leis que visava ao desmonte do aparelho ditatorial e à restauração dos direitos políticos
da sociedade civil.

A JUSTIÇA NO PROCESSO DE REDEMOCRATIZAÇÃO: PENSANDO O STF.


Analisaremos neste vídeo aspectos importantes da atuação do STF após a redemocratização.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apresentamos neste tema o papel da justiça na história do Brasil republicano desde o seu início, na República das Espadas, até o fim de uma fase, com a organização do governo
civil-militar.

No módulo 1, reconhecemos as relações entre justiça e poder durante a história da Primeira República brasileira (1889-1930). Nosso foco especial era esclarecer como se deu a
construção da estrutura jurídica do regime político instituído no Brasil em novembro de 1889.

No módulo 2, identificamos o aparato jurídico desenvolvido na Era Vargas (1930-1945), cuja política, na prática, fundou o “Brasil moderno” caracterizado pelo lugar do Estado como
centro planejador do desenvolvimento nacional. Já no módulo 3, descrevemos a jurisdição implantada ao longo da ditadura civil-militar (1964-1985), fazendo do Estado brasileiro um
aparelho repressivo e violador dos direitos humanos.

Nosso objetivo foi mostrar a você como a justiça está em diálogo direto com as disputas sociais e a política. O legislador que cria a lei, o juiz que julga e o operador do direito não são
entidades abstratas que vivem acima da realidade social. Essas figuras fazem parte e são atravessados por ela. Por tudo aquilo que estudamos neste tema, percebemos que a
história do direito também é um exercício de história da sociedade: nela, não basta enumerar leis, e sim relacioná-las à própria dinâmica social.

 PODCAST

FALA, MESTRE!
Mestres de diversas áreas do conhecimento compartilham as informações que tornaram suas trajetórias únicas e brilhantes, sempre em conexão com o tema que você acabou de
estudar! Aqui você encontra entretenimento de qualidade conectado com a informação que te transforma.

Representatividade

Sinopse: A partir da perspectiva de sua própria trajetória, a Dra. Ivone Caetano, primeira juíza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira desembargadora negra do TJRJ, reflete
sobre o que é representatividade.

Sinopse: A partir da perspectiva de sua própria trajetória, a Dra. Ivone Caetano, primeira juíza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira desembargadora negra do TJRJ, reflete
sobre o que é representatividade.

Desigualdade social e racismo

Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juíza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira desembargadora negra do TJRJ, reflete sobre a relação entre desigualdade social e
racismo.

Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juíza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira desembargadora negra do TJRJ, reflete sobre a relação entre desigualdade social e
racismo.

O início de uma trajetória de luta

Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juíza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira desembargadora negra do TJRJ, conta como enganou a morte já na hora do nascimento, e
reflete sobre como a Educação é uma arma poderosa na luta pela igualdade.

Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juíza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira desembargadora negra do TJRJ, conta como enganou a morte já na hora do nascimento, e
reflete sobre como a Educação é uma arma poderosa na luta pela igualdade.

Qual o papel da Justiça na redução das desigualdades sociais?

Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juíza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira desembargadora negra do TJRJ, discorre sobre o compromisso que a Justiça deveria ter
com a redução das desigualdades sociais.

Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juíza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira desembargadora negra do TJRJ, discorre sobre o compromisso que a Justiça deveria ter
com a redução das desigualdades sociais.

A importância dos aliados na luta contra o racismo

Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juíza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira desembargadora negra do TJRJ, conta sua trajetória de luta contra o racismo para
ingressar na magistratura, refletindo sobre a importância de ter tido aliados ao longo desse processo.

Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juíza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira desembargadora negra do TJRJ, conta sua trajetória de luta contra o racismo para
ingressar na magistratura, refletindo sobre a importância de ter tido aliados ao longo desse processo.

Definições básicas sobre o sistema de Justiça

Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juíza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira desembargadora negra do TJRJ, explica de forma simples as divisões básicas do sistema
de Justiça brasileiro.
Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juíza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira desembargadora negra do TJRJ, explica de forma simples as divisões básicas do sistema
de Justiça brasileiro.

AVALIAÇÃO DO TEMA:

REFERÊNCIAS
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1997.

BARBOSA, R. Eleição direta. In : BARBOSA, R. Obras completas de Rui Barbosa. v. 2. 1872-1874. Tomo II. Rio de Janeiro: Ministério da Cultura/Fundação Casa de Rui Barbosa,
1987.

BERLIN, I. Quatro ensaios sobre a liberdade. Brasília: UNB, 1981.

CARVALHO, J. M. de. Os bestializados: o Rio de Janeiro e a república que não foi. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 1988.

D’ARAUJO, M. C. (Org.). Getúlio Vargas. Brasília: Câmara dos Deputados, 2011.

DINIZ, E. O Estado Novo: Estrutura de poder e relações de classes. In : FAUSTO, B. História geral da civilização brasileira. Tomo III. v. 3. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997.

DREIFUSS, R. A. 1964: a conquista do Estado. Ação política, poder e golpe de classe. Petrópolis: Vozes, 1980.

FAUSTO, B. A Revolução de 1930: história e historiografia. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

FERREIRA, M. M.; PINTO, S. C. S. A crise dos anos 1920 e a Revolução de 1930. Rio de Janeiro: CPDOC, 2006.

FICO, C. et. al. 1964-2004 - 40 anos do golpe: ditadura militar e resistência no Brasil. Rio de Janeiro: 7 letras, 2004.

GOMES, A. de C. Confronto e compromisso no processo de constitucionalização. In : FAUSTO, B. História geral da civilização brasileira. v. 3. Tomo III. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 1997. p. 9-75.

LEMOS, R. Justiça militar e processo político no Brasil (1964-1968). In : FICO, C. et. al. 1964-2004 - 40 anos do golpe: ditadura militar e resistência no Brasil. Rio de Janeiro: 7
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LYNCH, C. A utopia democrática: Rui Barbosa entre o Império e a República. In : SENNA, M. de. Rui Barbosa em perspectiva: seleção de textos fundamentais. Rio de Janeiro:
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LEIA ESTES ARTIGOS:

MASCARO, A. L. A filosofia do direito e seus horizontes. In : Cult. Consultado em meio eletrônico em: 27 jan. 2021.

WESTIN, R. Com golpe dado por Getúlio, Brasil ficou nove anos sem Senado. In : Senado Notícias. Publicado em: 4 out. 2016.

PESQUISE NA INTERNET OS SEGUINTES VÍDEOS:

CÂMARA DOS DEPUTADOS. O golpe militar de 1964 faz 50 anos nesta segunda-feira. Publicado em: mar. 2011.

TV CULTURA. A guerra dos paulistas: a revolução constitucionalista de 32. Publicado em: 30 nov. 2011.

UNIVEST. 1985 - 30 anos de democracia: Diretas Já. Publicado em: 6 out. 2015.

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BONFIM, E. A história do AI-5: o mais duro golpe da ditadura. In : Estadão. Publicado em: 1. nov. 2019.
CONTEUDISTA
RODRIGO PEREZ OLIVEIRA

 CURRÍCULO LATTES

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